• Nenhum resultado encontrado

t AUTOR NO ACTO

3.3. A ESTRUTURA ESPACIAL

0 espaço narrado esgota-se, como tal, nas prõprias referên- cias textuais. Pode, contudo, ter maiores ou menores relações com o espaço extra-diegêtico e com o espaço da narração. Vimos, na análi-

se da estrutura temporal, que lui uma quase simultaneidade entre o tempo de narração, o tempo histórico referido e o tempo narrado. Também em relação ao espaço podemos detectar uma certa coincidência entre o espaço diegêtico, o espaço referido e o espaço da narração. 0 espaço diegêtico não ê referido directamente, como também não o ê o tempo narrado. Contudo, certos indícios apontam para Muni que como o lugar da acção, sem que a cidade ganhe importância signi_

ficativa como tal: Munique c essencialmente utilizada como paradig- ma da grande cidade oeste-alemã, nos primeiros anos da R.F.A.. Pare_

39 ce haver unanimidade entre os críticos quanto a este facto

0 indício mais directo ê a chegada de Richard, vindo dos E.U.A. de avião, depois de sobrevoar a Bélgica e Colónia: "... sie flogen den Rhein aufwèfrts. . . liber Bayern trllbte sich das Land ein .

... es dunstete nach Biermaische aus den grossen Brauereien der Stadt" (TG, 37).

Outras referências indirectas apontam também para Munique. Assim, várias vezes se refere a "Bríiuhaus", mas nunca como "Hofbrau haus", como ê conhecida a celebre cervejaria muniquense; o rio Isar não ê nomeado, a "Frauenkirche" surge simplesmente como "Dom".

Erlach refere que as designações das ruas ("Br&uhausgasse", "BOttchenplatz", "Heiligkcitplatz") são vulgares na Alemanha do

40

Sul . O mesmo podemos dizer do termo "Flitscherl".

cidade americana de Baton Rouge (TG, 57), focalizada pelos pais de Washington, Paris (TG, 64), focalizado por Henriette Gallagher, do seu quarto de hotel, enquanto está cm comunicação telefónica com o marido, que se encontra em Munique; c o trajecto por via aérea de

Bruxelas ã cidade de Munique (TG, 30-37). Estas três situações são localizadas no romance com precisão, o que contrasta com a não-defi_ nição do espaço central da acção.

Esta indefinição espacial compreende-se pela intenção do ro mance, tal como foi expressa pelo próprio autor no prefácio da 2a. edição, e a que já nos referimos: Kocppen quer descrever a Alemanha

41

urbana . A cidade de Munique e apenas um enquadramento para a CI- DADE , onde os reflexos da situação histórica da Alemanha se proje£ tam. Da cidade só são referidos determinados traços essenciais, fi- cando todos os outros aspectos indeterminados.

Utilizando uma expressão de N^jgaard, poderíamos caracteri-

4 ?

zar este romance como uma "paisagem com figuras" . Assim, a nível descritivo, há uma tendência para uma redução eidótica , uma redu- ção ao abstracto de uma cidade, mas suficientemente caracterizada para orientar o leitor nos vários lugares, já que, como veremos, o espaço onde as personagens se movem é um elemento que serve para a sua caracterização; por um outro lado, o espaço e um elemento impor_ tante para a comunicação entre as personagens.

0 espaço urbano c apresentado como opressivo para a maioria das personagens e figuras, ainda que elas não se dêem conta desse facto; mas ë nele que as personagens querem a sua libertação; excep_ tua-se o caso de Washington Price, que quer trocar o espaço alemão; mais fechado, pelo de Paris, que ele considera como um símbolo de um espaço aberto e tolerante, onde ninguém ê indesejado. 0 espaço alemão ainda vive as consequências de uma guerra, não só pela exis- tência de ruínas, como especialmente pela presença das tropas de

ocupação.

A primeira descrição topológica integrada na diegese ë a do camarim de Alexander. Enquanto a descrição do seu fato e do seu pa- pel para o filme é relativamente extensa, a do camarim limita-se a duas linhas, apenas com uma breve referência a luz eléctrica (TG, 10) .

A casa de Alexander ê apresentada através de objectos: "Bett", "auf dem Sofa schlief Alfredo" (TG, 10). 0 mesmo tipo de descrição é feita do atelier, também através da luz.

A focalização destas informações descritivas ê da responsa- bilidade do narrador, ainda que seguindo de muito perto o olhar da personagem. Hi nesta descrição uma alternância irregular entre o discurso do narrador, o discurso indirecto livre e o monólogo in- terior. Este modo de apresentação do espaço vai aparecer ao longo de todo o romance:

- o quarto de Hillegonda é apresentado apenas pelos animais de peluche da criança (TG, 12);

- as igrejas são apresentadas primeiro a partir das portas pesadas (TG, 15), depois as colunas sombrias,as paredes em mau estado, o frio (TG, 14), o chão frio de azulejos ("Fliesen") e os chei- ros a incenso e argamassa (TG, 151 e seg.);

- quanto ao hotel "Zum Lamm", onde Philipp dorme: primeiro há uma referência a. cama (TG, 14 e seg.), depois ao hotel em geral como uma construção moderna e barata (TG, 15), o que vai aparecer confirmado pelo comentário de Kay ("... wie arm ist dieses Zimmer"

(TG, 209);

- a senhora Behrend vive numa mansarda: so ficamos a saber que tem dois bustos, um de Wagner, outro de Beethoven (TG, 17);

- o quarto de Carla também é apresentado unicamente por cer tos objectos e fotografias (TG, 80). Mais importante para a caracte

rização do espaço como informação não-tematizada sobre a personagem ë a casa onde se encontra o quarto: o andar da Sra. Welz e das suas prostitutas baratas (TG, 78 e seg.);

- relativamente ao quarto do hotel de Edwin, o narrador só se refere aos tapetes (TG, 99).

As descrições dos lugares públicos seguem um esquema ligei- ramente diferente; não são os objectos que caracterizam o espaço, mas o seu ambiente (o narrador pressupõe um certo conhecimento des-

se tipo de locais por parte do narratário). A titulo de exemplo, po deremos tomar o bar "Zur Glocke" (TG, 51 e seg.) e o que sobre ele é dito:

- o edifício foi reconstruído depois de ter sido destruído durante a guerra;

- o ambiente do bar c caracterizado pelo jogo de dados dos gregos, a que Odysseus se junta. Ao mesmo tempo, uma orquestra de instrumentos de sopro inicia o seu trabalho da tarde, tocando mar- chas (o que permite aos presentes um salto analéptico ao tempo da guerra) (TG, 63 e seg.);

- o jogo é apresentado em toda a sua movimentação, numa es- pécie de ícone diagramãtico , pois a forma linguística reenvia a realidade e vice-versa:

"Sie (os Gregos) krallten sie (os dados) wieder in die Hand, schlenderten sie hin, das Glllck auf ihrer Seite; es ging um Mark und Dollar, um Mannesmark und Flit- scherldollar, es ging um das, was sie Leben nannten, es

ging um die FUllung des Bauches, es ging um den Rausch, um die Lust, um das Taschengeld ging es... " (TG, 76; su blinhados nossos);

es ging um a e b um a' e b' es ging um cA es ging um d l anáfora es ging um e um f A um g ging esj

anáfora com variação

anáfora com epanalepse

Para contrastar com este ritmo rápido e pouco variado, como o rolar dos dados, o narrador contrapõe a música da orquestra "Ich- -schiess-den - Ilirsch - im wilden - Frost".

Num bar, o "Ile il igkei tswir tschaf t" , o ambiente é também su- gerido pelo barulho e especialmente pelos cheiros:

Die Wirtschaft war voll, mrmvol1 ; eine s ehwere Luft aus Duns t, Gestank und Rauch fíillte den Raum, blHhte sich im Raum wie Gas in einem halbschlaffen Ballon (TG, 145) ou

Er (Odysseus) blickte in den Nebel aus Schweiss, Unsau- berkeit, Bratwurstrauch, Tabakschwaden, Alkoholdunst, Pissgeruch, Zwiebelbeize und schalem Menschenatem (TG, 144; sublinhados nossos).

A estrutura assindética, marcada pela acumulação de impres- sões, permite ao leitor apreender o ambiente desse bar, ligado a uma classe social mais baixa.

A "BrUuhaus" ë essencialmente caracterizada pela cerveja ("Aus grossen FMssern strOmte und schaumte das Bier" (TG, 183), mar cado pela aliteração fonética) e a orquestra, um elemento também ca racteristico da Alemanha do Sul: "Die Oberl&nder-Kapelle spielt"

A grande quantidade de bares mostra a importância que eles têm na relacionação das pessoas nas cidades. Mas, para o narrador, o que interessa ê justamente o ambiente que ai reina, na medida em que influi directamente nas condições de comunicação.

Ha, no entanto, locais a que o narrador dedica mais atenção: por exemplo, o quarto de Emilia, também ele apresentado através de detalhes, mas mais pormenorizadamente,e dando importância ao factor luz. A primeira caracterização ê dos animais: um papagaio, cães e gatos; a descrição acompanha os animais: o papagaio quer luz, os cães e gatos aproximam-se da cama em que Emilia dorme e que está coberta por uma colcha de "zerschlissene Seide" (TG, 28). A primei- ra impressão de Emilia ao acordar 5 a do tacto, tocando os animais, seguindo-se a auditiva:

Sic hOrte das ewige Sauscln in den ROhrcn des Ilauses, das BrOckeln des Verputzcs, das Schnaubcn, Knurren, Tappen und Schweifschlagen der Tiere (TG, 29).

Nestas descrições, como aliás também nas anteriormente ana- lisadas, predomina uma construção frãsica assindética onde os obje£ tos/espaços descritos se acumulam. Segue-se a visão, através da luz do tecto;

Silberne Kerzenbirnen, die sich in grlinspanbedeckten Mispelzweigen wiegten, Wandarme entflammten, Licht, das

sich in Spiegeln wiederholte, vervielfachte und von Lichtschirmen gefUrbt, gelb und rtítlich... (TG, 29). Emilia passa do seu quarto escuro para o quarto de trabalho de Philipp, com luz natural ("das natíirliche Licht des trílben Tages"

(TG, 29)); vê a mesa de trabalho do marido, onde uma folha branca indicia a sua não-produção literária. 0 leitor ê "orientado" pela focalização de Emilia, que lhe vai "descobrindo" o seu espaço. Da mesa, o olhar do leitor ê levado para o armário dos livros com as

p o r t a s a b e r t a s como um t r í p t i c o não r e l i g i o s o , a t r á s de Emilia des_ p i d a . Os l i v r o s de Emilia são herdados, como toda a c a s a . Este fac to serve p a r a opor o passado r i c o ao p r e s e n t e p o b r e .

Esse c o n t r a s t e é comparável ao da Sra. Behrend: a sua c a s a em Wílrzburg, a n t e s da guerra e agora a pequena mansarda em que v i - ve (TG, 17 e s e g . ) .

A importância que o narrador concede a d e s c r i ç ã o da casa de Emilia e, p o s t e r i o r m e n t e , ã venda das suas c o i s a s j u s t i f i c a - s e p e l a posição c e n t r a l que Emilia toma no romance, como personagem de con t r a s t e como mostraremos em 3 . 4 . 1 . .

Todos e s t e s l o c a i s integram-se no espaço que ë a cidade e num espaço ainda maior que é a R.F.A..

A cidade é apresentada em v á r i a s d e s c r i ç õ e s p a r c e l a r e s , f o - c a l i z a d a s quer p e l o narrador quer por d i v e r s a s p e r s o n a g e n s . A d e s - c r i ç ã o da cidade reduz-se ã a p r e s e n t a ç ã o de c a r a c t e r í s t i c a s i n v a - r i á v e i s , ainda que acrescida de alguns elementos v a r i á v e i s (dado não se t r a t a r de uma redução e i d é t i c a pura)

Enquanto a maioria dos segmentos apresentam personagens (ou a sua f o c a l i z a ç ã o ) , no nono (TG, 2 2 ) , o n a r r a d o r comenta os f a c t o r e s do crescimento da cidade, depois da fuga causada p e l a g u e r r a e do r e g r e s s o , num movimento c i r c u l a r (que corresponde também a e s t r u t u ra c i r c u l a r do romance) . Esta d e s c r i ç ã o / c o m e n t á r i o é c o n t i n u a d a pe_ l a s e x p r e s s õ e s como:

"Zuzugsperre aufgehoben" (TG, 22) e "die verhasste Verordnung der Zuzugsperre fiel, aufgehoben -war die Ausstossung, sie strOmten zuriick, sie flute ten ein, der Pegel stieg Stadt Brennpunkt des Wohnungsbedarfs (TG, 24) .

0 crescimento da cidade ê a p r e s e n t a d o por e s t a " c o r r e n t e " nas suas m ú l t i p l a s a c t i v i d a d e s , numa construção s i n d é t i c a e a s s i n - d e t i c a , em que e s t ã o p r e s e n t e s 18 formas v e r b a i s (duas no p r e s e n t e , t r e z e no passado r e f e r e n t e s ao passado h i s t ó r i c o e mais d u a s , onde

se liga a literatura a essa historia ("ein Gedicht, war ich es, der es reimte?"(TG, 22))). Este tipo de construção implica que o presen te (f'Die Stadt w£chst" e "Sie stròímen zurllck") não pode ser visto

sem o passado, cuja "presença" se nota pelos verbos no tempo narra- tivo. A este segmento junta-se o seguinte, onde a focalização pode ser atribuída quer ao narrador quer ao Dr. Behude. "Sie waren wieder zu Hause..." (TG, 24): 14 formas verbais, todas no passado, "narram"

iterativamente a actividade na cidade, desde que as populações re- gressaram. Este tipo de construção tenta caracterizar pela propria forma da linguagem, o ritmo rápido e febril, como que sem pausas.

Podemos ordenar essas actividades de cidadãos não abastados, que preenchem o espaço urbano, em 5 grupos, segundo o tipo de verbos:

- 2 verbos sugerem a proximidade física:

reihten sich ein, rieben sich aneinander ... ;

- 4 sugerem o relacionamento social e actividades profissio nais :

Ubervorteilten einander, handelten, schufen, bauten... • - 2 referem a actividade na família:

gríindeten, zeugten^

- 3 ligados ao preenchimento dos tempos livres dos mais ido sos :

sassen in der alten Kneipe, atmeten den vertrauten Bro-

dem, beobachteten das Revier, den Paarungsplatz7 den

Nachwuchs der Asphaltgassen, Gel&chter und Zank und das Radio der NachbarnJ

- 3 ligados à morte :

sie starben im St&dtischen Krankenhaus, wurden vom ; Bestattungsamt hinausgefahren, lagen auf dem Friedhof an der Ost-Slid-Kreuzung. .. .

Ê o círculo da vida: "zeugen" — "sterben". Contrariamente aos verbos do nono segmento, estes deixam de referir o passado histõr_i co, para se referirem ao presente da realidade narrada, já anuncia- do na página 22, com as duas formas verbais no presente, o que, mais uma vez, aproxima o mundo da narração ao mundo narrado.

Como já foi referido, as descrições de Koeppen estão muito ligadas aos sentidos (vd. a descrição do quarto de Emilia): nesta descrição da vida citadina, encontramos a mesma técnica:

- a audição ("Pegel", "GelMchter und Zank und das Radio der Nachbarn" - onde a construção sindética reforça o marte-

lar dos ruídos que invadem o espaço de cada um) - a visão ("beobachteten")

- o olfacto ("atmeten den vertrauten Brodem").

Por outro lado, o narrador confronta a sua focalização so- bre a cidade com a das personagens-

A cidade é vista através da focalização dos americanos, da- queles que vêm/vêem de fora. Para Edwin, o aspecto mais relevante é o facto de a cidade em ruínas (o passado no presente) estar a ser reconstruída: a cidade física reergue-se, mas não o que com ela foi derrubado, o espírito da velha tradição europeia (TG, 42). Para a professora Mildred Wescott, "Die Stadt ist farblos und die Frauen sind schlecht angezogen" (TG, 49), o que mostra o mito de uma certa Alemanha, a contrastar com a realidade sombria, como o próprio dia

("das nattirliche Licht des tríiben Tages" (TG, 29)).

Odysseus e Joseph observam a cidade do alto, depois de te- rem subido a uma torre: vêem a vasta superfície que ela ocupa, os telhados, as igrejas, os buracos causados pelas derrocadas das ca- sas, mas prontos para serem preenchidos de novo. "Odysseus blickte zufrieden tiber die Stadt. Er stand oben. Sie lag unter ihm" (TG,

107) . Odysseus ignora o que ela representa; a sua visão dã-lhe uma sensação de domínio, que contrasta com a apreensão concreta que vai sentir, não em relação à cidade "física", mas em relação aos que ne_ la habitam (os jogos, o roubo, as massas, Susanne) . Para Richard Kirsch, outro americano, a cidade sõ poderia ganhar dimensões huma- nas se fosse construída ã americana, com a sua ordenação e os gran- des arranha-cêus.

Estas posições dos americanos perante a cidade mostram uma certa desilusão, que é confirmada pelos trajectos de várias persona gens no espaço citadino, espaço que é normalmente o motor da so- ciedade dos nossos dias. Mas esta cidade é também caracterizada pe- lo regresso dos nazis, uma sociedade caracterizada pelo esquecimen- to do passado recente.

Contrastando com este espaço, surge Paris solarento, visto por Henriette Gallagher, que lhe faz lembrar um quadro de Renoir: mas também ela está separada da vivência da cidade, pois está no seu quarto de hotel, como turista, vendo a cidade através da jane- la que a separa dela- Na conversa telefónica, o Sena transforma-se, na sua mente, no Speer, o rio que lhe lembra os últimos tempos pas- sados em Berlim (TG, 64). Washington também tem uma visão idílica de Paris, o que faz que esta cidade surja como símbolo de uma espa- ço urbano humanizado. Washington não deseja o regresso ao seu espa- ço natal, Baton Rouge, pois o racismo que aí vigora vai contra o seu ideal, assim como também não se conforma com a falta de tolerân cia (uma certa forma de racismo) dos alemães para com os que são di_ ferentes.

Numa outra apresentação, o narrador refere a cidade na altu ra da hora de ponta. A partir daí há um "deslize" espacial: da cida_ de da diegese, Munique, salta-se para Paris, daí para as cores vi- vas (opostas a "tríib") do sul, ao Etna. Deslize espacial, mas tam-

bém histórico, levando o leitor até a Antiguidade, fundamento do presente: o teatro siciliano de Taormina, o templo também siciliano de Agrigento, regressando ao presente através da igreja dos Jesuí- tas, que por sua vez, permite mais uma "viagem" até a velha Itália

CTG, 58).

Referências topológicas surgem também nas analepses. Mas da_ do que não fazem parte da estrutura topo lógica da diegese, são como uma estrutura topológica de segundo grau. Assim o leitor é levado a Berlim de Henriette, por volta de 1933, a Wíirzburg da Sra. Behrend, a Baton Rouge de Washington.

A descrição dos espaços de habitação e os frequentados pe- las personagens serve como caracterização, por um lado, da situação social presente (por vezes contrasposta â situação no passado) e, por outro lado, das personagens, obrigadas a determinadas mudanças espaciais por razões derivadas das suas próprias vidas. A analise dessas situações será efectuada em 5.4..

Mas há determinados centros topológicos directamente liga- dos á estrutura que preside a movimentação das personagens e que re feriremos em seguida, dada a sua importância na construção do roman ce. 0 esquema 8 sintetiza esses centros, servindo, ao mesmo tempo, de ilustração ao parágrafo seguinte, dada a sua importância na cons_ telação das personagens-.

0 primeiro é o cruzamento : por ele passam Emilia, Messalina, Odysseus e Josef, as professoras americanas num autocarro, Edwin de automóvel. Só Emilia e Messalina se encontram. Odysseus é visto por algumas das professoras, o Dr. Behude quase e derrubado pelo carro de Edwin. Ha um primeiro afunilamento, saindo deste lugar dois fei- xes de linhas: um com três linhas que se dirigem ao hotel de Edwin (as de Edwin, das professoras e de Messalina), que servirá também de ponto de convergência para Philipp; outro com duas linhas que se

dirigem, ainda que não directamente,ao Estádio (as de Washington e de Odysseus/Joseph). Emilia e Behude seguem para destinos não liga- dos a locais de "afunilamento".

Ao fim da tarde, as linhas voltam a convergir para dois com plexos topológicos: a "Amerikahaus" (biblioteca e sala de conferên- cias) e "BrSuhaus - Negerklub - ruínas e praça entre os dois". Qua-

se todas as personagens com importância na diegese se encontram num destes dois complexos. Enquanto da "Amerikahaus" voltama sair algu mas linhas (Alexander e Messalina, Kay e Philipp, Behude, Schna- kenbach e Edwin), o narrador abandona as personagens do segundo com plexo, após o confronto físico entre os da "BrSuhaus" e os do "Ne- gerklub" .

A estrutura dos vários tipos de descrições topológicas é semelhante, mesmo nos casos em que a descrição se alonga um pouco mais (a cidade, a casa de Emilia). A descrição serve essencialmente

a diegese, completa-a com informações, numa íntima relação lugar personagem.

A selecção dos objectos descritos permite dar informações acerca de uma grande variedade de aspectos da vida urbana e nomeada mente do meio social das personagens:

- a casa de Alexander representa o meio da gente abastada, sem problemas durante o nacional-socialismo e sem pro- blemas no pos-guerra;

- a casa de Emilia representa a gente abastada no passado, mas em decadência no pos-guerra;

- a casa da Sra. Behrend representa a pequena burguesia, que perdeu com a guerra os seus haveres;

- as 3 igrejas são o símbolo do poder religioso;

ciam a lembrança dos feitos bélicos; são sítios de pau- sa, mas também indiciam por parte das figuras a ausên- cia de alternativas;

- o estádio, a "Br&uhaus" e a praça ao seu lado são o palco do movimento de massas;

- os transportes públicos, os hotéis, os consultórios, a clínica, o hospital, o aeroporto, mostram aspectos da vida de uma cidade.

Todos os objectos/locais referidos constituem o hiperobjec- to/espaço-cidade, que por sua vez faz parte de um outro hiperobjec- to/espaço, a R.F.A..

As descrições, como vimos, não são pormenorizadas, porque, por um lado,se integram na diegese, caracterizada por uma grande concentração e "velocidade" (contrastando com a lentidão subjectiva de algumas das linhas narrativas). Limitam-se a pequenos apontamen- tos, sugerindo mais do que descrevendo. Por outro lado, ha pouca am plitude e profundidade do descrito. Mas essa ausência de profundida de é aparente: trata-se de uma profundidade implícita, ou melhor, em "vazio", exigindo do leitor o seu preenchimento.

Horizontalmente, a nível da evolução da diegese, a descri- ção informa-a, complementa-a; verticalmente aponta hetero-referen- cialmente para um espaço real, extra-textual.

m H t—i o 2 CO •5 T 3 CD O —i CX w «er. cd CO U - H O J3 • H P. CO 1 3 Cl) CO !>< 10 M !-H f-l M t—1 T 3 to CD _d o - H m M r-j 50 CO g <-i i—l JZ CO O ICO cO s < x •-3 ta < CD CX, fc^ • H

s

O U X O Í to CD • S CO < Q S Pi HH < U, H W Q Pi < CD CD CO CO CD CD CO s U X CD - H CD O T3 (H p3 + J f-i Q2 ^ to cd £ £3* • - H ,£2 Cd O cd u T3 Í-I O P H • - H ,£2 Cd O cd u T3 Í-I O PQ W D 2 PJ N CO o P Í CJ3 W 2 n3 c c CO o O CD CO 4-J U 3 0) M £ CO o CD C C t-J CD cd to H - H ce c m +-> W S , C H - H 10 W CD C C t-J CD cd to H - H ce c m +-> W S , C H - H 10 X to to f-i CD « c d t J 3 j o cd 3C M pH o w S u CO > C J w to to co to Q 2 U +-> CO o to ci _ J ^ d , tO - H - H CX tO r-l T—1 tu Q C - H .CD CO CO H O W • H H l * H C 10 Ï - H O fi 1/1 H O T3 X f i O 0 o . W P-, CX, t-J 2 »< X 2 M-! CD to O

g

*~> ■H <o!3

. 5 ,

CD CD M tO -c c cd to 10 - H CX X •j2 .£2

Is

u z t q CJ P i W oo >

Documentos relacionados