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A problemática do insucesso escolar: a Educação Física como estratégia de combate ao insucesso e abandono escolar: uma abordagem teórica

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A PROBLEMÁTICA DO INSUCESSO ESCOLAR:

A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ESTRATÉGIA DE

COMBATE AO INSUCESSO E ABANDONO

ESCOLAR – UMA ABORDAGEM TEÓRICA

DISSERTAÇÃO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS

ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO APRESENTADA À

UTAD

Carlos Alberto Costa Silva

Vila Real, Novembro de 2011

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Universidade de Trás-Os-Montes e

Alto Douro

A Problemática Do Insucesso Escolar:

A Educação Física Como Estratégia de

Combate Ao Insucesso E Abandono Escolar –

Uma Abordagem Teórica

Dissertação de Mestrado no âmbito

do mestrado em Ensino da

Educação Física nos Ensinos Básico

e Secundário, da Universidade de

Trás-Os-Montes e Alto Douro.

Orientador: Prof. Doutor Armando Loureiro

Carlos Alberto Costa Silva

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SILVA, C. (2011). A Problemática Do Insucesso Escolar: A Educação Física Como

Estratégia de Combate Ao Insucesso E Abandono Escolar – Uma Abordagem Teórica. Dissertação de mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário. Vila Real: UTAD.

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À minha Mãe e aos meus irmãos

Por eles valerá sempre todo o sacrifício, pois sempre estiveram ao meu lado ao longo desta longa caminhada.

Ao meu Pai

Que infelizmente não viveu o suficiente para poder testemunhar esta conquista pessoalmente, mas tenho a certeza que lá do alto dos céus esteve e estará sempre a olhar por mim.

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AGRADECIMENTOS

Certamente que me esquecerei, num imperdoável lapso de memória, de mencionar alguém daquela lista de pessoas a quem, por gratidão ou formalidade, se impõe agradecer. É sem dúvida difícil nomear, todos os que de alguma forma me fizeram acreditar, sonhar, realizar e concluir mais um projecto da minha vida.

A vida passa por nós num ápice, ao ponto de termos hoje perto de nós, alguém que amanhã já nem sabemos onde esta.

Tenho por isso a obrigação de lembrar todos aqueles que estão perto e presentes, pois todos eles contribuíram para formar o que hoje sou. Certo é que sozinho, jamais chegaria aqui.

 Ao professor doutor Armando Loureiro, pela sua orientação, disponibilidade e atenção.

 Ao professor Carlos Almeida, pelo excelente ano de constantes aprendizagens vivido ao longo do estágio.

 Ao Mestre Paulo Sousa, que desde sempre se mostrou disponível para me ajudar ao longo da minha vida académica.

 A todos os meus amigos, colegas e professores, em especial à Vânia Pereira e ao José Amor que comigo frequentaram o estágio.

 Ao Carlos Leite, que apesar de tudo me deu a possibilidade de trabalhar para poder estar aqui hoje.

 Ao meu núcleo familiar, em especial à minha mãe, que tanto me apoiou e incentivou, ficando muitas vezes privado da minha presença.

 A todos, mesmo aqueles que não proferi nomes, os meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

O insucesso escolar é nos nossos dias um fenómeno social, este deixou de ser encarado como uma característica individual, do ponto de vista do aluno, passando a ser cada vez mais considerado como um fenómeno com implicações socias e económicas. Apesar de ser um problema que acompanha todo o processo de ensino, desde o primeiro ciclo até ao ensino superior, o seu enfoque está nos resultados a nível da escolaridade obrigatória, sendo a avaliação do processo educativo centrada em resultados palpáveis (aquisição de competências e conhecimentos que preparam o indivíduo para o mundo do trabalho) e não tanto na experiência de vida.

Contudo, definir insucesso escolar apresenta-se uma tarefa complexa, visto que além deste conceito encerrar uma multiplicidade de entendimentos, o seu estudo apresenta uma enorme polissemia, notória nas tentativas efectuadas pelas diferentes áreas disciplinares para a sua compreensão e definição. Para Fernandes (1991), a definição oficial do insucesso escolar, advém do regime anual de

passagem/reprovação dos alunos, inerente à estrutura de avaliação característica do

sistema de ensino.

Este estudo procura dar a conhecer a realidade portuguesa relativamente àquilo que é o insucesso e abandono escolar, mas essencialmente procura perceber as causas que levam os jovens a afastarem-se do percurso escolar antes de concluída a escolaridade mínima obrigatória, em detrimento do ingresso precoce no mercado de trabalho, bem como possíveis medidas de combate, destacando o papel da disciplina de educação física.

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ABSTRACT

Failure at school today is a social phenomenon, this is no longer seen as na individual characteristic, from the standpoint of the student, becoming increasingly regarded as a phenomenon with social and economic implications. Despite being a problem that follows the entire process of education, from the first cycle to higher education, is its focus on results at the level of compulsory schooling, and the evaluation of the educational process focused on tangible results (skills and knowledge that prepare the individual to the world of work) rather than the experience of life.

However, school failure has set up a complex task, since beyond this concept contains a multiplicity of understandings, their study presents a huge polysemy evident in the attempts made by different disciplines for their understanding and definition. For Fernandes (1991), the official definition of school failure, comes from an annual basis in passing/failing students, inherent to the structure characteristic evaluation of the education system.

This study aims to advertise the situation in Portugal regarding what is the failure and school abandon, but essentially seeks to understand the causes that lead young people to stay away from school before the course is completed compulsory education, to the detriment of the early entry labor market, as well as possible measures to combat, emphasizing the role of the discipline of physical education.

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS... V RESUMO ... VI ABSTRACT... VII ÍNDICE GERAL... VIII ÍNDICE DE TABELAS... X ÍNDICE DE GRÁFICOS ... XI

INTRODUÇÃO... 1

Capitulo I - Etimologia e Definição De Insucesso Escolar ... 6

1. Etimologia do conceito de insucesso escolar... 7

1.1. Definir insucesso escolar... 8

1.1.1. Os diversos conceitos de insucesso escolar... 14

Capitulo II - Os Diferentes Indicadores De Insucesso E O Panorama Nacional... 19

2. Os diferentes indicadores de insucesso e o panorama nacional ... 20

2.1. Indicadores de insucesso escolar... 20

2.1.1. Indicadores internos ... 21

2.1.2. Indicadores externos ... 22

2.2. Insucesso escolar em portugal, o que os números revelam... 24

2.2.1. Evolução das estatísticas do insucesso escolar no panorama nacional…….. ... 24

Capitulo III - Causas E Principais Teorias Explicativas Do Insucesso.... 32

3. Causas e principais teorias explicativas do insucesso escolar ... 33

3.1. Causas e factores do insucesso escolar ... 33

3.1.1. A família e as suas condições socioculturais... 33

3.1.2. A família e a escola ... 34

3.1.3. A escola e o sistema de ensino ... 35

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3.1.5. A elevada carga horária dos estudantes ... 38

3.1.6. Programas extensos e elevada carga de conteúdos relacionados com a memorização... 38

3.1.7. Qualidade dos manuais ... 39

3.1.8. Testes de avaliação em quantidade exagerada e de qualidade duvidosa…… ... 39

3.2. Principais teorias explicativas do insucesso ... 40

3.2.1. Teoria dos dons ou dotes individuais... 40

3.2.2. Teoria do handicap sócio-cultural... 41

3.2.3. Teoria sócio-institucional ... 43

Capitulo IV - Medidas de Combate ao Abandono e Insucesso Escolar: O contributo Da Disciplina De Educação Física ... 47

4. Estratégias de combate ao insucesso escolar ... 48

4.1. O sistema educativo português e o combate ao insucesso escolar .. 48

4.1.1. Soluções e medidas específicas contra o insucesso escolar ... 51

4.1.2. O contributo das autarquias... 57

4.2. O papel da educação física. A educação física como medida de combate ao insucesso e abandono escolar ... 59

Capitulo V - Conclusões... 67

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ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1. Taxa de retenção e desistência nos ensinos básico e secundário,

por nível de ensino, em Portugal e no Continente (1999/00 - 2008/09)... 24

TABELA 2. Taxa de Abandono Escolar Precoce: Total e por Sexo. ... 26 TABELA 3. Taxa real de escolarização... 27

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Taxa de transição/conclusão, por nível de ensino, em Portugal

(1999/00 – 2008/09)... 29

GRÁFICO 2. Taxa de retenção e desistência no ensino básico, por ano de

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INTRODUÇÃO

A educação foi sempre um tema em destaque na nossa sociedade. Com o passar dos tempos, a educação em Portugal sofreu algumas vicissitudes, que se traduziram em avanços e recuos. Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14 de Outubro) a educação é um direito que assiste a todos e tem como objectivo promover o desenvolvimento global e harmonioso da personalidade do indivíduo, bem como a sua integração social e o desenvolvimento de um espírito democrático e crítico.

A educação passou a ter uma feição social não sendo mais um assunto de carácter exclusivamente político. Embora a escola se afirme como igual para todos, ela constitui-se como obstáculo para muitos alunos.

Nas sociedades modernas, a escola afirma-se como o principal agente de socialização, não apenas na transmissão da cultura mas também no papel da diferenciação social.

Considerando que é de acordo com estes pressupostos, que vêm determinar as condutas que são socialmente aceites, que as escolas valorizam a utilização de regras e reprimem ou aprovam determinados comportamentos. Assim, consideramos que são as nossas escolas, que, em conformidade com as regras sociais, determinam a forma de agir quer dentro quer fora do seu espaço físico.

É pois, nesta lógica que a discriminação e marginalização atingem os alunos que não aceitam as normas do sistema em vigor, ou que reprovam, ao passo que outros alunos, na tentativa de evitarem essa exclusão e a marginalização acabam por se adaptar aos valores veiculados pela escola. Desta forma, sendo o sucesso escolar socialmente apreciável, é nele que as classes mais favorecidas investem para garantir o seu lugar na sociedade.

Da análise do exposto é possível concluir, que a instituição escolar, além dos conteúdos, transmite também os valores e as normas da sociedade em que se insere, e que a repetência se assume como o meio privilegiado de sanção face ao que é suposto apreender. Assim, é atribuído ao sistema educativo a responsabilidade pela socialização e selecção dos indivíduos, sendo que a socialização na escola é a que permite que os alunos integrem o sistema de valores

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partilhado pela sociedade, ao passo que a selecção permite orienta-los para as diferentes posições do sistema económico e social que irão ocupar.

Para Parsons, T. (s.d.), os indivíduos nascem com estatutos atribuídos, como são exemplo o estatuto sócio-económico da família ou mesmo o sexo, contudo para o autor todo o processo de diferenciação pelos papéis adquiridos, é essencialmente fruto da educação. O autor defende ainda que, aquando da entrada das crianças na escola primária, estas apresentam de certa forma uma homogeneidade, quer relativamente à idade quer mesmo no que respeita ao estatuto sócio-económico. Por sua vez, são os desempenhos académicos distintos alcançados por cada uma destas crianças que irão contribuir para uma progressiva diferenciação, onde as notas e classificações, se apresentam como um critério fundamental para a atribuição do futuro estatuto na sociedade.

Em conformidade como o autor podemos elucidar que, quase toda a problemática que envolve o insucesso escolar está patente nas questões que se prendem com as desigualdades educativas, fruto da estratificação social, e cujas consequências se fazem sentir na educação escolar. Apesar de aparentemente simples, esta situação (insucesso escolar) é encarada com grande complexidade, pois em seu redor pairam ainda incertezas e hipóteses quanto ao descobrimento das suas causas, bem como das suas possíveis medidas de remediação.

ASPECTOS GERAIS

O insucesso escolar é, nos nossos dias um fenómeno social, este deixou de ser encarado como uma característica individual, do ponto de vista do aluno, passando a ser cada vez mais considerado como um fenómeno com implicações sociais e económicas (Benavente e Correia, 1980). Apesar de ser um problema que acompanha todo o processo de ensino, desde o primeiro ciclo até ao ensino superior o seu enfoque está nos resultados a nível da escolaridade obrigatória, sendo a avaliação do processo educativo centrada em resultados palpáveis (aquisição de competências e conhecimentos que preparam o indivíduo para o mundo do trabalho) e não tanto na experiência de vida.

O insucesso escolar é um assunto complexo e multiforme. Existem vários tipos de insucesso. Normalmente, destacam-se o insucesso escolar do insucesso

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educativo. Como enunciado anteriormente, para além de ensinar conhecimentos a escola assume também o papel de educar. Assim, à escola exige-se a actualização e a especialização dos saberes, nomeadamente através dos conteúdos programáticos abordados, fazendo desta forma que o conhecimento científico produzido chegue aos alunos, bem como é exigida ainda a formação global e pessoal do sujeito, isto é, à escola impõe-se que realize um esforço de integração e equilíbrio entre a especialização de conhecimentos e a globalização da acção educativa, evitando desta forma que a educação se resuma simplesmente à transmissão de conhecimentos científicos, mas sobretudo que se assuma como veículo essencial na construção dos alunos enquanto Homens e cidadãos (Morgado, 1999). Esta mesma opinião é partilhado por Pires, Fernandes e Formozinho (1991), para os quais a educação tem como finalidades instruir, estimular e socializar os educandos, ou seja, a educação deve sempre ter como objectivos a aquisição de determinados conhecimentos e técnicas (instrução), permitir o pleno e harmonioso desenvolvimento da personalidade (estimulação), bem como contribuir para a aquisição e interiorização de condutas e valores, tendo em vista a vida em sociedade (socialização). Daqui, podemos elucidar que, caso algum destes objectivos não for alcançado, estamos perante uma situação de insucesso na educação escolar.

Da análise do exposto verifica-se que o insucesso educativo tem vindo a ganhar uma dimensão ampla e abrangente, extravasando já o âmbito do insucesso escolar.

A problemática do abandono escolar coloca ainda em causa a produtividade de um país, uma vez que representa um desperdício de vidas jovens. Assim o abandono escolar para além de se apresentar como um problema educacional e social, apresenta-se ainda como um problema económico. Viver numa sociedade com graves problemas sociais e económicos, acaba por “empurrar” os jovens para o mercado de trabalho, mesmo antes de concluírem a escolaridade mínima obrigatória, com o intuito de melhorarem as suas condições de vida.

A motivação para este trabalho fundamenta-se no facto de se conceber que é na escola, através do seu campo de acção e da autonomia que lhe está consignada em termos de política de escola e de definição de estratégias que permitam responder aos problemas e necessidades identificadas – autonomia essa concedida pelo Decreto-lei N.º 115-A/98 de 4 de Maio – que se abre a possibilidade de minorar

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as desvantagens sociais, culturais e económicas de que alguns alunos são portadores e das quais podem resultar situações de insucesso escolar, não esquecendo que ela também é reprodutora de desigualdades sociais que se transformam em desigualdades escolares.

JUSTIFICAÇÃO E ESTRUTURA DO ESTUDO

A necessidade de um conhecimento mais amplo e esclarecido relativamente às causas e às consequências do insucesso e abandono escolar, resume-se ao facto de só assim ser possível prevenir e combater este fenómeno. Numa tentativa de conhecer hoje para intervir amanhã.

Este estudo procura dar a conhecer a realidade portuguesa relativamente àquilo que é o insucesso e abandono escolar, mas essencialmente procura perceber as causas que levam os jovens a afastarem-se do percurso escolar antes de concluída a escolaridade mínima obrigatória, em detrimento do ingresso precoce no mercado de trabalho, bem como possíveis medidas de combate, destacando o papel da disciplina de educação física.

Este trabalho encontra-se dividido em cinco capítulos. Num primeiro capítulo pretende-se dar a conhecer a etimologia e a definição de insucesso escolar adoptada em Portugal e nos Estados-Membros da União Europeia. No segundo capítulo são apresentados os diferentes indicadores de insucesso escolar, bem como o panorama do insucesso escolar em Portugal. O terceiro capítulo versa as causas do insucesso bem como as principais teorias que visam a sua explicação. No quarto capítulo são apresentadas as medidas de combate ao mesmo, definidas pelo sistema educativo português, bem como o contributo da disciplina de educação física. Por último e no quinto capítulo são apresentadas as conclusões.

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CAPITULO I

ETIMOLOGIA E DEFINIÇÃO DE

INSUCESSO ESCOLAR

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1. ETIMOLOGIA DO CONCEITO DE INSUCESSO

ESCOLAR

Etimologicamente, a palavra insucesso vem do latim insucessu(m), o que significa “Malogro; mau êxito; falta de sucesso que se desejava” (Fontinha, s.d.) ou ainda “mau resultado, mau êxito, falta de êxito, desastre, fracasso” (Costa e Melo, 1989). O vocábulo insucesso é habitualmente referenciado por analogia ao termo

sucesso, que advém do latim sucessu(m), o qual assume, entre outros, os seguintes

significados “o bom êxito, conclusão” ou “ chegada, resultado, triunfo” (Fontinha, s.d.). Não podemos pois, deixar de constatar, que os termos sucesso e insucesso detêm significados que se opõem aos conceitos de bom e mau que lhes estão subjacentes. Na pesquisa dos termos bom e mau no Dicionário de Língua Portuguesa de Costa e Melo (1989), encontramos “bom: (…) que tem bondade; virtuoso; nobre; seguro (…)” e “mau: (…) que não tem bons instintos; que exprime maldade; malvado; perverso (…)”. Na sequência do exposto, se em termos estritos efectuarmos uma correlação entre os termos bom/sucesso e mau/insucesso, verificamos que os sinónimos evocam sempre atributos pessoais, positivos ou negativos.

Uma vez que em Portugal também não existe uma unidade semântica na definição de insucesso escolar, torna-se pertinente referir a análise semântica efectuada por Benavente (1976), que a partir de diversos estudos reuniu para esta designação vários termos, nomeadamente: reprovações, atrasos, repetência,

abandono, desperdício, desadaptação, desinteresse, desmotivação, alienação e fracasso. Além destes termos, acrescentou também as expressões: mau aproveitamento, mau rendimento, e mau rendimento escolar. Face a estas

terminologias, não podemos deixar de referir Rovira (2004), para o qual o termo

insucesso escolar parece aludir a um deficit pessoal que está muito longe de ser a

principal causa do chamado fracasso escolar.

Na sequência do exposto, concluímos que a explicitação do conceito de insucesso escolar, pelo facto de auferir diferentes atribuições, constitui um factor impeditivo de unanimidade semântica. Devido a esta ausência de uniformidade conceptual, considerámos oportuno salientar alguns autores que explicitam o conceito de insucesso escolar assim como a génese deste fenómeno.

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1.1. DEFINIR INSUCESSO ESCOLAR

O conceito de insucesso escolar é relativamente recente na história da educação da sociedade ocidental e surge associado à implementação da escolaridade obrigatória, decorrente das exigências da sociedade industrial. A sua noção conceptual assume-se nos meandros da rede política e económica do século XX, com a organização das escolas com currículos estruturados, que pressupõem, por inerência, metas de aprendizagem. Ou seja, a escola ao veicular a transmissão do saber instituído, propõe a aquisição desse saber, através de metas e limites que demarcam as fronteiras reais entre sucesso e insucesso escolar, pelo que, quando um aluno não atinge alguma dessas metas, já está em insucesso, pois não atingiu alguma coisa que é suposto ser atingida por todos os alunos (Benavente, s.d.).

Contudo, definir insucesso escolar apresenta-se uma tarefa complexa, visto que além deste conceito encerrar uma multiplicidade de entendimentos, o seu estudo apresenta uma enorme polissemia, notória nas tentativas efectuadas pelas diferentes áreas disciplinares para a sua compreensão e definição. Para Fernandes (1991), a definição oficial do insucesso escolar, advém do regime anual de

passagem/reprovação dos alunos, inerente à estrutura de avaliação característica do

sistema de ensino. Para Benavente (s.d.) a questão do insucesso escolar pressupõe a coexistência de inúmeros factores que incluem as políticas educativas, as questões de aprendizagem, os conteúdos e mesmo a relação pedagógica estabelecida. Contudo, e segundo Benavente (1976) o enfoque reside nas contradições que os alunos são incapazes de resolver, nomeadamente:

i) Entre a escola e a realidade em que vivem;

ii) Entre as aprendizagens exigidas pela escola e as que fazem na família e no meio social;

iii) Entre as aspirações, normas e valores da família e as exigidas pela escola; Na opinião de Cortesão e Torres (1990), é fácil dizer que os alunos não estudam, que vêm mal preparados ou que não se interessam, ou seja, uma vez que ninguém assume a culpa, o discurso mais comum é o do professor universitário que culpa o do secundário, enquanto este culpa os dos níveis anteriores. Assim, os professores do primeiro ciclo culpam os programas, as novas metodologias, a falta

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de inteligência dos alunos, ou atribuem a culpa aos pais que classificam como pouco cultos.

Deste modo, constatamos que não é utilizado apenas um indicador para este fenómeno, mas vários indicadores, tais como as reprovações, os abandonos da escolaridade e os atrasos. Já em 1976, Benavente referia que o insucesso na escola primária, se traduzia através das dificuldades de aprendizagem, das reprovações e dos atrasos. Assim, a inexistência de uma visão unitária para a compreensão do insucesso invalida a realização de abordagens profilácticas.

Em alguns países, a utilização do termo insucesso escolar é aplicada com precaução, porquanto se considera que poderá produzir efeitos contraproducentes, em virtude de promover a diminuição da reputação das escolas, a moral dos professores ou a auto-estima dos alunos (Karen Kovacs in Alvaro Marchesi e Hernández Gil, 2004).

Um estudo da OCDE refere também que, independentemente das diferenças no uso do termo, assim como da sua definição, o baixo rendimento escolar deve ser considerado um processo mais do que como um resultado final atribuível a variáveis institucionais, sociais e individuais. Deste modo, distingue três momentos-chave nesse processo. O primeiro, durante o ciclo de educação obrigatória, apresenta-se quando o rendimento do aluno é sistematicamente inferior ao da média, ou quando este tem de repetir um ano escolar. O segundo manifesta-se através do abandono escolar do aluno antes de terminar a educação obrigatória, ou quando este termina os seus estudos sem obter o certificado correspondente enquanto o terceiro se reflecte numa difícil integração profissional dos jovens que não possuem os conhecimentos e habilidades básicas que deveriam ter adquirido na escola.

Esta polissemia semântica é justificável pela coerência que assume, apresentando-se em consonância com o quadro de referências conceptuais, as expectativas e o propósito de quem aborda o insucesso escolar. Não é pois, por acaso que os governos, investigadores, professores, pais e alunos diferem na etiologia face ao valor que lhe atribuem. A este propósito consideramos oportuno referir Medeiros (1993), quando afirma que para os professores o insucesso escolar é devido à falta de bases, de motivações, de capacidades dos alunos ou do disfuncionamento das estruturas educativas, familiares e sociais, enquanto para os pais e público em geral, a responsabilidade do insucesso recai nos professores, aos quais são apontados aspectos que se prendem essencialmente com as faltas, a

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desmotivação ou ainda a sua deficiente formação. Por sua vez Cortesão e Torres (1990) sustentam ainda, que para além da repetência e abandono escolares, indicadores, através dos quais, tradicionalmente se define o insucesso escolar, existem outros aspectos reveladores do mal-estar dos alunos na instituição escolar e o facto de, terminada a escolaridade, não se desencadear a capacidade de mobilização dos conhecimentos adquiridos, são ainda aspectos indicadores de que a educação não se cumpriu. Também Avanzini (s.d.) considera que o número dos alunos abrangidos pelo insucesso escolar não se pode atribuir exclusivamente ao próprio momento da escolaridade pois para além do período escolar muitos conhecimentos são precários porquanto não se conservam. Por outro lado, o bom

aluno, símbolo do êxito, poderá não o ser na realidade, se os seus interesses

culturais se tiverem centrado exclusivamente e por imposição, nos conhecimentos académicos, secundarizando todas as outras vertentes existenciais.

Na perspectiva de Pires (s.d.), o insucesso assume o seu expoente máximo através do abandono escolar. Para esta investigadora, um aluno que reprove um ano não engrossa as fileiras do insucesso mas sim aquele que repete vários anos consecutivos, acabando mesmo por abandonar.

Por sua vez, Fernandes (1991) considera que a designação de insucesso

escolar é vulgarmente utilizada por professores, educadores, responsáveis de

administração e políticos para caracterizar as elevadas percentagens de reprovações escolares verificadas no final dos anos lectivos, embora o mesmo autor considere ainda, que existe insucesso escolar nas situações em que a socialização ou a personalidade não foram devidamente desenvolvidos.

O termo insucesso escolar é ainda mais discutível, porquanto encerra várias ideias; em primeiro lugar, a ideia de que o aluno com insucesso não progrediu praticamente nada, nem no âmbito dos seus conhecimentos escolares nem ao nível pessoal e social, o que não corresponde de todo à realidade. Em segundo lugar, porque a expressão “aluno com insucesso” oferece uma imagem negativa do aluno ao mesmo tempo que centra nele toda a responsabilidade do insucesso escolar, esquecendo a responsabilidade de todos os outros agentes responsáveis por tal fracasso, desde as instituições e as condições sociais, a família, o sistema educativo ou a própria escola (Marchesi e Pérez in Marchesi et al 2004). Também Rovira (2004) partilha deste mesmo ponto de vista, ao considerar que a expressão

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demasiado simplista é excessivamente negativa. Assim, o autor considera o conceito de insucesso escolar demasiado rígido, na medida em que não deixa espaço para nuances, ou seja, ao falar-se de fracasso escolar de uma forma global depreende-se que o aluno fracassado o é na sua totalidade. Posto isto, o mesmo autor apresenta algumas ilações que justificam a necessidade de criticar a simplicidade, concludência e negatividade do conceito, das quais importa reter que:

i) Nem todos os insucessos são iguais, pois ninguém fracassa totalmente e em tudo o que faz;

ii) Um insucesso pode encerrar esforços muito valiosos;

iii) Um insucesso nem sempre se reveste de um significado catastrófico, quer seja a nível pessoal quer seja a nível social.

Relativamente à forma como os Estados-Membros da União Europeia definem o insucesso escolar, são apresentadas de seguida as diferentes concepções (PEPT 2000).

Assim, na Dinamarca a retenção não se pratica ao longo dos nove anos de

escolaridade, pelo que a expressão insucesso escolar significa o desequilíbrio existente entre as capacidades e aptidões dos alunos face ao benefício que estes retiram do ensino. O abandono do sistema escolar no final da escolaridade obrigatória é neste caso sinónimo de insucesso escolar. No País de Gales e na Irlanda do Norte o conceito de insucesso escolar não existe, utilizando-se o termo

under-achieving, enquanto na Irlanda a expressão utilizada é no achievers ou lower

achievers, que em ambas as situações significa a incapacidade que o aluno

manifesta no desenvolvimento das suas competências individuais. A inexistência deste conceito também acontece na Escócia, onde é substituído por dificuldades de

aprendizagem causadas quer por planos de estudo ou metodologias de ensino inadequadas, quer por um handicap mental, físico, emocional ou social por parte dos alunos. Contudo, o insucesso escolar é susceptível de quantificação através do número de alunos que se mantém no sistema escolar após a idade de conclusão da escolaridade obrigatória. Assim, nestes países onde não se pratica a retenção, o insucesso dos alunos é definido por um défice de desenvolvimento pessoal ou pela ausência de progressos individuais.

Os restantes países da União Europeia mantêm, sistemas de ensino avaliados por exames e uma avaliação selectiva, sendo o insucesso escolar definido em termos de retenção, de saídas do sistema sem diploma ou de abandono escolar.

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Na Alemanha, embora o insucesso não se encontre claramente definido, a

sua estimativa é efectuada através das taxas de retenção e de abandono escolar. É também a partir destas duas taxas que o insucesso escolar é contabilizado em

Itália, embora neste país o termo dispersione scolastica seja definido como a

incapacidade do aluno adquirir os conhecimentos básicos. O sistema francês

entende o insucesso escolar em termos de saídas do sistema educativo sem qualquer qualificação, e a sua quantificação tem como base as dificuldades de aprendizagem que impedem os alunos de, numa determinada idade, atingirem as competências e conhecimentos exigidos. Aqui, o indicador utilizado para medir o insucesso escolar é, tal como na Bélgica, a taxa de retenção. Neste último país o

insucesso escolar é também definido em termos de objectivos cognitivos não atingidos. A dificuldade em atingir os objectivos definidos para o ensino básico é igualmente utilizada em Espanha para definir sucesso escolar, contrapondo-se ao

indicador mais utilizado para medir este fenómeno designado por taxa de insucesso. Na Grécia o insucesso, tal como o entendemos no nosso país, está associado ao

nível de desenvolvimento dos alunos, estimado através de diferentes modalidades de avaliação que têm por referência as metas e objectivos curriculares definidos. Neste caso, o insucesso escolar exprime-se em taxas de analfabetismo e de abandono. Em Portugal, o conceito não se distancia das definições apresentadas

pelos outros países da União Europeia, visto que se entende o insucesso escolar como a incapacidade que o aluno revela de atingir os objectivos globais definidos para cada ciclo de estudos. Esses objectivos são definidos através de um processo de avaliação, que no ensino básico consiste na verificação do grau de cumprimento dos objectivos gerais definidos a nível nacional para cada um dos ciclos de escolaridade e dos objectivos específicos de cada disciplina ou área disciplinar. No que concerne aos indicadores utilizados salientam-se, além das taxas de retenção, as de abandono e de insucesso nos exames. Uma vez que o insucesso escolar aparece definido por estes indicadores, parece-nos legítimo equacionar, se eles serão, de facto, os únicos utilizáveis para avaliar a questão. Ou seja, tal como equacionam Cortesão e Torres (1990), se por decreto fosse determinado que todos os alunos passassem de ano, isto é, se administrativamente fosse decidida a passagem para todos os alunos, seria possível concluir que o ano escolar tinha sido um êxito? Concluiríamos que todos os objectivos de aprendizagem tinham sido atingidos e que não tinha havido insucesso escolar?

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Face ao exposto, podemos constatar que, qualquer que seja a definição e o indicador que se seleccione, as altas taxas de insucesso escolar têm impactos graves nos alunos e na sociedade. Assim, além da repetência, variável facilmente quantificável, Benavente (1976) salienta ainda que mesmo após a conclusão da escolaridade obrigatória, a não prossecução dos estudos também constitui uma forma de insucesso, visto que o aluno acaba por não retirar do sistema de ensino tudo o que ele tem e pode oferecer.

Deste modo, parece-nos que o conceito de insucesso escolar não se esgota em indicadores palpáveis, embora também não nos pareça viável, no actual panorama histórico-educativo, apontar outros que nos consigam situar face ao fenómeno. Contudo, no nosso país tal como em outros, o conceito de insucesso escolar assumiu, ao longo dos tempos, diferentes acepções consoante as estruturas político-económicas subjacentes. Assim, com base na legislação que criou a obrigatoriedade escolar, surge o conceito de reprovação. Ou seja, a repetência, constituiu a solução interna que o sistema escolar encontrou para lidar com o problema da não aprendizagem ou da má qualidade dessa aprendizagem (Torres, 2004). Em consonância com o exposto, podemos aderir que a criança/jovem é considerada boa ou má aluna em função dos resultados obtidos e dos progressos efectuados no cumprimento dos programas de ensino estabelecidos (Benavente, 1990).

Em termos globais europeus, as discrepâncias face às descrições apresentadas pelos diferentes Estados tornam evidente a relatividade do conceito, que varia em função do sistema educativo implementado, das tradições educativas, das exigências curriculares e das modalidades de avaliação. Deste modo, falar de insucesso escolar significa valorizar aspectos que condicionam negativa ou positivamente o fenómeno, em conformidade com determinado contexto educativo. Assim, o insucesso escolar poderá ser analisado como um indicador das funções e do modo de funcionamento do sistema de ensino, mas também como efeito da intervenção dos diferentes sistemas (Benavente, 1990).

Para Iturra (s.d), o insucesso escolar deriva de todo um processo histórico, sendo que o conhecimento acaba sempre por incidir mais num determinado grupo social. Ana Benavente (1976), por sua vez diz-nos que o insucesso escolar não é um problema de funcionamento do sistema escolar mas sim um objectivo da própria

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instituição de ensino, uma vez que a escola se rege pelos interesses das classes média e alta, acabando por justificar determinados privilégios sociais.

Face a este cenário, parece-nos impossível encontrar uma definição consensual pelo que optámos por compreender, contextualizar e descrever o conceito de insucesso escolar, nas suas faces ocultas, focando análises distintas, no sentido em que cada qual contribui para um ângulo de visão do conceito de insucesso escolar consoante o enfoque que faz dele.

1.1.1.OS DIVERSOS CONCEITOS DE INSUCESSO ESCOLAR

O conceito de insucesso escolar, vulgarmente utilizado, traduz o não atingir de metas (fim dos ciclos) pelos alunos dentro dos limites temporais estabelecidos. Os indicadores que traduzem este fenómeno são, na prática, as taxas de reprovação/retenção, repetência e de abandono escolar. Existe, contudo, um outro tipo de insucesso escolar não facilmente quantificável mas provavelmente mais nefasto: referimo-nos à (des)adequação entre os conteúdos transmitidos na escola, as aspirações dos alunos e a não conjugação destes factores com as necessidades do sistema social (particularmente do sistema político, cultural e económico) e dos seus subsistemas de emprego/trabalho e tecnológico.

De acordo com Benavente (1990), o insucesso escolar é um problema social que preocupa pais, professores e alunos, começando a ser mais falado em Portugal a partir de 1987. Caracteriza-se o insucesso escolar pelo baixo rendimento escolar dos alunos, que por razões de vária ordem, não puderam alcançar resultados satisfatórios, não atingiram os objectivos desejados no decorrer ou no final de um determinado período escolar e, por conseguinte, reprovam. Pode ser também designado pela falta de êxito/mau resultado no processo de ensino-aprendizagem.

Pires, Fernandes e Formozinho (1991) referem que o insucesso escolar é a expressão utilizada frequentemente por professores, educadores, responsáveis de administração e políticos para caracterizar as taxas de reprovações escolares verificadas no final de cada ano lectivo. Iturra (1990) diz-nos que o insucesso escolar é expressão que caracteriza o mau desempenho atingido na escola e define-o como a dificuldade que a escola tem de se adaptar ao pensamento daqueles que já têm um conhecimento cultural do real.

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Se nos reportarmos à definição de insucesso escolar preconizada por Fernandes, citada na Enciclopédia Luso Brasileira (1980), insucesso escolar designa a não obtenção dos objectivos predeterminados pela organização escolar ou pela instrução em si. Acrescenta ainda que o termo insucesso é um conceito que exige, à priori, um outro comparativo, ou seja, mau resultado em relação aos objectivos escolares, falta de êxito na aprendizagem, ausência de eficácia na interiorização, apreensão e assimilação dos conhecimentos.

Já a definição ditada pelo Ministério da Educação (1992) à Unidade Europeia da rede Eurydice refere que, em Portugal, entende-se o insucesso escolar como a incapacidade que o aluno revela em atingir os objectivos globais definidos para cada ciclo de estudos.

Podemos atribuir o insucesso escolar à instrução escolar, no que concerne à incapacidade que o sistema educativo muitas vezes apresenta em dar resposta a um vasto número de problemas com que cada aluno se debate, podendo conduzir ao fracasso e, até mesmo, ao abandono escolar prematuro. Para reforçar esta posição, Iturra (1990) afirma que o insucesso escolar reside na dificuldade que as crianças têm em aprender, em completar a escolaridade no tempo previsto, em obter notas altas ou pelo menos satisfatórias pelo seu trabalho escolar para poderem continuar os seus estudos.

Segundo este mesmo autor, e relativamente a opiniões de professores que com ele conversaram, existem duas razões explicativas para o aparecimento do insucesso. Uma delas é que os estudantes não estão interessados em aprender e os seus pais têm sobre eles expectativas que vão além das capacidades dos adolescentes. A outra razão afirma que o insucesso escolar dos alunos se deve à não existência de meios para ensinar e à inexistência de orientação pedagógica adequada. Ou seja, ou os estudantes não estão prontos para aprender, ou os professores não estão dotados para ensinar (Iturra, 1990). O que nos leva a questionar se haverá uma discrepância entre o desenvolvimento integral da criança e as exigências do sistema educativo propostas para a sua idade.

Nesta linha de pensamento, Le Gall, (1978) refere que grande parte do insucesso escolar esta relacionado com a inadaptação da personalidade da criança às exigências escolares. O mesmo autor salienta que nas escolas do ensino básico, colégios particulares ou outras instituições de ensino confrontamo-nos com uma enorme diversidade de personalidades infantis, e quando as escolas e as suas

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exigências não se sabem adaptar a essas personalidades e condicionamentos psicológicos que algumas crianças têm, tal pode levar ao insucesso escolar. O autor sugere ainda que a adaptação da criança à escola deveria ser feita juntamente com o professor, a escola, o aluno e a família, indo cada um ao encontro dos outros, para que deste modo fossem ultrapassadas todas as dificuldades e possíveis falhas.

Para Muñiz (1989), o insucesso escolar define-se como a dificuldade que uma criança com um nível de inteligência normal ou superior pode experimentar para acompanhar a formação escolar correspondente à sua idade. Para este autor, a criança tem inteligência normal ou superior ao normal desde que não sofra de qualquer lesão cerebral, que seja assídua às aulas e que não tenha origem numa família com um nível cultural muito baixo.

Rangel (1994) dá-nos uma noção mais abrangente deste conceito. Para esta autora, o insucesso escolar significa a falência de um projecto. No campo educacional, significa o insucesso num exame, bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetências sucessivas. A mesma autora complementa que a noção de insucesso escolar só tem sentido dentro de uma dada instituição escolar e num dado momento da escolaridade.

Assim, o termo insucesso escolar é utilizado na realidade escolar como a falta de êxito dos alunos face ao seu processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o fraco rendimento/aproveitamento escolar dos alunos.

Numa perspectiva mais global e abrangente Vítor Fonseca (1999) afirma que muito do insucesso escolar das crianças é apenas o reflexo do insucesso social e pedagógico que não permite responder às suas necessidades.

Acreditando que o crescimento económico estava também dependente de um maior investimento na educação e num aumento da escolarização, assiste-se a um forte crescimento da educação em que a escola de elites dá lugar à escola de massas. Este incremento arrastou consigo problemas como o desigual acesso à educação entre os vários grupos sociais. Com esta constatação iniciou-se um novo campo de pesquisa com o qual se pretendia explicar as causas que estavam subjacentes ao desigual acesso à educação.

Segundo a perspectiva antropológica, o insucesso escolar ocorre quando existe um antagonismo, ou uma separação, entre a cultura que é vinculada pela escola e aquela de que os alunos são portadores. Nestes dois tipos de culturas dominam diferentes tipos de saberes, estando associado ao grupo doméstico, à

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cultura de origem, um conhecimento não letrado e ao ensino oficial um conhecimento escrito, surgindo o insucesso escolar quando o saber não letrado é predominante face ao transmitido pela instituição escolar (Duarte, 2000).

Já as autoras Ana Benavente e Adelaide Pinto Correia, inserindo-se numa perspectiva sociológica, para além de definirem o insucesso escolar como um fenómeno relacional em que estão implicados alunos, família, escola, professores e política educativa, definem-no igualmente como um fenómeno multifacetado, massivo, constante, selectivo e cumulativo. É um fenómeno multifacetado porque é resultado de uma conjugação e interacção de diversas causas, é massivo porque afecta um vasto número de alunos colocando em causa o princípio da “escola para todos”, é constante porque é comum aos vários níveis de escolaridade e às várias instituições de ensino, é selectivo dado que não afecta de igual modo os alunos de todos os meios sociais, afectando predominantemente os alunos dos meios socialmente desfavorecidos, e é cumulativo uma vez que não é um acontecimento isolado, pois os alunos que já ficaram retidos têm mais possibilidades de voltar a não transitar de ano (Benavente e Correia, 1980). Estas autoras definiram igualmente o insucesso escolar como sendo precoce. Com a investigação denominada

Obstáculos ao sucesso na escola primária (1980), observaram que este afectava um

número elevado de alunos nos primeiros anos de escolaridade, mas passados mais de 25 anos desde a investigação que levaram a cabo, a configuração do insucesso escolar por ano de escolaridade alterou-se. Conforme é possível constatar no capítulo seguinte deste trabalho, o primeiro ciclo é aquele em que as taxas de insucesso escolar são menores. Ou seja, a precocidade do insucesso escolar deixou de ser uma realidade em Portugal, transferindo-se para outros níveis de ensino frequentados outrora predominantemente pelas elites da sociedade portuguesa.

Por último, é de reiterar que o indicador que traduz o insucesso escolar refere se aos fracos resultados escolares dos alunos. Consequentemente, as taxas de insucesso correspondem à percentagem de alunos que ficam retidos no ano de escolaridade que frequentam face ao total de alunos matriculados nesse mesmo ano, em virtude da incapacidade de o aluno atingir os objectivos globais definidos para cada ciclo de estudos (Eurydice, 1995).

Apesar de este indicador ser aparentemente uma forma simplista de encarar o insucesso escolar, traduzindo-o num desempenho escolar aquém do esperado para determinado ano de escolaridade ou ciclo de ensino, consiste no modo de

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objectivar uma das formas de que se reveste o insucesso escolar, a não transição de ano de escolaridade (ou a não conclusão de um ciclo de estudos, no caso dos anos terminais). No entanto, o insucesso escolar é mais do que um fraco desempenho escolar dos alunos, sendo apenas a faceta mais visível de uma série de fracassos e de obstáculos que dificultam o sucesso escolar.

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CAPITULO II

OS DIFERENTES INDICADORES DE

INSUCESSO E O PANORAMA

NACIONAL

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2. OS DIFERENTES INDICADORES DE INSUCESSO E

O PANORAMA NACIONAL

2.1. INDICADORES DE INSUCESSO ESCOLAR

Ter que permanecer num sistema que não corresponde aos anseios pessoais, confrontado constantemente com o sentimento de não pertença, de não corresponder às expectativas de pais e professores terá em muitos casos como efeito a frustração e a desvalorização pessoal (Fonseca, 1999).

Segundo Veiga (2001) muitos alunos não aprendem, não porque verdadeiramente não tenham capacidades para o fazerem, mas porque a escola os “convenceu” de que não são capazes. Para Lopes (2002) organizar, gerir e ensinar o grupo turma, tendo em vista as aprendizagens individuais, constitui, o cerne da acção do professor. Ao fazê-lo, este consegue igualmente promover comportamentos adequados do ponto de vista social, desenvolvendo nos alunos atitudes e valores orientados para a promoção do bem-estar geral.

Segundo o mesmo autor, a educação é transmitida fundamentalmente por modelagem, uma parte substancial dos comportamentos das crianças é aprendida por modelagem (em que os modelos são naturalmente os adultos) e de forma sistemática e não através de “disciplinas” constantes do currículo académico.

Todos os comportamentos dos alunos nas salas de aula estão intrinsecamente ligados às teias relacionais que aí se desenvolvem, quer no sentido vertical (professor-alunos) quer no sentido horizontal (alunos-alunos), posto isto, a escola tanto pode representar um factor de risco para o aparecimento de problemas de desenvolvimento como um factor protector contra um desenvolvimento desfavorável (Lopes, 2002).

De acordo com o pensamento de Alexandre (1999), são indicadores de insucesso escolar, tudo o que é revelador de mal-estar da criança, do adolescente ou do jovem na instituição escolar, bem como o facto de, terminada a escolaridade, não se desencadear a capacidade de mobilização dos conhecimentos adquiridos, a curiosidade ou o desejo de conquista de maior cultura, tudo isto mostra que a educação não se cumpriu. O desinteresse pelas actividades escolares, a agressividade exagerada para com os outros elementos da comunidade escolar, as

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destruições, a delinquência são alguns indicadores, entre muitos outros, que devem constituir verdadeiros sinais de alarme, para a instituição. Outros sintomas são o estudante não se desenvolver, não alcançar o máximo das suas potencialidades. Podemos dividir, segundo Alexandre (1999), os indicadores do insucesso escolar em indicadores internos e indicadores externos, consoante se localizem intrinsecamente ou extrinsecamente em relação ao aluno.

2.1.1. INDICADORES INTERNOS:

a) A repetência: É utilizada apenas em alguns países europeus, esta é vista como um processo de recuperação do aluno e como um mal necessário para o seu desenvolvimento.

b) Os resultados dos exames: Actualmente apresenta-se uma tendência para reduzir a frequência de exames dentro da escolaridade obrigatória, no entanto em alguns países a realização de exames afirma-se como indispensável para a obtenção dum diploma e/ou para o prosseguimento dos estudos.

c) Distribuição de alunos por diversas vias: Esta divisão tem por base as diferenças verificadas entre os alunos, o que os coloca em diferentes grupos de nível.

d) O atraso escolar: Este atraso diz respeito à correlação entre a idade do aluno e o ano de estudo que frequenta, o que por si só pode indicar um atraso nos estudos.

e) O absentismo: Este manifesta-se sobretudo quando o aluno apresenta algum desagrado pela instituição escolar.

f) O abandono: Surge na sequência do absentismo, mas este manifesta sobretudo a rejeição total da escola, normalmente fruto de um sentimento de exclusão por parte desta.

g) O sentimento pessoal: Diz respeito à auto-imagem de insucesso que o quotidiano escolar vai ajudando a construir e que muitas vezes precede os indicadores antes referidos.

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2.1.2. INDICADORES EXTERNOS

a) A distribuição dos alunos por cursos pós-escolaridade obrigatória, fenómeno semelhante ao que se verifica quanto às vias paralelas na escolaridade obrigatória. O que vem condicionar o acesso a determinados cursos pelos resultados anteriormente obtidos e até mesmo o ingresso por uma via profissionalizante é vista como sinal de insucesso.

b) As dificuldades de inserção no mercado de trabalho é também um indicador de insucesso, pelo que pode traduzir o desajustamento da preparação proporcionada pela escola às exigências da sociedade.

c) O próprio desemprego dos jovens que, embora seja utilizado como indicador de insucesso, não deixa de significar também a falta de emprego e a inadequação das formações às necessidades do mercado de trabalho.

d) O trabalho precoce dos jovens. Com diferentes razões consoante o contexto social, e, ao mesmo tempo causa e indicador de insucesso.

e) Analfabetismo, iletrismo. De salientar o aumento da frequência do fenómeno do iletrismo em países com elevados níveis de desenvolvimento.

f) A delinquência, o abuso de drogas. São indicadores que nos conduzem à tomada de medidas no sentido de permitir o desenvolvimento de escolaridade obrigatória num clima de serenidade.

Para além destes indicadores existem, como já referimos, outros de outro tipo. Referimo-nos a alguns sintomas e comportamentos que são indicadores da existência do problema que é o insucesso escolar.

Segundo Alexandre (1999), existem dois tipos de sintomas de insucesso escolar: sintomas de indicadores positivos e indicadores negativos. Regra geral, os sintomas são indicadores de que estamos perante uma situação passageira, quando o aluno revela sofrimento e desgosto pelo seu fraco rendimento escolar, quando apresenta sintomas depressivos mas tenta resolver activamente o problema, procurando ajuda e mostra-se com vontade de melhorar. Também é um indicador positivo o facto de haver alternâncias no seu rendimento, pequenas melhorias seguidas de recaídas, o que significa que o sintoma não está estruturado rigidamente, pelo contrário cede em determinados momentos. Por outro lado, existem os indicadores negativos, que são aqueles que são permanentes, quando para encobrir o seu fraco rendimento escolar, o aluno não expressa sofrimento e

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desgosto, procura justificações e desculpas, geralmente não adequadas á realidade. Parece não ter consciência das suas dificuldades, não saber que actividades, trabalhos e tarefas têm que realizar. Não procura ajuda e soluções, e quando elas existem, não as aceita, reagindo negativamente a elas. Para concluir não se notam indícios de melhoria, pelo contrário enfrenta-se uma situação permanente com ligeiras variações.

Segundo Muñiz (1982), com base nos estudos de Munsterberg (1976), as crianças que têm graves dificuldades de aprendizagem revelam alguns dos seguintes tipos de comportamento e, geralmente, dois ou três em simultâneo.

a) Desassossego: hiperactividade, distracção.

b) Pouca tolerância á frustração: incapacidade de aceitar um insucesso ou uma crítica, hipersensibilidade.

c) Irritabilidade: pouco controlo interior, impulsividade, birras. d) Ansiedade: tensão, constrangimento.

e) Retraimento: passividade, apatia, depressão.

f) Agressividade: comportamento destrutivo, murros, mordidelas, pontapés. g) Procura constante de atenção: absorvente, controlador, impertinente. h) Rebeldia: desafio á autoridade, falta de cooperação.

i) Distúrbios somáticos: gestos nervosos, dores de cabeça, dores de estômago, tiques, chupar o dedo, tamborilar com os dedos, bater com os pés, puxar ou enrolar o cabelo.

j) Comportamento esquizóide: passar despercebido, falar sozinho, contacto com a realidade desorganizado e fraco, comportamento estranho.

k) Comportamento delinquente: roubar, provocar incêndios.

l) Autismo: incapacidade de relacionar-se com os outros, inconformidade em último grau, procura da satisfação dos impulsos interiores chegando mesmo á rejeição do mundo exterior, inflexibilidade extrema, inadaptação, incapacidade de aprender pela experiência, falta de afecto, incapacidade de comunicar verbalmente.

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2.2. INSUCESSO ESCOLAR EM PORTUGAL, O QUE OS

NÚMEROS REVELAM

2.2.1. EVOLUÇÃO DAS ESTATÍSTICAS DO INSUCESSO ESCOLAR NO PANORAMA NACIONAL

O insucesso escolar em Portugal tem sido uma problemática fortemente debatida quer na esfera pública, quer na esfera política. Assim como tem feito parte do objecto de estudo de diversas investigações no âmbito das Ciências da Educação, da Sociologia e da Psicologia.

Dado que este é um tema que alimenta discussões e investigações, interessa saber qual a dimensão do fenómeno do insucesso escolar em Portugal. Que percentagem de alunos cai anualmente nas malhas do insucesso escolar?

Em termos estatísticos, o insucesso escolar é observável através do número de alunos retidos, alunos que não transitaram para o ano seguinte ou que não concluíram o nível de ensino que frequentavam. Neste sentido, e com o intuito de responder à questão anteriormente levantada, na tabela seguinte é possível observar a evolução da taxa de retenção (número de alunos que não transitaram relativamente ao número de alunos matriculados) ao nível dos três ciclos do ensino básico e no ensino secundário, desde o ano lectivo 1999/2000 até 2008/2009.

Tabela 1.Taxa de retenção e desistência nos ensinos básico e secundário, por nível de ensino, em Portugal e no Continente (1999/00 - 2008/09).

Fontes: GEPE. Disponível em (http://w3.gepe.min-edu.pt/EstatisticasAnuais/); http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=520&fileName=GEPE_Setembro.pdf. Acesso em 13-02-2011.

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Conforme se constata na tabela anterior, ao longo do período considerado a taxa total de retenção tem vindo a diminuir desde o ano lectivo 2002/2003, registando em 2008/2009 o valor mais baixo (7,8%) desde o ano lectivo de 1999/2000. Durante este período, a taxa de retenção obteve o seu maior valor em 2001/2002 com 13,6% de retenções. A diminuição da taxa total de retenção tem-se devido principalmente à diminuição da taxa de retenção no 1º e do 2º Ciclo. É possível observar também que o 1º Ciclo é aquele em que as taxas de insucesso escolar são mais diminutas 3,6% e o ensino secundário aquele em que as taxas de retenção têm maior expressão, baixando apenas a barreira dos 30% em 2006/2007, embora desde este último ano lectivo a taxa de retenção no ensino secundário tenha vindo a diminuir, contínua a registar os valores mais elevados, situando-se nos 19.1% em 2008/2009. A evolução das taxas de retenção ao nível do ciclo de ensino, isolando outras variáveis a que se fará referência mais à frente neste trabalho, possivelmente estará associada à introdução de novas orientações de política educativa, na medida em que a introdução de novas directrizes focalizadas para um ciclo de ensino específico poderá influir nas avaliações dos alunos.

Associado igualmente ao insucesso escolar surge a questão do abandono escolar, o qual será apenas tratado, neste trabalho, em termos de representação numérica.

Considera-se o abandono escolar como a saída do sistema de ensino antes de concluída a escolaridade obrigatória dentro dos limites etários legais (AAVV, 2004), assim, e para melhor compreendermos a dimensão deste problema apresenta-se a tabela seguinte, onde é possível observar a taxa de abandono escolar precoce, total e por sexo, bem como a sua evolução ao longo dos últimos anos (1992-2010).

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Tabela 2. Taxa de Abandono Escolar Precoce: Total e por Sexo.

Fontes: INE - Inquérito ao Emprego; PORDATA. Última actualização: 2011-02-22. Acesso em 10-10-2011.

De um primeiro olhar sobre a tabela 2, podemos desde logo adiantar que a taxa de abandono escolar apresenta uma evolução irregular ao longo dos últimos anos, marcada essencialmente por avanços e recuos. No entanto e após uma observação mais cuidada, verifica-se que durante os primeiros quatro anos analisados houve um decréscimo de cerca de 10 pontos percentuais, passando-se de 50,0 em 1992 para 40,1 em 1996, o que poderia indicar que as políticas educativas levadas a cabo para combater este problema estavam no caminho correcto, no entanto e durante os dois anos seguintes, verificou-se um aumento da taxa de abandono escolar, atingindo em 1998 os 46,6, tendência que se veio a alterar em 1999 e 2000, em que a taxa de abandono escolar voltou a cair, contudo esta descida viria a ser contrariada logo em 2001, registando-se um novo aumento, aumento este que viria ser seguindo em 2002, ano em que se atingiram os 45 pontos percentuais. A partir deste ano, podemos dizer que a evolução da taxa de abandono escolar precoce se apresenta mais regular, verificando-se uma tendência predominantemente de descida, excepção feita em 2006, que que se registou um aumento de 0,3 pontos relativamente a 2005. De realçar que em 2010 foi registada a taxa mais baixa de abandono escolar (28,7), o que pode ser um bom indício para os

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anos que se avizinham. De salientar ainda que em todos os anos analisados o género masculino apresentou sempre taxas superiores de abandono escolar relativamente ao género feminino.

Embora a tendência dos últimos anos seja para diminuir, certo é que Portugal continua a ter a taxa mais elevada de abandono escolar de toda a União Europeia (UE). E continua a ter a menor proporção de estudantes que concluem o ensino secundário, uma fragilidade que tenderá a pesar negativamente na actual crise económica (Arriaga e Cunha, s.d.).

Na tentativa de melhor compreendermos a realidade portuguesa, relativamente à problemática em estudo, eis que se apresenta a tabela 3, onde podemos observar a evolução da taxa real de escolarização nos últimos vinte anos, tendo em consideração os diferentes ciclos de ensino.

Tabela 3. Taxa real de escolarização.

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De uma primeira análise da tabela 3, verificamos com agrado que a taxa de escolarização no 1º ciclo, e ao longo dos últimos 20 anos manteve-se sempre nos 100%, o que nos indica que todas as crianças nesta fase possuem a instrução primária. Considerando agora o ensino pré-escolar, podemos verificar que a taxa de escolarização nesta fase registou um constante aumento ao longo dos tempos, excepção feita em 1995, ano em que foi registada um descida de 0,4 pontos percentuais e em 2007, ano em esta taxa se manteve inalterada, relativamente ao ano anterior, de realçar que estes aumentos verificados ao longo dos tempos, permitiram aumentar a taxa real de escolarização neste ciclo para o dobro em 2010, relativamente a 1990. Analisando agora a evolução da taxa real de escolarização no que respeita ao 2º ciclo, é possível desde logo verificar que, é neste ciclo de estudos que esta taxa apresenta um comportamento mais irregular, assim importa desde já realçar o ano de 1998, onde foi registada a primeira descida verificada neste ciclo, durante os anos em análise passando-se de uma taxa de 89,1 para 87,3. Contudo o pior ainda estava para vir, pois em 2000 iniciou-se uma queda da taxa de escolarização, que só viria a parar em 2003, embora neste ano e no seguinte fosse possível voltar aumentar a taxa de escolarização, em 2005 esta voltou a cair, atingindo em 2006 o valor mais baixo dos últimos 15 anos, apesar desta grave descida, nos anos seguintes verificou-se uma evolução bastante positiva, chegando a atingir em 2009 os 94,9%, valor que iria diminuir 1,1 ponto no ano seguinte. Olhando agora para a evolução da taxa de escolarização no 3º ciclo, salienta-se o facto de esta manifestar um constante aumento desde 1990 até 2001, no entanto no período de tempo entre 2002 e 2004, esta manifestou uma descida, tendo atingido em 2004 os 82,0%, valor que a colocaria ao nível de 1996, o que se traduz num retrocesso na evolução. No entanto em 2005 voltou a registar-se novo aumento, aumento esse que só viria a ser interrompido em 2008, quando foi registada uma ligeira descida (0,3%), no entanto os seus valores continuaram a aumentar, atingindo em 2010 o pico da sua evolução (89,5%). Por último passamos a analisar a evolução da taxa de escolarização no ensino secundário e desde logo podemos constatar que é neste ciclo de ensino que esta revela os valores mais baixos e em todos os anos comparativamente aos restantes ciclos. Passando então a uma análise mais cuidada, podemos verificar que durante os primeiros sete anos estudados a taxa de escolarização neste ciclo manifestou um crescimento constante ao longo dos tempos, no entanto este comportamento viria a ser alterado em 1998,

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ano em que foi registada uma descida de 0,3%, comparativamente ao ano anterior, mas não iriamos ficar por aqui pois no ano seguinte esta tendência manteve-se, embora o ano 2000 aparece-se como possível marco de virgem, certo é que este aumento apenas se aguentou por mais um ano, sendo em 2002 registada nova descida. Surgiu então o período menos positivo alguma vez verificado, pois até 2006 a tendência foi de descida, tendo apenas sido contrariada em 2005 onde foi registado um aumento de 1,8 pontos percentuais, sendo no ano seguinte registada a sua maior queda 5,6%, a partir de então a taxa de escolarização não mais parou de aumentar, tendo em 2010 registado o valor mais alto dos últimos 20 anos, 71,4%.

Para que possamos compreender melhor o desempenho académico dos nossos alunos, relativamente aos três ciclos de ensino e ao ensino secundário, apresenta-se o gráfico 1, onde é possível observar o comportamento da taxa de transição/conclusão, por nível de ensino em Portugal.

Gráfico 1. Taxa de transição/conclusão, por nível de ensino, em Portugal (1999/00 – 2008/09).

Fontes: GEPE. Disponível em (http://w3.gepe.min-edu.pt/EstatisticasAnuais/); http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=520&fileName=GEPE_Setembro.pdf. Acesso em 13-02-2011.

Passando então a analisar as taxas de transição/conclusão, por nível de ensino/ciclo, podemos verificar que estas têm vindo a aumentar, no entanto se analisarmos cada um dos ciclos de forma isolada, podemos perceber que o 1º ciclo tem vindo a registar um aumento gradual, ao longo dos diferentes anos lectivos, quanto ao 2º ciclo, este apresentou uma descida em 2001/2002, no entanto não mais parou de aumentar até 2008/2009, já relativamente ao 3º ciclo, este apresentou um comportamento irregular até ao ano lectivo 2004/2005, contudo a partir deste tem registado ligeiros aumentos, por último e relativamente ao ensino secundário, é

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possível verificar que é neste que se verificam os valores mais baixos de conclusão do ciclo, contudo realça-se o facto deste apenas apresentar um descida de 1999/2000 para 2000/2001, pois a partir deste último não mais parou de aumentar, atingindo em 2008/2009 a casa dos 80%.

Na mesma linha de pensamento e na tentativa de perceber o quanto os nossos alunos ficam retidos, bem como se essa retenção está intimamente relacionada ou não com a natureza do estabelecimento de ensino que frequentam ou ainda se existe um ano em que os alunos tendencialmente reprovam, eis que surge o gráfico dois, em que são apresentadas as taxas de retenção e desistência no ensino básico, tendo em conta o ano de escolaridade e a natureza do estabelecimento de ensino.

Gráfico 2. Taxa de retenção e desistência no ensino básico, por ano de escolaridade e natureza do

estabelecimento, em Portugal (2008/09).

Fonte: GEPE. Disponível em (http://w3.gepe.min-edu.pt/EstatisticasAnuais/); http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=520&fileName=GEPE_Setembro.pdf. Acesso em 13-02-2011.

De uma primeira análise do gráfico 2, é possível verificar que é no ensino público que se verificam as maiores taxas de retenção e desistência no ensino básico, seguindo muito de perto do ensino público-privado e um pouco distante destes situa-se o ensino privado, de realçar ainda que é no 3º ano que estas taxas são inferiores, para todos os estabelecimentos de ensino, por oposição é no 7º ano de escolaridade que as taxas de retenção e abandono atingem valores mais expressivos, chegando a atingir os 18% no ensino público.

Apesar das fracas qualificações da população portuguesa, encarada numa perspectiva histórica, a escolarização desta população aumentou significativamente com a generalização do ensino a todo o país e a todos os estratos sociais após o 25

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de Abril de 1974. Ao longo das décadas que nos separam desse acontecimento, tem-se observado uma paridade de escolarização entre sexos e um aumento da população estudantil no ensino secundário e no ensino superior (Machado e Costa, 1998).

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CAPITULO III

CAUSAS E PRINCIPAIS TEORIAS

EXPLICATIVAS DO INSUCESSO

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3. CAUSAS E PRINCIPAIS TEORIAS EXPLICATIVAS

DO INSUCESSO ESCOLAR

3.1. CAUSAS E FACTORES DO INSUCESSO ESCOLAR

As causas do insucesso escolar variam de acordo com a evolução do sistema de ensino e com as diferentes posturas teóricas que têm estudado esta problemática (Parchão e Martins, s.d.).

Para Benavente (1990), os professores associam principalmente como causas do insucesso escolar causas de ordem individual dos alunos e de ordem sociofamiliar, surgindo num segundo plano as causas associadas à escola. Ou seja, os professores sentem que a sua prática pedagógica é exterior aos resultados escolares dos seus alunos, uma vez que as causas que associam à escola remetem para factores de organização e de funcionamento da instituição.

O insucesso escolar massivo existente iniciou-se com o ensino de massas e intensificou-se com a massificação do ensino, conforme já foi referido.

Desta forma passamos a apresentar possíveis factores que podem conduzir ao insucesso.

3.1.1. A FAMÍLIA E AS SUAS CONDIÇÕES SOCIOCULTURAIS

Todos os trabalhos empíricos realizados, em Portugal ou em outros países, apontam para a existência de uma correlação positiva entre origem social dos alunos e o seu (in)sucesso escolar verificando-se que são os grupos étnicos que maiores taxas de insucesso apresentam, seguindo-se por ordem decrescente das taxas de insucesso os filhos dos assalariados agrícolas, operários, agricultores com exploração, empregados dos serviços, patrões, quadros médios e por último os filhos dos quadros superiores e das profissões liberais e especialmente dos professores.

Assim, para Parchão e Martins (s.d.), as condições sócio-económicas estão relacionadas com:

Imagem

Tabela 1. Taxa de retenção e desistência nos ensinos básico e secundário, por nível de ensino, em Portugal e no Continente (1999/00 - 2008/09).
Tabela 2. Taxa de Abandono Escolar Precoce: Total e por Sexo.
Tabela 3. Taxa real de escolarização.
Gráfico 1. Taxa de transição/conclusão, por nível de ensino, em Portugal (1999/00 – 2008/09).
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Referências

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