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Violência obstétrica no Brasil: casos cada vez mais frequentes

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Academic year: 2021

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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL:

CASOS CADA VEZ MAIS FREQUENTES

R e s u m o

Muitas vezes a mulher é tratada com atos e submetida a procedimentos que afetam a sua integridade física, moral e que violam o seu processo reprodutivo, caracterizando a violência obstétrica. Este artigo tem como objetivo analisar os resultados de pesquisas, sobre as reflexões acerca da violência obstétrica, analisando a percepção das parturientes acerca da violência e as principais formas de violência obstétrica sofrida pelas mulheres brasileiras. Trata-se de uma revisão de literatura com abordagem qualitativa, desenvolvida através das bases de dados encontradas à BVS, LILACS, SciELO e BDENF. Foram encontrados 15 artigos. Conclui-se que a discussão sobre a violência obstétrica ainda é pouco presente na sociedade, porém esse tipo de violência vem se tornando cada vez mais comum, mas ainda se esconde no interior das instituições públicas e privadas da saúde.

Descritores: Violência contra a mulher, Obstetrícia, Direitos da Mulher.

A b s t r a c t

Obstetric violence in Brazil: increasingly frequent cases

Often women are subjected to procedures and acts that affect their physical and moral integrity, violating their reproductive process, characterizing obstetric violence. This article aims to analyze research results, about reflections on obstetric violence, analyzing the perception of pregnant women about violence and the main forms of obstetric violence suffered by Brazilian women. This is to a literature review with a qualitative approach, developed through database found BVS, LILACS, SciELO and BDENF. There were 15 articles. It is concluded that the discussion on obstetric violence is still not present in society, yet this kind of violence has become increasingly common, yet still hiding within public and private institutions.

Descriptors: Violence Against Women, Obstetrics, Women Rights.

R e s u m e n

Violencia obstétrica en Brasil: casos más frecuentes

Muchas veces la mujer es tratada con actos y sometida a procedimientos que afectan su integridad física, moral y que violan su proceso reproductivo, que caracterizan la violencia obstétrica. Este artículo tiene como meta analizar los resultados de la investigación acerca de las reflexiones de la violencia obstétrica, planteando la percepción de las mujeres embarazadas acerca de la violencia y de las principales formas de violencia obstétrica que padecen las mujeres brasileñas. Es una revisión de la literatura con abordaje cualitativa, desarrollado a través de las bases de datos BVS, LILACS, SciELO y BDENF. Se ha encontrado 15 artículos. Se concluye que la discusión acerca de la violencia obstétrica aún es poco presente en la sociedad, sin embargo, ese tipo de violencia se ha tornado cada vez más común, pero todavía se oculta adentro de las instituciones publicas y privadas de la salud.

Descriptores: Violencia Contra la Mujer, Obstetricia, Derechos de la Mujer.

Vanessa Kelly Cardoso Estumano

Acadêmica do 5º semestre de enfermagem da Universidade da Amazônia. Email: xvanessacardoso@hotmail.com

Letícia Gabrielli da Silveira de Melo

Acadêmica do 5º semestre de enfermagem da Universidade da Amazônia. Email: leticiagmelo@live.com

Priscila Bentes Rodrigues

Acadêmica do 5º semestre de enfermagem da Universidade da Amazônia. Email: prirogriguees23@gmail.com

Antônio Cláudio do Rêgo Coelho

Mestre em Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e Especialista em Obstetrícia. Email: claudioenfbio@gmail.com

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

I n t r o d u ç ã o

O parto é caracterizado como uma situação transformadora na vida da mulher, encoberto de significados construídos a partir da singularidade e cultura da parturiente. Esse processo nem sempre foi um procedimento médico, nos primeiros tempos, os nascimentos aconteciam no domicílio da mulher, no qual geralmente eram acompanhados por uma parteira de sua confiança. Sendo assim, a mulher expressava livremente seus sentimentos e anseios em um ambiente

afetuoso do seio familiar1.

Porém, no decorrer da história, e com o avanço da medicina, o cuidado prestado à mulher durante o processo do parto sofreu diversas modificações, tornando o mesmo num evento

hospitalocêntrico e envolvido por intensa

medicalização1.

Desde então, a literatura vem mostrando que várias situações passaram a ocorrer com a mulher no momento do parto, no qual a mesma muitas vezes não tem atenção às suas necessidades, sendo tratada com atos que afetam a sua integridade física e moral, caracterizada muitas vezes como violência obstétrica.

“Várias são as práticas hospitalares que atentam contra a dignidade, a integridade e liberdade da mulher, caracterizando a violência

obstétrica”2, caracterizada pela descrição e

agrupamento de vários tipos de violência e danos durante o cuidado obstétrico profissional, como negligência, maus tratos físicos, psicológicos e

verbais3.

Além disso, a violência obstétrica é definida como a apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, através do tratamento desumanizado, provocando a perda da autonomia e capacidade de decidir sobre seu corpo e sexualidade, causando um impacto negativo na qualidade de

vida das mulheres4.

Sabe-se que o parto e o nascimento são muitas vezes fenômenos significativos na vida de uma mulher. Porém, eles podem ser memorizados como uma experiência traumática, no qual a mulher se sente agredida, desrespeitada e violentada pelos profissionais que deveriam lhe prestar assistência.

“Praticar o desrespeito e abuso durante o pré-natal e parto são violações dos direitos

humanos básicos das mulheres”5. Diante dessa

afirmação, fica claro que toda mulher tem o direito legal de autonomia, devendo ser tratada com respeito e dignidade. Neste contexto, profissionais obstétricos devem prestar um cuidado holístico durante toda a assistência ao ciclo gravídico-puerperal.

Mediante a vivência como acadêmicas de enfermagem, através da prática da disciplina Saúde da Mulher, nos foi permitido prestar assistência à mulher no momento do parto e, através de um olhar crítico desenvolvido durante a prática, e por isso foi possível observar algumas condutas por parte dos profissionais obstétricos

que restringiam os direitos da mulher,

caracterizando a violência obstétrica. A partir de então foi possível a construção de diversas

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

percepções sobre a qualidade assistencial e a questão dos direitos da mulher enquanto parturiente, surgindo a motivação para a realização desse estudo.

O b j e t i v o

Analisar os resultados de pesquisas, sobre as

reflexões acerca da violência obstétrica,

enfatizando a percepção das parturientes acerca da violência e as principais formas de violência obstétrica sofrida pelas mulheres brasileiras.

M a t e r i a l e M é t o d o

O presente artigo trata-se de uma revisão da literatura de caráter qualitativo, no qual foi elaborado com o intuito de recolher informações sobre a violência obstétrica sofrida pelas mulheres, enfatizando os diversos aspectos envolvidos nesse processo. O método utilizado para a coleta de dados foi o levantamento bibliográfico através da busca eletrônica de artigos indexados em bases de dados, como a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), LILACS, SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e BDENF (Base de dados em Enfermagem). Para selecionar as publicações, foram considerados como critérios de inclusão: estudos científicos publicados em português; no período de 2009 a 2015, disponível

na íntegra para leitura e disponíveis

eletronicamente. E os critérios de exclusão utilizados foram: documentos e informativos governamentais e outros documentos que, embora discorressem sobre o tema, não apresentavam o formato (introdução, método,

publicados anteriormente a 2009, assim como os que não contemplaram os critérios de inclusão. A coleta de dados ocorreu de fevereiro a maio de 2016. Foram selecionadas as seguintes temáticas: violência obstétrica, violência contra a mulher, violência no pré-parto e durante o parto e violência institucional obstétrica.

R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o

Para a construção desta pesquisa foram selecionados quinze artigos de autoria de pesquisadores brasileiros sobre o tema em questão.

Após a leitura na íntegra das publicações

incluídas nesta revisão foi realizado o

agrupamento em três temáticas: violência Obstétrica no parto: um breve olhar; percepção das mulheres a respeito da violência obstétrica, e as formas de violência obstétrica, no qual foram descritas em síntese, conforme o Quadro 1.

Foram utilizados três artigos para a discussão da temática violência Obstétrica no parto: um breve olhar, seis sobre a percepção das parturientes acerca da violência obstétrica, e cinco envolvendo as formas da violência obstétrica.

Após o levantamento das publicações, as informações foram organizadas e analisadas entre si, proporcionando conhecer nitidamente a produção científica sobre a violência obstétrica.

Violência Obstétrica: um breve olhar

Com o passar do processo histórico as mulheres foram perdendo o controle sobre o

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efeitos fisiológicos na responsabilidade dos médicos, no qual passaram a possuir todo o poder sobre o nascimento, negligenciando informações, emoções, sentimentos, percepções e direitos da mulher no momento do parto, ocasionando a

violência obstétrica6.

Verifica-se que a mulher vem sendo vítima dos serviços de saúde diante da assistência voltada ao período perinatal. Sendo assim, a violência obstétrica caracteriza-se de diversas formas pela submissão da mulher diante das imposições dos profissionais de saúde.

A violência obstétrica é definida como qualquer ato ou intervenção direcionada à parturiente ou ao seu bebê, praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher e/ou desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e

preferências7.

A violência obstétrica tem sido recorrente nas práticas da atenção destinada à mulher no parto e envolve questões sociais como de gênero, de raça, de classe e institucional. Essa violência caracteriza-se pela apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos

profissionais de saúde, impactando

negativamente na qualidade de vida das

mulheres8.

O momento do parto deveria ser algo em que prevalecesse a autorização da mulher sobre os procedimentos realizados e sua autonomia sobre seu corpo, buscando um parto humanizado e sem interferências desnecessárias. Porém, a partir dos artigos estudados, foi possível observar que o

momento do parto está constantemente

associado a ações de violência obstétrica contra as mulheres; frequentemente seus direitos humanos e reprodutivos são violados, provocando a perda de sua liberdade.

Além disso, foi evidenciado a condição da mulher gestante na sociedade, brasileira, na qual se tem observado que as parturientes têm os seus direitos infringidos no pré-parto, na hora do parto e pós-parto, muitas vezes por desconhecerem os seus direitos, e quando conhecem, tem tido dificuldades para que os mesmos sejam

garantidos. Evidenciou-se também diversas

intervenções que atingem à integridade física e psicológica das mulheres nos hospitais das redes públicas e privadas de saúde em que são atendidas, bem como o desrespeito a sua autonomia, os quais constituem a violência obstétrica. Diante disso, além das implicações para a saúde da mulher, a violência obstétrica também configura um grave desrespeito aos

direitos humanos6,7,8.

Verificou-se que a maioria das mulheres desconhecem e não têm garantido o direito de sua escolha no decorrer de todo este processo, ficando vulnerável às intervenções profissionais, trazendo prejuízos no processo de chegada de um filho.

Percepção das parturientes diante da violência obstétrica

A violência praticada em mulheres no período gestacional tem início muito antes da parturição. Desta forma, essas mulheres, apresentam seus direitos negligenciados pelos serviços de saúde, e

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

não possuem conhecimento de que estão sofrendo um tipo de violência obstétrica. A banalização a todas as formas de violência vivenciadas pelas mulheres durante o momento do parto faz com que estas se tornem reféns do medo de morrer ou de perder o bebê, por esta razão sentem-se coagidas e permanecem em silêncio. Desta forma, não denunciam ou não reclamam porque tem medo, desistindo frente as ameaças ou violências concretas ou mesmo por não terem conhecimento sobre os seus direitos e

sobre as formas de violência obstétrica9.

Foi possível verificar que na realidade do cotidiano, ainda é possível se deparar com profissionais de saúde que exigem da gestante um comportamento passivo na aceitação de todos os procedimentos realizados por eles. Logo, muitas vezes as práticas de violência obstétrica não são identificadas, e quando são identificadas, a mulher se torna oculta e silenciosa frente a uma violência sofrida, seja por vergonha de tornar sua história pública ou mesmo por ameaça dos

próprios profissionais10.

A violência obstétrica acontece em um momento de vulnerabilidade da mulher, uma vez que a gestante é vítima de tal violência e não tem conhecimento da mesma, pois associa a violência obstétrica a uma agressão como qualquer outra e

entende que os profissionais estão

desempenhando seu papel da forma correta, sendo assim, existem poucas denúncias em

relação a este tipo de violência11.

A naturalização das práticas violentas executadas nos corpos das parturientes dentro dos serviços de saúde, pode estar relacionada, na maioria das vezes, à concordância das mulheres na realização destas, principalmente por falta de conhecimento. Os resultados apontam que o desconhecimento da mulher acerca de seus direitos pode contribuir para a não percepção de

condutas que se configuram em violência12.

Além disso, muitas mulheres não se queixam das práticas realizadas na parturição, por medo de serem hostilizadas e violentadas nos serviços de saúde, além disso, se calam por receio de serem

tituladas ou tratadas como “escandalosas”13.

Ainda é difícil para algumas mulheres a percepção de uma violência obstétrica sofrida. Tal dificuldade é dada por comportamentos e práticas comuns na hora parto, compreendidos como rotineiras e comuns, afinal, no mesmo momento em que a violência ocorre, as mulheres estão vivenciando marcantes emoções. Sendo assim, a violência obstétrica passa a ser uma violência naturalizada, institucionalizada e que pode deixar marcas físicas e psíquicas por toda a vida.

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

Quadro 1: Síntese dos artigos selecionados na revisão da literatura sobre as formas de violência

obstétrica.

AUTOR

FORMAS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Santos, Souza, (2015)

Atitude grosseira dos profissionais, desatenção, negligência e maus tratos com as usuárias, momentos de abandono no leito, proibição da entrada de acompanhantes, procedimentos invasivos desnecessários.

Nazário, Ham-marstron.

(2014)

Amarrar a parturiente na maca e não permitir que ela se movimente, utilizar meios farmacológicos sem autorização, induzir o parto, não deixar que a mulher grite ou converse, obrigar a mulher a ficar na posição de supino, quando o parto normal, ter que ficar horas na sala de recuperação longe de seu filho.

Silva, et al. (2014)

Procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, como as episiotomias desnecessárias, imobilização física em posições dolorosas, discriminação quanto à etnia da parturiente, exame físico sem privacidade, uso de hormônios sintéticos de forma rotineira e sem critérios para acelerar o parto, expondo a dores e riscos desnecessários.

Pulhez, (2013)

Intervenções médicas desnecessárias, além da própria cesárea, tricotomia, enema, o uso do fórcipe, restrições hídrica e alimentar, exames de toque frequentes, rompimento artificial da bolsa, proibição da escolha da paciente pela melhor posição para o parto.

Guimarães, (2014)

Utilização de ocitocina de forma indiscriminada, utilização da manobra de Kristeller, condução para mesa de parto antes da dilatação completa, desrespeito à autonomia da mulher, ameaças, repressões, imposição da equipe à mulher e até mesmo a realização de procedimentos sem informação, esclarecimento às mesmas e autorização pela paciente, falta de respeito aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

Formas de Violência Obstétrica

“A violência obstétrica é frequente no Brasil, sendo praticada por médicos e profissionais da

enfermagem, em especial, na forma de

negligência, violência verbal e violência física”17.

Muitas mulheres vêm sendo maltratadas, sofrendo desrespeito e abusos no momento do parto. A violência obstétrica, além de denominar ato violento praticado contra mulher, é também violação dos direitos humanos. Logo, as mulheres,

como sujeitas de direitos, merecem ser

amparadas, protegidas, e informadas sobre o que é melhor para ser realizado no momento do parto, devendo ser tratada com segurança, respeito e

dignidade, longe de sofrer qualquer forma de

abuso e desrespeito15.

Para o direcionamento dos cuidados

obstétricos é necessário o reconhecimento de que toda mulher tem o direito legal de receber tratamento livre de danos e maus tratos, obter informação, consentimento esclarecido com possibilidade de recusa e garantia de respeito às preferências, incluindo acompanhante durante toda a internação na unidade obstétrica, privacidade e sigilo, ser tratada com dignidade e respeito, receber tratamento igual, livre de

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

Existem várias práticas como as já citadas que são utilizadas rotineiramente pelos profissionais de saúde, apesar de serem amplamente divulgadas como prejudiciais ou ineficazes. Sendo assim, essas práticas quando adotadas ou utilizadas de modo inadequado, influenciam de forma negativa o momento do parto, associando-se diretamente a violência obstétrica, além disso, prejudicam o seguimento fisiológico e tornam a

parturiente mais suscetível a complicações17.

Algumas formas de violência obstétrica parecem ser evidentes, como as agressões verbais realizadas por médicos e/ou enfermeiros. Porém, outros procedimentos ditos de rotina não são tão facilmente reconhecidos como atos violentos, haja vista as cesarianas e as intervenções médicas; práticas cada vez menos aceita por um conjunto de mulheres, mas ainda não vistas como atos violentos e menos ainda são entendidas como eventos que podem ser traumáticos.

Para o meio científico muitas dessas condutas já foram proibidas, como é o caso da aplicação de dilatação manual do colo do útero, que ainda é utilizado equivocadamente para acelerar o trabalho de parto. Além disso, toques vaginais repetitivos, a utilização de ocitocina de forma indiscriminada, episiotomias de rotinas, e manobras de Kristeller apareceram entre as principais queixas de mulheres no momento do parto. Vale destacar que os próprios profissionais de saúde reconhecem que alguns procedimentos, como a manobra de Kristeller, é proibida, porém, continuam a realizá-la, apesar de jamais a

registrarem em prontuários14.

Pode-se notar que a violência obstétrica pode ocorrer de diversas formas durante o pré-parto e no momento do parto, desde a realização de procedimentos desnecessários até as formas de comunicações desrespeitosas dos profissionais

expressadas por palavras ofensivas e

humilhantes.

Toda mulher tem direito a uma vida sem violência e livre de discriminação. Não basta que a mulher e o bebê sobrevivam ao parto, é necessária garantia de um atendimento digno, respeitoso, humanizado e com práticas que sejam permitidas e necessárias, sendo o mínimo que profissional deve realizar.

C o n c l u s ã o

A discussão sobre a Violência Obstétrica ainda é pouco presente na sociedade. É evidente que a realidade social das gestantes tende a camuflá-la, sendo assim, a falta de conhecimento facilita o risco e a vulnerabilidade sofrida por essas mulheres no pré-parto e no momento do parto.

De acordo com os estudos realizados, ficou claro que existem diversos procedimentos inadequados que são realizadas nas gestantes e muitas não sabem que podem considerá-los como uma violência obstétrica. Diversas condutas

precisam estar muito bem provadas

cientificamente para serem apresentadas como opção de tratamento. Sabe-se que algumas condutas são proibidas e outras só devem ser realizadas se realmente forem necessárias,

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precisando todas serem autorizadas pelas mulheres antes de serem feitas.

A violência obstétrica tem se tornado cada vez mais comum, porém, ainda se esconde no interior das instituições públicas e privadas da saúde. Muitas vezes, por serem tão comuns e frequentes, não são vistas como violência, mas sim como uma rotina dos profissionais. Mesmo entre as mulheres que já sofreram algum tipo de violência obstétrica, algumas ainda não a veem como um problema e, sim, como um ato “natural”, como um processo inevitável no momento do parto.

É preciso enfatizar que toda mulher tem direito a um atendimento digno, respeitoso e de qualidade durante o período de gestação. Discutir sobre o assunto pode ajudar as mulheres a terem mais conhecimento, é necessário que as mesmas sejam sempre bem informadas quanto aos riscos, procedimentos e opções para que, assim, possa evitar sofrer qualquer violência obstétrica, e caso venha a sofrer, que ela possa denunciar tal violência.

Acredita-se que é de fundamental

importância que o momento do pré-parto e parto seja um momento de confiança e segurança entre profissional e paciente. É necessário incentivar e permitir a autonomia da mulher no momento do seu parto, garantindo-lhe a liberdade de escolha do método que seja mais adequado a sua condição clínica, podendo o profissional interferir somente nas questões que forem realmente necessárias.

R e f e r ê n c i a s

1. Matos GC. A trajetória histórica das políticas de atenção ao parto no Brasil: uma revisão integrativa. Recife: Rev Enferm UEPE online. 2013; 7(esp):870-8.

2. Tesser CD, Knobel R, Andrezzo FA, Diniz, SG. Violência obstétrica e prevenção quaternária: o que é e o que fazer. Rio de Janeiro: Rev Bras Med Fam e Comunidade. 2015; 10(35):1-12.

3. Cunha CCA. Violência Obstétrica: uma análise sob o prisma dos direitos fundamentais (TCC). Brasília: Universidade de Brasília. 2015.

4. Miranda JZ. Violência Obstétrica: uma

contribuição para o debate acerca do

empoderamento feminino. Rio de Janeiro.

Disponível em:

<https://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/20

15/xiisemanadamulher11189/violencia-obstetrica_juliana-miranda.pdf>. Acesso em 20 mar 2016.

5. Silva MG. Violência Obstétrica na visão de enfermeiras obstétricas. São Paulo: Rev Rene. 2014; 15(4):720-8.

6. Queiroga JS, Silva RV. A violência obstétrica no parto: uma realidade brasileira. João Pessoa.

2014. Disponível em:

<http://www.seminario2015.ccsa.ufrn.br/assets// upload/papers/63a4a80ad776e805d29c2baa1c10 ccc2.pdf>. Acesso em 18 abr 2016.

7. Botti ML. Violência institucional e a assistência às mulheres no parto. In: Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História: contribuições de enfermagem. 2010. Disponível em:

<http://sites.unicentro.br/wp/lhag/files/2013/10/ Maria-Luciana-Botti.pdf>. Acesso em 06 mai 2016. 8. Soares BP, Vasconcelos TC, Quaresma JS, Rodrigues, RLS, Alcântara, JPB, Costa, MQ. Violência Obstétrica e suas implicações. Montes Claros: Rev RENOME. 2014. Disponível em: <http://www.renome.unimontes.br/index.php/re nome/article/viewFile/47/47>. Acesso em 20 fev 2016.

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Violência obstétrica no brasil: casos cada vez mais frequentes São Paulo: Revista Recien. 2017; 7(19):83-91 Estumano VKC, Melo LGS, Rodrigues PB, Coelho ACR

9. Pérez BAG, Oliveira EV, Lago MS. Percepções de puérperas vítimas de violência institucional durante o trabalho de parto e parto. Rev Enferm Contemporânea. 2015; 4(1):66-77.

10. Garcia PLH, Nunes ACC, Silva AM, Araujo LM, Quaresma MLJ. A violência institucional contra a parturiente: uma concessão inconsciente e silenciosa. Congresso Brasileiro de Enfermagem. Rio de Janeiro: CBEn. 2015.

11. Andrade BP, Aggio CM. Violência obstétrica: a dor que cala. In: Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas: Violência contra a Mulher.

Londrina. 2014. Disponível em:

<http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/ GT3_Briena%20Padilha%20Andrade.pdf> Acesso em 20 mar 2016.

12. Fujita JALM, Shimo AKK. Violência na parturição: revisão integrativa. Campinas: Rev Varia Scientia - Ciênc Saúde. 2015; 1(2):167-179.

13. Aguiar JM, D`Oliveira AFL. Violência

Institucional em Maternidades sob a ótica das usuárias. Botucatu: Interface. 2010; 15(36). 14. Santos RCS, Souza NF. Violência institucional obstétrica no Brasil: revisão sistemática. Macapá: Estação Científica (UNIFAP). 2015; 5(1):57-68. 15. Nazário L, Hammarstron FFB. Os direitos da parturiente nos casos de violência obstétrica. In: XVII Seminário Internacional de Educação no MERCOSUL. Rio Grande do Sul. 2014.

16. Pulhez MM. A violência obstétrica e as disputas em torno dos direitos sexuais e reprodutivos. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos). Florianópolis. 2013.

17. Guimarães LBE; Violência institucional em maternidades públicas do Estado de Tocantins

(Dissertação). Goiás: Pontifica Universidade

Referências

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