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A importância da demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para a tomada de decisão

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Ciências Gerenciais Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008. A IMPORTÂNCIA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA ENQUANTO INSTRUMENTO GERENCIAL PARA A TOMADA DE DECISÃO. Carlos Eduardo Spadin Anhanguera Educacional. RESUMO. Carlos.spadin@yahoo.com.br. A Demonstração dos Fluxos de Caixa, com a edição da Lei nº. 11.638/2007, passou a figurar entre as demonstrações de publicação obrigatória por parte das sociedades anônimas, compondo, assim, o grupo de informações que são analisadas pelo mercado. Tal evidência, assumida pela demonstração, justifica uma reflexão, ainda que apenas indicativa, da sua importância enquanto instrumento de gestão, contribuindo no processo de tomada de decisão. Fazendo uso da revisão bibliográfica, este artigo aborda os conceitos tidos como fundamentais para a compreensão da demonstração, apresenta os métodos utilizados para sua elaboração, conhecidos como método direto e método indireto, tece algumas considerações acerca de sua importância para a gestão com base em sua capacidade informativa e finaliza ressalvando que as limitações dessa capacidade informativa podem ser superadas se a DFC for lida em conjunto com outras demonstrações, como a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. Palavras-chave: Demonstração dos fluxos de caixa, informação, método indireto, método direto.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE. The Statement of Cash Flows, with the Law 11.638/2007, passed to figure among the obligatory publications by the corporation, making this form the information group, analyzed by the market. Such evidence taken by the demonstration, justifies a reflection, even if only indicative, for it’s importance how a management instrument, contributing in a process for the decision.Using a biographical revision, this article shows fundamental concepts to understand the demonstration presenting in the methods utilized by the elaboration, know as: direct and indirect method showing its importance through informative capacity. At last, the article shows that the informative capacity limitations of the Statement of Cash Flows can be overcome if used together with other publications, as the Statement of Changes in Financial Position. Keywords: Statement of cash flows, information, direct and indirect method.. Artigo Original Recebido em: 29/05/2008 Avaliado em: 03/08/2008 Publicação: 22 de setembro de 2008 167.

(2) 168. Demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para tomada de decisão. 1.. INTRODUÇÃO A edição da Lei nº. 11.638 de 28 de dezembro de 2007 trouxe várias alterações à Lei nº. 6.404 de 1976, conhecida como a Lei das S/A. Dentre as alterações está a inclusão da obrigatoriedade de elaboração e publicação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (Artigo 1º da Lei nº. 11.638 que altera a redação do inciso IV do Artigo 176º da Lei nº. 6.404) para as sociedades anônimas e para as sociedades de capital fechado com patrimônio líquido superior a dois milhões de reais (parágrafo sexto do Artigo 176º da Lei nº. 6.404). Uma vez que, fundamentalmente, a publicação das demonstrações contábeis das sociedades anônimas tem por objetivo informar o mercado quanto à situação da empresa, é razoável supor que a inclusão da Demonstração dos Fluxos de Caixa como demonstração obrigatória ocorre porque essa demonstração se reveste de alguma importância informativa. E o que vem a ser a Demonstração dos Fluxos de Caixa? Qual sua metodologia de elaboração? Em que reside essa sua suposta importância? Estes são os propósitos do presente artigo. Inicialmente, o objetivo é conceituar a DFC (Demonstração dos Fluxos de Caixa) e discorrer sobre sua elaboração (método direto e método indireto). Em seguida, será realizada uma reflexão sobre a importância dessa demonstração para a adequada gestão empresarial, não só das Sociedades Anônimas como de qualquer empresa. É importante salientar que não existe a pretensão de esgotar um assunto tão vasto e estimulante no espaço desse sucinto artigo. A intenção aqui contida é apenas e tão somente a de refletir sobre os conceitos básicos e sobre a importância da DFC para a gestão, contribuindo para as reflexões acerca da Administração de Empresas e Contabilidade.. 2.. A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA: CONCEITO E TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO Por fluxo de caixa, pode-se compreender, conforme Gentil (2007) “[...] o movimento de todas as entradas e saídas de recursos financeiros do caixa, ou seja, das origens de caixa (fatores que aumentam o caixa da empresa) e das aplicações de caixa (reduzem o caixa da empresa) [...]”. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177.

(3) Carlos Eduardo Spadin. Já a Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC) pode ser definida, de acordo com Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 32) como uma peça contábil que “visa mostrar como ocorreram as movimentações de disponibilidades em um dado período de tempo”. Estes conceitos vão ao encontro daquilo que Sá e Sá (1983, p. 190) escrevem a respeito do assunto. Os autores definem Fluxo de Caixa – e, conseqüentemente, sua demonstração – da seguinte forma: Fluxo de Caixa – Fluxo da liquidez, ou seja, o curso que no tempo traça o confronto entre os recursos de recebimentos e os desembolsos por pagamentos. Forma dinâmica de conhecer o comportamento da liquidez ou capacidade de dispor de dinheiro para fazer frente às necessidades financeiras. Procedimento técnico de acompanhamento entre encaixes e desencaixes obtendose o valor líquido entre tais confrontos em períodos sucessivos [...]. Em outras palavras, a Demonstração dos Fluxos de Caixa é uma demonstração contábil cuja finalidade é evidenciar o impacto das atividades da empresa no comportamento do caixa. Significa dizer, ainda, que a DFC demonstra como o caixa se comportou em determinado período, em termos de entradas e saídas. Ao se falar em caixa, na DFC, é preciso levar em conta que o conceito empregado é mais amplo do que aquele utilizado cotidianamente, no decorrer da escrituração contábil. Sá e Sá (1983, p. 49) definem “Caixa”, como o “título da conta que serve para registrar o movimento de dinheiro na escrita contábil”. Este conceito está ligado diretamente à nomenclatura das contas para efeitos de elaboração do Plano de Contas. Para fins de Demonstração dos Fluxos de Caixa, o termo deve ser conceitualmente ampliado para contemplar também os investimentos definidos como equivalentes-caixa. Isto se dá, porque, de acordo com Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 399), “[...] faz parte da gestão básica de qualquer empresa a aplicação tempestiva das sobras de caixa em investimentos de curto prazo, para livrá-las das perdas a que estariam sujeitas se expostas em contas não remuneradas”. Por equivalentes-caixa, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p.399) os definem como sendo “[...] investimentos de altíssima liquidez, prontamente conversíveis em uma quantia conhecida de dinheiro e que apresentam risco insignificantes de alteração de valor”. Dessa forma, ao se elaborar a Demonstração do Fluxo de Caixa, deve-se tomar não só a movimentação da conta caixa, propriamente dita, como também a movimentação dos investimentos de altíssima liquidez e variação insignificante de valor, definidos como equivalentes-caixa.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177. 169.

(4) 170. Demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para tomada de decisão. A Demonstração dos Fluxos de Caixa é dividida em função da classificação das movimentações por atividade. São três as atividades estruturantes da DFC, a saber: a) Atividades Operacionais: “Envolvem todas as atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços e os eventos que não sejam definidos com atividades de investimento e financiamento.” (IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBECKE, 2003, p. 399); b) Atividades de Investimento: “Incluem a concessão e recebimento de empréstimos, a aquisição e venda de instrumentos financeiros e patrimoniais de outras entidades e a aquisição e alienação de imobilizado.” (IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBECKE, 2003, p. 400); c) Atividades de Financiamento: “Incluem a obtenção de recursos dos donos e o pagamento a estes de retornos sobre seus investimentos ou do próprio reembolso do investimento; incluem também a obtenção de empréstimos junto a credores e a amortização ou liquidação destes; e também a obtenção e pagamento de recursos de/a credores via créditos de longo prazo.” IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBECKE, 2003, p. 400). A divisão da DFC por tipos de atividade cumpre a função de qualificar a movimentação (fluxo) do caixa, identificando sua natureza (operacional, investimento ou financiamento). A exemplificação das entradas e saídas contidas em cada atividade será apresentada no item 3.. 3.. MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA A palavra método é definida por Fernandes, Luft e Guimarães (1993), como sendo o “processo racional para se chegar a determinado fim”. Dessa forma, pode-se dizer que existem dois processos racionais para se elaborar a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), conhecidos por método direto e método indireto. O foco desses métodos é o registro da movimentação de caixa das atividades operacionais, uma vez que este é o grupo de atividades que congregará maior volume de informações. Através do método direto são apresentadas as entradas e saídas de caixa das atividades operacionais pelo seu volume bruto. Basicamente começa-se pelos componentes da Demonstração do Resultado do Exercício e procede-se aos ajustes pelas variações das contas circulantes (Balanço Patrimonial) ligadas às operações (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2003, p. 403). A estrutura da DFC, pelo método direto é a seguinte: Demonstração de Fluxos de Caixa, ano X1 Atividades Operacionais. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177.

(5) Carlos Eduardo Spadin. Recebimentos (Entradas) Recebimentos de Clientes Recebimento de Juros Duplicatas Descontadas Pagamentos (Saídas) a fornecedores de impostos de salários de juros de despesas pagas antecipadamente Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades Operacionais (entrada (menos) saída). 1. Atividades de Investimento Recebimentos (Entradas) Recebimento pela venda de imobilizado Pagamentos (Saídas) Pagamento pela compra de imobilizado Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades de Investimento (entrada (menos) saída). 2. Atividade de Financiamento Recebimentos (Entradas) Aumento de Capital Empréstimos de curto prazo Pagamentos (Saídas) Distribuição de dividendos ou lucros Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades de Financiamento (entrada (menos) saída). Aumento líquido das disponibilidades. 3. 4 = (1 + 2 +3). Saldo de Caixa + Equivalente-Caixa em X0. 5. Saldo de Caixa + Equivalente-Caixa em X1. 6=4+5. O método indireto é também chamado de método da reconciliação. Isto se dá porque, “o método indireto faz a conciliação entre o lucro líquido e o caixa gerado pelas operações.” (IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBECKE, 2003, p. 402). Para que este método seja desenvolvido de forma eficaz, é necessário que sejam expurgados do lucro líquido aqueles valores que se referem às atividades de financiamento ou investimento e também aqueles valores que se referem ao deferimento de transações (foram caixa no. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177. 171.

(6) 172. Demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para tomada de decisão. passado) e eventos que podem se transformar em caixa no futuro. O objetivo desse expurgo é considerar como ponto de partida apenas o lucro líquido resultante das operações daquele período. Através do método indireto, a estrutura da Demonstração de Fluxos de Caixa fica assim: Demonstração de Fluxos de Caixa, ano X1 Atividades Operacionais Lucro Líquido Mais: depreciação Menos: lucro na venda de imobilizado Aumento em duplicatas a receber (considerada saída de caixa) Aumento em duplicatas descontadas (considerada entrada de caixa) Aumento em estoques (considerada saída de caixa) Aumento em fornecedores (considerada entrada de caixa) Redução em salários a pagar (considerada saída de caixa) Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades Operacionais (entrada (menos) saída). 1. Atividades de Investimento Recebimentos (Entradas) Recebimento pela venda de imobilizado Pagamentos (Saídas) Pagamento pela compra de imobilizado Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades de Investimento (entrada (menos) saída). 2. Atividade de Financiamento Recebimentos (Entradas) Aumento de Capital Empréstimos de curto prazo Pagamentos (Saídas) Distribuição de dividendos ou lucros Caixa líquido gerado/consumido nas Atividades de Financiamento (entrada (menos) saída). Aumento líquido das disponibilidades. 3. 4 = (1 + 2 +3). Saldo de Caixa + Equivalente-Caixa em X0. 5. Saldo de Caixa + Equivalente-Caixa em X1. 6=4+5. Note-se que no método indireto são assumidas as seguintes premissas:. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177.

(7) Carlos Eduardo Spadin. a) Aumentos no saldo ativo circulante e realizável a longo prazo: equivalem à saídas de caixa; b) Diminuição no saldo das contas do ativo circulante e realizável a longo prazo: equivalem à entradas de caixa; c) Diminuição no saldo das contas do passivo circulante e exigível a longo prazo: equivalem à saídas de caixa; d) Aumento no saldo das contas do passivo circulante e exigível a longo prazo: equivalem à entradas de caixa. Essas premissas se fundam na lógica do ciclo de caixa, que “nada mais é do que o tempo que leva o capital que saiu do caixa para voltar ao caixa” (GENTIL, 2008). Em outras palavras, levando-se em conta a idéia do ciclo operacional (movimento dos recursos até se transformarem em caixa), as variações nas contas ativas e passivas refletem-se nas variações de caixa (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2003, p. 404). É importante salientar que o FASB (Financial Accounting Standards Board, órgão que regulamenta as políticas e procedimentos contábeis nos Estados Unidos) e o IASB (International Accounting Standards Board, órgão independente, que emite as Normas Internacionais de Contabilidade) recomendam a adoção do método direto. Além disso, há algumas obrigatoriedades, a saber: •. Obrigatoriedade de evidenciação das variações das contas de Clientes, Fornecedores e Estoques, separadamente, além de apresentar, em Notas Explicativas, a conciliação do fluxo líquido de caixa com o lucro líquido do período, caso seja utilizado o método direto caixa (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2003, p. 402);. •. Obrigatoriedade de evidenciação em Notas Explicativas dos juros e Imposto de Renda pagos durante o período, caso seja utilizado o método indireto caixa (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2003, p. 402).. Cumpre salientar que a palavra “evidenciação”, não consta nos dicionários, porém é utilizada na literatura contábil com o sentido de divulgação ou abertura de informações (TAVARES, p. 1).. 4.. UTILIDADE E IMPORTÂNCIA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO A Demonstração de Fluxos de Caixa é útil em vários aspectos e para vários usuários das demonstrações contábeis. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 398), salientam que: As informações da DFC, principalmente quando analisadas em conjunto com as demais demonstrações financeiras, podem permitir que investidores, credores e outros usuários avaliem:. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177. 173.

(8) 174. Demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para tomada de decisão. a). A capacidade de a empresa gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa;. b). A capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar empréstimos obtidos;. c). A liquidez, solvência e flexibilidade financeira da empresa;. d). A taxa de conversão de lucros em caixa;. e). A performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos;. f). O grau de precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa;. g). Os efeitos, sobre a posição financeira da empresa, das transações de investimentos e de financiamento, etc.. Em síntese, isto quer dizer que a DFC é capaz de fornecer informações que, lidas em conjunto com as demais demonstrações contábeis, indicam como a empresa está se comportando em relação às suas operações. Gentil (2008) afirma que “O fluxo de caixa é o termômetro do cotidiano da empresa, isto é, como a empresa está se comportando quanto os pagamentos e os recebimentos das suas operações diárias”. Pode-se dizer, portanto, que o fluxo de caixa e a sua evidenciação formal – a Demonstração dos Fluxos de Caixa – constitui-se em uma importante ferramenta de gestão. Pode-se dizer também que, sendo uma importante ferramenta de gestão, esta o é não só para as sociedades anônimas como para qualquer organização. Não é sem razão que o CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2008, 15) afirma que: As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários das demonstrações contábeis requerem uma avaliação da capacidade que a entidade tem para gerar caixa e equivalentes de caixa, e da época e grau de certeza dessa geração. Em última análise, essa capacidade determina, por exemplo, se a entidade poderá pagar seus empregados e fornecedores, os juros e amortizações dos seus empréstimos e fazer distribuições de lucros aos seus acionistas.. Considerando que o CPC vem desenvolvendo um trabalho de adequação das normas contábeis brasileiras às normas internacionais (a chamada convergência) e que a importância atribuída às informações referentes à capacidade da empresa em gerar caixa e equivalentes de caixa consta do Pronunciamento Conceitual Básico, emitido em sintonia com as Normas Internacionais de Contabilidade, é razoável afirmar que a Demonstração dos Fluxos de Caixa reveste-se de importância e utilidade como ferramenta para análise e tomada de decisão reconhecidas internacionalmente. Ferreira (2003, p. 27) salienta que: [...] os gestores necessitam de informações que lhes dêem suporte em todas as etapas da gestão empresarial, seja no planejamento, na execução das atividades ou na avaliação do desempenho dos administradores e na análise do resultado.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177.

(9) Carlos Eduardo Spadin. Ou seja, para que o processo de tomada de decisão ocorra satisfatoriamente, é necessário que os gestores disponham de informações suficientes para conhecer o comportamento da empresa e, conseqüentemente, escolher as alternativas que maximizem o retorno do investimento (processo de decisão). A Demonstração do Fluxo de Caixa se afigura como instrumento válido para esse processo dado seu poder de informação. Ainda de acordo com Ferreira (2003, p. 30), [...] a relevância da DFC está em seu poder informacional, visto que permite às organizações, sejam elas industriais, comerciais ou de serviços, terem mais poder em sua capacidade de cumprir com suas obrigações financeiras, vez que propicia um melhor planejamento por parte da empresa em relação às disponibilidades de caixa, de forma que não ocorram excessos ou insuficiências de fundos. Uma demonstração capaz de fornecer informações com as quais a gestão tem condições de planejar suas ações com vistas a evitar excessos (perda de rendimentos em aplicações) ou insuficiências (incidência de juros por uso de capital de terceiros), tem sua importância e utilidade reconhecidas. Entretanto, e para uma adequada e contextualizada compreensão, há que se levar em conta as limitações da Demonstração dos Fluxos de Caixa e ressaltar a necessidade de complementações com outras demonstrações, notadamente a DOAR (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos) para a obtenção de informações completas e satisfatórias, com maior amplitude e profundidade. Iudícibus e Marion (2002, p. 224) refletindo exatamente sobre a substituição das exigências entre a DOAR e a DFC afirmam que: A DFC deve ser adotada visando atender ao interesse dos usuários pelo conhecimento do fluxo de caixa das empresas e por ser compreendida mais facilmente, principalmente pelos usuários menos afeitos à Contabilidade. Por outro lado, a DOAR não deve ser substituída, apesar de sua reconhecida complexidade, pois satisfaz àqueles usuários que podem usufruir da sua superioridade informativa ou mesmo pelo ganho proporcionado pela análise conjunta.. Em suma, nenhuma demonstração contábil, por mais útil que seja, por si só é capaz de prover o usuário de todas as informações importantes. Especificamente, a Demonstração dos Fluxos de Caixa terá sua qualidade informativa melhorada se lida em conjunto com a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. A abordagem dessa ampliação, entretanto, está fora dos objetivos desse artigo.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177. 175.

(10) 176. Demonstração dos fluxos de caixa enquanto instrumento gerencial para tomada de decisão. 5.. CONCLUSÃO O objetivo do presente artigo foi o de desenvolver uma reflexão acerca da importância da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) enquanto ferramenta gerencial para tomada de decisão. Para isso, abordou-se a DFC conceitualmente; •. Discorreu-se sobre suas principais formas de elaboração e. •. Foram apresentados alguns argumentos que apontam para sua importância no processo de gestão e tomada de decisão.. Em síntese, considerando o exposto anteriormente, é possível afirmar que a Demonstração dos Fluxos de Caixa, enquanto evidenciação formal e racionalmente organizada do comportamento do caixa e equivalentes de caixa em face das operações da empresa, apresenta-se como um importante instrumento de apoio ao processo de decisão, tendo-se em conta que os gestores necessitam de informações voltadas ao planejamento dos recursos financeiros a fim de se evitar excessos ou insuficiências. Forte indicador dessa afirmação é a alteração promovida pela Lei nº. 11.638/07, tornando a elaboração e publicação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) obrigatória para as sociedades anônimas e sociedades com patrimônio líquido superior a dois milhões de reais, atendendo antigas reivindicações do mercado (o Projeto de Lei nº. 3741 que deu origem à Lei nº. 11.638, data de 2000). Há que se salientar, no entanto, a existência de limitações e imperfeições presentes na Demonstração dos Fluxos de Caixa tal como é conhecida e elaborada. Apesar de não comprometerem sua importância enquanto instrumento gerencial, tais limitações e imperfeições devem ser levadas em consideração ao se realizar uma investigação mais aprofundada sobre a DFC. Tal investigação deverá refletir sobre a utilização da DFC em conjunto com a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, como catalizador da sua qualidade informativa.. REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento conceitual básico. www.cpc.org.br/pdf/pronunciamento_conceitual/pdf. Acesso em: 19 de maio de 2008. FERNANDES, Francisco; LUFT, Celso Pedro; GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário Brasileiro Globo. 33. ed. São Paulo: Globo, 1993. FERREIRA, Neide de Souza. A importância da gestão do fluxo de caixa no processo decisório das empresas. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2003. Disponível em: <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/E5D4B978975DD98A03256FAC00740E9E $File/NT000A45B6.pdf>. Acesso em: 21 maio 2008.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177.

(11) Carlos Eduardo Spadin. GENTIL, Eduardo Diener. Gestão do capital de giro. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/gestao_do_capital_de_giro/11357/>. Acesso em: 19 maio 2008. IUDÍCIBUS. Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das sociedades por ações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à Teoria da Contabilidade para o nível de graduação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SÁ, Antonio Lopes de; SÁ, Ana Maria Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1983. TAVARES, Rosana. A função financeira da empresa e evidenciação contábil dos instrumentos derivativos. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/Semead/8semead/resultado/trabalhosPDF/355.pdf>. Acesso em: 27 maio 2008. WIKIPÉDIA. IASB. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/IASB>. Acesso em: 20 maio 2008.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2008 • p. 167-177. 177.

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