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Música e sociedade de periferia: contextualizando a Comunidade Cidade da Esperança

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

LUCAS VINÍCIUS DINIZ DE MELO

MÚSICA E SOCIEDADE DE PERIFERIA: contextualizando a Comunidade Cidade da Esperança

NATAL/RN 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

LUCAS VINÍCIUS DINIZ DE MELO

MÚSICA E SOCIEDADE DE PERIFERIA: contextualizando a Comunidade Cidade da Esperança

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado em Música.

Orientador: Prof. Me1. Gleison Costa dos Santos.

NATAL/RN2 2019

1Mestre (Me).

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MÚSICA E SOCIEDADE DE PERIFERIA: contextualizando a Comunidade Cidade da Esperança

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado em Música.

Aprovada em __/__/____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________ PROF. Me. GLEISON COSTA DOS SANTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (ORIENTADOR)

_____________________________________________________________ PROF. Dr3. TIAGO DE QUADROS MAIA CARVALHO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

_____________________________________________________________ PROF. Me. ARTUR PESSOA PORPINO DIAS

COLÉGIO MARISTA DE NATAL (MEMBRO DA BANCA)

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Agradeço, primeiramente, ao meu Deus e ao meu santo, São Jorge, por fazerem de mim um guerreiro de fé, me mantendo em equilíbrio e em paz espiritual, me tornado assim, capaz de enfrentar quaisquer tribulações ou maus pensamentos que pudessem me absorver ou me enfraquecer, de alguma forma, sendo assim, sempre me senti protegido e iluminado por suas forças em forma de energia que me cerca.

A minha família, meus sinceros agradecimentos, através de vocês pude entender, da melhor forma, o real sentido das palavras amor e companheirismo, obrigado por nunca negarem amparo e apoio nas minhas decisões e por me tornarem o ser humano que sou hoje.

A meus pais e as minhas irmãs, minha vida só faz sentido por vocês. Obrigado por serem sempre meus melhores parceiros e incentivadores, me ensinarem, me protegerem e por todos os esforços para que nossa casa fosse sempre o melhor lugar para se estar nos melhores e piores momentos, por se apresentarem sempre como uma fortaleza de motivação.

A Comunidade Cidade da Esperança, lugar onde encontro poesia nas ruas, nas praças, bares e esquinas, onde vejo, no olhar de cada morador, um sinal de respeito e afeto, onde pude viver os melhores momentos de minha infância e adolescência, onde aprendi sobre as malícias da vida, onde encontro minha fonte de garra e perseverança, pois vejo, em cada sujeito, um personagem que, independente de todos os obstáculos que a vida lhe proporciona, sempre dorme e acorda acreditando que o amanhã será melhor.

Aos meus amigos que sempre acreditaram que eu poderia vencer e me incentivaram, das mais diversas formas, me tornando capaz de realizar um sonho que, não é somente meu, e sim de todo mundo que está na rua, na correria do dia a dia e acredita na voz da periferia.

Quero agradecer ao Samba e ao Hip Hop por traduzirem o real significado de Favela, Periferia e Comunidade em forma de música.

Por fim, agradeço a todos que me cercam com boas intenções e chegam na minha caminhada para agir como um elemento de soma. Neste sentido, agradeço ao meu orientador Gleison Costa, aos meus amigos Danillo Veloso e Charles Macêdo, a produtora NAV Studio e a minha família de sangue e da rua que sabem que estou concluindo este ciclo de Graduação para fazer com que a nossa realidade receba o valor merecido diante da sociedade.

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A forma como ocorre o processo de aproximação do cidadão de periferia e a música é um assunto delicado e faz-se necessário às pesquisas no meio acadêmico. Esta situação reflete, diretamente, no processo de ensino-aprendizagem que acontece neste contexto social, carecendo de uma maior atenção da nossa parte, educadores, para as particularidades e maneiras de como tornar o desenvolvimento educativo e social do aluno mais favorável e benéfico. Diante deste cenário, objetiva-se refletir sobre as dinâmicas formativas musicais em uma Comunidade de periferia. Como contexto da Pesquisa foi utilizado o bairro Cidade da Esperança, localizado em Natal/RN, onde aspectos musicais foram relatados através da realização de uma entrevista semiestruturada. Sendo assim, expõe-se o surgimento dos primeiros contatos com a música, a importância de espaços sociais para a realização de atividades não formais de educação e quais são as influências existentes no combate à criminalidade. O Trabalho trouxe dados relevantes no campo do ensino na periferia, sendo a música o objetivo principal, dando outra perspectiva ao assunto explorado, tais como: diferentes maneiras de desenvolver junto com o jovem além do conhecimento técnico musical, mas também que possam amadurecer o pensamento crítico social.

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The approximation process between the suburban citizen and music is a delicate subject and it is a needed topic in academic research. This situation reflects directly in the learning process which happens in this social context, being necessary that educators pay greater attention to its peculiarities and how to make education and social development more favorable and beneficial for students. The goal of this essay is to evaluate the formative musical dynamics in a suburban community. The social context was the neighborhood of Cidade da Esperança, at Natal/RN, where the musical aspects were narrated through a semi-structured interview. Therefore, this study presents how was their first contact with music, the importance of non formal educational activities in social spaces and its influence against criminality. In this way, this work brings relevant data about suburban education, being music the main objective, giving another perspective about this subject, such as new ways to develop, together with the teenagers, beyond the technical music ability, but also endorse its social-critical thinking.

Keywords: Music and suburban community. Non-formal education. Art and culture. Community.

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AM - Amplitude Modulation

CALMI - Centro de Atividades e Lazer de Melhor Idade CMEI - Centro Municipal de Educação Infantil

CNS - Conselho Nacional de Saúde CSU - Centro Social Urbano

DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito

DIPE - Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística Dr. - Doutor

FEBEM - Fundação Estadual Para o Bem-Estar do Menor IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Me - Mestre

MPB - Música Popular Brasileira

ONG - Organização Não Governamental PETROBRÁS - Petróleo Brasileiro S. A. RN - Rio Grande do Norte

SEEC - Secretaria de Estado da Educação e da Cultura SEL - Secretaria Municipal de Esporte e Lazer

SEMSUR - Secretaria Municipal de Serviços Urbanos SEMURB - Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SESED - Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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1 INTRODUÇÃO... 9

1.1 Metodologia... 12

2 MÚSICA E SOCIEDADE DE PERIFERIA: CONTEXTUALIZANDO A COMUNIDADE CIDADE DA ESPERANÇA... 14

3 ABORDAGEM SOCIOCULTURAL E EDUCAÇÃO MUSICAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA REFLEXÃO CRÍTICA A PARTIR DO ENSINO DE MÚSICA... 21

4 DINÂMICAS FORMATIVAS MUSICAIS E A ABORDAGEM SOCIOCULTURAL NA COMUNIDADE CIDADE DA ESPERANÇA... 25

4.1 Apresentações dos entrevistados... 25

4.2 Música e periferia: contextualizando a realidade... 27

4.3 Criminalidade: música como benefício... 29

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 31

REFERÊNCIAS... 33

APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA... 35

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)... 36

ANEXO B - DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA... 38

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1 INTRODUÇÃO

A busca pelo tema abordado é consequência de vivências e identificações históricas ocorridas até o momento da vida do autor deste Trabalho juntamente com a comunidade e seus habitantes. Quem vive em uma comunidade sabe da relação de respeito e reconhecimento que existe entre seus habitantes, fazendo-se assim viver de forma harmoniosa e coletiva.

O autor desta monografia passou toda a sua infância assistindo e vivendo estes contatos, de forma inocente, até poder ter a oportunidade de enxergar este tipo de relação de uma forma mais científica-acadêmica, porém, atravessou alguns ciclos para que este fato se tornasse realidade.

Na infância, vivenciou com seu pai noites boêmias e histórias que eram contadas, na maioria das vezes, na presença de seus amigos de longos anos o qual eles faziam questão de enaltecer tal vínculo de amizade e lealdade ao Bairro; com sua família, o autor deste Trabalho sempre teve o contato direto com o samba, Música Popular Brasileira (MPB) e rodas de conversa onde também se faziam presentes as partilhas de vivências de muito tempo e sempre como cenário a Comunidade Cidade da Esperança, ou seja, sempre presenciou situações em que as pessoas se identificavam aos seus semelhantes, coletivamente, em prol de favorecer ou enaltecer, de alguma forma, seu espaço.

O cotidiano no Bairro, cercado de malícias e malandragens, se tornava um parque de diversões quando o autor desta Pesquisa juntamente aos seus amigos se encontravam nas calçadas, nas ruas, quadras ou praças, amizades sinceras de infância que aconteciam de forma natural; na adolescência viveu aventuras, passando as mais diversas situações, amores, entre outras coisas, que aqui não cabem, e chegar à fase adulta que, por mais natural que seja, aconteceu as disparidades de ideologias, rumos e objetivos de vida particulares, sempre permaneceu o cuidado, respeito e felicidade no olhar ao reconhecer no outro seu semelhante e ser grato à sua Comunidade por este vínculo, esta amizade.

O processo de amadurecimento do cidadão no contexto social de periferia se dá através de vivências dentro das escolas e nas ruas.

Na infância e adolescência a vivência acontece dentro das escolas, os primeiros contatos com o olhar crítico sob as coisas que acontecem no cotidiano, possibilitando traçar um paralelo entre o que está sendo explicado dentro da sala de aula com a realidade cotidiana e, em conjunto

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a estes ensinamentos pedagógicos, amadurece-se as relações pessoais, fortalece-se e cria-se laços de amizade. Na vida do autor desta monografia, as situações também aconteceram desta forma, haja vista que, sempre se identificou com a música devido ao seu contato direto proporcionado por sua família. A partir dos 12 anos, o autor deste Trabalho começou a tocar o seu primeiro instrumento de harmonia, o cavaquinho, instrumento este que possibilitou, apesar da pouca idade, começar a fazer shows na noite da cidade com grupos de samba. Desta forma, o autor desta Pesquisa se envolveu com a música sendo a sua porta de saída para inúmeras outras situações que a rua ou o cotidiano de um jovem de periferia pode enfrentar.

A maneira pela qual o autor desta monografia aprendeu o instrumento surgiu sempre através da observação, intuição e leituras de cifras, caracterizado de educação informal que segundo Gohn (2006, p.31):

A educação informal tem como método básico a vivência e a reprodução do conhecido, a reprodução da experiência segundo os modos e as formas como foram apreendidas e codificadas. Na educação não-formal, as metodologias operadas no processo de aprendizagem parte da cultura dos indivíduos e dos grupos.

A possibilidade de estudar música dentro de uma Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sempre deixou o autor deste Trabalho com muito entusiasmo, porém, nunca conseguiu encaixar, dentro da sua realidade, um estudo mais técnico onde fizesse com que ele obtivesse êxito na prova de seleção. Contudo, a partir da oportunidade de realizar uma prova, através de um vídeo, executando uma peça de livre escolha e outra também de livre escolha, cantada e acompanhada de instrumento, o autor desta monografia conseguiu ingressar no curso de Licenciatura em Música, na UFRN, em 2015.1.

Dentro da UFRN, vivenciou e interagiu com o mais diversos grupos de pessoas com ideologias, características e costumes diferentes, possibilitando a interação com outras culturas que envolvem a sociedade, o que o fez refletir sobre as disparidades e semelhanças existentes entre as comunidades e seus contextos. Esta reflexão o levou a observar, de forma crítica, como acontece o percurso de um cidadão de periferia até chegar aquele momento onde, muitas vezes, se encontra em situações de interação artística com o mesmo objetivo de outras pessoas, mas com outras visões em consequência de vivências diferentes.

Tal compreensão justifica a argumentação de que esse campo abrange os diferentes espaços em que acontece as práticas musical, educacional, formal ou informal, intencional ou ocasional, e, por isso, as ações educativas permeiam todos os segmentos sociais. A partir dessa perspectiva o autor

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levanta a seguinte questão: que dimensões e funções o conhecimento musical pode abranger? (KLEBER, 2006, p. 31).

A forma como menciona Kleber (2016, p. 31) fez o autor desta monografia se identificar com as possibilidades de como a Educação Musical interage dentro de uma Comunidade de Periferia, de como a música acontece e impacta a vida de um jovem e como acontecem suas interpretações a partir do cenário em que está inserido.

Desta forma, procura-se expor, neste Trabalho, a partir de vivências e conhecimentos adquiridos durante a formação musical do autor desta Pesquisa dentro e fora da UFRN, sobre possibilidades existentes para que a música seja usada como meio de ferramenta sociocultural, educacional e auxilie no desenvolvimento de outras atividades diárias, sempre tomando como perspectiva uma Comunidade de Periferia, em especial, na maioria das vezes, o bairro Cidade da Esperança.

“No contexto da circulação musical, a ideia de periferia cumpre a função de inverter o juízo de valor negativo que a dualidade aplica. Está em jogo aí uma ação política de positivação de um espaço desvalorizado, habitado por pessoas igualmente desvalorizadas nas hierarquias sociais” (TROTTA, 2013, p. 170).

Assim, este primeiro capítulo explica a motivação e o incentivo que levou o autor desta monografia a trabalhar este tema, relatando fatos e apresentando, mais intimamente, o contexto de vivências que fez com que chegasse ao resultado apresentado.

O segundo capítulo tratará da apresentação e contextualização do bairro Cidade da Esperança como Comunidade e relata os acontecimentos internos desde seu surgimento, desenvolvimento e interações artísticas ocorridas no cenário local.

O terceiro capítulo abordará a música como meio de interação e auxílio sociocultural na vida do jovem de periferia além de um ponto mais teórico voltado para a Educação Musical nas suas diversas possibilidades de serem trabalhadas no contexto proposto, fazendo com que o aluno torne o contato musical além de perceptivo, recreativo, mas que aconteça uma reflexão social a partir do desenvolvimento de um pensamento crítico-social diante dos temas e formas de composição.

O quarto capítulo apresentará as situações que aconteceram nas entrevistas em forma de roda de conversa. Nesse sentido, serão expostos os artistas escolhidos e, em sequência, serão traçados um paralelo entre a trajetória dos entrevistados, suas vivências musicais e de interação social dentro da Comunidade juntamente com suas visões em relação ao tema principal abordado neste Trabalho.

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Por fim, no último capítulo será relatada as considerações finais acerca do que foi tratado em relação ao tema desta monografia, analisando assim, as entrevistas, pesquisas, referências e abordagens sobre as visões despertadas ao longo do desenvolvimento e elaboração deste Trabalho.

1.1 Metodologia

Desta maneira, optou-se pela abordagem qualitativa usando um roteiro para o norteamento da entrevista semiestruturada (APÊNDICE A) utilizando, como forma de execução, a conversação de uma maneira mais informal, mais à vontade para realizar tal atividade. Concentrado no tema principal abordado no Trabalho utilizou-se o roteiro com as perguntas semiestruturadas elaboradas (APÊNDICE A). Escolheu-se, juntamente com os entrevistados, um espaço para realização da entrevista, um ambiente agradável para que as respostas fluíssem da melhor maneira, de modo a favorecer a análise dos pontos objetivos.

Buscou-se também, como forma de executar este Trabalho, a estratégia do estudo de caso coletivo tendo como base a visão de Gil (2002, p. 139) que menciona que o “Estudo de caso coletivo é aquele cujo propósito é o de estudar características de uma população. Eles são selecionados porque se acredita que, por meio deles, torna-se possível aprimorar o conhecimento acerca do universo a que pertencem”. Ou seja, este método de pesquisa foi utilizado com a intenção de gerar resultados positivos voltados para a Comunidade, mesmo em situações adversas em consequência da realidade trabalhada.

O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistemática de entrevistas. Novamente, embora os estudos de casos e as pesquisas históricas possam se sobrepor, o poder diferenciador do estudo é a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas e observações [...] (YIN, 2001, p. 27).

Desta forma, pôde-se contar como ferramenta para este Trabalho, além das entrevistas, fatos históricos, movimentos sociais, dentre outras situações comprovadas que foram realizadas dentro da Comunidade e que agiram, diretamente, relacionadas ao tema central, favorecendo assim, de maneira esclarecedora, os resultados propostos.

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Tomando-se como base estas visões e conceitos, definiu-se como objetivo principal da Pesquisa compreender as dinâmicas formativasmusicais em uma comunidade de periferia a partir de uma abordagem sociocultural de Educação Musical, partindo-se assim para a escolha dos entrevistados.

Deste modo, escolheu-se 2 entrevistados usando como critério suas respectivas vivências e representatividades artístico-musicais envolvendo o bairro Cidade da Esperança, que, mesmo com vários ciclos que foram passados nas suas vidas até o presente momento, sempre mantiveram suas atividades artísticas carregando um conceito cultural forte e representativo em nome da Comunidade e da Cidade em geral. A escolha da quantidade de entrevistas que foram realizadas foi um resultado em virtude do tempo hábil para a execução, tendo em vista que, durante todo o percurso do autor desta Pesquisa dentro da Graduação teve-se que dividir a sua carga horária diária de 8 horas (matutino e vespertino) trabalhadas em empresas comerciais privadas e 4 horas (noturno) assistindo e participando das aulas na UFRN.

Sempre antes de começar a entrevista, o autor deste Trabalho conversou com os entrevistados sobre qual o posicionamento deles em relação ao nome que seria usado na entrevista e todos os entrevistados responderam, firmemente, que poderiam e até gostariam que fossem usados seus nomes reais artísticos, entrando em consenso da ciência desta ação ficando registrado em forma de áudio gravado, juntamente, com a entrevista.

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2 MÚSICA E SOCIEDADE DE PERIFERIA: CONTEXTUALIZANDO A COMUNIDADE CIDADE DA ESPERANÇA

Partindo-se do conceito de Comunidade a partir da perspectiva de Albuquerque (1999, p. 51) que a caracteriza como: “[...] todas as formas de relacionamento caracterizadas por intimidade, profundeza emocional, engajamento moral e continuidade no tempo”, e do olhar de Durkheim (1960, p. 51) que afirma que: “[...] esse tipo de solidariedade é denominado de mecânica, já que os indivíduos se ligam ao todo sem intermediário e participam de crenças coletivas idênticas”, apresenta-se, aqui, o bairro Cidade da Esperança.

Uma comunidade vai além de uma população em certo perímetro geográfico, mas está também associada a um grupo unido de forma intima e ligados uns aos outros por um laço de simpatia e interesses em comum. O fato de tratar Cidade da Esperança como Comunidade é resultado das relações pessoais existentes no cotidiano, conforme compartilha Júnior Baiano quando afirma que:

Eu vim aqui pra [sic] Cidade da Esperança, 71 por aí, a gente chegou aqui. Cidade da Esperança um bairro distante de tudo naquela época, as ruas todas na base da areia, os muros das nossas casas eram todos baixos, os vizinhos era como se fosse uma casa só, o vizinho pulava o muro um do outro e ficava naquela onda toda, de se conhecer de se tornar uma família porque a Cidade da Esperança é hoje uma família (Informação verbal)4.

O Bairro foi o primeiro conjunto habitacional da Cidade, construído em 1960, no período do governo de Aluízio Alves em uma campanha pioneira na América latina, sendo entregue 560 casas, 1 escola (Raimundo Soares) e um mercado.

Aos poucos, instalaram-se a sede da PETROBRAS5 do Rio Grande do

Norte, o DETRAN6, uma unidade da FEBEM7 e um Posto de Comando da

Polícia Militar. Mas um dos marcos da sua ocupação recente foi a instalação do Terminal Rodoviário de Natal, localizado no bairro Nossa Senhora de Nazaré, limite com Cidade da Esperança (PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2008, p. 7).

Assim, o Bairro foi desenvolvendo suas características e criando oportunidades aos moradores que não cogitaram, de nenhuma forma, se mudar de lá, pois com o surgimento e

4Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em outubro de 2019.

5Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS). 6Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN).

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crescimento de empresas públicas e privadas locais foram oferecidas oportunidades de empregos à população, tornando ainda maior o vínculo entre a população e a Comunidade.

Por este apego e progressão que os moradores criaram com o Bairro, os convívios sociais e laços afetivos foram se solidificando, surgindo assim, os primeiros relacionamentos e a formação de famílias entre moradores da Comunidade, aumentando, ainda mais, o vínculo da população entre si. Hoje, o Bairro vive uma atmosfera de coletividade, tendo em vista que, a solidez dos laços se renovam e amadurecem a partir do convívio, que é proporcionado pelo fato da população se respeitar seja por intermédio de um parente, ou de algum amigo, expandindo e reconhecendo assim uns aos outros de forma harmoniosa.

As relações que compõem a comunidade são, para o autor, relações de sangue, de lugar e de espírito, derivadas do parentesco (casa), da vizinhança (convivência na aldeia) e da amizade (identidade e semelhança nas profissões). Na comunidade é muito importante a ‘compreensão’ (consenso), que é um modo associativo de sentir comum e recíproco (LEMOS, 2009, p. 204).

Com a população local crescendo e desenvolvendo suas características o até então conjunto habitacional Cidade da Esperança começou a ser visto de várias formas pelo resto da população do Estado. A princípio era conhecido como terra de índios como cita Dimas Carlos durante entrevista: “essa miscigenação social é que vai dar origem a esses agrupamentos que tem seu ritmo, sua linguagem, seu comportamento, por exemplo, o povo dizia que o povo da época de Aluízio eram os índios” (informação verbal)8 e, em seguida,

devido a um período conturbado em que o Bairro vive, Júnior Baiano afirma que:

Onde a violência estava tomando conta, uma série de pessoas voltadas para o crime que envolvia a Cidade da Esperança numa [sic] ideia de que a Cidade da Esperança perante a sociedade do estado do Rio Grande do Norte era uma cidade, um Bairro totalmente marginalizado (informação verbal)9

Ficando assim conhecido como um Bairro de marginais, mas paralelo a estes comentários, a comunidade também ficou conhecida como um Celeiro Cultural, devido a uma revolução proporcionada por artistas do Bairro, na década de 1980.

A imprensa dizia que a Cidade da Esperança era o maior Celeiro Cultural do estado do Rio Grande do Norte, olha só que coisa, então, nós tínhamos um 8Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em novembro de 2019.

9Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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movimento tão forte dentro da Cidade da Esperança que era possível a gente reverter o quadro de violência através da Arte e da Cultura (informação verbal)10.

Hoje é considerado o pólo da Zona Oeste da cidade por sua grande influência econômica, recreativa e coletiva.

Assim como o comércio, as empresas e a população se desenvolvia na Comunidade a vida noturna, os espaços de socialização e eventos também seguia no mesmo fluxo e refletia, diretamente, nos habitantes, assim surgindo às primeiras manifestações artísticas tanto no meio musical quanto no meio teatral desenvolvendo-se em igrejas e projetos sociais até a revelação de grandes artistas.

As avenidas do conjunto residencial receberam nomes de Estados da Federação e suas ruas adjacentes, os nomes de municípios pertencentes ao Estado homenageado. A via dos eventos é a Avenida Paraíba, onde se concentram restaurantes, bares e similares e é também o local onde se situam o Centro Social Urbano, um dos primeiros do gênero no Brasil, o Ginásio de Esportes, a Delegacia, o Centro de Saúde e o Clube Intermunicipal (PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2008, p. 6).

A abertura e a solidificação dos espaços urbanos voltados para a socialização foram, de fato, muito importantes para a Comunidade como relata o músico, compositor e atuante nos movimentos sociais da época, Júnior Baiano afirma que:

Nós tínhamos o Centro Social Urbano (CSU), que era uma verdadeira escola de música, lá a gente ensinava aula de bateria, de guitarra, baixo, de todos os instrumentos, violino, ensinávamos teatro lá dentro, dança com Dimas, então, nós montamos uma equipe pra [sic] dentro do CSU dar aula para toda a comunidade da Esperança e os bairros vizinhos, né? [sic], que se beneficiavam dessa nossa cultura (informação verbal)11.

Hoje, usando como base de dados suas Secretarias, o Bairro conta com 2 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), 4 Escolas Estaduais, 2 Escolas Municipais, 4 Escolas Particulares, 5 Unidades de Saúde (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA12, 2016 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2017)13, 3 Delegacias (SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA

10Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em outubro de 2019.

11Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em outubro de 2019.

12Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC). 13Documento online não paginado.

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SOCIAL14 / RN, 2016 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2017)15, 1 Feira Livre, 3 Praças (SECRETARIA MUNICIPAL DE SERVIÇOS URBANOS16, 2015 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2017)17, 2 Quadras (SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTE E LAZER18, 2016 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2017)19, 1 Ginásio, 1 Campo de Futebol.

Também é considerado um dos maiores centros comerciais da cidade, refletindo, diretamente, na maior renda mensal domiciliar per capita da Zona Oeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA20, 2010 apudPREFEITURA

MUNICIPAL DE NATAL, 2017)21, entre outros espaços de socialização e que envolve, culturalmente, a Comunidade como o Teatro de Arena, Paróquia, Igrejas Evangélicas e instituições voltadas para apoio a população.

A quantidade de atividades, empresas e instituições existentes dentro do Bairro apenas nos confirma o progresso que a coletividade entre os moradores proporciona. Este fato revela que os moradores vivem algo parecido como uma filosofia de mercado público, que é o fato de favorecer os comércios do Bairro entre si, ou seja, os próprios empresários e comerciantes fazem negócio em conjunto, aumentando a renda e valorização do Bairro assim como os moradores que também procuram sempre fazer suas compras em lojas no próprio Bairro, seja pelo fato do grau afetivo ou até mesmo pela variedade de produtos que existe no comércio local.

A palavra mercado, proveniente do latim mercatu, significa ‘lugar de venda de gêneros alimentícios e outras [mercadorias]’, ou seja, lugar de trato, de compra e venda ou de troca. O encontro e o contato direto entre vendedores, compradores, transeuntes, viajantes permite um mútuo jogo de trocas, pois a troca pressupõe a conversa para que o negócio seja efetivado (VARGAS, 2001, p. 336).

Com base nos dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2000, 2010 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2017)¹, o Bairro tem uma população de mais de 15 mil habitantes e a melhor taxa de alfabetização da Zona Oeste da cidade, porém encontra-se na lista dos lugares com maior índice de

14Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED). 15Documento online não paginado.

16Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR). 17Documento online não paginado.

18Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SEL). 19Documento online não paginado.

20Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE). 21Documento online não paginado.

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criminalidade, o que revela um ponto destacado por Arroyo (2002b, p. 116): “Dependendo de como se compreende a diversidade cultural, ela poderá estar associada à convivência democrática ou, mais uma vez, à hegemonia de alguns sentidos de realidade, culminando com a violência cultural.” Pode-se enxergar esta realidade em uma perspectiva de que a Educação Básica do cidadão acontece, mas, de alguma maneira, ela é distorcida, seja no processo de desenvolvimento do aluno dentro das escolas ou no processo de amadurecimento social a partir das atividades que deveriam ser destinadas aos jovens em um período diferente das aulas regulares.

Segundo Teixeira (2017)22, “Mais do que nunca é necessário entender a educação, a cultura e o esporte como componentes fundamentais para se interromper o fluxo de conversão dos jovens à criminalidade.” Ou seja, para que os jovens cheguem até as escolas e não viabilizem a vida do crime é preciso acompanhar, com mais atenção, as atividades que são realizadas dentro dos espaços escolares; é preciso criar um elo entre a cultura da sociedade que o aluno está inserido e os assuntos ministrados dentro das salas de aula, fazendo assim com que aumente a conexão entre os alunos e a comunidade.

A sensação que temos é que o discurso sobre violência de quem trabalha nessa área de cultura é um pouco ocupacional: ‘dá uma coisa para esses jovens fazerem, porque aí eles não cometem crimes, não vão para as drogas’. E não usam isso como instrumento de transformação. Deveriam usar esse espaço que mobiliza para algumas reflexões de cidadania (HIKIJI, 2006, p. 97).

Estas atividades que conseguem envolver a comunidade na Cidade da Esperança acontecem em diversas situações. No começo de sua habitação, se organizavam, segundo Dimas Carlos:

A gente tinha determinados equipamentos na cidade que nos fazia ocupar, de uma forma mais qualitativa, eu acredito, quando não era na igreja católica, era na igreja evangélica, eram os centros urbanos, centros sociais urbanos, que, muito tempo depois, foi ser criado o CSU, mas tinha, tinha o Câmara Cascudo, tinha outros equipamentos que a gente se guardava (informação verbal)23.

22Documento online não paginado.

23Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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E, atualmente, em atividade tem o Centro de Atividades e Lazer da Melhor Idade (CALMI), Clube de Mães e Artesanato, instituições religiosas, movimentos de Arte e Cultura, como é o caso do Movimento Síntese Urbana e Batalha da Esperança.

E, de uma maneira geral, mediante o seu impacto na cultura popular, os movimentos sociais disparam processos de interação social e formação de identidade coletiva. Isto é feito em nível de discursos e de práticas, pelo experimento de novos princípios estéticos, criando novos rituais coletivos (KLEBER, 2006, p. 42).

Desta maneira, surgiram os movimentos sociais que interagem, diretamente, com os jovens, na atualidade, dentro da Comunidade, através do Movimento Síntese Urbana e Batalha da Esperança, ambos têm como base a cultura do Hip Hop que se caracteriza como um movimento cultural que envolve manifestações artísticas que, por sua vez, apresenta-se como pilares para o movimento conhecido como RhythmandPoetry24 (Rap), gênero musical com letras que, na maioria das vezes, tratam de questões cotidianas da comunidade negra; o

Break é considerado um estilo de dança de rua, caracterizada pelas improvisações e disputas

organizadas em competições de dança; o Grafite simboliza a forma de expressar a realidade das ruas; o MC tem como função compor as letras e interpretá-las além de se caracterizar também pela improvisação e o Disc Jockey (DJ) resulta de um operador de discos, que faz as bases e colagens rítmicas sobre os outros elementos.

A intenção dos jovens tratarem e enaltecerem a cultura do Hip Hop se dá justamente pelo fato de terem propriedade sobre os ideais e contextos o qual estão inseridos, pois o Hip

Hop, segundo Souza; Fialho; Araldi (2008, p. 13), “[...] tem sua filosofia própria, com valores

construídos pela condição das experiências vividas nas periferias de muitas cidades. Colocando-se como um contraponto à miséria, às drogas, ao crime e à violência, o hip hop busca interpretar a realidade social”. Então, volta-se à visão de Kleber (2006, p. 40) quando menciona que “A mobilização e reconstrução da tradição tornam-se uma questão central para que os movimentos sociais são e significam para a transformação cultural e social”, ou seja, os movimentos sociais se encontram como um fator indispensável para a construção de um pensamento crítico social dos jovens.

Sendo assim, pôde-se observar como se desenvolveu a Comunidade Cidade da Esperança trazendo fatos históricos desde a construção das primeiras moradias, os contatos sociais e a progressão comercial até acontecerem às primeiras manifestações artísticas,

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envolvendo a exposição dos dados revelados nas entrevistas e traçando um paralelo com citações e pesquisas na área, podendo assim, projetar uma base de como a música surge e envolve a comunidade de periferia, conforme cita Trotta (2013, p. 171): “O que todas essas músicas estão apontando é para a necessidade de negociar uma posição para o popular periférico que não estigmatize seus gostos e sua posição social.” Desta maneira, pode-se trabalhar com propostas de didáticas voltadas à Educação Musical na periferia e refletir em benefício à população.

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3 ABORDAGEM SOCIOCULTURAL E EDUCAÇÃO MUSICAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA REFLEXÃO CRÍTICA A PARTIR DO ENSINO DE MÚSICA

A presença da música na vida das pessoas é incontestável, ela se faz presente na história, na cultura em diversos continentes sendo uma forma de expressão artística tanto no campo popular como no erudito. A linguagem musical, no Brasil, faz-se presente em todas as suas classes sociais e nas diferentes manifestações culturais e religiosas.

Embora a sua linguagem seja diversificada, dependendo de onde venha a expressão cultural, a música acompanha o desenvolvimento e as relações interpessoais em suas comunidades, bairros e cidades.

Sabendo-se que a música é uma forma de expressão artística é inevitável a criação de uma afinidade entre o compositor e o ouvinte, pois, ali, estão inseridos contextos e vivências sociais específicos que, na maioria das vezes, tratam do cotidiano. Em uma comunidade de periferia pode-se interagir com um variado repertório musical, porém, o mais comum de se encontrar são os gêneros que, juntamente com a forma de linguagem, tratam da realidade dos seus habitantes.

Assim, é preciso trabalhar ritmo, melodia, harmonia, percepção sonora, técnicas de execução instrumental, entre diversos outros parâmetros estruturais do som, mas de forma integrada com elementos como memorização, coordenação, autoestima, inserção social, sentido, valor, e todos os demais elementos que constituem a música como expressão sonora, mas também humana e cultural (QUEIROZ, 2017, p.185).

Existem muitas possibilidades de buscar as contribuições da música no desenvolvimento do aluno, uma vez que ela já se faz presente, em suas vidas, antes de sua alfabetização. A relação com a música, às vezes, se inicia no ventre materno e segue no decorrer da infância. Nas brincadeiras infantis, as crianças usam a música como forma de expressão e estabelecer regras, relações sociais, diversão, alegria e aprendizagem. Tais exemplos explanam um breve panorama da importância da música na educação.

No campo social, afetivo e cognitivo destaca-se a Educação Musical como um agente indispensável na formação do ser humano, pois quando se trata de âmbito social pode-se analisar diversos contextos que o ser humano está inserido e se identifica na música; direcionando para a afetividade enxerga-se que a música reage como um estimulante ou calmante, podendo ser utilizada em diversas atividades educacionais assim como em práticas

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ligadas a saúde mental; quanto à forma cognitiva possibilita estudar formas de criar música, experimentando alguma sequência de ritmos ou apenas apreciar um som e destacar nele alguns elementos distintos, estimular, diretamente, sentidos fundamentais que auxiliam a coordenação motora como memorização, raciocínio lógico, sensibilidade, atenção, entre outros elementos para o desenvolvimento humano.

A audição de uma música é também uma tarefa extremamente complexa, já que engloba diferentes padrões, associações, emoções, expectativas, entre outras coisas. Isto envolve um conjunto de operações cognitivas e perceptivas, que são representadas no sistema nervoso central (PEDERIVA; TRISTÃO, 2006, p. 85).

Na sala de aula, o aluno está disposto a vivenciar várias situações, sejam elas de adversidades culturais, sociais ou ideológicas bem como afinidades nestes pontos, entretanto, assumindo o papel de orientar e amadurecer os conhecimentos dos jovens, as atividades necessitam ser trabalhadas em forma de construção de diálogos, sempre existindo a possibilidade dos alunos expressarem suas dúvidas ou pontos de vista, tornando o seu papel, dentro de sala de aula, além de um simples ouvinte, um elemento fundamental no processo de ensino e aprendizagem da turma, favorecendo, além do conhecimento musical, a construção de um pensamento crítico social.

A educação musical [...] é uma colagem de crenças e práticas. Seu papel na formação e manutenção dos [mundos musicais] - cada qual com seus valores, normas, crenças e expectativas - implica formas diferentes nas quais ensino e aprendizagem são realizados. Compreender esta variedade sugere que pode haver inúmeras maneiras nas quais a educação pode ser conduzida com integridade. A busca por uma única teoria e prática de instrução musical aceita universalmente, pode levar a uma compreensão limitada (JORGENSEN, 1997 apud ARROYO, 2002a, p. 20).

Sendo assim, revela-se a importância da troca de informações entre aluno/professor e volta-se à atenção para a forma de tratar a música além dos olhares técnicos, mas que se possa amadurecer a ideia da influência social que a música, em seus diversos contextos, proporciona dentro da sala de aula e a forma como interage e estimula os jovens.

Quando se direciona para uma comunidade de periferia e se coloca na posição de Educador Musical dentro de uma escola pública pode-se destacar vários pontos a serem trabalhados e evidenciados como aponta Queiroz (2017, p. 181) quando menciona que a “[...] motivação, memorização, significação social, autoestima, em análises que consideram a música na, com e como cultural são elementos tão musicais quanto ritmo, melodia, harmonia,

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entre outros aspectos estruturais do som como matéria prima da música.” Dessa maneira, pode-se identificar uma ótica do ensino da música que implica, diretamente, no amadurecimento do aluno como cidadão.

Quando se trata de formas de didática que se deve aplicar em sala de aula para contribuir na formação de jovens precisa-se enaltecer a importância de se permitir reconhecer a realidade que está em contexto e também optar por outras vias de ensino assim como o questionamento levantado por Arroyo (2002a, p. 26), a saber: “Como trazer para os sistemas escolares os procedimentos de ensino e aprendizagem de práticas musicais construídos em contextos não escolares?” Este tipo de levantamento trata das formas de ensino que acontecem, na maioria das vezes, em Organizações Não Governamentais (ONGs), Projetos Sociais ou, até mesmo, em Centros Sociais Comunitários, caracterizando assim, uma educação informal, como relata Gohn (2006, p. 29):

Na educação formal, entre outros objetivos destacam-se os relativos ao ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados, normatizados por leis, dentre os quais destacam-se o de formar o indivíduo como um cidadão ativo, desenvolver habilidades e competências várias, desenvolver a criatividade, percepção, motricidade etc. A educação informal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se frequenta ou que pertence por herança, desde o nascimento. Trata-se do processo de socialização dos indivíduos. A educação não-formal capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais.

Portanto, abre-se uma reflexão para o fato da importância de atividades alternativas que se dá por meio da educação informal e se voltem para envolver os jovens nos processos de criação e desenvolvimento de projetos, onde se sintam eficazes nas suas atividades, refletindo, diretamente, na sua autoestima e, em conjunto, faça com que o aluno possa alcançar um melhor rendimento em outras atividades do seu cotidiano, conforme afirma Hikiji (2006, p. 96): “A auto estima é uma coisa mais individual... Se a pessoa se valoriza mais, se considera mais, ela vai ter uma segurança maior para se colocar como cidadã.”

O fato de tratar, especialmente, da autoestima se dá porque, através dela, pode-se desenvolver uma maior confiança nos jovens, pois com a autoestima se pode mudar posturas em relação a uma conversa, a um olhar ou a uma palavra que são fatores que afetam, diretamente, as relações no dia a dia e que fazem a diferença nas realizações das atividades, tornando o indivíduo mais seguro de si em vários fatores, principalmente, nas tomadas de

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decisões. Assim, revela-se, cada vez mais, a necessidade de se trabalhar a música como prática social, como propõe Kleber (2006, p. 31):

A abordagem de cunho socioeducacional, envolvendo as práticas musicais e o processo pedagógico-musical, pressupõe a interpretação de análise dos diferentes contextos do mundo social, intrínsecos e idiossincráticos dos atores sociais. A compreensão das práticas musicais, enquanto articulações socioculturais permeadas de formas e conteúdos simbólicos, se refletem no fluxo e refluxo da organização social e no modo de ser dos respectivos grupos. Trata-se, portanto, da construção e reconstrução das identidades sociais e culturais desses grupos.

Pode-se, então, enfatizar a partir da visão de Kleber (2006) que a música deve ser trabalhada de acordo com o seu contexto social, ou seja, é preciso fazer com que a música que envolve os jovens no seu cotidiano também sirva para envolvê-lo em práticas educacionais, facilitando assim, o processo de ensino-aprendizagem e fazendo com o que o professor consiga construir junto ao aluno sua auto confiança, pois a partir do amadurecimento de ideias relacionadas a sua cultura, o aluno passa a ter a concepção de qual meio está inserido e como ele é exposto diante da sociedade.

Quando se trata de trabalhar práticas educacionais com alunos, o professor tem que se responsabilizar pela forma de interação e conteúdo que irá ministrar dentro das instituições, a maneira como criará um laço afetivo com o outro para que se possa ter a compreensão sobre o contexto que o aluno está inserido e assim poder desenvolver, em parceria, um entendimento sobre a realidade, de forma analítica, e chegar ao ponto de contribuir para suas vivências diárias diante da sociedade. Dessa maneira, refletindo-se a visão de Arroyo (2002b, p. 101) sobre Mundos Musicais considera-se que esses mundos são “[...] um espaço social marcado por singularidades estilísticas, de valores, de práticas compartilhadas, mas que interagem com outros mundos musicais, promovendo o recriar de suas próprias práticas, bem como o ordenamento de diferenças sociais.”

Assim, chega-se a um ponto de entendimento de como a música pode contribuir e auxiliar na vida de um jovem que vive à margem da sociedade. Na sequência, utilizando-se como base estas discussões e dados revelados, será traçado um paralelo entre os contextos e estratégias relatadas com as entrevistas como forma de entendimento das realidades que entram em congruência por estarem diretamente ligadas à atividade central da Pesquisa além da visão do autor deste Trabalho como forma de buscar uma melhor compreensão das informações que até aqui foram expostas.

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4 DINÂMICAS FORMATIVAS MUSICAIS E A ABORDAGEM SOCIOCULTURAL NA COMUNIDADE CIDADE DA ESPERANÇA

Este capítulo traçará um paralelo sobre a ótica dos entrevistados, embasamentos teóricos bem como a visão do autor desta monografia sobre a abordagem do tema na Comunidade Cidade da Esperança.

4.1 Apresentações dos entrevistados

Como foi tratado no capítulo 2, a comunidade Cidade da Esperança foi desenvolvida como Conjunto Habitacional, entre as décadas de 1960/1970, aumentando assim seus habitantes e atividades locais. Neste período de habitação e desenvolvimento do Bairro estão inseridos os 2 entrevistados que contribuíram para realização deste Trabalho. Ambos os entrevistados têm certo conceito dentro da área da arte devido às suas representatividades no contexto artístico local, pelos envolvimentos que tiveram com as atividades que foram realizadas dentro da comunidade, refletindo assim, um reconhecimento nacional.

O primeiro entrevistado foi Juraci Nunes Júnior, que é citado neste Trabalho como Júnior Baiano, nome popularmente conhecido pelo meio artístico. Júnior Baiano é músico, cantor e compositor que chegou à comunidade Cidade da Esperança por volta de 1971 aos 8, 9 anos de idade e vivência parte da sua infância, adolescência até chegar a fase adulta sendo morador e mantendo relações sociais e artísticas dentro do Bairro, como ele mesmo deixou explícito na entrevista:

Eu vou crescendo dentro desse negócio, e aí surge a arte da capoeira em minha vida né? [sic], a arte da capoeira... aí, eu comecei a estudar capoeira com um professor que era baiano, certo, um professor baiano, ele me trazia as novidades da capoeira da Bahia pra [sic] mim aqui. Aqui eu fundei os primeiros grupos de capoeira em Natal, eu, o mestre Milton Guedes, Marcão, que hoje é Marquinho e ainda tem uma grande academia de Angola hoje, aqui em Natal, e comecei a fazer capoeira dentro da Cidade da Esperança, onde eu comecei a criar o movimento de capoeira, daí é onde se relaciona a dança e a música (informação verbal)25.

Então, inicia-se toda a história do artista e o fato que vai levar a receber tal codinome, Júnior Baiano. Sua trajetória musical passou por vários processos e etapas de vivências e

25Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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amadurecimentos, conforme declarou: “Eu parto daí para começar a disputar os meus primeiros Festivais de Música, que é aí onde meu nome Júnior Baiano fica muito forte dentro do Bairro, dentro Estado e até a nível de Brasil, porque eu comecei, na década de 80, a tocar trio elétrico que era de Dodô e Osmar” (informação verbal)26. Dentro destas situações foi

onde ocorreu sua maior interação social, cultural e artística envolvendo o bairro Cidade da Esperança, dentro de movimentos sociais e nas festas que aconteciam.

O segundo entrevistado foi Dimas Carlos de Lima, conhecido no meio artístico e citado na entrevista como Dimas Carlos. Dimas é coreógrafo, dançarino e professor de dança, morador da Cidade da Esperança desde 1968. É um artista de muita influência para o Bairro, pois além de sua atuação na área da Arte pela Cidade representando sempre a comunidade, também vivenciou os acontecimentos artísticos do Bairro, sempre de perto, pelo fato dele “praticamente como [a mãe do autor desta monografia] trabalhar o dia inteiro... eu consegui viver a esperança rua, viver a esperança culturalmente, socialmente, marginalmente, porque eu vivia na rua” (informação verbal)27. E essas vivências de rua, como ele tratou na

entrevista, o proporcionaram contatos com as artes da forma mais fluida possível, pois ele estava sempre em contato direto com as intervenções ou projetos que aconteceram no Bairro.

Então, a gente tinha o Centro Social Urbano, a gente tinha a Igreja, tanto evangélicas como católicas, como eu falei ai anteriormente, que faziam exercícios, uns ligados a doutrinação religiosa e outros ligados a Arte ou a Educação Física, então, por exemplo, quando o CSU chega, chega com vários acadêmicos, e esses acadêmicos todos loucos pra [sic] fazer funcionar o que aprenderam e aí quem souber aproveitar, aproveitou, quem não souber aproveitar, passou por lá, mas não esquece... É isso que vai me distanciando não, mas me dividindo entre a marginalidade e a descoberta da Arte que, futuramente, vai ser a minha profissão, é exatamente isso! O começo é isso! (informação verbal)28.

Desta maneira, vão se construindo e amadurecendo ideais artísticos e a construção de um ser humano, diante das tribulações em meio a violência e outros descasos existentes. Dentro de uma comunidade de periferia existem trabalhos sociais voltados a beneficiar, através da Arte, os jovens e acabam transformando a vida dos cidadãos como aconteceu com Dimas, que hoje é um artista renomado dentro da Cidade, tido como referência no âmbito da dança e que foi atuante em projetos sociais dentro da Comunidade não só como participante,

26Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em outubro de 2019.

27Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em novembro de 2019.

28Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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mas, posteriormente, também foi como professor/incentivador de projetos ligados a Arte em benefício da população.

4.2 Música e Periferia: contextualizando a realidade

Partindo da proposta do tema Música e Periferia: contextualizando a Comunidade Cidade da Esperança será traçado um paralelo entre o posicionamento dos entrevistados, as referências trabalhadas na Pesquisa e a visão do autor deste Trabalho sobre o tema, com o propósito de explanar quais as contribuições, benefícios e falhas existentes dentro deste contexto.

A música na periferia, como foi tratada até o momento desta Pesquisa, surge, à princípio, como uma forma de interação inconsequente, chegando aos ouvintes, de uma forma recreativa, que torna a música algo mais intimista, aproximando-a do sujeito pela sua assimilação com a sua realidade seja pela sua forma poética ou ritmista, como expõe o entrevistado Junior Baiano:

Quando eu tinha meus poucos meses de vida, minha mãe me dava de mamar se balançando numa [sic] rede e cantava aquelas músicas da época de 60, por exemplo, eu ouvia muito ‘índia teus cabelos nos ombros caídos’ porque eu dormia ouvindo aquelas coisas, e aí cara, quando eu completei meus 5, 6 anos de idade, eu ganhei de presente um rádiode pilha, chamado: ABC, a Voz de Ouro. Sabe, naquela época bicho, a gente só tinha AM29 e eu

comecei a ouvir a tal da ‘índia teus cabelos nos ombros caídos’naquele radiozinho e eu acabei me viciando, me balançando em uma rede; eu ficava numa [sic] rede me balançando e ouvindo aquela rádio o dia todo rapaz, mamãe estranhava demais aquilo e dali eu comecei a ganhar gosto pela música (informação verbal)30.

Para Dimas Carlos: “A música vai entrar na minha vida primeiro pelos botecos, porque como eu era solto na rua e os botecos tinham momentos de serestas, tinham momentos de ouvir na radiola de ficha, então, a gente terminava ouvindo muita música boa” (informação verbal)31.

Percebendo-se como acontece os primeiros contatos com a música para a população que vive em uma periferia, será citado Gonh (2006, p. 29) para caracterizar este tipo de Educação Musical como não-formal pelo fato de que:

29Amplitude Modulation (AM).

30Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em outubro de 2019.

31Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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Na educação não-formal, os espaços educativos localizam-se em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde há processos interativos intencionais (a questão da intencionalidade é um elemento importante de diferenciação).

Então, estabelece-se a consciência que a forma como a música chega à população de periferia é sim educativa e de valor construtivo, só possui formas específicas de interação. Nesse sentido, precisa-se entender quais são estas formas de interação e como se pode se beneficiar de tal contato.

Associados a esses pontos, estão que: as músicas devem ser estudadas não apenas como produto, mas como processo; alguma modalidade de educação musical acontece em todos os contextos onde haja prática musical, sejam eles formais ou informais; portanto há inúmeras possibilidades de se empreender a educação musical [...] (ARROYO, 2002a, p. 20).

A visão de Arroyo (2002a), orienta quanto à contextualização do espaço no qual estão inseridos o local e os sujeitos. Para assim, elaborar-se um planejamento levando em consideração a realidade proposta e visando alcançar um melhor resultado na situação como propõe o artista entrevistado Dimas Carlos:

Eu acho que em um projeto bem elaborado, focado e de imediato, compreendendo esse espaço e essa pessoa, você não pode chegar lá e empurrar pela goela, a métrica, o ritmo, o tempo, você tem que encontrar tudo isso nele e ali transformar em música, eu acho que esse é o melhor caminho (informação verbal)32.

Ou seja, para se obter uma relação do professor com o aluno é preciso, de fato, dessa aproximação de sua realidade. Quando se trata de aproximação de realidade inclui-se também a aproximação da música que vai estar inserida no cotidiano do jovem, pois

Às vezes a mãe diz ‘ninguém daqui escuta essas música [sic] sebosa e esse menino adora essas música [sic] sebosa’ sim, ele se identificou, consequentemente, isso vai ter dois caminhos, a música sebosa que vai revelar a ele uma sociedade que, às vezes, ela não é nem sebosa, mas, normalmente, ela vem sendo traduzida por aquele ritmo ou uma escola que ele descobre depois que pertence a essa coisa (informação verbal)33.

32Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

trabalho, em Natal-RN, em novembro de 2019.

33Informação verbal proferida por Dimas Carlos, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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Então, este comentário de Dimas Carlos acaba despertando para uma inclusão do aluno em um meio musical que pode ser recriminado e tido como uma música de caráter ruim. Para tanto, os educadores musicais têm que se envolver neste contexto musical pelo fato de que, cada forma de se expressar a Arte, parte de algum princípio, e existe uma forma de reverter a caracterização inicial da música e desenvolver, junto com o jovem, um pensamento mais intrínseco do que está sendo trabalhado. Desta forma, pode-se trazer Arroyo (2002b, p. 117) quando expõe que:

As crianças e adolescentes continuam tendo nas músicas um campo de referências socioculturais significativas. São eles que vão nos sinalizar em parte para aquela renovação da Educação Musical, mas é preciso que estejamos preparados para ver e ouvir suas mensagens. Preparar-nos conceitualmente para interpretar as práticas musicais dos jovens, implica também avançarmos no amadurecimento da área da Educação Musical [...].

Enfatiza-se, assim, a importância do envolvimento dos mundos musicais com cada aluno e inseri-lo aos conteúdos propostos.

4.3 Criminalidade: Música como benefício

Nesse sentido, será abordado um assunto bastante delicado dentro de uma Comunidade de periferia que é a questão da criminalidade e de como a música pode agir como um fator positivo neste sentido. Quando se busca envolver o educador musical no contexto que o aluno está inserido, depara-se com situações adversas e, até mesmo, perturbadoras que a criança e/ou jovem está inserida. Desta forma, é preciso, juntamente com o aluno, buscar referências que inspirem o jovem, poesias que se encaixem no seu contexto social, para que, desta maneira, possa-se intervir na vida dele, não só no fato de ensinar a prática musical, mas sim, que se possa, amadurecer nele, durante o processo da prática, um pensamento crítico social, onde ele se sinta inserido na realidade da sociedade que o cerca, pois, dessa forma,

fortalece muito a cultura do Bairro e ela, ao mesmo tempo, implanta, em uma juventude totalmente desviada de seus caminhos, voltada pras [sic] drogas ou por outro momento, a gente consegue através do instrumento, que tira do cara a história da faca, você tira a faca dele e joga um violino na mão

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dele, né? [sic], um berimbau, um outro instrumento, um violão [...] (informação verbal)34.

Seguindo este contexto, não se pode deixar de tratar a música como uma ferramenta de transformação do ser humano, pois no processo em que se é proposto à prática musical e/ou ato da apreciação musical, fazer com que o jovem entenda o que está sendo tratado naquela poesia ou naquele arranjo é, sobretudo, uma ação incentivadora do educador musical que, muitas vezes, consegue tocar na autoestima do sujeito e

Quando você trabalha com a auto-estima das pessoas, é uma maneira de você trazer um pouco do que a pessoa tem pra [sic] fora, para ser apreciado, ser colocado dentro de um lugar que não é uma exposição, não é uma pasta, uma gaveta, mas é uma coisa que está recuperando um espaço que está sendo visto, sendo olhado você se identifica com o que produziu, então isso dá um sentimento de pertencimento, você se legitimou, você existe [...] (HIKIJI, 2006, p. 90).

Então, chega-se a um ponto mais concreto acerca do que foi trabalhado durante esta Pesquisa, que reflete no fato de proporcionar, dentro de uma sociedade de periferia, seja em escolas ou em movimentos sociais, uma experiência e um desenvolvimento que seja útil para que o jovem amadureça um olhar mais crítico diante da sociedade e diante da Arte. Que ele possa refletir sobre as diversas situações que lhe são proporcionadas e, juntamente a este olhar crítico, diante da sociedade, ele possa também desenvolver sua coordenação motora e suas práticas específicas, tornando-se assim, um ser humano mais ativo e que possa tornar-se mais produtivo para a sociedade fazendo com que ele se sinta inserido e eficaz diante da comunidade ou meio que está inserido.

34Informação verbal proferida por Júnior Baiano, em sua residência, durante entrevista concedida ao autor deste

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este Trabalho buscou abordar como a música interfere ou se manifesta dentro de uma sociedade de periferia utilizando como contexto o bairro de Cidade da Esperança, tratado nesta Pesquisa como Comunidade, localizado na Zona Oeste de Natal/RN.

Para melhor revelar os fatos de como as manifestações artísticas e musicais foram desenvolvidas e executadas foram escolhidos 2 artistas do Bairro para serem entrevistados: Júnior Baiano e Dimas Carlos. Os entrevistados foram escolhidos pelo fato de além de serem artistas renomados atuantes que tem certa representatividade na Cidade da Esperança são também artistas que participaram das várias atividades e movimentos sociais ligados à Arte e Cultura dentro do Bairro, desde a década de 1970, tornando-os assim elementos de importância para a Comunidade.

Inseridos neste contexto social também estão inclusos a população do Bairro que são elementos indispensáveis para a construção de todo este processo de desenvolvimento e caracterização como Comunidade pelo fato da grande afinidade que existe entre seus moradores, o que resulta em fortalecimento para as atividades que são realizadas no espaço e assim, fazendo com que, cada um, encontre uma forma de se expressar e contribuir com o Bairro.

Com o intuito de propagar a nossa cultura e assim representar a Comunidade, o autor desta Pesquisa e os entrevistados apegaram-se às artes para fazer com que os seus dialetos sejam compreendidos e respeitados em seus cotidianos.

Tornou-se prazeroso, os processos de amadurecimento construídos ao longo das atividades desenvolvidas, refletidos na consolidação de projetos e, consequentemente, em resultados diante do cenário.

Os sentimentos de orgulho e felicidade, ao realizar atividades que favoreceram o Bairro é o que alimentou e motivou ainda mais a caminhada que, independente das adversidades encontradas, sempre nos impulsionou a fazer acontecer e superar qualquer dificuldade encontrada.

Percebeu-se que, quando se vive, intrinsecamente, uma realidade, naturalmente, toma-se propriedade sobre o assunto por toma-se toma-sentir no papel de transmissores daquilo; para outros pode ser visto como algo sem relevância; mas os agentes educadores que vivenciaram o projeto desta Pesquisa aprenderam a apreciar, admirar e valorizar a música na periferia e, de certa forma, tornaram-se os porta-vozes da realidade.

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Ao longo desta Pesquisa, autor se deparou com dificuldades em encontrar, de forma documental, a história do bairro Cidade da Esperança que revelassem seus aspectos artísticos e culturais assim como atividades envolvendo jovens e adolescentes em práticas relacionando musicalização, desde que não seja de forma independente. Por questões ligadas a tempo, não foi possível especificar estas observações, mas, desde já, se expressa a vontade de, futuramente, buscar mais informações e assim, poder analisar a execução de trabalhos relacionando atividades de música dentro da sociedade de periferia.

Quanto às formas de como a música interagiu com os entrevistados identificou-se como uma educação informal é capaz de ressignificar a vida de um indivíduo de periferia, apesar de nunca ter sido instruído por meio de organizações específicas.

Neste caso, a música surge e envolve o indivíduo de forma mais pessoal, interagindo, na maioria das vezes, de acordo com o contexto social, o que resulta em uma forma de ensino mais específica onde o educador deve buscar aspectos musicais que exista certa afinidade com o grupo que vai ser trabalhado a prática musical.

Porém, a partir de práticas musicais que interagem, diretamente, com o cotidiano do cidadão, notou-se benefícios que podem favorecer outras áreas, como a socialização, a postura diante da sociedade e a autoestima, fatores estes que influenciam, diretamente, na disposição do ser humano quanto a de se sentir inserido no meio em que vive, auxiliam em um melhor rendimento nas suas atividades e relações diárias.

Juntamente a estas contribuições, existe a possibilidade de desenvolver, juntamente com o jovem, um pensamento crítico social que o oriente a amadurecer, uma visão sobre a criminalidade, tendo em vista que, este tipo de realidade se encontra presente no seu cotidiano.

Acredita-se que este tipo de atividade seria interessante para um futuro trabalho, tendo em vista que a violência é uma constante dentro e fora de espaços monitorados tanto pelo poder público como pelo privado.

Desta forma, espera-se ter retratado, de maneira adequada, de como a música reage dentro de uma sociedade de periferia, utilizando como contexto a Comunidade Cidade da Esperança e que este Trabalho motive novos pesquisadores e educadores a buscar compreender e explorar em cada indivíduo ou grupo o valor existente dentro de sua cultura e utilizar tal estima em benefício de seu desenvolvimento social.

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