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Relatório de estágio no Parlamento Europeu

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE LETRAS

UNIVE RSI DADE D O PO RTO

Ana Rita Costa Loureiro

2º Ciclo de Estudos em

Tradução e Serviços Linguísticos – Tradução Especializada

Relatório de Estágio no Parlamento Europeu

2013

Orientador: Thomas Hüsgen (Professor Doutor, Faculdade de Letras da UP) Coorientadora: Isabel Leite (Tradutora Sénior, Parlamento Europeu

Classificação: 19 valores

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ii «Translation is that which transforms everything so that nothing changes.»

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iii

Agradecimentos

À Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pelos anos de formação que me forneceram todas as ferramentas necessárias para chegar até aqui, em especial:

Ao Professor Doutor Thomas Hüsgen, orientador deste estágio, pelo apoio, conselhos e sugestões que permitiram a realização deste estágio e do respetivo relatório,

À Professora Doutora Belinda Maia, diretora do MTSL, pelo apoio e incentivo à candidatura a este estágio.

Ao Parlamento Europeu, pela oportunidade de estagiar e completar a minha formação na Direção Geral de Tradução, em especial:

À Unidade Training & Traineeships, à Helga Norup e ao Jorge Quaresma pelo apoio com todas as questões práticas do estágio e das missões,

À Unidade Portuguesa e ao chefe de unidade, Victor Bastos, pela oportunidade de fazer parte da sua equipa,

À minha supervisora, Isabel Leite, por todas as horas passadas a contextualizar os documentos, a explicar cada procedimento e a partilhar a sua imensa experiência sempre com o objetivo de me ajudar a melhorar enquanto profissional;

À Elisabete Dias e à Lídia Rainho, enquanto tradutoras e revisoras, que tiveram sempre todo o tempo necessário à discussão e explicação das revisões, sempre prontas a responder a todas as minhas perguntas e dúvidas, a ouvir opiniões e com quem partilhei pesquisas sobre as várias dificuldades tradutivas que foram surgindo ao longo do estágio;

À Susana, colega de gabinete, com quem foram partilhadas todas as horas de trabalho e de experiência enquanto estagiárias, por todas as vezes em que parou o seu trabalho para deitar um novo olhar sobre as minhas dúvidas.

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iv À minha família, que sempre me proporcionou todas as condições para que esta fosse uma experiência de sucesso, em especial:

À minha mãe, pelo incentivo durante o estágio e a redação do relatório e por tudo o que me ensinou a nível pessoal e profissional,

Ao André, pela disponibilidade incondicional e pelo incentivo a ser sempre melhor e a dar um passo mais além.

À Teresa, por todas as partilhas, por todo o apoio e dedicação durante todo este caminho.

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v

Resumo

Este relatório de estágio apresenta todo o processo do estágio de três meses realizado na DG TRAD do Parlamento Europeu, no Luxemburgo, com vista a concluir a via profissionalizante do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos. Numa primeira parte, este trabalho apresenta uma descrição e análise detalhadas do processo de candidatura, da estrutura do Parlamento, dos vários momentos do estágio e das especificidades da tradução nesta instituição europeia. Numa segunda parte são analisados diversos casos práticos do trabalho terminológico e de tradução efetuados ao longo do estágio.

Palavras-chave: estágio, tradução, Parlamento Europeu, recursos, revisão

Abstract

This traineeship report follows the whole process of the three-month traineeship carried out at DG TRAD, European Parliament, Luxembourg, in order to complete the professional training feature of the Masters in Translation and Linguistic Services. In the first part, this report offers detailed description and analysis of the application process, of the structure of the Parliament, of the different moments of the traineeship and of the idiosyncrasies of translation within this European institution. In the second part, several examples of terminology work and translations carried out during the traineeship are analised.

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Lista de siglas e abreviaturas

AD – Parecer (Avis définitif)

AFET – Comissão dos Assuntos Externos AM – Alterações (Amendements)

CAT – Computer-aided-translation (tradução assistida por computador) CE – Comissão Europeia

COM – Documento elaborado pela Comissão Europeia CULT – Comissão da Cultura e da Educação

DG INTE – Direção Geral de Interpretação e Conferências DG TRAD – Direção Geral de Tradução

ENVI – Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar FdR – Feuille de Route

FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto IATE – InterActive Terminology for Europe

IMCO – Comissão do Mercado Interno e da Proteção dos Consumidores INTA – Comissão do Comércio Internacional

LC – Língua de chegada

LIBE – Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos LP – Língua de partida

MT – Memória de tradução

MTSL – Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos NI – Não-inscrito

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vii PA – Projeto de parecer (Projet d’avis)

PE – Parlamento Europeu

PR – Projeto de relatório (Projet de raport) PV – Ata (Procès-verbaux)

TA – Texto aprovado (Texte approuvé) TC – Texto de chegada

TP – Texto de partida

TRAN – Comissão dos Transportes e do Turismo TWB – Translator’s Workbench

UdTP – Unidade de Tradução Portuguesa UE – União Europeia

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viii

Índice

Agradecimentos ... iii

Resumo ... v

Lista de siglas e abreviaturas ... vi

Introdução ... 1

PRIMEIRA PARTE Descrição e apreciação... 3

1. Do MTSL ao Parlamento Europeu ... 4 1.1 A escolha e o porquê ... 4 1.2 O processo de candidatura ... 5 1.3 O Parlamento Europeu ... 5 1.3.1 A estrutura e a organização ... 5 1.3.2 Processo legislativo ... 6 1.3.3 O Multilinguismo ... 8

1.3.4 A Direção Geral de Tradução ... 9

1.3.5 A Unidade de Tradução Portuguesa (UdTP) ... 10

2. Descrição e apreciação do estágio ... 11

2.1 Seminários e formações gerais ... 11

2.2 Formações internas ... 12

2.3 Visitas e Missões ... 13

2.4 O processo tradutivo ... 15

2.4.1 Intervenientes no processo tradutivo ... 15

2.4.2 Traduzir em equipa ... 17

2.4.3 Fases do processo tradutivo ... 19

3. Especificidades da tradução no Parlamento Europeu ... 23

3.1 Ferramentas e recursos ... 23

3.1.1 Ferramentas de apoio à tradução ... 23

3.1.2 Bases de dados e memórias interinstitucionais... 24

3.1.3 Motores de busca e portais ... 26

3.1.4 Outros recursos ... 27

3.2 A problemática dos originais ... 27

3.3 A qualidade da tradução ... 29

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SEGUNDA PARTE Tradução e serviços linguísticos: casos práticos... 32

1. Projeto de terminologia ... 33 1.1 Requisitos ... 34 1.2 Processo ... 35 1.3 Problemas e soluções ... 36 1.4 Conclusão do projeto ... 38 1.5 Versão final ... 39

2. Tradução – Discussão de problemas e processos tradutivos ... 40

2.1 PV 864994 ... 40 2.2 OJ 923703 ... 44 2.3 PV 921388 ... 46 2.4 OJ 924720 ... 52 2.5 PV 923765 ... 54 2.6 PV 905960 ... 61 2.7 OJ 930788 ... 64 2.8 PA 924495 ... 67 2.9 PV 929618 ... 70 2.10 PV 925993 ... 74 2.11 PA 930473 ... 80 Conclusão ... 82 Bibliografia ... 84 APÊNDICES ... 86

Apêndice I - Lista de traduções efetuadas ... 87

Apêndice II – Motivação da candidatura ... 90

Apêndice III - Exemplo de Feuille de Route ... 91

Apêndice IV - Avaliação da qualidade da tradução ... 92

Apêndice V - Projeto de terminologia – versão final ... 93

Apêndice VI - Exemplos de tradução ... 100

PV 923765 ... 100

PA 930473 ... 104

PV 929618 ... 107

PV 899971 ... 109

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Anexo I - Certificado de início do estágio ... 112

Anexo II - Certificado de conclusão do estágio ... 113

Anexo III - Certificado do projeto de terminologia ... 114

Anexo IV - Declaração do chefe de unidade ... 115

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1

Introdução

Este relatório de estágio visa descrever e apreciar crítica e detalhadamente todos os momentos do estágio de tradução levado a cabo na Unidade Portuguesa da Direção Geral de Tradução do Parlamento Europeu, entre o início de janeiro de 2013 e o final do mês de março do mesmo ano.

Na base deste trabalho encontram-se os conhecimentos e capacidades técnicas adquiridos e desenvolvidos ao longo da Licenciatura em Línguas Aplicadas – Perfil Tradução e, especialmente, ao longo do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos. Adicionalmente, este trabalho baseia-se nas formações e conhecimentos adquiridos ao longo do estágio e num conjunto de leituras pertinentes para o tema, das quais destaco Experiences in Translation de Umberto Eco, Profession: Traducteur de Daniel Gouadec e diversos artigos científicos de Anthony Pym, Yves Gambier e Klaudia Gibová, pelas suas diferentes e interessantes perspetivas sobre a tradução em geral e no contexto das instituições europeias.

O objetivo deste relatório de estágio é dar a conhecer, em detalhe, o processo de estágio no Parlamento Europeu, os conhecimentos adquiridos ao longo do mesmo e a forma como estes se integram com as aptidões técnicas e científicas já existentes e o seu resultado prático. Mais ainda, este relatório pretende apresentar uma análise crítica e fundamentada dos processos tradutivos, incluindo a identificação de problemas e a procura das respetivas soluções, e das especificidades que caracterizam o trabalho efetuado ao longo do estágio.

Numa primeira parte é descrito o processo de candidatura e de formação, são referidas as principais características da instituição de acolhimento de modo a contextualizar todo o trabalho efetuado durante o estágio e a fundamentar as suas especificidades e são analisados os principais recursos utilizados na certificação da qualidade da tradução e na procura de soluções. Nesta primeira parte é também apreciado o processo tradutivo de forma detalhada, referindo todos os seus passos e intervenientes e é destacada a linguagem de especialidade e a avaliação da qualidade que excecionalmente se verificam nesta instituição.

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2 Na segunda parte deste trabalho são analisados alguns exemplos do trabalho terminológico e de tradução efetuado. Os exemplos são analisados da seguinte forma: contextualização, análise do texto de partida, identificação do problema, descrição dos processos de solução e de revisão e análise do resultado final, aplicando, assim, de forma prática toda a informação mencionada na primeira parte do relatório.

Partindo de uma visão pessoal e com uma perspetiva académica, este relatório pretende apresentar uma panorâmica crítica e apreciativa da experiência de tradução no Parlamento Europeu.

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PRIMEIRA PARTE

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1. Do MTSL ao Parlamento Europeu

Translation is the paradigm, the exemplar of all writing…. It is translation that demonstrates most vividly the yearning for transformation that underlies every act involving speech, that supremely human gift. Harry Mathews

1.1 A escolha e o porquê

Desde os tempos de estudante do ensino secundário, altura em que me dediquei a analisar os vários planos curriculares oferecidos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), que me chamou a atenção a informação sobre os estágios na União Europeia presente no website da faculdade. Entretanto, por diversos motivos, a ideia foi ficando esquecida.

Após concluir o primeiro ano do mestrado, a escolha do tipo e local de estágio é um passo de elevada importância que vai influenciar a qualidade da formação prática e da primeira experiência profissional no mundo da tradução. Com o incentivo de colegas, professores e também da família, cheguei à conclusão que estagiar no Parlamento Europeu era, sem dúvida, o complemento perfeito para uma formação académica dedicada à comunicação, às línguas e à tradução. Sendo uma oportunidade de pôr em prática, desenvolver e melhorar os conhecimentos teóricos adquiridos na área da tradução, esta experiência permite unir e pôr em prática os conceitos de Europa e de tradução associando-os claramente à noção de igualdade. Sabendo que a tradução é um dos principais elos de ligação entre os países e as culturas, permitindo a igualdade de conhecimento e de informação entre todos, estagiar no Parlamento Europeu é uma oportunidade única de trabalhar no epicentro da informação que chega a todos os europeus e ajudar a que esta seja compreendida por todos da mesma forma.

Consciente de que as experiências multiculturais são, sem dúvida, a melhor forma de compreender e conhecer a fundo a multiplicidade de ideais, formas de cultura, métodos de ensino e formas de vida que nos rodeiam, um bom tradutor deve procurar incluí-las na sua formação, pois são essenciais a uma prática tradutiva de alta qualidade. Assim, um dos principais atrativos deste estágio foi a possibilidade de trabalhar diariamente em

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5 documentos da máxima atualidade das grandes áreas de interesse europeu, tais como a economia e a política, sempre com o apoio de profissionais altamente qualificados e com um amplo acesso a recursos e a informação.

1.2 O processo de candidatura

Devido à sua dimensão e ao número reduzido de vagas relativamente ao número de candidatos, este estágio exige num processo de candidatura bastante prolongado e dividido em diferentes fases. Assim, numa primeira fase (entre 15 de junho e 15 de agosto de 2012) foram analisados aspetos da minha candidatura tais como a formação académica, a formação linguística e, essencialmente, a motivação da candidatura1. Em 7 de setembro teve início uma segunda fase do processo de seleção para os candidatos que cumpriam os requisitos pedidos. Neste ponto do processo é analisado o formulário de candidatura, os diversos diplomas e certificados comprovativos da formação e os resultados académicos, incluindo a descrição das diversas unidades curriculares frequentadas. Em novembro, os candidatos selecionados são notificados, vindo depois a receber uma carta de aceitação.

1.3 O Parlamento Europeu

1.3.1 A estrutura e a organização

Sendo uma das três principais instituições europeias, a par da Comissão Europeia (CE) e do Conselho Europeu, o Parlamento Europeu (PE) é uma das maiores assembleias democráticas do mundo e a única instituição da União Europeia eleita diretamente pelos seus cidadãos. Esta instituição, que representa cerca de 500 milhões de cidadãos dos 27 Estados-Membros, cada um com um número de assentos no hemiciclo proporcional à sua população, conta com 736 deputados que interagem em 23 línguas e em três locais de trabalho - Bruxelas, Estrasburgo e Luxemburgo.

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6 Devido à sua importância simbólica de elemento de reconciliação da Europa após as duas grandes guerras, Estrasburgo foi a cidade escolhida para sede desta instituição, sendo lá que mensalmente tem lugar a sessão plenária ao longo da qual são votados importantes documentos e ouvidas grandes personalidades da atualidade. No entanto, os trabalhos das diversas comissões parlamentares que compõem o Parlamento Europeu decorrem, na sua maioria, em Bruxelas, onde os deputados se reúnem em sessão plenária seis vezes por ano. Já a componente administrativa, de recursos humanos e, claro, os serviços de tradução desta instituição, estão sediados no Luxemburgo.

As diversas comissões parlamentares em que se divide o Parlamento Europeu são compostas por deputados dos vários grupos políticos. Cada uma destas comissões é competente quanto a uma determinada matéria de fundo, tal como o ambiente (Comissão ENVI), o mercado interno e a proteção dos consumidores (Comissão IMCO), os transportes (Comissão TRAN), as liberdades cívicas (Comissão LIBE), a educação e a cultura (Comissão CULT), entre outras.

Os deputados ao Parlamento Europeu agrupam-se em função das suas afinidades políticas, e não em função da nacionalidade, pelo que em cada grupo político se reúnem inúmeras nacionalidades e, consequentemente, várias línguas. Atualmente, existem sete grupos políticos nesta instituição. No entanto, os deputados que não se identifiquem com nenhum destes grupos políticos podem reunir-se no grupo dos não-inscritos (NI). Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o papel e os poderes do Parlamento Europeu mudaram radicalmente e este é agora um elo essencial no processo legislativo das políticas da União Europeia (UE). Para além do acordo do Conselho Europeu, a aprovação do Parlamento é agora incontornável na adoção da maior parte das diretivas e dos regulamentos europeus, sendo este processo legislativo conhecido por processo legislativo ordinário, anterior codecisão.

1.3.2 Processo legislativo

O processo legislativo ordinário parte de uma proposta elaborada pela Comissão Europeia (COM) que é, de seguida, enviada ao Comité das Regiões e ao Comité

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7 Económico e Social para que emitam um parecer, e ao Parlamento Europeu para que apresente a sua posição (aprovação com alterações, se pertinente / não-aprovação) sobre a proposta em questão. Dado que os domínios que são abrangidos pelos poderes legislativos da União Europeia se estendem a inúmeras áreas, para que o Parlamento Europeu se possa pronunciar de forma informada, recorre às suas comissões parlamentares e reencaminha cada proposta para a comissão parlamentar competente quanto à matéria de fundo da proposta em questão, de acordo com o Regimento do Parlamento Europeu (artigo 188.º, n. º 3):

(…) no caso de uma ou mais comissões permanentes serem competentes para conhecer de um assunto, uma delas será designada comissão competente quanto à matéria de fundo, e as outras comissões encarregadas de emitir parecer.

É nesta altura do processo legislativo que são criados os vários documentos a ser, posteriormente, traduzidos nas unidades linguísticas. As comissões parlamentares produzem documentos que servem de base à posição do Parlamento como alterações a outros documentos (AM), propostas de parecer (PA), pareceres definitivos (AD), ordens do dia (OJ) e atas (PV) das suas reuniões onde são debatidos os temas das suas competências, e projetos de relatório (PR). Depois de votados em sessão plenária, reuniões mensais onde estão presentes todas as comissões e todos os deputados ao PE, são elaborados documentos definitivos tais como relatórios (RR) que, após aprovação, passam a textos aprovados (TA).

Caso a posição do Parlamento e os documentos alterados sejam também adotados pelo Conselho da União Europeia, que poderá também incluir as suas alterações, e caso esta versão final, o documento consolidado (pois é composto por alterações das duas instituições), seja aprovado pela Comissão, a proposta será adotada em primeira leitura. No entanto, se uma das partes não concordar, o processo terá início novamente até que se chegue a um consenso. Uma vez que este é um processo bastante longo e dispendioso, quando as propostas não são aprovadas em segunda leitura é criado um

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8 comité de conciliação cuja função é encontrar um consenso entre as várias instituições (texto comum2) e levar à aprovação da proposta.

1.3.3 O Multilinguismo

Common European thought is the fruit of the immense toil of translators. Without translators, Europe would not exist; translators are more important than members of the European Parliament. Milan Kundera

De acordo com o Regulamento n. º 1/1958 que estabelece o regime linguístico da [então] Comunidade Económica Europeia, as suas línguas oficiais são todas as línguas oficiais dos seus Estados-Membros, fazendo desta a instituição mais multilingue do mundo. Atualmente existem no Parlamento Europeu 506 combinações linguísticas possíveis que são cobertas pelas inúmeras unidades linguísticas que compõem a Direção Geral de Tradução (DG TRAD).

No seguimento do princípio da igualdade e da transparência, todos os documentos oficiais do PE são publicados em todas as línguas oficiais da União Europeia e estão, na sua maioria, disponíveis para serem consultados pelos cidadãos dos seus Estados-Membros. Mais ainda, uma vez que qualquer cidadão da UE pode ser eleito para o cargo de deputado ao Parlamento Europeu, estes têm o direito de usar da palavra na língua oficial da sua escolha, pois não seria razoável exigir o perfeito domínio de uma qualquer língua estabelecida. Embora a maior parte dos deputados domine mais do que uma língua e chegue mesmo a elaborar documentos em línguas que não a sua, regra geral, este domínio da segunda língua não é suficiente aos trabalhos parlamentares. Respondendo à questão colocada por Pym (2004:2) «If the people producing the text could understand several languages, what do they need translations for?», é importante notar que o conhecimento passivo de uma língua pode ser suficiente para seguir um filme, um livro ou mesmo um discurso, mas é notoriamente insuficiente para debater

2

O texto comum é elaborado apenas pelo PE e pelo Conselho, não tendo a Comissão Europeia intervenção neste ponto.

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9 legislação e temas altamente especializados, com todo o rigor que este contexto europeu exige, tal como o mesmo autor refere mais tarde (idem, 2012:4):

An important consequence, for my concerns here, is that all citizens must thus not only be able to understand the languages of the laws (in which the role of translation is obvious) but should also have the languages necessary to ensure participation in the processes by which laws are authored.

Assim, a igualdade no acesso à informação e a igualdade de direitos de expressão apenas é possível com o trabalho dos serviços de tradução e de interpretação. Analogamente, qualquer cidadão tem o direito de se dirigir ao Parlamento numa língua oficial da sua escolha e de receber uma resposta nessa mesma língua.

A figura administrativa máxima dentro do Parlamento é o seu Secretário-Geral, atualmente Klaus Welle, e é também sua função garantir o multilinguismo integral em todas as sessões plenárias e demais reuniões. Deste modo, o volume de trabalho da Direção Geral de Tradução do Parlamento Europeu inclui não só os documentos legislativos, mas também inúmeros documentos não legislativos tais como as comunicações aos membros (CM), as petições e as questões orais (QO). A título de curiosidade, é interessante notar que em 2008 foram traduzidas mais de um milhão e meio de páginas pelos serviços de tradução desta instituição europeia.

1.3.4 A Direção Geral de Tradução

Os serviços administrativos do Parlamento Europeu estão divididos em dez direções gerais (DG) que estão a cargo do Secretário-geral do Parlamento. Atualmente, os serviços de tradução estão sob a alçada da Direção Geral de Tradução (DG TRAD), dirigida por Janet Pitt (Diretora Geral). As suas responsabilidades incluem a garantia de que todos os documentos parlamentares estão disponíveis em todas as línguas oficiais de acordo com a política de multilinguismo e a manutenção das ferramentas informáticas e bases de dados terminológicas necessárias ao elevado nível de qualidade desta direção geral.

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10 Esta direção geral divide-se em três direções, a Direção A, responsável pelo apoio e serviços tecnológicos para a tradução, a Direção B, responsável pela tradução e terminologia, e a Direção C, responsável pelos recursos. É no seio da Direção B, dirigida por Valter Mavrič (Diretor), que estão inseridas as unidades linguísticas das várias línguas oficiais desta instituição.

1.3.5 A Unidade de Tradução Portuguesa (UdTP)

(…) les professionnels partagent des outils, des problèmes, des solutions et mettent fin à un certain individualisme ou à une vision romantique du traducteur. Yves Gambier A Unidade de Tradução Portuguesa do Parlamento Europeu é composta por um chefe de unidade, Victor Bastos, cerca de 28 tradutores, 12 assistentes, uma documentalista e dois secretários, e está sediada no Luxemburgo.

Os tradutores desta unidade possuem três tipos de estatuto: funcionários, auxiliares (agentes temporários e agentes contratuais) e estagiários. Mais ainda, cerca de 30% do trabalho de tradução desta unidade é enviado para agências de tradutores freelance de forma a acompanhar o fluxo e volume de trabalho. Apesar de este ser um grupo de tradutores, as suas funções passam por bem mais do que apenas pela tradução, cumprindo estes profissionais também funções de terminólogos, revisores e especialistas, tal como veremos mais à frente. A equipa de assistentes (pool) existente nesta unidade apoia os tradutores com inúmeros passos do processo tradutivo e a documentalista da unidade está sempre disponível para apoiar os tradutores em matéria de documentação comunitária e para realizar pesquisas documentais.

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2. Descrição e apreciação do estágio

Após uma visão geral da instituição que me acolheu enquanto estagiária e do contexto político e profissional em que se insere, passo a descrever em pormenor o contexto em que se desenrolou o meu estágio nas suas várias componentes.

2.1 Seminários e formações gerais

Os estágios de tradução no Parlamento Europeu são organizados pela unidade Translation and Traineeships (T&T). Esta unidade, composta por quatro elementos, estabelece a relação entre o PE e os estagiários, apoiando-os em todas as questões relacionadas com o estágio, logo desde o processo de seleção. Uma vez no Parlamento, são organizadas diversas formações com vista à integração dos novos estagiários nos métodos de trabalho e à sua introdução aos recursos disponíveis. Assim, tive a oportunidade de frequentar as seguintes formações:

Welcome to the Towers of Babel

Introduction into the use of Translator's Workbench Introduction into the use of Tag Editor

Interinstitutional documentary searches

Brief introduction to IATE, the interinstitutional terminology database Euramis briefing

Terminology briefing/Terminology Projects for Trainees Horizontal services and Multilingualism

Planning and External Translation

Estas formações apresentaram-se como uma oportunidade para aprender a utilizar todas as ferramentas à disposição dos tradutores no PE, bem como uma forma de ficar a

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12 conhecer melhor outras unidades do Parlamento e de que forma o seu trabalho contribui para o elevado nível de qualidade do produto final de todo o processo tradutivo.

Na formação Welcome to the Towers of Babel foi apresentada uma panorâmica geral da organização do PE, do seu fluxo de trabalho e de todos os passos por que passam os textos e que levam à criação dos diferentes tipos de documentos com os quais trabalhamos. Apesar de já ter bastante experiência com as ferramentas Translator's Workbench e Tag Editor, tendo tido, ao longo do meu percurso académico, formação e experiência com as mesmas, estas formações provaram ser muitíssimo interessantes e proveitosas, uma vez que fiquei a saber como trabalhá-las nos contextos específicos dos documentos do Parlamento e em coordenação com os outros programas que estão à disposição dos tradutores. Outro ponto positivo foi a introdução às ferramentas e bases de dados interinstitucionais, IATE e Euramis, entre outras. Estas ferramentas abrem as portas a um mundo de informação completamente desconhecido a quem não trabalha nas instituições e muitíssimo útil aos seus tradutores.

Apesar de estes dias iniciais terem sido extremamente exigentes em termos de informação adquirida, todos estes conhecimentos viriam a ser úteis e necessários em determinado ponto do estágio e dei por mim a reler as minhas notas destas formações inúmeras vezes ao longo dos três meses passados no PE, na certeza de que encontraria lá a solução para determinada dificuldade.

Digno de nota foi também o seminário sobre a unidade de coordenação terminológica, tornando clara a importância do seu trabalho na manutenção e no constante melhoramento da IATE. Mais ainda, esta unidade compila ativamente ligações úteis para glossários, bases de dados e outros websites que facilitam o trabalho dos tradutores. Os últimos seminários ofereceram uma perspetiva mais abrangente das unidades administrativas e de planeamento do Parlamento e das suas estratégias de outsourcing.

2.2 Formações internas

Como complemento da formação geral e da estratégia de integração, a unidade portuguesa organizou diversas formações internas para os seus estagiários, para os pôr

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13 ao corrente das suas práticas particulares e para lhes dar a conhecer, não só o seu método de trabalho, mas também os membros da sua equipa. Destas formações destaco:

 O ABC da Unidade TP

Visão geral do processo de tradução no software de distribuição de fluxo de trabalho, T-Flow, tipos de documentos, pesquisa, servidores internos, memórias de tradução e alguns conselhos práticos;

 DocEP

Funções dos assistentes, preparação de diferentes tipos de documentos, uso e aplicação das várias memórias de tradução;

 Translator's Workbench  Cat4Trad

Formação sobre esta ferramenta de apoio à tradução, utilizada para a tradução de Ordens do dia (OJ).

Estas formações foram momentos de elevada importância uma vez que me permitiram ficar a conhecer de perto a unidade, os seus membros, e me ensinaram a tirar o maior proveito possível das inúmeras ferramentas disponíveis aos tradutores do Parlamento, bem como a perceber o trabalho de alguns tradutores e assistentes da unidade.

2.3 Visitas e Missões

Uma das componentes deste estágio é a oportunidade de visitar diversos locais de trabalho das instituições europeias, com o objetivo de dar a conhecer aos estagiários os diferentes métodos de trabalho e as áreas de ação das instituições e organismos europeus.

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14 Deste modo, também no Luxemburgo tive a oportunidade de visitar o Tribunal de Justiça da União Europeia, onde assisti à apresentação de um caso a um grupo de juízes, a Comissão Europeia no edifício Jean Monnet e o Centro de Tradução dos Organismos União Europeia (CdT). Este último presta serviços de tradução às agências europeias, uma vez que estas não possuem serviços de tradução próprios. Estas visitas foram uma ótima oportunidade para ficar a conhecer os serviços de tradução de outras instituições europeias e para perceber as diferentes necessidades e constrangimentos do processo tradutivo que advêm do contexto em que se inserem os seus documentos. Ainda, com estas visitas, tornaram-se claras as inúmeras possibilidades de trabalho nas instituições da UE.

No entanto, enquanto estagiária do Parlamento Europeu, o ponto alto desta componente do estágio foi as missões aos outros dois locais de trabalho desta instituição: Estrasburgo e Bruxelas.

Missão a Estrasburgo

Esta missão teve a duração de três dias e decorreu entre 5 e 7 de fevereiro. Ao longo destes dias, tive a oportunidade de assistir a vários momentos da sessão plenária em curso e de ouvir funcionários de diferentes Direções Gerais do Parlamento, entre elas a DG INTE (Interpretação e Conferências). Também durante esta missão, foi proporcionado aos estagiários um encontro com Rui Tavares, deputado ao Parlamento Europeu, que partilhou connosco a sua experiência e o seu dia-a-dia enquanto membro do PE.

Assistir à sessão plenária foi uma oportunidade única de ver, em primeira mão, os debates multilingues e as votações dos diversos documentos parlamentares, de perceber efetivamente o propósito de todo o nosso trabalho, e também de tomar consciência da grandiosidade e importância crucial dos serviços de interpretação.

Missão a Bruxelas

A missão a Bruxelas teve a duração de um dia, 19 de fevereiro, ao longo do qual tive a oportunidade de ouvir um representante do gabinete do Ombudsman (Provedor de Justiça Europeu) e de visitar o Parlamentarium, o museu do Parlamento Europeu, onde é possível ficar a saber mais sobre a sua história, estrutura e funcionamento. Além disso,

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15 durante esta missão fomos convidados a assistir a uma reunião da Comissão AFET, comissão parlamentar competente quanto aos assuntos externos, tendo sido esta uma das experiências mais interessantes para mim, pessoalmente, uma vez que o meu trabalho incidiu essencialmente sobre a tradução de documentos das comissões parlamentares.

2.4 O processo tradutivo

Dado o seu contexto altamente especializado de instituição europeia, o processo tradutivo do Parlamento Europeu pode ser considerado único, sendo apenas comparável aquele das restantes instituições europeias.

2.4.1 Intervenientes no processo tradutivo

Os intervenientes em qualquer processo tradutivo podem ser classificados em três grandes grupos: clientes, prestadores de serviços linguísticos e leitores. No caso da tradução efetuada nesta instituição europeia, estes são grupos muito bem definidos e com um grau de variação bastante reduzido.

Clientes

A carteira de clientes da DG TRAD é composta, essencialmente, pelos deputados ao Parlamento Europeu, pelas suas direções gerais, pelos órgãos administrativos e pelas comissões parlamentares. A grande vantagem deste grupo restrito é o facto de ambas as partes estarem a par das necessidades e dos métodos de trabalho da outra parte, o que torna o processo tradutivo muitíssimo mais fluído e eficaz, e reduz, se não elimina, desencontros de expectativas.

Prestadores de serviços linguísticos

Desde o momento em que é elaborada a primeira versão linguística de um documento até ao momento em que todas as versões linguísticas desse documento são

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16 disponibilizadas, este passa por várias fases levadas a cabo por diferentes profissionais. O primeiro contacto de um documento com o serviço de tradução é feito através da unidade de planeamento que recebe todos os pedidos de trabalho e os distribui pelas diferentes unidades linguísticas, não sem antes criar uma ficha de identificação interna do documento, a feuille de route (FdR) 3 da qual constam todas as informações relevantes, incluindo o prazo que é aqui estipulado de acordo com o fluxo de trabalho, com a urgência do documento e com a hierarquia que solicita o trabalho.

Uma vez na unidade linguística, o documento é recebido pelo chefe da unidade que o analisa e o atribui a um tradutor, ou o divide por vários, de acordo com o prazo do documento, a carga de trabalho de cada tradutor, as línguas de trabalho e as áreas de especialidade e, quando aplicável, a um revisor ou, caso seja necessário, reencaminha para outsourcing. Com o apoio do secretariado da unidade, o documento e a respetiva FdR surgem na aplicação de fluxo de trabalho utilizada pelo Parlamento Europeu, o T-Flow, da equipa de assistentes. A pool de assistentes é essencial ao bom funcionamento da unidade uma vez que é esta equipa que prepara os documentos a nível de formatação e de aplicação de memórias de tradução e, em seguida, os envia ao(s) tradutor(es) e, quando aplicável, ao revisor.

Existem na UdTP três tradutores que ocupam também a função de terminólogos, sendo estes responsáveis por atualizar e validar as pesquisas terminológicas dos vários projetos de terminologia que vão ocorrendo, com o objetivo de melhorar e aumentar a base de dados interinstitucional, IATE. Do mesmo modo, e de forma a assegurar sempre uma qualidade irrepreensível nos trabalhos que saem desta unidade, existem tradutores especializados em determinadas áreas, tais como o orçamento, a economia, os tratados europeus, entre outras. Por fim, determinados tradutores são também responsáveis por acompanhar e rever os trabalhos dos estagiários e dos tradutores mais recentemente recrutados para a unidade, transformando o processo da revisão num momento de aprendizagem e de partilha de ideias.

Os tradutores contam ainda com a ajuda muito relevante da documentalista da unidade, perita em pesquisa e em documentação europeia. Finalizada e revista, a nova versão linguística é enviada para o/a assistente que a preparou para ser feito o book-out e para

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17 que as memórias de tradução sejam enviadas para as bases de dados interinstitucionais. Finalmente, o documento é devolvido à unidade de planeamento que, por sua vez, o entrega ao cliente.

Leitores

Os primeiros leitores dos documentos serão, certamente, os deputados que solicitaram a criação da versão linguística em causa e os seus assistentes, com a finalidade de acederem à informação relativa às reuniões e aos procedimentos legislativos e parlamentares na língua da sua escolha. Posteriormente, e de acordo com o princípio da transparência e da igualdade de acesso à informação, a maior parte dos documentos parlamentares é disponibilizada para acesso público. Assim, o leque de leitores torna-se bem mais abrangente, incluindo todos os cidadãos da UE, e mesmo de países terceiros, que possam estar interessados no documento em causa.

2.4.2 Traduzir em equipa

L’image du traducteur enfermé dans sa tour d’ivoire, recevant les pages à traduir par un sas [pardon, un modem !] et les repassant, traduites, par le même sas, appartient au folklore. Gouadec, 2002 :199

Uma das grandes vantagens da tradução in-house em comparação com a tradução freelance é a possibilidade de partilhar o trabalho, as dúvidas, as diferentes especialidades e conhecimentos com os colegas de trabalho. Nesta unidade de tradução, isto é especialmente verdade dadas as diferentes especialidades, experiências, origens e conhecimentos de cada membro que a compõe, e a forma como os diferentes profissionais se organizam tornando o trabalho de todos muitíssimo mais rentável. De entre as inúmeras relações profissionais presentes nesta equipa, destaco as seguintes por serem as que experienciei mais de perto e as que mais contribuíram para a minha experiência na UdTP do Parlamento Europeu:

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18

Estagiários

Durante os meses em que estagiei no Parlamento Europeu, existiam na unidade portuguesa, para além de mim, um estagiário e uma estagiária, sendo que esta última já tinha iniciado o seu percurso no PE há três meses no momento da minha chegada, e com quem tive o privilégio de partilhar o gabinete.

Tendo já alguma experiência como estagiária da unidade, a minha colega de gabinete mostrou-se sempre completamente disponível para me introduzir aos vários passos do processo tradutivo, para me ajudar a encontrar caminhos e saber onde procurar as soluções neste contexto específico de tradução. Conforme o trabalho foi evoluindo, a relação foi-se tornando mais recíproca, uma vez que relíamos excertos do trabalho uma da outra quando em dúvida, procurávamos soluções em conjunto quando dificuldades maiores se apresentavam, e dávamos sugestões e opções quando a solução parecia menos óbvia.

Considero que a possibilidade de partilhar o trabalho e o processo tradutivo com alguém do mesmo meio e com conhecimentos semelhantes é imensamente proveitosa e enriquecedora para ambas as partes, uma vez que as experiências de ambas as partes são partilhadas, o trabalho torna-se mais leve e a qualidade aumenta exponencialmente.

Estagiário e revisor

Le traducteur et le réviseur sont conjointement et solidairement responsables du même produit et de sa qualité. (idem:206)

Uma das principais componentes deste estágio é a componente formativa e esta passa, em grande medida, pela relação estabelecida entre os estagiários e os seus revisores. Nesta unidade, os trabalhos elaborados pelos estagiários passam sempre por um processo de revisão que inclui uma discussão das alterações sugeridas e a respetiva clarificação.

Esta relação entre o estagiário e o revisor é essencial, na medida em que forma o estagiário para que o seu trabalho evolua constantemente, para que compreenda os diversos contextos dos documentos parlamentares e os procedimentos que retratam, e

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19 para que aprenda a reconhecer as suas fragilidades enquanto tradutor e receba sugestões de melhoria.

Embora, no final, os meus trabalhos tenham passado pelas mãos de cerca de dez revisores desta unidade linguística, destaca-se um pequeno grupo de tradutores com quem trabalhei mais de perto e que são os principais responsáveis pelo que aprendi enquanto estagiária do PE: a Lídia Rainho, a Elisabete Dias e a Isabel Leite, sendo esta última minha supervisora e, como tal, principal responsável pelo meu percurso enquanto estagiária.

2.4.3 Fases do processo tradutivo

Say what we may of the inadequacy of translation, yet the work is and will always be one of the weightiest and worthiest undertakings in the general concerns of the world. J. W. Goethe

Segundo Gouadec (2002:17-23), o processo tradutivo pode ser dividido em cinco fases que vou aplicar ao contexto do meu trabalho.

(1) acquisition de la traduction

Dado o âmbito da tradução efetuada na unidade linguística portuguesa do Parlamento Europeu, esta fase recai, essencialmente, não na unidade e nos seus membros, mas sobre na unidade de planeamento que interage diretamente com os deputados ou organismos do PE que solicitem traduções.

(2) préparation de la traduction ou pré-traduction

A preparação da tradução é uma fase essencial no processo tradutivo deste serviço de tradução, uma vez que a má preparação de um documento pode levar a erros gravíssimos na tradução e inviabiliza o seu uso futuro. Deste modo, os diversos passos desta fase são levados a cabo por dois ou três tipos de profissionais dentro da unidade: assistente, documentalista (quando necessário) e tradutor.

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20 Considerando que os documentos desta instituição devem seguir modelos previamente definidos, durante a fase de pré-tradução, é necessário criar uma versão em português do documento original através do modelo que corresponde aquele tipo de documento. Este processo é efetuado com a ajuda da ferramenta DocEP, que analiso em mais detalhe em 3.2.1. Dependendo do tipo de documento e do fluxo de trabalho de ambas as partes, este passo pode ser levado a cabo pelo tradutor ou pelo assistente.

Durante esta fase é também necessário verificar o correto funcionamento da memória de tradução automática criada pela unidade de planeamento (memória SPA) através do programa Twist (cf. 3.2.1) e, quando o documento o justifique ou o tradutor assim deseje, aplicar a memória e pré-traduzir o documento. Adicionalmente pode ser utilizada uma memória temática criada internamente na unidade como memória de referência, por exemplo, no caso da tradução de atas (PV) e ordens do dia (OJ), a memória temática OJ-PV.

Por fim, dado que é crucial que a terminologia e fraseologia sejam homogéneas em todos os documentos institucionais, antes de começar a traduzir é necessário analisar o documento e perceber que outros documentos lhe deram origem, pesquisar e abrir os referidos documentos para que na fase de tradução sejam utilizados como fonte para a confirmação de títulos e de terminologia.

(3) traduction proprement dite (transfert)

Enquanto estagiária, a fase de tradução levantou, por vezes, algumas dificuldades que a tornaram por um lado, menos fluída, e por outro, um processo de aprendizagem e de enriquecimento. Durante esta fase eram essenciais as ferramentas de pesquisa e as bases de dados disponibilizadas internamente no Parlamento, bem como o apoio dos colegas e revisores.

No entanto, embora diversos passos sejam virtualmente semelhantes, diferentes documentos levavam a uma diferente abordagem tradutiva. As ordens do dia (OJ) são documentos que estabelecem os temas a ser abordados em determinada reunião, a ordem pela qual vão ser abordados e a data e local dessa mesma reunião. Deste modo, estes documentos são constituídos essencialmente por títulos de processos legislativos, nomes de instituições ou agências, e o seu conteúdo é bastante normalizado, podendo

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21 este género de tradução ser classificado como tradução documental, de acordo com Nord, razão pela qual é utilizada a ferramenta Cat4trad na sua tradução. Esta ferramenta aplica o modelo do documento, pré-traduz o texto automaticamente com base na sua memória de tradução, destacando os segmentos para os quais não encontrou tradução, e permite a visualização do documento com o seu aspeto final permitindo ao tradutor e revisor a alteração de qualquer segmento do mesmo com um simples clique. No que diz respeito à tradução de atas (PV), o tipo de texto e o seu processo tradutivo são um pouco diferentes. Dependendo do seu autor e do teor e da relevância da reunião, as atas podem ser documentos também bastante modelizados ou, por outro lado, mais descritivos, sendo constituídos por segmentos de texto livre em referência a debates específicos ao contexto da reunião continuando, no entanto, a ser alvo de um tipo de tradução documental. Contrariamente, a tradução de alterações (AM) 4 ou de projetos de parecer (PA) com alterações, cumpre a função instrumental, uma vez que este texto, depois de votado e de criada uma versão final com as alterações que tenham sido aprovadas, vai tornar-se num regulamento ou numa diretiva vinculativos a servir de base legislativa nos vários Estados-Membros. Deste modo, estes documentos exigem um cuidado especial em termos terminológicos, para evitar ambiguidades ou erros de interpretação que tenham impacto no seu caráter legislativo. Para a tradução destes documentos é utilizada a primeira versão do documento que está a ser alterado como ponto de partida e todos os documentos relativos ao tema para confirmação da terminologia utilizada na legislação.

(4) post-traduction (contrôles, corrections)

Seguindo os passos sugeridos pela Norma europeia de qualidade EN15038:2006, nesta fase, o primeiro passo do meu processo tradutivo era a aplicação do corretor ortográfico do MS Word seguida da comparação, lado a lado, das duas versões linguísticas para retificar qualquer erro de formatação causado pela segmentação do TWB e para confirmar a presença de todos os segmentos em ambas as versões. O passo seguinte passava por uma revisão pessoal analisando, em paralelo, ambas as versões linguísticas. Mais tarde, relia a versão portuguesa do documento para evitar segmentos com

4

As AM são documentos que partem de textos já existentes e incluem, suprimem ou modificam partes do mesmo como forma de melhoria e de aplicação de sugestões para que o documento possa ser aprovado pelo PE.

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22 fraseologias influenciadas pela língua do texto de partida (TP) ou qualquer falha de sentido.

Terminados estes passos de releitura e revisão pessoal, entregava uma versão impressa da versão portuguesa ao/à revisor(a) do documento, destacando o seu número de Feuille de Route e o prazo de entrega. Assim que possível, tinha lugar um momento de discussão das alterações sugeridas pela revisão, ao que se seguia a aplicação das mesmas, pela minha parte, ao documento final. Ainda antes de dar saída do documento, efetuava um novo controlo ortográfico.

Por fim, o trabalho era enviado para a equipa de assistentes.

(5) Mise en forme et livraison

Os últimos passos do processo tradutivo eram efetuados pela equipa de assistentes que corrigia qualquer problema de formatação que o documento pudesse ter, passava novamente o corretor ortográfico, adicionava a versão bilingue do documento às bases de dados e memórias de tradução internas e interinstitucionais, limpava o documento através da ferramenta TWB e fazia o book-out, devolvendo o documento à unidade de planeamento que, por sua vez, o devolvia a quem havia solicitado a sua tradução.

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23

3. Especificidades da tradução no Parlamento Europeu

Traduzir no Parlamento Europeu é uma experiência que se distingue claramente de todas as demais experiências de tradução devido a todas as especificidades inerentes ao seu contexto político e europeu. Neste próximo capítulo passo, assim, a analisar e descrever as características distintivas desta experiência de tradução.

3.1 Ferramentas e recursos

O uso de ferramentas de apoio à tradução, de programas informáticos, de memórias de tradução, de dicionários e bases de dados online tem vindo a proporcionar um aumento da produtividade dos tradutores e da qualidade do seu trabalho. Em especial no Parlamento Europeu, onde é exigido um elevado nível de qualidade para o elevado volume de trabalho, estas ferramentas são essenciais ao processo tradutivo e, salvo raras exceções, são utilizadas de forma generalizada pelos seus tradutores. Assim, passo a descrever brevemente as principais ferramentas e recursos com que trabalhei ao longo do meu estágio.

3.1.1 Ferramentas de apoio à tradução

Translator’s Workbench (TWB)

Esta é a ferramenta CAT utilizada neste momento pela Direção Geral de Tradução do Parlamento Europeu para a tradução de grande parte do seu trabalho. Embora existam já versões mais recentes, dada a dimensão da DG TRAD e os inúmeros programas informáticos instalados nos seus sistemas, a introdução de uma nova ferramenta exige anos de testes e de acertos de compatibilidade e organização de formações para os seus inúmeros utilizadores. Deste modo, nos últimos anos, tem vindo a ser preparada e testada a mudança para a ferramenta SDL Trados Studio e serão feitas este ano as primeiras instalações piloto.

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24 O TWB é uma ferramenta que permite trabalhar no próprio ficheiro do documento, segmentando-o e aplicando uma memória de tradução principal e, quando desejado, uma memória de tradução de referência. Para a aplicação das memórias de tradução, este programa é utilizado em simultâneo com a ferramenta Twist que permite a manipulação das memórias de tradução criadas automaticamente pelo sistema para cada documento. A sua principal falha, do meu ponto de vista, é a incompatibilidade com alguns tipos de formatação, alterando, nomeadamente, os segmentos a negrito ou itálico exigindo uma revisão adicional no final da tradução.

Cat4Trad

Esta ferramenta é utilizada na unidade portuguesa apenas para a tradução de Ordens do dia (OJ), dado o seu cariz altamente normalizado, seguindo frases modelo. Esta ferramenta possui o seu próprio ambiente de trabalho e permite a visualização do documento com o seu aspeto real. Baseada nas suas memórias de tradução, esta ferramenta faz uma pré-tradução do documento e realça, a vermelho, os segmentos para os quais não encontrou resultados. Para traduzir qualquer segmento basta clicar no mesmo e para visualizar a versão original, basta também um simples clique no segmento em questão.

Uma das grandes vantagens desta ferramenta é o facto de não exigir a preparação dos documentos através dos modelos e das macros do MS Word, nem a limpeza do mesmo no final da tradução, criando automaticamente a versão final. A revisão é também feita no próprio programa poupando-se, assim, as impressões dos documentos. Mais ainda, esta ferramenta permite consultar as principais memórias de tradução e bases de dados interinstitucionais sem sair da página em que estamos a trabalhar.

3.1.2 Bases de dados e memórias interinstitucionais

Euramis

Criado pela Comissão Europeia em 1995, o Euramis é um repositório que agrupa memórias e bases de dados alimentadas pelas diferentes instituições sendo um ótimo exemplo da cooperação a nível interinstitucional. Esta ferramenta permite a pesquisa em

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25 todas as combinações linguísticas, apresentando os seus resultados em segmentos que identificam claramente a sua origem e data de criação para que o tradutor possa avaliar a sua fiabilidade e atualidade.

Devido à sua amplitude, esta é a ferramenta que apresenta mais resultados, pelo que é uma das ferramentas que mais utilizei durante o meu estágio. A sua única desvantagem em relação a outras ferramentas semelhantes é o facto de não possuir um atalho no MS Word e de, devido à sua dimensão, demorar mais alguns segundos a apresentar resultados.

FullDoc

Esta ferramenta do Parlamento Europeu permite a consulta de todos os seus documentos em formato integral, ou em excertos, em formato bilingue, em todas as suas versões linguísticas. Permite não só efetuar a pesquisa diretamente no programa, mas também aceder a resultados diretamente a partir do MS Word, sendo necessário apenas selecionar o termo ou expressão que desejamos pesquisar e clicar no ícone do FullDoc. Os resultados são, assim, apresentados por data de publicação ou de relevância do tipo de documento, conforme o utilizador escolher, e os excertos onde surja a expressão pesquisada são apresentados em visualização bilingue.

A grande vantagem desta ferramenta é a rapidez com que permite fazer a pesquisa, não sendo necessário copiar ou rescrever o segmento, nem sair do documento em que estamos a trabalhar. O FullDoc foi a ferramenta que utilizei com mais frequência ao longo do meu estágio para a pesquisa de frases modelo e de segmentos normalizados, uma vez que apresenta diferentes categorias de documentos permitindo-me saber qual o grau de fiabilidade dos resultados apresentados. Por outro lado, não tem a amplitude do Euramis uma vez que apenas apresenta resultados para documentos do Parlamento.

IATE – InterActive Terminology for Europe

A IATE, criada em 1999, é uma base de dados terminológica multilingue interinstitucional que agrupa o trabalho de nove instituições comunitárias e conta já com cerca de nove milhões de termos.

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26 Esta ferramenta é especialmente útil para perceber o uso de determinados termos em contexto, a sua fiabilidade e os domínios em que costumam surgir, tendo sido muito útil ao meu trabalho, quando em dúvida relativamente a termos de domínios específicos. No entanto, permite apenas a pesquisa de entradas terminológicas e não de segmentos sendo, por isso, um tipo de ferramenta diferente das anteriormente mencionadas.

Eur-Lex

Esta base de dados oferece acesso aos documentos jurídicos que definem o direito da União Europeia, de forma pública, permitindo a visualização do website e dos documentos em todas as línguas oficiais da União Europeia. À semelhança do FullDoc, esta ferramenta permite a visualização bilingue dos documentos nas línguas da nossa escolha, oferecendo assim a possibilidade de analisar excertos de forma comparativa em duas versões linguísticas diferentes. Adicionalmente, esta ferramenta permite descarregar os seus documentos em inúmeros formatos e é atualizada diariamente. Ao longo do meu estágio, utilizei esta ferramenta, essencialmente, para pesquisar terminologia do domínio do direito ou citações de documentos legislativos.

3.1.3 Motores de busca e portais

Quest

Este é um motor de busca que efetua pesquisas simultaneamente nas bases de dados Euramis, FullDoc, IATE e Eur-lex. A sua grande vantagem é a apresentação de resultados para as quatro bases de dados a partir de uma só pesquisa, mas o tempo de pesquisa é também mais elevado do que o normal, pelo que apenas recorri a este motor de busca quando a pesquisa no FullDoc e Euramis não me apresentava os resultados desejados, ou quando necessitava de confirmar o mesmo resultado em várias fontes.

Portal interno da UdTP

O portal da unidade é uma ferramenta extremamente útil aos seus membros, uma vez que permite o acesso aos vários recursos disponíveis através de atalhos no próprio portal

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27 e pode ser personalizado para apresentar a cada tradutor os recursos mais convenientes. Mais ainda, este portal tem um índice alfabético no qual podem ser encontrados todos os links necessários a qualquer tipo de pesquisa de legislação, documentos, agências, instituições, glossários, ou qualquer outro tema que possa surgir em dúvida no decurso do trabalho da unidade.

3.1.4 Outros recursos

DocEP

O DocEP é um conjunto de macros no programa MS Word que permite a criação de documentos baseados nos modelos do Parlamento Europeu e a sua recuperação e manipulação nos servidores da DG TRAD através do número de Feuille de Route. É a partir desta ferramenta que todos os documentos são preparados e criados e é, de facto, bastante útil ajudando na realização de vários passos e evitando erros. Para além disso, o MS Word está equipado com macros que permitem a consulta dos nomes dos deputados, das comissões parlamentares e das agências europeias nas várias línguas oficiais sem sair do documento em que se está a trabalhar.

T-Flow

Esta aplicação é utilizada para gerir o fluxo de trabalho da unidade permitindo a cada tradutor e assistente receber e dar saída dos seus documentos e saber exatamente que trabalhos lhe foram alocados, quais os seus prazos, o número de páginas, a língua de partida, os outros membros da unidade envolvidos no trabalho (revisor, tradutor, assistente) e aceder ao documento e à sua Feuille de Route.

3.2 A problemática dos originais

Uma das grandes problemáticas da tradução no Parlamento Europeu é a problemática dos originais. Apesar da extensa política de multilinguismo desta instituição, os deputados dentro das comissões parlamentares tendem a organizar-se em grupos de trabalho utilizando uma língua comum, tal como é mencionado por Anthony Pym

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28 (2001:4) «Further, within the actual operations of even the most multilingual institutions, most technicians and experts converse freely in just one or two languages, often non-native to non-native, in the interests of efficiency.». De outro modo, o tempo de elaboração de qualquer pesquisa ou documento aumentaria exponencialmente com o aguardar da tradução de cada parte do trabalho de cada um. Deste modo, a maior parte dos documentos que chega à DG TRAD foi elaborada em inglês, francês ou alemão, muitas das vezes por relatores não-nativos da língua em questão.

Embora na maior parte dos casos esta questão seja visível mas não problemática, noutros, as marcas da língua nativa do autor estão bem presentes, sendo mesmo possível justificar a origem de certas ambiguidades com a confusão com a sua língua materna, caso com que também se deparou Anthony Pym (idem):

So I was led to read the text as referring back to an unseen Italian text, probably a text that existed only in the mind of the sender. […] the hermeneutics have to discover a pre-textual separation of languages: I am required to believe that the writer was thinking in Italian prior to writing in English, and that the second language was supposed to cover the semantic space of the first.

Em casos extremos de documentos com menos importância que são, por vezes, delegados a assistentes ou estagiários menos experientes dentro da comissão parlamentar, a qualidade do texto de partida pode ser comprometida seriamente impedindo a compreensão da mensagem pretendida, tal como acontece no caso que descrevo na segunda parte de relatório, no ponto 2.10.

I had to project my mind back and formulate hypotheses about the way the letter was produced; I had to attempt what I would like to call basic textual archaeology. […] the hermeneutic archaeology of the multilingual text allows outcomes that are probabilistically correct even in the absence of firm knowledge of language systems. (idem:5)

O tradutor assume um papel de investigador ou mesmo de arqueólogo tentando decifrar todos os contextos que deram origem a determinado texto, podendo assim interpretá-lo melhor e chegar mais perto da mensagem intendida pelo seu autor.

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29 3.3 A qualidade da tradução

O serviço de tradução do Parlamento Europeu prima pela elevada qualidade do seu trabalho o que passa também, necessariamente, pelo elevado grau de qualidade da formação que oferece aos seus estagiários e tradutores, sendo o processo de revisão um dos momentos cruciais desta formação.

Logo numa das primeiras reuniões com a minha supervisora e coorientadora deste relatório, foi-me apresentado o seu modelo de avaliação da qualidade dos trabalhos que revê 5. Este modelo, dividido em três fases, foi a base do meu trabalho enquanto estagiária na DG TRAD e continuará a ser a minha base de trabalho ao longo da minha vida profissional. Sendo um modelo simplificado, permite a cada tradutor adaptar as várias fases aos seus próprios critérios de qualidade e métodos de trabalho podendo, assim, ser utilizado para inúmeros tipos de trabalho em contextos diversos, exigindo, no entanto, o cumprimento do que é essencial a um processo tradutivo de qualidade 6. Numa primeira fase, o tradutor deve analisar o original e compreendê-lo plenamente. Trata-se, no caso vertente, da compreensão do texto em contexto. Apenas assim será possível traduzir de forma correta a mensagem presente no original, respeitando o respetivo registo, sem correr o risco de transmitir ideias diferentes das pretendidas no original. Deste modo, sempre que surgia qualquer dificuldade neste passo, recorri à ajuda de colegas ou dos revisores ainda antes de dar qualquer outro passo. Mais tarde, esta compreensão plena do original era testada e avaliada durante o processo de revisão. De seguida, e ainda antes de começar a traduzir, o tradutor deve efetuar um trabalho preparatório que passa pela investigação de documentos de referência e da terminologia adequada e pela aplicação dos modelos corretos. Também este trabalho era discutido no processo de revisão, com vista a confirmar a fiabilidade da informação utilizada como base da tradução e a melhorar, sempre que possível, este processo de pesquisa.

5 Original disponível em apêndice (cf. apêndice IV)

6

É de notar que um modelo semelhante tinha já sido apresentado em diversas unidades curriculares ao longo da minha formação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No entanto, aqui vou apenas referir-me à versão utilizada no Parlamento, por ser esta a sua base de avaliação no processo de revisão.

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30 Por fim, o processo de tradução era avaliado de duas perspetivas: ao nível estrutural, ou seja, o respeito pelas convenções linguísticas, gramaticais e lexicais, o que está intimamente ligado ao outro nível de análise, o nível semântico, ou seja, a capacidade de transmitir o sentido do original, mesmo que em determinados casos tal implique um certo afastamento da sua estrutura.

3.4 O Parlamentês

(…) the overall ensuing Pan-Europeanization process and lingering globalization tendencies have profoundly influenced the development of European law and its style, thereby the ways of how language in particular EU national legislations is materialized have been affected. Gibová, 2009:145

Tal como afirma Gibová, o uso da língua no Parlamento Europeu é um uso bastante específico dado o seu contexto, podendo mesmo ser considerado uma linguagem de especialidade com características diferenciadoras em relação à linguagem padrão. O lema dos serviços de tradução do Parlamento, segundo o diretor da Direção B da DG TRAD, Valter Mavrič, é «We create originals through translation», deixando claro que o objetivo deste serviço não é criar traduções, mas sim versões linguísticas de um mesmo documento, sendo cada uma destas versões considerada um documento original e vinculativo no seu cariz legislativo, tal como é referido também por Gibová (iden:147), «Neither from a legal point of view is there a distinction between the original and its translation. Both texts are originals of the legislative instrument with the same degree of authenticity as the other language versions.»

Deste modo, o tipo de linguagem utilizada nestes documentos deve ser o mais neutra possível de modo a evitar a confusão entre conceitos jurídicos nacionais e europeus e a homogeneizar a terminologia nas várias línguas oficiais. Também Gibová estudou esta problemática e analisa o trabalho do tradutor das instituições da seguinte forma:

Therefore, the translator should refrain from a literal translation of the source text (and favour legal language conventions of the source text in this

Referências

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