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Aspectos Jurídicos do Bem-Estar Animal

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Academic year: 2020

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ASPECTOS JURÍDICOS

DO BEM-ESTAR

ANIMAL*

PEDRO PAULO DAMACENA E SILVA** NEIRE DIVINA MENDONÇA***

O

objeto deste trabalho é o Bem-Estar Animal, e sua relação nos diferentes campos do Direito. O interesse sobre o tema partiu da análise sobre a crescente demanda por alimentos de qualidade, asseguradas pelo uso das práticas de Bem-Estar nos animais de produção, assim como a preservação do ambiente onde vivem os animais. Para tal, faz-se necessário uma série de regras e procedimentos a serem seguidos, objetos estes tu-telados no Direito.

O trabalho tem como objetivo demonstrar a amplitude do tema, e como são pro-jetados seus efeitos no Ordenamento Jurídico, e, sobretudo informar o público sobre a reali-dade dos animais e o que é feito para o seu amparo.

Resumo: o presente estudo buscou relacionar os conceitos e informações conhecidas sobre

o Bem Estar Animal e sua relação com os diferentes campos do Direito, demonstrando o que existe em matéria de leis e outras espécies normativas em vigor que amparam os ani-mais no ordenamento jurídico brasileiro e as influências dos ordenamentos estrangeiros na formação de diretrizes mais eficazes na aplicação das práticas de Bem Estar tanto nos animais de produção, como aos demais animais domésticos e selvagens. Foi verificada por fim, a aplicabilidade do Direito à Vida, que em uma série de desdobramentos, ga-rante ao Animal a capacidade de ser representado em juízo, assim como ter assegurado um meio ambiente equilibrado.

Palavras-chave: Bem Estar Animal. Direito. Aplicabilidade.

* Recebido em: 11.08.2014. Aprovado em: 20.08.2014.

** Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Advogado. E-mail: ppdslol@gmail.com.

*** Mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Docência Universitária pela PUC Goiás. Professora na PUC Goiás. Chefe da Escola de Direito da Faculdade Cambury. Professora na pós-graduação lato sensu da PUC Goiás e Rede Juris. E-mail: neire.jur@gmail.com

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CONCEITO DE BEM-ESTAR ANIMAL E BREVE HISTÓRICO Conceito

 

O Bem-Estar se define por uma gama bastante vasta de conceitos. É pertinente a apresentação dada por Hughes (1976)1: ‘’um estado de completa saúde física e mental, em

que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia”. Na mesma seara, Lemos (apud BROOM, 1993, p. 80) traz: “o estado físico e psicológico de um animal em suas tentativas de se adaptar a seu ambiente”.

Interessante observar, que o Bem-Estar é uma forma de manter, harmoniosamente a interação do animal com aquilo que o cerca. Assim como no Homem, a higidez física e psicológica é o produto do meio que cerca o indivíduo, ou seja, se existe o animal-presa na natureza, ele seguirá seu instinto de se esconder. Da mesma maneira, há o exemplo da galinha que naturalmente, se esconde para colocar os seus ovos.

A análise aprofundada dos conceitos apresentados traz à tona a amplitude da har-monia e das necessidades mencionadas. Dentre as necessidades, pode-se aferir que além das físicas ou mentais, existe aquela referente à capacidade do animal realizar ações naturais, ou seja, qualificadoras do comportamento daquela espécie, por exemplo, o fato de um suíno chafurdar na lama, ou uma galinha ciscar na terra.

O Conjunto físico, mental e o “telos” conforme denominam os autores, essa capa-cidade de realizar as atividades naturais da espécie, formar o ideário básico do conceito de Bem-Estar2.

Dentre outras formas de se explicar o assunto, foram criadas as denominadas 05 Liberdades, abstraídas de conceitos anteriores, onde de forma mais específica enumera as condições indispensáveis à higidez do animal. São elas: Ausência de fome e sede; Ausência de desconforto; Ausência de dor, ferimentos e doenças; Liberdade para expressar seu comporta-mento normal; Ausência de medos e angústias.

Dessa forma, é válido afirmar que o Bem- Estar Animal é a reunião de elementos tanto no aspecto físico, mental e externo que visam garantir ao animal uma vida livre de mo-léstias e possibilitem ao mesmo o exercício pleno de todas as suas faculdades.

HISTÓRICO

Historicamente, A relação Homem-Animal surge com a própria história humana, que enquanto evoluía sua capacidade racional, era dependente da força dos animais e que por meio do contínuo processo de domesticação destes, foi mudando sua natureza nômade e extrativista, para uma mais sedentária, dedicada à pecuária e a agricultura em terras fixas, extraindo desses locais além do alimento, meios de proteção e aprimoramento das atividades agropastoris pela cooperação ente homem e animal, como o caso do uso dos lobos domesti-cados, para o pastoreio de ovelhas (JORDÃO, FALEIROS, AQUINO NETO, apud BIAN-CHI, VILLELA, 2005; MOLENTO, 2005).

Com a proximidade constante entre as espécies, foram se formando laços cada vez mais íntimos. Nas primeiras Grandes Civilizações, eram atribuídos aos animais grande im-portância simbólica e religiosa, dotando-os de entidades de poderes sobrenaturais, representa-ções do poder dos deuses e dádivas concedidas à humanidade. Foi o caso do Egito Antigo, que

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com sua religião politeísta, adorou muitos deuses como Hórus, meio humano, meio falcão e Anúbis, meio humano meio cão. No Egito, havia também um culto especial a figura dos felinos, que eram companhias constantes dos faraós, sendo tratados com imenso respeito e admiração, chegando até mesmo a possuírem uma vida melhor que a de outras pessoas. Eram preservados ao extremo, como forma de honrar os deuses, chegando ao extremo de serem mumificados após sua morte (MOTA; BRAICK, 2002, p. 30-9). Em outros povos como na Grécia, os animais também eram vistos como representação de um poder superior, como a Águia de Zeus, e como forças da natureza que provocavam o medo e criavam inúmeras histórias sobre o desconhecido e o fantástico. São exemplos a história da Mantícora, do Leão de Neméia, do Basilisco, da Quimera, da Esfinge e muitos outros (STAHEL, 2000, p. 123). Foi a partir da Roma Antiga, no entanto, e os jogos de Gladiadores, que começa-ram a surgir as primeiras preocupações com o Bem- Estar e a condição dos animais, que se consolidaram com o advento do Cristianismo, que apesar de ainda prezar mais pela figura do Homem, e a preservação de sua alma, pregava a preservação e o respeito pelos outros seres vivos, pregado em especial por São Francisco de Assis. A Igreja Católica só passou a aceitar o total respeito aos animais posteriormente no entendimento da encíclica Solicitudo Rei Socialis do Papa João Paulo II (SINGER, 2010, p. 278-88).

No avançar dos séculos, passando pelo Renascentismo e o Iluminismo, a grande re-descoberta do homem, como o centro do universo e único pensante dentre os outros animais, abalou consideravelmente o ideal de conservação das outras formas de via, fortalecendo cada vez mais a teoria do Especismo, que pregava a submissão de todas as outras espécies animais ao jugo do Homem. Não obstante o fortalecimento de tais crenças, a crescente industrializa-ção nas referidas épocas levaram ao desenvolvimento avançado dos estudos em Biologia, Físi-ca e outras matérias, o que levou muitos cientistas a iniciarem e firmarem suas teses, baseadas na experimentação em animais.

Após a Segunda Guerra Mundial devido ao crescimento populacional, persiste nos dias atuais a busca por alimentos de qualidade, motivo este que levou o estudo do Bem Estar a um patamar de grande seriedade, levando os países a adotarem políticas de maior restrição à entrada de produtos de origem animal e vegetal; passaram a elaborar também, uma série de regulamentos, de tratados a convenções internacionais sobre o manejo e abate de animais de produção.

O Poder Público Brasileiro, ciente do potencial de produção e exportação do País, atua por intermédio do Ministério da Agricultura, a regularização dos estabelecimentos ex-portadores, como também é responsável pela fiscalização e penalização dos produtores e em-presas que não adotam os padrões legais fixados.

CORRENTES DOUTRINÁRIAS E APLICAÇÃO DO DIREITO

Antes de qualquer consideração sobre leis e regras aplicáveis ao assunto em questão, é válido tecer alguns comentários sobre correntes doutrinárias que de forma considerável, podem gerar reflexos bastante distintos à aplicação do Direito dependendo de sua adoção.

Em um ramo comum da tutela dos animais, que é o denominado Protecionismo, ocorre uma bifurcação em Protecionismo Animal e Bem-Estar Animal. A primeira vertente é de linha mais radical, cujo objetivo é a total libertação dos animais em qualquer âmbito, seja na produção ou nos testes e experiências científicas, propondo a observância de direitos

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essenciais tanto ao homem como aos demais não-humanos, sejam eles liberdade, vida e a igualdade (TETÜ, 2009, p. 207).

Em contrapartida, a segunda teoria é pautada em uma abordagem moral, associada à sustentabilidade e a eficiência na cadeia produtiva, onde os animais devem ter seu sofrimen-to reduzido ao máximo, proporcionado por um ambiente hígido e em sua morte, a maior dignidade, rapidez e ausência de dor, sendo que o Brasil tem esta Teoria como a dominante, até mesmo por motivos claros, vez que é um país essencialmente agrário exportador, cujo potencial produtivo é superior até mesmo de muitos países desenvolvidos. Esse caráter eco-nômico é o que torna os animais objetos de direito:

Quando os organismos são tratados como se fossem máquinas, ocorre um desloca-mento ético – a vida passa a ser considerada como tendo valor instrumental e não um valor intrínseco. A manipulação de animais para fins industriais já teve impor-tantes implicações éticas, ecológicas e de saúde.

A visão reducionista dos animais como máquinas remove todos os limites que re-sultam de preocupação ética em relação à maneira como eles são tratados visando a maximização da produtividade. No setor de produção industrial de animais de corte, a visão mecanicista predomina. Por exemplo, o administrador da indústria de carnes declara que a porca reprodutora deve ser considerada e tratada como uma valiosa peça de maquinaria, cuja função é ejetar leitões feito uma máquina de pro-duzir salsichas (TETÜ apud VANDANA, 2009, p. 208).

Portanto, a moral e a ética para com os outros seres vivos vão apenas ao ponto em que diferencia os animais que são usados para a alimentação e os não comestíveis. Apoiado no antropocentrismo e a necessidade de sobrevivência, como espécie dominante no planeta, o aparato jurídico do Estado legitima o abate dos animais de produção, sendo que infelizmente ainda são esquecidas as práticas mínimas de não sofrimento e os demais aspectos éticos, que na visão abolicionista devem ser respeitados, enquanto o animal se enquadrar como ser vivo.

LEGISLAÇÃO EXISTENTE E REFLEXOS NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO

A proteção ao animal no Brasil atualmente, tem em sua maior tutela no Capítulo VI da Constituição Federal de 1988, especificamente no artigo 225 ‘’caput’’ e § 1° que con-sagra a proteção plena ao meio ambiente e todas suas formas de vida, sendo legítimos o Poder Público e Coletividade responsáveis pela sua manutenção (LENZA, 2010, p. 941). Na esfera infraconstitucional, é cediço destacar algumas regras elaboradas ao longo dos anos em nosso ordenamento, como também, algumas influências globais. Num primeiro momento, foi criado o Decreto n° 24.645 de 1934, que tipificou o que seriam os maus-tratos com animais, estabelecendo ainda as respectivas sanções no caso de descumprimento de tais medidas.

No ano de 1978, foi apresentada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais à UNESCO, que estabeleceu práticas gerais de proteção e garantia aos seres

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não-humanos de serem sujeitos de direito, não podendo portanto serem privados de seu habitat, de sua vida e devem ser preservados a todo custo, sendo o Brasil signatário. Seguindo a evolução das políticas de sustentabilidade e proteção, foi aprovada a Lei n° 9.605 de 1998, que versa sobre os crimes ambientais, sendo amparados tantos os animais silvestres como domésticos, vedando a experimentação científica, agressões e demais for-mas de crueldade com estes de certa forma, reforçando ainda mais as demais legislações como o Decreto n° 24.645.

Na Produção Animal, temos por fim a atuação do Ministério da Agricultura na elaboração de medidas voltadas especificamente às práticas Bem-Estaristas como, por exem-plo, a Instrução Normativa n° 56, que regulamenta a fiscalização, registro e controle de es-tabelecimentos voltados para a criação de aves; para os bovinos foi elaborado o Decreto lei Nº 202/2005, que trata do licenciamento de todas as atividades de criação bovinas para um maior controle da fiscalização e observância das práticas corretas de manejo desses animais, sendo tais normas algumas das mais importantes sobre o objeto em questão , existindo ainda inúmeras outras regulamentando de forma específica questões como transporte, saúde, abate, uso de rações, remédios etc., desses animais.

Apesar de existirem inúmeras outras disposições normativas internas, como tam-bém externas ao arcabouço legal brasileiro, é interessante verificar a aplicação específica em alguns campos do Direito, mencionados a seguir.

DIREITO PENAL

Na esfera Penal, a primeira linha de defesa para os animais foi o Decreto 16.590 de 1924, o qual dispunha sobre a conduta dentro das Casas de Diversões, proibindo uma série de atividades como corridas com touros, rinhas de galo e qualque outra prática que implicasse sofrimento ao animal3. Tal regulamento é pouco lembrado, dado ao advento em poucos anos

do Decreto n° 24.645/ 34, que de forma muito mais efetiva, atribuiu a propriedade de todos os animais no Brasil ao Estado, e disciplinou diversas sanções, variando de multas à prisão do indivíduo que não cumprisse com as normas dispostas.

Esse decreto foi também, o primeiro a tratar com maior sensibilidade questões como abate, ambiente hígido e transporte, transcendendo a proteção meramente física do animal. Assim estabeleceu o artigo 3° desta lei, em especial seus incisos II,V,VI,VII, XVII ao XXV. Outro ponto de destaque foi a aprovação da Lei n° 3.688 de 1941, também conhecida como a Lei de Contravenções Penais, que também dispôs sobre práticas cruéis com animais, sujeitando o infrator à pena de prisão e prestações pecuniárias em seu artigo 68.

A iniciativa protecionista presentes nestes compêndios repressivos, embora englobe uma vasta gama de situações de desrespeito ao animal, sofre uma grave defasagem no que diz respeito às sanções aplicáveis. As penas variam apenas de detenção, ou quando prisão, de alguns meses até cinco anos não se alongando mais do que isso. As multas da mesma maneira são fixadas em parâmetros baixos, conforme estabelece o artigo 10, na parte geral desta lei: “Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos” (BRASIL, 1941).

Dado esta realidade de diversas práticas como tráfico de animais silvestres perdu-ram, visto que a relação sanção aplicável x lucro, mantém rentável o negócio, e a prisão além de afiançável, nunca será maior que e período mencionado.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A lei maior garante a proteção ao meio ambiente, englobando toda e qualquer for-ma de vida anifor-mal ou vegetal, assim como o espaço que todos ocupam, sendo de todos, não somente do Estado a incumbência de preservá-lo (LENZA, 2009, p. 935-6).

No que tange aos animais, seres integrantes desse equilíbrio entre homem e o meio que o cerca, existem considerações pontuais a serem feitas. Embora não possa se expressar com clareza, ou de forma compreensível para a espécie humana, estes seres são dotados do bem da vida, de onde decorrem todos os demais direitos (TETÜ, 2009, p. 206). Para o ho-mem, do simples ato de estar vivo, juridicamente falando, torna-o capaz de contrair inúmeros direitos e obrigações. É de fácil constatação essa afirmação, ao observar o artigo 2º do Código Civil Brasileiro de 2002: “Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Para o animal, é interessante remeter ao conceito de Senciência, em que Singer (2010, p. 13) define como “capacidade de sofrer e de sentir prazer”. Assim como o homem, outros seres vivos são capazes de sofrer, seja de forma física ou psicológica, o que já aproxima as espécies, porém, como o Homo sapiens é dotado de racionalização, é capaz de construir figuras capazes de justificar sua prevalência no planeta, e ao mesmo tempo regular sua carac-terística principal que é a convivência em sociedade.

Assim, o Direito é criado, como a maneira de tutelar nossas posições de importantes seres vivos, contra as injúrias de outros igualmente importantes (ARGOLO, 2009, p. 927-30). Mas apenas pelo fato do humano possuir construções complexas, e um comunicação social bem desenvolvida, não pode obstar o direito do animal, que como ser vivo possui atribuições jurídi-cas semelhantes às humanas, inclusive a de ser reconhecido como portador de direitos.

Nesta seara, Argolo (2009, p. 928) bem diz:

Portanto, não é possível se afirmar a necessária semelhança conceitual entre sujeito de direito e pessoa humana, equivalência que deve ser enterrada com o individualis-mo individualis-moderno. Coindividualis-mo bem enfatiza Roberto Xavier Leonardo, essa visão ampliadora seria apenas o começo, na medida em que, atualmente, os ordenamentos jurídicos já reconhecem a capacidade a entes despersonalizados, como é o caso da massa fali-da, a sociedade de fato, o condomínio, do espólio, entre outros.

Se o ordenamento reconhece as pessoas jurídicas, ou seja, entes despersonalizados, os animais como seres vivos, portanto, são plenamente representáveis e tutelados, devendo ser respeitados todos os demais direitos, como a liberdade e respeito a sua integridade física. DIREITO AMBIENTAL

A expressão da matéria no ordenamento jurídico brasileiro se traduz de forma mais contundente a partir da criação da na lei n° 6.938/81, que implementou a Política Nacional do Meio Ambiente que trouxe uma atenção diferenciada ao meio ambiente, englobando diretrizes e regras sobre a conservação e proteção às espécies animais, vegetais e às riquezas minerais4. Atualmente, encontra-se em maior destaque e de forma mais especializada, a lei n°

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Tal lei, assim como o ramo de Direito Ambiental é bastante ligado a outros ins-titutos jurídicos, como o Direito Civil, Constitucional e nesta lei em especial, o Direito Penal. Para Tetü (apud SÉGUIN, 2006, p. 58-9), o Direito Ambiental se reveste de grande elasticidade:

O caráter horizontal, transdisciplinar e transindividual do Direito Ambiental ex-trapola as fronteiras do Público e do Privado, ficando além das simples relações de direitos entre homens, posto que dotadas de cunho atemporal ou intergeracional. A tutela ambiental adquire caráter plástico, pois se adapta a qualquer ramo do direito, assumindo características próprias, ora individuais, ora coletivas, ora difusas. É um Novo Direito, com regras novas.

Embora seja de se questionar onde o Bem- Estar se encaixa na proteção aos animais silvestres, a abrangência do tema é bem descrito por Pereira5.

O bem-estar dos animais silvestres, por outro lado, envolve políticas ambientais, já que o desmatamento, as queimadas e a falta de fiscalização das atividades em áreas protegidas afetam o ecossistema, fazendo com que os animais silvestres saiam de seus habitats, alteram seus hábitos, gerando mudanças na cadeia alimentar ou, ainda, simplesmente os exterminam. Conforme dito anteriormente, as leis ambientais não costumam ser muito rígidas na punição de infratores, e muitos dos crimes ambientais são considerados de menor potencial ofensivo, ou seja, permitem que o infrator apenas pague uma multa ao estado e não seja oficialmente “processado”.

Verifica-se que a ação do homem ao buscar avanços científicos, o progresso propria-mente dito, muitas vezes transpassa os limites naturais sem se importar com os impactos e de-mais consequências que pode causar ao ambiente. O Habitat dos anide-mais selvagens é resulta-do de um equilíbrio bastante delicaresulta-do, e portanto ações que o danifiquem lesam diretamente princípios absolutos do Bem-Estar, especificamente as Liberdades, como a ausência de desconforto, a livre capacidade de expressar seu comportamento normal e a ausência de fome e sede (GRANDIN; JOHNSON, 2011, p. 8).

Em sua obra O Bem-Estar dos Animais: proposta de uma vida melhor para todos os

bichos, Grandim traz um exemplo interessante da harmonia que se opera no ecossistema, e do

quanto é necessário sua proteção:

[...] que se não houvesse ursos para comer salmões, também não haveria floresta. Funciona assim: os ursos matam muito mais salmões do que comem, alimen-tando-se apenas das partes melhores do salmão. As vezes comem apenas as ovas e jogam fora todo o peixe.

Além disso, porque são animais solitários, os ursos não ingerem o salmão na água, onde o pescam, mas levam o peixe para a floresta a fim de não entrar em brigas com outros ursos que possam tentar roubar a comida deles. Quando encontram um lugar seguro, comem a parte que preferem e deixam o resto do peixe.

Isso alimenta insetos, pássaros e pequenos animais, que comem a carcaça. Alimenta também a floresta, porque a carcaça comida se quebra e fertiliza o solo. Esses

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pes-quisadores inovadores descobriram que, em alguns lugares 70% do nitrogênio das árvores e arbustos das margens dos rios vêm do salmão (GRANDIN; JOHNSON, 2011, p. 255-6).

Portanto é salutar adotar medidas assecuratórias de proteção às espécies animais e vegetais. Exemplos disso são o a gravidade dos crimes ambientais dada pela lei, considerados como de caráter público sendo processados em Ações Públicas Incondicionadas e punições semelhantes previstas no Código Penal e Lei de Contravenções Penais.

DIREITO INTERNACIONAL

O Bem-Estar Animal em sua ideia estrita corresponde atualmente a

[...] aspectos da vida do animal que contemplam seu corpo, sua mente e sua natu-reza ou suas necessidades, seus interesses e suas adaptações. O tema perpassa toda a cadeia produtiva, do nascimento ao abate, e revela-se na qualidade dos produtos e nas preferências do consumidor (LYRA; COUTINHO, 2012, p. 72-7).

A busca pelos melhores meios de vida do animal hoje, fundamentam-se na exigên-cia soexigên-cial por produtos saudáveis, onde técnicas e estudos na área do bem-estar animal atuam como propulsores na cadeia produtiva, otimizando o manejo, desde o nascimento até o abate do animal.

Como os países desenvolvidos vem de um longo processo histórico, é natural que deles decorram as leis primárias sobre diferentes assuntos. Com relação aos animais não é di-ferente. Na Década de 1920, buscando meios de maior controle nas de doenças animais, que causavam reflexos inclusive para o homem, foi criado o Gabinete Internacional de Epizootias, do francês Office Internacional des Epizooties, a conhecida OIE, cuja importância perdura até os dias de hoje, sendo composta de 178 países membros, inclusive o Brasil, tem atuado de maneira incisiva na proteção e observância das práticas de Bem-Estar6.

Com o surgimento dos grandes blocos econômicos como a EU (União Europeia), passou a dar destaque à produção animal, atuando conjuntamente com a OIE, adotando uma série de medidas legislativas, especialmente na gestão 2001 – 20057 para garantir a eficácia na

produção de alimentos de origem animal, além de conhecer as falhas em sua cadeia produtiva. Um exemplo disso foi a Diretiva 98/58/EC, que dispôs sobre a comparação entre a lei euro-peia e a dos outros países não membros da EU, procurando avaliar pontos de melhoria e de fraqueza em que se encontravam os Países – Membros (LYRA; COUTINHO, 2012, p. 75).

Dentre outras medidas, é cediço mencionar a elaboração do Código Terrestre da OIE de 2004, que a cada ano vem sendo alterado, conforme novas tecnologias e demandas são postuladas pela sociedade8. Tal Diploma traz em seu bojo, uma série de regras

relaciona-das ao transporte dos animais por diferentes vias, sejam elas, terrestres, aquáticas ou aéreas; traz ainda diretrizes sobre acomodações, identificação de doenças e relações comerciais entre a Comunidade Europeia e outros países (LYRA; COUTINHO, 2012, p. 75).

O Brasil, nação expoente na atividade agroindustrial (PINTO BATISTA, 2010, p.12-3) busca manter a competitividade com o mercado externo, já munido de um legislação coerente e estritamente aplicável. Visto que é um dos membros da OIE, uma organização

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internacional se compromete a seguir as determinações da mesma (REZEK, 2011). Algumas das posturas adotadas pela Administração Pública Brasileira via Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa) foram em destaque, a criação da Instrução Normativa n° 3, a qual dispõe sobre o Abate Humanitário de animais de açougue e aves domésticas e os métodos para tanto.

Destaca-se também a I.N n° 56, que de consagra de forma mais completa na le-gislação pertinente, as práticas e procedimentos gerais de Bem- Estar para os Animais de Produção, e o e o Decreto n°30.691 de 29 de março de 1952, que instituiu o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa), responsável pela fiscalização dos referidos alimentos em âmbito interestadual e internacional.

Importante salientar ainda, que apesar das mencionadas instruções normativas, exis-tem ainda uma série de outros dispositivos legais, que atuam paralelamente ou subsidiariamente na proteção aos animais, e que, apesar dos inúmeros entraves enfrentados cotidianamente, é inquestionável o avanço brasileiro nesta seara, devendo sempre buscar novas maneiras de atuar e manter políticas de cooperação com outros Estados Estrangeiros na melhor aplicação dessas leis. CONCLUSÃO

O presente estudo partiu de uma análise do tema Bem- Estar Animal, onde foi veri-ficado que, desde o início da História da Humanidade a relação entre o Homem e os Animais, foi bastante íntima, influenciando diferentes campos da cultura humana, como a religião, as artes, a política, economia, filosofia e principalmente, o Direito.

Com base este último aspecto, buscou-se demonstrar que apesar da supremacia filosófica e sociológica do Ser Humano, a sociedade ainda manteve o entendimento sobre a importância da existência de outros seres vivos, e como partes integrantes de uma mesmo meio ambiente, as normas aplicáveis para a harmonia e convívio do Homem e seus semelhan-tes deveriam ser entendidas, na medida de suas peculiaridades, aos Animais.

Apesar das diversas leis, decretos, instruções normativas, tratados e infinitas outras espécies normativas citadas nesta obra, o tema encontra-se inserido num contexto ainda mais amplo de relação com as Ciências Jurídicas.

Na atual conjuntura em que é tratado, o Bem-Estar ainda é conhecido de uma forma estrita, como uma série de práticas destinadas à manutenção da saúde física e mental e a ausência de sofrimento àqueles animais de produção, ou seja, aos animais que são consumi-dos diariamente por milhões de pessoas, voltando-se o Direito apenas aos anseios primordiais do Homem, no caso, buscando regular procedimentos e estabelecer limites na cadeia produ-tiva que o alimenta.

A visão antropocêntrica do universo há tempos foi extinta dos livros, porém perdura na supremacia evolutiva humana; o ritmo de vida acelerado e as revoluções tecnológicas tornam o Homem único no planeta Terra, porém, cada vez mais solitário. Tal paradoxo se dá pelo dis-tanciamento entre este e o Mundo Natural, que é cada vez mais negligenciado, pela afirmação de se buscar progresso e o avanço científico, tornando-o um ser, que apesar de conviver em so-ciedade, é indiferente à todas as outras formas de vida que o cercam, esquecendo-se que também é parte de um equilíbrio extremamente delicado .

Apesar do cenário para os Animais ser obscuro, muito já se fez e ainda se faz para o seu amparo. O crescente aumento dos impactos ambientais e calamidades que demonstram

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a grande força que é a Natureza, já provocaram mudanças reais na concepção de mundo de líderes mundiais e daqueles que laboram no meio Animal, como ambientalistas, médicos ve-terinários e empresários rurais. Nesse contexto deve o Direito procurar se inserir, sendo uma ferramenta capaz de produzir meios de defesa aos animais, de qualquer espécie que seja, pois como o Homem, estes são seres dotados do Bem Maior que é Vida, decorrendo dela toda e qualquer outra garantia ou princípio protetivo.

Ressalte-se por fim, as palavras do icônico líder indiano Mahatma Gandhi, que além de lutar pelo Bem-Estar do seu povo em uma época de opressão, também demonstrou grande sensibilidade à vida, dizendo: “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”.

LEGAL ASPECTS OF ANIMAL WELFARE

Abstract: the present study sought to relate the concepts and information known about the Animal

Welfare and its relation to the different fields of law demonstrating that exists in terms of laws and other normative species in place that protect animals in Brazilian law and orders of foreign in-fluences in the formation of guidelines for the implementation of more effective practices of Welfare both in animal production, as domestic and wild animals. It was verified the applicability of the Right to Life, in which a series of splits, warrants to Animal, the ability to be represented in court, and have secured a balanced enviroment.

Keywords: Welfare. Animal Right. Applicability.

Notas

1 Disponível em: <http://www.agroanalysis.com.br>.

2 Conceitos básicos do bem-estar animal (2006). Disponível em: <www.animalwelfareonline.org>. 3 Disponível em: <http:// http://jus.com.br/revista/texto/5585>.

4 Disponível em: <http://www2.saude.ba.gov.br>.

5 Disponível em: <http://www.infoescola.com/direito/bem-estar-animal>. 6 Disponível em: <http://www.oie.int/>.

7 Disponível em: <http://www.cnpc.embrapa.br>. 8 Disponível em: < http://www.oie.int >.

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Referências

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