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Trabalhos Psicoterapêuticos em Grupo: diferentes contextos

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Academic year: 2020

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TRABALHOS PSICOTERAPÊUTICOS

EM GRUPO: DIFERENTES

CONTEXTOS*

JULIANY GONÇALVES GUIMARÃES**, THAÍS RENATA

QUEIROZ SANTANA CARNEIRO***

Resumo: este artigo tem como objetivo aprofundar as discussões teóricas sobre os diferentes

trabalhos psicoterapêuticos em grupo. Os psicólogos e outros profissionais têm utilizado cada vez mais esses trabalhos de grupos, por isso a importância de se compreender o histórico das atividades realizadas que vão além de perspectivas individuais. Grupo pode ser: a comuni-dade onde nascemos; nossa família, etc.; grupo organizado aquele que, pode-se adentrar como igrejas, partidos políticos, grupos anônimos, sindicados, empresas e etc.

Palavras-chave: Grupo. Formação grupal. Dinâmica de grupo.

* Recebido em: 06.11.2014. Aprovado em: 22.11.2014.

** Doutoranda em Psicologia Clínica e Cultura na Universidade de Brasília (UnB). Mestre pela Puc Goiás. Assessora da Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil. Profa. do Departamento de Psicologia da Puc de Goiás. Consultora em Psicologia Social e do Trabalho. Coaching. E-mail: julianyguimaraes@hotmail.com. *** Doutoranda e Mestre em Psicologia Clínica e Cultura na Universidade de Brasília (UnB). Profa. da Faculdade

União de Goyazes. Psicóloga Clínica. E-mail: tata_renata@yahoo.com

O

ser humano é simultaneamente um ser sociável e socializado, pode se entender com isso que ele é, ao mesmo tempo, um sujeito que aspira se comunicar com os seus pares e, também, membro de uma sociedade que o forma e o controla, quer ele queira ou não.

Esse artigo tem como objetivo: aprofundar as discussões teóricas sobre os diferentes trabalhos psicoterapêuticos em grupo; descrever os processos grupais, conceito da psicologia social que procura estudar a interação social, as manifestações do comportamento de uma pessoa com outras, ou pela simples expectativa da tal interação; fornecer subsídios para os profissionais que atuam no contexto grupal, como por exemplo, os atuantes na área da exten-são. Sabe-se que no trabalho comunitário a aplicação de metodologias de atividades grupais é muito eficaz, principalmente se pensarmos nas demandas existentes de participantes (CA-MINO; TORRES, 2011).

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Nesse sentido, este estudo pode auxiliar a compreensão do contexto grupal, incen-tivando o uso de atividades coletivas direcionadas pelos profissionais extensionistas minimi-zando a longa espera dos sujeitos.

A história de vida do indivíduo é a de pertencer a inúmeros grupos e através destes as características sociais, mais amplas, agem sobre o ser humano. É no grupo familiar que ele aprenderá a língua de sua nação. A partir daí, este aprendizado possibilitará seu ingresso e sua participação em outros grupos. Essas relações ocorrem, inicialmente, no grupo familiar, um estágio de preparação que ele internalizará, apropriar-se-á da realidade objetiva, e esta será fundamental na sua formação psíquica, um processo em permanente construção.

Ao nascer, o homem entra em um cenário construído sem a sua participação. É o mundo social, a realidade objetiva, formada por um modo de organização política, econô-mica e jurídica da sociedade, de uma cultura produto da construção humana. O estudo dos processos grupais, dinâmica psicossocial, atingiu um estado de desenvolvimento que atual-mente já é considerado, como uma área autônoma da psicologia social. São vários os autores que utilizam os processos grupais como forma de obter dados dos sujeitos e assim constituir suas análises psicoterapêuticas e/ou psicoeducativas.

Camino e Torres (2011) descrevem que os primeiros estudos da vida social rea-lizados na psicologia transmitiam uma visão bastante negativa sobre grupos e instituições, séculos XIX e XX. Como exemplos, dos trabalhos deste período pode-se citar Sighele (1901) e do francês Tarde (1980), citados pelos autores acima, que concebiam as multidões como possuidoras de mente coletiva.

Pode-se considerar que o teórico mais importante desse período foi Gustave Le Bon com sua obra The Crowd com várias reedições. O trabalho de Le Bon, denominado psicologia das massas, considerava que os indivíduos independente de sua escolaridade, só pelo fato de se inte-grarem em uma massa ativa, perdiam sua individualidade, descendo vários degraus na escala da civilização. Dentro desse contexto, tem-se então a sugestionabilidade excessiva e o efeito contágio.

Ainda de acordo com Camino; Torres (2011) para Le Bon esses dois processos seriam responsáveis pelas ações coletivas. Para ele as pessoas submetidas ao processo de in-fluência grupal perderiam não só sua individualidade, mas igualmente seu controle racional. Outro que se dedicou a estudar os processos grupais foi o sociólogo Edward Ross, que discutia o papel da opinião pública, dos costumes, das cerimônias para a manutenção da estabilidade social. Já o psicólogo Willian MacDougall, afirmava que todo o comportamento humano, incluindo as relações sociais, poderia ser explicado pelos instintos. Desse modo, para MacDougall, haveria uma distinção entre o estudo do indivíduo e dos grupos e institui-ções, sendo estes objetos da Sociologia e da Psicologia Social (CAMINO; TORRES, 2011).

Partindo de uma influência política na Europa neste período, fez surgir a neces-sidade de distinguir com clareza diversos fenômenos de massa. Freud, então teve um papel fundamental. Este pretendia explicar não só os fenômenos já constatados de irracionalidade e emotividade dos participantes de uma massa, mas também os laços de solidariedade existente entre seus membros.

CONTRIBUIÇÕES FREUDIANAS

Freud adentrou a explicação de que os fenômenos já constatados de irracionalidade e emotividade dos participantes de uma massa, mas também os laços de solidariedade

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existen-tes entre seus membros. Freud (1921) parte da análise do que denomina de massa artificial. Nesta, os indivíduos que formam uma massa se identificam todos com uma mesma pessoa: o chefe. Desse modo, estabelece-se um jogo de identificações onde acontece positivamente com alguns e negativamente com outros, como se pode ser exemplificado na descrição paradigmá-tica na obra Totem e Tabu (FREUD, 1913-1971).

As ideias freudianas foram de fundamental importância para a mudança nos estu-dos sobre os grupos. Os outros autores do período estavam mais preocupaestu-dos com a influên-cia do grupo sobre o indivíduo. Já com Freud, é na influêninfluên-cia do indivíduo, na forma de um líder, sobre o grupo que os psicólogos sociais começam a se interessar (CAMINO; TORRES, 2011).

Cabe ressaltar que o interesse principal de Freud não está nos grupos sociais e de suas características em si, mas no estudo da maneira como se constroem as instâncias da per-sonalidade humana na vida social, particularmente na vida em família.

Mezan (1985) em seu livro Freud, pensador da cultura, nos relembra a ideia freudia-na de psicologia coletiva, onde o que mantém unidos todos os indivíduos de um grupo são os laços de natureza libidinal e que os membros do grupo se comportam de maneira significati-vamente diferente do que o fariam isoladamente e fora do grupo.

Há nestas relações grupais uma dialética, enquanto Eros opera tendendo a conser-vação e à ampliação, buscando a integração, a pulsão de morte induz à resistência interna e opera numa tendência à desagregação. Noção de ambivalência que se torna bem própria quando pensamos nos membros dos grupos, que vivem uma constante briga interna entre o querer participar e, o querer abandonar.

Mezan (1985) ainda aponta que o narcisismo pode ser posto em xeque pelo amor objetal, tanto no nível individual (hipnose, enamoramento) quanto na dimensão grupal. Para dar conta do vínculo afetivo que une diversos indivíduos num grupo, Freud necessita de algo que ultrapasse o nível da libido objetal, o que podemos encontrar no conceito de identificação.

A identificação vem funcionar como intermediário entre Eros e a pulsão de morte, limitando a agressividade entre os membros do grupo e deslocando-a para o exterior deste. Identificação, então, seria um processo pelo qual o sujeito assimila um ou mais traços de ou-tro indivíduo, integra-os ao seu ego e, portanto, se modifica de acordo com os modelos em causa. Esta identificação pode ser uma das explicações para a coesão grupal, da qual falaremos mais a frente.

Osorio (2008) nos mostra uma visão interessante sobre a seleção de pacientes ba-seada na psicanálise. Primeiramente, ele traz a definição de Zimmermann (1969) de seleção como sendo a investigação das características de um paciente a fim de verificar a indicação ou não de psicoterapia de grupo.

Então, Osorio (2008) dá um exemplo de seleção para um grupo aberto em que a seleção e o agrupamento obedecem predominantemente ao critério contra transferencial. Fundamenta-se no que denominaria balanceamento empático, caso a percepção intuitiva do terapeuta registre uma correspondência entre as motivações de paciente, de um lado, e as potencialidades do grupo para satisfazê-las, do outro, então poderíamos dizer que haveria condições para o estabelecimento de um satisfatório vínculo para o trabalho grupoterápico. Assim, considera-se esta visão interessante, pois se baseia mais na relação previamente estabe-lecida com o paciente em análise. Por já ser paciente, conhece-o mais profundamente, o que permite que este critério não seja superficial.

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O PROCESSO GRUPAL

Podemos entender grupo social como um conjunto de pessoas num processo de relação mútua e organizada com o objetivo de atingir um determinado objetivo, que pode ser imediato ou de longo prazo. A realização do objetivo impõe tarefas, regras que regulem as relações entre as pessoas (normas), num processo de comunicação entre todos os participantes e o próprio desenvolvimento do grupo em direção ao seu objetivo.

De acordo com Rodrigues (1995) a história do grupo nos ajuda a verificar as mu-danças; as normas podem ser alteradas paracriação de novas ou revisão das antigas; a punição aos infratores pode ser mais ou menos rígida, dependendo do grau de controle que o grupo quer manter sobre o comportamento de seus membros; o sentimento de solidariedade pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo. Também podem surgir conflitos com relação a valores, a normas e a outros aspectos da vida grupal, que se originam do confronto permanente entre a diversidade de ponto de vista presentes no grupo.

E este processo de desenvolvimento do grupo proporciona a seus integrantes con-dição de evolução e crescimento pessoal, compartilhar representações, crenças, informações, pontos de vista, emoções, aprender a desempenhar papéis de filho, estudante, profissional.

No processo grupal têm-se alguns componentes que necessitam ser compreendidos, como a coesão, a cooperação, a formação de normas, a liderança, o status e o papel social.

Para Alexandre (2002), durante muito tempo acreditou-se na figura do líder nato, que apresentava as grandes características, como: inteligência, criatividade, persistência, au-toconfiança e sociabilidade. Muitas destas características ajudam o indivíduo a desenvolver o potencial de liderança, mas não se pode afirmar com certeza que um indivíduo será líder por apresentar tais pontos positivos. Estes e outros aspectos devem estar harmonizados com os objetivos perseguidos pelo grupo. Atualmente encontramos críticas em relação às teorias baseadas nas características de liderança enumeradas acima, o que se aceita mais fortemente, atualmente, é a posição da liderança como fenômeno decorrente da interação entre os parti-cipantes, com acentuada dependência dos objetivos e clima do grupo.

Lewin (1973) identificou três tipos de liderança: autocrítica – ocorre a total cen-tralização do poder pela coerção; democrática – as decisões são tomadas por maioria, o líder é apenas um representante da vontade de seus liderados; permissiva – é permitido a cada integrante do grupo agir como deseja, não há efetivamente uma ação de liderança. Estudos psicológicos que consideram estes três tipos de classificação, demonstraram que a liderança democrática torna os integrantes do grupo menos dependentes do líder. Já a classificação autocrítica gera maior produtividade, elevando o grau de dependência dos integrantes do grupo em relação ao líder, chegando ao ponto de não saberem produzir sem a sua presença. A liderança permissiva (laissez-faire) gerou os piores resultados.

A liderança é um processo interacional, com características próprias, sendo impossí-vel estabelecer, a princípio, qual a pessoa mais preparada para comandar determinado grupo. O líder deverá surgir durante o processo de interação dos participantes.

Conforme Lewin (1973) status é uma forma de prestígio que um membro do grupo tem sobre os outros, sendo: subjetivo como o próprio indivíduo o percebe e, social, resul-tado do consenso do grupo sobre este indivíduo. O primeiro pode ou não corresponder ao segundo. Caso, em comparação aos resultados obtidos pelos demais participantes do grupo um dos membros se considera recebedor de resultados mais gratificantes, isto produzirá nele a

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sensação de status subjetivo elevado. Se os demais participantes consideram essa pessoa como necessária ao grupo, capaz de gerar benefícios que agradem a maioria, ela terá status social elevado neste grupo.

É importante que os status estejam em equilíbrio ou poderá gerar problemas de adaptação do indivíduo no grupo. Se ele possui status subjetivo elevado e baixo status social, deverá sentir-se desconfortável no grupo, sendo provável ocorrer um desligamento. Se o caso for ao contrário, status subjetivo baixo e status social alto, ele poderá permanecer no grupo, devido ao tratamento amistoso por parte dos integrantes, mas isto poderá causar dificuldades de funcionamento no grupo.

O status subjetivo faz com que a pessoa espere receber do grupo determinadas re-compensas. Quando não há harmonia entre as expectativas e a realidade, surgem os proble-mas de adaptação do indivíduo ao grupo. É o caso das mulheres executivas que ganham mais do que seus maridos. Elas passaram a esperar, devido ao aumento do status subjetivo, outras recompensas do grupo familiar.

Em quase todos os grupos sociais é possível se estabelecer o status de cada integrante bem como o papel que lhe cabe desempenhar. Papel seria a totalidade de modos de conduta que um indivíduo aguarda numa determinada posição no interior de um grupo. O papel social é um modelo de comportamento definido pelo grupo. Nenhum grupo social pode ter bom funcionamento sem estabelecer papéis para seus integrantes (RODRIGUES, 1995). PROCESSO GRUPAL PARA SILVIA LANE

Lane (1996), afirma que a psicologia tem bases biológicas, por esse fato, a visão de homem foi construída como alterações do organismo, sem validar as relações sociais. O obje-tivo das ciências humanas é buscar compreender o homem como um ser biológico, histórico, social e cultural. Afirma ser falsa a dicotomia entre indivíduo e grupo, para tanto, o homem é formado das relações com o outro que na maioria das vezes, ocorre em um grupo.

Para Lane (1981), a psicologia social não deve ser pensada apenas como uma ci-ência que estuda o comportamento social do sujeito surge, então, uma indagação. Qual o momento que o comportamento se torna social?

De acordo com a autora deve-se observar que o sujeito é singular, pois cada organis-mo humano tem suas características particulares. Assim, caberia à psicologia social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a de sua sociedade, pois tal conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história.Revela ao falar da vivência do processo grupal, que não se trata de grupo ou dinâmica de grupo, ao contrário, diz respeito ao caráter histórico e dialético do grupo. Pensando pelo viés social, sabemos que em alguns grupos (exemplo: adolescentes), trata-se de algo cultural, pois não são todos os ambientes que exigem este tipo de cultura, ou seja, isto ocorre de lugar para lugar e depende muito de um contexto sociocultural. O processo grupal, portanto, está além das fronteiras do grupo, busca a raiz do sujeito e toda a sua história, toda a sua formação, seja ela social ou cultural.

Segundo Lane (1984) “ressaltar o caráter histórico do grupo implica compreende--lo na sua singularidade, expressa múltiplas determinações e as contradições na sociedade contemporânea”. Para conhecer o grupo é importante levar em consideração o significado da experiência e da ação grupal que só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica e a sua inserção na sociedade, com suas determinações econômicas, institucionais e ideológicas;

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o próprio grupo só poderá ser conhecido enquanto um processo histórico, e neste sentido talvez fosse mais correto falarmos em processo grupal, em vez de grupo.

Portanto, o objetivo de Lane, ao desenvolver seus estudos e pesquisas, é evidenciar de forma dinâmica o real interesse da psicologia social juntamente com os processos grupais. Este interesse pelo processo grupal surgiu a partir de suas experiências com seus alunos duran-te a disciplina de processo grupal que foi ministrada pela própria, na PUC São Paulo.

A psicologia social está aberta para outras alternativas, sem deixar sua verdadeira essência que é estudar o homem que está em constante mudança seja social, cultural, histórica e/ou psicossocial.

O GRUPO EM KURT LEWIN

Para compreendermos melhor o processo grupal, é necessário primeiro saber como ocorre a formação de um grupo. Para Lewin (1890-1947) e Carlos (1998), o grupo surge da percepção da interdependência, ou seja, a percepção do outro como forma de acesso a um objetivo final, já que, pessoas com o mesmo objetivo, mas sem interdependência continuam vivenciando a serialidade.

Segundo Mailhiot (1991) o grupo é dividido de acordo com seu objetivo, o sócio-grupo, se une para execução de uma tarefa, como um grupo de trabalhadores a fim de entre-gar uma remessa de materiais. Já o psicogrupo é formado, estruturado, orientado e polarizado em função dos próprios membros.

Para Lewin o grupo se caracteriza pela forma de organização e demografia, existem maiorias e minorias demográficas, que comumente se caracterizam entre os líderes (minorias demográficas) e os liderados (maiorias demográficas). Além disso, existem ainda a minoria privilegiada, maioria e minoria psicológica, caracterizadas pela força de poder dentro do gru-po, sendo a minoria privilegiada responsável pela mobilização e manipulação dos objetivos para seus fins, a maioria psicológica aqueles que possuem o poder de decisão, e a minoria aqueles que estão aquém da maioria (MAILHIOT, 1991).

INFLUÊNCIA DE SARTRE PARA COMPREENSÃO DO GRUPO

Segundo Lapassade (1983 Sartre (1905-1980) refere-se à dialética dos grupos e mesmo concordando com a questão da interdependência presente na teoria de Lewin ele adiciona a definição de grupo, a alguns outros pontos, como uma tensão permanente entre serialização e totalização, aquilo que oferece movimento, o motor da dialética, o grupo nesse ângulo é um processo do inacabado, excluindo-se a ideia de maturidade do grupo, deixa de ser atravessador, e se torna um facilitador para que eu consiga alcançar meu objetivo. Para o autor enquanto serialidade, as relações entre o individuo são eu-tu, já quando se passa pela fusão, se tornando um grupo, a relação é nós, ou seja, no grupo não se separa o objetivo de um individuo para o outro.

Segundo Rosenfeld (1971), Sartre define etapas significativas do grupo, sem perí-odo cronológico definido, mas que contem em seu desenvolvimento, características que se inclui/exclui o grupo das características de cada fase. Para Sartre, não é possível definir tais etapas como uma lei imutável, mas sim como um processo, que mesmo que se avance muito, a qualquer momento pode voltar ao início, ou às vezes até a não ser.

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As etapas de um grupo segundo Rosenfeld (1971) são: primeira, fusão: acontece ini-cialmente como uma luta contra a serialidade. Quando o grupo se constitui ocorre uma fusão entre as serialidades de cada sujeito. Apesar dessa fusão, Sartre afirma que o grupo permanece em um processo dialético, um perpétuo movimento, numa tentativa inacabada de totaliza-ção. No processo de fusão o grupo compreende de forma consciente que existe uma interde-pendência para realização das tarefas (LAPASSADE, 1983; ROSENFELD, 1971); segunda, o juramento: exige-se participação efetiva no grupo. O grupo se torna reflexivo, coloca-se a necessidade de afirmação de pertença, uma fuga/medo da dissolução. O juramento é um funda-mento para a instituição, mas não é a instituição (LAPASSADE, 1983; ROSENFELD, 1971); terceira, a organização: fundamenta-se no juramento para que se definam os objetivos do grupo e determinem as funções para se alcançar esses objetivos. Nesse ponto começa a se trabalhar forçosamente o problema da autoridade do grupo, surge uma necessidade de escolher quem ordena quem comanda. Mesmo o grupo possuindo um líder, ele continua nessa luta por não perder sua soberania, buscando encontrar suas funções para sua manutenção. A forma de orga-nização desse grupo pode ser em nível familiar, escolar ou mesmo de trabalho (LAPASSADE, 1983; ROSENFELD, 1971); quarta, a fraternidade-terror: existe uma tentativa cada vez maior de controle da possibilidade de fuga, dos desvios, e da não participação, sendo bem mais rígidas que nas etapas anteriores. A causa dessa tentativa de manutenção seria o risco da dispersão e o retorno a serialidade. Rosenfeld (1971) afirma ainda que o terror é mais forte que o juramento; e por último, a institucionalização, que é uma divisão dos membros no espaço, cada um com sua tarefa se separam e especializam de acordo com a necessidade do grupo. Na realidade, esse processo se inicia na organização, mas agora esse se impõe como característica do grupo. Na institucionalização, o grupo exige um líder, aquele que organiza.

Para Pichon-Rivière a estrutura de um grupo funciona a partir das relações de pa-péis, destacando se quatro:

1 Porta-voz – membro que comunica, propõem coisas, aquele que representa a vontade do grupo;

2 Bode-expiatório – culpado pelos problemas apresentados pelo grupo; 3 Líder – representa os pontos positivos do grupo;

4 Sabotador – lidera a resistência a mudança.

A grande conceituação de Pichon é o Esquema Conceitual Referencial e Operativo (ECRO), um esquema de referência próprio de cada integrante, incluindo ideologias, expe-riências, pensamentos, afetos e etc. No grupo esse esquema ocorre de forma comum. Mesmo com esse ECRO comum, persistem ainda as influências da transversalidade, horizontalidade e verticalidade. Verticalidade refere-se à história do sujeito, as influências individuais sobre o grupo. A horizontalidade refere-se ao momento vivido, ao aqui-agora do grupo. Já a transver-salidade é uma tentativa de não manter o grupo apenas na horizontalidade ou verticalidade, carregando junto ao grupo a história dos sujeitos, mas também buscando compreender o aqui-agora.

Calderón e De Govia (1973) apresentam a teoria quanto ao grupo operativo. Para eles, a definição de grupo é “uma situação social e em seu processo de gerar bens tangíveis e intangíveis, que requerem seus membros se relacionam entre si de várias maneiras para me-lhor aproveitarem seus meios.” (p. 18-19). Para o grupo alcançar suas metas, é preciso que fundamente as relações de liderança, que em suma tem como organizar o grupo, para que ele possa alcançar ao objetivo determinado.

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Ainda, segundo Calderón e De Govia (1973) é necessário que se considere as rela-ções de tempo livre, e com exogrupos. As relarela-ções de tempo livre, diz respeito aos encontros fora da reunião, de acordo com as possibilidades de cada um. Segundo eles, isso acontece quando os indivíduos que compõe o grupo possuem um sentimento de pertença, ou seja, se percebem como grupo. Já as relações com exogrupos faz referência às relações estabelecidas pelos participantes do grupo, em outros grupos.

O grupo, além das relações de liderança, relações de tempo livre e com exogrupos, possuem as relações do grupo. Para Calderón e De Govia (1973), essas relações são descritas em três categorias de papeis dos indivíduos. A primeira refere-se à tarefa do grupo na orga-nização para alcançar o objetivo proposto pelo grupo no momento. A segunda condiz com os papeis de constituição e manutenção do grupo, faz referência à ação dos componentes do grupo, perante a necessidade de se sustentar o grupo, e da criação. Na terceira e última é os papeis individuais, ou seja, aquilo que leva o indivíduo a pertencer ao grupo.

Ao que se refere ao desenvolvimento do grupo, Calderón e De Govia (1973) o grupo é sempre uma estrutura, mas com diferentes níveis de evolução. Segundo eles, o grupo passa por quatro fazes significativas, sendo elas: aglutinação (neste momento a ne-cessidade do outro é explicita, mas a relação está voltada ao líder, sem ele o grupo não se percebe como tal); possessão: se percebe como grupo, e começa a surgir relações de amiza-de, um cuidado mutuo para que o grupo prevaleça. Os membros têm iniciativa, e possuem valores de igualdade. Se à deformação, ocorre uma percepção de individualismo; coesão: as metas são comuns aos integrantes do grupo, o líder assume uma função reguladora, o gru-po é cada vez mais amigo, e percebem um ao outro como iguais. Tendem a padronização, sendo a responsabilidade e reconhecimento dividido igualmente. Se existe deformação os integrantes ficam em uma autoafirmação sobre sua função e seus objetivos, se preocupando individualmente; independência é marcada pela autogestão, sendo assim todos responsá-veis igualitariamente pela organização do grupo, horários, datas crescendo mais a confiança e amizade entre os integrantes.

Conclui-se então que para Pichon-Rivière o grupo surge a partir do modelo natu-ral, a família, e que a partir daí uma estrutura que tenha função, coesão e finalidade, junto a um número determinado de pessoas constitui um grupo. A função do grupo essencial é resolver o problema proposto, sendo uma das tarefas a aprendizagem, a cura, o diagnóstico de uma dificuldade.

INFLUÊNCIA DA DIALÉTICA

Adorno e Horkheimer (1973) classificam os grupos como primários e secundários. Considera-se um grupo como primário de acordo com o tempo e a importância de que se revestem para o desenvolvimento da personalidade e a manutenção das ideias e dos ideais sociais, ao passo que os grupos secundários abrangeriam grupos.

Pode-se citar ainda a concepção de processo grupal proposto por Michel Balint. Interessou-se em aplicar alguns conceitos básicos da psicanálise no estudo e aprofundamento das relações médico-paciente. Abordou temas como transferência e contratransferência, re-presentação da relação objetal primária e pela investigação da atmosfera do setting como fator facilitador da regressão aos estados que coincidem com eventos traumáticos. Pesquisou ainda sobre a regressão, procurando nelas possibilidades terapêuticas.

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EXEMPLIFICANDO COM OS GRUPOS BALINT

Brandt, (2011) coloca o grupo de Balint como sendo um espaço de discussão ou espaço de palavra. Trabalhar as temáticas que envolvem transferência geram proble-mas complexos, como por exemplo: Os grupos são abertos e consequentemente, existe um grande fluxo; o campo transferencial é ampliado; os casos são trazidos ao grupo por meio de relatos; também tem que ser considerado as próprias relações dentro do próprio grupo de análise; exposição indevida de conteúdos subjetivos; presença de chefias de psi-quiatria e outros convidados.

Balint ressalta o cuidado para não expor conteúdos que não podem ser explorados, que fazem referência à transferência privada. Desse modo, essa modalidade afasta-se aos pres-supostos adotados em grupos com finalidades psicoterápicas.

A estruturação dos grupos deve atender a uma atmosfera favorável e de ritmos, permitindo um distanciamento dos participantes dos casos analisados.

Existem duas correntes teóricas que fazem referência a proposta de Balint. O autor Turquet, caracterizado como um seguidor de Bion descreve que o processo grupal necessita de uma inclusão de um processo de referência ao grupo, ou seja, uma figura com a função de líder e, outra com a função de escuta o que não acontece nos grupos de Balint. Já Michael e Enid afirmam que Balint conseguiu dar um caráter puro ao método.

As principais referências críticas referem-se: a Bion - fenômeno contra liderança; líder modelo – interpretação e elaboração -, e Balint - coordenador não deve se colocar como líder, pesquisador; não funciona como modelo; condição de pesquisadores.

O grupo Balint diferencia-se ainda do modelo implantado por Pichon-Rivíere em que existe a propositura de um papel coletivo. Zimerman vai além e diz que o grupo apro-xima-se em um sentido mais atual do modelo dos grupos de reflexão de Delarossa (1979) citado por Brandt (2011).

Esse autor afirma que no Brasil a abordagem que mais prevalece é a de grupos de reflexão, que muitas vezes têm como público, profissionais da saúde e que não tem propósitos terapêuticos. Esse ponto, não é consenso entre os autores que afirma que os grupos dos segui-dores de Pichon-Rivière adquiriram um formato de grupo operativo.

Percebe-se então que toda a obra de Balint tem foco na relação médico-paciente e essa relação constitui toda a base para os grupos. Constitui um papel de pesquisa que inclui a figura de um coordenador.

O ambiente de trabalho do grupo Balint deveria apresentar um clima de confiança e harmonia, que é trabalhada pelo coordenador estabelecendo dessa forma as condições para uma aprendizagem não competitiva. “Não é trabalhada assunção de papéis diferenciados no grupo; todos os participantes, inclusive o coordenador, devem colocar-se na condição de pes-quisadores” (BRANDT, 2011, p. 142).

Considerações finais

A essência dessa discussão baseou-se no conceito de grupo de Lane (1986). Para a autora a função do grupo é definir papéis, o que leva a definição da identidade social dos indivíduos. Então, o grupo pode ser visto como um lugar onde as pessoas mostram suas dife-renças, onde as relações de poder estão presentes e perpassam as decisões cotidianas.

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Para o grupo Balint a definição mais próxima seria a de Lewin (1973) que afirmou que a essência do grupo reside na sua interdependência e que o grau de interdependência dos membros do grupo varia entre uma massa sem coesão e uma unidade composta. No modelo lewiniano, temos um grupo coeso, estruturado, acabado e em que não há lugar para conflito.

Tomados em conjunto, a maioria dos psicólogos atuantes em grupos consi-dera o grupo como uma interação entre o indivíduo e os grupos, levando em consiconsi-deração o que acontece no interpessoal e integrupal. Os especialistas em grupos se atêm a aplicação de técnicas grupais que desenvolvem a cooperação entre os participantes. Ademais, a inserção no grupo pode ser feita de forma consciente ou inconsciente, ser formando de forma natural ou com finalidades específicas.

Percebe-se ainda no texto uma semelhança conforme a caracterização de Mailhiiot (1991) sobre o trabalho de Lewin. Este convidou os psicólogos sociais a centralizar seus estu-dos nos microgrupos e conduziu a psicologia social a um plano mais realista. Mailhiot (1991) cita ainda, que algumas das contribuições propostas por Lewin são: destacar vários critérios que permitam identificar os comportamentos de grupos e distinguir entre sóciogrupo (grupo de tarefa, estruturado e orientado em função da execução ou do cumprimento de uma tarefa) e psicogrupo (grupo de formação, estruturado, orientado e polarizado em função dos mem-bros que constituem o grupo).

Sob outro olhar, Calderón e De Govia (1973) existem cinco tipos de grupo que são: aglutinado, possessivo, coesivo, independente e o socializado. E para produzir os resultados que os membros necessitam, o grupo utiliza meios de produção que são: membros do grupo, recursos e metas do grupo.

Conforme Calderón e De Govia (1973), as relações que o grupo estabelece durante a produção são: relações de liderança (organização do grupo para o alcance de suas metas), re-lações de tempo livre (rere-lações de conservação do grupo), rere-lações com exogrupos (através dos membros que participam de outros grupos, e de grupo a grupo dentro do subnível de integra-ção institucional ou da comunidade). As interações no grupo ocorrem quando os membros do grupo realizam alguma tarefa em conjunto, e as maneiras de interatuar são: papéis para a tarefa do grupo, papéis de constituição e manutenção do grupo, e papéis individualistas. Da base dos grupos surge a ideologia que abarca os sentimentos de pertinência, amizade e a padronização (tendência a semelhança de sentimentos), as normas, valores.

Tomados em conjunto, percebe-se vários direcionamentos do contexto grupal e nessa síntese critica algumas perspectivas em termos das análises das interações interpessoais e até intergrupais que vão ser dependentes das abordagens teóricas que o psicólogo ou outro profissional sentir mais confortável.

PSYCHOTHERAPEUTIC GROUP WORK: DIFFERENT CONTEXTS

Abstract: this article aims to deepen the theoretical discussions on the different group psychotherapy

works. Psychologists and other professionals have increasingly used the work of groups, so the impor-tance of understanding the history of activities that go beyond individual perspectives. Group can be the community where we are born, our family and etc. Already an organized group are groups of which you can enter, as churches, political parties, anonymous groups, companies and unions etc.

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Referências

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Referências

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