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AS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA POLÍTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA REALISTA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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Giuliano Guidi Braga

para o desenvolvimento da teoria

realista de relações internacionais

Mestrando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP)

(giulianobraga3@gmail.com)

Resumo

Os estudos das relações internacionais possuem suas origens nas teorias políticas. Este artigo busca mostrar como os principais teóricos clássicos influenciaram os novos teóricos do realismo nas relações internacionais.

Palavras-chave

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Introdução

O pensamento teórico em Relações Internacionais surgiu em um período em que os cientistas políticos viram a necessidade de aplicar suas teorias, anteriormente presas ao espectro interno do Estado, à participação do Estado no exterior. Surgindo como ciência em 1919, no País de Gales, as Relações internacionais passaram a agregar contribuições teóricas da filosofia política, da ciência política, da geografia e geopolítica, da história, bem como de outras áreas das ciências humanas. A partir dessa agregação teórica, passaram-se a ser produzidos os trabalhos científicos da área internacional (JACKSON e SORENSEN, 2010).

A linhagem histórica em que se viu a necessidade de criar um ramo científico que estudasse a participação do país no sistema internacional se caracteriza pelos encerramentos dos conflitos referentes à Primeira Guerra Mundial (1914-1919). A partir da experiência dos países na guerra, tendo em vista os efeitos internos causados pela participação do país em um conflito internacional e as consequências onerosas para os países europeus, a comunidade científica passa a dar ouvidos para duas teorias que nessa época surgiam: o realismo clássico e o idealismo, formando o primeiro debate teórico em Relações Internacionais (CARR, 1981).

Encabeçaram esse debate os teóricos E. H. Carr, defendendo o realismo, e o ex-presidente norte-americano Woodrow Wilson e Norman Angell, defendendo o idealismo. Na linha temporal, o idealismo ganhou destaque em 1918 quando Wilson publicou o documento popularmente conhecido como “Os 14 Pontos de Wilson” que trazia disposições relacionadas ao arranjo do sistema internacional no pós-primeira guerra. A nomenclatura de “idealismo” à teoria proposta pelo ex-presidente foi cunhada pelos realistas que surgiam como um contraponto à essas ideias (JACKSON e SORENSEN, 2010).

Com o intuito de elucidar brevemente sobre a teoria idealista para saber a que se contrapunham os realistas farei uma pequena compilação das principais ideias propostas tanto por Angell, em “A Grande Ilusão” como por Wilson.

Norman Angell (1909) possui uma visão mais economicista da situação do sistema internacional dizendo que a partir da experiência obtida com a Primeira Guerra os Estados não tenderão mais a entrar em guerra, pois essa ação seria muito onerosa para o Estado e, nesse período pós-guerra, poucos possuem uma economia sólida para lidar com outro conflito de grande porte. Coloca em primeiro plano na relação dos Estados o direito internacional como ordenador das relações interestatais, afirmando que isso proporcionaria uma maior igualdade jurídica para o sistema internacional (ANGELL, 1909).

Complementando essas ideias de Angell, Woodrow Wilson em 1918 lança seus “14 pontos”. O ponto que teve maior impacto para sua importância nas teorias de relações internacionais foi o 14, que versava sobre a “Criação de uma sociedade das nações que assegure a independência política e a integridade dos Estados grandes e pequenos” (WILSON, 1918), culminando na criação da Liga das Nações em 1919, surgindo como uma organização supraestatal que tinha como principal objetivo a manutenção da paz mundial. O sistema de decisões dentro da Liga das Nações era realizado de modo consensual, sendo a invasão da Manchúria pelo Japão e da Etópia pela Itália pontos que geraram as controversas internas na organização. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Liga viu-se em um ambiente insalubre e foi dissolvida (WILSON, 1918).

Apresentadas essas teorias, no ano de 1939, vendo o fracasso da Liga das Nações e a inaplicabilidade das ideias apresentadas anteriormente, E. H. Carr publica seu livro “Vinte Anos de Crise” colocando que

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o período entre guerras em que as ideias do idealismo estavam em voga foram um período de crise para as relações entre os Estados.

De modo a colocar o plano estatal como principal, Carr diz que nenhum Estado está subordinado a uma Organização Internacional (OI), estando elas a mercê das vontades dos membros que estão sempre buscando benefícios próprios. Quanto à Liga das Nações mais especificamente, Carr coloca que ela teve uma visão ingênua a não prever os conflitos ocorridos, sendo que a política internacional, na visão realista, está baseada na disputa pelo poder (CARR, 1981).

Influências das teorias políticas no realismo

clássico

Como as primeiras teorias de relações internacionais buscavam o resgate de outras ciências humanas, o embasamento teórico do realismo se pautou muito na visão de natureza humana e de contrato social da filosofia política. Os principais nomes resgatados por essa teoria são Maquiavel e Hobbes.

Carr faz um resgate mais profundo a Maquiavel ao adotar a visão de natureza humana maquiaveliana e adaptando essa visão para as relações entre os Estados. Maquiavel propôs que as relações de poder são intrínsecas à natureza humana, prevendo uma certa imutabilidade da natureza humana, versando que as relações de poder é que prevalecem em tempos de conflitos. Carr, adapta essa visão ao propor a ingenuidade da Liga das Nações ao não conseguir se sustentar em tempos conflituosos, preconizando um certo pessimismo em relação à natureza humana (VIOTTI e KAUPPI, 2010).

O mesmo transporte teórico pode ser visto quanto a visão de virtude dos homens, o que Maquiavel colocou como não apenas o uso da força, mas o uso virtuoso da força. Essa virtude nos Estados pode ser encontrada nas relações de hegemonia, sendo

que o hegemon, aquele que possui maior poder, predominantemente militar (o que Carr classifica como High Politics), deve usar a força virtuosamente, sabendo quando usa-la e quando apelar para a diplomacia (CARR, 1981).

Nasce no espectro teórico de relações internacionais a noção de sobrevivência de um Estado perante os outros. Já que há a preocupação com a sobrevivência, as ações dos Estados devem ser minuciosamente calculadas.

Outro teórico político que contribuiu para o desenvolvimento da teoria realista de relações internacionais foi Hobbes. A noção de natureza humana do realismo transportada para a natureza dos Estados em relações internacionais é formada através de um híbrido entre as visões Maquiaveliana e Hobbesiana.

Muito é utilizado sobre o Estado de Natureza hobbesiano, em que os homens estão em um espectro de guerra constante, transportando essa visão ao sistema internacional que é formado por Estados que estão constantemente em tensões conflituosas. Isso dava uma conotação negativa à anarquia no sistema internacional dizendo que os Estados não entrariam em guerras constantemente por via de recursos, porém somente o fator anárquico do sistema internacional, já era preciso para que os Estados vivessem em um ambiente de inconstâncias (CARR, 1981).

Para os realistas, embora a anarquia gere esse sistema de tensão ela é mais que necessária e um direito de todos os Estados, pois eles são os atores de força maior no sistema internacional. O direito internacional pode ser algo bom para os Estados na medida em que pode servir como uma moderação. Porém a partir do momento em que o direito internacional passa a suprimir a ação dos Estados, é completamente compreensível que os Estados o ignorem.

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O transporte teórico no realismo neoclássico

Dando continuidade à linhagem histórica da teoria realista, como sua primeira contribuição foi marcada pelo período entre guerras, o realismo clássico ficou estagnado, buscando verificar os efeitos da guerra ao sistema internacional. Ao passar tal período, houve uma adaptação teórica que levava em conta a experiência vivida pelo mundo na Segunda Guerra Mundial e buscava entender os caminhos tomados pelo sistema nesse novo conflito não pautado pela guerra.

O principal teórico que encabeçou esse período dou Hans Morgenthau, inaugurando o realismo neoclássico com a publicação de seu livro “Política entre as Nações” no ano de 1965. Sendo reflexo de um período relacionado com a transição de um mundo pós-segunda guerra para uma maior definição do que seria a Guerra Fria que o sistema internacional estaria vivendo. Para Morgenthau, é essencial que Hobbes e Maquiavel sejam citados em quaisquer obras do realismo, já que passa a ser do cerne da teoria realista, não importando a linha temporal que se encontre, a noção de que a natureza dos Estados é conflituosa. Para os teóricos realistas neoclássicos, o sistema anárquico se mostra como uma tentação ao conflito para os Estados (MORGENTHAU, 1948).

De modo mais didático e racional, Morgenthau buscou deixar clara sua teoria ao expressar seis pontos que se mostram essenciais para uma análise realista neoclássica, sendo eles: (1) política baseada em uma natureza humana imutável; (2) a política não pode ser reduzida à economia; (3) o autointeresse é um fator mínimo da condição dos Estados: todo Estado busca garantir sua segurança própria e sua sobrevivência; (4) a ética das relações internacionais é circunstancial; (5) nações particulares não podem se impor a outras nações; (6) a atividade política pressupõe uma racionalidade por parte do indivíduo (MORGENTHAU, 1948).

Com esses princípios, Morgenthau conceituou de modo legal as premissas da análise realista neoclássica. Essas premissas levam considerações anteriormente feitas por Hobbes e Maquiavel a respeito da natureza humana e do Estado de Natureza hobbesiano.

A contribuição teórica do trabalho de Morgenthau versa também sobre temas essenciais tanto para a política quanto para as relações internacionais realizando uma discussão sobre o conceito de poder.

O autor coloca veementemente em sua obra a necessidade de balança do poder no sistema internacional. O equilíbrio de poder deve existir de modo a gerar um balanceamento entre as maiores potências. Na época, o fator que caracterizava uma grande potência era sua nuclearização (obtenção de armas nucleares). Morgenthau teoriza que a nuclearização de um Estado acaba por desenvolver o poder não utilizável, ou seja, o Estado possui o pode nuclear, mas sabe que se utiliza-lo pode gerar consequências para a população mundial, além disso, o Estado sabe que não é o único a obter armas desse porte, podendo encontrar-se em um ambiente de Destruição Mutua Assegurada (MAD). Quanto ao que o autor classifica como poder utilizável. Há uma maior possibilidade de uso desse poder, sendo representado pelo poder militar-bélico, em que seu uso pode ser realizado com cautela, mas mesmo assim ele se mostra como necessário para a garantia da segurança de um Estado (MORGENTHAU, 1948).

Essa distinção de poder entra em uma visão de virtude maquiaveliana em que o Estado sabe quando deve ou não deve utilizar a força que tem. O caso da utilização da bomba atômica em Hiroshima e Nagazaki em 1945 podem ser condenadas como uma falta de liderança virtuosa nos Estados Unidos o que acabou por permitir uma medida não racional para a situação. Porém essa visão poderia ser contraposta pelo argumento de que o Japão não tinha esse mesmo poderio nuclear, não se configurando, portanto, como

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um cenário de MAD, já que o poderio nuclear não era mútuo.

Noerealismo: uma revisita das teorias

políticas

Surgindo no final da década de 1970 até o começo dos anos 1990, essa releitura da teoria realista buscava adaptar os preceitos teóricos clássicos e neoclássicos para um sistema cuja participação das organizações internacionais estava em seu auge e a participação das forças transnacionais também estava começando a ganhar força.

O principal teórico do neorrealismo é Kenneth Waltz. Em suas principais obras, “Theory of International

Politics” publicado em 1979 e “O Homem, o Estado e a Guerra” publicado em 1959. No primeiro, Waltz inaugura a teoria neorrealista, já no segundo, inaugura a metodologia dos níveis de análise utilizada com frequência nas teorias das relações internacionais.

Como o embasamento teórico do neorrealismo de Waltz é baseado na metodologia dos níveis de análise, cabe uma rápida investigação do método. Os níveis de análise podem ser divididos em três, sendo eles: (a) Nível Sistêmico; (b) Nível Estatal; (c) Nível Societal. O primeiro deles diz respeito aos temas do sistema internacional, buscando refletir sobre como o sistema como um todo reage a diversos tipos de fatores de pressão. Já o segundo, versa sobre a visão do Estado e como o Estado e seus elementos internos, colocado no patamar de ator principal, reage às pressões internacionais. Por fim, o terceiro rege sobre a visão individual, levando em conta as lideranças e os grupos de pressão, abrangendo uma análise mais psicológica e antropológica para os casos (WALTZ, 1959).

Waltz inaugura no aspecto teórico a proposição de princípios de regimento do sistema internacional no âmbito do Estado. Sendo tais princípios: (i) Princípio

do Ordenamento; (ii) Diferenciação Funcional; (iii) Distribuição das Capacidades.

De acordo com o primeiro princípio, Waltz coloca que o ordenamento d sistema político doméstico deve ser centralizado e hierárquico, porém no âmbito internacional, esse sistema deve ser descentralizado e anárquico. Um fator de centralização que gerou controvérsias entre os neorrealistas foi a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), dizendo que a organização pode se mostrara como um leviatã do sistema internacional, resgatando a teoria de Hobbes (WALTZ, 1979).

Em relação ao segundo princípio, os Estados internamente devem buscar uma diferenciação de suas instituições, como a distinção clara entre os três poderes constitucionais. Porém, no âmbito externo, os Estados não possuem diferenciação alguma entre si, sendo que todos os Estados possuem espectros econômicos, políticos, culturais, etc. Todos os Estados possuem a mesma função no sistema internacional (WALTZ, 1979).

Esse princípio a não diferenciação pode ser visto no terceiro princípio referente à Distribuição das Capacidades. Os Estados são iguais juridicamente, porém de modo pragmático a igualdade é medida entre as capacidades dos Estados, muitas vezes atribuídas ao plano militar, de acordo com o espectro neorrealista. Isso só pode ocorrer em um sistema internacional anárquico que permita os Estados a se desenvolverem de modo particular (WALTZ, 1979).

Para que esses princípios possam ocorrer nas relações internacionais, é necessária a lógica de Balanço do Poder, que Waltz traduz para Equilíbrio de poder, sendo que, somente em m sistema que se preconize tal característica a anarquia pode ser benéfica de modo a sempre trazer uma relação de bônus ao Estado.

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Conclusão

De acordo com o apresentado anteriormente, pode-se verificar que a teoria política acaba por tomar um papel de pedra basilar das teorias de relações internacionais. As contribuições tanto de Maquiavel quanto de Hobbes levaram à teoria realista uma certa atemporalidade, devendo os teóricos adaptar tais teorias clássicas aos elementos que surgiam de acordo com a linha temporal no sistema internacional.

A partir do Realismo Clássico, passando pelo Realismo Neoclássico e culminando no Neorrealismo, a visão de natureza humana é maquiaveliana, adotando-se a possibilidade e um Estado de Natureza hobbesiano para o sistema internacional.

Outros teóricos neorrealistas, como J. J. Mearsheimer, buscaram trazer esse debate teórico para o século XXI. O debate mais icônico protagonizado por Mearsheimer defendendo o lado realista e Joseph Nye Jr. defendendo o lado Liberal (evolução da teoria clássica idealista) em que o principal ponto de discordância era a ONU e as outras organizações internacionais.

Isso mostra que, embora o centro das teorias políticas tenha sido proposto em uma linha de tempo muito anterior a alguns elementos, ele ainda pode ser transportado para os assuntos contemporâneos de modo a ser adaptado para atender as particularidades que fazem parte do sistema internacional na época estudada.

Referências bibliográficas

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Referências

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