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O TRABALHO DO APENADO EM RELAÇÃO À EXECUÇÃO PENAL E SEUS DESDO- BRAMENTOS NOS RAMOS DO DIREITO

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O TRABALHO DO APENADO EM RELAÇÃO À EXECUÇÃO PENAL E SEUS

DESDO-BRAMENTOS NOS RAMOS DO DIREITO

José Matheus Antunes Ribeiro de Oliveira1

Ulisses Pessôa2

RESUMO

O presente artigo tem como escopo principal demonstrar de maneira concisa a importância de uma política pública de excelência na seara da execução penal, no qual seja respeitados direitos fundamentais básicos, e que devido a esses respeitos se obterá vantagens, como pode ser isto em modelos internacionais. Por derradeiro, o respeito aos direitos fundamentais se ve-rifica em especial ao direito de normas trabalhistas, que majoritariamente são desrespeitadas pelos entes públicos e empresas privadas que catalisam um evento altamente danoso, como é o caso do dumping social.

Palavras-chave: Trabalho; Cárcere; Execução Penal; remição; Dumping Social.

ABSTRACT

The main purpose of this article is to demonstrate, in a concise manner, the importance of a public policy of excellence in the area of criminal enforcement, in which basic fundamental rights are respected, and that due to these respects one can derive advantages, such as inter-national models . Ultimately, respect for fundamental rights is in particular the right to labor standards, which are mostly disregarded by public bodies and private companies that catalyze a highly damaging event, such as social dumping.

1 Pós-graduando em Direito Penal e Processo Penal pela UERJ; Pesquisador vinculado ao grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e Sistema Penal (SGSP); Advogado Criminalista. E-mail: direitoj.matheus@gmail.com

2 Doutorando em Direito pela UNESA/RJ (Bolsista integral pela CAPES); Mestre em Di-reito pela UNESA/RJ (Bolsista integral pela CAPES); Especialista em DiDi-reito Penal e Processo Penal; Professor de Direito Penal e Processo Penal das graduações da UNISUAM e Signorelli; Professor de Direito Penal e Processo Penal da pós-graduação da UERJ; Professor de Direito Penal e Processo Penal da FGV-LAW Program; Professor de Direito Penal e Processo Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ); Advogado Criminalista; Coorde-nador do grupo de pesquisa Sociedade Globalizada e Sistema Penal (SGSP); Escritor. E-mail: ulissespessoadossantos@gmail.com

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Keywords: Work; Prison; Penal execution; remission; Social Dumping

INTRODUÇÃO

Inicialmente o anseio do presente artigo é trazer de forma objetiva e clara elementos da política pública na execução penal global e um panorama histórico do tratamento da admi-nistração carcerária perante o preso. Na linha do tempo formulada mostra os principais mar-cos de avanços em respeito aos direitos humanos, e o quanto o tratamento do preso evoluiu.

Em um segundo aspecto é adentrado na seara de como surgiu a questão envolvendo cárcere e trabalho, sendo possível verificar que a parte embrionária da relação cárcere e tra-balho teve seu início através do modelo da Filadélfia, no qual foram desprendidas 03 formas clássicas de modelo de exploração da mão de obra.

É imperioso ressaltar a importância do direito constitucional, no tocante ao respeito das normas trabalhistas, tendo em vista, que usualmente tais direitos são amplamente desrespeitados. Na mesma linha de raciocínio, é notório elencar a importância do trabalho como forma de combate a reincidência, motivo pelo qual a ferramenta ressocializadora deve vir ser empregada de maneira aos custodiados.

Certo também que a relação de vínculo empregatício gerado entre custodiado e em-presa privada que atua no sistema carcerário atende aos ditames previstos na Consolidação das leis Trabalhista. Ou seja, a relação empregatícia atende os 05 (cinco) requisitos laborais, quais sejam: Subordinação, habitualidade, onerosidade, pessoa física e pessoalidade.

Como ponto nefrálgico é comparado de maneira objetiva o funcionamento de um pre-sídio no exterior, em especial em países escandinavos, que são foco em objetivo de instrumen-to ressocializador e porque as taxas de reincidência destes países representam atualmente para o Brasil uma marca utópica de difícil alcance.

Por derradeiro, é importante mencionar como o desrespeito às normas trabalhistas, quais sejam, desrespeito ao pagamento de salários, ou pagamento inferior ao salário mínimo (fato este que é permitido pela Lei de Execuções penais) permite empresas se aproveitarem da mão de obra barata para potencializarem seus lucros, gerando uma competitividade desleal de mercado afetando o livre mercado que possui status constitucional, na economia brasileira que é estritamente capitalista.

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Para abordar de maneira precisa o impacto do trabalho nas relações envolvendo ape-nados é importante trazer uma ordem cronológica, qual seja, a evolução da punição dos pre-sos na história.

E esta evolução começa na Grécia Antiga, no qual as punições severas sobre o corpo do indivíduo eram regras, estes cárceres serviam como palco para monstruosos espetáculos de tortura. Em um avanço temporal, com desembarque no século XIX, as prisões começam a se assemelhar como as que tradicionalmente são conhecidas hoje, com confinamento, ensi-namentos religiosos e trabalho pesado, abre-se espaço para aquela velha figura conhecida de filmes, com o custodiado com uma bola presa ao pé e com a picareta na mão extraindo pedras.

Com o decorrer das décadas, em especial na Espanha nos meados do século XIX, se chega a ideia de que era necessário ir de maneira progressiva diminuído o rigor das prisões, para que o apenado fosse progressivamente melhorando seu comportamento, podendo atri-buir determinadas funções como por exemplo a responsabilidade pela limpeza do presídio.

E por fim, em uma escala global se chega aos meados do século XX, no ano de 1955, com a elaboração por parte da ONU (Organização das Nações Unidas) de um documento que elaborou as regras mínimas para tratamento dos presos, em um momento que os direitos humanos estava amplamente em voga, haja vista o término da segunda guerra mundial que por parte da Alemanha Nazista culminou com gravíssimos desrespeitos aos direitos humanos

DO NASCIMENTO DA UTILIZAÇÃO DO CÁRCERE COMO FORMA DE RESSOCIALIZAÇÃO ATRÁ-VES DO TRABALHO

MODELO FILADELFIANO

Antes de adentrar na questão do trabalho propriamente, deve-se elencar o real sur-gimento do trabalho realizado dentro do próprio cárcere. Sendo assim é importante tecer co-mentários acerca do modelo filadelfiano, utilizado amplamente ao final do século XVIII, tendo como base a religião Quaker3.

Fato que pode gerar estranheza, é a importância na religião no modelo de trabalho realizado no âmbito carcerário. Isto se dá porque o modelo de isolamento em celas começou por influência da igreja, com pareceres aos agentes de segurança, haja visto que para a religião a retirada do criminoso, ou melhor, a sua ressocialização no cárcere se daria de forma melhor aproveitada caso o mesmo ficasse sozinho, refletindo sobre seus erros e pecados.

3 Quaker ) é o nome atribuído a uma pluralidade de grupos religiosos, com uma mesma origem, em um movimento protestante britânico.

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De forma objetiva, pode-se citar a utilização de 03 (três) modelos básicos como forma de exploração da mão de obra do custodiado no universo do cárcere, sendo a primeira conhe-cida como o state-use, no qual consiste na utilização da força de trabalho do próprio preso,

na produção de manufaturas (transformação de matéria prima em produto comercializado), o ponto cerne desta forma de exploração é que a própria administração penitenciária que con-some os produtos fabricados.

A prática do state-use encontrou pouca resistência de sindicato dos trabalhadores á

época, haja vista que a competitividade com a mão de obra de fora do cárcere não era coloca-da em risco, o que não gerava o dumping social.

Como uma segunda forma de trabalho através da relação cárcere e custodiado, po-de-se citar o public work, que consiste, estritamente na força exercida pelo trabalho do preso em obras públicas. Neste momento é essencial traçar uma analogia com a Lei de Execuções penais, pode-se citar o artigo 36 do diploma legal, que assevera que “ O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. ”

A política de trabalho do public work, na figura das entidades classes dos

trabalhado-res reptrabalhado-resentou pouca oposição de sindicatos, tendo em vista que já são atividades em am-biente externo e que possivelmente poderia vir a resultar em licitação e culminar com geração de empregos para a sociedade não carcerária.

Como terceira e última forma de exploração da mão de obra do preso, pode-se citar o

public account, que consiste numa total inversão de valores até o momento, no qual o sistema

penitenciário se revoluciona e se transforma em uma empresa pública. A funcionabilidade desse sistema ocorria da seguinte forma: o Estado efetuava a compra da matéria prima, mo-mento posterior realizar e estabelecia os processos produtivos e coloca à venda com preço competitivo, frisa-que os custos para a confecção da produção são amenizados, com a utiliza-ção de impostos e principalmente salários reduzidos.

Como elemento derradeiro, cinge-se informar que o modelo filadelfiano, veio a de-clinar, por motivos, tais como o trabalho solitário em celas, que afasta o custodiado de uma escala maior de produção, cabe informar que o modelo filafdelfiano é voltado para questões terapêuticos, visando retirar do preso uma mentalidade criminosa, priva o mercado de força de trabalho útil.

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Como um avanço, decorrente do sistema obsoleto que era o modelo filadelfiano, sur-ge o tão conhecido modelo auburniano de penitenciário, consistente em atividades laborati-vas durante o dia inteiro, e ocorrendo no período noturno, isolamento dos presos através do silente system4. O modelo em análise faz uma abertura para a exploração do capitalismo no

que tange a mão de obra no cárcere.

Em decorrência do envolvimento entre o setor privado, representado por empresas capitalistas e a administração penitenciárias surgem modelos de utilização da mão de obra no cárcere, pode-se citar, primeiramente o modelo do contract, que na visão da época de especialistas, seria o modo de lidar com essa mão de obra mais oportuno, no qual submete a atividade laborativa do custodiado perante duas autoridades: o empresário que realiza toda a escala de trabalho, além de toda questão de equipamentos e fica responsável sobre a venda a ser realizada no mercado com um preço atrativo, haja vista que a mão de obra, na questão salarial é totalmente reduzida e a outra autoridade é o próprio Estado que permite a explora-ção da mão de obra.

Cabe ressaltar na questão do contract, que o estado, na figura da administração pe-nitenciária, apresenta um lucro considerável, e com o ônus de não correr nenhum risco eco-nômico. Tal modelo de mão de obra carcerária encontrou inúmeros problemas, dentre eles o forte combate dos órgãos de classe .

Como um segundo modelo utilizado, é necessário adentrar na questão do leasing, que a época foi o sistema mais utilizado, no qual em linhas gerais, a administração peniten-ciária fica totalmente subordinada ao empresário capitalista, que irá coordenar toda a cadeia produtiva e será responsável também pela disciplina do custodiado no momento da sua ati-vidade laborativa. Note-se que a administração penitenciária não terá nenhuma ingerência sobre o controle dos presos.

É oportuno tecer comentários de que para a “utilização” dos presos, o empresário capitalista irá efetuar um pagamento para o estado, como se estivesse alugando a mão de obra. O problema desse sistema que foi verificado praticamente a volta ao sistema escravocrata, o preso era colocado em condições sub-humanas, com intuito exclusivamente voltado a produção, marcas deste lamentável processo são as questões de disciplinas, impostas, no qual a sanção era pena corpóreas.

Na seara das penitenciarias privatizadas que possuem o modelo aubarniamo come-çam a entrar em crise, tendo em vista que as próprias empresas apresentam dificuldades de 4 Sistema no qual o preso não tinha interação com qualquer pessoa, se assemelhando com o sistema RDD (regime disciplinar diferenciado). O sistema aubarniano não tinha como escopo princial a recuperação do custodiado, todavia visava exclusivamente a obediência ir-restrita do preso, o que garantia as segurança no ambiente do cárcere e também a manuten-ção da exploramanuten-ção da mão de obra.

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inovações tecnológicas dentro do próprio sistema penitenciário, pode ser citado inclusive o crescimento exponencial dos sindicatos de trabalhadores que lutam contra os modelos de prisões que utilizam estes tipos de exploração na mão de obra.

É forçoso mencionar que nos Estados Unidos, as penitenciárias de natureza privadas, vieram a ser banidas no ano de 1925, tendo em vista recorrentes escândalos de maus-tratos, em especial da exploração praticamente escravocrata nos estados sulistas.

DO DIREITO CONSTITUCIONAL EM RESPEITO AS NORMAS DO TRABALHO

Um dos pontos mais cruciais que deve ser abordado é o confronto direto entre as normas da LEP e da CRFB, que se relevam ser antagônicas haja vista o artigo 7º, inciso I e IV da CRFB garante ao trabalhador o vínculo empregatício e salário mínimo unificado em contra-ponto aos artigos 28 §2º da LEP que aborda que não se aplica a consolidação das leis trabalhis-tas ao preso e no artigo 29 da mesma lei que o salário não pode ser inferior a 3/4 do salário mínimo

Adentrando na questão constitucional, é necessário selecionar O inciso IV do art. 1º da Constituição que firma o valor social do trabalho como fundamento da República Federativa do Brasil. Dessa forma, a atividade laborativa forma o arcabouço para o Estado promover e guardar o seu valor social que serve como um dos motivos de sua existência.

Já o inciso III do mesmo diploma legal assevera o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República, posicionando o homem como cerne de convergência da normal legal. O trabalho e a dignidade da pessoa humana, portanto, são dois valores indissociáveis, uma vez que a Constituição não concebe a dignidade sem o trabalho e o trabalho sem a dignidade.

Para Amauri Mascaro Nascimento, “O direito do trabalho, sob essa perspectiva, é um conjunto de direitos conferidos ao trabalhador como meio de dar equilíbrio entre os sujeitos do contrato de trabalho, diante da natural desigualdade que os separa, e favorece uma das partes do vínculo jurídico, o patronal”. (NASCIMENTO, 2009, p. 389).

É necessário enaltecer o trabalho, tendo em vista que este elemento é um dos princípios mais respeitáveis dentro da sistemática constitucional brasileira democrática. A constituição reconhece a imprescindibilidade da atividade laborativa como instrumento precípuo para garantir efetividade nos direitos do ser humano, tanto na questão do seu interior, e em relação a sociedade como um todo.

Nesse viés umas vastas quantidades de direitos trabalhistas são violados por parte de empresas parceiras que possuem os apenados como mão de obra, como é o caso das horas

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extras que podem vir a ocorrer.

Há de ser ressaltado ainda o importante princípio constitucional da dignidade da pes-soa humana, que regula todas as esferas do direito e serve como um importante aliado de garantia dos direitos humanos. No caso do presente artigo, se deve considerar sem efeitos jurídicos a lei infraconstitucional que faz com que o trabalhador apenado que têm garantias constitucionais garantidas desrespeitadas.

De maneira complementar, é necessário elencar que em um plano internacional, a Or-ganização das Nações Unidas (ONU) prevê em suas resoluções, regrar mínimas para obrigação do trabalho do preso. Ou seja, no momento de ser auferido um trabalho ao preso, deve-se levar em consideração o estado físico e mental do mesmo, de acordo com orientação médica.

Direcionando-se ao interesse e regras internacionais acerca do assunto, deve ser asse-gurado aos idosos, em especial, aos maiores de 60 (sessenta) anos o direito de requerer ativi-dade laborativa adequada à sua iativi-dade (condição pessoal) e aos doentes e deficientes físicos o direito de praticar atividades apropriadas ao seu estado.

IMPORTÂNCIA DO TRABALHO EM COMBATE A REINCIDÊNCIA

É de suma importância analisar a importância do trabalho do apenado concomitantemente com a importância do estudo fornecido aos custodiados. Em uma sur-preende pesquisa por uma tese de doutorado se descobriu que a reincidência de quem traba-lha é menor de quem estuda nas falas de (Ignácio Canto,2009), no momento que é comparado o trabalho com a outra forma de remição, qual seja, o estudo, fica cristalino que ambos são significativos, porém, enquanto a remição por estudo no cárcere reduz a probabilidade de reincidência no patamar de 39%(trinta e nove por cento),o trabalho na prisão reduz a chance de reincidência no patamar de 48%(quarenta e oito por cento).

O que se verifica, é que os dados não ratificam uma das hipóteses embrionárias desta pesquisa de que o efeito do estudo é superior ao do trabalho na reinserção social do apenado.

O presente artigo não quer retirar a legitimidade dos educadores no sistema prisional, cabendo ressaltar que é um trabalho de elevadíssima estima e que agrega muito para uma ressocialização muito mais eficaz. O ponto nefrálgico desta seara é que o egresso que traba-lhou possui uma experiência profissional e o faz ter preferência em detrimento do detento que somente estudou no cárcere. O ideal, numa visão utópica, tendo em vista o retrógado sistema carcerário era haver uma coalisão entre teoria e prática, ou seja, o indivíduo ter o conhecimen-to técnico e já ter vivenciado a prática com um emprego intramuros.

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envolvendo egressos, como por exemplo, o indivíduo que recentemente sai do nível educa-cional e almeja um primeiro emprego, que encontra dificuldade tendo em vista a ausência de experiência anterior.

Na questão da ressocialização do preso, é imprescindível a doutrina de (BITENCOURT. p. 471) “o trabalho prisional é a melhor forma de ocupar o tempo ocioso do condenado e di-minuir os efeitos criminógenos da prisão’’

No mesmo diapasão é forçoso elencar (Leal,2004) que assevera: que a atividade labo-rativa, outrossim ser um direito, pode ser interpretado como uma obrigação do custodiado, de forma que o trabalho no cárcere significa uma ferramenta indissociável da escala de produção material na pena privativa de liberdade. É ventilado ainda que a liga entre trabalho e perda da liberdade tem o condão realizar a recuperação social e moral do preso.

Na visão do autor, a pena é necessária para desenfrear o autor de cometer novos deli-tos, para que ao final de todo cumprimento da pena, o sujeito possa vir a ser ressocialização, ou melhor, ser incluso socialmente. Nada mais positivo do que uma prática laboral durante todo o cumprimento de pena para angariar de forma positivo o êxito na ressocialização.

Desta forma, a ressocialização do custodiado, está intrinsicamente ligado a integração da pena e a execução penal, em especial a pena privativa de liberdade. O trabalho, deve ser entendida como uma obrigação social do custodiado, que ocorra de forma compatível com os ditames constitucionais, tendo em vista que a Constituição Federal de 1988 possui como raiz basilar o valor social do trabalho.

Para finalizar a importância de ressocializar e evitar que pessoas retornem para o cár-cere, é necessário colecionar importantes pensamentos de indivíduos que conhecem intrin-sicamente o sistema penitenciário brasileiro, como é o caso do ex. Ministro da Justiça, José (Eduardo Cardozo, 2012), se fosse obrigado a passar inúmeros anos custodiados numa peni-tenciária no Brasil, preferiria morrer. A alegação do ex. Ministro da Justiça em São Paulo, no qual Cardozo veio a ser indagado se concordava com a adoção da pena de morte no Brasil.

O mesmo ressaltou ser contrária a pena capita, e elencou que os presídios no Brasil possuem condições “medievais”, e por isso não conseguem lograr êxito em obter a reinserção social, afirmando ainda, que no fundo do seu coração, caso viesse a ter que cumprir muitos anos em um alguma prisão brasileira, preferia morrer.

REMIÇÃO COMO INSTRUMENTO RESSOCIALIZADOR

O emprego da atividade laborativa e do estudo no decorrer do cumprimento de pena é umas formas de ressocialização adotadas pela Lei de Execução penal, mormente ser

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estimu-lada pelo instituto da remição, que no caso do exercício de um trabalho, ocorre da seguinte forma: A cada 03 (três) dias trabalhados, se retira 01 (um) dia da pena do custodiado. A título de informação, caso ocorra a remição pelo estudo, ocorre na seguinte proporção: a cada 12 (doze) horas de estudo (frequência escolar), se retira um dia de pena, cabe informar que a carga máxima de estudo por dia são de 04 (quatro) horas.

Advém que a lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal), não assevera de maneira clara, ou melhor, sem apresentar detalhes mínimos, momento este que fica na mão do magistrado pela execução penal entender se a atividade laborativa foi correta para se aplicar a remição. Diante deste cenário, os Tribunais, têm incansavelmente dialogado com a matéria com relação se a remição pode ser aplica ou não, em determinadas matérias, nos quais a atividade, em um pla-no inicial, não estaria enquadrada em nenhum contexto disciplinado na lei.

Cite-se o exemplo, da leitura e a resenha de livros, que basicamente consiste em uma atividade autônoma, que não possui simetria com a frequência escolar, por mais que na prá-tica se pareça muito. Porém, o Superior Tribunal de Justiça, entende, possível a remição da pena, através destas modalidades. O STJ utilizou como fundamento legal, a autorização da remição pela leitura e a resenha, o instituto penal conhecido como analogia in Bona partem5.

Sem embargo, para que o direito ao benefício seja deferido em favor do preso, é ne-cessária uma análise crítica, tendo em vista que deve haver instalações corretas para propiciar o projeto da leitura, com devida observância aos ditames estabelecidos na Recomendação nº 44/13 do CNJ (AgRg no REsp 1.616.049/PR, j. 27/09/2016).

Tal como o ordenamento jurídico é genérico ao utilizar o vocábulo “trabalho”, os Egré-gios Tribunais de Justiça, têm se esforçado, em confronto com toda a lógica punitivista que circula o processo penal e execução penal, a admitir a remição pela execução de atividades que não se enquadram na Lei de Execução Penal.

O avanço interpretativo, possibilitou, de maneira mais recente, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso possibilitar a remição tendo em vista a produção de gêneros artesanais: O enfo-que enfo-que se mostra, é enfo-que possivelmente todo tipo de trabalho é licito, pois, o trabalho manual, adstrito não ser completamente usual, pode ser fonte de renda dos presos, até em momento posterior a sua saída do cárcere. Nesta esteira de raciocínio o art. 126 da LEP, possuir em seu bojo a plausibilidade da remição através do trabalho, fez de maneira amplamente genérica, ou melhor, sem apresentar qualquer impedimento, para o condenado que realiza o artesanato.

Há de ressaltar que, mesmo com uma literatura retrógada, o artigo 32, §1°da mesma 5 Analogia in Bona partem pode ser considerada como um princípio do ramo do direito, e possui larga utilização no direito penal, tendo em vista que se houver alguma lacuna legal, se utiliza algum fato ou ordenamento legal para suprir essa carência, logicamente em favor do réu.

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fonte legislativa (Lei 7.210/84), todavia expresse que, exceto nas áreas de turismo, nos traba-lhos intramuros, a atividade artesã sem expressão econômica deve limitada, cabe ressaltar, que não se faz impedimento a esta atividade laboral, apenas a limitou.

Outrossim, se desprende que a atividade laboral do artesanato, representa, como qual-quer outro oficio, estimulo a recuperação do custodiado, mormente que retira o mesmo do ócio, de horas sem produção econômico, além de trazer para si, o sentimento de reinserção social, além de uma sensação de importância, e por derradeiro, estimula o exercício da disci-plina.

A respeito da matéria acerca da possibilidade ou não de entender pelo trabalho envol-vendo artesanato, ensina (Mirabete,2006): “Como a proibição, porém, não é absoluta, deve ser permitido o trabalho artesanal se não for possível a execução de outras tarefas diante da impossibilidade de recursos materiais da Administração”.

Em sentido favorável, também já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo: “restando comprovado pelo órgão da execução, o trabalho artesanal é reconhecido como trabalho para fins de remição” (Agravo em Execução nº 346.391.3/8).

O espectro da palavra ressocializar é cristalino, ou seja, o trabalho pode ser de qual-quer forma, obviamente, deve ser resguardar uma licitude, haja vista expressa vedação legal, diante deste cenário, a utilização do artesanato apresentado anteriormente, reverbera como instrumento legítimo para retirar o preso do ostracismo e colocá-lo em uma cadeia produtiva. Frisa-se que o intuito do presente parágrafo é demonstrar que existem inúmeros tra-balhos a serem realizados no ambiente carcerário, fugindo do arcaico pensamento de que somente existe atividades manufatureiras, e produções de cunho fabril.

Como pano de fundo de todas estas questões, pode-se observar projetos sociais, como é o caso do projeto arte em liberdade6 que tem a missão precípua de incentivar, ou melhor,

fomentar o trabalho artístico dos presos, no ambiente do cárcere, cabe acrescentar que tais obras de arte ensejam renda para os próprios custodiados, o que torna a atividade totalmente rentável.

De forma a elucidar mais uma atividade pouco usual, e que representa um ofício, o STJ, em decisão recente, entendeu pela possibilidade de aplicação da remição de um preso através de sua atividade em um coral, atividade esta que representa uma severa dedicação, no qual o condenado exercia seu treinamento por cerca de 08 (oito) horas diárias.

6 Exposição com obras de detentos no TJRJ ressalta importância da reinserção social, O Arte em Liberdade nasceu a partir dos trabalhos de Livaldo da Silva. Internado com tubercu-lose no presídio Muniz Sodré, montou um barco para seu filho, enquanto terminava o trata-mento. O subdiretor do presídio viu o barco e gostou da peça. Link: http://www.tjrj.jus.br/ web/guest/noticias/noticia/-/visualizar-conteudo/5111210/6017135

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No caso anterior, a batalha jurídica se desenrolou de maneira combativa, tendo em vista que na primeira instancia, o Tribunal de Justiça do Espirito Santo havia negado a remição sobre o argumento de que a LEP não prevê a alternativa de redução da pena, através da ati-vidade musical, de cunho meramente artístico, e que por não se tratar de uma estrutura não empresarial, nem tampouco ser remunerado impossibilitava a concessão.

Todavia, como o ordenamento jurídico, não é taxativo em seus artigos, o Superior Tri-bunal de Justiça, entendeu, pela aplicação da analogia in Bona partem, de forma a entender que a atividade musical garante, e atende ao intuito ressocializador da própria Lei de Execu-ções Penais, tendo em vista acrescentar ao custodiado um avanço cultura, que pode ser um importante fato para sua inclusão social.

O trabalho musical no qual o reeducando está presente o profissionaliza em uma pro-fissão, dando qualificação e o capacita para adentrar no mercado de trabalho com condições reais de almejar uma vaga de emprego, e tem um segundo fator muito importante o afastan-do-o do crime, e o integrando a sociedade.

DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA ENTRE APENADO E EMPRESAS PARCEIRAS

Conforme se desprende da CLT, em especial seu artigo 3°, que vale a pena ser destaca-do para melhor efeito de elucidação “considera-se empregado toda e qualquer pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário’’

Nos casos envolvendo apenados e essas empresas parceiras ao sistema carcerário está presente o primeiro requisito que é a pessoa física, que fica claro na figura do preso e não de uma propensa pessoa Jurídica.

Em detrimento ao requisito da pessoalidade este se torna também de fácil constata-ção, inicialmente porque a empresa ao contratar um preso, somente ele poderá exercer o trabalho porque há nesse caso uma confiança inerente á aquele custodiado, e mais do que isso, somente custodiados com boa convivência que terão o gozo de poder trabalhar.

No que tange a subordinação é cristalina a sua verificação haja vista que as ordens emanadas pelas empresas devem ser acatadas e realizadas pelo custodiado, de maneira se-melhante a qualquer outro emprego fora do presídio. No prisma da onerosidade é também requisito preenchido haja vista que a empresa deverá arcar com os salários decorrentes da produção do preso.

Por derradeiro está visível o critério da não eventualidade, qual seja, o preso terá uma carga horária diária para realizar seu labor, isto porque, a cada dia trabalhado o ajuda na já

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expla-nada remição da pena.

ESTUDO COMPARADO COM PRESÍDIOS NO EXTERIOR, EM ESPECIAL PAÍSES ESCANDINAVOS. Em que pese o sistema penitenciário brasileiro ser totalmente desumano, é impor-tante que seja traçada metas a serem alcançadas para que ideias utópicas, como igualar marcas dos países escandinavos (Noruega e Suécia) possam ser de fato alcançadas. O estudo sobre o sistema penitenciário deve abrir um parêntese e se voltar para medidas que efetiva-mente estejam obtendo frutos no plano internacional.

Inicialmente é importante tecer comentários acerca da mentalidade brasileira no que tange a questão penitenciária, grande parte da sociedade inflama-se para uma questão punitivista sem atentar para questões de direitos humanos consagrados em tratados inter-nacionais. De forma infeliz, se comemora caso a ação truculenta de agentes de segurança violam direitos humanos, ao contrário da cultura nórdica que se acredita veementemente na real possibilidade de ressocialização, não é questão de um povo ser mais culto ou não, é simplesmente acreditar no projeto e ter a ciência que o caminho da ressocialização é o ideal para combater a criminalidade.

Insta salientar que desde 2013 na Suécia, ocorreu o fechamento de 04 (quatro) presí-dios por falta de presos. No pensamento de (BOCCHINI, 2013). Outro país escandinavo, a No-ruega, ostentava a taxa de 20% de reincidência criminal, contra os 70% do Brasil. (BBC, 2014)

Outro ponto crucial, é a oferta de trabalho em presídios de países como Suécia e No-ruega, todos os presos têm a oportunidade de trabalhar, mais que isso, as atividades são va-riadas, são instaladas verdadeiras oficinas, com instrumentos que são proibidos no Brasil, e naqueles países ficam à disposição dos presos.

Frisa-se como elemento importante também que existe a transição entre os presídios, ou seja, dependendo do delito, o custodiado começa em uma prisão de segurança máxima, e vai regredindo até chegar ao último estágio, que é no formato de uma residência, para maxi-mizar a experiência de ressocialização.7

DUMPING SOCIAL E A LIVRE CONCORRÊNCIA

De forma jurídica e preliminar, o Brasil trata a livre concorrência de mercado, com sta-tus de matéria constitucional, conforme o disposto no artigo 170 da Constituição Federal da 7 Porque a Noruega é o melhor país do mundo para ser preso, Disponível em: https://www.bbc.com/por-tuguese/noticias/2016/03/160317_prisoes_noruega_tg , acessado em 02 de abril de 2019.

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República do Brasil, conforme tradução in albis “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social “.

Além do dito caput do artigo é importante mencionar o parágrafo único, do mesmo artigo 170 da Constituição Federal, “é assegurado a todos o livre exercício de qualquer ati-vidade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”

Após elencar que se trata de matéria constitucional a iniciativa do livre mercado, é forçoso mencionar que a iniciativa privada começou a ser estudada com mais afinco através de Adam Smith8, considerado pai do capitalismo, que em sua célebre obra a riqueza das

nações, explica em linhas gerais que a economia de um modo geral possui uma mão invisí-vel que regula o mercado. Ou seja, o próprio mercado regula-se sozinho, sem necessitar de auxílio estatal.

Em suas obras, por mais que sejam de suma importância e formem arcabouços para estudantes no ramo da economia, não pode prosperar totalmente a tese explicada em seu livro à mão invisível, haja vista que todo o cenário apresentado para não haver regulamenta-ção estatal é eu cenário ideal de competitividade. De forma a fugir da regra de Adam Smith, o trabalho em presídio, faz com que a balança do equilíbrio na paridade da livre concorrên-cia, tende a desandar.

Para N. Gregory Mankiw, “não se deve pensar em concorrência de mercado como um esporte onde um vence e o outro perde, pois, o mercado é uma forma de todos se integra-rem, podendo se dedicar a produzir aquilo que eles conseguem fazer de melhor. ”

Após analisar conceitos objetivos a respeito da livre iniciativa, é imperioso ressaltar a questão do dumping social. Esta prática é exercida, tendo as seguintes características: o poder de permanecer e impor o valor do seu produto no mercado regional e ter a capacidade, ou melhor, a visão de aumentar o lucro através do mercado internacional.

Ponto cerne do presente trabalho, envolvendo, a questão do dumping ocorrido em presídios, decorre quando se tem subsídios estatais, quando os próprios Países abaixam ou isentam as empresas de pagamento de encargos ou pagando valores com intuitos variados, como chamar a atenção de novas empresas no local.

Este último ponto, é a questão central, qual seja, o papel da administração pública em atrair empresas para o cárcere, momento este que de certa forma a administração penitenciá-ria se “desobriga” da função principal da mesma de ressocializar.

8 Adam Smith foi um economista e filosófico, nascido na Escócia, considerado o pai da economia mo-derno, teve como pano de fundo da sua vida o século das Luzes (Século XVIII).

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Inicialmente deve ser abordado o conceito de Dumping social, que nas palavras de (An-tônio Carlos Frugis, 2016), O dumping social no Ordenamento Jurídico do Direito do Trabalho pode ser traduzido de maneira objetiva como instrumento de entidades privadas ou públicas liquidarem a concorrência, auferindo vantagens financeiras, ás custas da supressão ou redu-ção dos direitos existências mínimas de seus empregados.

É necessário também trazer a doutrina de Frota (2013, p.206) O dumping é usualmente verificado em operações que almejam conquistar outros mercados. Sendo assim, vendem seus produtos a um preço extremamente baixo, muitas vezes inferior ao custo de produção. É uma forma utilizada de forma esporádica e temporária, visando neste período aniquilar empresas concorrentes.

Após essa breve explicação a respeito desta prática perversa de concorrência mercan-til, deve ser analisado os efeitos práticos do dumping social potencializado com o uso de mão de obra barata dos presos, o que pode ser facilmente constatado no levantamento de dados realizado pelo Ministério da Justiça, senão vejamos:

As companhias dos setores público e privado firmam acordos com os Estados para explo-rar a mão de obra dos internos: o regime de trabalho dos presos não é regulado pela Con-solidação das Leis do Trabalho (CLT), e sim pela Lei de Execuções Penais, que prevê uma remuneração de ao menos três quartos do salário mínimo - ou seja, um piso de cerca de 702 reais. Mas para muitos encarcerados que trabalham, este valor, ainda que baixo, é um sonho. Outros não veem a cor do dinheiro. Dos 95.919 detentos que são empregados dentro do sistema penitenciário, 33% (ou 31.653 pessoas) não recebem nada, trabalham de graça. Além dos que trabalham sem remuneração dentro dos presídios, outros 39.326 detentos que estão empregados recebem valores abaixo dos 702 reais exigidos pela LEP. No total, 75% dos internos que exercem alguma atividade no cárcere recebem menos do que o exigido por lei.

Isto posto, o presente artigo visa identificar que o mercado econômico enxerga uma possibilidade de se apropriar da mão de obra baratada do custodiado como forma de aumen-tar o rendimento dos lucros. É imperioso ressalaumen-tar que a conduta de exploração da mão de obra de forma errônea por parte dos empresários deve vir a ser combatida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com uma população carcerária em crescimento e com a existência de mão de obra dentro dos presídios brasileiros, em conjunto com a Lei de Execuções Penais, é o interesse do presente artigo elencar todas a nuances envolvendo essa interação entre cárcere e mão de obra. Diante disso, foi apresentado um aspecto evolucionário, mostrando como ocorreu o avanço no tratamento da administração penitenciária, na figura do estado, com os seus cus-todiados.

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De forma salutar existiu um avanço ao percurso dos séculos de maneira que penas cor-póreas, maus tratos deixaram de existir legalmente, porém na prática o cárcere vivencia-se de ódio enraizado por toda a sociedade, em um discurso perverso que intensifica até no sentido de cindir qualquer prática humanitária.

Foi possível verificar o avanço, e o surgimento do modelo de trabalho no cárcere, em especial nos presídios americanos, tanto na Pensilvânia (modelo Filadélfia) e o modelo Aurba-niano. Frisa-se que tais modelos, mudaram totalmente o conceito, e de certa forma contribuí-ram para que a LEP (lei 7.210/84) trouxesse em seu bojo a possibilidade de remição através do trabalho.

De sorte que os modelos Aubarnianos, em linha cronológica, sucederam o modelo realizado na Filadélfia, representaram forte concorrência com o mercado “externo” (fora do cárcere) à época, sendo alvo de inúmeros protestos por entidades de classe de trabalhadores e por empresas que não tinham como mão de obra presos.

É necessário adentrar na questão do modelo Aubarniano que representou inúmeros desrespeitos ao trabalhador, em especial, a forçar ao trabalho, e utilizar penas corpóreas para obrigar o trabalhador a realizar a atividade laboral e de reduzir drasticamente os salários, diante deste cenário e para evitar que cenas como estas ocorram foi exposto de maneira concisa que direito constitucionais dos presos devem vir a ser mantidos com forma de garantir qualidade de vida, dignidade e melhor permitir a inclusão social.

Sob o enfoque da inclusão social é imprescindível mencionar que o trabalho apresenta como ferramenta importantíssima para ressocialização do custodiado e para combater a rein-cidência. Visto isso foi apresentado porcentagem de indivíduos que saem do cárcere, no qual tiveram trabalho, que demonstram a queda na taxa de reincidência deste grupo, sendo maior inclusive do que de pessoas que somente estudaram.

Além destes fatos é necessário aduzir e largar o pensamento retrogrado de trabalho usuais, a exemplo da confecção manufatureira, como únicos elementos ensejadores de remi-ção por trabalho. O espectro ótico deve ampliar para notar que existe uma gama diversa de trabalhos a serem realizados no cárcere, podendo ser citado o artesanato e atividade musical, que representam ferramenta poderosíssima no combate à criminalidade e melhor, na queda vertiginosa da taxa de reincidência

É imperioso verificar que os Tribunais de Justiça têm se apresentado pouco reticentes na aplicação de remição por trabalhos poucos usuais, ou que não representam cunho econômico, porém, de forma acertada o Superior Tribunal de Justiça, tem entendido pela interpretação in Bona partem no momento de permitir a remição de pena para casos como artesanato e música.

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Findo este ponto, deve-se compreender pela existência do vínculo empregatício envol-vendo custodiado e propensas empresas que venham atuar no sistema carcerário. Empresas que utilizam o cárcere como força motriz para determinada atividade celebram termo de coo-peração técnica com a administração penitenciária.

Porém estas empresas têm obrigações diretas com os apenados, ou seja, presente os requisitos trazidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), deve-se entender pela apli-cabilidade em torno dos custodiados. Não se pode entender que o preso perde seu direito ao trabalho, ou melhor, sobre seu direito constitucional as normas trabalhistas somente porque está privado de sua liberdade.

Diante deste cenário, deve ser verificado a questão de países, especialmente os es-candinavos, tais como Suécia e Noruega estarem conseguindo êxito em reduzir a sua taxa de reincidência. A resposta para tal situação é cristalina, a mentalidade de países escandinavos é acreditar veemente na questão da reinserção social, através do desenvolvimento de trabalho através do cárcere.

Por derradeiro ponto, chega-se a relação de livre concorrência e dumping social, que hodiernamente verifica-se está voltando questões anteriores debatidas nos Estados Unidos, em especial no modelo Aubarniano de mão de obra envolvendo custodiados.

Tais mazelas derivam da questão de que a utilização da mão de obra no ambiente do cárcere pode culminar em importantes mudanças e problemas em questões econômicas, como é o caso da redução drástica de salário do preso, pautado inclusive em permissão legal da LEP (podendo o custodiado receber cerca de ¾ do salário mínimo) e na prática dos presídios sendo verificado que muitos que realizam atividades laborativas ficam sem receber o salário.

Portanto, a livre concorrência de mercado, se resta prejudicada, haja vista empresários mais recentemente se utilizarem da mão de obra carcerária para reduzir o custo da produção, podendo colocar à venda por um preço mais atrativo.

Deste cenário, volta-se a voga toda a questão, dos surgimentos dos sistemas de ex-ploração da mão de obra no cárcere, na figura também de pressão de órgãos de entidades de classe dos trabalhadores que em um cenário atual marcado por desemprego veem a concor-rência do cárcere, e do próprio empresário que não utiliza o cárcere como força motriz de mão de obra que tem que competir em situações anormais pelo melhor preço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A ressocialização através do estudo e do trabalho no sistema penitenciário brasileiro. 2009. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UERJ, Rio de

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