• Nenhum resultado encontrado

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "EXCELENTÍSSIMO SR. DR. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

EXCELENTÍSSIMO SR.DR.PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

ROGÉRIO CORREIA DE MOURA BAPTISTA, brasileiro, Deputado Federal pelo Estado de Minas Gerais, integrante da bancada do Partido dos Trabalhadores - PT, inscrito no CPF sob o nº 471.025.006-53, recebendo intimações na Câmara dos Deputados, Gabinete 614 - Anexo IV - Câmara dos Deputados, Brasília/DF, CEP: 70.160-900, vem respeitosamente à presença de v. Exa, com base no artigo 5º, XXXIV da Constituição da República1 c/c art. 14 da Lei. 8.429/922, bem como no art. 5º, §3º3 do Código

de Processo Penal Brasileiro, apresentar:

REPRESENTAÇÃO PARA APURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE ATO DE IMPROBIDADE C/C

NOTÍCIA DE FATO CRIMINOSO

em desfavor do PRESIDENTE DA REPÚBLICA,JAIR MESSIAS BOLSONARO, que pode ser citado na Praça dos Três Poderes, Sede I do Palácio do Planalto, CEP 70150-900, Brasília-DF;

1 XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

2 Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.

3 § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

(2)

DOS FATOS

É de conhecimento público e notório que em 11.3.2020 a Organização Mundial da Saúde - OMS decretou pandemia do COVID-19, popularmente conhecido como “novo Coronavírus”.

A pandemia se caracteriza, conforme lições de Bento de Faria, “quando vários países são assolados pela mesma doença”, ou, como disserta Noronha, “se sua disseminação se dá por extensa área do globo terrestre”, a exemplo do que ocorreu com a chamada “gripe de 1918”, que foi a primeira de duas pandemias causadas pelo influenzavirus H1N1, matando mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo entre os meses de setembro e novembro de 19184.

Em pronunciamento oficial, a OMS se esforçou em deixar claro a necessidade de

distanciamento social em diversas partes do mundo, ao apoiar restrições de viagens,

cancelamento de eventos e isolamento de doentes:

“Distanciamento social é necessário para evitar mortes por coronavírus. Se as restrições de viagens tivessem sido adotadas mais cedo, teríamos evitado a pandemia”5.

Foi nesse sentido que os governadores dos estados brasileiros, os prefeitos municipais e os líderes dos Poderes Legislativo e Judiciário se posicionaram em conformidade com as recomendações especializadas e decretaram medidas de isolamento social - com o objetivo de evitar maior disseminação e, principalmente, diminuir o número das vítimas fatais do Sars-Covid.

Em 11.3.2020, o próprio Ministério da Saúde, na Portaria n° 356 regulamentou a Lei n° 13.979/20206, que traz um rol de medidas a serem adotadas para o enfrentamento da

emergência de saúde pública, tais como o isolamento, a quarentena, a restrição excepcional e temporária de entrada e saída de pessoas do país.

4 ROCHA. Juliana. Pandemia de gripe de 1918. Disponível em < http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7 >. Acesso em 25.3.2020. 5 Nesse sentido: Disponível em <http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/europa-se-tornou-epicentro-da-pandemia-de-coronava-rus/474653>. Acesso em 25.3.2020.

(3)

A situação é tão grave que em 20.3.2020, foi decretado estado de Calamidade Pública no Brasil.

Em 23.3.2020, o Secretário-Geral da ONU encaminhou carta ao presidente Jair Bolsonaro e aos demais líderes do G-20 clamando por medidas capazes de evitar que a pandemia ora vivenciada tomasse proporções apocalípticas.

No entanto, o crescimento do número de infectados e mortos pelo novo coronavírus no Brasil e a disparidade entre a postura do Governo Federal e as ações emergenciais que as demais unidades federadas tiveram que adotar para o enfrentamento da pandemia, escancaram os desafios enfrentados pelo País.

O primeiro deles é o fato de que o País, como se sabe, apesar dos inúmeros avisos

e alertas de vários organismos e autoridades de saúde sobre a forma que o Governo Federal tem tratado a referida crise, hoje figura como um dos epicentros da pandemia no

mundo, sendo que, na data de hoje, somamos, oficialmente, 5.275.034 (cinco milhões, duzentos e setenta e cinco mil e trinta e quatro) casos e 154.891 (cento e cinquenta e quatro mil, oitocentos e noventa e uma) mortes.

No decorrer da crise de saúde pública, o Sr. Presidente da República se esforçou em promover interesses próprios, por meio das irresponsáveis e inverídicas afirmações acerca da eficiência do tratamento de COVID-19 com o medicamento hidroxicloroquina.

A referida situação é tão grave que culminou na substituição do Ministro Titular do Ministério da Saúde por duas vezes, em menos de 30 dias, já durante o atual estado de calamidade pública.

Aliás, ambos os Ministros exonerados afirmaram, em entrevistas posteriores, que um dos motivos principais para sua saída do cargo era a insistência, sem qualquer fundamento técnico ou científico, do Sr. Presidente da República para a inclusão do medicamento supramencionado como protocolo do Sistema de Saúde Unificado - SUS, no tratamento da COVID-19.

Nesse sentido, além de diversos estudos que convergiram para a mesma conclusão, cumpre destacar a pesquisa global publicada ainda no início do último mês de maio, na revista

(4)

médica britânica “The Lancet” que, ao analisar mais de 96 mil casos, em 671 hospitais pelo mundo, indicou que a “segurança e benefícios” da Cloroquina e sua derivada Hidroxicloroquina tiveram “avaliação ruim” no tratamento da COVID-19.7

A referida pesquisa tem, inclusive, orientado a prática internacional no combate à pandemia ora enfrentada. Os Estados Unidos da América, país com maior número de infectados no mundo, tiveram a autorização para o uso de cloroquina e hidroxicloroquina em caráter emergencial para pacientes de COVID-19 revogada pela FDA (Agência de Vigilância Sanitária).

A referida revogação decorreu dos seguintes motivos principais: é improvável o uso das duas substâncias tenha um efeito antiviral contra COVID-19; dados recentes de um estudo randomizado mostraram que não há diferença entre tratamento padrão e o uso de hidroxicloroquina e cloroquina; as atuais recomendações de tratamento nos EUA já não incluem o uso dos remédios em pessoas hospitalizadas, tirando em casos de pesquisas clínicas; e dados recentes de um grande estudo controlado e randomizado mostram que não há nenhum indício de que os remédios sejam capazes de prevenir a contaminação.8

Ademais, a própria Organização Mundial da Saúde suspendeu os estudos sobre os

medicamentos, em razão da ineficácia demonstrada reiteradamente.9

Na mesma linha, a Universidade de Harvard concluiu que “Dados sobre os papéis da hidroxicloroquina ou cloroquina no tratamento de COVID-19 são inconclusivos. Sugerimos não usar hidroxicloroquina ou cloroquina fora do cenário de um ensaio clínico, devido à falta de benefício claro e potencial de toxicidade”10. 7https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31180-6/fulltext 8https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53058069 9 https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/17/oms-suspende-de-novo-testes-com-hidroxicloroquina-contra-a-covid-19.ghtml 10 https://www.uptodate.com/contents/coronavirus-disease-2019-covid-19-management-in-hospitalized-adults/print

(5)

Destaca-se, inclusive, que o Sr. Presidente da República já reconheceu publicamente que o medicamento o qual se esforça, injustificavelmente, a promover não tem eficácia comprovada.11

Contudo, nem todas as evidências científicas e orientações médicas internacionais acerca do uso dos medicamentos propagandeados pelo Sr. Presidente da República foram suficientes para impedi-lo de, em conjunto com as forças armadas, aumentar a produção

das drogas em 84 vezes em relação ao mesmo período entre os anos de 2017 e 2019, investindo recursos públicos na compra de matéria prima em valor quase 600% superior ao pago anteriormente12.

A situação supracitada acarreta em injustificável e gravíssimo dano ao erário público, que se agrava ainda mais pelo momento de histórica crise econômica decorrente da pandemia da COVID-19.

Agora de maneira irresponsável e descomprometida com todas as evidências técnicas-científicas demonstradas acima, o Sr. Presidente da República, que testou positivo para o novo Coronavírus, aparece em vídeos para publicamente incentivar o uso, produção e disseminação dos medicamentos, afirmando ser essa a causa da suposta evolução de seu quadro clínico. 11 https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2020/05/20/bolsonaro-admite-que-cloroquina-nao-tem-eficacia-comprovada-no-tratamento-da-covid-19.ghtml 12 https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/05/preco-que-governo-paga-pela-materia-prima-da-cloroquina-explode.shtml

(6)

“Por volta das 17h (de terça-feira) tomei um comprimido de cloroquina. Recomendo que você faça a mesma coisa. Sempre orientado pelo médico. É um testemunho meu: tomei e deu certo, estou muito bem”, disse o Sr. Presidente da República durante sua live semanal, visualizada por cerca de 1,6 milhão de pessoas.

A bem da verdade, além dos evidentes superfaturamentos e aumentos injustificáveis dos gastos públicos com a produção exagerada e desnecessária das drogas referidas, outros

(7)

indícios demonstram a possível violação do necessário respeito ao princípio da impessoalidade.

A caixa do medicamento constante na imagem acima é fabricada pela empresa SEM, que integra o grupo empresarial de Carlos Sanchez, que também é dono do laboratório Germed e que também possui autorização da Anvisa para produzir o medicamento e que já se reuniu em duas oportunidades com o requerido durante a pandemia.13

Apesar de todas as recomendações contrárias, a produção em massa do medicamento já acarretou no envio, pelo Ministério da Saúde, de mais de 4,3 milhões de cápsulas aos hospitais pelo Brasil, significando um verdadeiro desperdício de verba pública.14

Como se não fosse suficiente, mais uma vez o requerido consentiu e participou de cerimônia de apresentação do vermífugo “nitazoxanida” como tratamento promissor para Covid-19.

Ocorre que, outra vez mais, diferente do que propagado pelo Sr. Presidente, a eficácia dessa droga carece de comprovação científica para tratamento da Covid-19..15

Nesse meio tempo todo o restante do mundo se preocupou em buscar soluções médicas eficazes, com a devida comprovação científica – que resultou, dentre outros, na vacina cognominada SINOVAC que, de acordo com o instituto Butantan, é segura16.

Tanto é verdade que o próprio Ministério da Saúde, em 20 de outubro de 2020 anunciou a compra de 46 milhões de doses da referida vacina, bem como a sua inclusão

no calendário nacional de vacinação e distribuição em todo o território brasileiro.

Contudo, para a surpresa deste manifestante, de todos os brasileiros e até dos Ministros do Governo Federal, no dia seguinte, 21 de outubro de 2020, o presidente Jair

13

https://www.brasil247.com/brasil/empresarios-amigos-de-bolsonaro-lucram-com-propaganda-de-cloroquina

14

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/06/19/mp-quer-apurar-suposto-superfaturamento-na-producao-de-cloroquina-pelo-exercito

15 Discovery of clinically approved drugs capable of inhibiting SARS-CoV-2 in vitro infection using a

phenotypic screening strategy and network-analysis to predict their potential to treat covid-19

https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.07.09.196337v2

16

(8)

Bolsonaro, em diversos comunicados pelas redes sociais, bem como em mensagem enviada aos seus ministros, afirmou que “Tudo será esclarecido hoje. Tenha certeza, não compraremos vacina chinesa” e ainda, “Alerto que não compraremos uma só dose de vacina da China, bem como o meu governo não mantém qualquer diálogo com João Dória na questão do Covid-19. PR Jair Bolsonaro”, mensagem esta divulgada pela deputada Bia Kicis, conforme informado pelo jornal Folha de São Paulo..17

Tal conduta, que prioriza posicionamentos políticos à saúde e bem-estar da população brasileira, configura, indubitavelmente, ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1994. O Presidente continua:

17 Disponível em:

(9)

Ironicamente, o requerido menciona a necessidade de comprovação científica e o desejo de não ser “cobaia de ninguém” ao mesmo tempo em que propaga, com o charlatanismo característico, diversas curas milagrosas para a trágica pandemia.

Ao se utilizar de mera convicção ideológica na condução do assunto, sem qualquer definição técnica, coloca toda a população brasileira em risco, desautorizando inclusive especialistas e o próprio Ministério da Saúde, em total contrariedade aos princípios e normas que balizam a boa governança pública.

Um dia após o anúncio pelo Ministro da Saúde e no mesmo dia dos comentários do Presidente, claramente intimidado, o Ministério da Saúde anuncia que “Não há intenção de compra de vacinas chinesas”.18

Diante da urgência dos fatos e pela iminente colocação em risco de toda a população brasileira, foi requerido por este manifestante, à Comissão externa destinada a acompanhar as ações preventivas ao coronavírus no Brasil, da Câmara Federal, a convocação do ministro da Saúde para dar explicações sobre as interferências do presidente ao impedir de evitar as

18 Disponível em:

https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2020/10/21/nao-ha-intencao-de-

(10)

mortes, que, no Brasil, até o dia 20/10/2020, pelo levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, já são 154.837, e 5.273.954 casos confirmados.

Nesse cenário, evidenciam-se, ao menos, os indícios da prática de improbidade administrativa, e do crime de charlatanismo, pelas razões que serão expostas a seguir.

DAIMPROBIDADEADMINISTRATIVA-OFENSAAOART.11DALEI

8.429/1994–“EPISÓDIO VACINA SINOVAC ”.

De início, cumpre destacar o inteiro teor do caput do art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa (8.429/94):

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

Ë certo que os fatos descritos anteriormente demonstram que de forma reiterada o requerido atenta contra os princípios da administração pública e viola os deveres de honestidade, imparcialidade e lealdade às instituições.

Impedir a compra de doses de vacinas que são aptas a salvar a vida de milhões de brasileiros por mero capricho político ou por divergência ideológica com um dos países produtores do medicamento contraria expressamente a norma legal, demonstrando a inexistência de imparcialidade, honestidade e, principalmente, lealdade ao próprio Ministério da Saúde que, com base em estudos técnicos, anunciou a aquisição das doses.

O requerido age imoralmente e se omite de praticar atos de ofício, em absoluta contradição à norma inscrita no inciso II, art. 11 da Lei de Improbidade administrativa.

Ademais, há de rememorar que deixar de fornecer medicamento à população, em

razão de vexatória disputa política ou por interesses particulares também afronta o Art.

5º, inciso VIII da Constituição da República, que preceitua que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

(11)

O requerido não é apenas ímprobo, mas é também antidemocrático e desrespeitoso com as normas constitucionais brasileiras.

Como se nota, a atitude ora combatida envolve direito à saúde e à vida. A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal acolheu por unanimidade o voto do Ministro Celso de Mello e decidiu que “a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse, como prestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), em ordem a legitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário naquelas hipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente, deixassem de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outra inaceitável modalidade de comportamento governamental desviante” (AgRg no RE 271.286-8-RS, j. 12.09.2000 - RT 786/210-216).

Afinal, “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”, o que “consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”, consoante o artigo 2º da Lei nº 8.080/90.

Ora, a satisfação do direito à saúde da população não pode ser condicionada à jogos políticos do chefe do executivo, sob pena de colocar em risco todo o povo.

Nestes casos, evidentemente, não há que se vislumbrar qualquer discricionariedade no dever constitucional de garantir assistência à saúde, nem se poderia afirmar que esse dever represente interferência nas decisões do Poder Executivo.

É um dever constitucional imposto ao Estado de zelar pela saúde dos cidadãos, o que, por certo, diz respeito às três esferas públicas.

Ademais, também neste sentido, a Constituição da República é explicita em incumbir ao Ministério Público a defesa dos interesses aqui tratados:

(12)

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Ora, a guarda dos direitos e garantias da Constituição da República é função institucional do Ministério Público, o que se verifica no art. 129, II, da CF e no inciso V do art. 5º da Lei Complementar n.º 75/93:

Nesse sentido, é imprescindível que essa douta Procuradoria-Geral da República se digne a determinar a instauração de Ação Civil Pública ou, caso assim não se entenda, do competente procedimento investigativo para a apuração e posterior condenação dos responsáveis pelas condutas vedadas expressamente em Lei e que os indícios e provas indicam que foram cometidas pelo Sr. Presidente da República.

DAIMPROBIDADEADMINISTRATIVA-OFENSAAOART.10,V,VIII E XIDA

LEI8.429/1994–“EPISÓDIO CLOROQUINA”.

Importante destacar o inteiro teor do inciso V do art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa (8.429/94):

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;

Os fatos narrados na presente representação, bem como todas aquelas informações públicas e notórias indicam para a prática de ato de improbidade administrativa que resulta em grave dano ao erário, em razão dos indícios de aumento indiscriminado de produção da cloroquina e hidroxicloroquina, além do superfaturamento e compra, mediante dispensa de licitação, da matéria prima para sua fabricação.

(13)

Nesse sentido, a fabricação em massa de medicamento que não se comprova eficaz para o tratamento da COVID-19, resulta em desperdício de recursos públicos que deve ser devidamente apurado e os responsáveis penalizados na forma da lei.

Ademais, os indícios demonstram que a aquisição de insumos em valor 6 vezes superior, em uma compra sem licitação acarretam em nítida evidência de superfaturamento. Aliás, todas as medidas adotadas pelo governo federal, na pessoa do Presidente da República, apontam para a conduta vedada pelo inciso V, do Art. 10 da Lei 8.429/94, tendo em vista a permissão e facilitação da compra dos referidos insumos em valor superior ao de mercado.

A bem da verdade, os fatos narrados também indicam que o ora requerido dispensou indevidamente a licitação para a aquisição da matéria prima do medicamento que não possui qualquer evidência de eficácia, contrariando, também, as normas estabelecidas pelo Art. 10, inciso VIII da Lei de Improbidade.19

Frise-se que, além da liberação de verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes, o Sr. Presidente da República influiu, publicamente, para a sua aplicação irregular e desnecessária ao incentivar a produção de medicamento ineficaz, aportando dinheiro público indevidamente ainda que em meio a grave crise financeira ora vivenciada.

Tal conduta, também encontra vedação pelo inciso XI do art. 10 da Lei 8.429/94:

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

Nesse sentido, é imprescindível que essa douta Procuradoria-Geral da República se digne a determinar a instauração de Ação Civil Pública ou, caso assim não se entenda, do competente procedimento investigativo para a apuração e posterior condenação dos responsáveis pelas condutas vedadas expressamente em Lei e que os indícios e provas indicam que foram cometidas pelo Sr. Presidente da República.

19 Lei. 8.429/94. Art. 10. VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;

(14)

DO CRIME DE CHARLATANISMO -ART.283 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO Destaca-se o inteiro teor do art. 283 do Código Penal Brasileiro - CPB:

Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível

Conforme demonstrado anteriormente e amplamente divulgado pelos veículos de comunicação, o Sr. Presidente da República vem, de forma reiterada, incentivando o consumo e divulgando a Cloroquina, Hidroxicloroquina e do vermífugo “nitazoxanida” como meios eficazes e infalíveis para o tratamento do Coronavírus.

Fosse outra, se não a intenção de inculcar o uso das drogas como eficiente e até mesmo milagrosa no combate à COVID-19, o ora requerido não se prestaria a destinar verba pública para sua produção e, tampouco, difundir nacionalmente inverdades sobre os medicamentos.

A propagandeada “cura” do coronavírus pelo meio infalível do uso da hidroxicloroquina ou do vermífugo “nitazoxanida além de ignorar todas as evidências científicas internacionais, também encontra tipificação no art. 283 do CPB, ao tempo em que a referida norma tem por fim punir aquele que, sendo médico ou não, se promove à custa de métodos questionáveis e perigosos de curar pessoas, de maneira oculta ou ignorada do paciente e do poder público, além de divulgar mecanismos inverídicos de cura, visto não existir nada infalível quando se trata de cura de enfermidades.

A propósito, nas palavras do professor Guilherme de Souza Nucci, em seu Manual de Direito Penal20:

“O termo charlatanismo vem de charlar, do italiano ciarlare que quer dizer conversar.

De início, parece que só isso satisfazia os charladores. Enchiam o seu tempo e dos ouvintes, mais ou menos agradavelmente, conversando apenas. É como quem diz ‘conversando fiado’ ou ‘dando pontos sem nós’. Depois, esses charladores julgaram

20 Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.

(15)

de bom aviso unir o útil ao agradável e, então, vendiam drogas, apregoando-as com exagero: são os ‘pontos com nós’... (...) Então surge a medicina desonesta.

Os homens querem, mais do que o alívio e o consolo, a cura, e por qualquer preço. E assim confiam em tudo o que sejam promessas. E estimulam mesmo essas promessas, embora saibam que, às vezes, oferecem apenas embusteirice e impostura... É o terreno propício para os charlatães que medram como os cogumelos no terreno úmido e sombrio.” Em suma, charlatanismo é “inculcar ou anunciar cura por meio secreto e infalível. No segredo e na infalibilidade estão os pontos fundamentais do ilícito moral e legal, porque a medicina não pode agir por meios secretos, devendo ser franca e leal em sua atuação e também porque nunca pode pretender a infalibilidade”.

A pretensão do Sr. Presidente da República é insinuar que de forma secreta, já que ele não comprovou a efetividade do tratamento e ignora que todos os estudos públicos e científicos que apontam para a ineficácia das drogas, a infalibilidade da Cloroquina e de seus derivados no combate à COVID-19.

Importa salientar que o tipo penal em análise dispensa, para a sua caracterização, a comprovação de efetivo dano à saúde de alguém, sendo certo que se consuma no momento da prática das condutas típicas, que, no caso, ocorreram em pronunciamentos e atos oficiais do Presidente da República.

A divulgação da hidroxicloroquina, do vermífugo “nitazoxanida” ou qualquer outro remédio, sem a imprescindível comprovação técnica-científica, como método eficaz no tratamento da doença que já matou mais de 140 mil brasileiros é conduta expressamente vedada pelo tipo penal em comento (art. 283 CPB) e, nesse sentido, merece ser devidamente investigado e denunciado por essa d. Procuradoria-Geral da República ao juízo competente.

DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer que essa d. Procuradoria-Geral da República se digne a: 1. determinar a instauração de Ação Civil Pública ou, caso assim não se entenda, o que

(16)

a apuração e posterior condenação dos responsáveis pelas condutas vedadas expressamente pela Lei de Improbidade Administrativa (ART. 10, V, VIII e XI c/c art. 11, II DA LEI 8.429/1994) e que os indícios e provas indicam que foram cometidas pelo Sr. Presidente da República.

2. ofereça Ação Penal contra o Sr. Presidente da República pela prática do crime previsto no Art. 283 do Código Penal Brasileiro ou, caso assim não se entenda, o que se admite somente para fins argumentativos, determine a instauração de inquérito policial para a apuração e posterior oferecimento de denúncia, pelo mesmo crime.

P.E. Deferimento. Brasília, 21 de outubro de 2020. Joelson Dias OAB-DF 10.441 Thyago Mendes OAB-DF 64.705 Sarah Campos OAB-MG 128.257 Luísa Santos OAB-MG 196.542

Referências

Documentos relacionados

a) Cuidados para si, incapaz de seguir com atividades normais ou trabalho ativo. b) Requer ajuda considerável e frequente assistência médica ou especializada. Muito

O ouro simboliza Deus Pai com Sua natureza divina, da qual o homem pode partici- par mediante o chamamento de Deus (2 Pe 1:3-4), como a base do edifício eterno de Deus; o bdélio,

As informações contidas neste trabalho são resultantes de um levantamento bibliográfico sobre as espécies arbóreas de múltiplo uso: leucena – Leucaena leucocephala, gliricídia

Esta separação permite explicar a contradição entre as pessoas que pro- põe cultivar café a pleno sol e arborizado; em condições ambientais ideais para o cafeeiro, o cultivo a

Cc: Concha ovalada globosa, fina, lisa e brilhante com espira pouco alongada, ápice visível, não possui umbílico e canal sifonal, com borda externa lisa; cor muito variável

Porém existe uma tolerância, determinada quantidade de resíduos orgânicos que este ecossistema consegue transformar, uma margem para a sua capacidade de

Link para submissão será disponibilizado próximo a data do evento: I Mostra de Trabalhos Integradores do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Arthur de

As três formas de definir números reais, como exposta anteriormente, “configura uma inversão de rota que entra em conflito com o processo que se desenvolve na