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Escolha profissional e gênero

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GEÓRGIA NEUZA DOS SANTOS

ESCOLHA PROFISSIONAL E GÊNERO: UM ESTUDO SOBRE MULHERES QUE EXERCEM PROFISSÕES TRADICIONALMENTE MASCULINAS

Palhoça 2011

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GEÓRGIA NEUZA DOS SANTOS

ESCOLHA PROFISSIONAL E GÊNERO: UM ESTUDO SOBRE MULHERES QUE EXERCEM PROFISSÕES TRADICIONALMENTE MASCULINAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial a obtenção do título de psicólogo.

Orientador: Iuri Novaes Luna, Dr.

Palhoça 2011

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Dedico este trabalho a todos aqueles que me estimularam nesta longa caminhada. Principalmente a minha amada mãe, sem dúvida minha maior incentivadora.

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AGRADECIMENTOS

Finalmente, após oito anos finalizo minha extensa trajetória acadêmica. Contei com a participação de diversas pessoas, cada um no seu momento, mais todos de forma muito peculiar.

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado força, persistência e, sobretudo, por ter inserido em minha vida pessoas tão magníficas; a começar por meus pais, Jorge e Neuza. Serei eternamente grata a eles pelo carinho, pela compreensão, pelo auxílio, principalmente financeiro, e por todo amor incondicional. Vocês são minha base. AMO VOCÊS!

Ao Deustsh, por sua enorme paciência nos meus momentos de stress, pelas palavras de incentivo, e por me fazer acreditar que eu seria capaz. ICH LIEBE DICH!

A família Kuhn, que me recebeu de braços abertos. Vocês são essenciais.

A “pima” Paula, por todo auxílio na parte da formatação e pelos equipamentos emprestados.

Aos meus garotos, Gabriel, Lucas, Matheus e Renato que compreenderam minha ausência durante a elaboração deste trabalho. A madrinha ama vocês.

A princesinha Anne Gabrielle, que com seu simples sorriso, aliviava minha angústia.

A Mari, grande amiga e “personal tcc”, suas dicas foram fundamentais. Você é uma pessoa maravilhosa, obrigado por fazer parte da minha história.

A Bina, minha irmã de coração, que participou de momentos bons e ruins em minha vida; mais permaneceu ao meu lado demonstrando todo seu carinho. Amiga você é muito especial!

A T & A, principalmente ao André, ao Sr. Franken e a Karina, que desde o início aceitaram meus horários diferenciados e possibilitaram que eu concluísse a faculdade.

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A todos os professores que contribuíram durante minha jornada universitária, impossível mencionar a todos.

Ao professor e orientador Iúri Novaes Luna, por sua dedicação, paciência e incentivo. Não tenho dúvidas que seus ensinamentos foram fundamentais para este estudo. Obrigado por tudo.

A “Profe. Carol”, que com seu jeito todo especial, me fez perceber o quanto minha futura profissão é apaixonante.

Ao meu grupo de orientação: Bárbara, Fernanda, Pedro e Raquel. Muito obrigada pela parceria.

A todos os meus colegas de curso. Especialmente a Vanessa que surgiu neste último ano de faculdade e fez toda diferença. Miga te adoro!

Aos membros da banca, Maria Fernanda Diogo e Michelle Regina da Natividade, por terem contribuído com sugestões para o meu trabalho.

Por fim, as mulheres que participaram desta pesquisa, pois sem elas a efetivação da mesma não seria possível. Aprendi muito com vocês.

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RESUMO

Os atributos relativos aos homens e às mulheres encontram-se definidos socialmente. No âmbito laboral, algumas profissões são classificadas como masculinas ou femininas de acordo com tradições histórico-culturais. Esta pesquisa objetivou compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas. Os objetivos específicos enfocaram: a descrição da profissão e da trajetória profissional das participantes, a identificação dos fatores envolvidos em suas escolhas profissionais, a identificação de suas percepções sobre a relação gênero e profissão e a reação alheia frente ao fato de uma mulher exercer uma profissão tradicionalmente masculina. Para embasar teoricamente esta pesquisa foram discutidos os temas identidade, trabalho, processo de escolha profissional e sua relação com questões de gênero. Estudos sobre a relação entre gênero e escolha profissional são encontrados com frequência por meio da revisão de literatura, entretanto, o recorte proposto pela presente investigação insere-se em uma linha que ainda precisa ser explorada cientificamente. No que se refere à natureza da pesquisa, esta se caracteriza como qualitativa e, quanto ao delineamento, como estudo de caso. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada. Participaram da pesquisa cinco mulheres de profissões distintas, sendo elas: frentista, vigilante, motorista de caminhão, bombeiro militar e açougueira. Os dados coletados foram analisados por intermédio da análise de conteúdo. Avaliou-se o conteúdo de cada fala em particular, relacionando-o aos objetivos específicos e ao referencial teórico. Ao final desse processo, constatou-se que a trajetória profissional dessas mulheres começou em profissões consideradas femininas e, posteriormente, houve mudanças para profissões tradicionalmente masculinas. Referente ao gênero verificou-se que na percepção das mulheres investigadas este não se configurou como um fator determinante em seus processos de escolha profissional. Conclui-se, assim, que, segundo as entrevistadas, as mulheres podem desempenhar profissões tradicionalmente masculinas tão bem quanto os homens, o que afirmam ser uma percepção frequentemente compartilhada por outras mulheres; no entanto, apontaram que existe a percepção, por parte

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dos muitos homens, de que as mulheres são desqualificadas no que se refere ao exercício de profissões consideradas masculinas.

Palavras-chave: Escolha Profissional; Identidade; Trabalho; Gênero; Profissões.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados de identificação das participantes da pesquisa...30

Quadro 2 – Descrição do contato e local das entrevistas...33

Quadro 3 - Fatores envolvidos na escolha profissional...42

Quadro 4 – Projetos relacionados ao futuro profissional...45

Quadro 5 – Sentido do trabalho...48

Quadro 6 – Percepção das mulheres pesquisadas sobre a relação entre gênero e profissão...52

Quadro 7 - Reação dos familiares referente à atuação de uma mulher numa profissão tradicionalmente masculina...55

Quadro 8 - Reação dos homens referente à atuação de uma mulher numa profissão tradicionalmente masculina...57

Quadro 9 - Reação das mulheres referente à atuação de uma mulher numa profissão tradicionalmente masculina...59

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...11 1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA...12 1.2 OBJETIVOS...17 1.2.1 Objetivo geral...17 1.2.2 Objetivos específicos...17 2 REFERENCIAL TEÓRICO ...18

2.1 TRABALHO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE...18

2.2 O PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL...22

2.3 GÊNERO E ESCOLHA PROFISSIONAL...25

3 MÉTODO ...29

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ...29

3.2 PARTICIPANTES...30

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...31

3.3.1 Estudo piloto...32

3.4 PROCEDIMENTOS...32

3.4.1Procedimento de seleção e contato com os participantes...32

3.4.2 Procedimento de coleta de dados e registro de informações...33

3.4.3 Procedimento de organização, tratamento e análise de dados...34

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS...35

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PROFISSÕES...35

4.1.1 Frentista...35

4.1.2 Vigilante...36

4.1.3 Motorista de caminhão...36

4.1.4 Bombeiro Militar...37

4.1.5 Açougueiro...38

4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES...38

4.2.1 Clara – a frentista...39

4.2.2 Sara – a vigilante...39

4.2.3 Maiara – a motorista...39

4.2.4 Kiara – a bombeiro militar...40

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4.2 A ESCOLHA PROFISSIONAL DAS PARTICIPANTES DA

PESQUISA...41

4.3.1 Fatores envolvidos nas escolhas profissionais das participantes....42

4.3.2 Percepção das mulheres investigadas sobre a relação entre gênero e profissão...51

4.3.3 Averiguar a percepção das mulheres investigadas sobre a reação alheia quanto ao fato de uma mulher exercer uma profissão tradicionalmente masculina...54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...61

REFERÊNCIAS...64

APÊNDICES...70

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista...71

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia é requisito parcial para a obtenção do título de psicólogo da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). A mesma foi elaborada durante o ano letivo de 2011 pela acadêmica Geórgia Neuza dos Santos, sob a orientação do professor Iúri Novaes Luna, Drº.

A UNISUL proporciona aos acadêmicos do curso de Psicologia, a partir da 8º fase, dois núcleos orientados: Psicologia e Trabalho Humano e Psicologia e Saúde. Ambos oferecem subsídios para a atuação do aluno no estágio curricular obrigatório na 9º e 10° fases, bem como para a elaboração do TCC I e II.

A acadêmica optou pelo Núcleo Orientado Psicologia e Trabalho Humano, especificamente pelo Projeto de Desenvolvimento Humano nas Organizações, cujo objetivo principal é desenvolver as competências imprescindíveis para que o futuro profissional venha a intervir sobre os fenômenos psicológicos que suscitam no contexto organizacional.

O objetivo desta pesquisa foi, portanto, compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões em que o sexo masculino é predominante. Para tal desenvoltura, o trabalho estrutura-se em cinco tópicos. No primeiro, apresenta-se a problemática, a justificativa, o objetivo geral e os específicos, a fim de se indicar a temática central deste estudo e sua pertinência. A seguir, os referenciais teóricos desta pesquisa, quais sejam, o conceito de trabalho, a formação da identidade, escolha profissional e gênero, que serviram de embasamento para a análise dos dados. O terceiro tópico compreende a trajetória metodológica, que se caracteriza com o tipo de pesquisa, com os sujeitos participantes e com os procedimentos utilizados para efetivar a pesquisa. No quarto tópico, apresenta-se a análise dos dados coletados e, por fim, as considerações finais acerca da presente pesquisa.

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1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA

O presente trabalho versa sobre a atuação de mulheres em profissões tradicionalmente masculinas. Apesar das mudanças ocorridas na sociedade e, sobretudo no âmbito laboral, as forças de trabalho masculina e feminina ainda não se igualaram. De acordo com Diogo e Coutinho (2006), a desigualdade entre os sexos torna-se evidente nas relações de gênero que são estabelecidas na esfera do trabalho. Com isso, no presente estudo abordou-se a inserção feminina no mercado de trabalho em profissões consideradas masculinas, e as relações de gênero embutidas neste contexto.

O trabalho não é um fato recente na história da humanidade. Antigamente, embora registros comprovem a participação das mulheres em profissões tipicamente masculinas como a carpintaria, serralheria e extração de minerais, a atuação das mulheres era mais expressiva em atividades que remetiam à extensão do lar, como por exemplo, a tecelagem e a costura (ALVES; PITANGUY, 1981). As atividades consideradas nobres, como as artes, a educação e a política eram apenas desempenhadas pelo sexo masculino, ou seja, as mulheres eram proibidas de tais exercícios o que demonstra a relação de poder entre os sexos.

Atualmente a realidade da sociedade é bem diferente. Diante das transformações demográficas, culturais e sociais ocorridas no século XX, a demanda no mercado de trabalho aumentou e com isso foi possível perceber que a mulher deixou de ficar confinada apenas na esfera domiciliar vindo a se inserir no contexto laboral de diversas áreas (CHIES, 2010). Contudo, apesar desse progresso, é possível verificar ainda as desigualdades e discriminações suportadas pelas mulheres, pois a elas são designadas profissões, como por exemplo, professoras, babás e cozinheiras, ou seja, em que o “cuidar” predomina, dispensando-se os atributos supostamente masculinos, como força bruta e autoridade. Apesar de estarem se inserindo gradativamente no mercado de trabalho, a participação das mulheres é desvalorizada, tanto no que se refere à qualidade das ocupações, quanto à questão da desigualdade salarial (PROBST, 2007).

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Na afirmação de Chies (2010), “foram criadas profissões convenientes a elas, ocupações estas que detêm uma porcentagem maior de mulheres e, por vezes, são estereotipadas como femininas”. A autora comenta que houve uma segmentação das profissões, as quais, construídas historicamente, tiveram como fator determinante o gênero. Diogo e Coutinho (2006) reforçam esta tese, para as autoras o contexto econômico-social reforça hierarquias, desigualdades e assimetrias construídas historicamente, envolvendo não somente o gênero, mas também classe social e raça.

Entretanto, com o passar do tempo houve uma minimização das profissões tidas como masculinas, ampliando-se as oportunidades de trabalho para o sexo feminino. As mulheres estão ocupando cargos onde os homens ainda são a grande maioria, é o caso das engenheiras, médicas, frentistas, motoristas de ônibus, vigilantes, entre outras profissões. Sob essa ótica, a partir da perspectiva de gênero, a presente pesquisa almeja compreender as características do processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas, considerando os fatores motivacionais e a trajetória profissional das mesmas.

Abordar-se-á, também, a maneira como ocorre à escolha profissional. Como decidir pela profissão “certa”. A escolha profissional é individual ou o sujeito sofre influência de outras pessoas?

A escolha por uma profissão é um fenômeno dos últimos séculos. De acordo com Bock (2002), no período feudal os indivíduos não tinham autonomia para escolher sua ocupação. O poder era representado pela igreja católica e os trabalhadores compreendiam seu contexto social como um desejo divino. A par disso, o sujeito que nascia artesão permaneceria assim até o fim de seus dias por “vontade de Deus”; logo, não era possível mudar de classe social ou ocupação. Com o surgimento do capitalismo, a estrutura social foi modificada e o indivíduo passou a escolher sua profissão e, consequentemente, ter a possibilidade de elevar-se socialmente.

A mencionada escolha é estabelecida a partir de diversos fatores como: status social, facilidade para se inserir no mercado de trabalho, influência familiar, identificação com o grupo social e/ou grupo de pares que a pessoa pertence e até mesmo identificação de gênero podem influenciar na escolha profissional (WHITAKER 1997; BOHOLAVSKY, 1998). Ao optar por

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uma profissão é conveniente também, analisar as preferências, habilidades e competências inerentes ao indivíduo, bem como considerar o contexto histórico-cultural em que está inserido (LUCCHIARI, 1998).

Por meio da revisão bibliográfica realizada em bases de dados disponíveis on line1, e nas Bibliotecas da UNISUL, foram encontradas produções científicas que relatam sobre profissões majoritariamente masculinas, que priorizavam a formação em nível superior e relatavam acerca de uma única profissão. Tanto é, que Silveira (2009) em sua dissertação estudou sobre a presença feminina na carreira de delegado de polícia. Autores como Bahia e Ferraz (2000), Sacramento (2007) e Barbalho (2008) relatam acerca do sexo feminino na área jurídica.

O processo de escolha profissional e a influência do gênero também podem ser observados na realização do vestibular. No curso de pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apenas 3,93% dos candidatos eram homens, e no curso de enfermagem representavam pouco mais de 8% dos inscritos. Já no curso de engenharia mecânica, somente 5,40% eram representantes femininas, enquanto que no curso de Engenharia Civil as mulheres significavam 24,66% (COMISSÃO PERMANENTE DO VESTIBULAR, 2005).

A aprovação dos candidatos no vestibular também difere entre homens e mulheres. Segundo Ribeiro (2009), nas edições de 1998 a 2008 do vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); vinte e seis homens ficaram entre os três primeiros colocados, contra sete mulheres. Dentre elas, uma única candidata ficou em primeiro lugar no curso de Ciência da Computação, as demais foram aprovadas para o curso de Medicina.

A pesquisa realizada por Lombardi (2006) relata sobre a presença feminina nos cursos de engenharia e sua respectiva atuação no mercado de trabalho. Verificou que as imagens e concepções de gênero presentes na sociedade de uma forma geral e, especialmente sobre as profissões, ainda exercem seu papel simbólico, sob o seguinte enfoque: o feminino subordinado ao masculino. A autora da pesquisa supracitada afirma que em determinadas

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Bases de dados on-line pesquisadas: Scielo (www.scielo.br); Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia (www.bvs-psi.org.br); Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br); Banco de Teses da Capes (http://servicos.capes.gov.br/capesdw).

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áreas da engenharia, como por exemplo, a civil, a preferência é por engenheiros homens, pois a presença de mulheres no canteiro de obras causa certa estranheza, tanto aos pedreiros quanto aos engenheiros.

Lombardi (2010) pesquisou também as engenheiras navais, nos demonstra que enquanto os homens ingressavam na carreira profissional como 1º tenente, as mulheres eram nomeadas como 2º tenente. Quando da ascensão profissional, as mulheres alcançavam o cargo máximo de Capitão de Fragata, enquanto que aos militares homens era disponibilizada uma posição acima, Capitão de Mar e Guerra. Deste modo, é possível verificar as desigualdades e discriminações, as quais as mulheres são submetidas no âmbito profissional onde o gênero masculino ainda é dominante.

A partir desses estudos realizados por Lombardi (2006; 2010), é possível verificar que o sexo masculino ainda prevalece nas engenharias, apesar de ter aumentado o envolvimento de mulheres nesta área. Do ano de 1985 até 2002, a quantidade de profissionais do sexo feminino passou de 8,6% para 14,3% (LOMBARDI, 2010).

Perrelli (2005) por sua vez, analisou os sentidos atribuídos por homens e mulheres quanto às atividades profissionais consideradas masculinas. Esta modificação referente à inserção de mulheres nessas profissões, de acordo com a autora, é demonstrado por alguns com receio e/ou relacionam com características “naturalmente” associadas ao feminino. Para outros, é vista como possibilidade de dividirem ambientes de trabalho, permitindo o desempenho de atividades na mesma proporção que os homens.

Nesse sentido, a relevância científica desta pesquisa fundamenta-se no fato de que até o momento foram encontrados poucos estudos relacionando gênero e escolha profissional, com foco no ensino médio ou o fundamental. O intuito, portanto, é fornecer subsídios para futuras pesquisas e ampliar o conhecimento em áreas como a Sociologia e a Psicologia, em especial, para esta última ciência e principalmente para a atuação do psicólogo no âmbito das organizações. É pertinente, visto que as discussões acerca do papel social e subjetivo da mulher contribuirão para aprofundar a compreensão sobre as relações sociais do sexo no contexto laboral. Assim, surge a importância de investigar questões relacionadas ao gênero, bem como a opção dessas mulheres por profissões tradicionalmente masculinas.

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No âmbito social esta pesquisa visa contribuir para que as mulheres trabalhadoras compreendam acerca da sua identidade e da sua escolha profissional. Almeja cooperar com intervenções práticas no que se refere à inclusão do gênero feminino no mercado de trabalho. Priorizar-se-á o estudo de profissões estereotipadas como masculinas, a fim de coibir que as mulheres sejam alvo de conduta discriminatória e preconceituosa por parte da sociedade. Ter-se-á o intuito de incentivá-las à busca incessante pela igualdade, autonomia e insubordinação perante o gênero masculino no contexto social e, sobretudo, na esfera produtiva.

Tendo em vista, o interesse da pesquisadora, referente à atuação de mulheres em profissões consideradas masculinas, sua relação com o trabalho e o gênero e sobre a escolha da profissão especificamente, formulou-se a seguinte questão: Quais as características do processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral:

Compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas.

1.2.2 Objetivos específicos:

1 - Descrever as profissões das mulheres pesquisadas: frentista, vigilante, motorista de caminhão, bombeiro militar e açougueira;

2 - Descrever a trajetória profissional das mulheres participantes desta pesquisa;

3 - Identificar os fatores envolvidos em suas escolhas profissionais; 4 - Identificar a percepção das mulheres entrevistadas sobre a relação entre gênero e profissão;

5 - Averiguar a percepção das mulheres pesquisadas sobre a reação alheia quanto ao fato de uma mulher exercer uma profissão tradicionalmente masculina.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para caracterizar o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas, é necessário primeiramente aprofundar o estudo dos temas mais relevantes desta pesquisa. Além disso, é também objetivo deste capítulo fornecer informações pertinentes para a análise e categorização dos dados.

Sendo assim, o presente estudo está dividido em três eixos, que abrange os seguintes assuntos: o conceito de trabalho, a formação da identidade, o processo de escolha profissional e a influência do gênero nesta escolha.

2.1 TRABALHO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

A gênese da palavra trabalho deriva do latim tripalium, que significa instrumento de tortura. Por isso, na Idade Média foi associado a esforço exaustivo e causador de sofrimento (YAMAMOTO; BORGES, 2004). No entanto, na sociedade contemporânea fica mais evidente o sentido positivo que algumas pessoas atribuem ao trabalho, como: confirmação dos valores éticos e morais, satisfação, auto-realização, prestígio social e status pessoal e profissional. Assim, o conceito de trabalho é ambíguo, como afirma Codo (1985, p. 9) “[...] o trabalho é ao mesmo tempo criação e tédio, miséria e fortuna, felicidade e tragédia, realização e tortura dos homens”.

Marx (1985, p.202), define trabalho como:

[...] um processo que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à

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vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo que modifica sua própria natureza.

Assim, o trabalho é considerado uma das principais atividades humanas: ser humano e trabalho são elementos indissociáveis. A ação de trabalhar é percebida como um processo por meio do qual o ser humano produz o que é indispensável para sua sobrevivência, mediante a transformação da natureza (STEIN, 1998). Deste modo, o homem é o único ser capaz de transformar a matéria bruta em mercadoria. Por meio desta transformação, o sujeito se envolve em processos de socialização, pois por mais autônomo que um trabalho pareça ser não o é; os indivíduos dependem uns dos outros para desempenharem seus afazeres (FERRETTI, 1997). Deste modo, é possível constatar que qualquer tipo de trabalho inclui o indivíduo socialmente.

É mediante esta relação estabelecida entre sujeito e natureza que o trabalho humano se difere do trabalho animal: neste age-se por instinto e de forma não consciente, já naquele impregna-se intencionalidade, direção e significado (STEIN, 1998). Desta forma, percebe-se que o trabalho modifica o indivíduo, pois, ao mesmo tempo em que produz, torna-se humano, construindo assim, sua própria subjetividade.

No entendimento de Codo (1985, p.32):

[...] o trabalho é também uma via de identificação com o outro, nos insere num grupo, numa espécie, nos iguala e nos diferencia dos outros indivíduos; pela via do trabalho eu significo algo para o outro e o outro significa algo para mim.

Ainda que trabalhar seja uma atividade tão antiga quanto o ser social, o direcionamento do indivíduo para o trabalho não é um fator genético. Ou seja, o indivíduo não nasce com uma pré-disposição para o trabalho e sim, ao logo da vida são incorporados valores de acordo com as vivências de cada sujeito. Segundo Codo (1997, p.21), “o trabalho existe e determina nossas vidas, hoje, mais do que em outras eras”. Corroborando esta perspectiva Diogo e Coutinho (2006) afirmam que o “trabalho é central na estruturação ontológica do ser social”. No decorrer da vida as pessoas são educadas a refletirem

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acerca do que querem e o que devem esperar do trabalho; esses ensinamentos provêm da família, da escola, da comunidade e dos meios de comunicação social (LOBATO, s/d.).

Convém destacar, que o trabalho ocupa um notório espaço na existência humana. Por meio da atividade laboral, o indivíduo transforma o contexto social ao qual pertence e mediante este processo, se constitui enquanto sujeito. Porém, como ocorre a formação da identidade dos indivíduos? Este processo é estável ou invariável? Do que o indivíduo necessita para consolidá-la?

A identidade se constrói a partir da articulação entre igualdades e diferenças entre o eu e o outro; assim, sou mulher, equiparando-me a outras mulheres e diferenciando-me dos homens (CIAMPA, 1997). Logo, a identidade pessoal e profissional de cada indivíduo forma-se a partir do convívio com pessoas importantes para cada um; como por exemplo: pais, familiares, professores, entre outros. É o que Hall (2006) chama de sujeito sociológico, ou seja, a formação da identidade ocorre na interação entre o eu e a sociedade; entre o mundo pessoal e o mundo público.

Conforme Luna e Baptista (2001, p.40), a identidade “é um processo de construção da representação de si”. Considerando que a identidade é construída histórica e socialmente, e não biologicamente, é importante analisar o contexto histórico-cultural no qual o indivíduo está inserido. A formação da identidade é resultante dos processos psicossociais em que ao mesmo tempo que o indivíduo demonstra sua singularidade, é reconhecido enquanto membro da sociedade. (LUNA; BAPTISTA, 2001). Ainda no que se refere ao processo de constituição da identidade os autores pontuam que:

A socialização é um processo de desenvolvimento da identidade pessoal e social. [...] A socialização marca os indivíduos com características próprias da sociedade e do grupo social no qual, historicamente, realiza-se o seu processo de socialização. (LUNA; BAPTISTA, p. 44).

Deste modo, os valores agregados ao masculino e ao feminino são apreendidos por meio de preceitos ditados pela sociedade, pela cultura e reafirmados principalmente no contexto familiar. Apesar de aparentarem um

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caráter estável, os valores e as sociedades estão se modificando e com isso as identidades de gênero estão se reconfigurando.

As referências de identidade, conforme afirmam Coutinho e Teykal (2007) transformam-se com o passar dos tempos, o que faz com que os indivíduos almejem novos e diferentes papéis na sociedade; papéis estes que não são mais específicos de cada gênero. Os indivíduos modificam-se ao longo da vida, o que faz com que suas características pessoais também se alterem. De acordo com Hall (2006), até mesmo o processo de identificação por meio do

qual se formam as identidades culturais, tornam-se cada vez mais provisórios e problemáticos. Dessa forma, evidencia-se a importância da compreensão do

fenômeno gênero nos dias atuais e, sobretudo, na esfera produtiva.

Na compreensão de Siqueira (1998, p.226) a identidade dos indivíduos é constituída da seguinte forma:

[...] a construção da identidade masculina, bem como da feminina, é entendida, então, como um complexo processo dialético em que as biografias individuais entrecruzam-se com as pautas sociais historicamente construídas [...]

Sendo assim, a identidade é composta nas relações sociais, onde os indivíduos podem ser considerados atores, eis que desempenham papéis sociais prescritos pelo contexto histórico-cultural no qual estão inseridos (CIAMPA, 1997).

No que se refere à identidade profissional, esta não é definida pelo que o sujeito é; mais sim pelo que ele faz, de acordo com os predicativos de sua profissão. Ou seja, o sujeito deve exercer sua profissão fundamentando-se no que é esperado de determinado profissional e principalmente de sua identidade de gênero (CHIES, 2010). Nesse sentido, percebe-se que homens e mulheres são remetidos a campos de atuação específicos nos quais o sexo dos indivíduos determina suas profissões.

A identidade profissional abarca dois focos, sendo eles: a identidade de uma profissão que se configura historicamente como área masculina ou feminina; e a identidade profissional do indivíduo, que se refere ao profissional como membro de um grupo que representa determinada profissão (SCOTT,

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1990). Nesse sentido, uma mulher ao escolher uma profissão considerada masculina, além de possuir as competências exigidas para tal função, terá que se adaptar ao contexto organizacional no qual os homens são mais valorizados e preservam a caracterização das profissões supostamente masculinas.

Tendo em vista que o objetivo geral desta pesquisa é compreender a escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas, considera-se importante entender como ocorre esse processo de escolha e quais fatores são decisivos para as mesmas. Portanto, no próximo capítulo será abordada esta temática.

2.2 O PROCESSO DE ESCOLHA PROFISSIONAL

Em diversos momentos da vida determinados indivíduos se deparam com a necessidade de fazer escolhas, como por exemplo, dedicar-se aos estudos ou apenas conseguir um emprego, concluir o ensino médio ou cursar uma faculdade, ou ainda, investir no campo profissional ou construir uma família. Escolhe-se o tempo todo; algumas escolhas são decisivas na vida dos sujeitos, como a escolha da profissão que implica em um processo complexo.

Escolher uma profissão não é apenas definir o que fazer, mas, sobretudo, é “decidir quem ser; escolher um estilo de vida, um modo de viver” (NEIVA, 1995, p.19). A decisão pela escolha de uma profissão e o sentido do trabalho associam-se a imagens profissionais que o indivíduo adquiriu ao longo de sua vida (BOCK, 2002). Assim, ao refletir sobre a atuação de determinada profissão, o indivíduo pensa em ser como tal pessoa ou que precisa ter características semelhantes para poder se reconhecer enquanto profissional.

Na compreensão de Lucchiari (1998), escolher implica em eleger dentre diversas opções aquela que melhor se enquadra no projeto de vida do indivíduo e aceitar as consequências dessa decisão. A autora pontua que é necessário optar por uma profissão observando critérios como: potencialidade, classe social e cultura na qual o indivíduo está inserido, a fim de evitar que a escolha profissional seja influenciada pelo modismo do momento ou esteja além de sua realidade financeira. Uma pessoa, por exemplo, que vive no meio

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rural, tem pouco estudo e seus familiares trabalham no campo, dificilmente terá acesso a tecnologias mais avançadas como a informática, e tão pouco vai se interessar em se consolidar nesta área de trabalho.

Destarte, a escolha por uma profissão é um episódio que faz parte da vida de determinados indivíduos, cuja oportunidade na maioria das vezes é disponibilizada somente para aqueles que detêm alto poder aquisitivo. O fator sócio-econômico compromete a liberdade do indivíduo em escolher uma profissão; indivíduos de classes sociais populares são na maioria das vezes obrigados a submeterem-se a oportunidades de trabalho humildes para não se tornarem desempregados (FERRETTI, 1997). Assim, jovens oriundos de famílias com baixo poder aquisitivo têm mais dificuldades em escolher; são forçados a trabalhar para ajudarem na renda familiar e os estudos podem ficar em segundo plano. Ainda de acordo com Ferretti (1997), a preferência ocupacional é comprometida pela necessidade de sobrevivência, o que faz com que os jovens não planejem um futuro audacioso, conformando-se com o que lhes foi imposto. Portanto, o jovem não determina sua escolha profissional, esta é percebida como um processo natural e dependente de fatores sócio econômicos.

De acordo com Boholavski (1998), o processo de escolha profissional envolve três momentos distintos, sendo eles: seleção, escolha e decisão. Primeiramente, o indivíduo tem que eleger dentre várias opções apenas uma profissão e elaborar um luto diante das outras possibilidades não escolhidas. Em seguida, precisa optar por onde e com o que trabalhar; além de ter que definir a rotina diária de trabalho, pretensão salarial, bem como escolher em que área específica vai se inserir enquanto trabalhador. A escolha por uma profissão pode ser vista como uma ação sem fim, pois para se adaptar às mudanças que ocorrem no mercado de trabalho, o indivíduo se envolve em um constante processo de escolhas.

Conforme Whitaker (1997), a influência da escolha profissional pode ser compreendida a partir de fatores como: visão romântica da profissão, ilusão do mercado de trabalho e sexismo das profissões. No primeiro, o indivíduo faz sua escolha fundamentada apenas nos aspectos positivos da profissão, não considerando que esta também possui contratempos. Como por exemplo, temos a medicina, profissão de alto prestígio social, que para ser exercida de

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forma eficaz é necessário trabalhar arduamente em plantões noturnos e aos finais de semana. No que se refere ao segundo, o sujeito faz sua escolha baseando-se na necessidade emergente daquele momento; contudo o mercado de trabalho contemporâneo é extremamente dinâmico e a demanda pode estar além da oferta. O terceiro fator diz respeito ao sexismo introduzido em algumas profissões. Segundo Whitaker (1997), existem profissões que são consideradas masculinas e outras femininas; esta diferenciação foi criada a partir dos papéis sociais que homens e mulheres desempenham na sociedade. Isso explica o porquê de uma grande maioria de homens em certas profissões e de mulheres em outras; como por exemplo, motoristas e telefonistas, respectivamente.

A escolha profissional, dessa forma, não é um acontecimento isolado; é um processo contínuo na vida do sujeito que se inicia na infância e perdura até a fase adulta (NEIVA, 1995). Corroborando este episódio que é vivenciado pela maioria dos sujeitos, em sua dissertação Natividade (2007) pesquisou sobre os sentidos que as crianças atribuem ao trabalho. A referida autora constatou que mesmo que não participem do contexto laboral, as crianças atribuem sentido ao trabalho de acordo com a realidade de cada um; ou seja, a temática trabalho faz parte do cotidiano infantil. Assim, desde pequenas as crianças já demonstram interesse pelas profissões e estas geralmente são escolhidas com o que é demandado pela sociedade no que diz respeito ao gênero; como dizem as crianças: “quando eu crescer quero ser bombeiro ou vou ser professora”.

Nesse sentido, o fato é não se embasar somente em figuras sociais ao decidir por uma profissão; a dominação de um gênero em algumas profissões não impede que estas possam ser exercidas por sexos distintos. Tendo em vista que o objetivo geral desta pesquisa é compreender a escolha profissional de mulheres que exercem uma profissão tradicionalmente masculina, o enfoque da mesma será o sexo feminino. Para tanto, no subcapítulo seguinte será abordada a escolha profissional de mulheres, problematizando-se o gênero como fator significativo deste processo de escolha.

(25)

2.3 GÊNERO E ESCOLHA PROFISSIONAL

A escolha profissional pautava-se na classe social a qual pertencia o indivíduo, bem como no gênero. As mulheres almejavam somente profissões femininas, como secretária ou professora; hoje as escolhas estão mais diversificadas e abarcam inclusive as atividades masculinas.

O conceito de gênero é de extrema importância para entender a identidade de cada indivíduo, assim como os papéis sociais e as relações estabelecidas entre homens e mulheres, seja na sociedade como um todo, ou nas organizações em particular. É importante ressaltar que gênero e sexo são conceitos distintos, embora, muitas vezes sejam confundidos.

A nomenclatura gênero originou-se a partir do movimento feminista americano que ressaltava a importância da distinção entre sexo e gênero (SCOTT, 1990). O termo surgiu como sinônimo da palavra mulher, as pesquisadoras feministas pretendiam com seus estudos desnaturalizar a condição da mulher no contexto social. O intuito era diferenciar o que todas as mulheres tinham de permanente (sexo), daquilo que era socialmente construído (gênero), e variava de sociedade para sociedade (SIMIÃO, 2000).

Segundo Izquierdo (1994), a diferenciação entre sexo e gênero é uma forma de distinguir as capacidades e limitações sugeridas pelas características sexuais biológicas, padrões de identidade e esteriótipos moldados pelas peculiaridades sociais, históricas e psíquicas. Portanto, o gênero pode ser entendido como um conjunto de comportamentos sociais pertencentes a indivíduos de determinado sexo. Deste modo, o aparato biológico e anatômico distingue sexualmente homens e mulheres, enquanto a diferença de gênero se refere ao sexo socialmente construído.

No entendimento de Strey (2000, p. 182,183):

O sexo biológico com o qual se nasce não determina, em si mesmo, o desenvolvimento posterior em relação a comportamentos, interesses, estilos de vida, tendências das mais diversas índoles, responsabilidades ou papéis a desempenhar, nem tampouco determina o sentimento ou a conseqüência de si mesmo/a, nem das características da personalidade, do ponto de vista afetivo, intelectual

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ou emocional, ou seja, psicológico. Isso tudo seria determinado pelo processo de socialização e outros aspectos da vida em sociedade e decorrente da cultura, que abrange homens e mulheres desde o nascimento a ao longo de toda a vida, em estreita conexão com as diferentes circunstancias socioculturais e históricas. Os seres humanos têm diferenças sexuais, mas, de maneira semelhante a todos os outros aspectos de diferenciação física, elas são experenciadas simbolicamente. Nas sociedades humanas, elas são vividas como gênero.

A partir disso, a crença de que existem características inerentes para cada um dos sexos é indevida. No que se refere à escolha profissional a distorção é similar, o imaginário social cria expectativas sobre quais profissões devem ser exercidas por homens e quais devem ser desempenhadas por mulheres. Como por exemplo, mulheres são meigas, pacientes e atenciosas, portanto; devem exercer profissões como a pedagogia ou serviço social. Em contrapartida, funções que demandem força, inteligência e racionalidade devem ser realizadas por homens, pois, são compreendidas como atividades masculinas (WHITAKER, 1997).

Como afirmam Muraro e Boof (2002, p.18), falar sobre a hierarquia de gênero é: “falar a partir de um modo particular de ser no mundo, fundado de um lado, no caráter biológico do ser, e de outro, no fato da cultura, da história, da sociedade, da ideologia e da religião desse caráter biológico”. Assim, a condição de ser masculino ou feminino é um construto social mediado pelas relações interpessoais que se estabelecem entre os sujeitos. Segundo Diogo e Coutinho (2006), as atividades humanas são mediadas pela cultura, isto é, não existem fenômenos naturais; os seres humanos não carregam consigo características intrínsecas ao ser homem ou ser mulher. A natureza não determina que os homens devam lavar o carro e as mulheres roupa, por exemplo.

De acordo com Louro (1997, p. 45), a diferenciação entre os gêneros surgiu como forma de justificativa:

[...] a diferença entre os gêneros serviu para explicar e justificar as mais variadas distinções entre mulheres e homens. Teorias foram

(27)

construídas e utilizadas para ‘provar’ distinções físicas, psíquicas, comportamentais; para justificar os lugares sociais, as possibilidades e os destinos ‘próprios’ de cada gênero.

Destarte, a família transmite desde a infância do indivíduo normas e valores culturais, além de ensinar o significado do que é ser masculino ou feminino. Nesse sentido, desde o nascimento, são embutidos e repetidos comportamentos que demonstram o sexo dos sujeitos, como por exemplo, rosa para as meninas e azul para os meninos. Na esfera doméstica, é exigido das mulheres que auxiliem suas mães nas tarefas cotidianas, incentivando uma prática para que no futuro sejam boas donas de casa. No ambiente escolar é admissível que apenas as meninas mantenham seus cadernos organizados e com letra legível. De acordo com Altmann e Souza (1999), “nossos corpos são treinados, moldados e marcados pelo cunho das formas históricas predominantes de individualidade, desejo, masculinidade e feminilidade”.

Em relação às profissões não é diferente: a sociedade cria expectativas referentes à profissão baseando-se, em princípio, no gênero. É o que Whitaker (1997) chama de “profissão caricaturizada”, o conteúdo das profissões não é considerado e sim a sua forma; esta reprodução é baseada nos papéis sociais que são representados por homens e mulheres na sociedade tradicional. É o que acontece com a enfermagem, atividade geralmente atrelada ao sexo feminino; bem como as atividades desenvolvidas na esfera doméstica, tais como cuidar da casa e dos filhos. Neste viés, o sexo masculino é frequentemente associado ao trabalho “extra-lar”, ao prestígio social e ao poder.

Entretanto, no mercado de trabalho atual é possível verificar uma alteração nessa composição; fica cada vez mais evidente a presença de mulheres ocupando cargos até então prescritos somente aos homens. De fato, homens e mulheres são diferentes, porém não são desiguais, o que não significa dizer que mulheres não possam desempenhar as mesmas atividades que os homens, mas sim que as fazem de forma distinta, afirmam Cappelle, Melo e Brito (2004).

De acordo com Melo (1985) ao analisar relações de gênero é necessário compreender também as relações de poder. Para a autora o poder

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é uma característica essencial e inegável que está presente em todas as relações sociais. Geralmente estas relações de poder são de dominação do sexo masculino sobre o sexo feminino; as mulheres são submetidas aos homens em todos os contextos, e, sobretudo, no ambiente organizacional onde estas são desvalorizadas. É, aliás, o que ressalta Fonseca (2000): a predominância masculina é padrão cultural da sociedade patriarcal, na qual as mulheres são consideradas inferiores e subordinadas aos homens.

No mercado de trabalho estas desigualdades também ocorrem. É possível verificar que as mulheres ainda sofrem com a segregação ocupacional, diferença salarial, dupla/tripla jornada de trabalho, dificuldades de ingressarem nas organizações, exercem atividades mais precárias e são menosprezadas no que se refere aos direitos sociais e trabalhistas (DIOGO; MAHEIRE, 2007). A inserção do gênero feminino no mercado de trabalho ocorreu principalmente no setor de serviços e em ocupações reconhecidas como tipicamente femininas, entretanto, não aconteceu de forma homogênea. Muitas mulheres foram e ainda são discriminadas no que se refere a faixa etária, raça, escolaridade, renda familiar e comportamento reprodutivo (DIEESE, 2009).

Na sociedade brasileira deste século ainda predominam padrões culturais que remetem ao patriarcalismo e o modo de divisão sexual do trabalho. Mesmo frente a essa situação, as relações de trabalho estão se modificando, nesse sentido já é possível observar a tendência na qual homens e mulheres disputam posições hierárquicas mais elevadas e reconhecimento profissional (BETIOL, 2000).

(29)

3 MÉTODO

A presente pesquisa foi elaborada a partir de um método, com a finalidade de comprovar seu caráter científico, bem como alcançar os objetivos propostos.

Lakatos e Marconi (2010, p.65) conceituam método como:

Conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

No que se refere às questões éticas, esta pesquisa foi realizada baseando-se nas exigências do Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Unisul (CEP – UNISUL), cujo projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo CEP – UNISUL no mês de agosto de 2011.

Deste modo, os subcapítulos seguintes têm como finalidade descrever a trajetória metodológica percorrida para a realização da presente pesquisa.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Com o objetivo de compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas, a pesquisa qualifica-se, como descritiva. De acordo com Andrade (2005, p. 124), nesse tipo de pesquisa “os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles”.

No que se refere, à natureza da pesquisa, a mesma classifica-se como qualitativa. Conforme Minayo (2000, p.21), esse tipo de pesquisa:

Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais

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profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

No que tange ao corte, caracteriza-se como transversal, haja vista ter sido realizada em um curto período de tempo.

Com relação ao delineamento, classifica-se como estudo de caso, o que, no entendimento de Fachin (2005, p.43), compreende a “explicação sistemática das coisas (fatos) que ocorrem no contexto social e geralmente se relacionam com uma multiplicidade de variáveis”.

3.2 PARTICIPANTES

Participaram da pesquisa cinco mulheres trabalhadoras, que exercem profissões em que o sexo masculino é predominante. A escolha por profissões distintas visou enriquecer a categorização e a análise dos dados; já a quantidade de participantes, se deu em virtude da natureza qualitativa da pesquisa, pois, de acordo com Minayo (2000), esta não se baseia no fator numérico para assegurar sua representatividade.

Conforme mencionado no projeto de pesquisa, a intenção era investigar as seguintes profissões: servente de obra, motorista de caminhão, cobradora de ônibus, vigilante e frentista. Entretanto, não foi possível contatar duas dessas profissionais, razão pela qual foram substituídas.

A seguir, no Quadro 1, apresentam-se algumas características das mulheres entrevistadas, bem como informações referindo-se às respectivas profissões.Convém referir que os nomes mencionadas são fictícios, visando preservar a identidade das participantes.

Participante Idade

Nível de

Instrução Profissão Experiência

Estado Civil Profissão do Cônjuge Clara 25

anos Primário Frentista 03 anos Separada Sara

32

(31)

Maiara

44

anos Ensino médio

Motorista de

caminhão 06 anos Casada Motorista Kiara 25 anos Superior Completo Bombeiro

Militar 05 anos Casada

Bombeiro Militar Lara

30

anos Ensino médio Açougueira 07 anos Casada Vigilante

Quadro 1 - Dados de identificação das participantes da pesquisa. Fonte: Elaboração da autora, 2011.

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Objetivando compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas, foi utilizado como instrumento de coleta de dados, a entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A). O roteiro foi elaborado a priori e as questões foram formuladas a partir da decomposição das variáveis do fenômeno investigado. O instrumento contém dados de identificação dos sujeitos como, por exemplo: idade, nível de instrução, naturalidade, estado civil, entre outros e dezessete questões relacionadas aos aspectos profissionais.

No entendimento de Minayo (2000, p.57), a entrevista defini-se a partir de dois propósitos:

Num primeiro nível, essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala. Já, num outro nível serve como um meio de coleta de informações sobre determinado tema científico.

Nesse sentido, a entrevista, enquanto técnica, possibilita ao pesquisador mediante diálogo, face a face com o entrevistado, obter informações mais aprofundadas acerca do tema pesquisado.

(32)

3.3.1 Estudo piloto

Com o intento de assegurar a validade e fidedignidade do instrumento de coleta de dados, e verificar a adequação da linguagem do mesmo, realizou-se uma entrevista piloto em agosto de 2011.

A então participante entrevistada foi indicada por meio da rede social da pesquisadora, uma vez que se enquadrava nos critérios de seleção. O pré-teste piloto foi realizado com uma vigilante, de 38 anos, cujo cargo desempenhava há cinco anos. Antes de iniciar a entrevista, foi explicado o objetivo, e mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - (TCLE), iniciou-se a correspondente gravação, que durou aproximadamente vinte e cinco minutos. Foi possível perceber que a entrevistada não apresentou dificuldades em compreender as perguntas. Durante a entrevista foram realizados questionamentos de acordo com as respostas da mulher investigada. A finalidade era obter um maior número de informações e promover uma maior reflexão acerca do fenômeno investigado. Deste modo, a realização do estudo piloto permitiu constatar que não era necessário reformular o instrumento, pois todos os objetivos da pesquisa foram respondidos.

3.4 PROCEDIMENTOS

3.4.1 Procedimento de seleção e contato com os participantes

As participantes foram selecionadas intencionalmente, por recomendação da rede social da pesquisadora, a fim de facilitar o acesso a elas. Para a seleção foram respeitados os seguintes critérios: mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas; que atuem na profissão no mínimo há um ano, e que possuam vínculo empregatício em organizações distintas.

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O primeiro contato com as participantes foi realizado no mês de setembro, visando explicar os objetivos da pesquisa, o método de coleta de dados, bem como verificar o interesse das mesmas em participar da pesquisa. A forma de contatar cada uma das participantes e de escolha do local das entrevistas ocorreu de forma distinta, conforme pode ser observado no Quadro abaixo:

Participante Meio de contato Local da entrevista Frentista Pessoalmente Residência da pesquisadora Vigilante Pessoalmente Residência da participante Motorista Via telefone Residência da participante Bombeiro Via e-mail Local de trabalho Açougueira Via telefone Local de trabalho

Quadro 2 – Descrição do contato e local das entrevistas Fonte: Elaboração da autora, 2011.

3.4.2 Procedimento de coleta de dados e registro de informações

A partir do consentimento da participação na pesquisa, foram planejados dia, horário e local para a realização das entrevistas. Estas ocorreram individualmente em dias e locais diferenciados, de acordo com a disponibilidade de cada participante, visando não interferir na rotina de trabalho dessas profissionais. A duração das entrevistas variou de trinta a quarenta minutos.

Para a efetivação da coleta de dados, foi solicitado às participantes a leitura e assinatura do TCLE (APÊNDICE B), a autorização para gravação de áudio e para divulgação das informações obtidas.

Era de conhecimento dessas profissionais que esses dados seriam utilizados apenas no meio acadêmico e que suas identidades seriam resguardadas.

(34)

3.4.3 Procedimento de organização, tratamento e análise dos dados

Os dados coletados para a presente pesquisa foram decompostos por meio da análise qualitativa das informações, obtidos mediante entrevista semi-estruturada. Tendo em vista que as entrevistas foram gravadas com a autorização das participantes, realizou-se a transcrição literal daquelas, a fim de garantir fidedignidade do discurso. Para melhor compreender o conteúdo das falas, bem como se apropriar dos mesmos, a pesquisadora realizou “leituras flutuantes”.

No que tange à análise dos dados, estes foram agrupados por categorias e relacionados aos objetivos da pesquisa. Segundo Bardin, a categorização compreende uma “classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo gênero (analogia), com critérios previamente definidos” (BARDIN, 2011, p.147).

Os dados foram submetidos à análise de conteúdo, que é apresentada por Bardin (2011, p. 48) como:

[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] dessas mensagens.

Desta forma, por meio da análise de conteúdo, foi possível compreender os sentidos existentes na fala das participantes da pesquisa.

(35)

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Para responder ao problema de pesquisa, neste capítulo, demonstrar-se-á a análise dos dados coletados. Para tanto, torna-se indispensável à caracterização das profissões, a apresentação das participantes da pesquisa e as particularidades envolvidas na escolha de cada uma das entrevistadas, ao optarem por uma profissão tipicamente masculina.

O capítulo, portanto, será dividido em três subcapítulos: o primeiro caracteriza as profissões escolhidas. Em seguida, apresentar-se-ão as participantes e suas trajetórias profissionais. Por fim, no último subcapítulo discutir-se- ão as similaridades e diferenças no que diz respeito ao processo de escolha profissional dessas mulheres.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PROFISSÕES

O objetivo deste subcapítulo é apresentar, de forma sucinta, as cinco profissões escolhidas pelas participantes da pesquisa. Serão descritas informações referentes às funções básicas de cada profissão, horário de trabalho, cursos necessários, nível de escolaridade requerido, bem como algumas das competências necessárias para exercer tais atividades laborais. Quanto à ordem de apresentação, estas foram elencadas de acordo com a realização das entrevistas.

4.1.1 Frentista

O indivíduo que realiza esta função atua no abastecimento de combustível de veículos em geral, troca de óleo, calibragem de pneus e

(36)

lavação automotiva de aparência. A jornada de trabalho é de sete horas e vinte minutos por dia, e os horários podem ser: diurnos, noturnos ou em rodízio de turnos (SINFREN, 2010). Para exercer o cargo de frentista é necessário ensino fundamental e são estabelecidas algumas competências básicas como, por exemplo: facilidade de trabalhar em equipe, comunicação verbal adequada, habilidade para lidar com o público, dinamismo, demonstração de boa condição física (CBO, 2002a).

4.1.2 Vigilante

O profissional que exerce esta função vigia e monitora áreas públicas e privadas, com a finalidade de prevenir, controlar e combater delitos, zelando pela segurança das pessoas e do patrimônio (CBO, 2002b). Esta função pode ser exercida individualmente ou em equipes. Quanto ao horário, este pode ser: diurno, noturno ou em rodízio de escalas. No que se refere à escolaridade, é requerido no mínimo 4ª série do ensino fundamental e é obrigatório possuir formação profissionalizante em escolas especializadas em segurança. O treinamento desses profissionais é promovido por conta da empresa, sem ônus para o funcionário. Este profissional tem permissão para utilizar arma de fogo em serviço, o que exige a observância de algumas capacidades, tais como: autocontrole, atenção, pró-atividade, habilidade para trabalhar em equipe e lidar com situações adversas (CBO, 2002b).

4.1.3 Motorista de caminhão

As principais atividades desta função consistem em: transportar mercadorias em geral, planejar o itinerário, preservar a integridade da carga conforme procedimentos técnicos e de segurança (CBO, 2002c). Para exercer essa atividade é necessário ensino fundamental e curso básico de qualificação,

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como por exemplo: direção defensiva, primeiros socorros e mecânica básica. Esse profissional pode atuar em empresas ou na condição de autônomo; na maioria das vezes o trabalho é em dupla, a fim de agilizar a carga e descarga das mercadorias. Quanto ao horário, este é irregular e geralmente ultrapassa oito horas diárias. Algumas habilidades são importantes para o exercício dessa profissão, tais como, conhecimento e cumprimento das leis de trânsito, responsabilidade, atenção e resistência física (CBO, 2002c).

4.1.4 Bombeiro militar

O sujeito que atua nesta função convive com situações críticas, arriscando sua própria vida para salvar outras pessoas; como afirma Natividade e Brasil (2006), o perigo é inerente a esta atividade profissional. O profissional é responsável por combater incêndios, resgatar vítimas, auxiliar no cuidado com vítimas em acidentes aéreos, terrestres ou inundações, além de realizar vistoria em sistemas e equipamentos de prevenção e combate a incêndio (CBO, 2002 d). Para pleitear uma vaga na corporação, é exigido do candidato ensino médio completo, nacionalidade brasileira, ter entre 18 e 28 anos de idade, estatura mínima de 1,60m para mulheres/1,65m para homens e carteira de habilitação na categoria B. O ingresso do indivíduo na corporação se dá por meio de concurso público e mediante aprovação nas provas objetiva, de avaliação física e psicológica, no exame toxicológico e na investigação social. A etapa seguinte prevê a participação e aprovação no curso preparatório, o qual ocorre em regime de semi-internato e prevê a duração de oito meses a dois anos, variando de acordo com a carreira militar escolhida. De acordo com a CBO (2002 d),determinadas competências são fundamentais para desempenhar a profissão, quais sejam: trabalhar em equipe, inspirar confiança, demonstrar solidariedade, resistência física e emocional.

(38)

4.1.5 Açougueiro

O indivíduo que desempenha esta função tem como principal atividade limpar e cortar a carne, além de desossar, fatiar, diferenciar os tipos de carne e embalar o produto. Também é responsável pela higiene e limpeza do local de trabalho (CBO, 2002 e; BRASIL PROFISSÕES s/d). O profissional pode atuar em açougues, casas especializadas em carnes, frigoríficos, mercados e supermercados. A escolaridade exigida é ensino fundamental, bem como curso de manipulação de alimentos e conhecimentos gerais em anatomia animal. Quanto ao horário de trabalho, este varia de acordo com cada empresa. Algumas competências são consideradas adequadas para exercer o cargo, tais como: atenção, concentração, boa visão e condições físicas para trabalhar em ambientes com temperatura inferior a zero grau. (BRASIL PROFISSÕES.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES

Este subcapítulo tem como finalidade apresentar as cinco mulheres que participaram do presente estudo. Para tanto, serão referidos dados pessoais como: idade, estado civil, nível de escolaridade e naturalidade. No que se refere ao aspecto profissional, são relatadas as experiências profissionais anteriores e o que as conduziu a exercerem a função atual. As profissões estão elencadas de acordo com a ordem de apresentação das participantes mencionadas no subcapítulo anterior. Convém ressaltar que os nomes citados são fictícios, visando preservar a identidade de cada participante.

(39)

Clara tem 25 anos, é natural de Palmitinho (RS) e reside há aproximadamente 5 anos em São José com seu irmão. Possui ensino fundamental, é divorciada e tem 3 filhos. A entrevistada relata que começou a trabalhar aos 15 anos, pois engravidou e como não recebia ajuda financeira do pai de seu filho trabalhava como faxineira para poder ajudar nas despesas da casa. Devido à carência de emprego em sua cidade, resolveu tentar uma oportunidade em Florianópolis. Conta que no começo foi difícil, porque era muito nova e não conseguia emprego com carteira assinada. Relata que trabalhou como diarista durante 10 meses. Em seguida, conseguiu uma oportunidade como auxiliar de produção em uma empresa de material reciclável, na qual trabalhou por mais de 1 ano. Segundo a entrevistada, o interesse em exercer a atual função de frentista foi estímulo de seu irmão, pois foi ele quem lhe ofereceu a oportunidade de emprego.

4.2.2 Sara – a vigilante

Sara tem 32 anos, é natural de Porto Alegre e reside em Palhoça há mais de 10 anos com seu esposo e o filho de 1 ano e 4 meses. Possui o ensino médio completo. De acordo com a entrevistada, sua inserção no mercado de trabalho ocorreu há sete anos e seu objetivo era tornar-se mais independente. Conta que desempenhou as funções de faxineira e auxiliar de cozinha. Seu interesse pela profissão atual surgiu por meio do incentivo de sua mãe: “ela que me apoiou para fazer o curso” (SIC). A entrevistada relata que trabalha para uma empresa de vigilância e desempenha este cargo há três anos.

4.2.3 Maiara – a motorista

Maiara tem 44 anos, é natural de Porto Alegre (RS) e reside em Palhoça com seu companheiro há aproximadamente 2 anos. Possui o ensino

(40)

médio completo. O casal exerce a mesma atividade laboral, com a diferença de que seu esposo é motorista carreteiro. Não possuem filhos juntos, mais cada um deles tem um filho de relacionamentos anteriores.

De acordo com a entrevistada, aos 18 anos interessou-se pela brigada militar. Realizou as provas teóricas e físicas, foi aprovada, mais não obteve apoio de seus familiares e resolveu desistir. Relata que seu pai era caminhoneiro, o que fez com que desde muito pequena manifestasse interesse em seguir tal profissão. Diz que “não era uma obsessão, mas um sonho que permaneceu adormecido” (SIC). Suas experiências profissionais são no setor administrativo no qual tem experiência há mais de 10 anos. Conta que já trabalhou em uma agência bancária e em uma loja de móveis e eletrodomésticos. Fala que gostava de trabalhar mas não se sentia realizada e decidiu então desistir do emprego. Inseriu-se no mercado de trabalho e desempenhou o cargo de motorista de caminhão por 4 anos em uma transportadora. Menciona que quando veio para Florianópolis, encontrou dificuldades devido ao fato de sua profissão ser exercida geralmente por homens. Atualmente, Maiara trabalha em uma empresa no Município de Biguaçu, sendo a única mulher que desempenha esta função.

4.2.4 Kiara – a bombeiro militar

Kiara tem 25 anos, é natural de Caxambu do Sul (SC) e reside em Florianópolis com seu esposo há pouco mais de três meses. Possui curso superior em Gestão de Emergência. O casal não tem filhos e ambos desempenham a profissão de bombeiro militar.

Conforme a entrevistada, estudou Engenharia de Alimentos até a sétima fase e sua experiência profissional foi em uma construtora onde trabalhou como desenhista. Diz que a escolha pela profissão ocorreu casualmente, “na verdade eu não conhecia a profissão, não tinha nem noção do que era militarismo” (SIC). Conta que desde o início recebeu apoio de seus familiares e somente algumas pessoas consideraram indevida a ideia de largar a faculdade e optar por outra profissão. Após ser aprovada no concurso

(41)

público, fez o curso para oficiais que na época durou três anos. Iniciou a carreira militar em Chapecó como aspirante a oficial. Relata que está na corporação há mais de cinco anos e atualmente exerce o cargo de 2º tenente, sendo responsável pela seção de atividades técnicas do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros. Além dessa atividade, diz que mensalmente “tira serviço” em outros quartéis e nestes são desenvolvidas tarefas mais operacionais como, por exemplo, supervisionar in locus os bombeiros nas ocorrências de sinistros.

4.2.5 Lara – a açougueira

Lara tem 30 anos, é natural de Florianópolis e possui o ensino médio completo. Reside no bairro Monte Verde com a mãe, 3 filhos e o esposo. Conta que ingressou no mercado de trabalho com 16 anos, exercendo o cargo de atendente de floricultura. Em seguida trabalhou por 3 anos no Supermercado A; iniciou na função de balancista e logo assumiu o setor de frutas e verduras.Diz que já trabalhou como promotora, mais devido a instabilidade da função optou por procurar outro emprego. Deixou seu currículo no Supermercado B, no qual trabalha desde 2005. Relata que começou no açougue como repositora de marcas, sendo, posteriormente, promovida à atendente de carnes (açougueira), função que desempenhou por mais de 03 anos. De acordo com a entrevistada, alguns clientes estranhavam a presença de uma mulher nesse setor. Logo depois, foi novamente promovida, mas à chefe trainee, e atualmente desempenha a função de chefe operacional do açougue e gerencia cerca de doze pessoas, sendo a maioria homens. Diz que o maior desconforto no exercício da profissão é com os colegas de trabalho, “eles não gostam de ser mandados pelas mulheres” (SIC).

(42)

4.3 A ESCOLHA PROFISSIONAL DAS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Neste subcapítulo serão apresentadas as informações obtidas sobre a escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas. Para tanto, os dados foram divididos em três subcapítulos, definidos a partir dos objetivos específicos da presente pesquisa e articulados com a fundamentação teórica do presente estudo.

Para uma melhor compreensão, as falas das participantes da pesquisa serão apresentadas em itálico e acompanhadas de aspas, já as categorias de análise serão destacadas em negrito.

4.3.1 Fatores envolvidos nas escolhas profissionais das participantes

Neste primeiro eixo de análise, serão interpretadas as subcategorias formadas em relação ao terceiro objetivo específico, que se refere aos fatores envolvidos nas escolhas profissionais das participantes.

Com o intuito de aprimorar o entendimento dos dados obtidos, optou-se por analisar as informações em três quadros, quais sejam: Quadro 3, que diz respeito à escolha profissional já realizada; o Quadro 4, no qual são apresentadas subcategorias em relação aos projetos profissionais e o Quadro 5 que descreve o sentido do trabalho para cada uma das entrevistadas.

A configuração dos quadros ocorreu da seguinte forma: as primeiras e segundas colunas referem-se, respectivamente, às categorias e subcategorias. Na terceira coluna são demonstradas as falas das participantes pertinentes a determinada subcategoria. Já na última coluna, apresenta-se a frequência das falas que caracterizam essas subcategorias. Convém ressaltar que os dados foram organizados em ordem decrescente de frequência, ou seja, da mais recorrente para a menos frequente.

(43)

Categoria Subcategoria Descrição da fala Frequência

ESCOLHA PROFISSIONAL

Família

Frentista - “Meu irmão também trabalha em posto e conseguiu uma vaga pra mim.”

Vigilante - “Por incentivo da minha mãe fiz o curso de vigilante.”

2

Retorno financeiro

Bombeiro Militar - “Porque o salário é bom, não vou ser hipócrita dizer que não.”

Açougueira - “Não vou ganhar em outra função o que eu ganho aqui.”

2

Relações Sociais

Bombeiro Militar - “Meu namorado era bombeiro voluntário, quando abriu o concurso ele resolveu fazer e me incentivou.”

Açougueira - “Quando foi para assumir o setor fui influenciada por um colega de trabalho.”

2

Interesse Motorista - “Não era uma obsessão. Mas sempre gostei de caminhões.”

1

Quadro 3 - Fatores envolvidos na escolha profissional Fonte: Elaboração da autora, 2011.

Apesar de analisados individualmente, os fatores envolvidos na escolha profissional dessas mulheres apresentaram semelhanças. É possível observar na primeira coluna do Quadro 3 a categoria escolha profissional, na segunda coluna são demonstradas quatro subcategorias, que referem-se à: família, retorno financeiro,relações sociais e interesse; seguidas das falas das entrevistadas e, na última coluna, a frequência com que essas falas foram mencionadas.

Destaca-se primeiramente a influência da família, como um importante fator envolvido na escolha profissional, conforme relatado na fala de

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