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ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: AS ESPACIALIDADES COMO COMPONENTES DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NA CIDADE DE PONTA GROSSA PR NO ANO DE

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759

XXI Semana de Geografia, III Semana e Jornada Científica de Geografia do Ensino a Distância da UEPG, XV

ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: AS ESPACIALIDADES COMO

COMPONENTES DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NA CIDADE

DE PONTA GROSSA – PR NO ANO DE 2012

PADILHA, Bruna Alexandra Nadolny SUKOSKI, Priscilla ORNAT, Marcio José Introdução

O presente trabalho tem como objetivo verificar de que forma o espaço compõe as ações de violência contra mulheres na cidade de Ponta Grossa – Paraná no ano de 2012. Os casos de agressões mostram-se alarmantes e devido a isso merece uma melhor atenção por parte da sociedade como um todo. O recorte temporal corresponde às agressões que ocorreram no ano de 2012, sendo que os dados sobre os casos de violência contra mulher encontram-se na Delegacia de Atendimento á Mulher desta cidade. Com esse recorte, depois de uma seleção nos inquéritos, restaram 392 referentes apenas a violência contra mulher cometida por seus parceiros íntimos no ano de 2012.

Além desse levantamento, realizamos uma busca através das palavras chaves feminicídio, violência doméstica e violência feminina no banco de dados da Capes, da Biblioteca Digital de Teses (BDTD) e Dissertações e no banco de artigos do Grupo de Estudos Territoriais (GETE). A partir desses dados conseguimos delimitar as espacialidades que compõem as ações de violência contra mulher nesta cidade, como a violência se apresenta em cada espacialidade e de que forma esta temática vem sendo abordada pela ciência geográfica.

Objetivos

Geral: Verificar de que forma o espaço compõe as ações de violência contra mulheres na cidade de Ponta Grossa – Paraná no ano de 2012.

Específicos: Verificar as relações entre espacialidades e tipos de violência contra mulheres na cidade de Ponta Grossa – Paraná; Diagnosticar as características socioeconômicas dos autores de violência na cidade de Ponta Grossa – Paraná no ano de 2012; Identificar os tipos de violência praticados contra mulheres na cidade de Ponta Grossa – Paraná no ano de 2012. Metodologia

Realizamos um levantamento de dados na Delegacia da Mulher de Ponta Grossa – Paraná, no período de Maio a Julho de 2012. Foram registrados 810 inquéritos no ano de 2011 e 2012. Deste total de inquérito, usamos 392 casos para obtermos resultados e porcentagens dos ocorridos em 2012. Os 392 inquéritos que usamos referiam-se apenas a agressões cometidas por companheiros íntimos sendo estes, maridos, namorados, conviventes, ex-marido, ex-namorado e ex-convivente.

Resultados e Discussão

O espaço é uma categoria de análise de extrema relevância para a compreensão do fenômeno da violência, uma vez que entendemos que o espaço compõe esse fenômeno. A Geografia brasileira por muito tempo não se preocupou com certos fenômenos. Esse fato não quer dizer que os fenômenos deixam de existir, eles deixarem de ser pensados resulta em uma

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759

compreensão não geral da categoria espaço, como visto a seguir:

Compreender ausências, silêncios e invisibilidades do discurso científico é reconhecer que tais características não são frutos de acasos, mas de uma determinada forma de conceber e de fazer geografia. (SILVA, 2009, p. 58)

Através do levantamento realizado nos bancos de dados de teses e dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e da Capes e do banco de artigos do Grupo de Estudos Territoriais (GETE) concluímos que os trabalhos encontrados na produção científica geográfica, referentes a nossa temática, são poucos.

No mês de abril do ano de 2013, realizamos uma busca sistemática nos bancos do IBICT e da Capes a partir dos termos Violência Feminina, Violência Doméstica e Feminicídio. Após realizarmos uma limpeza de informações que não tinham relação com a temática eleita, os trabalhos restantes somaram 649, sendo 382 trabalhos relacionados à palavra violência doméstica, 266 á violência feminina e apenas 2 trabalhos sobre Feminicídio. Entre os 649 trabalhos, foram encontrados apenas 1 na área de Geografia. Outro levantamento realizado foi no banco de artigos do Grupo de Estudos Territoriais (GETE). Em nossa busca neste banco de dados foram utilizadas as três palavras-chaves: Violência Doméstica, Violência Feminina e Feminicídio. Dos 103 artigos apresentados, foram encontrados 2 artigos referentes a Feminicídio e 1 a violência doméstica. Referente à palavra-chave Feminicídio foram encontrados 2 artigos.

Os trabalhos sobre violência contra mulheres apresentam-se volumosos em outras áreas. Porém há uma ausência de trabalhos científicos na Geografia sobre essa temática. Considerando que o espaço compõe este fenômeno incluir esta temática mostra-se como inadiável. Segundo Silva (2009, p. 26),

a razão de suas ausências no discurso geográfico deve ser entendida pela legitimação naturalizada dos discursos hegemônicos da geografia branca, masculina e heterossexual, que nega essas existências e, também, impede o questionamento da diversidade de saberes que compõem as sociedades e suas mais variadas espacialidades.

Nesse sentido, a discussão sobre como o espaço compõe as ações de violência contra mulheres não parece ser relevante, mas faz-se necessária. O espaço é um elemento que compõe este fenômeno mostrando quando, onde e de que maneira ocorre. A partir da imaginação geográfica propiciada por Souza (1997), visualizamos que o espaço tem sim um significado tanto para o indiciado quanto para a vítima, por ser um espaço de relações sociais, seja ele público ou privado.

As relações de conjugalidade são constituídas por relações de poder, que podem culminar em ações de violência. Segundo Strey (2007, p 31):

[…] Pode ser iniciado um verdadeiro circo de horrores, quando as relações mantidas dentro da família podem ficar mediadas pela pedagogia da violência. Isto é, cria-se o costume de se consegui o que se quer, de se resolver os conflitos, por meio da violência.

A violência sofrida pelas mulheres se demonstra sobre diferentes aspectos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que é um órgão especializado das Nações Unidas que tem seu foco nos assuntos relativos à saúde, define a violência como:

O uso intencional da força física ou poder, ameaça ou real, contra si mesmo, outra pessoa, ou contra um grupo, ou contra comunidade, que resulte em ou tenha alta probabilidade de resultado em lesão, morte, dano psicológico ou privação.

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A violência para a Organização Mundial da Saúde (2002) apresenta-se estruturada sobre quatro categorias de violência sendo elas, as físicas, correspondentes a toda manifestação com objetivo de ferir; violência psicológica, caracterizada pela humilhação, desrespeito, rejeição, entre outros; violência sexual, quando o agressor abusa de seu poder sobre a vítima na obtenção da gratificação sexual, sem o consentimento da vítima; e negligência, que é a omissão do responsável em proporcionar as necessidades básicas de seu dependente. Nossa perspectiva de violência enquadra-se nesta definição.

Durante o ano de 2012 o mês mais violento, segundo os inquéritos, foi o mês de março. Os locais das agressões são residências (80%), via pública (9%), no trabalho da vítima (1%), na residência seguido de via pública (3%), na residência do agressor (1%), na residência de familiares (1%), na residência-parte externa (1%) e em outros (4%) que representam espaços públicos específicos que apareceram apenas uma vez nos inquéritos. São eles: terminal central, shopping, restaurante, órgão público municipal, mercearia da família, comércio da vitima, comércio atacadista, centro de eventos, carro, caminhão do agressor, barzinho e baile do idoso.

Nas denúncias, as mulheres relatavam os fatos e que tipos de meios eram utilizado pelos agressores durante o ato violento. O gráfico a seguir representa os meios utilizados pelos agressores contra as vítimas, apresentado nos inquéritos:

Fonte: Inquéritos da Delegacia da Mulher de Ponta Grossa- Pr. Em cada espacialidade a violência se configura de uma maneira especifica.

Nas residências os meios utilizados são violência física, agressão verbal, ameaça, perturbação, descumprimento de ordem de afastamento do lar, danificação de objetos da casa. Em relação ao tipo de infração, percebemos que dentro das residências há um maior número de agressão física. Esta geralmente é seguida de ameaça.

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759

Em via pública os inquéritos nos mostraram que as infrações vão além da agressão verbal e ameaça e as mulheres também são agredidas fisicamente. Por ser um local público acredita-se que os meios de agressões não seriam algo que pudesse chamar a atenção das outras pessoas, como bater em alguém por exemplo. Isto não condiz com as normas. Sendo assim, causaria ao agressor certo controle, pois sabe que está cometendo algo que vai chamar a atenção e que pode sofrer consequências. Pois, “os espaços sociais são demarcados, e o pertencimento a eles deve obedecer a regras de conveniência, não escritas, mas legíveis através dos códigos de comportamento. Transgressões a essas normas poderiam constituir objeto de comentários e motivo de exclusão.”. (CANÇADO,2001, p.204)

No trabalho da vítima as ameaças se mostram em maior número. O agressor vai até o serviço da vitima, porém, por muitas vezes por ser um lugar público não chega a cometer violência física, ficando apenas na ameaça e perturbação. Na parte externa das residências o número de infrações revela que o que mais acontece é agressão física seguido de ameaça. A maioria dos relatos é que a vítima ao sofrer as agressões físicas tentava fugir do agressor e ele a alcançava na parte externa da residência e ali a agredia. Através dos relatos das vítimas, conclui-se que a maior parte ficou apenas nas ameaças.

Os casos de violência na residência do agressor são agressões e ameaças. Essas agressões correspondem ao fato da vítima ir até a residência do agressor para buscar seus pertences, os filhos ou documentos ela é agredida. Nas agressões ocorridas em residência seguidas de via pública casos a violência começava dentro da residência e terminava em via pública. A maior parte dos casos onde ocorria agressão física começava no interior da residência e terminava em via pública e depois as vítimas eram ameaçadas.

Os casos de violência na residência de familiares eram cometidos por agressores que não aceitavam o fim do relacionamento e iam até a residência em que a vítima estava morando para tentar reatar e a mesma não aceitando acabava sendo agredida. Os espaços em que acontece a violência às configuram de formas distintas. Em locais privados como as residências, o agressor sente-se na liberdade de cometer atos violentos, por se tratar de um ambiente privado, que é lugar de sua posse. Em lugares públicos, se sente coibido e as agressões físicas são empurrões e proferem xingamentos. Com isso, identifica-se que o espaço compõe essas ações de violência.

A violência contra mulheres é um problema social e a Geografia sendo uma ciência social, tem que se levar em conta esse fenômeno e este passar a considerá-lo como objeto de estudo de Geografia.

Considerações finais

Este trabalho teve por objetivo evidenciar como o espaço compõe os casos de violência contra mulheres na cidade de Ponta Grossa – PR no ano 2012. Através do levantamento dos inquéritos da Delegacia da Mulher de Ponta Grossa pode se evidenciar como o espaço configura as ações de violência contra mulheres cometidas por seus parceiros íntimos.

A violência apresenta-se diferente em determinados espaços. Há uma norma de comportamentos perante a sociedade. Há diferenças entre espaços públicos e privados. Esses espaços apresentam especificidades que não se pode trabalhar de forma separada, mas inte-relacionando-os. Pensar essas espacialidades de forma independentes é pensar em estruturas fechadas, o que consequentemente oculta o fenômeno que deve ser visto e colocado para a sociedade.

Não há compreensão do fenômeno violência contra mulheres como um fenômeno espacial. Outras áreas do conhecimento vem se dedicam a este tema, porém voltadas a suas áreas de pesquisa. Como a Geografia vem trabalhando a categoria espaço de uma forma

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ampla há possibilidade de pensar espaço e violência correlacionados. Assim se mostra valoroso o tema de violência contra mulheres para a ciência Geográfica e evidenciá-lo possibilita criar análises e reflexões sobre esse fenômeno.

Referências

CANÇADO, Adriana. Paixão e honra: criminalidade passional em Ponta Grossa na década de 30. In: Espaço e Cultura: Ponta Grossa e Campos Gerais. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2001. p. 193-208.

OMS. Organización Mundial de la Salud. World report on violence and health: summary. Geneva, World Health Organization; 2002. Disponivel em: <http://www.who.int/violence injury prevention/violence/world report/en/summary e n.pdf>. Acesso: 29 mar. 2013.

SILVA, Joseli Maria.(Org.) Geografias subversivas: discursos sobre espaço, gênero e sexualidades. Ponta Grossa. Paraná, Brasil. Editora Todapalavra, 2009.

SOUZA, Marcelo Lopes de. Algumas notas sobre a importância do espaço para o desenvolvimento social. In: Revista Território, vol.II, nº 3, jul./dez.1997.

STREY, Marlene Neves; SILVA NETO, João Alves da; HORTA Rogério Lessa, organizadores. Família e Genêro. Porto Alegre. Ed. EDIPUCRS, 2007.

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