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A Interação Entre o Aluno e o Professor no panorama do Ensino Fundamental de 9 Anos

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Academic year: 2021

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A Interação Entre o Aluno e o Professor no panorama do Ensino Fundamental de 9 Anos Fernanda Sturion Maria Inês Bacellar Monteiro (Orientadora) Núcleo de Pesquisa – Práticas Educativas e Processos de Interação Programa de Pós-Graduação em Educação – UNIMEP Agência de Fomento: CAPES Categoria – Pôster Introdução

Hoje o ingresso da criança no Ensino Fundamental, que antes era a partir dos sete anos, tem ocorrido mais cedo, aos seis anos. A Lei nº 11.274, de 2006, prescreve: Art. 32 – o ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (iniciando-seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão (Lei nº 11.274, 2006).

Diante dessa nova realidade consideramos fundamental a realização de estudos sobre as interações professor-aluno no atual contexto da escola que permitam refletir a respeito da implantação e do papel deste novo modelo na formação dos cidadãos. Conhecer o dia a dia da escola pode nos auxiliar a compreender as repercussões da nova legislação no espaço escolar.

Dentre os documentos oficias elaborados, o documento: “Ensino Fundamental de Nove Anos Orientações para a Inclusão da Criança de Seis Anos De Idade” justifica o ensino fundamental de 9 anos com os seguintes argumentos:

Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ocorrerá a inclusão de um número maior de crianças no sistema educacional brasileiro, especialmente aquelas pertencentes aos setores populares, uma vez que as crianças de seis anos de idade das classes média e alta já se encontram, majoritariamente, incorporadas ao sistema de ensino – na pré-escola ou na primeira série do ensino fundamental.

( ...)

Outro fator importante para a inclusão das crianças de seis anos de idade na instituição escolar deve-se aos resultados de estudos demonstrarem que, quando as crianças ingressam na instituição escolar antes dos sete anos de idade, apresentam, em sua maioria, resultados superiores em relação àquelas que ingressam somente aos sete anos. ( 2007. p. 5 e 6)

Tais argumentos são suficientemente fortes para sustentar a proposta. Todavia, consideramos importante aprofundar os estudos sobre quais leituras destes documentos são feitas pelos professores, diretores e coordenadores e como esta proposta está se refletindo na prática escolar.

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Referencial teórico

O ensino fundamental de nove anos é mais uma alteração proposta pelo governo. Alterações como esta não são novidade no cenário educacional brasileiro. Segundo o Ministério da Educação, e a Secretaria de Educação Básica, no documento: “Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações Gerais”, em 1961 o ensino fundamental tinha a obrigatoriedade de quatro anos, depois com o acordo de Punta Del Este e Santiago, o governo brasileiro teve a obrigação de estabelecer a duração de seis anos de ensino primário para todos os brasileiros.

Alguns anos depois, já em 1971, com a lei nº 5.692 a obrigatoriedade passou a ser de oito anos. E, já na criação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) havia a indicação para o ensino fundamental de 9 anos, que ganhou mais força quando se tornou meta da educação mediante a criação da lei nº 10.172, de janeiro de 2001, que aprovou também o PNE (Programa Nacional de Educação).

O documento “Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão das crianças de seis anos de idade” foi redigido por diversos autores que discutem e estudam a educação já há algum tempo, tais como Sônia Kramer, Telma Ferraz Leal, entre outros. Foi organizado e publicado pelo Ministério da Educação. Segundo o próprio documento:

Desse modo, neste documento, procuramos apresentar algumas orientações pedagógicas e possibilidades de trabalho, a partir da reflexão e do estudo de alguns aspectos indispensáveis para subsidiar a prática pedagógica nos anos iniciais do ensino fundamental, com especial atenção para as crianças de seis anos de idade. (2006, p. 9)

Essa é a proposta oferecida para os professores, coordenadores, supervisores, enfim profissionais da educação que irão a partir desse estudo elaborar seus planos de trabalho para desenvolver durante o ano. Mas quais sentidos estão contidos nos discursos apresentados pelo governo e quais as leituras feitas a partir dos documentos oficiais pelos educadores, são questões que merecem ser investigadas.

Para auxiliar nossa reflexão, tomamos como orientação os estudos de Bakhtin (1990) que podem nos ajudar a compreender a construção de sentidos a partir do discurso. Bakhtin (1990) define o discurso como um gênero, que pode ser primário ou secundário, vivenciado por todos diariamente.

Segundo sua definição, o gênero primário é aquele vivenciado no nosso cotidiano, em um bate-papo, quando contamos uma piada, por exemplo. Já o gênero secundário é definido como aqueles discursos que ... pertencem à esfera da comunicação cultural mais elaborada, a jornalística, a jurídica, a religiosa, a política, a filosófica, a pedagógica, a artística, a científica. (FIORIN, 2008, p. 70) São estes os gêneros com os quais, freqüentemente convivemos na escola e em nossas vidas.

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De acordo com Bakhtin, a palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. (1990, p. 117). Quando falamos com alguém lançamos uma palavra, um enunciado, que será respondido pelo outro. Mas essa palavra tem que ter significado para mim e para o outro. Esta ponte pode nem sempre acontecer como demanda a teoria. Isto significa que nem sempre os significados construídos refletem exatamente aquilo que se tinha a intenção de dizer. Esta afirmação tem um significado fundamental para o estudo aqui desenvolvido uma vez que um documento elaborado por um grupo de pessoas e lançado pelo governo, é lido, significado e traduzido na prática por outros educadores diretamente ligados à pratica escolar.

Objetivos

Nosso objetivo neste estudo é o de estabelecer uma relação entre os discursos prescritos nos documentos oficiais e os sentidos construídos pelos educadores que estão vivendo a implantação da proposta de ensino de nove anos.

Metodologia

O estudo vem sendo desenvolvido na rede pública municipal de uma cidade do interior paulista. Mais precisamente em duas escolas, sendo que uma atende somente o Ensino Fundamental e a outra, embora tenha turmas de primeiro ano, atende majoritariamente a Educação Infantil.

Foram realizadas leitura e análise dos documentos produzidos pelos educadores para o ensino de nove anos, observações em sala de aula, com registro em diário de campo e vídeo gravação.

Três professores participaram da pesquisa, duas que trabalham na escola de Ensino Fundamental e uma da Educação Infantil. É importante destacar, que as participantes foram escolhidas mediante alguns pontos, tais como: trabalharem com o primeiro ano do Ensino Fundamental e aceitaram fazer parte da pesquisa.

Foram realizadas em média três observações das atividades realizadas com os alunos do 1º ano em ambas as escolas. Após as observações, realizamos entrevistas mediante agendamento com os professores, nas escolas. Essas estão sendo transcritas e analisadas.

Para realizar a análise de todo o material os dados serão agrupados em eixos temáticos. Estes eixos dizem respeito aos seguintes pontos: alfabetização; interação professor-aluno; formação do professor que atua hoje no Ensino Fundamental de nove anos; ensino - aprendizagem; espaço físico; currículo; discursos prescritos nos documentos oficiais e os sentidos construídos pelos educadores.

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Desenvolvimento

Primeiro foram realizados estudos e discussões sobre o tema, a fim de estabelecer o foco para a pesquisa, bem como os seus caminhos. Em seguida, as escolas foram contactadas.

Antes de iniciar as observações nas salas solicitamos às coordenações das escolas os documentos construídos junto com as professores, que atendem ao Ensino Fundamental de nove anos. Todas apresentaram algum documento, desde projeto político pedagógico, até as propostas para o ano vigente.

Após a realização de todas as observações, foram feitas as entrevistas, que foram transcritas e que constituem nosso primeiro material de análise.

Nossas análises preliminares das entrevistas revelam que todas as professoras tocaram no assunto da alfabetização e letramento. Esta é uma preocupação revelada em seus discursos:

P1: ... o primeiro ano, eu adoro trabalhar com o primeiro ano, pegar a criança lá naquela fase que as vezes ela não sabe o que é uma letra “A”, ela não sabe a grafia da letra “A”. Aí de lá pra cá, ela vem se desenvolvendo, conhecendo, conhecendo, conhecendo, e chega no final do ano dominando a escrita do cotidiano dela e a leitura. Isso, é...tudo que eu gosto de fazer, que eu faço e que eu quero continuar fazendo. É isso.

PI: A cobrança que a gente tá tendo nesse primeiro ano tá muito forte, eu acho. E aí eles falam assim, não mais o processo de alfabetização e letramento tem que acontecer naturalmente, mas isso não acaba acontecendo na prática, porque a pressão que os professores estão sofrendo de primeiro ano é muito forte, que a criança tem que sair alfabetizada, não é um processo de letramento.

A primeira professora (P1), da escola de Ensino Fundamental, revela seu entusiasmo em relação ao trabalho com a leitura e escrita. Aponta para o fato da criança passar do não saber a grafia das letras para o domínio da leitura e escrita. Em seu discurso não faz referência à idade da criança, mas sim ao conteúdo que percebe como adequado para aquela série.

A segunda professora (PI), da escola de Educação Infantil, demonstra sua preocupação com não conseguir dar conta daquilo que é cobrado delas para o primeiro ano. Revela que se sente pressionada a alfabetizar e que distingue alfabetização de letramento.

A professora parece estar enfrentando uma mudança maior, uma vez que, segundo ela, antes não acreditava ser possível a alfabetização na pré-escola, mas agora tem sentido que isso pode ocorrer:

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PI: Mas eu acredito que a alfabetização dá pra acontecer sim já com seis anos de idade. E essa foi uma coisa que eu percebi dando aula, né, porque quando eu peguei a pré-escola eu achava que isso não poderia acontecer naturalmente. E agora eu sinto que principalmente esse ano, que foi mais um ano com o primeiro ano, eu sinto que isso dá para acontecer de maneira significativa pra criança, só que ainda tem que mudar esses aspectos que eu falei de estrutura mesmo, classe, número de alunos, disposição das carteiras e um outro currículo, eu acho.

PI também nos indica que pensa que ainda deve haver mudanças na organização, estrutura, disposição de carteiras e também no currículo. Nesse ponto o documento oficial sobre o Ensino de nove anos destaca que: ...os espaços físicos educativos, os materiais didáticos, o mobiliário e os equipamentos precisam ser repensados para atender às crianças com essa nova faixa etária no ensino fundamental... (2006, p. 8)

O documento ressalta ainda a importância da permanência da criança mais tempo na escola, como já foi apontado acima. Esse tempo a mais na escola vem como uma possibilidade de qualificar o ensino, a alfabetização e o letramento, sem reduzi-los a essas aprendizagens. Mas, será que essa é a compreensão das professoras? Ou será que elas estão compreendendo uma antecipação do currículo da antiga 1ª séria (7anos) para o atual 1º ano (6anos)? Se assim for, será que os alunos não estão perdendo conteúdos escolares importantes para suas formações?

Consideramos que para compreender isso, não basta olhar para o documento e avaliar o que está acontecendo. É preciso olhar para a prática pedagógica e para as interpretações e sentidos construídos por aqueles que os usam.

Outro ponto relevante para essa discussão é a preocupação das professoras com os estudos sobre o tema.

P1: Há uma reflexão sempre nos HTPCS, há uma reflexão. Há muitos cursos gratuitos para os professores estarem se capacitando. É ajuda para estar se capacitando, tem bastante.

PI: É eu fui ficando mais tranqüila com os grupos de estudo que a gente fazia na escola. Só que eu ainda acho que o espaço físico, o número de alunos ainda é um empecilho para que isso ocorra da melhor maneira. E também não posso negar que esse primeiro ano, novo, deixa um pouco de lado sim, essa parte do brincar.

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Todas as professoras colocaram que realizam estudos nas escolas. Uma das professoras coloca inclusive a criação de um grupo de estudos para entender e refletir sobre esse ensino de nove anos. Esse ponto mostra a preocupação que os educadores, ou alguns deles, têm apresentado para compreender aquilo que se desenvolve em sala de aula.

Esses são alguns dos pontos que esta dissertação vai discutir. Os dados são preliminares e ainda necessitamos uma análise mais minuciosa para uma melhor compreensão. Todavia, já pudemos perceber que os sentidos construídos podem ser muitos e isso precisa ser discutido e refletido pelos educadores para que as mudanças propostas venham melhorar e não piorar a formação de nossos alunos.

Conclusão

Falar sobre a implementação do ensino de nove anos é falar de algo que já está instituído e que, portanto não aceita mais a discussão do ponto de vista que concebe o certo ou o errado. Mas cabe propor aos professores uma reflexão deste, que vá além do que os documentos nos apresentam.

O estudo desenvolvido tem nos despertado um olhar diferenciado para a educação, que busca não olhar o negativo, mas destacar os acertos, e refletir sobre aquilo que pode ser melhorado. O que pretendemos é buscar a reflexão sobre a prática pedagógica a luz do atual contexto das políticas educacionais.

Palavras-chave: (1) Ensino fundamental de 9 anos; (2) Aluno; (3) Professor.

Eixo temático: Subjetividade e processos educativos

Referências

BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV, V. N.) Língua, Fala e Enunciação. In Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1990.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Àtica, 2008.

BRASIL. Lei n. 11.274, 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 fev. 2006. Disponível em: <www.senado.gov.br>

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_______. Lei n. 10.172, 9 de janeiro de 2001. Lei que aprova o Plano Nacional de Educação.

_______. LEI Nº 5.692 - DE 11 DE AGOSTO DE 1971. Lei de Diretrizes de Bases. Determina Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências.

________. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006.

________. Ministério da Educação. Ensino fundamental de nove anos – orientações gerais. Secretaria de Educação Básica. Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Coordenação geral do Ensino Fundamental, 2004.

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