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PARECER SOBRE O RESUMO NÃO TÉCNICO DO PROJECTO LINHA FOZ TUA ARMAMAR, A 400KV. LISBOA, 31 DE JANEIRO DE 2012

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actividades desde 1981

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PARECER SOBRE O RESUMO NÃO TÉCNICO DO PROJECTO

LINHA FOZ TUA – ARMAMAR, A 400KV.

LISBOA, 31

DE

J

ANEIRO DE

2012

Sumário

O projecto Linha Foz Tua-Armamar a 400 kV destina-se a transportar a energia eléctrica produzida no Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua até à subestação de Armamar. O proponente do projecto é a EDP – Gestão da Produção de Energia, SA.

O projecto contempla um traçado de aproximadamente 29 km. A linha proposta passa pelos concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães, na margem direita do Rio Douro, e de São João da Pesqueira, Tabuaço e Armamar, na margem esquerda. Ao longo do corredor são ainda sobrepassados os Rios Tua, Douro, Torto, Távora e Ribeira do Tedo, as estradas EN108, EN214, EN222, EN323, assim como as linhas ferroviárias do Tua e do Douro.

A obra acarretará vários impactes negativos muito significativos e irreversíveis, pondo em causa uma paisagem única, com valor internacionalmente reconhecido, o Alto Douro Vinhateiro. O valor económico da área de estudo é também afectado, tanto na sua vertente turística como na vertente produtiva, principalmente no caso da produção vitivinícola. Os impactes sobre a biodiversidade gerados por um elemento de fragmentação da paisagem e interrupção de importantes corredores ecológicos são também significativos.

A mitigação de impactes sobre a paisagem não será suficiente para prevenir, entre outras perdas, a desclassificação do Alto Douro Vinhateiro como Paisagem Cultural da Humanidade. Consideramos que a importância da Linha Foz Tua - Armamar no sistema energético nacional é diminuta quando comparada com as externalidades negativas associadas à obra, nomeadamente a perda de valores do património cultural e natural de uma região única e insubstituível. Por conseguinte, somo frontalmente contra a concretização deste projecto, bem como do projecto associado da barragem de Foz Tua.

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Introdução

O presente parecer advém da necessidade de proteger uma região que tem vindo a ser fustigada nos últimos anos por várias obras cujo benefício social gerado é francamente desfavorável.

O parecer incide sobre: a necessidade de avaliar a situação de referência tendo em conta o seu valor atribuído, a falta de justificação para o projecto, análise dos impactes cumulativos sobre a paisagem, a biodiversidade e o património; análise da afectação de valor económico da região; incapacidade de mitigação de impactes sobre a paisagem.

Enquadramento do Estudo

Análise da Justificação e antecedentes do projecto

A construção do projecto em causa tem como único objectivo assegurar o transporte de energia eléctrica entre o AHFT e a restante rede eléctrica nacional. Não vemos aprofundada a importância, quantitativa e qualitativa, que justifique a necessidade e o uso que a energia em causa poderá ter, assim como não vemos estudada nenhuma alternativa viável a este fornecimento como sendo o investimento em eficiência energética.

Localização

O projecto contempla um traçado cuja extensão aproximada é de 29 km de linha, afectando uma faixa com 400 m de largura e cuja localização dos apoios ainda está indefinida. Sendo toda a área afectada considerada de elevada importância ecológica, turística e patrimonial, considera-se que a indefinição quanto à localização dos apoios constitui uma oportunidade para ignorar impactes. Assim, estima-se um total de 75 apoios, com uma altura de aproximadamente 44 m e 64 m, ficando visíveis a vários km de distância.

A linha proposta passa pelos concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães, na margem direita do Rio Douro, e de São João da Pesqueira, Tabuaço e Armamar, na margem esquerda. Ao longo do corredor são ainda sobrepassados os Rios Tua, Douro, Torto, Távora e Ribeira do Tedo, as estradas EN108, 214, 222, 323 assim como as linhas ferroviárias do Tua e do Douro.

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Alternativas

São analisadas duas alternativas quanto à tipologia da linha, suspensa ou enterrada, sendo descartada a opção da linha enterrada devido aos custos e dificuldade de operação/manutenção. São apresentadas duas opções em relação ao traçado: A alternativa A, passando a linha junto da Senhora do Monte, área classificada em PDM como sendo área natural de interesse paisagístico; A alternativa B, passando a linha a sul da cidade do Tabuaço. Nenhuma das alternativas propostas previne os impactes irreversíveis sobre a paisagem classificada como Alto Douro Vinhateiro e sobre áreas com importantes usos agrícolas para produção de vitivinícola na região. A sobrepassagem de vários rios e duas linhas férreas (Tua e Douro) de valor cénico e turístico reconhecido também não é evitada em nenhum dos traçados.

Concluímos que nenhuma das alternativas propostas é viável não havendo, em qualquer dos casos, um balanço positivo entre as propostas e os impactes causados na região.

Análise dos Impactes Paisagem

O valor mais significativamente afectado pela linha e correspondente faixa de protecção é a paisagem. Actualmente a região alberga uma paisagem riquíssima em termos naturais e culturais - o Alto Douro Vinhateiro - presenciando-se a conjugação de altos valores cénicos que levaram à sua classificação como paisagem cultural da Humanidade pela UNESCO. O Alto Douro Vinhateiro faz ainda parte da Região Demarcada do Douro, constituindo a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do mundo (IST, 2008). O património construído na região, em particular as antigas quintas, lagares e casa, têm o seu valor atribuído em grande parte devido à sua integração na paisagem, havendo uma afectação indirecta significativa dos mesmos. Os socalcos que caracterizam a região são também polos de desenvolvimento e a sua destruição, directa ou indirecta, afecta-os irreversivelmente. As duas linhas férreas afectadas (Tua e Douro) são centenárias e fortemente valorizadas, mais uma vez, por darem a conhecer a unicidade da paisagem, não tendo a ganhar com a sobrepassagem de linhas eléctricas descaracterizadoras.

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De acordo com o PNPOT, as opções estratégicas territoriais para as áreas de implementação devem ter em conta, entre outras, as seguintes orientações estratégicas (IST, 2008):

• Valorização do património cultural, em particular sinergias resultantes dos valores culturais inscritos na Lista de património Mundial (UNESCO) – Alto Douro Vinhateiro

• Protecção e preservação da qualidade da paisagem, salvaguardando áreas agrícolas ou

de valia ambiental implementando estruturas ecológicas de âmbito regional e local

• Promoção e desenvolvimento do potencial turístico dando projecção internacional ao

património natural, cultural e paisagístico, explorando as áreas de maior valia patrimonial e ambiental e as potencialidades das regiões – Alto Douro Vinhateiro e linhas do Tua e Douro A construção da obra é altamente dolosa e descaracterizadora dos valores presentes, que segundo a ICOMOS – Comité Científico Internacional para as Paisagens Culturais, pondo seriamente em causa a classificação de Património Mundial da UNESCO (Arcadis/Atecma 2009). De facto, no Relatório emitido pelo ICOMOS a Junho de 2011, encontra-se realçada a necessidade de avaliar cautelosamente o traçado da linha de alta tensão, uma vez que foi estabelecido que o AHFT se encontra dentro da zona classificada (ICOMOS, 2011).

Atendendo a este facto foram propostas medidas de mitigação, como sendo a construção do traçado mais curto possível, postes de suporte mais baixos e a tentativa de minorar a extensão da linha visível do Rio Douro, medidas estas claramente insuficientes face ao grau de afectação de um empreendimento desta envergadura. É de relembrar que o valor da paisagem está não só no leito do rio, mas sobretudo nas suas margens e nas actividades da região, não havendo maneira de evitar, com a construção, uma desvalorização severa e irreversível.

Biodiversidade

Além das aves protegidas da região, da possibilidade de presença de lobo ibérico e das espécies vegetais protegidas nas margens do Tua, devemos analisar o problema do ponto de vista de impactes cumulativos.

Estando em grande parte as massas de água e dinâmica ripícola da região afectadas com outras obras, resta à fauna presente utilizar como corredores ecológicos os bosquetes, matos e zonas florestais. Um rasgo de 29 km é importante, pondo em causa em definitivo a possibilidade de

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subsistência de uma série de espécies, com importantes impactes na fase de construção e afectação irreversível na fase de exploração.

O corredor de uma linha eléctrica é sempre perigoso para a avifauna, devido à propensão destas espécies em embater nos cabos. No RNT é referido que a área afectada é uma zona de nidificação de espécies como a Águia-de-Bonelli, actualmente classificada como espécie em perigo no Livro Vermelho dos Vertebrados em Portugal, e o maçarico-das-rochas que se encontrado classificado como vulnerável (ICNB, 2012). Ambas estas aves, e outras, utilizam a área afectada como corredor natural de passagem (ECOSSISTEMA, 2011).

No RNT reconhece-se a necessidade de identificação do lobo-ibérico para detectar a sua presença. Esta espécie já está identificada como presente na zona, sendo a mesma especialmente vulnerável aos impactes cumulativos do AHFT e do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor. (Profico Ambiente, 2008).

Sócio-economia

A afectação socioeconómica não deve ser descurada. Os eventuais benefícios da linha no transporte da rede eléctrica, apenas na fase de construção, não compensam a perda de valor turístico gerada pelo impacte na paisagem e pelo efeito not in my backyard (Efeito NIMBY), muitas vezes associado a este tipo de obras. A construção dos suportes em socalcos de vinha é altamente prejudicial, não só estruturalmente como também no impacte indirecto causado pela construção e utilização dos acessos.

De facto, e tal como indicado no Resumo Não Técnico do EIA, a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial “[…] não tem apenas valor como reconhecimento deste património cultural, mas tem também importância para o reconhecimento económico dos vinhos do Douro, além da sua importância para a produção do vinho do Porto, e para a valorização de toda a região para a actividade turística.” (ECOSSISTEMA, 2011). Assim, assume-se uma linearidade e interdependência dos valores paisagísticos e económicos deste empreendimento, pelo que impactes não acomodados na primeira terão forçosamente implicações bastante negativas na segunda.

Deve ainda ter-se em conta a proximidade das linhas a zonas urbanas e os efeitos que estas podem provocar ao nível da saúde das populações. Visto tratar-se de linhas de muito alta

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tensão podem ainda ser sentidos efeitos ao nível do ruído. Estes dois factos provocam a degradação da qualidade de vida e saúde das populações destas zonas.

Conclusão

Os impactes esperados não são acomodados pelas medidas de mitigação apresentadas, e as consequências deste empreendimento terão um grau de afectação muito superior à escala meramente local, pondo em risco a classificação de Património Mundial, e o valor acrescentado que dai advém, a toda a região do Alto Douro Vinhateiro. A sustentabilidade socioeconómica a longo prazo passa pela valorização da paisagem nas actividades ali desenvolvidas e não pela produção eléctrica, sendo elas mutuamente exclusivas. Conclui-se que os impactes referidos, as medidas de mitigação propostas e a falta de justificação suficiente para o empreendimento, devem resultar num parecer desfavorável do EIA.

Referências Bibliográficas

Arcadis/Atecma (2009), Technical assessment of the Portuguese National Programme for Dams with High Hydropower Potential (PNBEPH). Contract No 07.0307/2008/ENV.A2/FRA/0020 – Lot 2. Project – 11/004766| 07/07/2009. European Commission/DG Environment

ECOSSISTEMA (2011), Linha do Foz Tua – Armamar, a 400 kV. Estudo de Impacte Ambiental – vol 1 Resumo Não Técnico. Linda-a-Velha.

ICNB (2012), Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal,

http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/Valores+Naturais/Livro+Vermelho+dos+Vertebrados/ ICOMOS-IFLA (2011), World Heritage List: Advisory mission to ALTO DOURO WINE REGION (PORTUGAL) to consider the impacts of the proposed Hydro-electric Foz Tua Dam Project. Report prepared for UNESCO.

IST (2008), Avaliação Ambiental Estratégica do Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede Nacional de Transporte de Electricidade 2009 – 2014 (2019), Relatório Ambiental, Julho 2008. Preparado para a REN.

Profico Ambiente (2008). Estudo de impacte ambiental do aproveitamento hidroeléctrico de Foz Tua. Preparado para a EDP.

Referências

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