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FUVEST Prova A 10/janeiro/2012

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CPV fuv2fjan12

HISTÓRIA

01. Não é possível pôr em dúvida por mais tempo, ao passar em revista o estado atual dos conhecimentos, ter havido realmente uma guerra de Troia histórica, em que uma coligação de Aqueus ou Micênios, sob um rei cuja suserania era conhecida pelos restantes, combateu o povo de Troia e os seus aliados. A magnitude e duração da luta podem ter sido exageradas pela tradição popular em tempos recentes, e os números dos participantes avaliados muito por cima nos poemas épicos. Muitos incidentes, tanto de importância primária como secundária, foram sem dúvida inventados e introduzidos na narrativa durante a sua viagem através dos séculos. Mas as provas são suficientes para demonstrar não só que a tradição da expedição contra Troia deve basear-se em fatos históricos, mas ainda que boa parte dos heróis individuais mencionados nos poemas foi tirada de personagens reais.

Carl W. Blegen. Troia e os troianos. Lisboa, Verbo, 1971. Adaptado.

A partir do texto acima:

a) identifique ao menos um poema épico inspirado na guerra de Troia e explique seu título; b) explique uma diferença e uma semelhança entre poesia épica e história para os gregos da Antiguidade. Resolução: a) Muito do que se conhece da história grega, entre a invasão dórica e a formação das pólis, deve-se aos poemas épicos atribuídos ao lendário Homero. Um desses poemas, a Ilíada, descreve a guerra dos gregos contra a cidade de Tróia (ou Ílion). b) Na poesia épica grega, as divindades intervêm constantemente na trajetória dos homens, que é permeada pela ideia fundamental de destino. Na Ilíada, por exemplo, a Guerra de Troia se origina de um conflito entre deusas. Na produção histórica grega, pelo contrário, os homens adquirem a plena responsabilidade por seus atos. Historiadores como Heródoto e Tucídides tiraram dos deuses a responsabilidade pelas guerras e passaram a realizar exaustivas pesquisas. Heródoto, por exemplo, fez longas viagens ao Oriente, coletando dados e fornecendo informações, hoje, valiosíssimas para os pesquisadores.

Pelo texto, o aluno infere que, apesar da presença de elementos divinos na poesia épica grega, ela tem como referência fatos, e até personagens, reais, assim como a produção histórica.

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02. Nos tempos de São Luís [Luís IX], as hordas que surgiam do leste provocaram terror e angústia no mundo cristão. O medo do estrangeiro oprimia novamente as populações. No entanto, a Europa soubera digerir e integrar os saqueadores normandos. Essas invasões tinham tornado menos claras as fronteiras entre o mundo pagão e a cristandade e estimulado o crescimento econômico. A Europa, então terra juvenil, em plena expansão, estendeu-se aos quatro pontos cardeais, alimentando-se, com voracidade, das culturas exteriores. Uma situação muito diferente da de hoje, em que o Velho Continente se entrincheira contra a miséria do mundo para preservar suas riquezas.

Georges Duby. Ano 1000 ano 2000. Na pista de nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998, p. 50-51. Adaptado.

a) Justifique a afirmação do autor de que essas invasões tinham (...) estimulado o crescimento econômico da Europa cristã. b) Cite um caso do atual entrincheiramento europeu e explique, em que sentido, a Europa quer preservar suas riquezas.

Resolução:

a) Construído entre os séculos V e IX e consolidado em fins do século IX e início do século X, o Feudalismo conheceu um período de crescimento econômico, demográfico e territorial entre os séculos XI e XIII. A expansão territorial da Europa feudal tinha por objetivo exportar os excedentes populacionais, conseguir novas terras, aumentar as trocas comerciais e difundir o Cristianismo. O caso mais conhecido de expansão territorial da Europa feudal são as Cruzadas, das quais participaram Luís IX (São Luís), rei da França. Os povos vikings (normandos), inicialmente invasores da Europa, instalaram-se na Normandia, norte da França, incorporando o sistema feudal. Em 1066, os normandos expandiram o mundo feudal ao subjugar os anglo-saxões e fundar o reino da Inglaterra, liderados por Guilherme, o Conquistador. Após a conquista, Guilherme distribuiu cinco mil feudos aos seus vassalos. b) O candidato poderia citar tanto os vários casos de restrições à entrada de estrangeiros de fora da Europa Ocidental, especialmente, os povos norte-africanos e do leste europeu, como os crescentes debates a respeito de restrições dentro da União Europeia. Num contexto de crescente crise econômica, a justificativa para tais restrições é “preservar os empregos dos europeus e evitar a criminalidade”.

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fuv2fjan12 CPV entre os domínios das duas coroas Ibéricas na América meridional.

Desde o século XVIII, esta região foi cenário de constantes disputas territoriais entre diferentes agentes sociais. Atritos que não estiveram restritos apenas às lutas travadas entre luso-brasileiros e hispano-americanos pelo domínio do Continente do Rio Grande.

Eduardo Santos Neumann, “A fronteira tripartida”, Luiz Alberto Grijó (e outros).

Capítulos de História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p. 25. Adaptado. a) Caracterize a questão fronteiriça, mencionada no texto acima.

b) Quais são as principais diferenças e semelhanças entre a organização socioeconômica do Rio Grande colonial e a de regiões açucareiras, como Bahia e Pernambuco, na mesma época? Resolução: a) O Sul do país portava um problema básico: a disputa de interesses entre portugueses e espanhóis pelo controle do rio da Prata. Após o fim da União Ibérica, as disputas em torno deste rio se acirraram e vários conflitos armados e diplomáticos ocorreram. Foi nesse contexto que, em 1750, assinou-se o Tratado de Madrid. Nele, o diplomata Alexandre de Gusmão invocou o princípio do Ut Possidetis, ita possideatis, que reconheceu o princípio de posse para quem fosse ocupante efetivo de uma área. A exceção se deu, justamente, nas fronteiras do Sul: Portugal renunciou à Colônia do Sacramento e, em troca, recebeu uma área na margem esquerda do rio Uruguai, o Território das Sete Missões, ocupado por índios guaranis e jesuítas. b) Na região nordestina, o Sistema Colonial se manifestou de maneira determinante. A orientação básica da região nordestina era fornecer ao comércio europeu o açúcar, cuja procura estava em alta nos mercados europeus. A produção era feita, sobretudo, em grandes propriedades, utilizando trabalhadores escravos africanos. O grupo dominante eram os senhores de engenho e, em alguns locais, os lavradores, ambos responsáveis pelo controle da produção açucareira. A pecuária desenvolveu-se no Nordeste junto à economia açucareira, abastecendo os engenhos. Nos tempos coloniais, o Rio Grande do Sul teve sua especificidade definida por dois motivos essenciais: sua economia era direcionada ao mercado interno e sua sociedade, militarizada, voltada à defesa dos interesses brasileiros no rio da Prata. Na região, desenvolveu-se uma grande produção pecuária voltada para o mercado interno brasileiro, principal atividade econômica da província. Produzia-se, assim como no Nordeste, em grandes propriedades, utilizando mão de obra escrava. Havia, portanto, dois grupos dominantes específicos: os estancieiros, criadores de gado, e os charqueadores, que transformavam a carne bovina em carne seca. Mas, além dessa economia voltada ao mercado interno, o Rio Grande do Sul tinha uma função político-estratégica: era uma região extremamente militarizada, uma vez que suas tropas realizavam inúmeras intervenções militares nas regiões do Uruguai e da Argentina.

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04. Não parece fácil determinar a época em que os habitantes da América lusitana, dispersos pela distância, pela dificuldade de comunicação, pela mútua ignorância, pela diversidade, não raro, de interesses locais, começam a sentir-se unidos por vínculos mais fortes do que todos os contrastes ou indiferenças que os separam, e a querer associar esse sentimento ao desejo de emancipação política. No Brasil, as duas aspirações – a da independência e a da unidade – não nascem juntas e, por longo tempo ainda, não caminham de mãos dadas.

Sérgio Buarque de Holanda, “A herança colonial – sua desagregação”.

História geral da civilização brasileira, tomo II, volume 1, 2ª ed., São Paulo: DIFEL, 1965, p. 9. a) Explique qual a diferença entre as aspirações de independência e de unidade a que o autor se refere.

b) Indique e caracterize ao menos um acontecimento histórico relacionado a cada uma das aspirações mencionadas no item a).

Resolução:

a) Quando Sérgio Buarque de Holanda fala em unidade brasileira, reporta ao clássico problema da identidade nacional. A identidade nacional não existia no Brasil colonial (o termo “brasileiro”, por exemplo, no período colonial, significava “plantador de pau-brasil”). Como Sério Buarque cita, em outro momento desse mesmo texto, a relação entre as regiões do Brasil Colônia que eram marcadas pela

diferença e pela indiferença. A ideia de brasileiro é uma construção histórica do século XIX, iniciada ao longo do 2º Reinado, após a independência. As aspirações de independência, por sua vez, foram anteriores à ideia de brasileiro, e visavam romper os elos do Sistema Colonial. Normalmente, essas aspirações estavam ligadas à uma elite econômica. Os movimentos da Conjuração Baiana e Inconfidência Mineira, por exemplo, não visavam a “independência do Brasil”, pois, como vimos, a ideia de “brasileiro” não existia; elas visavam apenas à independência de suas regiões. b) Vários movimentos culturais brasileiros visaram construir a identidade nacional (unidade) brasileira, entre eles o Romantismo e o Modernismo. Do ponto de vista das políticas públicas, pode-se citar, entre outros, a Constituição de 1824, que define, pela primeira vez, o que é o “brasileiro”, a política de D. Pedro II em favor da identidade nacional, financiando artistas como Carlos Gomes e Pedro Américo, e até mesmo a política varguista de valorização do “nacional popular”, patrocinando, por exemplo, o samba e a capoeira. Entre os mais conhecidos movimentos que aspiravam à independência, o aluno poderia lembrar, principalmente, a Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira .

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fuv2fjan12 CPV 05. Leia este texto, que se refere à dominação europeia sobre povos e terras africanas. Desde o século XVI, os portugueses e,

trezentos anos mais tarde, os franceses, britânicos e alemães souberam usar os povos [africanos] mais fracos contra os mais fortes que desejavam submeter. Aliaram-se àqueles e somaram os seus grandes números aos contingentes, em geral pequenos, de militares europeus.

Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008, p. 98.

a) Diferencie a presença europeia na África nos dois períodos aos quais o texto se refere. b) Indique uma decorrência, para o continente africano, dessa política colonial de estimular conflitos internos. Resolução: a) Antes do século XIX, os contatos entre africanos e portugueses eram marcados por reciprocidade, comércio e diplomacia, na maioria das vezes, com consentimento, apoio e vigilância dos africanos. Normalmente, os portugueses encontravam-se apenas no litoral, restringindo sua presença às feitorias, respeitando a cultura africana e obedecendo às suas regras de hospitalidade. Os africanos eram os donus di tchan (donos do chão), a quem os europeus deviam obediência em sua terra. Nas feitorias e portos, os portugueses trocavam escravos por produtos (escambo) como cachaça, tabaco e açúcar. Essas trocas se inseriam no contexto do Capitalismo Comercial, ou Mercantilismo. Tal tráfico mudou a dinâmica na África: vários grupos africanos, visando ao comércio com os portugueses, passaram a dedicar-se à captura de escravos. As exceções ficam por conta da colônia do Cabo (África do Sul, dominada por ingleses e holandeses), e alguns pontos de Angola e Moçambique, que foram mais intensamente controladas pelos portugueses. No século XIX, a presença europeia na África está vinculada não mais ao Mercantilismo, mas ao Capitalismo Industrial Monopolista, que buscava exportar capitais, angariar matérias-primas e mercados consumidores. A África foi quase totalmente subjugada, repartida sem qualquer respeito à língua e cultura de seus povos. Dentro do ideário do Darwinismo social, os elementos culturais europeus foram brutalmente impostos aos africanos.

b) Uma das principais estratégias de dominação europeia sobre a África foram a aliança entre grupos específicos e o estímulo a conflitos internos. Na Conferência de Berlim, por exemplo, foram criadas várias nações artificiais e diversas tribos, de modo que etnias rivais permaneceram num mesmo território, ocasionando guerras e disputas pelo poder, muitas das quais permanecem até os dias atuais.

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CPV fuv2fjan12 União Interdepartamental da Confederação Geral dos Trabalhadores da Região do Sena, na França. Tradução dos escritos do cartaz: “União dos Sindicatos de Trabalhadores do Sena”. “As 8 horas”. “Operário, a regra foi aprovada, mas apenas sua ação a fará ser aplicada”. a) Identifique um elemento visual no cartaz que caracterize a principal reivindicação dos sindicatos e o explique. b) Identifique e analise a visão de luta social que a cena principal do cartaz apresenta. Resolução: a) No cartaz, a presença do relógio faz referência à principal reivindicação dos trabalhadores nesse momento histórico: a diminuição da jornada de trabalho. b) Na cena principal do cartaz, vê-se que o ponteiro do relógio, símbolo da jornada de trabalho, é disputado por dois grupos: o conjunto dos patrões e o conjunto dos operários. Portanto, há dois elementos fundamentais a serem destacados: a ideia de que as conquistas sociais acontecem através da luta coletiva e a visão de que os interesses de patrões e operários são conflitantes. COMENTÁRIOS DO CPV A prova de História do 3o dia da Fuvest/2012 apresentou um alto nível de dificuldade, abordando temas pouco cobrados nos vestibulares. Os três temas que mais dificultaram os candidatos foram: as características da poesia épica grega, a atuação dos normandos no período medieval e o problema da identidade nacional na História do Brasil.

Como de costume, algumas habilidades básicas foram exigidas do aluno: comparação de diferentes processos históricos (Nordeste e Sul no Brasil Colonial, presença portuguesa e anglo-francesa na África), análise de documentos (escritos e visuais) e comparações com a atualidade. Era preciso que, a partir dos textos, o aluno identificasse o assunto em questão.

Referências

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