• Nenhum resultado encontrado

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO: PERFIL PROFISSIONAL E APTIDÕES EXIGIDAS PELO MERCADO DE TRABALHO EM ASPECTOS RELATIVOS A ECONOMIA E FINANÇAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO: PERFIL PROFISSIONAL E APTIDÕES EXIGIDAS PELO MERCADO DE TRABALHO EM ASPECTOS RELATIVOS A ECONOMIA E FINANÇAS"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO: PERFIL

PROFISSIONAL E APTIDÕES EXIGIDAS PELO

MERCADO DE TRABALHO EM ASPECTOS

RELATIVOS A ECONOMIA E FINANÇAS

Daisy Aparecida do Nascimento Rebelatto

Renato Vairo Belhot

Universidade de São Paulo - EESC/USP Av. Dr. Carlos Botelho, 1465 - São Carlos (SP) E-mail: daisy@prod.eesc.sc.usp.br

ABSTRACT: The Economy and the Production Engineering have as objective to obtain the best possible use of the existent productive resources. To promote a differentiated action of the production engineers in the economical context, it is necessary to make a revision in the learning condition that are offered in the professional’s formation, since the choice of what should be taught to qualify them. The purpose of this work was to identify the necessary professional behaviors in the production engineer’s repertoire, that qualify him to work with economical and financial aspects of productive processes, starting from the real situation in the professional activity. Data was collected through interviews with professionals and company representatives with the purpose to derive adequate professional behaviors .

Keywords: curriculum, economy, finances.

RESUMO: A Economia e a Engenharia de Produção têm como objetivo obter o melhor aproveitamento possível dos recursos produtivos existentes. Para promover uma ação diferenciada do engenheiro de produção no contexto econômico, é necessário que seja feita uma revisão nas condições de aprendizagem que são oferecidas na formação desse profissional, desde a escolha do que deve ser ensinado para capacitá-lo. O objetivo deste trabalho foi identificar comportamentos profissionais necessários ao repertório do engenheiro de produção, que o capacitem a lidar com aspectos econômicos e financeiros de processos produtivos, a partir de situações reais presentes na atividade profissional.

(2)

1. INTRODUÇÃO

Há uma relação entre os aspectos da realidade econômica de uma região e a ação profissional do engenheiro de produção? Qual a natureza dessa relação? É possível que o conjunto de ações profissionais que são de responsabilidade do engenheiro de produção possa contribuir para a modificação da realidade econômica do país? Como? Em que grau? Sob que circunstâncias?

Para iniciar um processo de produção de respostas a questões tão amplas, é necessário o exame da própria concepção relativa ao que seja Economia e, de outra parte, dos aspectos envolvidos no conjunto de ações profissionais que compõem o campo da Engenharia de Produção.

No que se refere à Economia, é possível supor que ela constitui uma área de conhecimento que se preocupa em estudar como as pessoas ganham a vida, como adquirem alimentos, moradias, vestuários e outros tipos de bens e serviços que sejam fundamentais para a sobrevivência ou mesmo considerados de luxo. A Economia analisa os problemas enfrentados pelas pessoas no que tange à produção e ao consumo de bens e serviços e, ainda, os problemas relacionados às maneiras pelas quais esses problemas podem ser contornados. Algumas perguntas específicas que a Economia procura responder são as seguintes: Como os bens são produzidos e trocados? Como escolher alguns entre os vários tipos de bens produzidos? Que empregos estão disponíveis? Que qualificações são necessárias para a obtenção de um bom emprego? (WONNACOTT & WONNACOTT, 1994).

Dessa forma, o por que fazer? e o que fazer? são duas perguntas-chaves da Economia e seu objetivo maior é o de formular políticas para resolver os problemas gerais afetos ao melhor aproveitamento dos recursos existentes, sejam eles capital, trabalho, recursos naturais ou tecnologia. Em relação ao estabelecimento de políticas, a Economia segue os mesmos caminhos de outras áreas ou campo de atuação, ou seja, para formular políticas econômicas com sucesso, é necessário entender como as economias funcionaram no passado e como funcionam hoje. Caso contrário, as políticas, embora bem intencionadas, correm o risco de “errar o alvo” e, em decorrência, determinarem resultados imprecisos e indesejáveis.

Para responder à pergunta o que será produzido, a Economia examina o mercado de bens, no qual a demanda e a oferta para muitos produtos diferentes são apresentadas. Porém, para uma resposta adequada será necessário levar em conta, também, o que está acontecendo no mercado de fatores de

(3)

produção, já que ele exerce certa influência na posição das curvas de oferta e de demanda dos bens. Da mesma forma, quando é necessário decidir como os bens serão produzidos – por meio da escolha do sistema produtivo e da tecnologia adequada – é necessário fazer um exame do mercado de fatores de produção. A combinação adequada desses dois exames – o que e como será produzido - responderá adequadamente à pergunta quem receberá os benefícios desse sistema. Isso, de uma certa maneira, poderá vir a ser uma medida de eficácia da utilização dos recursos, tanto do ponto de vista econômico como social.

Produção, em sua descrição literal é “aquilo que é produzido ou fabricado pelo homem, e especialmente por seu trabalho associado ao capital e a técnica” (FERREIRA,1986, p.1141). A Engenharia de Produção nasceu voltada para aperfeiçoar as operações de chão-de-fábrica, mas estendeu-se rapidamente a outros setores da empresa. Hoje, além dos conhecimentos específicos aplicáveis às áreas de conhecimento relacionadas aos processos produtivos, é necessário que se desenvolvam outros, aplicáveis indistintamente a todas as instâncias das empresas. Uma empresa é um sistema de operações, e como tal deve ser entendida, como um conjunto de atividades e problemas inter-relacionados, e às vezes, difíceis de serem segregados. Alguns exemplos de conhecimentos não relacionados diretamente aos processos produtivos, porém aplicáveis indistintamente a todas as instâncias das empresas podem ser citados, como os conhecimentos sobre Engenharia Econômica, Finanças, Mercados Financeiros e Relacionamento Humano no Trabalho: tratam-se de conhecimentos intimamente ligados tanto ao setor produtivo da empresa, quanto ao setor administrativo.

Essas considerações provocam a apresentação da pergunta: qual a interdependência existente entre os aspectos da realidade econômica de uma região e a ação profissional do engenheiro de produção? Em tese é possível afirmar que a ação profissional do engenheiro de produção possa contribuir para a modificação da realidade econômica existente em um país. Modificar a realidade pressupõe o conhecimento dessa realidade, inclusive em seus aspectos históricos, e a capacidade de questioná-la para, depois, intervir de forma a aumentar a probabilidade de realizar um trabalho eficaz e socialmente significativo. Nessa afirmação, fica destacada uma possível e intrínseca ligação entre as ações profissionais do engenheiro de produção e as questões econômicas do ambiente onde ele atua, o que evidencia a necessidade de uma maior exploração da relação entre Engenharia de Produção e Economia. O que parece estar ficando claro é que para decidir - e decidir bem - como fazer tem sido

(4)

necessário, ao engenheiro de produção, o entendimento - e até a participação nas decisões - de por que fazer e o que fazer. Começa a ficar destacada, portanto, uma particular ligação entre as ações profissionais do engenheiro de produção e as questões econômicas do ambiente onde ele atua (Fig.1).

Para promover uma ação diferenciada do engenheiro de produção no contexto econômico é necessário que sejam revistas as condições de aprendizagem que são oferecidas na formação desse profissional, ou seja, as condições de aprendizagem que são oferecidas nos cursos de graduação. De uma maneira geral tal questão remete para um problema que não é afeto somente à Engenharia de Produção e que parece estar presente nos diversos campos de atuação profissional: o relativo desconhecimento dos diversos aspectos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, por parte dos profissionais que atuam nas Universidades. Ou seja, as características dos profissionais (docentes)

Figura 1. Inter-relações entre as áreas de Engenharia de Produção e Economia.

que desenvolvem a formação dos futuros profissionais está mais voltada para aspectos específicos do campo no qual o profissional se graduou (Engenharia, Medicina, Fisioterapia, etc), do que para sua formação como profissional que trabalha com ensino de nível superior. Os aspectos técnicos específicos da área de atuação do docente são privilegiados, em detrimento dos aspectos relativos ao

OTIMIZAÇÃO DE RECURSOS PRODUTIVOS ECONOMIA COMO produzir?

POR QUE e O QUE

produzir? POLÍTICAS PROCESSOS ENGENHARIA DE PRODUÇÃO OBJETIVO COMUM

(5)

ensino. Dessa forma o que parece existir é, então, um relativo desconhecimento dos assuntos afetos a essas questões, especialmente quanto à noção de objetivos de ensino.

2. TECNOLOGIA NO ENSINO: UMA NOVA MANEIRA PARA

ELABORAR CURRÍCULOS

BOTOMÉ e col. (1979), propuseram um esquema de etapas de raciocínio e de comportamentos de quem planeja o ensino, alterando substancialmente a seqüência que é usualmente realizada. O ponto de partida passa a ser o que a comunidade necessita, transitando por situações de decisão onde é definido o que o profissional deve estar apto a fazer para atender às necessidades dessa comunidade, o que é necessário ensinar para o aluno ser capaz de atuar naquela direção e quais as informações existentes ou a produzir para o profissional em formação, de modo que ele venha a atender aos anseios do meio onde atuará. Nesse esquema, o ponto de partida das análises e decisões de um planejador de ensino não é o que “está nos livros”, mas sim um “conhecimento da realidade”. As “informações existentes” só aparecem como instrumento nos níveis de decisão mais adiantados, na seqüência de comportamentos apresentados por quem planeja o ensino.

Os autores salientam que, nesse contexto, a matéria prima do ensino deixa de ser a informação ou o conhecimento como um produto, e passa a ser entendido como sendo constituída pelos comportamentos – os tipos de relações com a realidade – que precisam ser desenvolvidos para constituir a sociedade que interessa. A partir daí surgem, então, os insumos que precisam ser processados para gerar a definição dos comportamento de interesse: 1) as situações concretas onde os alunos atuarão, 2) aquilo que interessa para a sociedade, como resultado de sua atuação e 3) que tipos de ações construiriam essas transformações.

A partir do conhecimento sobre os aspectos da realidade, será possível a definição do campo de atuação do profissional e, em ação subsequente, o estabelecimento das ligações entre esse campo de atuação profissional e as áreas de conhecimento que deverão subsidiá-lo.

Apesar da conceituação teórica, quando é verificado o que é feito na prática, percebe-se que o ponto de partida usual para planejar o ensino é outro. Em geral, o ponto de partida é o “conteúdo” existente e conhecido, do qual é eleito o que deve ser ensinado e de que forma esse conteúdo será apresentado para o profissional em formação.

(6)

Em se tratando da formação do profissional engenheiro de produção, sob a perspectiva dos aspectos econômicos e financeiros, é fundamental a identificação de quais aspectos estão ou estarão presentes na realidade onde esse profissional irá intervir. Alguns desses aspectos são visíveis e conhecidos, porém, muitos outros necessitam ser descobertos e desenvolvidos. Considerando tais argumentos e fundamentações, o objetivo deste trabalho é apresentar comportamentos profissionais necessários ao repertório do engenheiro de produção, que o capacitem a lidar com aspectos econômicos e financeiros de processos produtivos, identificados a partir de situações reais presentes na atividade profissional.

A partir dessa identificação é possível a derivação – com base nas informações obtidas – dos comportamentos a serem instalados no repertório do futuro profissional, com a finalidade de habilitá-lo a lidar adequadamente com os fenômenos da realidade com a qual vai se defrontar. Esses comportamentos, por sua vez, deverão constituir objetivos de ensino de disciplinas específicas responsáveis pela formação profissional do engenheiro de produção, fornecendo subsídios para reestruturação curricular, eleição de disciplinas a serem oferecidas na condição de optativas, além de orientar outras atividades que possam promover a adequação da formação do profissional, realizada pela universidade, às reais necessidades do meio no qual o profissional irá atuar.

3. PROCEDIMENTOS PARA OBTER INFORMAÇÕES

Levando em conta a natureza dos dados e as informações necessárias para derivar comportamentos profissionais necessários ao repertório do engenheiro de produção, que o capacitem a lidar com aspectos econômicos e financeiros de processos produtivos, a partir de situações reais presentes na atividade profissional, foram entrevistados seis diretores de recursos humanos de empresas que contratam engenheiros de produção e vinte engenheiros de produção, escolhidos do quadro funcional daquelas empresas. A definição das empresas participantes foi feita em função do interesse manifestado pelas empresas em participar do trabalho, tendo sido incluídas as seis que atenderam a este critério, dentre as dez que contavam com engenheiros de produção em seus quadros funcionais, contatadas pelo pesquisador.

O município escolhido para a coleta dos dados foi a cidade de São Carlos, considerada como local adequado para o desenvolvimento deste trabalho, tanto pelo avanço tecnológico que detém

(7)

(considerada como polo tecnológico), como pelo número de cursos de graduação em Engenharia de Produção de suas universidades (três na Universidade Federal de São Carlos e um na Universidade de São Paulo).

Para a coleta de informações a respeito das atribuições do engenheiro de produção, em especial às relativas em Economia e Finanças, foram utilizados dois roteiros de entrevistas (um para os diretores de recursos humanos e outro para os engenheiros de produção). As entrevistas foram realizadas nos ambientes de trabalho dos profissionais, gravadas e, posteriormente, transcritas para arquivo próprio. Durante a realização das entrevistas foram controladas variáveis ambientais que pudessem interferir nas respostas dos sujeitos. Os dados foram organizados por meio da transcrição para cada pergunta do roteiro de entrevista e, posteriormente, agrupados em categorias, de acordo com o tipo de aspecto investigado em cada uma.

4. ATRIBUIÇÕES DE ENGENHEIROS DE PRODUÇÃO

Os resultados obtidos a partir das entrevistas realizadas serão apresentados a seguir, agrupados em três conjuntos: 4.1 - condições sob as quais atuam os engenheiros de produção no Município, a partir das informações apresentadas pelos gerentes de recursos humanos representantes das empresas consideradas no estudo; 4.2 - características de formação e da atuação dos engenheiros de produção e 4.3 - atividades realizadas por engenheiros de produção nas empresas em que trabalham, ambos a partir das informações obtidas junto aos engenheiros de produção.

4.1 CONDIÇÕES SOB AS QUAIS ATUA O ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO:

O PONTO DE VISTA DAS EMPRESAS NA ÓTICA DE PROFISSIONAIS DE

RECURSOS HUMANOS

Das empresas pesquisadas, em número de seis, três declararam ser de pequeno porte e três de grande porte, de acordo com critérios próprios e não explicitados na entrevista. As áreas de atuação dessas empresas são: fabricação de motores, fabricação de compressores para refrigeração, montagem de eletrodomésticos, fabricação de material de escrita, fabricação de bebedouros refrigerados e fabricação de eletrodomésticos.

(8)

Nas empresas foram identificadas seis características ou grupo de características que são privilegiadas por ocasião da contratação de profissionais engenheiros de produção (Tabela 1). A preferência por profissionais generalistas aparece nas respostas de três dos responsáveis por empresas, o que representa 25% das citações; três citações (25%) indicaram que cada caso é avaliado especificamente; duas citações (17%) afirmaram que são privilegiadas características pessoais e o mesmo percentual (17%) dá preferência a profissionais que estagiaram; uma citação (8%) declara que dá preferência a profissional multiespecialista e o mesmo percentual (8%) privilegia profissionais que já trabalharam em equipe.

CARACTERÍSTICAS PRIVILEGIADAS Nº Referências %

Profissional generalista 3 25

Cada caso avaliado especificamente 3 25

Características pessoais 2 17

Profissionais que estagiaram 2 17

Profissional multiespecialista 1 8

Profissionais que trabalham em equipe 1 8

TOTAL 12 100

Tabela 1: Distribuição de ocorrência e percentuais das características privilegiadas na contratação de engenheiros de produção

Quando perguntadas sobre as habilidades específicas exigidas na contratação de engenheiros de produção (Tabela 2), os responsáveis pelas empresas se referiram a seis habilidades, sendo que as de maior ocorrência foram fluência em inglês (referida em cinco empresas) e conhecimento em informática (referida em três empresas). Em seguida, foi mencionado conhecimento de mercado (referida em duas empresas) e, com o mesmo número de citações (uma), foram observadas menções a: fluência em alemão, conhecimento em retorno de investimento e conhecimentos econômicos em geral.

HABILIDADES Nº Referências %

Fluência em inglês 5 38

Conhecimento em informática 3 23

Conhecimento de mercado 2 15

Fluência em alemão 1 8

Conhecimento em retorno de investimento 1 8

Conhecimentos econômicos em geral 1 8

TOTAL 13 100

Tabela 2: Distribuição de ocorrência e percentuais das habilidades específicas exigidas na contratação de engenheiros de produção

(9)

Tendo sido solicitado aos diretores de recursos humanos, que ordenassem cinco características pessoais, de acordo com o grau de importância que a empresa delegava a cada uma delas, com relação ao profissional engenheiro de produção, as respostas indicaram a seguinte ordem - da maior para menor importância - dessas características: 1) ética, 2) iniciativa, 3) conhecimento técnico, 4) capacidade de tomar decisões e 5) relacionamento interpessoal.

Os diretores de recursos humanos, ao serem indagados quanto às habilidades identificadas como deficientes nos engenheiros de produção contratados pelas empresas, fizeram referência a sete habilidades, apresentadas na Tabela 3. Uma delas - Relacionamento interpessoal - foi citada por três dos entrevistados, o que a coloca como uma das deficiências mais freqüentemente mencionadas no grupo examinado. Curiosamente, porém, quando perguntados sobre as habilidades específicas exigidas na contratação de engenheiros de produção os diretores de recursos humanos não se referiram àquela habilidade como sendo uma das exigidas por ocasião da contratação (Tabela 2).

HABILIDADES Nº Referências %

Relacionamento interpessoal 3 25

Conhecimentos sobre administração de empresas 2 17

Conhecimentos sobre custos 2 17

Fluência em inglês 2 17

Conhecimentos sobre informática 1 8

Facilidade para negociação 1 8

Conhecimentos políticos 1 8

TOTAL 12 100

Tabela 3: Distribuição de ocorrência e percentuais das habilidades identificadas pelas empresas, como deficientes nos engenheiros de produção contratados

Quanto à política de treinamento, três empresas declararam não possuir uma, duas informaram que possuem programa formal de treinamento e uma fornece treinamento quando considera necessário. Dentre as empresas que não possuem política de treinamento, destaca-se o depoimento de um dos diretores de recursos humanos, que diz o seguinte: “... se eu for contratar alguém, ao invés de dar o treinamento, eu procuro alguém que já tenha tal ênfase.”

(10)

4.2 CARACTERÍSTICAS DE FORMAÇÃO E DA ATUAÇÃO DE

ENGENHEIROS DE PRODUÇÃO

A partir das respostas às entrevistas aos engenheiros de produção foi possível a identificação de algumas características relativas a formação e atuação desses profissionais.

Na Tabela 4 são apresentadas as distribuições de ocorrência e percentagens dos anos em que ocorreram a formatura dos sujeitos. Pode ser observado, nesta Tabela, que 55% dos profissionais são formados após 1989, porém não existe nenhum profissional com menos de 3 (três) anos de formado, dentre os entrevistados.

ANO DE FORMATURA Nº Engenheiros %

1978 1 5 1981 2 10 1982 1 5 1984 2 10 1985 2 10 1986 1 5 1989 3 15 1990 4 20 1993 3 15 1995 1 5 TOTAL 20 100

Tabela 4: Distribuição de ocorrência e percentuais dos anos em que ocorreram a formatura dos sujeitos

A Tabela 5 mostra a distribuição e percentagem dos tipos de habilitação em engenharia, cursadas pelos sujeitos. É possível notar que o curso de Engenharia de Produção de Materiais é formador de quase metade (parte considerável) dos sujeitos (45%), seguido pelo curso de Engenharia de Produção Química (20%) e Engenharia de Produção Mecânica (15%).

CURSOS Nº Engenheiros %

Engenharia de Produção de Materiais 9 45

Engenharia de Produção Química 4 20

Engenharia de Produção Mecânica 3 15

Engenharia Industrial 2 10

Engenharia Mecânica 1 5

Engenharia de Materiais 1 5

TOTAL 20 100

(11)

Um aspecto peculiar é o de que 4 (quatro) dos profissionais apresentados pelas empresas como engenheiros de produção não possuem formação em Engenharia de Produção. Um desses profissionais é formado em Engenharia Mecânica, outro em Engenharia de Materiais e dois em Engenharia Industrial, o que corresponde a 20% do total de entrevistados.

Quando questionados sobre quais assuntos foram pouco tratados ou não tratados no curso de graduação, os sujeitos citaram 18 assuntos, sendo que cinco deles são relativos a Economia e Finanças (Tabela 6), o que representa 26% do total dos assuntos citados.

Um outro dado importante, que pode ser visto nesta Tabela, é que 24% das menções são referentes ao relacionamento entre a universidade e as empresas ou ao número de horas destinadas a estágio. Os sujeitos consideram que o distanciamento entre as duas instituições impede uma atuação da universidade mais sintonizada com a realidade, como pode ser observado no depoimento a seguir: “...a cidade tem um grande parque industrial e as próprias empresas têm carências. Acho que vocês (professores universitários) tinham que sair mais da escola, estar mais atualizados, se aprofundar mais nas coisas que estão acontecendo hoje em dia. Acho, deveria haver mais prática, lógico que com toda teoria por trás, mas deveria haver mais experiências desenvolvidas dentro da empresa”.

ASSUNTOS Nº Referências %

Relacionamento Universidade/Empresa e estágios 12 24

Psicologia no trabalho 5 10

Economia 4 8

Finanças 3 6

Administração de recursos humanos 3 6

Engenharia econômica 3 6

Interpretação de desenho 3 6

Gerenciamento integrado 2 4

Inglês 2 4

Planejamento 2 4

Lógica e solução problemas 2 4

Estrutura contábil 2 4 Qualidade 2 4 Comércio exterior 1 2 Legislação 1 2 Informática 1 2 Estatística 1 2 Marketing 1 2 TOTAL 50 100

(12)

A Tabela 7 mostra os cursos realizados, pelos sujeitos, após o término da graduação, com o objetivo de complementar sua formação. Considerando os 20 (vinte) entrevistados foram realizados 20 (vinte) cursos, distribuídos em mestrados, cursos de especialização (360 horas ou mais) e outros. É importante observar que seis deles são relacionados a negócios em empresas, envolvendo conhecimentos em economia e finanças, o que representa 35% do total. A Tabela mostra, também, que a maior densidade dos cursos realizados após a graduação é relativa aos cursos de especialização (50%), seguido por outros cursos (35%) e, finalmente, por cursos de mestrado (15%).

CURSOS Nº Referências %

Mestrado em Administração de Empresas - USA 1 5

Mestrado em Produção de Materiais - UFSCar 2 10 Especialização em Gestão de Manufatura - UFSCar 1 5 Especialização em Gestão da Produção - USP 2 10

Especialização em Administração de Negócios - INPG 2 10 Especialização em Gerenciamento de Empreendimentos -FGV 1 5

Especialização em Engenharia de Qualidade - ASQC 2 10 Especialização em Refrigeração - UNIMEP 1 5

Especialização em Agro-Business - UFSCar 1 5

Curso de Economia Florestal - ESALQ 1 5

Curso de Análise Empresarial - BB 1 5

Curso de Qualidade Total - SEBRAE 1 5

Curso de Auditoria em Qualidade - ASQC 1 5 Curso de Balanceamento de Linha - SICOM 1 5 Curso de Controle Estatístico Processo - SICOM 2 10

TOTAL 20 100

Tabela 7: Distribuição de ocorrência e percentuais dos cursos realizados pelos sujeitos, após o término da graduação

Além de cursos formais, os engenheiros entrevistados elegem assuntos para serem estudados por conta própria, com o objetivo de atualização ou de complementar a formação deficiente em algumas áreas. Na Tabela 8 podem ser observados esses assuntos, com o número de vezes em que foram citados. Os sujeitos se referiram a 17 assuntos, sendo que seis deles envolvem conhecimentos em economia e finanças, o que representa 22% das referências.

Considerando o número de vezes que cada assunto foi citado, pode ser observado nesta tabela que, das 50 citações, onze são relativas aos assuntos Economia e Finanças. Ou seja, dentre os assuntos estudados por conta própria pelos entrevistados, 22% são concernentes a economia e finanças, seguido

(13)

por línguas (16%) e informática (14%). As leituras técnicas receberam a maior concentração de menções pelos sujeitos (24%).

ASSUNTOS Nº Referências % Leitura técnica 12 24 Línguas 8 16 Informática 7 14 Administração de empresas 4 8 Logística 3 6 Engenharia econômica 2 4 Economia 2 4

Método de análise e solução de problemas 2 4

Qualidade 2 4 Finanças 1 2 Custos 1 2 Comércio exterior 1 2 Planejamento 1 2 Soldagem 1 2 Instrumento de medição 1 2 Manutenção 1 2 Liderança 1 2 TOTAL 50 100

Tabela 8: Distribuição de ocorrência e percentuais dos assuntos estudados por conta própria

Na Tabela 9 é apresentada a distribuição e percentagem dos cargos exercidos atualmente pelos engenheiros de produção. Pode ser observado nesta Tabela que apenas 30% dos profissionais entrevistados exercem a função de engenheiros, sem nenhum envolvimento com a administração da empresa. Os outros 70% estão investidos de cargos de direção, que vão desde líderes de célula até diretores. CARGOS Nº Engenheiros % Engenheiros 6 30 Gerentes 5 25 Chefes de Departamentos 4 20 Diretores 3 15 Líderes de produção 2 10 TOTAL 20 100

(14)

4.3 ATIVIDADES REALIZADAS POR ENGENHEIROS DE PRODUÇÃO NAS

EMPRESAS EM QUE TRABALHAM, ENVOLVENDO ECONOMIA E

FINANÇAS

Quando solicitados a falar sobre as atividades no dia-a-dia profissional que envolviam conhecimentos em Economia e Finanças, os engenheiros de produção emitiram depoimentos dos quais foram extraídas as atividades propriamente ditas. As respostas oferecidas pelos engenheiros de produção entrevistados à questão sobre atividades que exigem conhecimentos em Economia e Finanças foram organizadas e submetidas a tratamento mais específico, como segue:

. identificação de cada uma das atividades mencionadas; nos casos em que havia mais de uma numa mesma frase, as atividades foram indicadas separadamente;

. indicação da atividade por meio de expressão que continha um verbo indicativo da ação envolvida na atividade considerada, na forma infinitiva;

. registro de cada uma das expressões representativas das atividades indicadas pelos entrevistados, em seguida a cada uma das respostas dos entrevistados correspondentes à atividade identificada para que, se necessário, fosse possível identificar o sujeito que relatou a experiência e conferir a adequação das transcrições com as respostas originais;

. reprodução das formulações de atividades propostas pelo pesquisador, cada uma em uma folha separada, de forma a facilitar combinações e recombinações das respostas dos diferentes entrevistados.

. agrupamento das atividades em função de características comuns, tendo sido utilizado como critério para agrupamento o “assunto” envolvido na atividade, considerando-se categorias usualmente utilizadas na descrição de currículos. As atividades foram agrupadas, assim, em torno de categorias como custo, planejamento, impostos, retorno financeiro, etc (Quadro 1).

(15)

ATIVIDADES RELACIONADAS AO SISTEMA FINANCEIRO

ƒ Identificar as partes que formam o mercado financeiro.

ƒ Identificar as taxas de juros (custo de capital) cobradas por cada uma dessas partes.

ƒ Relacionar as taxas de juros com as formas de captação de

recursos.

ƒ Identificar taxas de juros reais cobradas nas várias formas de captação de recursos.

ƒ Identificar os riscos nas várias formas de captação de recursos.

ƒ Identificar as vantagens e desvantagens num processo de locação de equipamentos.

ƒ Identificar as vantagens e desvantagens numa operação de

leasing para equipamentos.

ƒ Identificar as vantagens e desvantagens numa operação de crédito para aquisição de equipamentos.

ƒ Optar entre locação, leasing ou financiamento de equipamentos.

ƒ Entender o funcionamento do sistema financeiro.

ƒ Conhecer as várias formas de financiamento.

ƒ Dominar aspectos envolvidos em transações bancárias.

ƒ Aplicar taxas de juros.

ƒ Conhecer várias formas de financiamento.

ƒ Usar matemática financeira adequadamente.

ATIVIDADES RELACIONADAS AO PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES DE EMPRESAS

ƒ Analisar a empresa como uma corporação.

ƒ Elaborar propostas empreendedoras de desenvolvimento para a empresa.

ƒ Fazer planejamento de longo prazo.

ƒ Identificar estratégias financeiras para alteração do perfil de uma empresa.

ATIVIDADES RELACIONADAS A CÁLCULO DE RETORNO DE INVESTIMENTOS

ƒ Explicitar à chefia qual será o retorno que a empresa terá com a contratação de estagiários.

ƒ Explicitar à chefia qual receita da empresa está relacionada com a contratação de estagiários.

ƒ Apresentar à direção o fluxo de caixa com tempo de retorno do capital investido na contratação de estagiários.

ƒ Calcular o retorno financeiro a partir dos custos identificados no processo produtivo.

ƒ Analisar o quanto a alteração de um produto trará de benefício financeiro para a empresa.

ƒ Calcular o investimento necessário para a alteração de um

produto.

ƒ Calcular o retorno da empresa, causado pela alteração de um produto.

ATIVIDADES RELACIONADAS A CÁLCULO DE CUSTOS

ƒ Analisar custos envolvidos em transporte aéreo de matéria prima.

ƒ Analisar custos envolvidos em transporte marítimo de matéria prima.

ƒ Escolher entre transporte aéreo ou marítimo de matéria prima.

ƒ Identificar vantagens e desvantagens na compra de matéria prima no exterior.

ƒ Identificar vantagens e desvantagens na compra de matéria prima no mercado interno.

ƒ Optar entre a compra de matéria prima no exterior ou no mercado interno.

ƒ Lidar com o desenvolvimento do produto de forma a atender às necessidades de custo mínimo da área comercial.

ƒ Analisar custos no processo produtivo.

ƒ Identificar a forma como os custos são gerados.

ƒ Identificar os vários componentes de custo do produto.

ƒ Calcular o percentual do custo de mão de obra sobre o custo total do produto.

ƒ Identificar o que é custo direto.

ƒ Identificar o que é custo indireto.

ƒ Identificar o que é custo fixo.

ƒ Identificar o que é custo variável.

ƒ Analisar como as várias formas de custo compõem o preço final do produto.

ƒ Projetar produto com preço mais baixo que o anterior.

ƒ Pesquisar fornecedores de matéria prima com preço mais baixo e qualidade semelhante ao existente.

ƒ Compor o custo do produto a partir do preço final que o mercado está disposto a pagar.

ƒ Reduzir gastos indiretos no produto.

ƒ Reduzir índice de sucata.

ƒ Reduzir re-trabalho.

ATIVIDADES RELACIONADAS À ANÁLISE DE BALANÇO

ƒ Analisar balanços de empresas.

ƒ Analisar a situação econômico/financeira de empresas, a partir de dados dos balanços.

ATIVIDADES RELACIONADAS À LEGISLAÇÃO DE IMPOSTOS

ƒ Conhecer os vários tipos de impostos.

ƒ Descontar impostos do resultado bruto da empresa.

ATIVIDADES RELACIONADAS À ECONOMIA

ƒ Interpretar adequadamente o vocabulário utilizado em economia. ƒ Formar preço de produtos.

Quadro 1. Atividades de engenheiros de produção que envolvem conhecimentos em Economia e Finanças

(16)

5. ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO: PERFIL PROFISSIONAL E

APTIDÕES EXIGIDAS PELO MERCADO DE TRABALHO EM

ASPECTOS RELATIVOS A ECONOMIA E FINANÇAS

BARELLI (1998), analisando as alternativas de emprego no mercado de trabalho, salienta que nos países em desenvolvimento, em especial os da América Latina, existe hoje um processo de ajuste econômico que dita regras, como por exemplo, mudanças no modelo econômico e abertura comercial, para obter uma competitividade maior entre as empresas. Essas regras quase sempre implicam em redução do grau das atividades na economia, ou pelo menos crescimento menor do que o necessário. Naturalmente, esse quadro conduz a oferta de menos empregos e os que são oferecidos trazem, implícita ou explicitamente, exigências maiores no que diz respeito à qualificação.

O mercado de trabalho, de acordo com esse diagnóstico, apresenta novas condições. O conceito de “empregabilidade” exige das pessoas, além das habilidades básicas para uma dada ocupação, as habilidades específicas, vinculadas ao perfil da organização empregadora. Isso sem esquecer de uma das maiores exigências que se apresentam: habilidades gerenciais.

Em maio de 1990 foi formada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma comissão integrada por treze professores dos diversos departamentos daquela Unidade, com o objetivo de conhecer a realidade de outras escolas e outros projetos de formação de engenheiros. Esses professores visitaram 52 universidades em treze países, de maneira a obter subsídios para reestruturar o currículo de engenharia da Poli-USP (CYTRYNOWICZ, 1991).

Entre as conclusões decorrentes das visitas realizadas está a de que as exigências a respeito da atuação do engenheiro passou por uma série de mudanças na última década e que as principais faculdades de engenharia na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e no Japão processaram reformulações em seus currículos, para adequar-se às novas tendências da profissão. Na França, por exemplo, além da capacidade técnica, privilegia-se o talento gerencial e na Itália foi criado um curso de Engenharia Gerencial.

Para um dos integrantes da Comissão de Modernização Curricular da Poli-USP, professor Giorgio Giacaglia, é evidente que ao engenheiro se destinam tarefas profissionais que, a curto prazo,

(17)

são técnicas, a médio prazo, técnicas e administrativas e, se bem-sucedido, a longo prazo são de direção e planejamento.

A Comissão de Modernização Curricular da Poli-USP aponta que, no Brasil, já é possível constatar que muitos profissionais de engenharia que trabalham tanto na iniciativa privada como em empresas públicas, atuam em funções de economistas e administradores. O conhecimento técnico que o engenheiro tem do sistema produtivo, ao que parece, facilita a tarefa de gerenciar a produção. Muitos desses profissionais procuram fazer uma segunda carreira, em economia ou administração, mostrando a necessidade de complementar a formação em áreas que já se institucionalizaram também como função do engenheiro.

Para o engenheiro de produção o mercado de trabalho não tem se mostrado diferente nos aspectos referentes a adaptação às exigências do mercado. A procura das empresas pesquisadas converge para profissionais que tenham de três a dez anos de formados, o que pode ser um indício de um profissional com “certa” experiência, porém novo o suficiente para ser pouco resistente às mudanças e assimilar mais facilmente a cultura da nova empresa. Outros aspectos poderão estar direcionando essa procura como, por exemplo, os salários mais baixos que são pagos aos contratados recém-formados. Além disso, a área de formação universitária não atua como fator limitante num processo seletivo. Ou seja, o fato de ser formado em uma especialidade não impede que o profissional pleiteie trabalho em outras áreas, o mais importante é que o profissional atenda às expectativas da função que exerce, independentemente da habilitação cursada na graduação. Esse aspecto assemelha-se ao deslocamento dos engenheiros, de uma forma geral, para as funções de economistas e administradores de empresas. Para isso é necessário atualização constante, com vistas às novas exigências que o mercado de trabalho apresenta.

A Comissão de Modernização Curricular da Poli-USP constatou que as universidades européias e norte-americanas complementam os cursos de engenharia com programas de educação continuada com atualização e reciclagem permanentes, além de oferecerem cursos extra-curriculares aos alunos de graduação (normalmente relativos ao papel do engenheiro na sociedade e à economia e finanças). Tendo em vista essas experiências, parece não ser mais adequado o julgamento de que, formando-se em determinada especialidade, o profissional encontrará ocupação durante toda a vida, simplesmente com as aptidões adquiridas no curso de graduação.

(18)

Com relação aos assuntos indicados como pouco ou não tratados nos cursos de graduação, identificados por meio das entrevistas, uma parcela de importância é referente aos assuntos empresariais e aos relativos à Economia e Finanças. Confirmando essa tendência, esses assuntos são, também, os mais procurados nos cursos realizados após o término da graduação ou estudados por conta própria. A “modernidade empresarial”, entendida como a busca por maiores lucros, que caracteriza os sistemas liberalistas, tem se tornado um dos maiores argumentos para justificar esse quadro. O profissional hoje, talvez de todas as áreas, tem que trabalhar sempre com os objetivos sintonizados com redução de custo, aumento de produtividade, avaliação de “cenários” econômicos e identificação de novas oportunidades empresariais.

O perfil clássico do engenheiro de produção, parece, já possui algumas características de multidisciplinaridade e flexibilidade. A formação do engenheiro de produção, dentre as habilitações existentes, é a que possui características mais sistêmicas (voltada para as áreas de planejamento, operação e controle, direcionando seu conhecimento técnico para a produção). A reestruturação curricular nas escolas de engenharia, como por exemplo a da Poli-USP, tem pretendido possibilitar a formação de engenheiros sistêmicos em todas as modalidades, à exemplo do que ocorre na Engenharia de Produção. Essa formação diferenciada do engenheiro de produção pode ser uma das explicações para o fato de, dentre os profissionais entrevistados, 70% estarem investidos em cargos de direção, nas empresas que os contratam. A tendência das empresas deslocarem engenheiros de produção para funções administrativas pode ser o motivo pelo qual os engenheiros buscam conhecimento (de forma significativa) em assuntos empresariais, ligados a Economia e Finanças. As habilidades específicas exigidas na contratação de engenheiros de produção, também identificadas pelas entrevistas realizadas, vêm confirmar essa tendência, já que além da fluência em outras línguas e conhecimento em informática, todas as outras habilidades citadas se referiam a assuntos correlatos a Economia e Finanças. O mesmo quadro é sugerido, quando as empresas foram consultadas quanto às deficiências identificadas nos engenheiros de produção contratados. Além de fluência em línguas, conhecimento em informática e relacionamento interpessoal, todas as outras referências remetem para as áreas de Economia e Finanças, como por exemplo: conhecimentos sobre administração de empresas, conhecimentos sobre custos e facilidade para negociação .

(19)

É importante salientar que os roteiros utilizados para as entrevistas não permitiam ao entrevistado identificar quais áreas de conhecimento a pesquisa enfatizava (no caso Economia e Finanças), antes da última questão, que era específica para esses assuntos. Dessa forma, pode ser afirmado que os dados obtidos não sofreram nenhuma influência devido à área de interesse do pesquisador.

As atividades identificadas como sendo de engenheiros de produção, que envolvem conhecimentos em Economia e Finanças, poderão ser derivadas em comportamentos a serem instalados no futuro profissional engenheiro de produção, de maneira a torná-lo apto a atuar de forma eficaz quando formado. Esses comportamentos serão transformados, por meio de um dos métodos disponível na literatura, em objetivos de ensino de disciplinas do curso de graduação em Engenharia de Produção, além de orientar cursos de complementação profissional ou especialização, realizados pela universidade, em atendimento às reais necessidades do meio no qual o profissional atuará.

É importante salientar que, qualquer que seja o método escolhido para proceder a derivação das atividades identificadas em comportamentos e, posteriormente, em objetivos de ensino, a contribuição do procedimento proposto por esse trabalho se baseia na forma de decidir o que ensinar na Engenharia de Produção: o ponto de partida para planejar a formação deixa de ser o “conhecimento disponível”, de onde serão eleitos tópicos, passando a ser o que a comunidade necessita, identificado por meio de investigação da realidade de atuação do profissional.

Existe grau significativo de proximidade do procedimento adotado na presente proposta, com os objetivos e metas constantes das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação Superior, recentemente editadas pelo Ministério da Educação Superior. Tal proximidade pode ser visualizada na própria letra das referidas diretrizes quando fica evidente a preocupação em identificar as “habilidades e competências” necessárias a um futuro profissional, como agente de intervenção direta na sociedade, para, posteriormente, estabelecer as condições de aprendizagem que deverão ser propostas para o desenvolvimento do repertório desejado.

Uma das possibilidades de continuidade para este estudo poderá ser a verificação da adequação dos procedimentos adotados e desenvolvidos e, a partir daí, a extensão desse exame para a atuação profissional do engenheiro de produção em todos os aspectos, o que exigirá, inclusive, novos estudos.

(20)

O resultado desse procedimento poderá ser, ao que tudo indica, um primeiro esboço do campo de atuação profissional do engenheiro de produção.

A Engenharia de Produção possui um campo de atuação profissional abrangente, já que sua atuação pode se dar onde quer que seus métodos de análise sejam utilizáveis. Esse é um fato que pode ser confirmado quando se verifica a atuação dos engenheiros de produção no setor de serviços, apesar da profissão ter sua concepção baseada no atendimento aos setores de transformação, ou seja, às atividades industriais.

Isso não quer dizer, no entanto, que por ser um campo de atuação profissional abrangente, ele não possa ser delimitado de maneira a ter mais esclarecidos o seu objeto de intervenção e as áreas de conhecimento que lhe dão sustentação. A análise das relações entre as áreas de conhecimento e o campo de atuação profissional é que permitirão definir as aptidões que são importantes ou necessárias ensinar (currículo), para desenvolver no aluno a capacidade de atuar em relação aos processos nos quais o profissional deverá intervir.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARELLI, W. (1998). As Alternativas de Emprego para o Mercado de Trabalho. Coleção CIEE - 12, p.12-31.

BOTOMÉ, S.P.; GONÇALVES, C.M.C.; MIRANDA, A M.A ; SILVA, E.B.N.; CARDOSO, D.R.; UBEDA, E.M.L.; SILVA, E.; PEDRAZZANI, J.C.; NAGANUMA, M.; OGASAWARA, M.; DE ROSE, T.M.S.; FRANCO, W. (1979). Uma análise das condições necessárias para propor objetivos de ensino nas disciplinas do Curso de Enfermagem. Ciência e

Cultura, 31 (7):131, jul. (Resumos).

BRASIL. Senado Federal. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

LEX: Coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo.

CAMPOS, R. (1994). A Lanterna na Popa. São Paulo: Editora Topbooks.

CYTRYNOWICZ, R. (1991). O Engenheiro do século 21. Revista Politécnica, v. 88, n. 203, p.39-44, Out./Dez. FERREIRA, A.B.H. (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. WONNACOTT, P.; WONNACOTT, R. (1994). Economia. São Paulo: Makron Books.

Referências

Documentos relacionados

O artigo 2, intitulado “Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): Estar fora da família, estando dentro de casa”, foi resultado da realização de uma pesquisa de

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

psicológicos, sociais e ambientais. Assim podemos observar que é de extrema importância a QV e a PS andarem juntas, pois não adianta ter uma meta de promoção de saúde se

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator