CARACTERIZAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS
PRÉ-COMPETITIVOS EM JOVENS NADADORES
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José Jacinto Vasconcelos Raposo João Paulo Lázaro Luís Filipe da Silva Cerqueira
chapas@net.sapo.pt
RESUMO
Pretendeu-se verificar os comportamentos que antecedem a competição em jovens nadadores. Para tal foi aplicado o Inventário dos Comportamentos Pré-competitivos, á equipa de natação da Escola Desportiva de Viana em dois momentos distintos, um aquando da realização dos regionais e um outro aquando dos nacionais. Assim, este trabalho visa caracterizar esses comportamentos nos nadadores em termos gerais, em termos comparativos entre sexos, escalões e momentos de realização da competição.
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 28 - Diciembre de 2000
INTRODUÇÃO
A competição provoca comportamentos que variam de atleta para atleta, e que podem ser ou não benéficos para a realização de uma prova. O treino psicológico permite-nos modificar os estados psicológicos, ou seja, as bases de regulação do movimento. Segundo Marques (s/d), "a tarefa central da Psicologia do Desporto consiste em, utilizando os conhecimentos que lhe são próprios, aumentar a qualidade de formação desportiva nos diferentes âmbitos, meios de prestação e grupos de idade e sexo".
O controlo das emoções no período que antecede as competições é resultado de uma aprendizagem de skills psicológicos. Cabe ao treinador, a tarefa de utilizar certas técnicas de maneira a que os seus atletas possam responder de forma apropriada evitando assim que comportamentos indesejados surjam.
Existe uma profusão de variáveis que podem influenciar a performance de um determinado atleta. Essa influência de factores pode se tornar benéfica ou prejudicial para determinada competição. Cabe ao treinador conhecer profundamente os seus atletas, isto é, verificar e prever eventuais comportamentos não desejados para a competição, assim como, aumentar aqueles que são benéficos.
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METODOLOGIA
Caracterização da amostra
A amostra é constituída por trinta e seis (36) nadadores com idades compreendidas entre os treze (13) e os dezasseis (16) anos de idade. É formada por dezasseis (16) rapazes e vinte (20) raparigas, pertencendo 23 ao escalão de juvenis e 13 ao escalão júnior. Foram realizados trinta e seis (36) questionários aquando dos regionais e vinte e oito (28) aquando dos nacionais. Instrumento
Neste estudo foi utilizado o instrumento designado por Inventário Comportamental Pré-competitivo (ICPC), que nos possibilitou conhecer os comportamentos pré-competitivos da amostra.
Este inventário foi elaborado por Rushall (1979), tendo sido traduzido para português e validado por Vasconcelos Raposo (1995).
Possui 42 duas perguntas as quais têm a possibilidade de resposta entre 5 opções, situando-se cada uma delas numa determinada escala da seguinte forma: nunca; raramente; ás vezes; frequentemente; sempre.
Procedimentos estatísticos
Para calcular a percentagem de respostas para cada variável comportamental do questionário realizei cálculos estatísticos de freqüência. Esta é realizada a nível geral, isto é, os regionais e nacionais num só.
Para verificar as diferenças entre sexos e escalões e as diferenças entre os dois momentos da realização da prova submeti os questionários a um t-teste de Student. As variáveis independentes serão então, o sexo, o escalão e o momento da realização da prova.
Apresentação dos resultados
Da análise dos dados verificaram-se muitos aspectos, os que se destacam são os relacionados com : o atleta gostar mais de competir do que treinar, preferir fazer o aquecimento sem ter que falar com os outros, ficar tenso e nervoso antes da competição, sentir mais confiança quando tem planos detalhados de prova, usar experiências anteriores para a próxima prova, ir para a cama cedo, treinar coisas durante o aquecimento que irá executar na prova, estar sempre a horas para as competições, suportar bem as pressões no final de uma prova, dar o seu melhor mesmo tendo poucas probabilidades de ganhar, preferir arrancar na liderança independentemente do esforço que irá ter que suportar, e descansar o máximo possível entre competições. Constatámos que os comportamentos que acontecem com menos freqüência são os relacionados com: o atleta não preferir fazer o aquecimento sozinho para a competição, quando existe interrupção do aquecimento isso afecta a sua
performance, distrair-se antes de uma prova, não dar o máximo quando sabe que não vai ganhar e gostar de desmotivar os adversários.
Diferenças entre sexos ao nível dos comportamentos pré-competitivos No quadro 1, apresento todas as questões para as quais houveram diferenças estatisticamente significativas.
Item Sexo Média SD P
Feminino 2,58 0,84 Sabe o que fazer psicologicamente
para obter melhor prestação
Masculino 2,39 0,87 0
Feminino 2,41 0,8 Planifica a provas em detalhe
Masculino 2,85 0,97 0
Feminino 3,22 0,89 Aquilo que mais pensa na prova é
na sua execução técnica
Masculino 3,07 0,89 0,013
Feminino 3,94 1,11 O atleta gosta de ser capaz de
desmotivar os adversários antes da
prova Masculino 3,89 1,19 0,024
Feminino 1,58 0,73 Vou cedo para a cama de modo a
dormir pelo menos 8 horas
Masculino 1,53 0,83 0,001
Feminino 1,41 0,55 Treino coisas no aquecimento que
irei fazer ao longo da prova
Masculino 1,42 0,57 0,045
Feminino 1,27 0,45 Estou sempre a horas para as
competições
Masculino 1,28 0,46 0,019
Feminino 1,55 0,6 O atleta produz sempre o seu
melhor independentemente das
probabilidades Masculino 1,78 0,68 0,006
Diferenças entre escalões ao nível dos comportamentos pré-competitivos No quadro 2, apresento todas as questões para as quais houveram diferenças estatisticamente significativas.
Quadro 2 - Itens, com o respectivo desvio padrão e média, assim como o valor de P referentes ao escalão, onde foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (P<0,05)
Item Sexo Média SD P
Juvenil 4,02 0,88 Antes de uma prova importante, o atleta
distrai-se ao ponto de poder afectar a sua
performance Júnior 3,92 0,93
0,004
Juvenil 2,02 0,82 Concentra-se no aquecimento, espera e
entrada para a prova
Júnior 2,11 0,9
0,039
Juvenil 1,34 0,66 Gosto que o treinador me relembre da
estratégia antes da prova
Júnior 1,42 0,5
0,035
Juvenil 1,97 0,82 Prefere tomar a liderança desde inicio não
importando o esforço que irá efectuar
Júnior 1,76 0,81
0,037
Diferenças entre os regionais e nacionais
No quadro 3, apresento todas as questões para as quais houveram diferenças estatisticamente significativas.
Quadro 3 - Itens, com o respectivo desvio padrão e média, assim como o valor de P referentes aos momentos, onde foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (P<0,05)
Item Sexo Média SD P
Regionais 3,66 0,92 Prefere fazer o aquecimento sem falar
com os outros atletas
Nacionais 3,5 0,83
0,046
Regionais 2,8 1.00 Gosta de estar sozinho antes de uma
competição
Nacionais 2,57 0,99 0
Regionais 4,02 1,13 O atleta gosta de ser capaz de
desmotivar os adversários antes da
prova Nacionais 3,78 1,16 0
Regionais 2,86 1,04 Se fico para trás uso isso como um
teste para ver o que é o meu melhor
esforço Nacionais 2,71 1,04
0,019
para melhorar a prova
Nacionais 1,6 0,68 Regionais 1,55 0,6 O atleta produz sempre o seu melhor
independentemente das probabilidades
Nacionais 1,78 0,68
0,006
Regionais 1,52 0,55 Descansa o máximo possível no
intervalo das competições
Nacionais 1,53 0,57
0,033
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Discussão dos resultados relativos ás diferenças entre sexos ao nível dos comportamentos pré-competitivos
Neste estudo pretendi verificar se existiam diferenças significativas entre sexos para os comportamentos pré-competitivos, nos atletas da minha amostra.
Rushall (1979) citado por Ferraz (1997)diz-nos que os comportamentos entre sexos não são discriminativos, uma vez que, ambos estão sujeitos á mesma preparação para a competição.
Neste estudo verificou-se diferenças significativas para as questões: CPC8 (sabe o que fazer psicologicamente para obter melhor prestação), CPC9 (planifica a provas em detalhe), CPC15 (aquilo que mais pensa na prova é na sua execução técnica), CPC21 (o atleta gosta de ser capaz de desmotivar os adversários antes da prova), CPC30 (vou cedo para a cama de modo a dormir pelo menos 8 horas), CPC31 (treino coisas no aquecimento que irei fazer ao longo da prova), CPC32 (estou sempre a horas para as competições) e CPC36 (o atleta produz sempre o seu melhor independentemente das probabilidades). As diferenças encontradas poderão ter por base factores culturais. Mas no entanto, autores como Rushall (1977), Harris & Harris (1984), Raposo (1994, 1995) e Martens (1997), sugerem que os treinadores respeitem a individualidade de cada atleta e façam a preparação em função dessas diferenças pessoais.
Discussão dos resultados relativos ás diferenças entre escalões ao nível dos comportamentos pré-competitivos
Neste estudo pretendi verificar se existiam diferenças significativas entre escalões para os comportamentos pré-competitivos, nos atletas da minha amostra.
Neste estudo verificou-se diferenças significativas para as questões: CPC11 (antes de uma prova importante, o atleta distrai-se ao ponto de poder
afectar a sua performance), CPC13 (concentra-se no aquecimento, espera e entrada para a prova), CPC29 (gosto que o treinador me relembre da estratégia antes da prova) e CPC39 (prefere tomar a liderança desde inicio não importando o esforço que irá efectuar).
Notámos que os juvenis obtêm valores médios mais elevados para as questões CPC11 e CPC39. O contrário se passa com os juniores que possuem valores médios mais elevados para as questões CPC13 e CPC29. Estes resultados são quanto a mim o espelho da experiência, ou seja, os juniores que obviamente têm mais anos de competições sabem que não poderão cometer o erro de dar tudo do principio ao fim nem será benéfico distraírem-se ao ponto de afectarem as suas performances. Por outro lado, concentram-se mais no aquecimento e gostam de ser relembrados da estratégia pelos treinadores.
Discussão dos resultados relativos às diferenças entre os regionais e nacionais
Neste estudo pretendi verificar se existiam diferenças significativas entre momentos para os comportamentos pré-competitivos, nos atletas da minha amostra.
Neste estudo verificou-se diferenças significativas para as questões: CPC2 (prefere fazer o aquecimento sem falar com os outros atletas), CPC6 (gosta de estar sozinho antes de uma competição), CPC21 (o atleta gosta de ser capaz de desmotivar os adversários antes da prova), CPC24 (se fico para trás uso isso como um teste para ver o que é o meu melhor esforço), CPC26 (uso a informação e experiência anterior para melhorar a prova), CPC36 (o atleta produz sempre o seu melhor independentemente das probabilidades) e CPC42 (descansa o máximo possível no intervalo das competições).
È de salientar que quase todos os comportamentos apresentam valores médios superiores nos regionais relativamente aos nacionais. As excepções são os comportamentos CPC36 e CPC42.
Este facto poderá estar relacionado com a importância dos nacionais para os atletas, pois é aqui que estes se afirmam, e sendo assim tornam o seu descanso no maior tempo possível e dão tudo por tudo independentemente das probabilidades de ganhar ou não.
CONCLUSÕES
Neste trabalho propus-me identificar os comportamentos pré-competitivos que caracterizam os nadadores juvenis e juniores da Escola Desportiva de Viana.
Para isso resolvi apresentar as conclusões subdividindo-as em duas partes:
conclusões baseadas na caracterização geral dos comportamentos pré-competitivos;
conclusões baseadas em resultados estatisticamente significativos para as variáveis independentes estudadas.
a) Dos resultados gerais dos comportamentos pré-competitivos cheguei ás seguintes conclusões.
Quase todos nadadores deste estudo preferem fazer o aquecimento para a competição e falar ao mesmo tempo com os outros atletas, assim como ter o treinador consigo.
Apenas uma percentagem pequena da amostra pensa na execução técnica durante a prestação como factor importante, e guarda um pouco de energia de modo a ter um bom final.
Tendência geral para os nadadores darem o seu máximo durante uma prova independentemente das probabilidades de vencer, assim como produzir sempre o seu melhor esforço.
Tendência geral para os nadadores gostarem que o treinador lhes relembre a estratégia da competição antes da prova.
Tendência geral para que quando uma prova corre mal tentar ainda com mais força na prova seguinte, suportar bem as pressões no fim de uma competição e arrancar e tomar a liderança desde cedo não importando o esforço despendido.
b) No que diz respeito ás diferenças entre sexos as conclusões são as seguintes:
Não há necessidade de observar os comportamentos pré-competitivos quer para o sexo masculino quer para o sexo feminino.
Não há a necessidade de diferenciar o plano de preparação mental para ambos os sexos.
c) No que diz respeito ás diferenças entre escalões as conclusões são as seguintes:
Os nadadores juniores e juvenis não apresentam no âmbito geral discrepâncias muito significativas.
Os nadadores juvenis relativamente aos nadadores juniores, apresentam ser mais distraídos de forma a afectarem as suas performances e preferem mais arrancar e tomar a liderança desde o inicio da prova independentemente do esforço a despender. Os nadadores juniores relativamente aos nadadores juvenis apresentam maiores índices de
concentração ao longo do período de aquecimento, espera e entrada para a prova e gostam mais que os treinadores lhes relembrem as estratégias da competição antes da prova.
d) No que diz respeito ás diferenças entre momentos as conclusões são as seguintes:
Os nadadores aquando dos regionais relativamente aos nacionais, preferem mais fazer o aquecimento para a competição sem terem que falar com os outros atletas, gostam mais de estarem sozinhos antes das competições, gostam mais de poder desmotivar os atletas antes da competição, se ficam para trás usam mais essa situação como um teste para verem o que é o seu melhor esforço e usam mais a informação e a experiência adquirida numa competição para melhorar a próxima. Os nadadores aquando dos nacionais relativamente aos regionais, mesmo quando as possibilidades de ganhar são mínimas produzem mais o seu melhor esforço e descansam mais no intervalo entre competições.
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