Recessão na zona do euro se amplia e dificulta o ajuste fiscal
Recentemente, o recuo dos indicadores e expectativas referentes a crescimento e
inflação na zona do euro têm alterado ligeiramente o posicionamento do Banco Central
Europeu (BCE) quanto à recuperação da economia da união monetária, incentivando-o a
reduzir a taxa básica de juros no início deste mês e a cogitar a possibilidade de
implementar novos estímulos monetários.
Contudo, apesar da importância da política monetária expansionista para estimular a
economia da zona do euro, é importante destacar o efeito causado em sentido contrário
pela política fiscal. As medidas de redução do déficit das contas públicas de alguns
países da união monetária seguirão dificultando a recuperação de suas economias, visto
que os gastos públicos representam aproximadamente um quinto do PIB da região.
Desse modo, a contração do balanço fiscal, sem que o setor privado tenha demonstrado
ritmo consistente de recuperação, resulta em menor crescimento para essas economias
e, consequentemente, em menor arrecadação dos governos, o que evidencia quão
custoso e demorado será o processo de redução do endividamento desses países em
relação ao PIB, mesmo com a política monetária mais expansionista.
Ainda em sua fase inicial, “Abenomia” começa a demonstrar resultados:
ao mesmo
tempo em que permanece o apelo pela austeridade fiscal na zona do euro, combinado a
um relativo conservadorismo do BCE, o Japão tem insistido em um programa de
crescimento econômico baseado em medidas de política fiscal, política monetária e
reformas estruturais, conhecido como “Abenomia” (em referência ao primeiro-ministro
japonês, Shinzo Abe). Ainda que o programa seja recente, alguns efeitos sobre o nível de
atividade já podem ser percebidos. O PIB do Japão apresentou crescimento anualizado de
3,5% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o 4T12.
Varejo reforça tendência de crescimento moderado neste ano:
as vendas no varejo
apresentaram recuo de 0,1% em março, na comparação com o mês anterior, segundo
dados do IBGE. O resultado foi superior à estimativa média do mercado, que indicava
contração de 0,5% do varejo no mês. O avanço foi de 4,5% ante março de 2012 e, no
primeiro trimestre de 2013, observou-se crescimento de 3,5% no volume de vendas, na
comparação com o mesmo período do ano passado.
Estimativas de mercado para os principais indicadores da economia brasileira
2010 2011 2012 2013e 2014e
IPCA (%) 5,91% 6,50% 5,84% 5,80% 5,80%
IGP-DI (%) 11,31% 5,01% 8,11% 4,43% 5,10%
IGP-M (%) 11,32% 5,10% 7,82% 4,51% 5,41%
Taxa de câmbio - fim de período (R$/US$) 1,66 1,87 2,04 2,01 2,05
Taxa de câmbio - média de período (R$/US$) 1,76 1,67 1,95 2,00 2,04
Meta Taxa Selic - fim de período (a/a) 10,75% 11,00% 7,25% 8,25% 8,25%
Meta Taxa Selic - média de período (a/a) 9,81% 11,66% 8,52% 7,81% 8,50%
PIB (% de crescimento) 7,53% 2,73% 0,87% 3,00% 3,50%
Fonte: IBGE, FGV e BCB. Expectativas Focus-BCB.
Gustavo Pereira Serra
Economista gserra@planner.com.br +55 11 2138-8205
Cristiano de Barros Caris
ccaris@planner.com.br +55 11 2138-8207
Cenário Externo
Recessão na zona do euro se amplia e dificulta o ajuste fiscal
O PIB da zona do euro apresentou queda de 0,2% no primeiro trimestre, registrando sua 6ª contração consecutiva. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o recuo do nível de atividade foi de 1,0%. Ainda em relação ao primeiro trimestre de 2012, o PIB da Alemanha apresentou queda de 0,3%, revertendo o crescimento observado no trimestre anterior, de 0,3%. No mesmo período, a economia da França registrou contração de 0,4% (ante variação de -0,3% observada no 4T12). Enquanto isso, os países que apresentam maior necessidade de ajuste fiscal registram queda mais intensa no nível de atividade, como Itália (de -2,8% para -2,3%), Espanha (de -1,9% para -2,0%), Portugal (de -3,8% para -3,9%) e Grécia (de -5,7% para -5,3%).
Recentemente, o recuo dos indicadores e expectativas referentes a crescimento e inflação na zona do euro têm alterado ligeiramente o posicionamento do Banco Central Europeu (BCE) quanto à recuperação da economia da união monetária, incentivando-o a reduzir a taxa básica de juros no início deste mês e a cogitar a possibilidade de implementar novos estímulos monetários. Em abril, a inflação ao consumidor registrou avanço de 1,2%, abaixo da meta do BCE de 2,0%. Desse modo, a expectativa é de que a política monetária do Banco Central Europeu permaneça acomodatícia nos próximos anos, de modo a viabilizar a retomada do nível de atividade.
Contudo, apesar da importância da política monetária expansionista para estimular a economia da zona do euro, é importante destacar o efeito causado em sentido contrário pela política fiscal. As medidas de redução do déficit das contas públicas de alguns países da união monetária seguirão dificultando a recuperação de suas economias, visto que os gastos públicos representam aproximadamente um quinto do PIB da região. Desse modo, a contração do balanço fiscal, sem que o setor privado tenha demonstrado ritmo consistente de recuperação, resulta em menor crescimento para essas economias e, consequentemente, em menor arrecadação dos governos, o que evidencia quão custoso e demorado será o processo de redução do endividamento desses países em relação ao PIB, mesmo com a política monetária mais expansionista.
Um efeito importante da política monetária expansionista realizada pelo BCE tem sido a desvalorização do euro, movimento ainda acentuado pela recente valorização do dólar, decorrente da especulação de parte do mercado a respeito de uma possível redução do programa de compra de ativos do Fed (banco central dos Estados Unidos), após alguns membros do FOMC demonstrarem-se favoráveis à reversão da medida. Dessa forma, a política monetária atua tanto no sentido de elevar as expectativas de inflação, impulsionando o nível de atividade no momento presente, quanto no incentivo às exportações e concomitante encarecimento das importações, ao desvalorizar o câmbio, beneficiando a balança comercial da região.
Todavia, apesar do impacto sobre o nível de atividade da união monetária, consideramos que a desvalorização do euro tenha maior relevância para países como a Alemanha, que apresentam maior nível de produtividade e mantêm aquecido o mercado de trabalho. Em contrapartida, a implicação de uma moeda mais desvalorizada deve ser menor para países como Grécia, Portugal,
consistindo em entrave à retomada dos investimentos, não alterando o cenário de longo período de recuperação para essas economias.
3,0% 0,4% 2,0% 1,4% -0,6% -0,3% 1,1% 1,4% 1,6% 1,6% 1,6% -1,0% -0,5% 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% 3,5%
PIB da Zona do Euro- Variação Real (a/a)
Fonte: FMI *expectativas FMI
Projeções*
Ainda em sua fase inicial, “Abenomia” começa a demonstrar resultados
Ao mesmo tempo em que permanece o apelo pela austeridade fiscal na zona do euro, combinado a um relativo conservadorismo do BCE, o Japão tem insistido em um programa de crescimento econômico baseado em medidas de política fiscal, política monetária e reformas estruturais, conhecido como “Abenomia” (em referência ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe). As “três setas” que sustentam o programa englobam medidas no intuito de reverter a deflação no país, estipulando uma meta de inflação de 2,0%, que será obtida a partir de uma forte expansão da base monetária, que o governo japonês pretende dobrar até o final de 2014.
Ainda que o programa seja recente, alguns efeitos sobre o nível de atividade já podem ser percebidos. O PIB do Japão apresentou crescimento anualizado de 3,5% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o 4T12. Os gastos com consumo das famílias expandiram 3,7% na mesma base de comparação, com forte elevação dos investimentos do setor privado (excluindo estrangeiros), de 7,9%. A desvalorização do iene no período favoreceu o resultado da balança de bens e serviços do país no período, sendo que as exportações apresentaram crescimento de 16,1%, enquanto as importações de bens e serviços registraram menor variação, de 4,0%.
Apesar do curto período de implementação para avaliar os impactos do programa adotado, seu efeito sobre a economia japonesa tem se mostrado positivo, com elevação da confiança de consumidores e empresários, na expectativa de pressão inflacionária, haja vista a magnitude das medidas de expansão monetária e fiscal. Contudo, as projeções de crescimento para a economia do país permanecem cautelosas, a despeito do bom humor causado com o resultado do 1T13, em função das incertezas ainda existentes sobre efeitos colaterais que poderão ocorrer devido ao forte aumento da liquidez monetária, bem como sobre a eficácia dos estímulos fiscais a serem adotados.
-1,0% -5,5% 4,7% -0,6% 2,0% 1,58% 1,41% 1,05% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0%
Japão - Produto Interno Bruto (a/a)
Fonte: FMI *Expectativas FMI
Cenário Interno
Varejo reforça tendência de crescimento moderado neste ano
As vendas no varejo apresentaram recuo de 0,1% em março, na comparação com o mês anterior, segundo dados do IBGE. O resultado foi superior à estimativa média do mercado, que indicava contração de 0,5% do varejo no mês. O avanço foi de 4,5% ante março de 2012 e, no primeiro trimestre de 2013, observou-se crescimento de 3,5% no volume de vendas, na comparação com o mesmo período do ano passado.
O segmento de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apresentou o segundo recuo consecutivo, com queda de 2,1% do volume de vendas, na comparação mensal. Contudo, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o segmento foi beneficiado pela antecipação da Páscoa neste ano (no ano passado, a data foi em abril), apresentando crescimento de 4,0% no período.
O segmento de Móveis e eletrodomésticos, apesar do avanço na comparação mensal (de -0,2% para +0,7%), registra recuo ante o mesmo mês do ano anterior, de 0,8%, como resultado da antecipação de parte da reposição da alíquota de IPI para móveis e linha branca, visto que o incentivo será revertido em julho de 2013.
O comércio varejista ampliado apresentou avanço de 0,2% em março, após registrar recuo de 0,7% em fevereiro, acumulando variação de 3,8% no volume de vendas no primeiro trimestre, ante o mesmo período do ano anterior. Destacou-se, no mês, a expansão de Veículos, motos, partes e peças (de -1,6% para +1,9%), como consequência do recuo nos preços de automóveis. O segmento de Material de construção registrou crescimento de 0,7% no volume de vendas, mesma variação observada em fevereiro.
Como temos enfatizado, os recentes resultados divulgados para as vendas no varejo reforçam um cenário de menor crescimento para o setor neste ano, influenciado pelos seguintes fatores:
comprometimento da renda das famílias com juros e principal de dívidas, o que afeta principalmente as vendas de bens duráveis; (iii) menor reajuste do salário mínimo em 2013, na comparação com o ano passado; e (iv) desaceleração na geração de novos empregos.
No entanto, apesar do menor avanço neste ano, o consumo das famílias deve continuar sustentando o crescimento da economia brasileira, ainda impulsionado pelo baixo nível de desemprego e pelos ganhos reais dos rendimentos de trabalhadores obtidos de maneira mais significativa em anos anteriores.
Após a divulgação dos dados do IBGE, indicando recuo nas vendas no varejo e expansão de 0,7% da produção industrial em março, o IBC-Br (índice de atividade do Banco Central e proxy mensal para o PIB) apresentou alta de 0,72% entre fevereiro e março, na série com ajuste sazonal. Segundo o índice, o nível de atividade da economia brasileira apresentou avanço de 1,05% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o 4T12. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o avanço foi de 1,79% nos três primeiros meses de 2013.
Esses dados mais favoráveis para a economia brasileira devem ser confirmados no dia 29 de maio, com a divulgação, pelo IBGE, do PIB referente ao primeiro trimestre de 2013. Segundo antecipou a Pesquisa Industrial Mensal, realizada pelo próprio Instituto, a recuperação da economia brasileira no trimestre deve ser impulsionada pela retomada dos investimentos, segundo demonstrou o desempenho da indústria de bens de capital no período.
100 105 110 115 120 125 130 135
fev/10 jun/10 out/10 fev/11 jun/11 out/11 fev/12 jun/12 out/12 fev/13
Indicadores de Atividade Econômica (com ajuste sazonal)
IBC-Br Vendas no Varejo
Produção Industrial
Base: média 2009 = 100
Mario Roberto Mariante, CNPI* mmariante@plannercorretora.com.br Luiz Francisco Caetano, CNPI
lcaetano@plannercorretora.com.br Gustavo Pereira Serra, CNPI gserra@plannercorretora.com.br Victor Luiz de Figueiredo Martins, CNPI vmartins@plannercorretora.com.br Ricardo Tadeu Martins, CNPI rmartins@plannercorretora.com.br Cristiano de Barros Caris
ccaris@plannercorretora.com.br Silvia Chandrowski Zanotto, CNPI-T
szanotto@plannercorretora.com.br Gustavo Lobo, CNPI-T
globo@plannercorretora.com.br Andre Seiti Tanaka
atanaka@plannercorretora.com.br
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