PRÁTICAS DE PEDAGOGIA DA ALTERNANCIA DO PROGRAMA
PROJOVEM CAMPO – SABERES DA TERRA NO ESTADO PARÁ
Maria Celeste Gomes de Farias
Secretaria de Estado de Educação do Pará
celechar@hotmail.comLucélia Leite Ferreira
Secretaria de Estado de Educação do Pará
lucélia.leite@hotmail.com
RESUMO
O presente artigo apresenta dados da prática educativa desenvolvida no Programa
Projovem Campo – Saberes da Terra em municípios do Estado do Pará. Faz - se uma
discussão do modelo da pedagogia da alternância que embasa a organização da estrutura
curricular do Programa, em Leis como n° 9394/1996 de Diretrizes e Base da Educação
Nacional e Diretrizes Operacionais para a Escolas do Campo. Ressalta-se contribuição
da pedagogia da alternância para a qualidade da educação do campo, pois leva em
consideração a realidade do homem do campo, no que tange a diversidade de saberes, a
forma organizativa de trabalho e a heterogeneidade. Além de contribuir para o
desenvolvimento da pesquisa e do trabalho como princípio educativo.
PALAVRAS – CHAVE: Educação do Campo; Projovem Campo- Saberes da
Terra; Pedagogia da Alternância
1- Ações do Programa Projovem Campo/ Saberes da Terra no Pará
A educação do campo é uma concepção político pedagógica voltada para dinamizar a ligação dos seres humanos com a produção das condições de existência social, na relação com a terra e o meio ambiente, incorporando os povos e o espaço da floresta, da pecuária, das minas, da agricultura, os pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas (BRASIL, 2002) que precisa se pensada numa tríade: campo, políticas públicas e educação(CALDART, 2007, p. 2)
A construção histórica de pela educação do campo, remonta a década de 1960, quando os movimentos sociais como Sindicatos, Pastorais da Terra passaram a reivindicar e atuar diretamente na formação política das lideranças do campo, na luta pela conquista de direitos sociais básicos como: acesso a terra; água; saúde; moradia e educação entre outras (CALDART,
2007). A autora ressalta que foi na década de 80 que os movimentos sociais de luta pela educação do campo ganharam “visibilidade” devido entre outros fatores ao processo de redemocratização política do país que proporcionou momentos como o debate pela Constituição Federal de 1988. Observa-se ainda que a Constituição Federal de 1988 vem tentando consolidar o compromisso do Estado e da sociedade brasileira em promover a educação para todos, garantindo o direito ao respeito e à adequação da educação às singularidades culturais e regionais, por meio de políticas públicas que devem ser implementadas por parte das esferas de poder.
É importante destaca a atuação de diferente movimento sociais no processo histórico da busca por políticas públicas de educação no campo. Enfatiza-se alguns eventos educacionais fundamentais na articulação por políticas educativas para o acesso a educação com qualidade aos povos do campo. Dessa forma, foi realizado em Julho de 1997, em Brasília o I Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária _ I ENERA promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST em parceria com entidades como a Universidade de Brasília – UnB; o Fundo das Nações Unidade para Infância – Unicef e a Organização das Nações Unidades para Educação, Ciência e Cultura – Unesco.
Em 1997 por ocasião do Encontro do ENERA foi as entidades participantes assumiram o compromisso de realizar a I Conferencia Nacional Por Uma Educação Básica do Campo que ocorreu de 27 a 31 de Julho de 1998 em Luziânia- GO. A I Conferencia Nacional Por Uma Educação do Campo foi realizada pelas seguintes instituições: a Universidade de Brasília – UnB; o Fundo das Nações Unidade para Infância – Unicef; Organização das Nações Unidades para Educação, Ciência e Cultura – Unesco e Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
A partir desse contexto os movimentos sociais vêm cada vez mais expondo à sociedade de um modo geral, a realidade de negação de direitos sociais aos quais as populações do campo são submetidas. Assim, os problemas da educação do campo são muitos e graves:
Faltam escolas para atender a todas as crianças e jovens; Ainda há muitos adolescentes e jovens fora da escola;
Falta infra - estrutura nas escolas e ainda há muitos docentes sem formação necessária;
Falta uma política de valorização do magistério; Falta apoio às iniciativas de renovação pedagógica;
Falta financiamento diferenciado para dar conta de tantas faltas; Os mais altos índices de analfabetismo estão no campo;
Currículos são deslocados das necessidades e das questões do campo e dos interesses dos seus sujeitos. (I CONFERENCIA NACIONAL POR UMA EDUCAÇÃO BÁSICA DO CAMPO, p. 10).
Ainda no destaque de espaços de debates na busca por construção de políticas públicas educacionais do campo. Ressalta-se II Conferência de Educação do Campo em 2004 que foi possível contar com a participação de vários atores sociais imbuídos do interesse para discutir e elaborar políticas públicas educacionais voltadas para o campo. Assim, os princípios foram reafirmados e a preocupação maior vem no sentido de reivindicar perante aos governos para que propicie a construção de forma participativa de políticas que atendam a realidade diversa do campo, ou seja, é preciso que os gestores compreendam a importância de se implementar ações no interior dos sistemas de ensino que atendam as especificidades do campo, pois os movimentos em defesa da educação do campo entendem que a mesma precisa ser garantida pelo Estado por ser a educação um direito constitucional, o slogan é “Educação do Campo direito nosso dever do Estado”. Foi as ações do sujeitos históricos que integram os diferentes movimentos sociais na luta por política educacionais que deu origem do movimento Por Uma Educação do Campo com as seguintes características:
Um dos traços fundamentais que vem desenhando a identidade deste movimento por uma educação do campo é a luta do povo do campo por políticas públicas que garantam o seu direito à educação e a uma educação que seja no e do campo. No: o povo tem direito a ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada a sua cultura e as suas necessidades humanas e sociais ( CALDART, 2004, P.149).
No bojo de várias ações da sociedade e do Estado brasileiro no ano de 2005
o Ministério da Educação por meio da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) que integra a Coordenação Nacional de
Educação do Campo criou a Primeira versão do Programa
1Saberes da Terra que foi
implementada em vários Estados do Brasil. Destinado a fazer formação em nível de
Ensino Fundamental integrada com Qualificação Social e Profissional de jovens
agricultores na faixa etária de 15 a 29 anos que vivem e trabalham no campo.
Atualmente o Programa encontra-se na sua segunda versão (2008 – 2010) e
denomina-se Projovem Campo- Saberes da Terra e atende jovens de 18 a 29 anos que não
concluíram o ensino fundamental. O Programa visa ampliar o acesso da educação a
essa
parcela
da
população
historicamente
excluída
do
processo
educacional, respeitando as características, necessidades e pluralidade de gênero,
1Programa Saberes da Terra foi iniciado em dezembro de 2005 em 12 Unidades da Federação (BA, PB,
PE, MA, PI, RO, TO, PA, MG, MS, PR e SC) em colaboração com secretarias estaduais de educação, representações estaduais da União Nacional dos Dirigentes Municipais em Educação – UNDIME, Associação de Municípios Cantuquiriguaçu, entidades e movimentos sociais do campo integrantes dos comitês e fóruns estaduais de Educação do Campo.
étnico-racial, cultural, geracional, política, econômica, territorial e produtiva dos
povos do campo
2(MEC, 2009). O Programa atende prioritariamente jovens
trabalhadores agricultores nos municípios que fazem parte do Programa Territórios
3da
Cidadania.
No Estado do Pará a segunda versão do Projovem Campo Saberes da Terra vem
sendo coordenado pela Secretaria de Estado de Educação/SEDUC por meio da
Coordenação de Educação do Campo, das Águas e das Florestas/CECAF responsável
pela gestão administrativa e pedagógica e pelo Instituto de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará – IFPA que é a Instituição de Ensino Superior responsável em
promover a formação continuada a nível de especialização (para os que já possuem a
graduação) e aperfeiçoamento (para os que possuem ensino médio) aos educadores que
atuam diretamente com os alunos em sala de aula. O Programa conta também com a
parceria de diversas instituições que fazem parte do Fórum Paraense de Educação do
Campo.
No que se refere à segunda versão do Programa, são atendidos cerca de 36
municípios paraenses nas diversas Regiões de Integração. Atendendo um total de 2.100
alunos e aproximadamente de 300 educadores.como fica evidente no Quadro 01 abaixo:
Quadro 01: Municípios Atendidos pelo Programa Projovem Campo- Saberes da
Terra
REGIÃO DE INTEGRAÇÃO
MUNICÍPIOS Baixo Amazonas Juruti e Santarém
Xingu ( Altamira) Altamira, Medicilândia e Porto de Móz
Lago do Tucuruí Itupiranga
Marajó Breves, Chaves,Ponta de Pedras, Portel,São Sebastião da Boa Vista
Rio Caeté Bragança, Augusto Correa , Salinópolis, Primavera, Santa Luzia do Pará, Viseu
Carajás Eldorado dos Carajás, Marabá e São Domingos do Araguaia
2
Estão sendo considerados povos do campo: agricultores/as familiares, assalariados, assentados ou em processo de assentamento, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, remanescentes de quilombos, entre outros povos que lutam pela afirmação dos seus direitos do campo no diversos biomas do território nacional
3
O Programa Territórios da Cidadania foi criado em 2008 e tem como objetivos promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável.
http://www.territoriosdacidadania.gov.br
Rio Guamá Igarapé Açu, Inhangapi, Magalhães Barata, Marapanim, Santa Izabel do Pará e Vigia
Tocantins Cametá, Igarapé Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju e Tailândia
Rio Capim Concórdia do Pará, Mãe do Rio, Tomé Açu e Ipixuna do Pará Fonte: SEDUC/CECAF
Na busca de empoderamento do jovem do campo, os Saberes da Terra trabalha
no sentido de garanti a qualidade de vida e a integridade humana das populações. Para
tem como objetivos:
1. Formar Jovens Agricultores/as, na faixa etária de 18 a 29 anos, em nível de ensino
fundamental e qualificação social e profissional inicial para atuar junto às suas
comunidades no que se refere à diversificação das atividades da agricultura familiar;
2. Qualificar jovens agricultores/as social e ambientalmente, a fim de valorizar e
fortalecer o modo de organização social do campo e buscar a melhoria da qualidade de
vida das famílias camponesas, potencializando assim a pluralidade e diversidade de seus
saberes e dos conhecimentos técnicos e científicos;
3. Priorizar, no processo de formação dos educandos/as do campo um currículo
integrado baseado nos princípios da sustentabilidade, do trabalho e suas formas de
organização e gestão como eixo estruturante dos itinerários formativos;
4. Fortalecer o desenvolvimento de propostas pedagógicas e metodologias de
estudo/trabalho adequadas à educação de jovens e adultos no campo, instigando
educadores a participarem ativamente do processo de ensino/aprendizagem;
5. Viabilizar itinerários formativos que articulem teoria e prática como componentes
indissociáveis;
6. Fomentar por meio do processo de ensino aprendizagem o desenvolvimento de
práticas que potencialize a agricultura familiar dos sujeitos do campo. Fortalecendo a
diversidade de suas identidades, culturas, etnias e gênero;
7. Oportunizar formação continuada a educadores/as do campo em metodologias e
princípios políticos pedagógicos voltados às especificidades locais e regionais.
Foto n° 1- Projovem Campo Saberes da Terra - Augusto Correa Foto n° 2- Projovem Campo Saberes da Terra- Bragança
A foto de n° 1 retrata atividades do Tempo Comunidade no processo de plantação e
colheita de pepino pela aluna do Programa no Município de Augusto Correa.
Na Foto de n° 2 é possível percebermos momentos de socialização do Tempo
Escola no Município de Bragança.
Foto n° 3- Projovem Campo Saberes da Terra – Vigia
A Foto de n° 3 demonstra atividades do Tempo Escola no Arco Ocupacional -
Extrativismo no Município de Vigia.
Dentre os vários pressupostos políticos pedagógicos do Programa Saberes da
Terra a educação dos jovens do campo como direito, o reconhecimento, a valorização e
legitimação das diferenças culturais e étnicoraciais. Além da educação como estratégias
de fortalecimento e desenvolvimento sustentável.
A metodologia do Programa Projovem Campo Saberes da Terra é no modelo de
alternância que consiste em processo educativo no qual o aluno alterna períodos de
aprendizagem na família com períodos na escola. Nessa sistemática o tempo escolar e o
tempo comunidade são interligados por meio de instrumentos pedagógicos específicos
capazes de construir uma harmonia entre as comunidades e a ação pedagógica. No
tempo escola o aluno estuda em tempo integral e geralmente fica em regime de
internato. Já o tempo comunidade é destinado a estudos e pesquisas da realidade local
que devem servir como base para o processo pedagógico no período de tempo escola.
A educação por alternância está amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 que versa no art.23 as diferentes formas de organização da Educação Básica.
A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar § 2º. O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. (Art. 23º).
No aspecto curricular a Lei n° 9.394/1996 expõe que o currículo do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (art. 26).
Reconhecendo as especificidades da Educação do Campo a LDB estabelece no seu Art. 28º que:
Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria
incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação ao trabalho na zona rural.
A simultaneidade entre trabalho e escolarização possibilita a permanência dos estudantes na escola o que torna a adequação do calendário escolar um fator determinante para o acesso e progressão dos estudantes no sistema educacional. Dessa forma o art. 39 expõe que a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional. Ainda art. 40 a LDB expõe que a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
O artigo 41 garanti que o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. No cumprimento dos artigos da LDB o Decreto nº 5.154/2004 determina que a educação profissional será desenvolvida por meio de cursos e programas de formação inicial e continuada nos formatos capacitação, aperfeiçoamento, especialização e atualização em todos os níveis de escolaridade, ofertados segundo itinerários formativos, objetivando o desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social e que os cursos ofertados deverão articular-se preferencialmente, com cursos de educação de jovens e adultos, objetivando a qualificação para o trabalho e a elevação do nível de escolaridade do trabalhador, o qual, após a conclusão com aproveitamento dos referidos cursos, fará jus a certificados de formação inicial ou continuada para o trabalho (Art. 3º 2°§).
A Resolução 01/2002 do CNE/CEB que instituiu as Diretrizes Operacionais para as Escolas de Educação Básica do Campo no artigo 2° expõe um conjunto de princípios e de procedimentos que visam a adequar o projeto institucional das escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Ensino Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a formação de professores em Nível Médio na modalidade normal.
A Resolução 01/2002 do CNE/CEB que estabeleceu as Diretrizes Operacionais do Campo no artigo 3º expõe que o Poder Público, considerando a magnitude da importância da educação escolar para o exercício da cidadania plena e para o desenvolvimento de um país cujo paradigma tenha como referências: a justiça social, a solidariedade e o diálogo entre todos,
independentemente de sua inserção em áreas urbanas ou rurais, deverão garantir a universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível Técnico.
A Educação do Campo pelo modelo de alternância sustenta-se na valorização da vida do campo com o objetivo de construir políticas públicas que garantam o direito de trabalhar e estudar no campo satisfatoriamente, o que significa construir um paradigma solidário e sustentável nas relações entre a educação e os demais aspectos culturais e produtivos dos povos do campo. Como fica evidente no Art. 2º, § Único ao apresentar uma compreensão da Educação do Campo que vincula a identidade da escola à valorização da vida camponesa:
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país.
O Artigo 7 da Resolução CNE/CEB nº 1 de 03/04/2002 responsabiliza os respectivos sistemas de ensino, por meio de seus órgãos normativos, regulamentares as estratégias específicas de atendimento escolar do campo e a flexibilização da organização do calendário escolar, salvaguardando, nos diversos espaços pedagógicos e tempos de aprendizagem, os princípios da política da igualdade.
No caso especifico do Estado do Pará temos o Reconhecimento da Pedagogia da Alternância no Estado do Pará por meio do PARECER: Nº 605/2008-CEE/PA em 01/01/2009 que apresenta um diagnóstico da implantação da educação por alternância em escolas da educação básica em diversos municípios paraense como o atendimento nos Centros Familiares de Formação por Alternância-CEFFAS.
Ainda no contexto do Estado do Pará a Resolução de n° 01 de 2010 do Conselho Estadual de Educação –CEE que regulamenta a Educação Básica, expõe no Capítulo IX as normas para a Educação do Campo nas escolas estaduais e garanti a organização pelo modelo de alternância ao expor:
Art. 96. A oferta de Educação Básica para a população rural, em suas
variadas formas de produção da vida – agricultores familiares, extrativistas, pescadores Artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas e outros – no Sistema Estadual de Ensino do Pará deverá ser promovida
mediante à implementação das adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região do Estado, especialmente:
I. conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos no meio rural;
II. organização escolar própria, incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;
III. adequação à natureza do trabalho no meio rural.
§ 1º Será permitida a organização de experiências pedagógicas,
admitindo-se, para a Educação do Campo, a utilização de metodologias e duração diferenciadas, desde que aprovadas pelo Conselho Estadual de Educação.
§ 2º Fica assegurada, no Sistema Estadual de Ensino do Pará, a
possibilidade de implementação de propostas pedagógicas fundamentadas na metodologia da Pedagogia da Alternância, nos termos da regulamentação expedida pelo Conselho Estadual de Educação, bem como das normas nacionais em vigor.
Os princípios curriculares que ancoram o Programa Projovem Campo – Saberes da
Terra prima pela Flexibilidade no que diz respeito a produção do conhecimento;
interdisciplinaridade a favor de conhecimentos integrados; pluralidade de Saberes e
Linguagens que incorporam os modos e elementos econômicos, sociais, culturais,
ambientais, as lutas e memória coletiva dos povos do campo; o Trabalho Como Principio
Educativo entendido por natureza a atividade constitutiva do processo de humanização de
homens e mulheres; Pesquisa como princípio educativo em que a indagação, inquirição, a
busca de informação, que instiga os sujeitos a problematizarem a realidade e investigarem é
condição imperiosa em formação de base interdisciplinar; Práxis onde a indissociabilidade
teoria e prática como eixo articulador do currículo é indispensável na perspectiva de
formação de educandos/as comprometidos com as lutas do seu tempo ( BELÉM, 2009).
As Fotos de n° 4 e 5 evidenciam o processo de plantação de Horta no Município
de Vigia.
Baseado na flexibilidade de organização dos tempos e espaços de aprendizagem
que a legislação educacional possibilita o Programa Projovem Campo/ Saberes da Terra
é composto por um total de 2.400 horas, das quais 1.800 são destinadas ao Tempo
Escola – TE e 600 ao Tempo Comunidade TC. A carga horária é distribuída pelos 4
Eixos Temáticos (Agricultura familiar: identidade, cultura, gênero e etnia; Sistema
de Produção e Processo de Trabalho no Campo; Cidadania, organização social e
Políticas Públicas, Econômica Solidária e Desenvolvimento sustentável e solidário
com Enfoque territorial) todos permeados pelo Eixo Articulador Agricultura
Familiar e Sustentabilidade na Amazônia. É importante destacar que todos os Eixos
Temáticos são perpassados pelas Áreas de Conhecimentos como fica evidente no
Quadro 02 abaixo:
Quadro 02 – Desenho Curricular e Organização do Tempo
Eixo Articulador Eixos Temáticos Áreas do
Conhecimento Tempo Escola (TE) Tempo Comuni- dade (TC) CH Total AGRICULTURA FAMILIAR E SUSTENTABILID ADE NA AMAZONIA
Agricultura familiar: identidade,
cultura, gênero e etnia Linguagem, Códigos e suas tecnologias, ciências humanas, Ciências da Natureza e Matemáticas, Ciências Agrárias 400h 100h 500h
Sistema de Produção e Processo de Trabalho no Campo
500h 250h 750h
Cidadania, organização social e Políticas Públicas
400h 100h 500h
Economica Solidária 200h 50h 250h
Desenvolvimento sustentável e solidário com Enfoque territorial
300h 100h 400h
Carga Horária Total 1.800h 600h 2.400h
Fonte: Projeto ProJovem Campo –Saberes da Terra Belém/Pará/2009.
Dentre os vários princípios que regem o currículo do Programa Projovem
Campo –Saberes da Terra, destaca-se o da pesquisa como principio educativo
práticas socioculturais de vivencias democráticas e solidárias (MEC, p.24, 2008).
Dessa forma, busca-se a participação ativa de todos os sujeitos (alunos, educadores e
comunidade) envolvidos no processo de aprendizagem. Além de primar pela interação
entre teoria e prática, escola –família e comunidade.
Nesse sentido, o Programa Projovem Campo- Saberes da Terra referendado na
metodologia da alternância possui um Caderno de Percurso Formativo (ME, 2008) que
apresenta os elementos metodológicos de organização dos espaços formativos ( tempo
Escola e Tempo Comunidade) que consiste em três passos básicos:
a) o Plano de Pesquisa que deve ser construído no tempo escola e consiste em
um roteiro com questões de pesquisa relacionadas aos conhecimentos da realidade e
saberes locais e envolve a organização da pesquisa e por a aplicação da pesquisa no
período de tempo comunidade
b) O Círculo de Diálogos que é um conjunto de elementos formativos
vivenciados no Tempo Escola e contempla diversos processos pedagógicos
referenciados na pesquisa como princípio educativo. Destacam-se a sistematização da
pesquisa, realização das Jornadas Pedagógicas e a produção de sínteses.
c) Partilha de Saberes consiste no diálogo dos educandos e educadores com as
famílias e com a comunidade, na perspectiva de compartilhar os saberes científicos
adquiridos e potencializar a melhoria da qualidade das relações sociais e produtivas no
campo.
A Estrutura do Percurso Formativo do Programa Saberes da Terra encontra
sistematizado abaixo no Quadro 03
Quadro 03: Sintetiza o Percurso Formativo do Programa do Projovem
Campo- Saberes da Terra.
Componentes
Formativos
Atividades
Tempo Formativo
Plano de Pesquisa
a.1. Definição das questões de
Pesquisa
Tempo Escola
a.2. Organização da Pesquisa
Tempo Escola
a.3. Realização da Pesquisa
Tempo
Comunidade
b.1. Sistematização da Pesquisa
Tempo Escola
Círculo de Diálogos
b.2. Realização das Jornadas
Pedagógicas
Tempo Escola
b.3. Produção de Sínteses
Tempo Escola
Partilha de Saberes
c.1.Comunicação dos resultados da
pesquisa por meio de atividades
variadas
Tempo
Comunidade
Fonte: Cadernos Pedagógicos do Projovem Campo – Saberes da Terra ( Percurso Formativo)Foto n° 6- Projovem Campo Saberes da Terra- Breves Foto n° 7- Projovem Campo Saberes da Terra- Breves
A Foto de n° 6 mostra o processo de plantação de sementes no Município de
Breves na Região do Marajó. Já a Foto de n° 8 evidencia alunos em sala de aula no
período do Tempo Escola.
3- Considerações Gerais
Fortalecer políticas públicas de Educação do Campo e de Juventude que
oportunizem a jovens agricultores (as) familiares excluídos do sistema formal de ensino
a escolarização em Ensino Fundamental na modalidade de Educação de Jovens e
Adultos, integrado à qualificação social e profissional. Promover a certificação dos
educandos nos municípios partícipes do Programa. Além de realizar a formação de
educadores por meio da metodologia da alternância.
Contribuir para o fortalecimento de políticas públicas da educação do campo no
Estado do Pará.
Os acompanhamentos pedagógicos que a Coordenação de Educação do Campo
da Secretaria de Estado de Educação do Pará vem fazendo junto as turmas nos mostram
que apesar das dificuldades de ordem pedagógica, financeira, de estrutura física das
salas de aula, da falta de transportes para os alunos nos Tempo Escola e Tempo
Comunidade é possível percebermos que o Programa vem possibilitando o
autoconhecimento e resgate da auto-estima dos educandos.
A metodologia da alternância na perspectiva de oportunizar vivências aos/as
jovens nos tempos formativos, que articulam trabalho e estudo, escola e família no lote,
integrando desse modo escola, família e comunidade. Vem possibilitando a valorização
das histórias de vida e da memória coletiva resgatando as trajetórias dos/as jovens e de
suas famílias, contextualizando as, resgatando e valorizando suas formas de resistência
e produção da existência afirmando o sentido de pertencimento aos saberes da terra, da
vida.
Referencias:
BRASIL. Ministério da Educação. Projeto Base – Projovem Campo- Saberes da
Terra. Brasília, 2009.
---. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização. Cadernos Pedagógicos do Projovem Campo –Saberes da Terra (
Percurso Formativo), Brasília, 2008.
______ . Ministério da Educação. Diretrizes operacionais para a educação básica
nas escolas do campo. Resolução CNE/CEB N. 1, de 3 de Abril de 2002. MEC,
Brasília, 2003.
---, Lei n° 9.394/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação Básica do Campo – A Escola do Campo em Movimento. Vol. 03-2007.
_________, Roseli. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em
construção. In: ARROYO, Miguel, CALDART, Roseli e MOLINA, Mônica C.
(organizadores) Por Uma Educação do Campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
PARÁ. Conselho Estadual de Educação – CEE. RESOLUÇÃO N° 001 - Dispõe sobre
a regulamentação e a consolidação das normas estaduais e nacionais aplicáveis à
Educação Básica no Sistema Estadual de Ensino do Pará. 2010
PARÁ. Conselho Estadual de Educação – CEE.
PARECER: Nº 604/2008 que regulamenta osDias letivos para a aplicação da Pedagogia de Alternância nos Centros Familiares
de Formação por Alternância (CEFFAS) no Estado do Pará
II CONFERÊNCIA NACIONAL POR UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO, Luziânia, 2004- GO.
Anais...