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O Banco da Terra e os beneficiários do programa em Lebon Regis

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Academic year: 2021

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O Banco da Terra e os beneficiários do programa em Lebon Regis

Hanen Sarkis Kanaan1

Resumo: Este trabalho discute a implantação e a situação das famílias assentadas pelo programa de assentamento do Banco da Terra no município de Lebon Regis, localizado na região Oeste do Estado de Santa Catarina. Nesta região, há uma presença forte de muitos assentamentos do MST. Tento como base um resgate histórico luta no campo no Brasil.

Palavras chave: Banco da Terra, reforma agrária, acampamento.

Abstratc: This work discusses the implantation and the situation of the families settled by program of settlement of Bank of Land in the city of Lebon Regis, located at West Region of Santa Catarina state. In that region, there is a great presence of MST`s settlements. It’s used as basis a historical rescue of the struggles on camps in Brazil.

Key words: Bank of Land, agrarian reform, settlement.

Os conflitos pela pose da terra sempre fizeram parte da história, da história de nosso país, nosso processo de colonização baseado na expropriação de terras indígenas, é um reflexo da realidade que vivemos atualmente. E ao longo da história se tentou encontrar medidas que amenizassem os conflitos. Ainda no período monárquico, a assembléia legislativa de São Paulo tentou aprovar a Lei de Terras em 1853, medida que tinha como objetivo possibilitar gratuitamente o acesso à terra a negros forros a trabalhadores rurais e camponeses pobres. A lei não foi aprovada na integra e os conflitos por terra permaneceram, principalmente com a chegada de colonos europeus a partir da segunda metade do século XIX, que também queriam conquistar terras. Ainda no inicio do período republicano, dois grandes conflitos por terra, marcam o cenário político de social da época. A guerra de Canudos no sertão da Bahia e o Contestado em Santa Catarina, movimentaram tropas federais de todos os cantos do país para acabar com a revolta de camponeses que lutavam para permanecer nas terras que haviam conquistado. Os conflitos citados se transformaram em massacres de camponeses, mas não atingiu seu objetivo principal que era servir de exemplo para impedir futuros conflitos. O sonho do acesso a terra e a uma vida digna permaneceram e novos lideres inspirados em Antonio Conselheiro de Canudos e

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Lincenciada em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, especialista em Políticas Públicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina, membro do grupo de pesquisa IPPT, Instituições, Políticas Publicas e Trabalho desde 2003 e educadora da ETHCI- CUT. End. eletrônico: hanensc@gmail.com

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do Monge José Maria do Contestado, surgiam para organizar os trabalhadores rurais e camponeses que desejassem viver do trabalho no campo. Ainda na primeira metade do século XX, se organizaram no interior do país as liga camponesas, que teve principal líder Francisco Julião 2, tinham como objetivo inicialmente oferecer assistência funerária a esses trabalhadores rurais e aos camponeses que geralmente viviam em condições de pobreza extrema.

Na segunda metade do século XX a partir da década de 1960, o governo popular de Jânio Quadros e João Goulart começou a discutir um plano nacional de reformar agrária. Mas o sonho de justiça no campo mais uma vez não aconteceu. Os governos implantados a partir golpe militar de 1964 tinham outros planos para o programa nacional de reformar agrária, a meta agora era mandar colonizar para as regiões centro-oeste, norte e amazônica. Para que o plano obtivesse êxito foi criado um plano nacional de colonização que deslocou milhares de trabalhadores rurais e camponeses para o interior do país. Esse programa oferecia a terra, mas não às condições mínimas de infra-estrutura, como estradas, financiamentos bancários, escolas, hospitais assistência técnica agrícola para garantir a permanência, ou seja, a ocupação efetiva das terras. Apenas os grandes latifundiários conseguiram permanecer nessas regiões, já que eles tinham acesso a recursos públicos e apoio no governo. Nesse período o conflito no campo aumentou e centenas de trabalhadores rurais e camponeses foram mortos ou torturados. Como resposta ao aumento dos conflitos no campo em 1980 foi fundado o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Um movimento de expressão nacional que organizou ocupações de terras em todo o país. Colocando o conflito no campo do centro dos debates nacionais. Os governos posteriores ao o fim do regime, como resposta a pressão dos movimentos sociais, tentaram criar políticas publicas que garantissem o acesso a terra, mas a pressão dos latifundiários e suas ações no congresso nacional impediam que medidas de desapropriação de terras acontecessem em grande escala, porque para os ruralistas a terra simbolizava poder econômico político e social. Durantes os governos de José Sarney, Fernado Collor e Itamar Franco, pouco se fizeram para transformar a realidade no campo. As desapropriações aconteciam muito lentamente e poucas famílias se comparadas ao numero real de sem terra foram assentados. O conflito no campo é uma característica comum em países considerados

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periféricos como Brasil, Índia África do Sul a agricultura geralmente é um dos setores que movimenta a economia, valorizando-a ainda mais. Durante primeiro o Governo de Fernando Henrique Cardoso, a exemplo dos governos anteriores a situação pouco mudou, já que o objetivo implantação efetiva das políticas neoliberais naquele momento era. Apenas em seu segundo mandato em 2001em parceira com o banco mundial, se cria uma política publica nacional de “reforma agrária” o Banco da Terra. Esse programa foi implantado também na África do Sul e na Índia. No Brasil o programa foi implanto no segundo mandato de FHC, esta política de crédito agrícola se notabilizou por tentar solucionar a questão do acesso a terra e desmobilizar movimentos sociais de luta, especialmente o MST. Pelo projeto do Banco da Terra, o agricultor beneficiado pode conseguir até R$ 40 mil para adquirir a sua área de terra. O prazo de financiamento é de 20 anos, com três de carência entregando seus produtos ao Governo do Estado, que deve repassar o valor equivalente ao fundo. Os recursos para o financiamento do banco vêm inicialmente das contas de depósitos bancários não-recadastrados, contas inativas. A gestão financeira ficou a cargo do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que destinará os recursos de acordo com as orientações de um conselho curador, que reunirá os ministros de Política Fundiária, Agricultura, Orçamento e Desenvolvimento. A gestão do programa será de responsabilidade dos Estados e municípios, por meio de conselhos de desenvolvimento rural. Segundo informações no site do programa, o banco vai priorizar projetos que garantam a sustentabilidade da família na zona rural. As famílias beneficiadas serão apoiadas em seus investimentos para que consigam, rapidamente, as condições básicas de ingresso na agricultura familiar. No ano de 2003, como resposta a conflitos no campo na região oeste de Santa Catarina o Banco da Terra financiou lotes para 23 famílias ligadas ao MST que estavam acampadas em Fraiburgo. As famílias seriam assentadas em Lebon Regis município vizinho ao acampamento. Muitas destas famílias estiveram acampadas a mais de cinco anos, algumas já viviam há sete anos em de acampamentos do MST e segundo duas entrevistadas já tinham perdido a esperança de se assentarem pelo movimento. Como resposta aos acampados e estratégia de desestruturar o acampamento de Fraiburgo o INCRA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, organizou reuniões, oferecendo explicações sobre o programa e a facilidade que seria conseguir a terra, já que a área já estava disponível, durante as palestras tudo parecia

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muito fácil. Para se tornarem assentados só seriam necessários fazer o cadastro para o banco verificar a situação cadastral e comprovar o tempo de trabalho no campo, requisito básico para acessar o financiamento e ter a aprovação do crédito. Após as negociações entre o INCRA e o Banco do Brasil 23 famílias foram aprovadas e a possibilidade de conseguir a terra imediatamente fez com essas famílias abandonassem o movimento e ocupassem uma área que foi chamada de assentamento do Herval. Atualmente, após três anos de aquisição do lote e com a proximidade do término do período de carência do financiamento, a primeira parcela venceu em julho de 2006. A realidade apresentada no assentamento é bem diferente da proposta pelo INCRA as famílias têm enfrentado sérias dificuldades financeiras. Segundo elas, em nenhum momento o programa forneceu algum tipo de assistência que viabilizasse a permanência na terra. Duas famílias inclusive passaram o ilegalmente seus lotes para duas outras pessoas, vendendo-os por 15 mil reais. As famílias se mudaram para a periferia de Lebon Regis, e trabalham como diaristas no campo, voltando então à uma condição do que estavam antes de viverem no acampamento do MST, porque os que não conseguem pagar o empréstimo também não podem acessar nenhum tipo de programa de crédito agrícola e nem ser beneficiado por nenhuma política publica para o campo, já que estão com o nome “sujo”. Nos três anos em que estavam cobertos pela carência do financiamento os assentados tiveram acesso ao PRONAFE, para fazer bem feitorias na propriedade, e plantaram feijão, milho, cebola uma família optou pela lavoura de fumo um ano antes de vencer o prazo do financiamento na tentativa de obter recursos para pagar a primeira parcela. Nos três anos anteriores a vencimento da primeira parcela a região onde está o assentamento sofreu com uma forte estiagem que impossibilitou que tivessem alguma renda com a lavoura apenas quem optou pelo fumo está numa situação um pouco melhor. Atualmente estas famílias vivem o reflexo, dessa crise. devido à estiagem dos anos anteriores estão impossibilitadas de iniciar o pagamento do financiamento e correm o risco de perder a propriedade e ainda, de estarem impedidas de acessar outros programas de assentamento agrícola. Atualmente, após três anos de aquisição do lote e com a proximidade do término do período de carência do financiamento, as famílias têm enfrentado sérias dificuldades financeiras. Segundo elas em nenhum momento o programa forneceu algum tipo de assistência técnica que viabilizasse o desenvolvimento da propriedade e a permanência na terra. Para combater a concentração de terra os camponeses

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e trabalhadores rurais e pressionar o governo a desapropriar terras o MST e outros movimentos reivindicatórios no campo continuam organizaram em movimentos ao longo da história. O MST é um dos movimentos que lutam pelo direito de acesso a terra aos que nela querem produzir.

Referências:

DERENGOSKI, Paulo Ramos. Guerra do Contestado. Florianópolis: Insular, 2000. 25p. FERNANDES, M. B. Questão agrária, pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001. 65p. LISBOA, T. K. A luta dos sem-terra no oeste catarinense. Florianópolis: UFSC,1988. OLIVEIRA, A. de. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo, Contexto, 1991.

PIAZZA, Walter Fernando. A colonização de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli, 1988. (2ª ed.).

STÉDILE, João Pedro. A questão agrária no Brasil. São Paulo, Ed. Atual, 2ª ed., 1997. VALENTINI, Delmir José, Guerra do Contestado: Construção da Imagem do Caboclo. In,

História e Poder – a reprodução das elites em Santa Catarina.

VIANNA, Aurélio; VIEIRA, Maria Antonieta da Costa. Terra de trabalho e terra de negócio: estratégias de reprodução camponesa. Rio de Janeiro: CEDI, 1990.

Referências

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