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Lesões de pele causadas por Erysipelothrix rhusiopathiae em um feto suíno abortado -NOTA-

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ISSN 0103-8478

RESUMO

A infecção por Erysipelothrix rhusiopathiae tem distribuição mundial e se caracteriza por lesões de pele, endocardite vegetativa, artrite e problemas reprodutivos tais como aborto, nascimento de animais mortos e diminuição do tamanho da leitegada. Áreas circulares bem delimitadas e esbranquiçadas localizadas na pele ao redor dos olhos, face, escápula e trem posterior foram as principais alterações macroscópicas observadas em um feto suíno da raça Large White. Microscopicamente, essas lesões apresentavam perivasculite mononuclear multifocal moderada associada com bastonetes Gram-positivos. Os cultivos aeróbios de amostras de fígado, pulmão, conteúdo estomacal e pele revelaram crescimento de Erysipelothrix rhusiopathiae.

Palavras-chave: aborto, suíno, Erysipelothrix rhusiopathiae. ABSTRACT

Erysipelothrix rhusiopathiae infection has a

worldwide distribution and may be characterized by skin lesions, vegetative endocarditis, arthritis and reproductive problems such as abortion, increased stillbirths and smaller litter size. This report associates an aborted swine fetus with Erysipelothrix

rhusiopathiae infection. The main gross lesions observed in an

aborted swine fetus (Large White) were well circumscribed whitish areas in the skin of the periocular region, face, neck, scapula, and hindquarter. Microscopicaly, these lesions were characterized by mild mononuclear perivasculitis associated with gram-positive rods. Aerobic cultivation from samples of

lungs, liver, stomach content and skin revealed pure cultures of

Erysipelothrix rhusiopathiae.

Key words: abortion, swine, Erysipelothrix rhusiopathiae.

A erisipela ou ruiva é uma doença de distribuição mundial (PENRITH & SPENCER, 2004), de caráter hemorrágico e que usualmente cursa com lesões cutâneas, articulares, cardíacas ou septicemias em suínos (HOFFMANN & BILKEI, 2002). É causada pela bactéria Erysipelothrix rhusiopathiae, um bastonete Gram-positivo, anaeróbio facultativo, móvel, não-esporulado e que pode ser filamentoso (WOOD, 1999). Estima-se que 30-50% dos suínos são portadores da bactéria que infecta as tonsilas e outros órgãos linfóides sem causar sinais clínicos sistêmicos (HAESEBROUCK et al., 2004). Fatores tais como estresse de transporte, mudança de alimentação ou de temperatura podem predispor o aparecimento dos sinais (HAESEBROUCK et al., 2004). Existem pelo menos 22 sorotipos de Erysipelothrix sp. (EAMENS et al., 1988), os quais apresentam virulência variável. Entretanto, poucos estão associados com doença clínica (WOOD & HARRINGTON, 1978; EAMENS et al., 1988).

-NOTA-IDepartamento de Patologia Clínica Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9090,

91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: davetpat@ufrgs.br. *Autor para correspondência.

IILaboratório de Bacteriologia Clínica Veterinária, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. IIIDepartamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.

Lesões de pele causadas por Erysipelothrix rhusiopathiae em um feto suíno abortado

Caroline Argenta PescadorI Eduardo Conceição de OliveiraI Marcos José Pereira GomesII

Paulo Mota BandarraI Juliano de Souza LealI Pedro Miguel Ocampos PedrosoI

Luís Gustavo CorbelliniIII David DriemeierI*

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A patogenia da doença é complexa e não está claro se há envolvimento de toxinas. Entretanto, há indicações de que uma enzima denominada neuroaminidase seja responsável pelas lesões vasculares, pela formação de trombos e pela hemólise (WOOD, 1999). O reservatório natural mais importante de E. rhusiopathiae é o suíno doméstico (WOOD, 1999), que durante a infecção aguda pode eliminá-la nas fezes, urina, saliva e secreções nasais (WOOD, 1999; RADOSTITIS et al., 2003). Suínos de todas as idades podem se infectar, mas animais entre 2 e 12 meses e porcas prenhes são as categorias mais susceptíveis (WOOD, 1999). Em um rebanho, tanto casos esporádicos quanto diversos casos de doença septicêmica aguda podem ocorrer. A bactéria permanece viável no solo, na água, na cama e nos alimentos (RADOSTITIS et al., 2003).

O diagnóstico clínico de erisipela é considerado fácil, quando há lesões de pele consideradas patognomônicas (WABACHA et al., 1998). Entretanto, septicemia aguda ou subaguda sem lesões características na pele podem ser confundidas com peste suína africana e infecções sistêmicas por

Salmonela spp., Streptococcus spp. e Pasteurella spp.

(WABACHA et al., 1998). Além de problemas septicêmicos, a infecção por Erysipelothrix

rhusiopathiae também pode ocasionar transtornos

reprodutivos caracterizados por endometrite, aborto (PENRITH & SPENCER, 2004), mumificação fetal, aumento da natimortalidade e nascimento de leitegadas reduzidas (HOFFMANN & BILKEI, 2002). Este relato descreve um caso de aborto suíno por E. rhusiopathie. Um feto suíno abortado, fêmea, com 112 dias de idade gestacional, foi encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária da UFRGS. Esse caso de abortamento incluiu outros 11 fetos da mesma leitegada. Durante a necropsia, fragmentos de diversos órgãos foram coletados, fixados em formalina tamponada a 10% e processados conforme métodos histológicos convencionais. As colorações utilizadas foram hematoxilina-eosina e Gram de Brown-Hopps (ARRINGTON, 1992). Amostras de pele, fígado, pulmões e conteúdo estomacal foram coletados para bacteriologia. Procederam-se a cultivos aeróbios em Agar-sangue (AS) ovino 7% com base Columbia, AS azida e Mac Conkey, bem como a provas enzimáticas, bioquímicas e de sensibilidade aos antibióticos. Impressões de secções de rim foram tomadas para o teste de imunofluorescência direta para Leptospira spp. com anticorpo comercial multivalente na diluição de 1:20 (MILLER et al., 1989). Amostras de pele e conteúdo estomacal também foram encaminhadas para micologia, cujo cultivo foi realizado com Agar-Saboraud acrescido

de antibióticos. O histórico da propriedade e os dados reprodutivos da fêmea suína que abortou foram obtidos com o médico veterinário requisitante.

Não havia histórico de doença clínica típica de erisipela na propriedade. Apenas abortos foram relatados. De doze fetos abortados, apenas um foi enviado para diagnóstico. À necropsia, as alterações mais significativas foram observadas na pele (Figura 1), que apresentava lesões circulares bem delimitadas de coloração esbranquiçada nas regiões periocular e escapular, bem como na face e trem posterior. Estas lesões mediram aproximadamente 5,0 x 2,5cm (membro posterior) e 3,0 x 1,0cm (região periocular). Havia áreas avermelhadas intercaladas com pequenas áreas de coloração esbranquiçada nos pulmões. Histologicamente, havia perivasculite mononuclear multifocal moderada (Figura 2) associada com bastonetes Gram-positivos na pele. Expansões alveolares multifocais associadas com bastonetes Gram-positivos, mecônio e queratina intra-alveolares também foram observadas. Demais órgãos não apresentaram alterações significativas. A imunofluorescência para

Leptospira spp. foi negativa. Após 24h de incubação

em AS ovino 7%, havia crescimento de colônias alfa-hemolíticas pequenas com bordos inteiros (características de Erysipelothrix rhusiopathiae) nas amostras de conteúdo estomacal e pulmão e, após 48h, tais colônias foram evidentes em todas as amostras. Os testes enzimáticos e bioquímicos (catalase, oxidase, esculina, lactose, manitol, salicina, rafinose, sorbitol e trealose) foram todos negativos e suportam o diagnóstico bacteriológico de Erysipelothrix

rhusiopathiae. Amostras isoladas de E. rhusiopathiae

demonstraram sensibilidade a cefalexina, ampicilina e amoxacilina e resistência a norfloxacina, estreptomicina e tetraciclina. Não houve crescimento em Mac Conkey nem em Agar-Saboraud (micologia).

Esse diagnóstico baseou-se nos achados patológicos e bacteriológicos. Diversos casos de aborto em suínos por Erysipelothrix rhusiopathiae têm sido descritos (HENRY& KELLY, 1979; HOFFMANN & BILKEI, 2002) e associados com ausência de lesões macroscópicas e microscópicas. Em suínos, lesões microscópicas de pele caracterizadas por perivasculite mononuclear são indicativas de infecção por Erysipelothrix rhusiopathiae (WOOD, 1999; YANGER & SCOTT, 1993). Essas alterações foram consistentemente observadas, reforçando o diagnóstico. Áreas de expansões de alvéolos pulmonares associadas com bastonetes gram-positivos intra-alveolares sugerem que a inalação de líquido amniótico contaminado, durante hipóxia fetal, possa provavelmente ter causado a infecção do feto

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(RANDALL & PENNY, 1967; CUTIS, 1974; STANTON & CARROL, 1974). A presença de microorganismos no líquido amniótico pode predispor às lesões de pele, o que tem sido constantemente relatado em infecções micóticas (HILLMAN, 1969; MILLER, 1977). Entretanto, neste caso, não foram observadas estruturas de imagem negativa, semelhantes a hifas de fungos, na microscopia óptica e de contraste de fase. Além disso, o cultivo micológico foi negativo. Nesse caso, a via de acesso ao trato genital da fêmea suína não foi determinada. Entretanto, pelo fato de o agente ter sido isolado em amostras de tecidos fetais, sugere-se que o microorganismo tenha invadido o útero gravídico durante uma infecção sistêmica. Infecção por Erysipelothrix rhusiopathiae tem sido demonstrada como causa de aborto em fêmeas suínas em final de gestação (KEMENES & SZEKY, 1971). Na grande maioria dos casos, sinais clínicos como apatia, febre, anorexia, vômitos (LOVEDAY, 1962; WOOD, 1999) e descargas vulvares (HOFFMANN & BILKEI, 2002) são freqüentes. No presente relato, o único sinal clínico relatado foi o aborto. Fatores como tamanho da

dose infectante, virulência e a susceptilibidade do suíno afetado (GYLES, 1993) podem estar associados com a ausência de outros sinais clínicos. Sabe-se que a bactéria pode permanecer nas tonsilas e em outros órgãos linfóides, mas somente alguns animais desenvolvem bacteremia e doença severa (PENRITH & SPENCER, 2004).

Agentes bacterianos como Salmonella spp,

Streptococcus spp e Pasteurella spp, entre outros,

devem ser incluídos no diagnóstico diferencial de erisipela, pois qualquer um deles pode ocasionar abortos em suínos (GRESHAM, 2003). Todavia, nenhuma dessas bactérias tem sido associada com lesões de pele e com infiltrado inflamatório composto predominantemente de linfócitos e macrófagos (WOOD, 1999), como os observados nesse caso. Os resultados comprovam a infecção por Erysipelothrix

rhusiopathiae no feto suíno abortado. Portanto, a

possibilidade da ocorrência dessa infecção como causa de aborto em suínos no Sul do Brasil deve ser considerada.

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REFERÊNCIAS

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