• Nenhum resultado encontrado

RISCO E PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO EM CENTROS URBANOS ANTIGOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "RISCO E PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO EM CENTROS URBANOS ANTIGOS"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

RISCO E PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO EM CENTROS URBANOS ANTIGOS

Cecília M. P. Barra*

Técnica Superior da Câmara Municipal de Loulé, Mestre em SCIU da UC, Portugal. João Paulo C. Rodrigues Professor, Universidade de Coimbra, Portugal. SUMÁRIO

O desenvolvimento e propagação de incêndio entre edifícios, adjacentes ou em confronto, nos Centros Urbanos Antigos é bastante frequente devido às características construtivas dos edifícios e às curtas distâncias entre eles. Este facto faz com que o risco de incêndio nestas zonas seja especialmente crítico. Neste trabalho, faz-se uma breve análise sobre a propagação de incêndio entre edifícios vizinhos no Centro Urbanos Antigo de Loulé e são propostas medidas para minorar este facto.

Palavras-chave: propagação, incêndio, risco, centro, urbano, antigo.

1. OS CENTROS URBANOS ANTIGOS

Nos CUA a segurança contra o risco de incêndio embora tenha como objectivo a protecção da população residente e utente, não pode deixar de integrar uma preocupação constante relativa à protecção do património edificado e do ambiente envolvente.

Os incêndios urbanos originam, para além da perda patrimonial, custos sociais graves associados ao realojamento das pessoas e de hábitos [1]. Devido à sua localização e constituição os edifícios antigos são bastante vulneráveis aos incêndios, pois existe um elevado número de factores desfavoráveis que facilitam a deflagração do incêndio, dificultam o seu ataque e facilitam a sua propagação devido à forte carga de incêndio existente aliada à natureza dos materiais.

Através do estudo efectuado ao CUA de Loulé, Figura 1, determinou-se um conjunto de situações caracterizadoras destes locais.

*

(2)

Figura 1 – Centro Urbano Antigo de Loulé (Google maps)

Assim, há a referir as ruas estreitas e densamente povoadas por edifícios de pequeno porte, edifícios degradados, diversos tipos de utilização com incidência para a habitação, comércio e serviços, detecção de incêndio quase inexistente, acessibilidade de viaturas de socorro dificultada pelas ruas estreitas e pelo estacionamento indevido de viaturas, disponibilidade de água para combate a incêndio dificultada pela baixa pressão da rede e por hidrantes degradados.

O risco de incêndio manifesta-se de diversas formas pelo que pode ser tipificado segundo o tipo de ambiente e local onde se verificou o incêndio, o tipo de combustíveis envolvidos, as causas do incêndio e as suas consequências. Estudar o risco de incêndio nos CUA, através da aplicação de métodos adequados, é uma forma de conhecer e assim poder prevenir prováveis incêndios.

É através da definição dos pontos vulneráveis, fornecidos pela avaliação de risco de incêndio, que as autoridades podem tomar conhecimento dos problemas e tomar as medidas necessárias para os minorar [2].

2. PROPAGAÇÂO DE INCÊNDIO E MEDIDAS PARA A LIMITAR

A propagação de incêndio a outros pisos do mesmo edifício ocorre com grande frequência de um nível inferior para outro nível superior através das aberturas nas fachadas. Os vidros das janelas quebram-se devido às elevadas temperaturas e pressões que se verificam no compartimento em chamas e o incêndio propaga-se. A propagação vertical do incêndio dá-se devido à transferência de calor por convecção e radiação provocados pelas chamas e gases quentes.

A actual regulamentação técnica de segurança contra incêndio [3] e [4], bem como a anteriormente revogada, exige uma distância mínima de 1,10m entre aberturas sobrepostas situadas em pisos sucessivos.

Durante bastante tempo considerou-se que as chamas, quando saíam das janelas, afastavam-se da fachada do edifício e que a intensidade dessas chamas era atenuada pelas barreiras verticais. Mas o comportamento das chamas não é aquele que se previa. As chamas, quando saem das janelas têm tendência para encurvar formando um arco sobre a fachada e penetrando novamente no edifício através de uma qualquer abertura na sua fachada.

(3)

Há situações onde as chamas saiem das janelas segundo um plano quase normal ao plano da parede. A razão para esse fenómeno, pode encontrar-se, nas condições dos ventos dominantes, sobretudo quando o edifício tem as fachadas em causa normais à direcção dominante dos ventos.

Assim, face ao anteriormente descrito, a única forma de evitar este tipo de propagação de incêndio seria a de não permitir a existência de janelas nas fachadas o que é impraticável, ou então reduzir o tamanho das mesmas, aumentar a distância entre as mesmas ou as dimensões dos elementos de protecção.

Na presença de um incêndio no interior de um compartimento estanque (portas e janelas fechadas), o incêndio ou passa à asfixia ou a resistência dos elementos de compartimentação é vencida e o incêndio propaga-se para o exterior.

2.1 - Propagação de incêndio pelo exterior a outros edifícios

A possibilidade de desenvolvimento e propagação de incêndio entre edifícios nos Centros Urbanos Antigos é bastante elevada e pode ocorrer entre:

x Edifícios adjacentes:

x Edifícios em confronto.

2.1.1 – Edifícios adjacentes

A propagação de incêndio entre edifícios adjacentes pode efectuar-se:

x Através das paredes de separação entre os edifícios (fig. 2);

x Através das coberturas, (fig. 3);

x Através das aberturas para saguões.

Figura 2 – Propagação de incêndio entre edifícios

A propagação e desenvolvimento de incêndio através das paredes de separação dos edifícios é pouco frequente, porque estas paredes apresentam uma boa estanquidade, à passagem das chamas e gases quentes, e um bom isolamento térmico.

Se as paredes de separação dos edifícios não oferecerem a estanquidade, às chamas e gases quentes, e o isolamento térmico adequado devido a deficiências de construção e degradação existentes, devem ser reforçadas com elementos que lhes confira a resistência ao fogo adequada.

(4)

A existência de vãos em paredes exteriores sobranceiros a coberturas de outros edifícios ou de outros corpos do mesmo edifício só é permitida se os materiais de revestimento dessa cobertura garantirem a classe e reacção ao fogo A1 numa faixa com a largura de 4 m medida a partir da parede, artigo 10º da Portaria 1532/2008 [4].

Figura 3 – Coberturas

Se na própria cobertura existirem elementos envidraçados, clarabóias ou outros, se situados numa faixa de 4m, devem ser fixos e garantir uma classe de resistência ao fogo padrão de pelo menos EI 60.

Se a cobertura for em terraço os seus elementos devem possuir uma classe de resistência ao fogo de pelo menos REI, com o escalão de tempo exigido para os elementos estruturais da utilização-tipo (UT) que servem.

As coberturas devem permanecer limpas e os seus materiais de revestimento cumprirem com as exigências regulamentares.

Para os edifícios de média altura, os elementos estruturais devem ser construídos com materiais da classe de reacção ao fogo A1 ou em madeira.

Relativamente à estrutura de suporte das coberturas, nalguns casos é construída em elementos de madeira. Se estiverem em bom estado de conservação e exista uma esteira constituída por materiais incombustíveis não há necessidade de se efectuar qualquer intervenção.

Os materiais de revestimento das coberturas em terraço devem ter uma classe de reacção ao fogo no mínimo EFL, para edifícios até 28 m de altura.

O revestimento exterior de coberturas inclinadas deve no mínimo ser da classe de reacção ao fogo C-s2 d0. As paredes exteriores de empena devem garantir uma resistência ao fogo padrão da classe EI 60, para edifícios até 28 m de altura, salvo, se houver outra exigência mais gravosa para uma UT específica. Estas paredes devem elevar-se acima das coberturas 0,6 m no mínimo, quando não garantirem a resistência ao fogo padrão mínima exigida.

Uma outra forma de propagação e desenvolvimento de incêndio entre edifícios adjacentes é através de aberturas existentes nos saguões, se a distância entre essas aberturas não for suficientemente grande.

(5)

2.1.2 – Edifícios em confronto

É através da transmissão de calor por radiação que os incêndios se propagam entre edifícios, principalmente a partir das portas e das janelas existentes nas fachadas dos edifícios em chamas, o aumento das dimensões dos vãos aumenta o risco de propagação de incêndio, Figura 4.

Se os edifícios estiverem muito próximos uns dos outros a propagação do incêndio pode fazer-se por acção directa das chamas sobre esses edifícios, e o aumento das dimensões dos vãos aumenta o risco de propagação de incêndio, Figura 4.

Figura 4 – Vãos envidraçados

Diversos estudos efectuados comprovam que existe uma relação directa entre a temperatura dos gases no interior do edifício e a intensidade da radiação medida. Esses estudos permitem definir qual o tipo de revestimento mais indicado para as paredes exteriores dos edifícios, as classes de resistência dos elementos de cerramento dos vãos existentes nas fachadas e as distâncias mínimas a observar entre edifícios com vista a limitar a propagação do incêndio por radiação.

Assim, através do estudo do risco de incêndio por radiação entre edifícios é possível estabelecer as distâncias mínimas entre edifícios e as características dos revestimentos e dos elementos de cerramento dos vãos de fachada desses mesmos edifícios.

Apesar de já ter acontecido há alguns anos, o incêndio do Chiado, será sempre uma referência como um exemplo da propagação de incêndio por radiação entre edifícios fronteiros.

Os principais factores com influência na propagação de um incêndio entre edifícios são:

x Dimensão do edifício (em chamas);

(6)

Figura 5 – Carga de incêndio

x Dimensões e número das aberturas do edifício (em chamas), (fig. 6);

Figura 6 – Vãos no edifício x Distância entre fachadas em confronto, (fig. 7);

Intervir nesta situação quando os edifícios não cumpram com as distâncias mínimas regulamentares é complicado, pois não faz sentido construir edifícios sem vãos com o objectivo de evitar que o incêndio se propague para o exterior atingindo outros edifícios.

Figura 7 – Edifícios com distância inferior a 4m ´

(7)

x Natureza dos revestimentos da fachada fronteira, das caixilharias e restantes elementos de cerramento dos vãos, (fig. 8).

Figura 8 – Portas em madeira e alumínio

Assim, só se poderá intervir ao nível das fachadas e dos vãos com a aplicação de produtos que confiram uma resistência ao fogo adequada, ou seja estanquidade a chamas e gases quentes, E, isolamento térmico, I, e radiação, W, no tempo conveniente de forma a minorar as consequências resultantes quando o edifício é atingido pelo fogo proveniente de outro edifício em confronto.

Utilizar nos vãos elementos de madeira, devidamente tratados com produtos ignífugos, e vidros pára-chamas, pode ser uma solução.

A Portaria 1532/2008 [4] refere que nas paredes exteriores tradicionais os vãos situados em pisos sucessivos da mesma prumada, pertencentes a compartimentos corta-fogo distintos, devem ter uma altura superior a 1,10m (fig. 9).

Se entre esses vãos sobrepostos existirem elementos salientes como palas, galerias corridas ou varandas, da classe de resistência ao fogo EI 60, prolongados mais do que 1m para cada lado desses vãos, delimitadas lateralmente por guardas opacas, o balanço desses elementos pode ser descontado à distância vertical entre vãos.

(8)

A distância entre as paredes exteriores de edifícios em confronto deve ser no mínimo 4m, para edifícios até 9m de altura, e de 8m no mínimo para edifícios com mais de 9m de altura.

Se estas distâncias não forem respeitadas, então as paredes exteriores dos edifícios em confronto devem garantir, no mínimo, uma classe de resistência ao fogo padrão EI 60 ou REI 60 e os vãos existentes devem ser guarnecidos por elementos fixos E 30.

A Figura 10 indica os edifícios em confronto, localizados no interior do Casco Medieval, e que estão separados entre si com distância superior a 4m (edifícios a verde) e os que se encontram separados com distância inferior a 4m (edifícios a vermelho).

Para edifícios com mais de um piso em elevação e com altura até 28 m, a classe de reacção ao fogo dos revestimentos exteriores aplicados directamente sobre as fachadas, caixilharias e estores deve ser:

x D-s3 d1 – Revestimentos nas fachadas sem aberturas;

x C-s2 d0 – Revestimentos e elementos transparentes em fachadas com aberturas; x D-s3 d0 – Caixilharia e estores ou persianas em fachadas com aberturas.

Nas fachadas exteriores não tradicionais, tipo cortina em vidro, a distância mínima entre vãos sobrepostos, pode ser atingida pela utilização de elementos interiores de construção, devendo estes distar no máximo 0,2 m da fachada e possuir selagem superior.

Figura 10 – Distância entre fachadas de edifícios até 9 m de altura

L

E

GENDA

LIMITAÇÕES E PROPAGAÇÃO DO INCÊNDIO PELO EXTERIOR

Edifícios com distância >4m

DISTÂNCIAS MÍNIMAS ENTRE FACHADAS DE EDIFÍCIOS COM ALTURA <9m=4m

(9)

3 – CONCLUSÕES

A propagação de incêndio entre edifícios adjacentes é pouco frequente devido ao bom isolamento térmico e estanquidade das chamas e gases quentes das suas paredes. No entanto, a propagação de incêndio entre edifícios em confronto é bastante mais gravosa devido à transmissão de calor por radiação, principalmente a partir de portas e janelas existentes nas fachadas. Situação que tende a agravar-se se a distância entre os edifícios for diminuindo.

Intervir com medidas correctivas para melhorar as condições existentes no edifício vai permitir a redução da probabilidade de ocorrência de um incêndio.

Sensibilizar as pessoas para o perigo real de incêndio e para o seu comportamento diário de modo a não comprometer a segurança, sua e dos vizinhos é um aspecto bastante importante e onde faz todo o sentido investir.

Adoptar regras concretas de construção e manutenção que permitam assegurar o cumprimento dos regulamentos, ao nível das medidas de segurança contra incêndio, sem ferir as tipologias de construção exigidas num centro urbano antigo [5].

Remoção da carga de incêndio dos sótãos e dos edifícios abandonados pois estes comportam-se com autênticos focos de desenvolvimento e propagação do incêndio;

Manutenção das instalações eléctricas e de gás pois muitas das vezes os incêndios têm origem nestas.

Promoção de uma organização de segurança, designadamente, através da elaboração do plano de emergência e formação dos ocupantes.

Estas são algumas das medidas a serem implementadas nos centros urbanos antigos.

REFERÊNCIAS

[1] Barra, C. M. P. – Risco e Propagação de Incêndios nos Centros Urbanos Antigos, Tese de Mestrado,

Universidade de Coimbra, 2010, 199 p.;

[2] Santana, M. L. A. – Avaliação de Risco de Incêndio em Centros Urbanos Antigos, O Caso de

Montemor-o-Velho, Tese de Mestrado, 2007, 192 p.

[3] Decreto-Lei nº220/08; Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios;

[4] Portaria nº1532/08; Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em Edifícios;

[5] Mealha, I. R. – Medidas de Segurança Contra Incêndios em Angra do Heroísmo, Tese de Mestrado,

Referências

Documentos relacionados

Para recuperar o nióbio contido no rejeito de concentração de apatita da Anglo American Fosfato Brasil, foi construída, pela Anglo American Nióbio Brasil, uma

Ao longo dos meses do semestre em análise, foram as mulheres quem mais contribuiu para o desemprego registado no sector dos Serviços, ao contrário das

O novo acervo, denominado “Arquivo Particular Julio de Castilhos”, agrega documentação de origem desconhecida, mas que, por suas características de caráter muito íntimo

*No mesmo dia, saindo da sala do segundo ano, fomos a sala do primeiro ano, quando entramos os alunos já estavam em sala, depois de nos acomodarmos a professora pediu que

Os Oficiais de Registro Civil das Pessoas Na- turais do Estado de São Paulo também têm competência para os atos notariais de reconhecimento de firma, autenticação de cópia

The effect of prophylactic percutaneous endoscopic gastrostomy (PEG) tube placement on swallowing and swallow-related outcomes in patients undergoing radiotherapy for head

Os autores dão destaque para esta construção social entendida como uma prática e destacam a importância do estudo do discurso (ato de fala) do ator

Development Activities Specification The specification of OntoSoS is presented as the following: • Name: OntoSoS • Research Field: System-of-Systems SoS • Purpose: the purpose