A PEDAGOGIA FREIREANA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Avanay Samara do N. Santos. Pedagogia - UEPB-CAMPUS III avanaysamara@yahoo.com.br
Lidivânia de Lima Macena. Pedagogia - UEPB-CAMPUS III
lidigba@yahoo.com.br Lucimar Victor da Silva. Pedagogia - UEPB-CAMPUS III lucimarvictor2008@hotmail.com "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda." (Paulo Freire) Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar a visão de Freire na construção do cidadão mediante a sua proposta para a Educação de Jovens e Adultos. A metodologia utilizada para escrever este artigo foi à consulta bibliográfica das obras Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da autonomia e Educação como Prática da Liberdade entre outros. Estas publicações foram utilizadas para subsidiar a questão maior deste trabalho, vista que o aluno é um cidadão e para tanto vamos abordar a visão de freire neste sentido. O resultado desta pesquisa constatou que a proposta desenvolvida por Freire tem como culminância o desenvolvimento do cidadão em sua plenitude.
Palavras chave: Pedagogia. Freireana. Cidadania. EJA Introdução
A dialogicidade, essência da Educação, refere-se ao diálogo ocorrido entre os sujeitos do conhecimento que por meio da palavra compõem a práxis pedagógica, constituída pela dimensão da ação e da reflexão. Paulo Freire afirma que o diálogo crítico é o principio da libertação do sujeito. “O diálogo crítico e libertador, por isso mesmo que supõe a ação, tem de ser feito com os oprimidos, qualquer que seja o grau em que esteja a luta por sua libertação.” (FREIRE, 2005, p. 59).
1. A concepção Bancária
A concepção de uma educação centralizada no professor, tendo o aluno apenas como um individuo vazio, sem conhecimento e que na escola ele se preencheria dos saberes.
Segundo Freire (2005) na educação bancária os professores eram os detentores do saber e na sala de aula ocorria “uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber”. Nesta mesma visão Freire ainda nos afirma,
Na concepção “bancária” que estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da “cultura do silêncio” a “educação” “bancária” mantém e estimula a contradição. (FREIRE, 2005, p. 67).
O educador bancário faz dos seus alunos apenas seres desprovidos do conhecimento, e em sua aula apenas ele sabe transmitir o conteúdo estudo, o aluno não pode pensar em fazer perguntas, a cultura do silêncio, é algo muito forte do educador bancário. Freire (1985) “a impressão que tenho é a de que, em última análise, o educador autoritário tem mais medo da resposta do que da pergunta. Teme a pergunta pela resposta que deve dar. A cultura da repressão de não expressar as opiniões, foi uma herança que se foi cultivada por muito tempo nas escolas. Os alunos eram ensinados a calar a silenciar há não fazer perguntas, não questionar, não se podia perguntar. Neste sentido fica reproduzindo pessoas oprimidas dentro da comunidade escolar um ambiente em que deveria ser de libertação e não de opressão e autoritarismo. Ainda neste sentido o educador Paulo Freire nos apresenta uma reflexão importante.
O que se pretende autoritariamente com o silêncio imposto, em nome da ordem, é exatamente afogar nela a indagação. Tu tens razão; um dos pontos de partida para a formação de um educador ou de uma educadora, numa perspectiva libertadora, democrática, seria essa coisa aparentemente tão simples: o que é perguntar? (FREIRE, 1985, p. 47).
2. A dialogicidade na perspectiva de Freire
No diálogo está a verdadeira profundidade da prática da liberdade, defendida por Freire. “Para o “educador-bancário”, na sua antidialogicidade, a pergunta, obviamente, não é a propósito do conteúdo do diálogo, que para ele não existe, mas a respeito do programa sobre o qual dissertará a seus alunos (FREIRE, 2005, p. 96)”.
Para o educador dialógico a pergunta é o principio de uma comunicação aberta e horizontal entre o educador e o educando ambos aprendem juntos, discutem e problematizam as questões até chegarem a um consenso da resposta. A experiência da abertura para o diálogo faz da sala de aula um ambiente humanizador, mas podendo se estender ate a comunidade familiar à experiência vivenciada em sala de aula começa a refletir sucessivamente em todos os ambientes que o educando faz parte. Neste processo incandescente é o que chamamos de prática da liberdade.
Segundo Freire (2005, p. 96)
Daí que, para esta concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educando-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do vai dialogar com estes. Esta inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da
educação.
O conteúdo programático e o diálogo culminam com a práxis pedagógica que evolui para uma educação autêntica, problematizadora e libertadora dos sujeitos em todos os ambientes que eles estão inseridos, desta forma ocorrendo verdadeiramente uma educação transformadora.
3. O ato conscientizador
A educação que desperte no educando a consciencia crítica da realidade política, economica e social em que se está inserido é verdadeiramente uma Educação como Prática da Liberdade, tão defendita por Paulo Freire. “ A consciencia crítica “é representação das coisas e dos fatos como se dão na existência empírica (FREIRE, 2009, p. 113)”. Muitas vezes os educandos jovens e adultos sabem o que acontece erros no sistema da sociedade, o seu conhecimento popular, mas não sabe como se proceder diante de tão situação. Haja visto que a educação tem como principio da concientação crítico, seria de grande relevancio o educador aportar tematicas que envolvam diretamente a nossa realidade política e socioecomomica. O educador conscientizador propõe estas situações como afirma Freire.
A progrmação desses debates nos era oferecida pelos próprios grupos, através de entrevistas que mantinhamos com eles e de que resultava a enumeraçaõ de problemas que gostariam de debater. “Nacionalismo”, “Remessa de lucros para o estrangeiro”, “Evolução política do Brasil”,
“Desenvolvimento”, “Analfabetismo”, “Voto do Analfabeto”,
“Democracia”, eram, entre outros, temas que se repetiam, de grupo a grupo (FREIRE, 2009, p. 111).
brasileira e através desta descoberta poder transformá-la. “ Pensavamos numa alfabetização que fosse em si um ato de criação, capaz de desencadear outros atos criadores (FREIRE, 2009, p. 112)”.
4. A Educação Popular na visão Freireana
Paulo Freire colabora significativamente com a educação, em especial a de jovens e adultos apresentando uma nova proposta de alfabetização com a valorização da cultura e do individuo como sujeito único e co-participante de um processo de construção de conhecimento. Cada pessoa é e pode desempenhar um papel importante na elaboração de uma sociedade democrática. Freire deixa um legado para todo educador com atitudes e consciência de uma pedagogia popular no qual desvela a consciência política do ato educativo, apresentando uma educação para a transformação social e acreditando na relevância que a ação pedagógica traz para a emancipação do ser.
No pensamento Freiriano o educando ao fazer uma leitura crítica de sua realidade, o tornar capaz de perceber os seus direitos e deveres conquistados, de se torna autonomo, ou seja, se libertando da condição de oprimido. É um processo gradativo. Mas passando deste estágio o sujeito é capaz de modificar sua experiência históricas e existenciais que são desvalorizadas na vida cotidiana pela cultura dominante. Com a educação proposta por Freire o educando se torna capaz de problematizar, criticar e emancipar a sua realidade nos âmbitos sociais, políticos e econômicos.
Neste sentido, Freire (2005, p. 42), dialoga a respeito do verdadeiro conhecimento que leva a inserção crítica.
Por isto, inserção crítica e ação já são a mesma coisa. Por isso também é que o mero reconhecimento de uma realidade que não leve a esta inserção crítica (ação já) não conduz a nenhuma transformação da realidade objetiva,
precisamente porque não é reconhecimento verdadeiro.
Mediante o contexto, ele nos mostra a relevância e a necessidade que todo sujeito tem da reflexão e ação a partir das nossas próprias práticas, só no momento em que nos reconhecemos em nossas atitudes como um opressor, oprimido, hospedeiro do opressor ou até mesmo subopressores, podemos assumir uma postura e tentar se libertar desta condição. Diante disso a educação pode ser considerada um ato emancipatório e de libertação do ser humano.
Segundo Freire, (2005, p.42) a práxis, porém, é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimidos. A educação possibilita aos alunos se tornarem construtores do processo de conhecimentos e a partir de então transformadores de uma sociedade melhor para todos.
O ato de ler e escrever não podem ser processos mecânicos, ou como a educação bancaria tão discutida por Freire (2005) em sua obra Pedagogia do Oprimido. Devem ser construídos com metodologias criativas que respeitem a realidade do educando e aos poucos vai desvelando a sua percepção econômica, social, cultural e política, como sujeitos participantes e atuantes neste contexto que, para tanto é preciso integrar leitura da palavra mundo.
É neste sentido que a leitura crítica da realidade, dando-se num processo de alfabetização ou não e associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegêmonica. (FREIRE, 2001, p.21).
No pensar a alfabetização como uma ação política e cultural é fazer um olhar Freiriano, com a sua proposta riquíssima para se trabalhar com o jovem e o adulto. No processo alfabetizador é possível analisar como se constrói uma relação horizontal entre o educador e o educando, compreendendo que o conhecimento ocorre no momento em que se edifica uma relação de respeito e diálogo culminando com a humanização do ser.
O diálogo, como prática essencial para o ato de ensinar, possibilita uma abertura para o conhecimento crítico do educando, sendo assim, a prática através do diálogo tende-se a desenvolver uma troca de saberes instigando no aluno uma busca continua de aprendizagens.
A educação problematizadora e conscientizadora não é possível fazê-la fora do diálogo. No entanto, não se consegue construir um diálogo sozinho, assim seria um monologo e resulta em uma educação bancária que o aluno apenas escuta e nele é depositado o conhecimento. Neste sentido, Freire diz (2005) a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como uma dádiva ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio educando e apenas com a colaboração do educador. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo.” (FREIRE, 2005. p. 78.)
Nessa visão a construção da relação educador/educando se consolidarisa quando no processo ensino-aprendizagem o educador supera o intelectualismo alienado e o autoritarismo bancário, resultando em humanização e libertação para poder o educando se sentir parte da elaboração do conhecimento, e assim se sentir parte desde mundo letrada de forma crítica e emancipatória.
5. Considerações finais
A construção do ser humano com uma consciencia crítica de sua realidade é um processo que acontece mediado com uma educação dialogica e que respeita a realidade do educando. Neste processo educativo o educador humanizador é muito importante para poder acontecer uma pedagogia comunicativa.
A proposta de Freire (2006), para uma educação concientizadora e crítica tem como ponto de partida o amor ao que se faz, para tanto é necessário que o educador, tenha afeição ao ato de ensina, logo que quem ensina também aprende e neste processo ocorre uma troca mútua de aprendizagens.
6. Referências
FREIRE, Paulo e FAUNEZ, Antônio. Por uma pedagogia da pergunta. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa 33.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
_____, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.