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DISTÚRBIOS HEMORRÁGICOS DO RECÉM-NASCIDO

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Academic year: 2021

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DISTÚRBIOS HEMORRÁGICOS DO RECÉM-NASCIDO Maria Francielze Holanda Lavor

As síndromes hemorrágicas no período neonatal podem resultar de alterações no mecanismo hemostático como integridade dos vasos sanguíneos, plaquetas e fatores de coagulação.

ALTERAÇÕES VASCULARES

Podem ter como etiologia causas hereditárias (Telangiectasia hemorrágica familiar) ou adquiridas (como hipóxia grave, infecção, hipotermia e trauma). As adquiridas se associam frequentemente com alteração no número de plaquetas e nos fatores de coagulação.

ALTERAÇÕES PLAQUETÁRIAS

A trombocitopenia neonatal é definida como o número de plaquetas abaixo de 150.000/mm3 e pode ocorrer devido a destruição aumentada das plaquetas (trombocitopenia imunomediadas e não-imunomediadas), diminuição na produção de plaquetas, esses dois fatores combinados ou disfunção plaquetária.

TROMBOCITOPENIA POR DESTRUIÇÃO AUMENTADA DAS PLAQUETAS

Púrpura trombocitopênica imunomediada:

Auto-imune – nesse caso a mãe é portadora de púrpura trombocitopênica idiopática ou pode estar associada a doenças maternas como lúpus eritematoso sistêmico, hipertireoidismo ou uso de drogas pela mãe como digoxina, sulfamida. A mãe produz anticorpos IgG que tem capacidade de atravessar a placenta e atingir as plaquetas do feto. Então a mãe apresenta plaquetopenia e história de sangramento e o RN saudável, sem clínica ou apenas um quadro leve de sangramentos (petéquias) e um risco menor do RN apresentar sangramentos graves como a hemorragia intracraniana.

Aloimune – a mãe produz anticorpos contra as plaquetas fetais. A mãe apresenta plaquetas normais e o RN saudável com petéquias, ou hemorragia gastrointestinal ou do trato genitourinário e há um risco elevado do RN apresentar hemorragia intracraniana precoce.

Púrpura trombocitopênica não-imunomediada:

Esta condição está associada a condições patológicas neonatais como: enterocolite necrosante, sepse, anemia hemolítica, policitemia exsanguíneotransfusão, retardo de crescimento intra-uterino, hiperesplenismo, hemangiomas (síndrome de Kasabach-Merrit), nutrição

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parenteral prolongada, hipertensão pulmonar persistente neonatal, Isoimunização Rh e erros inatos do metabolismo .

TROMBOCITOPENIA POR DIMINUIÇÃO NA PRODUÇÃO DE PLAQUETAS

Esta condição pode estar associada a várias doenças congênitas como:Anormalidades cromossômicas como as trissomias do 13 e 18, leucemia congênita, Anemia de Fanconi, Trombocitopenia com ausência de rádio, trombocitopenia amegacariocítica.

DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA

Nessa condição as plaquetas apresentam-se em número normal, porém a função como agregação encontram-se alterada. Podem ser adquiridas como é o caso de uso de drogas maternas como aspirina, penicilina, cefalosporinas, carbenecilina e indometacina, também pode estar associada a desordens metabólicas relacionadas a fototerapia, diabetes materno e acidose. Também podem ser hereditárias como a tromboastenia de Glanzmann, Síndrome de Bernard-Soulier e Síndrome de Wiskott-Aldrich.

DEFICIÊNCIA DOS FATORES DE COAGULAÇÃO

ALTERAÇÕES HEREDITÁRIAS NOS FATORES DE COAGULAÇÃO

Hemofilia A- deficiência do fator VIII. Hemofilia B – deficiência do fator IX.

Aproximadamente 10% dos casos de hemofilia apresentam manifestações no período neonatal tais como sangramentos leves a intensos em locais de punção, coto umbilical, em pós operatórios e hemorragia in tracraniana.

Doença de Von Willebrand – é a deficiência do fator de Von Willebrand que é um co-fator da adesão plaquetária e um carreador do fator VIII na circulação e exerce um papel importante na hemostasia. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS NOS FATORES DA

COAGULAÇÃO

Deficiência de Vitamina K - que leva à deficiência de produção dos fatores II, VII, IX e X, sendo responsável pela chamada “Doença Hemorrágica do Recém-Nascido” (ver detalhes na tabela 1).

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Coagulação intravascular disseminada (CIVD) – é uma coagulopatia adquirida que se carcteriza pelo consumo intravascular de fatores de coagulação, principalmente I,II,V,VIII e XI e de plaquetas. Pode ser desencadeada por: asfiiixia grave, hipotermia, sepse, choque hemorrágico, aspiração meconial, acidose, enterocolite necrosante e síndrome do desconforto respiratório neonatal.

Doença Hepática – que leva a deficiência do fator V Tabela 1. Doença Hemorrágica do Recém-Nascido

Precoce Clássica Tardia

Início < 24 horas de vida 2 a 7 dias de vida 2 a 12 semanas de vida Etiologia e fatores de risco Uso materno de anticonvulsivantes (barbitúricos e fenitoina), de anticoagulante oral (ACO), rifampicina, isoniazida e causa idiopática Oferta inadequada de vitamina K ao nascimento e aleitamento materno exclusivo Oferta inadequada de vitamina K ao nascimento e aleitamento materno exclusivo associado a situações de alteração na absorção da vitamina K como: diarréia,fibrose cística, hepatite, doença celíaca, deficiência de 1 antitripsina e atresia de vias biliares Localização TGI, umbilical,

intra-abdominal, HIC* (20%) e céfalo-hematoma

TGI, umbilical, pós-circuncisão, ouvido, nariz, boca, pontos de punção e HIC HIC (50%), TGI**, pele, ouvido,nariz, boca, pontos de punção, TGU***, intratorácico

Profilaxia Se possível suspensão da medicação

materna. Substituir o ACO por heparina no primeiro e no terceiro trimestres de gestação. E para todas indicar vitamina K1 - 5mg /diaVO Vitamina K1 – 1mg/IM ao nascimento Vitamina K1 – 1mg/IM ao nascimento e a cada 4 semanas

*HIC- hemorragia intracraniana ** TGI- trato gastrointestinal ***TGU- trato genito-urinário

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DIAGNÓSTICO

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

O diagnóstico clínico do recém-nascido que sangra baseia-se na história e no exame físico.

História familiar – avaliar a existência familiar de coagulopatias como Hemofilia A e B, história materna de púrpura tombocitopênica

idiopática.

História obstétrica- dados sobre infecções maternas, uso de drogas comno anticonvulsivante (fenitoina), anticoagulantes orais, rifampicina, isoniazida, hidralazina, indometacina, penicilinas e carbenicilinas em altas doses, cefalosporinas, sulfonamidas e quininas.

Exame Físico do RN – avaliar os locais de sangramento, investigar a presença de icterícia, hepatoesplenomegalia, hemangiomas e sinais carcterísticos de infecções congênitos.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Se o RN apresenta hemorragia do trato gastrointestinal (TGI) deve-se proceder o Teste de Apt com NaOH 1% - para fazer o diagnóstico diferencial entre sangramento do TGI e deglutição de sangue materno.Para isso, mistura-se uma parte da secreção sanguinolenta do TGI do RN com cinco partes de água e centrifuga a mistura. Junta-se 5mL do sobrenadante com 1mL de NaOH 1% e então se a coloração for róseo indica sangue do RN (teste de Apt positivo) e de for marrom – amarelada indica sangue materno deglutido.

Se o RN apresenta hemorragias em outros sítios e/ou teste de Apt poisitivo, realiza-se um screenig de coagulação :

Hemograma com contagem de plaquetas, Tempo de Protrombina (PT), Tempo de Tromboplastina Parcial (TTP) eTempo de Trombina (TT) Se esses testes forem alterados, realiza-se a dosagem dos fatores de coagulação, dosagem dos produtos de degradação da fibrina (PDF), tempo de sangramento e testes de adesividade e agregação plaquetária.

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Roteiro Diagnóstico na Síndrome hemorrágica do RN (modificado de Gross & Stuart)

_________________________________________________________

RN em bom estado geral que sangra

Número de Plaquetas Diminuido Normal -Doenças maternas -Drogas -Púrpura isoimune -Trombocitopenia hereditária TP e TTP TP normal TTP normal TP normal TTP prolongado TP prolongado TTP normal Tempo de sangramento TP prolongado TTP prolongado Normal Prolongado Tempo de Trombina Normal Prolongado Deficiência fator II e VII Administrar 2mg vitamina K Repetir TP e TTP após 4 horas Deficiência fator XIII Defeito qualitativo das plaquetas Von Willebrand Def. fator VII, IX, XI, XII, Von Willebrand Efeito heparínico TP normal TTP normal TP prolongado TTP normal Def. Vitamina K TT Normal Prolongado

Def. fator V ou X Afibrinogenemia Desfibrinogenemia

TP= tempo de protombina TTP= tempo de tromboplastina TT= tempo de trombina CIVD = Coagulação intravascular

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Roteiro Diagnóstico na Síndrome hemorrágica do RN (modificado de Gross & Stuart)

RN em mau estado geral que sangra

TP e TTP

TP normal

TTP normal TP prolongado TTP prolongado

TP= tempo de protombina TTP= tempo de tromboplastina CIVD = Coagulação intravascular

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TRATAMENTO Medidas Gerais

Manter vias aéreas pérvias e respiração efetiva, monitorização gasométrica e por oximetria de pulso. Evitar hipóxia, acidose respiratória e/ou metabólica.

Manter estabilidade hemodinâmica.

Lavagem gástrica com soro fisiológico em temperatura ambiente (evitar soro gelado.

Evitar injeções intramusculares, punções vasculares, capilares e procedimentos invasivos.

Corrigir anemia, manter hematócrito acima de 40%. Medidas especíificas

Tratar as causas específicas do sangramento de cada RN:

Púrpura trombocitopênica auto-imune – uma contagem inicial de plaquetas de 30.000 a 50.000/mm3 pode ser observada para se determinar uma tendência prévia a tratamento. As terapias atuais de primeira linha são dose elevada de imunoglobulina intravenosa (IV IgG) 1g/Kg/dia por 2 dias e/ou prednisona 3 a 4mg/kg/dia inicialmente. Acompanhar com contagem de plaquetas; pode-se repetir a IV IgG se o número de plaquetas aumentou no primeiro momento e caiu novamente mais tarde.Transfusão de plaquetas não tem nenhum efeito terapêutico porque as plaquetas de doadores aleatóripos irão reagir com os anticorpos plaquetários.

Púrpura trombocitopênica aloimune (isoimune)- Se plaquetas abaixo de 50.000/mm3, transfundir plaquetas maternas ou doador compatível antígeno-negativo Pla 1 negativo), lavadas e irradiadas, conforme tabela abaixo:

Tabela 2. Indicações gerais para transfusão de plaquetas na ausência de hemorragia clínica

Situação Clínica Indicação de Transfusão

RN termo sadio <20.000/mm3

RN pré-termo sadio <30.000/mm3 Procedimentos invasivos (punção lombar,

ou pequena cirurgia ou RN doente)

<50.000/mm3

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Dose usual: 1 unidade (1 unidade é usualmente igual a 20ml). Somente em circunstâncias excepcionais de restrição de volume deve ser administrado menos que uma unidade de plaquetas.

Atenção: Plaquetas não devem ser administradas em um acesso arterial ou em acesso venoso central.

Doença hemorrágica do recém-nascido – o tratamento do sangramento por deficiência de vitamina K , deve ser realizado com vitamina K1 2mg EV que deve ser

administrado lentamente devido ao risco de anafilaxia. Deve ser evitada a administração intramuscular pelo risco de formação de hematoma. Após a administração da vitamina K, dentro de 2 horas ocorre o aumento dos níveis dos fatores de coagulação e da função, e a completa correção dentro de 24 horas. Diante de hemorragias severas deve-se administrar plasma fresco congelado 10 a 20mL/K. Nos casos de hemorragias ameaçadoras à vida (hemorragia intracraniana ou sangramentos intensos) pode-se utilizar concentrado de protrombina (II,IX,X) 50U/Kg+ vitamina K1 – 20mg

subcutâneo.

Coagulação intravascular disseminada – o principal objetivo do tratamento é resolver ou controlar a causa básica e promover a manutenção dos seguintes parâmetros: contagem de plaquetas superior a 50.000/mm3, concentração sérica de fibrinogênio acima de 100mg/dL, normalização de TP e TTP (ver tabela 3).

Tabela 3. Coagulação intarvascular disseminada – resultado de exames laboratoriais e tratamento

Exames Resultados Tratamento

TP e TTP Prolongados Plasma fresco congelado – 10 a 20mL/Kg a cada 12 a 24 horas

Fibrinogênio < 100mg/dL Crioprecipitado 10mL/Kg a cada 12 a 24 horas

Contagem de plaquetas < 50.000/mm3 Concentrado de plaquetas 10 a 20ml/Kg a cada 12 a 24 horas

Produtos de degradação da fibrina (PDF)

Aumentados Plasma fresco congelado – 10 a 20mL/Kg a cada 12 a 24 horas

Fatores II, V e VIII Baixos Crioprecipitado 10mL/Kg + Plasma fresco congelado – 10 a 20mL/Kg a cada 12

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a 24 horas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Balda,RCX. Distúrbios hemorrágicos no período neonatal. In: Kopelman BI et AL. Diagnóstico e Tratamento em Neonatologia. Atheneu,São Paulo 2004, p. 413-21

Deutsch, ADA; Espiridião, S. Síndromes hemorrágicas. In: Rugolo, LMSS. Manial de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo. 2a Edição, São Paulo, 2000, p.178 -181

Gomella, TL; Cunninngham MD; eyal, FG: Zenk, KE. Neonatology: Management, Procedures, on-call Problems, Diseases and Drugs. 4th edition, Appleton & Lange, Stamford, Connecticut, 1999, p.330-34

Luchtman-Jones, L.;Schwartz,AL.; Wilson,DB.The Blood and Hematopoietic System.In: Fanaroff AA, Martin, RJ. Neonatal – perinatal medicine. Diseases of the fetus and infant. 7th Ed. Mosby, St Louis 2002; vol. 2, p. 1183-1254

Schmidt, BK; Whyte, RK. Hematologic disorders. In: Kirpalani, H.,Moore, A.,Perlman, M. Residents Handbook of Neonatology, Third edition, 2006, USA, p. 211-19

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