Traqueostomia
Autor: Wilson Torres e Souza - Cirurgião Geral
Histórico e Definição
O termo traqueostomia refere-se à operação que realiza uma abertura e exteriorização da luz traqueal. A primeira descrição cirúrgica com sucesso data de 1546, por um médico italiano, Antonio Musa Brasavola, que operou um paciente com "abscesso na garganta" [1]. Entretanto, a aceitação universal só veio com os trabalhos de Chevalier e Jackson, no início do século XX, que descreveram pormenores da técnica, suas indicações e complicações [2, 3].
Anatomia Cirúrgica
Figura 1. Cartilagem da laringe. Visão
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Ciba-Geigy Corporation Ali rights reserved.A laringe é composta por um esqueleto cartilaginoso rígido, com função de permeio das vias aéreas, fonação, além de participar da primeira e da segunda fases da deglutição. As três principais cartilagens envolvidas na função respiratória e vocal são: a cartilagem tireóide, a cartilagem cricóide e um par de cartilagens aritenóides. A membrana cricotireóidea faz a ligação da borda inferior da cartilagem tireóide à cartilagem cricóide. O espaço subglótico inicia-se abaixo das cordas vocais e se estende até à margem inferior da cartilagem cricóide. Ele é o local de menor diâmetro interno (no adulto, entre 1,5 e 2,0 cm), e é circundado pela cartilagem cricóide, que é o único anel cartilaginoso completo das vias aéreas, características que predispõem este espaço a inúmeras complicações [5].
A traquéia estende-se da borda inferior da cartilagem cricóide até à carina. A parede posterior é membranosa e faz relação com a parede anterior do esófago. Em nível do segundo anel traqueal, situa-se o istmo da tireóide.
Outro aspecto interessante é a sua mobilidade; é sabido que toda sua extensão cervical pode se localizar no mediastino, pela simples flexão cervical, assim como a hiperextensão pode trazer uma porção significativa situada no mediastino para a região cervical. A irrigação sangüínea da traquéia tem íntima relação com o suporte sanguíneo do esófago; a sua porção cervical é irrigada, predominantemente, por ramos da artéria
tireóidea inferior. Digno de nota, é que esta rede anastomótica penetra na traquéia na sua margem lateral, o que nos leva a evitar a dissecção extensa nessa região, assim como uma dissecção circunferencial da traquéia durante a traqueostomia. Outro aspecto interessante é a característica predominantemente submucosa desta rede anastomótica, o que torna compreensível o porquê dos anéis traqueais poderem ser lesados por
isquemia, devido à hiperinsulfIação de umcuff endotraqueal. Durante a realização de uma traqueostomia as
estruturas que serão encontradas, por ordem de aparição, são: pele e subcutâneo, platisma, musculatura pré-
traqueal, eventualmente o istmo tireoideano (que se situa entre o 1º e o 2º anel traqueal), e a fáscia pré-
traqueal [4].
Figura 2.Veias superficiais e nervos cutâneos do pescoço. Copyright © 1995 Ciba-Geigy
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