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INTRODUÇÃO À ZOOTECNIA

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Academic year: 2021

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INTRODUÇÃO

À

ZOOTECNIA

Curso: TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA Autora: Cláudia Damo Bértoli, Enga Agra, MSc. INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE CAMPUS CAMBORIÚ

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3. Introdução à Zootecnia 4. Origem e Evolução 4.1 - TEORIA DE LAMARCK 4.2 - TEORIA DE DARWIN

4.3 – TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO 5. Domesticação das Espécies

6. Classificação Zoológica das Espécies Domésticas 7. Utilização dos Animais Domésticos

7.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES PRODUTIVAS OU ZOOTÉCNICAS 7.2 - ESPECIALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES PRODUTIVAS OU ZOOTÉCNICAS 7.3 - FUNÇÕES ZOOTÉCNICAS E A ESCOLHA DE REPRODUTORES 7.4 - APTIDÃO E ESPECIALIZAÇÃO

8. Climatologia Zootécnica

9. O Sistema Digestório dos Animais Domésticos 9.1 - ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 9.2 - FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 9.3 – SISTEMA DIGESTÓRIO DAS AVES

10. O Sistema Reprodutor dos Animais Domésticos 10.1 - ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 10.2 - FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 10.3 – CICLO REPRODUTIVO DAS FÊMEAS MAMÍFERAS 10.4 - ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO 10.5 - FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO 10.6 – SISTEMA REPRODUTOR DAS AVES

11. Os Sexos e a Neutralização Sexual 11.1 – DIMORFISMO SEXUAL

11.2 - OS CARACTERES SEXUAIS (SECUNDÁRIOS) 11.3 - ORIGEM DOS CARACTERES SEXUAIS

11.4 - MODIFICAÇÕES PROVOCADAS PELA CASTRAÇÃO 12. Raça e Suas Variações

12.1 - CONCEITO DE RAÇA 12.2 - SUB-RAÇA

12.3 - VARIEDADE

12.4 - FAMÍLIA E LINHAGEM 12.5 – REBANHO

13. Melhoramento Genético Animal 13.1 - MÉTODOS DE REPRODUÇÃO

13.2 – METODOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO 13.3 - SISTEMAS DE ACASALAMENTO 14. Etologia 15. Bibliografia 06 08 09 10 11 12 16 17 18 20 21 21 22 24 25 26 27 28 28 30 31 31 33 33 35 35 35 37 39 41 41 43 44 44 44 45 46 46 47 51 55

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1. Declaração Universal dos Direitos dos Animais

Aprovada pela UNESCO em sessão de janeiro de 1979, em Bruxelas.

“Considerando que cada animal tem direitos; considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos levaram e continuam a levar o homem a cometer crimes contra a natureza e contra os animais; considerando que o reconhecimento, por parte da espécie humana, do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das espécies no mundo; considerando que genocídios são perpetrados pelo homem e que outros ainda podem ocorrer; considerando que o respeito pelos animais, por parte do homem, está ligado ao respeito dos homens entre si; considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, compreender e respeitar os animais;

Proclama-se

Art. 1 - Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito à existência.

Art. 2 - a) Cada animal tem o direito ao respeito. b) O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-los, violando este direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço de outros animais. c) Cada animal tem o direito à consideração, à cura e à proteção do homem.

Art. 3 - a) Nenhum animal deverá ser submetido a maus tratos e a atos cruéis. b) Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia.

Art. 4 - a) Cada animal, que pertence a uma espécie selvagem, tem o direito de viver livre no seu ambiente natural terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de reproduzir-se. b) A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito.

Art. 5 - Cada animal pertencente a uma espécie que vive habitualmente no ambiente do homem tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprios da sua espécie. b) Toda modificação desse ritmo e destas condições, impostas pelo homem para fins mercantis, é contrária a este direito.

Art. 6 - a) Cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de vida conforme a sua natural longevidade. b) O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.

Art. 7 - Cada animal que trabalha, tem o direito a uma razoável limitação do tempo e intensidade do trabalho, a uma alimentação adequada e ao repouso.

Art. 8 - a) A experimentação animal, que implica em sofrimento físico e psíquico é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra. b) As técnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas.

Art. 9 - No caso de o animal ser criado para servir de alimentação, deve ser nutrido, alojado, transportado e morto sem que para ele resulte ansiedade ou dor.

Art. 10 - a) Nenhum animal deve ser usado para o divertimento do homem. b) A exibição dos animais e os espetáculos que utilizam animais são incompatíveis com a dignidade do animal.

Art. 11 - O ato que leva à morte de um animal, sem necessidade, é um biocídio, ou seja, um delito contra a vida.

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Art. 12 - a) Cada ato, que leva à morte de um grande número de animais selvagens, é um genocídio, ou seja, um delito contra a espécie. b) O aniquilamento e a destruição do ambiente natural levam a genocídio.

Art. 13 - a) O animal morto deve ser tratado com respeito. b) As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser proibidas no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim mostrar um atentado ao direito do animal.

Art. 14 - a) As associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representadas a nível de governo. b) Os direitos do animal devem ser defendidos por leis, como os direitos do homem.”

2. Lei 9605/98 - CAPÍTULO V - Dos Crimes Contra O Meio Ambiente Seção I - Dos Crimes contra a Fauna

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas:

I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;

II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;

III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:

I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;

II - em período proibido à caça; III - durante a noite;

IV - com abuso de licença; V - em unidade de conservação;

VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.

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§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional.

§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:

I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público;

II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente;

III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos;

II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

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I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante;

II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos.

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:

I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;

III – (VETADO)

IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

3. Introdução à Zootecnia

A palavra zootecnia surge pela primeira vez em 1843, na língua francesa, "zootechnie", formada a partir dos radicais gregos "zoon" e "tecnê", para designar o conjunto de conhecimentos já existentes relativos à criação dos animais domésticos. A exploração dos animais domésticos já existia antes da criação da palavra, inicialmente tratada como a forma de criar a partir da domesticação dos primeiros animais pelo homem primitivo.

Zootecnia é uma ciência e, como tal, está em constante descoberta e modificação. À medida que novos estudos e pesquisas vão sendo realizados, as conclusões vão modificando a prática da produção animal. Cada vez mais a produção pecuária se torna ao mesmo tempo economicamente viável, ecologicamente correta e produz alimentos de alta qualidade, em quantidade suficiente, além de outros bens e serviços para utilização humana. Podemos então dizer que: “ZOOTECNIA é a ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório e deste ambiente ao animal”.

A zootecnia estuda especificamente os animais domésticos e/ou aqueles selvagens em processo de domesticação, que visem exploração econômica. Entendemos por animais domésticos aqueles animais sobre os quais o homem tem profundo conhecimento, seja em relação à sua biologia, genética, comportamento e reprodução, e sobre os quais exerce domínio. Trataremos sobre domesticação e seus processos em capítulo à parte.

Os objetivos da Zootecnia se resumem a produção de alimentos, de trabalho, de vestuário, de matéria prima para a indústria ou agricultura, de companhia, de segurança, etc. Estes objetivos, ou produtos gerados pela produção pecuária, frutos da zootecnia justificam sua existência na promoção da qualidade de vida dos seres humanos, embora o acesso a estes produtos nem sempre se dê de forma equilibrada e justa.

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O suporte da “ciência Zootecnia” é fornecido pelo produtor, que conhece sua criação e o que acontece na prática e o embasamento da produção animal é dado pelos resultados obtidos nos experimentos. É importante o produtor e o técnico de campo repassarem suas informações, observações e idéias para o pesquisador e este devolver os resultados de sua pesquisa para serem aplicados no campo, em condições não controladas para se afirmarem como técnicas adequadas.

Como ciência, a Zootecnia passou por duas fases. A primeira delas é a Fase Empírica - onde a zootecnia era tratada como arte, onde não havia princípios científicos embasando a criação e cada um fazia o que "achava" ou "imaginava" ser a melhor forma de criar seus animais e produzir bens de consumo. Era fruto da observação, mas não tinha cunho científico, estatisticamente comprovado.

A segunda é a Fase Técnica - onde a ciência passa a embasar a atividade pecuária, fornecendo ao homem do campo informações bem precisas sobre como produzir. Visando maior produtividade e também melhor qualidade do produto gerado, bem como o seu beneficiamento e incremento de valor, passando também pelo bem estar dos animais envolvidos no processo.

Esta ciência, a Zootecnia, se divide em dois grandes grupos:

Zootecnia Geral, que é a parte teórica. Ela estuda os animais domésticos do ponto de vista geral, desenvolve leis e métodos. Os aspectos sob os quais a Zootecnia geral encara, ou visualiza os animais são a Domesticação, que se preocupa com a origem das espécies, sua entrada em domesticidade, quando e como se deu este processo, etc.; a Individualidade, que se preocupa com o conhecimento das características étnicas, raciais, sexuais e produtivas de cada espécie ou indivíduo; os Efeitos ambientais que agem sobre a produção animal, sejam através do meio ambiente natural (clima relevo, condições naturais, etc.) ou do meio ambiente artificial (alimentação, sanidade, manejo, etc.) e os Efeitos Genéticos que provocam as grandes diferenças entre espécies e indivíduos através da variabilidade, métodos de reprodução, sistemas de acasalamentos, seleção, etc. Também os fatores inatos de cada indivíduo ou espécie e os processos de seleção natural (promovida pela natureza) e de seleção artificial (promovida pelo homem,

conscientemente através dos programas de Melhoramento Genético, ou

inconscientemente, através de tomadas de decisões empíricas).

Zootecnia Especial é a parte que estuda cada espécie em particular. Seus processos “específicos” de produção, reprodução, comportamento, alimentação, etc. A criação de cada espécie em particular tem um nome específico. Por exemplo, a zootecnia especial voltada para o estudo e produção de bovinos chama-se Bovinocultura e esta pode ser de corte ou de leite, dependendo do objetivo, do produto final. Em relação aos suínos temos a Suinocultura, para as galinhas de postura temos a Avicultura de postura e para os frangos de corte a Avicultura de corte. Temos ainda a Cunicultura (coelhos), Apicultura (abelhas), Caprinocultura (caprinos), Ovinocultura(ovinos), Bufalinocultura (búfalos), Sericicultura (bicho da seda), Piscicultura (peixes de água doce), Eqüinocultura (eqüinos), Helicicultura (escargot), etc.

A Zootecnia apresenta uma estreita relação com outra ciência, a Fitotecnia. Sendo assim temos uma relação de troca de produtos e informações entre estas duas ciências intimamente relacionadas. Enquanto a Zootecnia fornece trabalho (força motriz), fertilizantes orgânicos de alta qualidade e promove uma valorização do alimento vegetal, a Fitotecnia responde com o fornecimento de alimentos para os animais herbívoros e onívoros bem como com abrigo para eles.

Com outras ciências (disciplinas) também há um intercâmbio de informações e certa interdependência. Em relação à adaptação dos animais ao meio (manejo)temos a

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Climatologia; a Geografia; a Meteorologia; a Cartografia; a Genética, etc. Em relação à alimentação dos animais temos a Nutrição; a Botânica; a Química (orgânica); a Matemática (cálculos de ração) a Bromatologia (estudo dos alimentos em relação aos seres vivos), etc. Em relação ao melhoramento Genético de nossos rebanhos não podemos abrir mão da Genética; da Biologia e da Matemática e Estatística. Para manutenção da sanidade vamos recorrer à biologia; à Farmacologia, à Veterinária, etc. E temos ainda a Administração, a Economia, a Sociologia e tantas outras.

4. Origem e Evolução

A enorme variedade de espécies de seres vivos tem fascinado a humanidade ao longo da história. Compreendê-la sempre se constituiu num desafio. Em praticamente todas as sociedades humanas encontramos explicações religiosas para a origem dos seres vivos. Muitos religiosos incorporaram as tradições judaico-cristãs, difundindo pelo mundo as explicações contidas no velho testamento. Estas explicações, às vezes razoáveis e às vezes absurdas, vêm aos poucos sendo investigadas pela ciência. Há cerca de dois séculos começaram a surgir as explicações científicas para a origem e a diversidade da vida existente em nosso planeta.

Desde então, as evidências dos fatos têm mostrado que a vida em nosso planeta provavelmente surgiu sem nenhuma interferência sobrenatural. A enorme variedade de espécies existentes deve-se à lenta transformação e diversificação dos primeiros seres vivos, surgidos há milhões de anos, através de um processo conhecido como EVOLUÇÃO BIOLÓGICA.

A evolução tem suas bases fortemente corroboradas pelo estudo comparativo dos organismos, fosseis ou atuais. Estas comparações podem se dar por homologia, analogia ou órgãos vestigiais.

Por homologia entende-se a semelhança entre estruturas de diferentes organismos, devida unicamente a uma mesma origem embriológica. As estruturas homológicas podem ou não exercer a mesma função. O braço do homem, a pata do cavalo, a asa do morcego e a nadadeira da baleia são estruturas homológicas entre si, pois todas têm a mesma origem embriológica. Nestes casos não há similaridade funcional. Ao analisar a asa do morcego e a da ave, no entanto, verifica-se que ambas tem a mesma origem embriológica estando também associadas à mesma função. A homologia entre estruturas de diferentes organismos sugere que eles se originaram de um grupo ancestral comum e, embora não indique um grau de proximidade comum, indica que deste grupo partem várias linhas evolutivas que originaram várias espécies diferentes. Chama-se de irradiação adaptativa.

A Analogia refere-se à semelhança morfológica entre estruturas, em funções de adaptação à execução da mesma função. As asas dos insetos e das aves são estruturas diferentes quanto à origem embriológica, mas ambas estão adaptadas à execução de uma mesma função: o vôo. São, portanto, estruturas análogas. As estruturas análogas não refletem por si só qualquer grau de parentesco. Elas fornecem indícios da adaptação de estruturas de diferentes organismos a uma mesma variável ecológica. Quando organismos não intimamente aparentados apresentam estruturas semelhantes exercendo a mesma função, dizemos que eles sofreram evolução convergente. Ao contrário da irradiação adaptativa, a evolução convergente ou convergência evolutiva é caracterizada pela adaptação de diferentes organismos a uma condição ecológica igual, assim as formas do corpo do golfinho, dos peixes, especialmente os tubarões, e de um réptil chamado ictiossauro são bastante semelhantes, adaptados à natação. Neste caso a semelhança

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não é sinal de parentesco, mas resultado da adaptação destes organismos ao ambiente aquático.

Os órgãos vestigiais são aqueles órgãos que, em alguns organismos, encontram-se com tamanho reduzido e geralmente encontram-sem função, mas em outros organismos são maiores e exercem função definitiva. A importância evolutiva desses órgãos vestigiais é a indicação de uma ancestralidade comum. Um bom exemplo conhecido de órgão vestigial no homem é o apêndice vermiforme, estrutura pequena e sem função que parte do ceco (estrutura localizada no ponto onde o intestino delgado liga-se ao grosso). Nos mamíferos roedores, o ceco é uma estrutura bem desenvolvida, na qual o alimento parcialmente digerido é armazenado e a celulose, abundante nos vegetais ingeridos, é degradada pela ação de bactérias especializadas. Em alguns desses animais o ceco é uma bolsa contínua, e em outros, como o coelho, apresenta extremidade final mais estreita, denominada apêndice, que corresponde ao apêndice vermiforme humano.

As idéias mais importantes sobre a evolução dos seres vivos vieram a público nos primeiros meses de 1859, com a publicação de um dos mais influentes e polêmicos livros na história da humanidade. De autoria de Charles Darwin, o livro “A Origem das Espécies” explica como, através da seleção natural e da luta pela sobrevivência surgiram e/ou se modificaram as espécies hoje existentes. Desde a sua publicação toda a especulação séria a respeito da vida na Terra tem tomado como base a “Teoria da Evolução”, descrita no livro.

Até o início do século XIX a maioria das pessoas, particularmente no mundo ocidental, aceitava a idéia de que cada espécie de ser vivo havia sido fruto da criação divina. Esta crença é hoje conhecida como Criacionismo ou Teoria da Criação. Para o mundo científico, no entanto, os seres vivos surgiram sem nenhuma interferência divina, há mais de 3,5 milhões de anos e desde então vêm se modificando lenta e gradativamente, processo este que se prolongará indefinidamente.

4.1 - TEORIA DE LAMARCK

Jean-Baptiste Lamarck(1744-1829), naturalista francês foi um cientista que acreditava que os organismos tinham surgido por transformações sucessivas de formas mais primitivas. Segundo ele, as criaturas mais simples tinham surgido de forma espontânea (Teoria da GERAÇÃO ESPONTÂNEA) a partir de matéria não viva, modificando-se ao longo de incontáveis gerações sucessivas. Assim, admitindo-se que cada espécie surgira independentemente a partir de um ancestral primitivo, Lamarck não pressupunha nenhum tipo de parentesco entre as diversas espécies. Lamarck baseou sua teoria sobre dois pontos principais:

Lei do Uso e Desuso (1a Lei de Lamarck) – Lamarck propõe que o uso freqüente de um determinado órgão ou estrutura conduz à hipertrofia (aumento de tamanho e desenvolvimento) deste. O desuso prolongado de determinada parte do organismo ocasionaria a atrofia (diminuição e perda da função) desta parte ou estrutura.

Esta hipótese ainda não explicava a contento a grande diversidade e complexidade de organização dos organismos vivos, sendo então complementada.

Lei da Transmissão Hereditária dos Caracteres Adquiridos (2a Lei de Lamarck) – Lamarck propõe que as modificações ocorridas nos órgãos e estruturas decorrentes da lei do Uso e Desuso seriam transmitidas aos descendentes, de geração em geração. Segundo Lamarck, o fato de as girafas terem seu pescoço tão cumprido e pernas dianteiras tão longas devia-se ao foto de esticarem-se freqüentemente para alcanças os brotos mais altos das árvores, estimulando assim estas partes do corpo. Os filhos, já nasceriam com a característica diferenciada e a ampliariam ainda mais. Lamarck explica também as pernas

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longas das garças: elas seriam em decorrência de seu esforço para manter o corpo fora d’água; Os coelhos teriam orelhas longas em resposta à freqüente solicitação da audição para perceber a aproximação dos predadores, que no esforço de canalizar melhor o som para o interior do conduto auditivo, iam esticando cada vez mais as orelhas; Também o tamanduá teria fortes garras e focinho comprido como resultado do contínuo esforço no processo de revolver a terra dos formigueiros e capturar as formigas.

A teoria de Lamarck não é aceita atualmente, pois suas idéias apresentam um erro básico: as características adquiridas não são hereditárias. Verificou-se que as alterações em células somáticas dos indivíduos não alteram as informações genéticas contidas nas células germinativas, não sendo, desta forma, hereditárias.

4.2 - TEORIA DE DARWIN

Em 1859, trinta anos após a morte de Lamarck, o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), publicou seu livro “A Origem das Espécies”, no qual reúne diversas evidências em favor do Evolucionismo, fruto da Seleção Natural. Os princípios básicos das idéias de Darwin podem ser resumidos da seguinte forma:

 Os indivíduos de uma mesma espécie apresentam variações em todos os caracteres, não sendo, portanto, idênticos entre si;

 Todo organismo tem grande capacidade de reprodução, produzindo muitos descendentes. Entretanto, apenas alguns descendentes chegam à idade adulta;

 O número de indivíduos de uma espécie é mantido mais ou menos constante ao longo das gerações;

 Assim há grande luta entre os descendentes, pois apesar de nascerem muitos indivíduos, poucos atingem a maturidade, o que mantém constante o número de indivíduos da espécie;

 Na luta pela vida organismos com variações favoráveis às condições do ambiente onde vivem tem mais chances de sobreviver quando comparados com organismos com variações desfavoráveis ao mesmo ambiente;

 Os organismos com estas variações favoráveis têm maiores chances de deixarem descendentes. Como há transmissão de características de pais para filhos, os descendentes apresentam estas variações favoráveis.

 Assim, ao longo das gerações, o processo de seleção natural mantém ou melhora o grau de adaptação das espécies ao ambiente.

Para Darwin, o comprimento do pescoço das girafas variava entre os indivíduos das populações originais (ancestrais), sendo esta variabilidade de origem hereditária. Nesta época ainda não se conheciam os princípios da genética, desvendados primeiramente por Gregor Mendel (1822-1884) monge austríaco, que endossou a teoria de Darwin depois de sua publicação. Segundo Darwin então, os indivíduos cujos pescoços eram geneticamente mais longos e as perdas dianteiras maiores alcançavam a melhor e mais abundante parte do alimento, tendo então maiores chances de sobrevivência e, conseqüentemente, reprodução. O que chamamos de Seleção Natural estaria, neste caso, beneficiando as maiores pernas e os pescoços mais longos levando, ao longo dos séculos, às girafas que conhecemos hoje.

A teoria de Darwin ou Seleção Natural é também conhecida como a Lei do Mais Apto. Isto significaria que o indivíduo mais adaptado (variação favorável) a um determinado ambiente ecológico teria melhores condições de sobrevivência e

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reprodução, deixando descendentes. Por outro lado o indivíduo menos adaptado (variação desfavorável) ao mesmo ambiente ecológico tenderia a não sobreviver ou não reproduzir ou ainda, reproduzir em pequena escala, tendendo estas características a desaparecer com o passar do tempo.

4.3 - TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO

A TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO ou Neodarwinismo foi formulada por vários pesquisadores durante anos de estudos, tomando como essência as noções de Darwin sobre a seleção natural e incorporando noções atuais de genética. A mais importante contribuição individual da genética, extraída dos trabalhos de Mendel, substitui o conceito antigo de herança através da mistura de sangue pelo conceito de herança através de partículas chamadas genes. A teoria sintética considera, conforme Darwin já havia feito, a população como unidade evolutiva. É importante lembrar que espécie é um agrupamento de populações naturais, real ou potencialmente intercruzantes e reprodutivamente isolados de outros grupos de organismos. Quando se diz potencialmente intercruzantes significa que uma espécie pode ter populações que não cruzem naturalmente por estarem geograficamente separadas. Entretanto, se colocadas artificialmente em contato, haverá cruzamento entre os indivíduos, com descendentes férteis.

Observando as diferentes populações de indivíduos com reprodução sexuada, pode-se notar que não existe um indivíduo igual ao outro. Exceções a essa regra poderiam ser os gêmeos univitelínicos, mas mesmo eles não são absolutamente idênticos, apesar de o patrimônio genético ser inicialmente o mesmo. Isso porque podem ocorrer alterações somáticas devidas à ação do meio. A enorme diversidade de fenótipos em uma população é indicadora da variabilidade genética dessa população, podendo-se notar que esta é geralmente muito ampla.

A compreensão da variabilidade genética e fenotípica dos indivíduos de uma população é fundamental para o estudo dos fenômenos evolutivos, uma vez que a evolução é, na verdade, a transformação estatística de populações ao longo do tempo, ou ainda, alterações na freqüência dos genes dessa população. Os fatores que determinam alterações na freqüência dos genes são denominados fatores evolutivos. Cada população apresenta um conjunto gênico, que sujeito a fatores evolutivos, pode ser alterado. O conjunto gênico de uma população é o conjunto de todos os genes presentes nessa população. Assim quanto maior o conjunto gênico, maior é a variabilidade genética.

Os fatores evolutivos que atuam sobre o conjunto gênico da população podem ser reunidos em duas categorias:

 Fatores que tendem a aumentar a variabilidade genética de uma população: mutação gênica, mutação cromossômica e recombinação;

 Fatores que atuam sobre a variabilidade genética já estabelecida: seleção natural. migração e oscilação genética.

A integração desses fatores associada ao isolamento geográfico pode levar, ao longo do tempo, ao desenvolvimento de mecanismos de isolamento reprodutivo, quando então, surgem novas espécies.

Verifique a definição destes conceitos no capítulo referente ao Melhoramento Genético Animal.

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5. Domesticação das Espécies

Chama-se domesticação o ato de tornar domésticos os animais selvagens. A expressão “doméstico” vem do latim DOMUS= CASA, sendo domésticos, então, os animais que convivem com o homem, na sua casa ou dependência, estabelecendo com ele uma simbiose permanente através das gerações. O homem proporciona a estes animais cuidados e alimentação e, em troca, recebe utilidades. Podemos também dizer que uma espécie é doméstica quando o homem conhece profundamente a sua biologia e sobre ela tem domínio, a ponto de poder reproduzi-la e/ou manipulá-la comercial ou cientificamente.

Nos dias de hoje é comum confundir-se animal doméstico com animal amansado, como é o caso de papagaios, macacos, cotia, etc. Porém estes não podem ser incluídos no grupo dos bois, cavalos, carneiros, cabras, cães, etc., que são espécies verdadeiramente domésticas. O animal amansado é um espécime, ou seja, apenas um indivíduo, ao passo que o doméstico é uma espécie inteira ou um grande grupo, representativo desta. O animal amansado é um indivíduo que perdeu sua agressividade frente ao homem, ou por domínio da força ou por reconhecimento da falta de perigo que este passa a representar.

O amestramento também não pode ser confundido com a domesticação uma vez que se resume a ensinar (amestrar – obedecer ao mestre) alguma ação a um animal, seja este doméstico ou selvagem, amansado ou bravio.

A domesticação foi uma conseqüência da própria criação dos animais, realizada pelo homem primitivo para satisfazer uma necessidade, seja religiosa, de companhia, de alimentação ou de agasalho. O homem primitivo, agindo mais por instinto do que por experiência (resultado do desenvolvimento da inteligência), estava mais próximo dos animais e lhe foi muito fácil conviver com eles, amansá-los, introduzindo-os na domesticidade. Este processo foi longo e atravessou gerações até estar concluído.

As primeiras espécies animais foram domesticadas quando o homem deixou de ser nômade, passando a ter vida sedentária. Segundo alguns estudiosos, esta domesticação iniciou-se por volta do ano 7000 a.C.

O primeiro animal a ser domesticado pelo homem foi o CÃO, no período neolítico, na idade da pedra polida, na região da Dinamarca. Ao contrário do que se imagina, aproximou-se do homem em busca dos restos de comida e foi utilizado pelos nossos ancestrais primeiramente como alimento. Posteriormente o homem percebeu que o cão era um bom caçador, passando a aprender técnicas de caça com ele. Na seqüência o cão foi utilizado como pastor e também como companhia. Hoje, além destas funções o cão é utilizado como instrumento de defesa. Após o cão, a CABRA/BODE foi domesticada na Ásia, devido principalmente à produção de leite que serviria como alimento. Vieram então o CARNEIRO/OVELHA (Ásia e Europa), os BOVINOS (europeus – Europa, zebuínos – Ásia) e o BÚFALO (Ásia). Este último ainda não é considerado doméstico, mas semi-doméstico, já que retorna muito facilmente ao estado selvagem quando restituído ao seu habitat original. Ainda no período neolítico (idade da pedra polida – 12 a 4 mil anos aC) o suíno foi domesticado na Ásia e Europa em busca de carne e banha.

Mais tarde, já na idade do bronze os homens da Ásia e da Europa domesticaram o cavalo e no Tibet e Etiópia se tem indícios da domesticação do jumento. Não se tem muita informação sobre a domesticação americana do cavalo. O coelho foi domesticado bem mais recentemente, na península Ibérica pouco antes do início da Idade Média. Depois disso vieram a galinha, o marreco, o pato, o peru, a carpa...

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Para atingir o estado de domesticação a espécie animal deve passar por três fases. São elas:

1a - Prisão ou cativeiro - Na qual é tirada a liberdade do animal. Onde o homem mantém o animal preso, porém dele não obtém lucro ou serviço. É o caso dos mamíferos dos parques e jardins zoológicos, viveiros, gaiolas, etc.

2a - Mansidão - Na qual o animal se sujeita ao homem. É a fase de convivência pacífica entre homens e animais, onde os animais já prestam serviços inestimáveis ao homem, embora não sendo domésticos. É o caso dos elefantes na Índia e na África, em estado bem próximo à domesticação porém sua biologia não permite a transição para o próximo estágio.

3a - Domesticidade - Na qual a espécie (não mais o indivíduo) se submete ao homem. É o estado de simbiose no qual se acham os animais domésticos e o homem. Alguns estudiosos consideram duvidosa a domesticação de alguns animais como os peixes, ostras, abelhas e até o bicho da seda. Existe ainda o estado de semi-domesticação, em que os animais não podem ser considerados completamente domésticos porque voltam à vida selvagem com relativa facilidade. É o caso do búfalo, rena, galinha d’angola, etc.

A domesticidade é uma qualidade hereditária, inata a certas espécies e resultante de três atributos, inerentes à espécie, que são:

1o - Sociabilidade - É o instinto que faz o animal procurar a vida conjunta. Todas as espécies domésticas vivem em bandos. Em virtude desta sociabilidade estes animais chegaram-se ao homem e deixaram-se amansar.

2o - Mansidão hereditária - É a ausência do instinto selvagem nos filhos dos animais domésticos, que não precisam sofrer nova operação de amansamento.

3o - Fecundidade em cativeiro - É a faculdade que garante a perpetuação da

espécie no estado doméstico.

Sem satisfazer as condições acima, o animal não pode ser domesticado, como acontece com o elefante, que é sociável, de índole mansa, mas não se reproduz facilmente em cativeiro. O número de espécies domésticas é, portanto, muito limitado, havendo para cada 1000 selvagens, entre mamíferos e aves, apenas uma doméstica. No entanto, tentativas para aquisição de novas espécies domésticas continuam a ser feitas, como com o bisão americano, antílopes, veados, raposas, roedores, aves e peixes.

Existem pelo menos duas hipóteses para explicar o modo como os animais foram domesticados pelo homem ao longo de sua história. Uns dizem que foi à força, enquanto outros crêem que a domesticação se deu por meios pacíficos.

A primeira hipótese se baseia em representações antigas, mostrando as várias fases do amansamento dos animais, e nas dificuldades que se encontram ainda hoje no adestramento de algumas espécies, como o cavalo, por exemplo.

A segunda afirma que os animais domésticos eram naturalmente mansos, pois não tinham o homem como seu predador, sendo o homem o culpado pelo medo que hoje eles demonstram, por terem sido perseguidos e maltratados. Os animais herbívoros e mesmo o lobo (ancestral do cão), nas ocasiões de intempéries e escassez, teriam procurado abrigo e restos de comida junto aos homens, que os retiveram, a princípio por curiosidade ou diversão e, descobrindo neles certas utilidades, teriam aprisionado-os, multiplicando-os em cativeiro.

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O mais provável é que ambas as teorias estejam corretas, onde em certos casos os animais se deixaram amansar facilmente e em outros tenha havido a necessidade do emprego da força.

Ao longo do tempo algumas espécies sofreram profundas modificações morfológicas, fisiológicas e psicológicas, ao passo que em outras essas transformações foram pequenas. As causas das modificações foram, provavelmente, a mudança do meio e do regime, através da seleção natural e a seleção artificial exercida pelo homem. As principais modificações acham-se resumidas no quadro a seguir:

ESTADO SELVAGEM ESTADO DOMÉSTICO

Pelagem uniforme, predominância do fulvo; os fenômenos de mimetismo são freqüentes.

Cor dos fâneros (pêlos) muito variável. Altura e volume uniformes na mesma raça. Altura e formas variáveis.

Pavilhões auditivos pequenos e muito móveis; os animais estão sempre em alerta na crença de um inimigo.

Orelhas de volume e direção variáveis. As defesas: chifres, dentes e garras são fortes,

simétricos e acerados.

Os órgãos de defesa tornam-se inúteis ou prejudiciais e freqüentemente atrofiados.

A constituição é rústica. A constituição, em geral, é débil. As funções se executam normalmente,

segundo os estímulos do meio.

Os animais são especializados nas funções de produção: são chamados especializados, melhorados ou aperfeiçoados.

As raças são pouco numerosas e cada uma é adaptada a um clima determinado.

As raças são muito numerosas e artificiais; vivem lado a lado, sob o mesmo clima, no mesmo regime e meio.

As causas destas modificações ainda não são totalmente conhecidas. Acredita-se que Acredita-sejam de natureza endógena (mudanças na parte germinal ou hereditária dos animais - por seleção natural, mutação gênica ou cromossômica ou ainda recombinação) - mistura das espécies e raças as causas diretas destas transformações. O meio ambiente e a seleção artificial realizada pelo homem seriam as causas indiretas.

De todas as modificações sofridas pelos animais domésticos, as mais importantes são aquelas relacionadas com as funções de produção. Assim a precocidade e a velocidade de ganho de peso nos animais para corte; a aptidão leiteira altamente desenvolvida na vaca e na cabra; a postura elevada na galinha e na marreca; a prolificidade na porca e na coelha; a velocidade no cavalo de corrida; a força tratora no cavalo de tiro, no boi de canga e no burro; foram aptidões altamente especializadas com a domesticação, atingindo, às vezes, um ponto dificilmente ultrapassável. Estas aptidões, das quais resultam utilidade ou serviço para o homem, são chamadas funções econômicas.

Em relação aos bovinos domésticos, temos diferenças importantes que precisam ser lembradas. Entre o grupo dos bovinos europeus e os indianos ou zebuínos existem diferenças que os caracterizam como subespécies diferentes que, embora cruzem entre si, produzido descendentes férteis, diferem a nível cromossômico. As principais destas diferenças, percebidas fenotipicamente, são listadas abaixo:

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Bovino Europeu (Bos taurus taurus) Bovino Indiano ou zebú (Bos taurus indicus) Adaptado a clima temperado Adaptado a clima tropical

Não possui cupim Possui cupim

Osso frontal bem adiante dos parietais Osso frontal quase no nível dos parietais Maior número de vértebras sacras e

coccígenas

Menor número de vértebras sacras e coccígenas Orelhas mais curtas e firmas Orelhas desenvolvidas, pendentes.

Pouca barbela Barbela abundante Menor número de glândulas sudoríparas e

sebáceas

Maior número de glândulas sudoríparas e sebáceas

Gestação mais curta (± 283 dias) Gestação mais longa (± 295 dias) Ap. digestório mais longo e com menor

capacidade de assimilação

Ap. digestório mais curto e com maior capacidade de assimilação

Menor resistência ao calor e à insolação Maior resistência ao calor e à insolação Menor resistência a ectoparasitos Maior resistência a ectoparasitos

Com a domesticação, algumas forças existentes nas populações selvagens passaram a atuar mais intensamente. Tais forças ou mecanismos são: a consangüinidade, o cruzamento e a seleção. As definições destes termos constam no capítulo referente ao Melhoramento Genético Animal.

Além desses mecanismos, a interferência do homem sobre o ambiente criatório e/ou o transporte dos animais domésticos para outros ambientes provocou diferenças nos caracteres morfológicos e fisiológicos dos animais na medida em que os afastou de seu habitat de origem.

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6 – Classificação Zoológica das Espécies Domésticas I. Classe: MAMÍFEROS

A. Ordem: UNGULATA

A1. Família: Perisseodáctila

01. Equus caballus ... cavalo/égua 02. Equus asinus ... jumento/jumenta A2. Família: Artiodáctila

a. Sub-Família: Suídeos

03. Sus scrofa domesticus ... porco/porca 04. Sus scrofa ... javali/javalina b. Sub-Família: Camelídeos

05. Camelus bactrianus ... camelo 06. Camellus dromedarius ...dromedário 07. Auchenia lhama ... lhama 08. Auchenia pacus ... alpaca c. Sub-Família: Cervídeos

09. Rangifer tarandus ... rena d. Sub-Família: Ovídeos

10. Ovis aries ... carneiro/ovelha 11. Capra hircus ... bode/cabra e. Sub-Família: Bovídeos

12. Bubalus bubalis ... búfalo

13. Bos taurus taurus ... bovino europeu 14. Bos taurus indicus ... bovino zebú 15. Bison bonasus ... bisão europeu 16. Bison americanus ... bisão americano B. Ordem: DIGITÍGRADA

B1. Família: Roedores a. Sub-Família:Leporídeos

17. Oryctolagus cuniculus ... coelho b. Sub-Família: Caviídeos

18. Cavia cobaya ... cobaia B2. Família: Carnívora

a. Sub-Família: Canídeos

19. Canis familiaris ... cachorro/cadela 20. Vulpes argentatus ... raposa prateada b. Sub- Família: Felídeos

21. Felis domestica ... gato II. Classe: PEIXES

A. Ordem: Teleósteos A1. Familia: Ciprinídeos

22. Cyprinus carpio ... carpa A2. Familia: Ciclídeos

23. Tilapia melanopleura ... tilápia A3. Familia: Salmonelídeos

24. Salmo lancustris ... truta III. Classe: INSETOS

A. Ordem: Lepidópteros A1. Família: Bombicídios

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25. Bombix mori ... bicho da seda B. Ordem: Himenópteros

B1. Família: Apídeos

26. Apis melifera melifera ... abelha comum 27. Apis melifera ligustica ... abelha italiana 28. Apis melifera adansoni ... abelha africana IV. Classe: AVES

A. Ordem: Anseriformes A1. Família: Anatídeos

29. Cignus cygnus ... cisne 30. Cairina moschata ... pato 31. Anas boschas ...marreco 32. Anas anser domesticus ...ganso B. Ordem: Galiformes

B1. Família:Faslanídeos

33. Gallus gallus domesticus ... galinha 34. Phasionus colchios ...faisão 35. Pavo cristatus ... pavão

36. Numida galeata ... galinha d`angola 37. Cotumix cotumix ...codorna

B2. Família:Penelopídeos

38. Meleagris galopavo ... perú C. Ordem: Columbiformes

C1. Família: Columbídeos

39. Columba doméstica ... pombo D. Ordem: Reiformes

D1. Família: Estrutionídeos

40 Struthio camelus ... avestruz D2. Família: Reídeos

41. Rhea americana ... ema

V. Classe: BATRÁQUIOS A. Ordem: Anuros A1. Família:Ranídeos

42. Rana catesbiana ... rã touro gigante 43. Rana exculenta ... rã doméstica

7. Utilização dos Animais Domésticos

O animal doméstico, como todos os animais, é a sede de funções fisiológicas (funções orgânicas), das quais depende a manutenção da sua vida. Eles respiram, nutrem-se e nutrem-se reproduzem. Essas funções do organismo que garantem a sua subsistência e a perpetuação da espécie são chamadas funções fisiológicas ou naturais.

Os animais domésticos, além disso, permitem que algumas dessas funções possam ser exploradas pelo homem, num certo sentido, para o seu aproveitamento

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econômico. Assim, as funções fisiológicas ou naturais das quais resulta uma utilidade, um bem ou um serviço para o homem, são chamadas funções produtivas, funções econômicas ou ainda funções zootécnicas.

Por exemplo, da função fisiológica da glândula mamária resulta um produto: o leite, que o homem utiliza na sua alimentação. A função da lactação é uma função fisiológica uma vez que garante sobrevivência aos filhotes de fêmeas mamíferas por outro lado é também, uma função produtiva, econômica ou zootécnica, já que fornece o leite para consumo e/ou processamento. Do funcionamento do úbere resulta uma utilidade - o leite. No entanto, apenas as fêmeas produzem leite, ou seja, apenas as fêmeas possuem a função fisiológica da produção de leite. Os machos, entretanto, têm na sua carga genética, o potencial para esta característica, ou seja, suas filhas produzirão leite. Daí dizermos que o macho, embora não apresente a função fisiológica da produção de leite, apresenta a função produtiva, econômica ou zootécnica para esta característica.

O deslocamento animal, resultante da contração e distensão dos músculos em seus membros, está no rol das funções fisiológicas. Mas o homem, explorando o serviço do aparelho locomotor do animal doméstico, conferiu-lhe função zootécnica explorando-o, por exemplo, para tração.

A função econômica, produtiva, ou zootécnica nada mais é, portanto, do que uma função fisiológica ou natural que dá margem a uma utilidade ou a um serviço, em proveito do homem. É toda função fisiológica que, em sendo útil ao próprio animal, ainda o é também para o homem.

7.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES PRODUTIVAS OU ZOOTÉCNICAS

Muitas são as funções produtivas ou zootécnicas dos animais domésticos, e muito diversas e distintas umas das outras. Variam de acordo com a espécie, com a raça, com o sexo do animal, com o gênero da exploração ou a situação desta. A espécie bovina não será capaz de oferecer as mesmas funções zootécnicas que a espécie eqüina, por exemplo. A raça ovina Merino, rigorosamente, não é explorada para o mesmo fim que os carneiros deslanados (Morada Nova). Em relação ao sexo, a fêmea bovina tem a função fisiológica da lactação, incompatível com a do macho da mesma espécie. No caso do gênero da exploração, considerando uma fazenda destinada à produção de leite, para abastecimento de uma cidade próxima, não tem cabimento a exploração da engorda de bois. Considerando a situação da exploração, em uma propriedade localizada distante de um centro consumidor ou de fábricas de laticínios, inacessível a rodovias de trânsito rápido, andará errado o criador que se dispuser à exploração da função láctea de uma raça bovina.

Isto justifica a distribuição dos bens e serviços dos animais domésticos em grupos mais ou menos distintos, caracterizando-se cada um pela predominância de uma utilidade ou função zootécnica (produtiva ou econômica).

Funções das quais resultam produtos para a alimentação humana: São exemplos as produções de carne, vísceras, leite, gordura e toucinho, manteiga, ovos, mel. As espécies capazes dessas funções são: os bovinos, os bufalinos, os suínos, os peixes, os caprinos, os ovinos, os coelhos, as aves, as abelhas, os eqüinos e asininos. A cobaia continua sendo um animal criado para a alimentação humana em alguns países sul-americanos como o Peru e a Bolívia.

Funções das quais resultam matéria prima para a indústria manufatureira: são exemplos a produção de lã, pêlos, seda, peles e couros. O carneiro, a cabra, o bicho-da-seda, o coelho, os bovinos e os bufalinos são seus principais produtores. Certas raças de

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cabra também têm como função zootécnica principal a produção de lã; é o caso da cabra Angorá. A utilização de crinas de eqüinos inclui-se neste grupo.

Funções das quais resulta força motriz: é o caso do aproveitamento do cavalo, do jumento e do seu híbrido, o burro, como motor vivo para transporte, tração ou esporte e lazer. Além desses, o boi, o búfalo, o camelo, a lhama, arena e até o cão são também empregados, embora em menor escala, com o mesmo fim, e, em determinadas regiões, exclusivamente ou pelo menos preferencialmente: o boi europeu em certas regiões onde os eqüinos são mais valorizados para outros fins; o búfalo e o boi zebú na Índia, nas ilhas da Ásia e Oceania, na África e parcialmente no Brasil em regiões de clima tropical; os camelos, como carga animal no norte da África, principalmente no Egito, e ainda em certas partes da Ásia; a lhama, nos Andes; a rena e o cão, na tração de trenós, nas regiões árticas, etc.

Despojos ou adornos: sob essa função podemos indicar a utilidade de certas aves domésticas cujas plumas e penas são utilizadas como adorno feminino ou na confecção de objetos de uso doméstico. A avestruz é a mais importante delas, pois é criada mesmo para a exploração de suas plumas. Outras aves domésticas fornecem penas como despojos e que são empregadas em almofadas, travesseiros, colchões, etc.

Detritos e excreções: são incluídos aqui aqueles produtos que, pela sua origem, seriam destinados ao abandono não fosse sua especial utilização. O estrume utilizado como regenerador dos solos se constitui numa matéria-prima para a agricultura, tão importante e indispensável que a antiga economia rural chegava a considerar o gado como um mal necessário, mero fornecedor de estrume para a lavoura. O boi, o búfalo, o cavalo, o carneiro, a cabra, o porco, a lhama e as aves domésticas são os principais fornecedores. Além do estrume, entre outros detritos e excreções, podem ser citados o sangue, os ossos, os chifres e as unhas que são aproveitados e valorizados pela indústria. Também o estrume pode ter outra utilização importante, como é o caso das lhamas, cujos dejetos são utilizados como combustível.

Função afetiva: nesta rubrica temos o serviço amorável do gato e do cão. De fato, cães e gatos de luxo ou estimação são considerados animais afetivos, habitantes do lar, amigos e companheiros do homem. Este, aliás, parece ter sido o primeiro serviço ou utilidade que o animal prestou ao homem primitivo. Os animais inicialmente foram criados por ele para serem companheiros ou serviram de tabus, objeto de veneração religiosa. E, isso não passa, evidentemente, de uma função afetiva. Aqui também podem ser incluídas, por extensão, as criações de todas as raças e espécies de aves de utilidade ornamental como pavões, cisnes, galinhas e outras. No entanto, esta função tem sido deturpada e tem gerado preocupação na sociedade, visto que, muitas pessoas transferem sua agressividade para os animais, criando e selecionando espécies com a mesma característica (agressividade) par animais de companhia e/ou proteção.

Faro e coragem do cão: aqui são exploradas duas qualidades do cão: o olfato (faro - elevado ao grau de maior perfeição entre as espécies domésticas) e a sua coragem (notável qualidade seja para caça, par auxiliar ambulâncias de guerra, a polícia civil, defesa do próprio homem ou sua propriedade).

Função humanitária: é o serviço que a cobaia e outros animais prestam ao homem, como animais de laboratório A cobaia foi domesticada pelos Incas como animal de açougue. Essa função zootécnica está passando por rigoroso crivo, de associações de proteção dos animais e da sociedade civil de maneira geral, em consideração aos abusos cometidos com animais de laboratório, em experimentações com muitos tipos de produtos e agentes, para posterior uso em humanos. Parece não estar longe o dia em que experimentos laboratoriais, com animais, serão considerados práticas condenáveis e legalmente inadmissíveis.

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Capital vivo: essa função diz respeito ao animal que, como capital, cresce de valor com a idade e, nisto reside uma das grandes diferenças entre a máquina viva e a máquina bruta. Enquanto esta só pode funcionar a partir do dia em que estiver pronta e acabada, a máquina viva (animal) pode produzir e trabalhar sem ter alcançado ainda o termo do seu desenvolvimento. Assim, o animal, ao mesmo tempo em que vai sendo explorado em uma função produtiva qualquer, própria à sua espécie e raça, vai aumentando de valor. Neste caso, está “criando” capital, enquanto dá renda com a exploração de sua função econômica, principal. Uma novilha com 24 meses de idade já pode dar cria e, no entanto, ainda continuará crescendo, isto é, ainda está aumentando de valor, apesar de já estar sendo explorada como máquina viva transformadora e valorizadora de forragens. A função de capital vivo não é incompatível com a exploração de outras funções.

Alcançando a idade adulta, atingiu o animal o apogeu de seu valor e de suas funções. Daí por diante, se bem que continua a produzir renda, em devido à exploração de suas funções zootécnicas, cessa, todavia de aumentar de valor, em geral, deixando de acumular capital. Sua valorização permanece estacionária durante algum tempo, para depois entrar em declínio, já então se desvalorizando como qualquer máquina sujeita à usura. Atingiu a “velhice zootécnica”. Mas é possível evitar esse desperdício, ou sustar o agravamento da perda de capital do animal, remetendo-o ao abate onde dará sua última renda. Um animal que alcançou seu máximo valor zootécnico e seu máximo rendimento zootécnico deve ser conservado até o momento em que começa a decrescer sua produção ou até atingir os índices mínimos aceitáveis de produção (em termos de quantidade e qualidade). Neste momento deve ser substituído por outro mais novo, com suas faculdades zootécnicas nascentes e, que em crescendo, está aumentando de valor como capital vivo.

7.2 - ESPECIALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES PRODUTIVAS OU ZOOTÉCNICAS

A especialização das funções produtivas ou zootécnicas tem de ser encaradas sob dois aspectos: teórico e prático.

Do ponto de vista teórico o princípio da especialização das funções consiste em desenvolver no animal “uma” função zootécnica e, com isso, conseguir um máximo de rendimento. Essa visão tem sua razão de ser, desde que não seja exagerada. Uma máquina viva é um conjunto harmonioso de órgãos que não funcionam rigorosamente independentes uns dos outros. Há entre eles, mesmo entre os mais distantes, uma ligação de ordem fisiológica. Daí a impossibilidade de exagerar, de elevar ao extremo a atividade exclusiva de um órgão desse conjunto harmonioso. Dar-se-ia fatalmente um desequilíbrio fisiológico, que viria anular as possíveis vantagens da especialização porque só o animal sadio, com seus órgãos funcionando harmoniosamente, é capaz de produzir eficientemente. Assim, essa visão, teoricamente aceitável, em termos, também pode ser aceitável na prática. Por exemplo, não há impossibilidade fisiológica qualquer que deixe de permitir a exploração lucrativa de raças especializadas para carne, ovos, leite, velocidade, pêlos, força, etc. Tudo depende dos termos dessa especialização, de tal sorte que não prejudique a harmonia fisiológica dos órgãos.

À medida que se seleciona uma função, num determinado sentido, pode-se comprometer as outras funções. Pelo princípio das correlações fisiológicas, à medida que se especializa num sentido se enfraquecem as outras funções fisiológicas dos animais. Assim, é conhecido que as raças altamente especializadas são as que apresentam menor resistência, isto é, são aquelas cujos meios de defesa aos fatores ambientais são mais fracos. Apresentam-se como organismos mais delicados, débeis, adaptados a certas condições restritas nas quais conseguem realizar esse trabalho altamente produtivo. Do ponto de vista biológico, portanto, a alta especialização é contra-indicada no sentido geral de adaptação ambiental. Muitas vezes, afora das condições ideais, de controle

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absoluto, a alta especialização pode se tornar anti-econômica devido à sua deficiente capacidade de acomodação. Um exemplo disso é apresentado por DÜMMRICH ao analisar o tamanho do coração de suínos domésticos e selvagens:

Discriminação Landrace Selvagem

Peso vivo (kg) 160 57

Peso do coração

(kg)

0,21 0,38

Raças produtoras de leite ou carne, como a Holandês e o Shorthorn, deixam de ser economicamente produtivas sob condições de clima muito quente e seco, de pastagens fracas. Esses animais deixariam de corresponder à expectativa e acabariam vencidos pelo meio ambiente hostil. Por essa razão, quando se considerar a especialização deve também ser considerada a acomodação do animal. Quando se encaminhar a especialização, é preciso sempre lembrar as condições gerais do meio onde o animal vai ser criado.

Do ponto de vista prático é necessário considerar fatores como a localização da exploração, o valor das terras, o meio social, a mão-de-obra e mercados.

Perto de um grande centro consumidor, onde a terra possui valor elevado, e onde os lucros devem ser compensadores e imediatos, qualquer exploração animal deverá ser necessariamente especializada, numa certa direção. Não é razoável, por exemplo, que aí se compre terras para engordar bois, mas sim para a criação de vacas leiteiras, cujo leite, em tal situação, terá consumo certo e garantido, dando lucros imediatos. Para essas condições a construção de aviários, para produção de aves ou ovos, também encontra resposta favorável à exploração em função da proximidade e das características do mercado consumidor.

No caso das regiões mais distantes, com abundância de pastagens, seria imprópria a exploração leiteira: o consumo local não esgotaria as possibilidades de produção. Talvez, a produção de manteiga pudesse ter alguma viabilidade, se o transporte não for um obstáculo ao escoamento da produção. Outra possibilidade poderia ser a produção de queijos. A mais provável possibilidade econômica seria a exploração de gado de corte.

7.3 - FUNÇÕES ZOOTÉCNICAS E A ESCOLHA DE REPRODUTORES

A escolha dos animais para reprodução baseia-se nas suas funções produtivas ou zootécnicas e não apenas em detalhes de conformação exterior, pelagem ou outro. A escolha de um reprodutor é feita quando o seu valor produtivo for conhecido. Na vaca leiteira, a quantidade e a qualidade do leite. No cavalo de corrida, a sua velocidade. No carneiro, a quantidade e qualidade da sua lã ou carne. Nas aves de postura, a quantidade e a qualidade dos ovos. Nos animais de corte, a sua precocidade e facilidade de terminação/acabamento. É o que se chama medir a capacidade produtiva do animal, ou seja, medir sua função produtiva peculiar, para acertar na escolha dos animais destinados à reprodução.

7.4 - APTIDÃO E ESPECIALIZAÇÃO

Quando um técnico ou criador procura medir as funções produtivas de um animal, diz-se que está determinando o grau das aptidões zootécnicas desse animal. A aptidão, entretanto, não deve por isso ser confundida com a função.

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APTIDÃO ZOOTÉCNICA OU PRODUTIVA é a disposição natural que o animal apresenta para esta ou aquela função econômica. A aptidão é a soma das virtualidades (potencialidades) produtivas, que o animal transmite aos seus descendentes. Assim, a vaca leiteira transmite a sua aptidão para a lactação (ótima, boa ou ruim). O touro de raça leiteira também transmite essa aptidão (boa, ótima ou medíocre), embora seja incapaz de exibir a função respectiva, propriamente. O mesmo acontece com o galo, com respeito à aptidão postura.

FUNÇÃO PRODUTIVA é o ato fisiológico (ou função fisiológica) do qual resulta utilidade ou serviço para o homem. A aptidão é esse caráter em estado potencializado. É, portanto aquilo capaz de ser hereditariamente transmissível. É, afinal, o que mais interessa ao melhorista.

A aptidão zootécnica nasce com o animal. Ele não a adquire por efeito de influências exteriores, do ambiente. Sem estas, no entanto, a aptidão não pode se revelar.

Em algumas funções zootécnicas podem ocorrer situações onde a especialização pode estar numa posição intermediária entre duas funções zootécnicas distintas. Por exemplo: nos bovinos pode ocorrer aptidão leiteira, a aptidão para corte e uma situação intermediária onde a aptidão não está bem definida, sendo, neste caso, chamado de aptidão mista onde os animais podem ser usados para a produção leiteira e para a produção de carne, simultaneamente. Assim, algumas raças bovinas apresentam aptidão leiteira, outras a aptidão corte e outras ainda a aptidão mista. Em suínos pode existir a aptidão carne, banha e mista. Em aves a aptidão postura, corte e mista. Em eqüinos a aptidão tração, montaria ou mista. Em cabras a aptidão leite, corte ou mista. Em ovelhas a aptidão lã, carne ou mista.

Em zootecnia, a aptidão pode, de certo modo, ser equivalente ao que se chama de TIPO ZOOTÉCNICO OU ECONÔMICO que corresponde àquela conformação que torna o animal altamente utilizável em determinado gênero de exploração. Tipo zootécnico é a conformação que corresponde à determinada utilização do animal. Assim, uma vaca do tipo leiteira apresenta uma conformação angulosa e descarnada, enquanto que, uma vaca do tipo corte, apresenta uma conformação cilíndrica e com boa cobertura muscular.

8. Climatologia Zootécnica

O animal porta-se como um sistema termodinâmico que continuamente troca energia com o ambiente. Neste processo os fatores externos do ambiente tendem a produzir variações internas no animal, influenciando na quantidade de energia trocada entre ambos, havendo então necessidade de ajustes fisiológicos para a ocorrência do balanço de calor. A adaptabilidade pode ser medida ou avaliada pela habilidade que tem o animal de se ajustar às condições médias ambientais de climas adversos com o mínimo de perda de peso e conservando alta a taxa reprodutiva e a resistência às doenças, baixa a taxa de mortalidade e mantendo a longevidade natural.

O conceito de adaptação a um dado ambiente está relacionado com mudanças estruturais, funcionais ou comportamentais no animal. Toda situação ambiental que provoca resposta adaptativa é considerada estressora. O estresse pode ser crônico, quando é gradual e constante, ou agudo, quando é brusco e intenso.

Quando submetido a um ambiente estressante, várias funções internas do animal são alteradas: há redução do crescimento, desvio dos nutrientes que seriam usados na produção dos processos de mantença, redução da resistência às doenças, variação de freqüência respiratória e da temperatura corporal.

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A Climatologia zootécnica foi criada para pesquisar o comportamento dos animais de raças melhoradas ao serem introduzidos nos países de clima quente. De antemão já se sabia do baixo rendimento, o que não se conhecia era a causa disto.

A Climatologia envolve a pressão atmosférica, a umidade do ar, os ventos, a temperatura ambiente, a luminosidade, a radiação solar, etc.

O Clima é o regulador fundamental da produção animal ou seu limitador. Ele comanda a vida e o rendimento zootécnico dos animais domésticos. Como o homem não pode modifica-lo, criou alguns recursos técnicos artificiais que são utilizados quando é economicamente viável. Por isso o criador procura antes escolher adequadamente a raça mais adaptada ao seu meio ambiente.

A temperatura do ar se faz sentir sobre o animal por condução. A pele mais quente tende a perder o calor em contato com o ar mais frio. Se a temperatura do ar aumenta, diminui essa perda de calor até acontecer a operação inversa. O animal recebe calor do ambiente, quando a temperatura do ar é elevada e ele está sob a ação direta da radiação solar.

No frio, verifica-se a contrição dos vasos sanguíneos superficiais, erição dos pêlos, eliminação de água do sangue. No calor, dá-se a dilatação dos vasos sangüíneos superficiais, o aumento do ritmo respiratório, a necessidade de água e a exaustão.

No frio a circulação tende a decrescer e o organismo não requer acréscimo de água, eliminando-a através dos rins. No calor temos a intensificação da circulação, há perda de água pela respiração e pela pele e então surge a necessidade de líquidos. Quando a temperatura chega a um nível crítico o volume de urina se reduz de tal forma que podem ocorrer cálculos urinários. Com o aumento do calor verifica-se a perda do apetite do animal. Com a redução da temperatura dá-se um estímulo do apetite.

 O Crescimento é favorecido com o aumento da temperatura (dentro de certos limites);

 O calor não favorece as glândulas (leite), o frio é mais favorável;

 Quanto à Reprodução: Nos climas muito frios a época de reprodução é bem pequena (restrita), mas as altas temperaturas reduzem o apetite sexual (libido). Nos machos o calor influi sobre as gônadas e sobre os testículos, distendendo-os e assim a qualidade do sêmen decai. Nas aves isto se reflete na postura, que diminui nas altas temperaturas.

A espessura da camada pilosa dos mamíferos e a plumagem nas aves sofrem uma irrigação permanente e profunda nos climas frios, formando pêlos longos, grossos e vastos. No calor há um congestionamento das camadas superficiais da pele, reduzindo a formação de pêlos, em quantidade e em dimensão. No nordeste do Brasil os bois, cavalos e carneiros perdem os pêlos. A adaptação ao clima dos carneiros Morada Nova reflete-se na ausência de lã. Ao se adaptarem aos climas quentes bovinos das raças européias sofrem certas modificações no pêlo. Os mais peludos são os preferidos de carrapatos e bernes (ectoparasitos).

A Luz, a Umidade, a Pressão Atmosférica, os Ventos e a Radiação Solar: A penetração da luz solar na pele do animal pode alcançar uma profundidade tal que provoca inflamação. Embora a luz seja necessária à fixação do Cálcio e das vitaminas em geral, na ausência de luz o metabolismo baixa e favorece a engorda dos animais. Nas aves o prolongamento das horas de luz provoca uma ação estimulante da hipófise sobre o ovário, aumentando a produção de ovos. Daí a prática de manter um local pouco iluminado para os animais destinados ã engorda e com bastante luz para aqueles destinados a reprodução.

Referências

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