Espécies de interpretação - quanto às fontes
● AUTÊNTICA:
○ realizada pelo menos poder que expediu a norma, esclarecendo seu sentido e seu alcance;
○ figura criada pelo imperador Justiniano, para a interpretação do seu Código;
○ na Idade Média, estendeu-se para os reis, príncipes, senhores feudais, autoridades locais;
○ nos dias atuais, passou a ser reconhecida em duas modalidades:
■ legislativa - quando uma lei nova interpretativa ou por um decreto regulamentador;
■ jurisprudencial - decisões dos tribunais, sejam sumuladas ou não.
● DOUTRINÁRIA:
○ realizada pelos doutrinadores, juristas, conferencistas, profissionais do Direito;
○ pode vir a tornar-se jurisprudencial, se for adotada nas decisões dos tribunais;
○ nos dias atuais, passou a fazer parte do Ordenamento, junto com a lei e a jurisprudência;
○ encontra-se nos congressos, simpósios, seminários e eventos jurídicos especializados.
Espécies de interpretação - quanto aos meios
1. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL OU LITERAL
a. concentra-se nas palavras da lei, buscando o seu significado mais profundo (exegese);
b. origina-se dos estudos bíblicos e dos glosadores medievais, era a única na época clássica;
c. atualmente, adota-se como ponto de partida para a análise dos conteúdos das normas;
d. constitui-se num estudo técnico, que deve abordar os seguintes aspectos:
i. conhecimento dos estilos regionais e variações linguísticas temporais;
ii. conhecimento da personalidade do autor (vida, profissão, obras, classe social…) iii. conhecimento da evolução do tema (um comando legal passa por diversas formas
interpretativas;
iv. pesquisa sobre a autenticidade do texto e sobre possíveis falhas de redação;
v. cautela técnica relacionada com as imperfeições da linguagem;
vi. buscar sempre o sentido jurídico dos vocábulos, relacionando-os com a totalidade do texto.
Espécies de interpretação - quanto aos meios
2. LÓGICA
a. procura a coerência e o espírito da norma, em vista da sua aplicação social;
b. atividade complementar do estudo linguístico do texto, deduzindo-se que:
i. não há palavras supérfluas na lei, todas têm o seu sentido próprio;
ii. deve-se buscar a coordenação das idéias e a concatenação dos raciocínios;
iii. devem-se evitar exageros tecnicistas, para entendimento do cidadão comum;
iv. deve-se usar o bom senso, para compreender o texto dentro da objetividade do sentido;
v. a lei existe para ser cumprida, não somente para ser estudada e discutida.
3. HISTÓRICA
c. examina os preparativos da lei e as discussões havidas na sua origem;
d. nos debates que antecederam a aprovação da lei estão as suas reais motivações;
e. estudar a evolução histórica dos institutos jurídicos, desde suas origens romanas;
f. compreender os fatos sociais emergentes e relevantes que inspiraram os legisladores;
g. alcançar tanto a “mens legislatoris” quanto a “mens legis”
Espécies de interpretação - quanto aos meios
4. SISTEMÁTICA
a. procura compreender o significado das palavras na perspectiva do texto inteiro da lei;
b. procura compreender a lei na perspectiva do ordenamento jurídico inteiro;
c. identificar a natureza do texto legislativo e enquadrá-lo no modelo teórico apropriado:
i. normas referentes à administração pública - legalidade, formalismo;
ii. normas constitucionais - contexto sociológico e político;
iii. normas civis - envolvem aspectos técnicos (prescrição) e culturais (família);
iv. normas penais - envolvem aspectos técnicos e comportamentais;
v. normas trabalhistas e previdenciárias - aspectos assistencialistas.
REGRA BÁSICA: é ilegítimo interpretar uma palavra da lei sem levar em conta o texto completo da lei, o conjunto jurídico normativo e os dispositivos
constitucionais aplicáveis.
(Incivile est, nisi tota lege perspecta, una aliqua particula ejus judicare vel respondere - Celso, jurista romano).Comentários de Carlos Maximiliano
● É necessário romper com a tradição formalista e engendrar uma nova lógica jurídica, baseada na justiça social;
● Não basta a elaboração lógica dos materiais jurídicos para que se atinja o ideal da justiça;
● Mais do que uma interpretação literal, lógica ou sociológica, prevalece hoje a exposição sistemática da norma;
● É preciso compreender bem os fatos, mas também ser inspirado pelo nobre interesse dos destinos humanos;
● Sem se deixar arrastar pelo sentimento, o jurista vai aplicar a lei à vida real e fazer do Direito o que ele deve se:, uma condição da coexistência humana.
● Os novos paradigmas hermenêuticos colocam o Direito como instrumento de mudança social.
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Espécie de interpretação - q. aos resultados
● declarativa - esclarece o significado das expressões verbais da norma, afirma o conteúdo da lei com outras palavras; interpretação literal padrão;
● restritiva - reduz o alcance das palavras da lei, colocando limites para a sua aplicação; normas que restringem direitos devem ser assim interpretadas;
● extensiva - amplia o alcance do texto legal, dando-lhe maior abrangência, quando o texto da lei é imperfeito (ex: textos de redação complexa);
● analógica - espécie de interpretação extensiva, quando o texto é lacunoso (ex:
aplicação da lei penal aos ilícitos virtuais);
● integradora - aplica o direito subsidiário e a equidade para solucionar casos não
previstos na legislação.
Exemplos de textos complexos e lacunosos
● Lei n. 8.213/91, art. 3º, § 2º: No caso das aposentadorias de que tratam as
alíneas b, ce d do inciso I do Art. 18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1º não poderá ser inferior a sessenta por cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do
benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo.
● Lei n. 1.060/50, art. 1º.: Os poderes públicos federal e estadual, independente
da colaboração que possam receber dos municípios e da Ordem dos Advogados
do Brasil, - OAB, concederão assistência judiciária aos necessitados nos termos
da presente Lei.
Sistemas Interpretativos
● Dogmático - exegético ou jurídico tradicional, baseado na literalidade. Formas:
○ extremada - pressupõe que a lei é clara e corresponde ao pensamento do legislador
○ moderada - aplica-se a lei, mas em casos duvidosos, recomenda a consulta às fontes do texto
● Histórico-evolutivo - criado por Savigny, utiliza os quatro elementos básicos da interpretação (gramatica, lógico, histórico e sistemático).
○ a interpretação deve buscar o ato intelectual (intenção) do legislador
○ interpretam-se as normas segundo as necessidades da vida social
● Livre pesquisa - busca novos horizontes e novas fontes jurídicas, às vezes até se sobrepondo ao texto legal.
○ extremada - direito livre, baseado na justiça social e com total liberdade para o intérprete;
○ moderada - direito sociológico, aplica-se aos casos omissos segundo o espírito da lei.
Aplicação e Integração do Direito
● A finalidade da interpretação é a aplicação; esta é feita diretamente pelo Juiz e indiretamente pelos Advogados.
● Conforme a doutrina tradicional, a aplicação se fazia por meio de uma operação lógica do raciocínio (silogismo), sem interferência subjetiva (Juiz=boca da lei).
● Conforme a doutrina, aplicação é ato complexo que associa a lógica do
raciocínio aos aspectos psicossociais da conduta humana e da análise valorativa contextual - conclusão ponderada (concepção dialética da aplicação).
● Magistrado tem obrigação de conhecer e decidir todos os litígios a ele submetidos, mesmo não contemplados na lei (momento criativo).
● Este fenômeno é denominado interpretação integradora do Direito e se baseia no princípio da plenitude do ordenamento jurídico.
● Interpretação integradora: lógica (coerência) e axiológica (justiça social).
Teoria do Ordenamento Jurídico (N. Bobbio)
● Consequência das mudanças sociais do pós-guerra, substitui a Teoria da Norma, porque o Direito não possui uma norma só, mas um conjunto integrado destas.
● Impossível um ordenamento jurídico de uma só norma, tendo em vista os modais deônticos (permitido, proibido, obrigatório).
● Todo ordenamento possui duas vertentes:
○ normas estruturais ou de competência
○ normas de conduta propriamente ditas
● Kelsen foi o primeiro jurista a observar isso e estruturou o Direito usando a figura da pirâmide normativa, em cujo topo está a NHF.
● Bobbio vai corrigir algumas distorções que este conceito ocasionou, destacando
a importância da Constituição dentro do sistema jurídico.
Hermenêutica e problemas do Ordenamento
● Todo ordenamento apresenta quatro problemas fundamentais, que são resolvidos pela hermenêutica jurídica.
● Unidade - (in)coerência das normas com a norma fundamental
○ solução: controle da constitucionalidade das leis
● Antinomias - (in)coerência das normas entre si
○ solução: aplicação dos critérios cronológico, hierárquico, especialidade
○ critérios complementares: norma mais benéfica, ponderação do Juiz
● Completude - ausência de norma ou norma injusta
○ solução: aplicação da autointegração e hererointegração
○ critérios suplementares: analogia legis, analogia juris
● Relação com outros ordenamentos externos e internos
○ solução: coordenação entre ordenamentos soberanos (diplomacia), subordinação entre ordenamentos hierárquicos.