Nova Medical School
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Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Nova de Lisboa
Relatório final de estágio
Mestrado Integrado em Medicina
Rui Pedro dos Santos Pereira
Aluno 2010197
Ano lectivo 2015/2016
Índice
I. Introdução ... 3
II. Descrição sumária dos estágios parcelares ... 3
1. Ginecologia e Obstetrícia... 3
2. Pediatria... 4
3. Cirurgia ... 5
4. Saúde Mental ... 6
5. Medicina Interna ... 7
6. Medicina Geral e Familiar ... 7
7. Opcional – Anestesiologia ... 8
Rui Pereira | 2010197 3
I.
Introdução
O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina, enquanto ano profissionalizante,
representa a oportunidade de rever, aprofundar e aplicar, aos doentes da vida real, os
conhecimentos teóricos adquiridos ao longo dos anos. Deverá fazer a ponte entre o
exercício teórico e observacional e a prática médica, considerando os doentes numa
perpectiva bio-psico-social e adaptando a evidência científica às condições de exercício da
profissão que são proporcionadas.
Foram definidos alguns objectivos transversais a todos os estágios, nomeadamente
prática da colheita de uma história clínica e exame objectivo detalhados e dirigidos à
patologia, prática de técnicas cirúrgicas simples, desenvolvimento de uma relação
terapêutica com os doentes, transmissão de informação clínica a outros colegas.
O relatório final de estágio é uma oportunidade de revisitar o trabalho realizado durante
todo o ano lectivo 2015/2016, reflectindo sobre o mesmo e sobre o crescimento enquanto
aluno de Medicina e futuro médico. Funciona ainda como instrumento de auto-avaliação e
crítica em relação aos objectivos propostos e ao seu cumprimento. Após esta introdução
segue-se a síntese do trabalho desenvolvido durante os estágios parcelares (por ordem
cronológica), terminando com uma reflexão sobre o cumprimento dos objectivos propostos.
II. Descrição sumária dos estágios parcelares
1. Ginecologia e Obstetrícia
Coordenação: Prof.ª Doutora Teresa Ventura
Local e duração: Hospital Universitário de Aquisgrana (Alemanha) - 07/09/2015 a
O estágio foi dividido equatitativamente numa primeira parte mais direccionada à
Obstetrícia e numa segunda direccionada à Ginecologia. Durante as duas primeiras
semanas, a grande maioria do tempo foi passada na sala e bloco de partos, assim como
na urgência obstétrica e consulta de seguimento imagiológico. Tive oportunidade de
assistir a partos, quer vaginais, quer por cesariana e ainda a ecografias obstétricas
realizadas no acompanhamento de gravidezes de risco e no período peri-parto, assim
como monitorização fetal. Sendo que se tratava de um hospital universitário, todas as
doentes acompanhadas representavam gravidezes de risco.
Durante as duas semanas de obstetrícia a maior parte do tempo foi dispendida no
bloco operatório. Tive oportunidade de assistir e participar em várias cirurgias, quer em
contexto de internamento, quer de ambulatório, sendo que a grande maioria dos casos
eram de índole tumoral. Tive ainda a oportunidade de assistir a algumas consultas
externas.
Ao longo de todo o estágio participei nas reuniões bi-diárias e assisti à apresentação
semanal de trabalhos por parte dos médicos no serviço.
2. Pediatria
Coordenação: Prof. Doutor Luis Varandas
Local e duração: Hospital Universitário de Aquisgrana (Alemanha) - 05/10/2015 a
30/10/2015 (4 semanas)
Este estágio foi passado na enfermaria de cuidados peri-operatórios. Os cuidados a
prestar aos doentes resumiam-se, então, à monitorização dos doentes no período
pré-operatório, bem como vigilância após a cirurgia. Não foi possível, assim, praticar as
capacidades diagnósticas, tentou-se no entanto praticar o exame objectivo da criança,
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médico-doente, bem como a anamnese, no sentido de perceber se, para além do
diagnóstico principal, haviam outros dados de relevância.
Para além do trabalho na enfermaria, assisti às reuniões matinais, diariamente, bem
como às sessões semanais de diagnóstico imagiológico e de apresentações de trabalhos.
3. Cirurgia
Coordenação: Professor Doutor Rui Maio
Local e duração: Hospital Universitário de Aquisgrana (Alemanha) - 02/11/2015 a
18/12/2015 (7 semanas)
O estágio parcelar de Cirurgia teve lugar no serviço de Traumatologia, tendo tido
oportunidade de participar no trabalho de enfermaria, bloco operatório (internamento e
ambulatório), consulta externa (geral e de sub-especialidade), serviço de urgência e sala
de reanimação. Não tendo o estágio uma estruturação rígida e pré-definida, houve
oportunidade de gerir o tempo de acordo com as minhas preferências. Assim, embora
tendo como objectivo acompanhar frequentemente a visita à enfermaria - fazendo pensos,
avaliando cicatrização das feridas cirúrgicas, substituindo acessos venosos periféricos - e
assistir e participar em cirurgias, a grande maioria do tempo foi passada no serviço de
urgência e na consulta externa, onde foi possível melhorar a capacidade de avaliação de
exames imagiológicos no contexto de trauma, aprender sobre critérios
clínico-imagiológicos para decisão sobre tratamento conservativo ou cirúrgico, reposição de
fracturas e acompanhamento da evolução do processo de osteossíntese e recuperação da
mobilidade osteo-articular. Tive ainda oportunidade de assistir a alguns casos de avaliação
e tratamento de doentes politraumatizados, admitidos na sala de reanimação. Para além
deste trabalho, assisti às reuniões clínicas bi-diárias, assim como à apresentação semanal
Embora numa especialidade cirúrgica diferente da inicialmente prevista, considero
cumpridos os objectivos do estágio parcial de cirúrgia, nomeadamente no que toca a
diagnóstico, tratamento e acompanhamento da patologia mais frequentemente encontrada,
bem como ao nível da execução de técnicas cirúrgicas básicas.
4. Saúde Mental
Coordenação: Professor Doutor Miguel Xavier
Local e duração: Hospital Universitário de Aquisgrana (Alemanha) - 04/01/2016 a
29/01/2016 (4 semanas)
O estágio de Saúde Mental foi passado numa enfermaria de internamento
voluntário, não sendo dedicada a nenhuma patologia em particular. Assim, foi-me possível
ter contacto com várias patologias psiquiátricas comuns, nomeadamente patologia
depressiva, bipolar, de ansiedade, esquizofrenia. Uma particularidade encontrada foi a
oportunidade de ter contacto com electroconvulsivoterapia em doentes com perturbação
psiquiátrica grave, refractária à terapia farmacológica (em particular episódios depressivos
com psicose, catatonia, estupor). Foi também possível aprofundar conhecimentos sobre
prescrição farmacológica na patologia psiquiátrica, o período de latência da sua accção e
ainda efeitos adversos, bem como sobre a importância da monitorização dos níveis séricos
de vários psico-fármacos. Sendo que o internamento nesta enfermaria era de carácter
voluntário, foi interessante perceber a participação dos doentes na tomada de decisão
sobre prescrição e ajuste farmacológico.
Um outro aspecto importante foi também constatar a importância do trabalho
multidisciplinar na saúde mental - médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais,
pscicólogos e assistentes sociais - para obter o máximo de suporte para doentes graves,
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5. Medicina Interna
Coordenação: Prof. Doutor Fernando Nolasco
Local e duração: Hospital Universitário de Aquisgrana (Alemanha) - 01/02/2016 a
18/03/2016 (7 semanas)
O Departamento de Medicina Interna dividia-se em várias sub-especialidades,
tendo-me sido atriduída a enfermaria de Cardiologia. Aqui, foi possível acompanhar o
trabalho diário na enfermaria, na recolha de anamnese e realização de exame objectivo,
pedido e interpretação de exames complementares de diagnóstico, instituição e ajuste
terapêutico, procedimentos como punção venosa periférica, para colheita de sangue, ou
cataterização de veia. Foi também possível assistir a diversos procedimentos de
cardiologia intervencional, nomeadademente cateterismo cardíaco percutâneo, estudo
electrofisiológico, implantação de válvula aórtica (TAVI), implantação de
cardioversor/pacemaker. Para além disso, participei diariamente nas reuniões matinais e
de apresentação de trabalhos.
6. Medicina Geral e Familiar
Coordenação: Prof.ª Doutora Isabel Santos
Local e duração: USF Costa do Mar (Costa de Caparica) - 28/03/2016 a 22/04/2016 (4
semanas)
As quatro semanas neste estágio permitem uma abordagem e aprendizagem da
Medicina bastante diferente daquela a que os estudantes estão habituados no ambiente
hospitalar. A relação médico-doente ganha uma dimensão muito diferente, no sentido em
que o médico de família é responsável pelo acompanhamento longitudinal do doente, em
várias fases da sua vida, sendo a capacidade de comunicação, nesta especialidade,
particularmente preponderante para o sucesso da relação terapêutica. Para além disso, o
especialidades. Para além da patologia, é ainda preciso dar especial importância aos
aspectos social, económico, psicológico do doente, traduzindo-se numa abordagem
holística do mesmo. É ainda importante, ao médico de família, conhecer o ponto em que as
suas capacidades e ferramentas diagnósticas e terapêuticas se esgotam, de forma a
decidir sobre a referenciação aos cuidados especializados.
Estes foram alguns dos aspectos mais importantes do estágio de Medicina Geral e
Familiar, tendo sido alcançados através do acompanhamento das várias consultas
(planeamento familiar, saúde materna, saúde infantil, diabetes, saúde de adultos, consulta
aberta) na USF, assim como nos cuidados domiciliários efectuados.
Durante o período de estágio elaborei e apresentei o trabalho intitulado “Opções
terapêuticas no controlo da dor osteo-articular” (no CD em anexo).
7. Opcional
–
Anestesiologia
Local e duração: Serviço de Anestesiologia – Chris Hani Baragwanath Academic Hospital
(Joanesburgo, África do Sul) - 25/04/2016 a 17/06/2016 (8 semanas).
O estágio opcional permite aprender numa especialidade com a qual o contacto
durante o curso tenha sido mais limitado e pela qual o aluno tenha particular interesse.
Tive a oportunidade de estender o estágio durante 8 semanas, o que me permitiu ter um
conhecimento mais detalhado sobre o espectro da Anestesiologia.
O objectivo principal prendeu-se com a aprendizagem das particularidades nas
várias vertentes da Anestesiologia, nomeadamente anestesia geral, loco-regional,
sedação, anestesia obstétrica e pediátrica; anestesia para cirurgia electiva ou de
urgência/emergência. Foi-me ainda possível praticar inúmeros procedimentos anestésicos,
nomeadamente gestão da via aérea, estabilização cardiovascular e hidro-electrolítica,
colocação de acessos vasculares (periféricos e centrais), monitorização invasiva da
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importantes neste estágio também se prendeu com a importância do trabalho em equipa
no tratamento do doente politraumatizado, com necessidade de estabilização a vários
níveis, em que a comunicação e estabelecimento de tarefas entre os elementos assume
um papel preponderante no prognóstico do doente.
III. Reflexão crítica
O trabalho desenvolvido ao longo do estágio profissionalizante permitiu-me continuar a
crescer enquanto estudante de Medicina e futuro médico, aprofundando e adquirindo
competências essenciais para o exercício autónomo da Medicina, assim como ganhando
novas perspectivas em relação às diferenças da prática médica em diversos países.
Acabo este ano com a noção das lacunas e limitações teóricas de um estudante
finalista ao nível da prática autónoma, principalmente em termos de prescrição terapêutica
e de técnicas cirúrgicas, mas com a certeza de que a forma como o currículo está
desenvolvido, dá liberdade suficiente ao estudante para aprofundar os conhecimentos nas
suas áreas de interesse, permitindo-lhe o ingresso na formação especializada com noções
teórico-práticas bastantes para o exercício orientado.
Por força do contexto escolhido para a aprendizagem durante este 6º ano, considero
que o domínio língua foi um factor limitante da aprendizagem, em particular durante os
primeiros estágios do ano; a organização dos serviços de saúde na Alemanha limita, em
grande extensão, o exercício autónomo da Medicina por parte do estudante, quer em
termos de procedimentos, quer em termos de responsabilização do mesmo; a distribuição
durante o estágio de Pediatria limitou a aprendizagem da especialidade, em particular da
patologia médica típica da criança; o facto de o estágio de cirurgia ter sido feito no serviço
durante o curso) altera o espectro de patologia encontrada, modificando a abordagem ao
doente, proporcionando, no entanto, uma nova oportunidade para uma aprendizagem mais
sólida desta especialidade; a prática da Medicina numa enfermaria especializada em
Cardiologia não permite o contacto e gestão de todas as outras patologias incluídas no
âmbito da Medicina Interna, como a conhecemos em Portugal.
No entanto, considero que este ano, muito mais do que o simples aprofundar de
competências clínicas, me permitiu experienciar perspectivas diferentes do exercício da
Medicina. Começando pela completamente diferente organização dos serviços de Saúde
nos três países por onde passei, passando pelos recursos disponíveis e pelos contrastes
dentro do mesmo país. O contacto com a prática da Medicina na África do Sul, permite dar
mais valor aos recursos disponibilizados aos médicos em Portugal, em particular no
contexto de serviço público. Permite ainda perceber a importância de ter um Sistema
Nacional de Saúde público de qualidade, sendo que esse tipo de serviço permite um
aumento da saúde global da população de um país, tendo um impacto muito significativo
no sentido de reduzir as diferenças entre classes sócio-económicas e aumentar a
qualidade e esperança média de vida dos habitantes. A organização dos serviços de saúde
na Alemanha, permite uma maior eficiência dos serviços, limitando, no entanto, por vezes,
a actuação do médico, no tratamento dos doentes.
Assim, e porque, mais do que apenas competências clínicas, ao médico é essencial
o conhecimento do meio envolvente e das vantagens e viscicitudes do contexto em que se
insere, creio que este foi um ano profícuo no que se refere à aquisição de competências