A m e dia çã o: a com u n ica çã o e m pr oce sso?*
Je a n D a v a llon
Univer sidade de Avignon e da Região de Vaucluse Labor at ór io Cult ur a & Com unicação
* Publicação or iginal em língua fr ancesa: ( 2003) La m édiat ion : la com m unicat ion en pr ocès ?, Médiat ions & Médiat eur s, 19. Tr adução: Mª Rosár io Sar aiva; r ev isão: Mª Rosár io Sar aiva e Helena Sant os.
Resumo
Face à generalização do uso do termo “mediação” pelos investigadores das ciências da informação e da comunicação, o autor parte para uma análise do uso do termo em diversos escritos como revelador de uma nova forma de pensar a comunicação: com efeito, ao lado das definições tradicionais da comunicação como transmissão de informação ou como interacção social, perfila-se uma terceira, centrada numa consideração da sua dimensão propriamente simbólica.
Palavras- chave:
Comunicação, mediação, mediação cultural
Abstract
En partant du constat de la généralisation de l’utilisation du terme « médiation » par les chercheurs en sciences de l’information et de la communication, l’auteur analyse l’usage du terme en différents ouvrages en tant que révèlateur d’une nouvelle forme de penser la communication : en effet, à côté des définitions traditionnelles de la communication comme transmission de l’information ou comme interaction sociale, se profile une troisième, centrée sur une considération de sa dimension proprement symbolique.
Key- w ords:
Communication, médiation, médiation culturelle
Ao longo dos últ im os dez anos, a noção de " m ediação"
conheceu um sucesso sem pr ecedent es. Algum as dest as ut ilizações
est ão, com t oda a evidência, bast ant e dist ant es de um a qualquer
r eflexão sobr e o est at ut o cient ífico do t erm o. Quando se fala do
m ediador da República, ou ainda da or ganização da m ediação
j ur ídica, o que há em com um com a m ediação cult ur al, por exem plo?
As pr im eir as são inst âncias de r egulação social ent r e pessoas em
conflit o ou que t êm int er esses diver gent es – as inst âncias em posição
de t er ceir o que são ao m esm o t em po neut ras e dot adas de um a
aut or idade e cuj a acção consist e em t or nar possível um a
com pr eensão ent r e os act or es na esper ança de lhes per m it ir sair de
um a sit uação de conflit o. Nada dist o se passa na m ediação cult ur al.
Nenhum a sit uação de conflit o, apenas um a falt a, um desv io. Quant o
à exist ência de um t er ceir o, que é ger alm ent e sent ido com o um dos
dados const it ut ivos da m ediação, ser á ela suficient e par a per m it ir
Det enham o- nos na m ediação cult ur al. Pode ser definida, sem
dúvida, a nível funcional: visa fazer aceder um público a obr as ( ou
saber es) e a sua acção consist e em const r uir um int er face ent r e
esses dois univer sos est r anhos um ao out r o ( o do público e o,
digam os, do obj ect o cult ur al) com o fim pr ecisam ent e de per m it ir
um a apr opr iação do segundo pelo prim eir o. Mas, na pr át ica, ela não
deixa de cobr ir coisas t ão diver sas com o a pr át ica pr ofissional dos
m ediador es ( de m useu ou de pat rim ónio, por exem plo) ; um a for m a
de acção cult ur al por oposição à anim ação cult ur al; a const r ução de
um a r elação com a ar t e; pr odut os dest inados a apr esent ar ou a
explicar a ar t e ao público; et c. Podem os vê- lo, logo que ela é
cont ext ualizada, logo que ela est á sit uada, a definição que par ecia
poder fazer consenso explode par a designar r ealidades m uit o
difer ent es. Um a t al het er ogeneidade ar r ast a qualquer sonhador ; é
por isso que, confesso t er ficado m uit o t em po duvidoso – par a não
dizer fr ancam ent e desconfiado – face a um a noção que ofer ece a
facilidade de et iquet ar fenóm enos, acções ou coisas, m as apr esent a o
inconvenient e de se fur t ar logo que decidim os defini- la enquant o
conceit o oper at ór io – ou sej a, no fundo, per m it ir et iquet ar sem dar a
possibilidade, nem de descr ever , nem de definir . De onde vem o seu
sucesso act ual nas ciências da infor m ação e a com unicação? Quais
podem ser a sua ut ilidade e o seu int er esse cient ífico? Podem os
segur am ent e ver aí efeit os de ar r ast am ent o ou de m oda,
par cialm ent e em ligação com o desenvolvim ent o do uso do t er m o na
sociedade; poder em os pelo cont r ár io pr ocur ar avaliar ou fundam ent ar
o conceit o.
A abor dagem que adopt ar ei aqui ser á m uit o m ais pr óxim a das
quest ões que se colocam concr et am ent e ao invest igador quando é
confr ont ado com o fact o de ut ilizar ou de não ut ilizar est a noção. O
t er m o par a designar a oper ação sim bólica de inst aur ação de um a
r elação ent r e o m undo do visit ant e e o m undo da ciência pela /
at r avés da exposição de ciência ( Davallon, 1988, cit ado de acor do
com 1999a: 75 not a 52) ; acom panhada, num segundo t em po, da
decisão de alar gar o seu em pr ego à dim ensão sim bólica do
funcionam ent o m ediát ico da exposição ( Davallon, 1999a: I nt r odução;
2002 1) . Mas, com o o m eu obj ect ivo não é de for m a algum a um a
defesa e ilust r ação dest a decisão, com eçar ei por exam inar as
ut ilizações act ualm ent e feit as dest a noção nas publicações em
ciências da infor m ação e da com unicação. O r ept o é, com efeit o,
t ent ar apr eender , par a além da sim ples quest ão do quadr o t eór ico
que fundam ent a a sua per t inência e a sua validade, o que m e par ece
ser a em er gência de um a nova concepção dos fact os de com unicação.
O RECURSO À M ED I AÇÃO
O exam e de um conj unt o de t ext os de ciências da infor m ação e da
com unicação per m it e dist inguir t r ês t ipos de ut ilização do t er m o
m ediação2 , consoant e os aut or es lhe fazem r efer ência de m aneir a
incident e; o ut ilizam com o conceit o oper at ór io; ou lhe consagr am
um a par t e da sua obr a e visam dar - lhe um a definição.
O u so com u m , u m a pr im e ir a u t iliz a çã o
Nest e uso, o t er m o é t ido ent r e senso com um e senso cient ifico.
Em t odo o caso, é pr essupost o est e significado ser definido nout r o
lugar .
O pr im eir o senso com um ( que é t am bém o sent ido pr im eir o do
t er m o) de int er posição dest inada a pôr de acor do par t es que t êm um
difer endo, que pr essupõe um conflit o e com por t a um a ideia de
lit er at ur a cient ífica das ciências da infor m ação e da com unicação,
except o no caso da quest ão dos procedim ent os de m ediação ( nas
or ganizações, por exem plo) ou de act ividade pr ofissional3 .
De fact o, o uso m ais cor r ent e cor r esponde ao segundo senso
com um ( o sent ido secundár io) : o da acção de ser vir de int er m ediár io
ou de ser o que ser ve de int er m ediár io. É a ideia de que est a acção
não est abelece um a sim ples r elação ou um a int er acção ent r e dois
t er m os do m esm o nível, m as que ela é pr odut or a de qualquer coisa
de m ais, por exem plo de um est ado m ais sat isfat ór io. Dar ia um
exem plo t ir ado de L’Ut opie de la com m unicat ion [ A Ut opia da
com unicação] ( Br et on, 1997: 137- 139) sobr e a " função de m ediação"
dos m édia e das t écnicas de com unicação: " Eles são concebidos par a
aj udar os hom ens a com unicar m elhor . Eles são a r espost a à
consciência aguda que nós t em os de um a separ ação social, de um
dist anciam ent o uns dos out r os, acom panhado de um a necessidade de
apr oxim ação." O papel de int er m ediár io facilit ando a com unicação é
supost o favor ecer a passagem a um est ado m elhor . Nest e cont ext o, o
j or nalist a que apr esent e e t r at e novam ent e o discur so de out r em ( por
exem plo o que alguém disse num a ent r evist a) é um " m ediador " , que
t em a car act er íst ica de ser vir de int er m ediár io ent r e a pessoa e o
público e a de, para o fazer , t r ansfor m ar m ais ou m enos o que pôde
dizer aquela ( p. 143) . Est am os, por t ant o, face a um r eenvio im plícit o
par a um a concepção bast ant e clássica do j or nalist a com o m ediador .
Out r o exem plo de r eenvio im plícit o: o que é feit o em La Sociét é
de connivence [ A Sociedade de conivência] ( Beaud, 1984) . A
ut ilização do t er m o é aí, não som ent e par cim oniosa at endendo ao
que poder ia deixar supor o subt ít ulo ( " Media, m édiat ions et classes
sociales" [ Média, m ediações e classes sociais] ) , m as fica pouco
definido, except o quando se t r at a dos " novos m ediador es" , " nova
cam ada int elect ual" par t icipant e no funcionam ent o dos m édia ( p.
O fact o m ar cant e dest e t ipo de em pr ego é que ele r eenvia a um
int er t ext o no qual é supost o o leit or encont r ar um a definição da
m ediação e – t em os de acr escent ar – é supost o ele conhecê- la. Or a,
com o vam os ver , um t al int er t ext o é, por enquant o, bast ant e r est r it o.
A n e ce ssida de da m e dia çã o: u m u so ope r a t ór io
Cer t os sect or es de invest igação ut ilizam a noção de m ediação
com o conceit o oper at ór io par a designar , descr ever ou analisar um
pr ocesso específico. Daí a pr esença de pr opost as de definição, que
par ecem , cont udo, var iar considerav elm ent e de um sect or par a o
out r o.
Com ecem os por localizar esses difer ent es sect or es. O pr im eir o
é o que poder íam os cham ar a " m ediação m ediát ica" , par a designar o
t r abalho no int er ior dos m édia que, ao cont r ár io da " m ediat ização" ,
coloca o j or nalist a em posição de t er ceir o, de m ediador . Est e últ im o
r ecebe a sua legit im idade da sua per t ença a um cam po difer ent e dos
que " m ediat izam " a infor m ação ou os obj ect os com vist a da sua
pr om oção. Est a função de m ediador im plica, evident em ent e, um
conj unt o de pr ocedim ent os específicos de escr it a ou de m ise en
scène5. Est e r econhecim ent o de um a função de m ediação por um
act or social encont r a- se t am bém nout r os dom ínios de invest igação,
em par t icular na m ediação pedagógica e na m ediação cult ur al.
Na m ediação pedagógica, a posição do for m ador com o
m ediador – que t am bém é um a posição de t er ceir o – com por t a, é
cer t o, um a com ponent e r elacional, m as im plica t am bém um a
r egulação das int er acções educat ivas, par a que a r elação apr
endiz-saber sej a efect iva e conduza a um a apr endizagem ( v.g. Fichez &
Com bes, 1996) . Est a posição de t er ceir o dever á ser assegur ada
som ent e por for m ador es, ou poder á sê- lo t am bém por disposit ivos
essencial, pois im plica, em pano de fundo, a de saber com o e at é
onde est a m ediação pode ser obj ect o de um a indust r ialização
( Moeglin, 19986 ) .
Na m ediação cult ur al, a dupla abor dagem pelos m ediador es e
pela m ediação est á pr esent e de for m a fr ancam ent e alar gada. Mas ela
r eenvia a dois cam pos de r efer ência que só par cialm ent e se
r ecobr em : falar dos m ediador es é, ger alm ent e, fazer r efer ência aos
pr ofissionais da m ediação ( por exem plo, m useal ou pat r im onial, na
m edida em que est e sect or pr ofissional é um dos m ais desenvolvido) ;
em cont r apar t ida, com o ver em os de for m a m ais det alhada no pont o
seguint e, a m ediação cult ur al, est ét ica, ar t íst ica, das cult ur as, dos
saber es, et c., cobr e um cam po m uit o m ais lar go e fr equent em ent e
um a abor dagem m uit o m ais t eór ica, que fundam ent a as suas
r efer ências em t eor ias com o, por exem plo, a do espaço público
( Allar d- Chanial, 1998) , do " t er ceir o sim bolizant e" ( Da- Lage Py,
Debr uyne, Vandiedonck, 2002) ou ainda da " t r adução" no sent ido de
Lat our ( Caillet , 1995b7 ) . Not ar em os que a m ediação dos saber es
const it ui um dom ínio quase específico, que r eenvia, por um lado à
m ediação da infor m ação e, por out r o, aos aspect os sociais ou
sem iót icos da com unicação ( Thom as, 1999; Recher ches en
com m unicat ion 4, 138 ) .
Eu poder ia r eunir t oda um a sér ie de out r os em pr egos do t er m o
m ediação sob a cat egor ia – é cer t o que um pouco lar ga, m as
suficient em ent e delim it ant e – de m ediação inst it ucional. Esses
em pr egos r eenviam , quer par a um a concepção polít ica9 , quer par a
um a abor dagem sociológica. Quando Mat t elar d, em La
Com m unicat ion- m onde [ A Com unicação- m undo] , fala das
" m ediações" , o t er m o r efer e- se ao pr ocesso de const r ução da
hegem onia ( do consenso) em Gr am sci; e est e pr ocesso é ent ão
abor dado at r avés do encont r o das cult ur as, ou ent ão da diver sidade e
Descobr im os aqui, par ece- m e, um a ilust r ação da dim ensão polít ica da
m ediação, à qual havem os de volt ar. A abor dagem sociológica r efer
e-se sobr et udo às m ediações sociais, que const it uem o pr incipal
dom ínio das m ediações inst it ucionais: é ger alm ent e par a t r at ar do
" efeit o" das novas t ecnologias, sej a na em pr esa ( Dur am par t , 199810) ,
sej a nas r edes sociais ( Millet - Four r ier , 1998) .
Um a últ im a ut ilização, que se dist ingue das pr im eir as, m esm o
se lhes est á associada, r efer e- se à análise dos usos das t ecnologias.
Nest e caso, o t er m o m ediação ser ve par a escapar ao duplo
det er m inism o social e t écnico: a m ediação é t écnica " por que o
inst r um ent o ut ilizado est r ut ur a a pr át ica" ; e social " por que os
m óbiles, as for m as de uso e o sent ido acor dado à pr át ica se
r egener am no cor po social" – pr ecisa por exem plo Josiane Jouët
( 1993, cit ada em 1997: 293) . A noção de m ediação par ece, por t ant o,
designar , nest e caso, as oper ações – assim com o os seus efeit os – de
t ecnicização do pr ocesso de com unicação ( m ediação t écnica) e, ao
m esm o t em po, da int er venção da dim ensão subj ect iva nas pr át icas
de com unicação ( m ediação social) .
Est e r eagr upam ent o dos usos da m ediação em cinco cat egor ias
t ende a deixar pensar que cada dom ínio de invest igação possui o seu
pr ópr io uso – ou m esm o a sua pr ópr ia definição – de m ediação. É
difícil de dizer o que se passa concr et am ent e, à par t e fazer a
const at ação, sobr e a qual regr essar ei adiant e, de que o r ecur so a
est a noção est á m uit o pr esent e em cer t os sect or es e quase
t ot alm ent e ausent e de out r os. Por agor a, o exam e dest e cor pus
explor at ór io t r az, sobr et udo, infor m ações sobre a im por t ância do
t er ceir o elem ent o, cuj a pr esença se confirm a ser a m ar ca dist int iva
da m ediação. Se a for m a dest e elem ent o var ia consider avelm ent e de
um aut or par a out r o, a sua acção, em cont r apar t ida, par ece possuir
quat r o car act er íst icas. ( i) Est a acção pr oduz sem pr e, em m aior ou
aceder , apr ender , passar , et c. Est a acção é, além disso, m odalizada:
o dest inat ár io é um beneficiár io r espeit ado, valor izado com o suj eit o,
e não inst r um ent alizado. ( ii) O obj ect o, o act or ou a sit uação de
par t ida sofr em um a m odificação devido à int egr ação num out r o
cont ext o. Por exem plo, o obj ect o t écnico post o em cont ext o de uso
funciona de for m a difer ent e da m ediação, m esm o se não é
t r ansfor m ado enquant o t al. O fenóm eno é sem elhant e par a a obr a de
ar t e, o saber ou o act or sob a acção de um a m ediação. ( iii) O
oper ador da acção ( o t er ceir o elem ent o enquant o m ediador ) é,
cer t am ent e, quer acção hum ana, quer oper ador obj ect ivado sob
for m a de disposit ivo, quer por vezes am bos; m as, sej a com o for , há
quase sem pr e polém ica sobr e a sua for m a e a sua nat ur eza. ( iv) A
acção do elem ent o t er ceir o t em sem pr e um im pact o sobr e o
am bient e ( m ais fr equent em ent e o am bient e social) no qual ela se
sit ua.
Por conseguint e, o pr im eir o const at o que podem os fazer é que
a noção de m ediação apar ece cada vez que há necessidade de
descr ever um a acção im plicando um a t r ansfor m ação da sit uação ou
do disposit ivo com unicacional, e não um a sim ples int er acção ent r e
elem ent os j á const it uídos – e ainda m enos um a cir culação de um
elem ent o de um pólo par a out r o. Em it ir ei assim a hipót ese de que há
r ecur so à m ediação quando há falha ou inadapt ação das concepções
habit uais da com unicação: a com unicação com o t r ansfer ência de
infor m ação e a com unicação com o int er acção ent r e dois suj eit os
sociais. Com est e r ecur so, a or igem da acção desloca- se do act uant e
dest inador ou dos int er - act uant es par a um act uant e t er ceir o: há
com unicação pela oper ação do t er ceir o. A quest ão essencial é ent ão a
da nat ur eza dest e t er ceir o; as difer enças obser váveis são difer enças
de for m a ou de nat ur eza? É, no fundo, nest e pont o que as
Pa r a u m a de fin içã o t e ór ica da m e dia çã o?
Vej am os ent ão o que se passa do lado dos aut or es que
pr opõem um a ( ou m ais) definições explícit as de m ediação.
Not ar em os, pr im eir o que t udo, que a vont ade de definir a m ediação
de um pont o de vist a t eór ico ( e m esm o cient ífico) é um a t ar efa
bast ant e específica do dom ínio das ciências da infor m ação e da
com unicação.
Quat r o aut or es são ger alm ent e cit ados e const it uem um a
r efer ência. Dois deles t êm m ais ou m enos com o obj ect ivo declar ado
um a t eor ia da m ediação ( Ber nar d Lam izet e Jean Caune) ; os out r os
dois der am , na sua t eor ia, um lugar de t al for m a cent ral à m ediação,
que for am conduzidos a pr oduzir um a definição e um a abor dagem
suficient em ent e precisa e det alhada ( Louis Quér é e Ant oine Hennion) .
É na obr a Les Lieux de la com m unicat ion [ Os Lugar es da
com unicação] que encont r am os a apr esent ação que per m it e
apr eender com m aior clar eza o lugar dado à m ediação no sist em a
t eór ico pr opost o por Ber nar d Lam izet ( 199211) . A acepção dada a
est a noção não se apr eende sem um a leit ur a e sem um a abor dagem
do conj unt o dest e sist em a t eór ico. É o caso, por exem plo, da r elação
da m ediação com a com unicação, que acom panha um a sér ie de
oposições ( ou de dist inções) ent re com unicação int er subj ect iva e
com unicação m ediada ( assegur ada por um m eio de com unicação) ,
espaço sim bólico e espaço público, et c.; sér ie que se apoia sobr e a
dist inção ent r e duas for m as de expr essão, a palavr a que " se enuncia
no espaço par t icular onde vivem e onde se expr im em as pessoas
singular es" e " a palavr a que se enuncia em nom e de, que se enuncia
no espaço público. É ist o a m ediação" ( Lam izet , 1992: 184) . A
definição da m ediação com o " inst ância" inscr eve- se, assim , num a
abor dagem m et a- t eór ica, que se const r ói ent r e os pólos da
sim bólica da linguagem , m ediações da com unicação no espaço
público e m ediações inst it ucionais das est r at égias sociais) assegur am
a dialéct ica do singular e do colect ivo. Nest as condições, se se
per gunt ar qual pode ser a nat ur eza do t er ceir o, a r espost a
conduz-nos, ao m esm o t em po, à r eflexividade e à r epr esent ação12: o que
par ece na or igem da or dem do t er ceir o sur ge com o sendo, com
efeit o, por um lado, a duplicação do suj eit o na sua im agem e, por
out r o, a duplicação do social na convenção polít ica13.
Em Pour une ét hique de la m édiat ion [ Por um a ét ica da
m ediação] , Jean Caune adopt a um a post ur a que é em t odos os
pont os opost a à de Ber nar d Lam izet : par a const r uir o conceit o de
m ediação, ele pr opõe exam inar as t r ês abor dagens habit uais ( ou
sej a, usos sociopolít icos, abor dagens t eór icas do t er m o e pr át icas
sociais que o t er m o designa) . Ele par t e dos m odos de m ediação que
car act er izam as polít icas cult ur ais fr ancesas desde o início da V
República: " m ediação pelo cont act o" ( anos sessent a) , fundada sobr e
a ideia de um a com unhão dir ect a com as obr as; " m ediação pela
expr essão" ( anos set ent a) , m ar cada pelo envolvim ent o nas pr át icas
ar t íst icas; " m ediação por m ediat ização da ar t e" ( anos oit ent a) , dando
a pr im azia a um a polít ica de r elações públicas e de difusão com er cial.
É a par t ir do exam e dest as m odalidades da m ediação que est a é
definida, no plano t écnico, hist ór ico e concept ual, segundo um a
per spect iva pr agm át ica, pela co- pr esença de um a " int encionalidade
da pessoa par a const r uir um a r elação int er subj ect iva" , um " supor t e
expr essivo e sim bólico" e um a " sit uação de enunciação" , ou sej a " um
quadr o concr et o ( físico e social) " ( Caune, 1999: 210) .
Est a abor dagem , em que um dos pont os de par t ida é a
consider ação da " pr ocur a social de m ediação" , conduz à pr opost a de
" subst it uir a noção de m ediação est ét ica por um a per spect iva
ont ológica da ar t e" ( p. 214) . Do pont o de vist a que nos ocupa ( i.e. a
pr opost o in fine, m as ant es do que fundam ent a est a concepção da
m ediação. Or a, encont r am os a r espost a num a obr a ant er ior ( Caune,
1995) , onde é explicado que a cult ur a é m ediação ao oper ar a r elação
ent r e um a m anifest ação, um indivíduo e um m undo de r efer ência ( o
que dá um out r o pont o de vist a da definição segundo as t r ês
condições acim a cit adas) . Mas, par a t al, ela baseia- se na função
sim bólica, t al com o a define Cassir er , enquant o m ediação ent r e nós e
o r eal; assim sendo, " o sím bolo abr e sobr e out r a coisa que não ele
pr ópr io, pela m ediação que r ealiza, ele abr e um a passagem " ( Caune,
1995: 70) . É est a concepção do sím bolo com o t er ceir o ( ele par t e do
concr et o par a chegar a um significado inacessível) que fundam ent a a
abor dagem do funcionam ent o da cult ur a com o m ediação, sob o m odo
de um a " per m ut ação cir cular de t r ês t er m os: a m anifest ação
consider ada com um fact o per cept ível; o indivíduo que vive ou pr oduz
a m anifest ação; o quadr o cult ur al e social no qual a m anifest ação
t om a sent ido" ( p. 8714) .
É num a obr a, j á ant iga, Des m ir oir s équivoques [ Espelhos
equívocos] , que Louis Quér é, ao cr it icar as abor dagens posit ivist as da
com unicação social car act erizada por um a exclusão da nat ureza
sim bólica da int er acção social, pr opõe r est it uir o " t r abalho" social ( a
oper at ividade social e sim bólica) dos m édia, a par t ir da const at ação
de que " a int er acção social é int er acção ent r e suj eit os, m ediat izada
pelo sim bólico" ( Quér é, 1982: 2915) . A com unicação social assim
ent endida im plica o accionam ent o de m ediações sim bólicas, ou sej a,
" a pr odução de um a ident idade pela afir m ação de um a difer ença
ent r e os dois int er locut or es" ( p. 46) . O aut or sit ua- se num a posição
int er m édia ent r e a de Ber nar d Lam izet e a de Jean Caune, dado que
ele par t e de um a abor dagem t eór ica e m et a- t eór ica, par a t ent ar
apr eender as m ediações sim bólicas pr esent es nos m édia, ao lado das
m ediações t écnicas. A análise t r at a, com efeit o, da m odificação da
sociedade16. Est a obj ect ivação t ende dor avant e a assent ar em m eios
e inst r um ent os t écnicos, est r at égias e t ecnologias17. O que coloca, a
t er m o, a quest ão ( levant ada a t ít ulo pr ogr am át ico pelo aut or na
conclusão) das consequências ant r opológicas da subst it uição dest as
" m ediações t écnicas ( m áquinas, m ét odos e pr ocedim ent os
for m alizados, r egr as de acção est r at égica) por m ediações sim bólicas
no dom ínio da int er acção social" ( p. 179) . Mesm o que deixem os de
lado est a quest ão, assaz delicada, da r elação ent r e m ediação
sim bólica e m ediação t écnica, t em os de r econhecer que a m ediação
se encont r a dir ect am ent e ligada ao funcionam ent o sim bólico da
sociedade, nom eadam ent e at r avés do conceit o do t er ceir o
sim bolizant e.
Vem os, assim , desenhar - se um a difer ença nít ida ent r e os t r ês
aut or es pr ecedent es, quant o à m aneir a com o pensam o t er ceir o – e
por t ant o a m ediação –: o pr im eir o par t e da linguagem e do suj eit o; o
segundo do pr ocesso de inst it uição da cult ur a; o t er ceir o de um a
ant r opologia do espaço público. Em cont r apar t ida, podem - se dest acar
t r ês const ant es. ( i) O em pr ego das m esm as com ponent es par a definir
a m ediação: a int er subj ect ividade, a linguagem , o polít ico. ( ii) O
pr incípio segundo o qual a com unicação social é um pr odut o da
m ediação e não o inver so. ( iii) E, acr escent ar ia eu: a m ediação
const r ói- se em t or no de um pont o de fuga – cham ado ext er ior idade,
neut r o, negat ivo, confor m e os casos – que int er vém no pr ocesso de
com unicação sem que aqueles que nele par t icipam possam t er
cont r ole sobr e ele. É, no fundo, o que designa, sob diver sas
m odalidades, a figur a do t er ceir o que Louis Quér é descr eve enquant o
t er ceir o sim bolizant e.
Debr ucem o- nos agor a sobr e a quart a definição, a de Ant oine
Hennion em La Passion m usicale [ A Paixão m usical] ( com o subt ít ulo:
" Une sociologie de la m édiat ion" [ Um a sociologia da m ediação] ) . À
deve- se ao fact o de se t r at ar de um a sociologia das m ediações, m ais
do que de um exam e da m ediação no sent ido em que podem
ent endê- lo os t r ês aut or es pr ecedent es. Por est a r azão, as
com ponent es não são exact am ent e as m esm as. Não sendo o pr oj ect o
o de um a abor dagem do polít ico ou da cult ur a a par t ir da
int er subj ect ividade, da r eflexividade, da int er acção social conduzindo
às r epr esent ações at r avés da ut ilização de um disposit ivo significant e,
a análise est r ut ur a- se em t or no de out r as com ponent es:
pr ecisam ent e essas m ediações t écnicas ou sociais ( o inst r um ent o, a
par t ição, o concer t o, a gr avação) que vêm par t icipar na const r ução
de um a relação, de um a com unicação, ent r e o público e a m úsica.
Não a m úsica em ger al, m as t ipos de m úsicas que cor r espondem a
um a for m a par t icular de const r uir a r elação, com m odalidades
específicas de definir , de ut ilizar , de ar t icular e de acum ular as
m ediações. A pr ior idade é, por t ant o, dada à com pr eensão dos
pr ocessos de const r ução da r elação ent r e a ar t e e o público.
Mas, o j ogo das m ediações, m esm o se elas se sit uam na r ede
het er ogénea dos hum anos e dos não- hum anos, or ganiza- se em t or no
de um pont o de fuga, que se t r aduz, par ece- m e, pr ecisam ent e pela
ausência de definição da m ediação nest a obr a. E, dum a cer t a
m aneir a, a deslocação de um a sociologia da m ediação par a um a
sociologia da ent r ega18, em Les Figur es de l’am at eur [ Os Rost os do
am ador ] , apar ece com o um a exploração desse pont o de fuga: um
exam e do fact o de que, a par t ir das m ediações, qualquer coisa se
passa, pr oduz- se um acont ecim ent o, um a passagem , que não deixa
nada com o dant es; t r at a- se, ent ão, de " r econhecer o m om ent o da
obr a no que ele t em de específico e de ir r ever sível, de a ver com o
t r ansfor m ação, t r abalho pr odut ivo…" ( Hennion, 2000: 178) . De not ar
que, chegados a est e pont o, j á não est am os m uit o dist anciados do
UM A OUTRA M AN EI RA D E PEN SAR A COM UN I CAÇÃO?
Det enham o- nos na dupla const at ação que acabam os de fazer :
a do r ecur so, cada vez m ais pr esent e nas ciências da infor m ação e da
com unicação, à noção de m ediação; e a da inegável dificuldade com
que é confr ont ado quem quer que int ent e elabor ar um a definição
m ais exact a dest a noção. I st o significa: ( i) não consider ar esse
r ecur so com o um sim ples procedim ent o opor t unist a, m as ant es com o
a m ar ca de um a necessidade par a pensar cer t os obj ect os e cer t os
dom ínios ( cada vez que est á em j ogo a dim ensão cult ur al da
com unicação) , ou ainda para levar a cabo cer t as abor dagens que
ent endam t er em cont a duas, ou m esm o vár ias, dim ensões ( social e
sem iót ica, t écnica e sem iót ica, cult ur a e indust r ialização, r efer indo
apenas as m ais sim ples) ; ( ii) não consider ar t am bém a dificuldade
em elabor ar um a definição concept ual da noção com o um a
incapacidade, m as ant es com o o sinal de um t r abalho t eór ico em
cur so.
Sob est a condição, a noção de m ediação ( e não som ent e o seu
em pr ego por defeit o, com o um a espécie de " j oker " t eór ico) ofer ece
um a ver dadeir a opor t unidade par a as ciências da infor m ação e da
com unicação, dado que conduz a colocar duas quest ões: a de saber
se ela pode t or nar - se um conceit o cient ífico, e a do seu efeit o sobre a
m aneir a de pensar a com unicação. É o quest ionam ent o assim aber t o
A m e dia çã o pode fa z e r ou t r a coisa pa r a a lé m de r e e n v ia r à
filosofia ?
A pr im eir a coisa que int er pela na leit ur a das diver sas t ent at ivas
visando definir a m ediação é a r efer ência quase const ant e à filosofia,
ou m esm o à t eologia. I st o pr ende- se, evident em ent e, com o fact o de
que o segundo sent ido de m ediação ( i.e. o que ser ve de
int er m ediár io) est á em par t e ligado à dialéct ica hegeliana e à t eologia
cr ist ã: est es são m esm o os dois sist em as de pensam ent o que fazem
um a ut ilização explícit a e desenvolv ida dest a noção. Cont udo, não é
t ant o à dialéct ica hegeliana que se faz habit ualm ent e r efer ência nos
escr it os das ciências da infor m ação e da com unicação, m as a filósofos
com o Er nest Cassir er , Paul Ricœur , Theodor Ador no, Walt er Benj am in
ou Jür gen Haber m as, que, except uando Paul Ricœur , não t r at am
dir ect am ent e da m ediação enquant o t al20 . Quant o à t eologia, é cer t o
que a sua concepção da m ediação act ua com o um inst r um ent o de
pensam ent o do funcionam ent o sim bólico na nossa sociedade, m as
isso passa- se discr et am ent e. Haver á aqui, incont est avelm ent e, um a
pesquisa a fazer .
O que r efer i pr ecedent em ent e sobr e as r azões do r ecur so à
noção e sobr e o que sobr essai do exam e das definições pr opost as
incit a- m e a desenvolver a hipót ese acim a enunciada, segundo a qual
essas r efer ências vêm for necer fer r am ent as par a cont r olar o pont o de
fuga que o em pr ego da noção de m ediação int r oduz na abor dagem da
com unicação. A leit ur a da obr a de Fr anco Cr espi, Médiat ion
sym bolique et sociét é [ Mediação sim bólica e sociedade] , é, nest e
pont o, da m aior ut ilidade. O aut or apr esent a de for m a clar a a r elação
que as difer ent es filosofias m ant êm com a m ediação sim bólica. A
r azão dest a clar eza pr ende- se com o enunciado do post ulado
ant r opológico sobr e o qual ele baseia a sua definição: " A cult ur a,
viver , com o o r esult ado evolut ivo da com plexidade cr escent e dos
m odos de r elação e de com unicação int er subj ect ivos e
int er m undanos." ( Cr espi, 1983: 11.) A consequência que daí r esult a é
um a subst it uição par cial, no det er m inism o inst inct ual, de um a
m ediação sim bólica capaz de pr oduzir consenso e de or ient ar os
indivíduos " com vist a à const it uição de um a or dem social, de um agir
coor denado num sist em a det er m inado de r elações" ( p. 1421 ) . Cr espi
cham a " difer ença" à oscilação da r elação det er m inado- indet er m inado
e declar a – é o pivot da sua abordagem – que o sim bólico é
m ediação, não por que vise a solução das cont r adições da difer ença
segundo um m odelo hegeliano, m as por que per m anece na oscilação
da difer ença: a cult ur a t ende, assim , a apagar a difer ença par a
pr oduzir o det er m inado, m as, ao m esm o t em po, o desvio que
const it ui a consciência não se r ecom põe nunca int eir am ent e na
or dem sim bólica. Par a abor dar de um a m aneira cor r ect a o pr oblem a
da difer ença, é pr eciso aceit ar , diz ele, " ao m esm o t em po o
det er m inado, ou sej a a necessidade de um a or dem sim bólica, e o
indet er m inado, ou sej a o lim it e da m ediação" ( p. 22) .
O int er esse dest a concepção da m ediação é o de cont r ibuir par a
const r uir um m odelo que per m it a pensar a nat ur eza dinâm ica da
m ediação, o seu car áct er t er nár io, o seu funcionam ent o par adoxal, a
sua função sim bólica. Não que um a t al abor dagem nos dê,
finalm ent e, um a ver dadeir a definição da m ediação, m as
sim plesm ent e por que ela for nece um a sínt ese que apr eende est a
dinâm ica, est e car áct er , est e funcionam ent o, est a função, segundo
um a per spect iva ant r opológica; o m esm o é dizer que ela coloca a
quest ão de um funcionam ent o ant r opológico que a noção de
m ediação ser vir ia par a designar .
Um a v ez assum ida est a quest ão, r est a evident em ent e o
t r abalho cient ífico. Ou m elhor : levar a cabo a obr igação de que se
filosófico at r ibui um obj ect ivo à const r ução t eór ica dos obj ect os
est udados; a saber , o pr oj ect o de pensar cient ificam ent e um a
quest ão colocada pela filosofia. Nest a per spect iva, o fact o de as
diver sas pr oposições de definição da m ediação fazer em m uit as vezes
r efer ência a abor dagens que consider am j á o seu funcionam ent o
sim bólico segundo cat egor ias ant r opológicas ( Mar cel Gauchet , Vict or
Tur ner , Louis Dum ont , Louis Mar in, Claude Lefor t , Michel de Cer t eau,
et c.) par ece- m e o sinal de que est á efect ivam ent e em pr át ica est e
pr oj ect o. Elas são de fact o m obilizadas par a pensar os t rês pr ocessos
que car act er izam est e funcionam ent o sim bólico, par a t ent ar const r uir
r espost as às t r ês quest ões que cir culam sob o r ecur so à noção de
m ediação: com o é que se pr oduz um cor po social a par t ir de
elem ent os separ ados ( quest ão da r eligião e do polít ico, ou sej a
quest ão da pr odução daquilo que liga) ? Com o se pr oduz linguagem a
par t ir da enfor m ação t écnica da m at ér ia ( quest ão da sim bolização) ?
Com o se pr oduz inst it uição a par t ir da r elação e da acção ( quest ão da
inst it ucionalização, ou sej a da cr ist alização das pr át icas em
disposit ivos) .
Por um lado, t ocam os por t ant o em quest ões de um a ext r em a
gener alidade, sobr e as quais t odas as filosofias m ais ou m enos se
int er essar am . Por out r o lado, encont r am os invest igação t eór ica,
análises de t er r eno, const r ução de obj ect os. Podem os assim dizer que
a noção de m ediação, t al com o é ut ilizada pelas ciências da
infor m ação e da com unicação, r eenvia de fact o par a a filosofia, m as
do m esm o m odo com o r eenvia par a o seu lim it e ( o da im possibilidade
de pensar , e ainda m enos de t r at ar, a or igem do sim bólico) , com o
par a um quest ionam ent o que r eleva de um a dém ar che r eflexiva. Em
cont r apar t ida, concr et am ent e, enquant o invest igador , se eu quiser
ut ilizar o t er m o m ediação enquant o conceit o, é- m e necessár io,
pr im eir o e ant es de m ais, ( i) assum ir que esse quest ionam ent o
noção de m ediação na invest igação em ciências da infor m ação e da
com unicação.
Dest e pont o de vist a, podem os per gunt ar - nos se as est r at égias
de não- definição da noção de m ediação, ao m esm o t em po que foi
necessár io " r ecor r er " a elas, não são de consider ar , em benefício de
um a pr udência cient ífica: t rat a- se, com efeit o, de um r ecur so par a
analisar obj ect os com unicacionais que são sim ult aneam ent e
disposit ivos t écnicos, sociais e significant es, não de pr ocur ar um a
r eflexão sobr e a m ediação e o sim bólico: aqui reside a difer ença face
à abor dagem cient ífica e à abor dagem filosófica.
Pr opõe a m e dia çã o u m a n ova m a n e ir a de con ce be r a
com u n ica çã o?
Um a vez r econhecido o papel de int er face da noção de
m ediação ent r e um quest ionam ent o ant r opológico e um " r ecur so"
oper at ór io, esse papel não deixa de levant ar gr aves dificuldades. É
que est a par t ilha ent r e a face filosófica e a face cient ífica significa
delegar na filosofia o cuidado de inst alar um a per spect iva
ant r opológica que sir va de pano de fundo à definição da m ediação –
os obj ect os est udados pelos invest igador es não ser ão, ent ão, pur os
ar t efact os, na m edida em que, dessa for m a, eles vêm inscr ever - se
num a const r ução t eór ica que não t em nada de cient ífico e que
obedece a pr incípios que são, na r ealidade, os da r eflexão, do ensaio,
ou m esm o da t om ada de posição ideológica? Er a ex act am ent e um
r eceio dest e t ipo que m ot ivava a m inha r et icência em r elação à noção
de m ediação: ela t em t odos os t raços de um a int erposição ent r e
univer so da invest igação e univer so do ensaio filosófico. Um a par t ilha
cor dial ent r e as duas faces não m e par ece aceit ável e um a est r it a
r epar t ição par ece- m e insust ent ável. Or a, o desenvolvim ent o do
for m a bast ant e clar a a necessidade de um a definição de m ediação
que não sej a apenas um int er face, localizado nas ciências da
infor m ação e da com unicação, de um a per spect iva ant r opológica de
nat ur eza filosófica. Por out r o lado, os t r abalhos que at acar am de
fr ent e um a definição da noção de m ediação, pr ocur ando fazer dela
um conceit o das ciências da infor m ação e da com unicação, pr ovam
sim ult aneam ent e a possibilidade, o int er esse e a necessidade de um a
t al definição. Tudo ist o ex ige que a par t ilha sej a abor dada de um
m odo m ais dinâm ico do que t er r it or ial; dit o de out r a for m a, m ais em
t er m os de pr ogr am a, de abor dagem , de pr oj ect o, do que de cor t e, de
fr ont eir as, de separ ação.
Um a das possibilidades r eside em m udar o pont o de vist a a
par t ir do qual consider am os a per spect iva ant r opológica. Não t ant o
pr ocur ar a r azão final do em pr ego ou da definição da noção de
m ediação pelas ciências da infor m ação e da com unicação, com o
per ceber que isso indica que a invest igação j á est á a explor á- la e a
const r uí- la com o dom ínio de conhecim ent o cient ífico. Par a ser claro:
afir m ar que as ciências da infor m ação e da com unicação j á est ão a
cont r ibuir par a um a explor ação do funcionam ent o sim bólico da nossa
sociedade; e fazê- lo, não a par t ir de um a m et a- t eor ia desse
funcionam ent o, m as de um a pr odução de conhecim ent os sobr e as
for m as e m odalidades desse funcionam ent o22 . Est a posição
apr esent a a vant agem de sit uar a per t inência e a validade do
conceit o de m ediação no int er ior do cam po das invest igações em
ciências da infor m ação e da com unicação.
Com efeit o, ao r econt ext ualizar os t r abalhos que m encionam a
noção de m ediação no conj unt o dos que t r at am efect ivam ent e das
for m as e m odalidades do funcionam ent o sim bólico de um pont o de
vist a com unicacional, obt ém - se um duplo r esult ado: por um lado, ( i)
um a r edefinição oper acional da m ediação; e, por out r o, ( ii) um a r
esboçar ei aqui os aspect os m ais m ar cant es e os m ais ger ais,
r et om ando os elem ent os de um t r abalho em cur so.
( i) Duas definições da com unicação ser v em act ualm ent e de
r efer ência: a pr im eir a, a m ais conhecida e aliás a m ais cr it icada,
concebe a com unicação com o t r ansm issão de infor m ação ent r e um
pólo em issor e um pólo r ecept or , enquant o que a segunda,
convocada quando é quest ão de t r at ar de com unicação social e não
t écnica, concebe- a com o int er acção ent r e suj eit os sociais, a r elação
ent r e suj eit os t or nando- se m ais im por t ant e do que a infor m ação que
cir cula ent r e eles. Or a, cont r ar iam ent e à ideia pr econcebida, a
sobr eposição dest as duas concepções da com unicação ( m odelo da
infor m ação e m odelo da int er acção) não per m it e apr eender
conj unt am ent e o t écnico e o social23 , por que falt a ainda a dim ensão
pr opr iam ent e m ediát ica. O m odelo da m ediação per m it e- o, por seu
t urno, na m edida em que a com unicação apar ece aí com o
accionam ent o dum elem ent o t er ceir o que t or na possível a t r oca
social, enquant o que os univer sos da pr odução e da r ecepção são a
pr ior i disj unt os por nat ur eza24 .
A olhar em det alhe, um a genealogia dest e m odelo m ost r a que
alguns invest igador es t ent ar am explor ar est a concepção da
com unicação. Podem os, assim , dist inguir t r ês filiações t eór icas que
puser am a t ónica, r espect ivam ent e, sobr e a linguagem , sobr e as
t ecnologias e sobr e a cult ur a enquant o oper ador de const r ução ( ou,
se quiser m os, de inst it uição) dessas condições de possibilidade da
t r oca. Par a sim plificar , eu dir ia que a pr im eir a dest as filiações é
ilust r ada pelo est r ut ur alism o sem iológico, ant r opológico ou m esm o
sociológico25 ; a segunda pelos ensaios sobr e o papel sim bólico da
t écnica, de um I nnis, de um MacLuhan ou de um Debr ay, e, no lado
opost o, pelas invest igações em pír icas da sociologia dos usos ou das
m ediações26 ; a t er ceir a, pelos t r abalhos da Escola Fr ankfur t ou dos
t r abalhos e à volt a da qual se encont r ou um gr ande núm er o de
invest igador es t r abalhando sobr e as " com unicações de m assa" , sobr e
as " indúst r ias da cult ur a" e sobr e a função dest as na sociedade.
( ii) O r econhecim ent o de um a t er ceir a definição da com unicação,
longe de t or nar caducas as out r as duas, leva a consider á- las, não
com o epist em ologicam ent e concor r ent es, m as com o pr oduções
hist ór icas, que r espondem a int er esses por um a ou out r a dim ensão
da com unicação. Há, por t ant o, que pr osseguir dest e pont o de vist a a
sua genealogia, difer ençar as filiações t eór icas que as const it uem e
que const r uír am o seu sucesso27 .
Por enquant o, bast a not ar que o pr im eir o dos m odelos, ao
cobrir os t rês dom ínios do t écnico, m ediát ico e do linguíst ico da
com unicação, t em t endência a fazer cr er que j á assegur a aquilo que
pr opõe o m odelo da m ediação. Quant o ao segundo, consider ando a
com unicação com o a r esult ant e da int er acção ent r e dois ou vár ios
suj eit os sociais, desenvolve a ideia de que o cult ur al se r efer e à
aplicação de sist em as significant es na int er subj ect ividade ( m esm o se
ela é ent endida com o int er acção ent r e suj eit os sociais28 ) .
Ao invés, o que o m odelo da m ediação faz apar ecer é m enos os
elem ent os ( a infor m ação, os suj eit os sociais, a r elação, et c.) do que a
ar t iculação desses elem ent os num disposit ivo singular ( o t ext o, o
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NOTAS
1 A pr im eir a decisão inscr evia- se num quadro t eór ico visando abor dar o pr ocesso sim bólico pr esent e em qualquer m édia ( ver , por exem plo, Davallon, 1993, 1999b) , cont r a a t ese da dessim bolização da nossa sociedade. A segunda, no pr oj ect o de est udar o própr io funcionam ent o da dim ensão sim bólica do m edia e o j ogo ent re o dent r o e o for a do disposit ivo ( o que cham ei, na int r odução de L’Exposit ion à
l’œuvr e [ A ex posição em const rução* ] , a pragm át ica do disposit iv o) . Est a ut ilização
do conceit o de m ediação inscr eve- se assim no seguim ent o da pr im eir a, em oposição a sem iot ização, com unicação ou est r at égia ( v .g. Davallon, 1993, 1999b) . * Todos os t ít ulos m encionados ao longo do t ext o ser ão r epr oduzidos no or iginal e t r aduzidos ent r e par ênt esis r ect os.
2
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Um caso int er essant e dest a ut ilização é a r eferência feit a a est e significado par a definir os m ediador es do livr o ( Let ur cq, 1999) . O aut or pr ecisa que, nest e caso, não há conflit o; podem os cont udo obser var a est e pr opósit o que um a ideia de r upt ur a, de desfasam ent o, fica sem pr e pr esent e na ret aguar da de t odas as definições da m ediação.
4Cabe ao leit or ( m as nada o convida dir ect am ent e) par t ir da hipót ese de que é na m edida em que os m édia são abor dados com o t écnicas sim bólicas ( p. 289sq) , que eles part icipam em processos de m ediação. Podem os ( t alvez) ent ão ir at é int er pr et ar as últ im as palavr as da conclusão com o dando um a concepção da m ediação social operada pelos m édia: " Os m édia são hoj e, com o ont em a escola, um dos lugar es essenciais onde o poder social concr et iza, pela palav ra, pelo sím bolo, a sua pr ópr ia definição do social, que ele explicit a: por seu int er m édio, o conhecim ent o que a sociedade se dá dela pr ópr ia é- lhe devolvido, a r epr esent ação r et or na- lhe e t or na- se par t e da realidade, ela cont ribui par a a t r ansfor m ar ." ( p. 333) .
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Ver , por exem plo, Chr ist ine Cr oquet sobre a cr ít ica de cinem a ( 1998) ou Guillaum e Soulez sobr e a apr esent ação t elevisiva com o m ediação ( 1998) . O ar t igo da pr im eir a faz r efer ência a Neveu e Rieffel ( 1991) par a um a abor dagem do j or nalist a com o m ediador . É, aliás, a est a abor dagem que Br et on ( 1997) faz, pr ovavelm ent e, r efer ência. Podem os t am bém considerar que est a m ediação pr opõe, assim , um encont r o ent r e dois m undos, cont r ibuindo dessa for m a à elaboração com um de represent ações ( Geller eau, 1998: 99) , m as ela ent ão apr oxim a- se pr efer ent em ent e de um a concepção da m ediação cult ur al. É necessário m encionar aqui a t eoria do discurso m ediát ico, que ut iliza o t erm o m ediação, m as no sent ido que lhe dá Ricœur ( v .g. Dubied, 2001) .
6A oposição ent r e a m ediação pelo j or nalist a e a m ediat ização não deixa de evocar a que exist e ent r e a m ediação pedagógica hum ana e a m ediat ização t écnica dos conhecim ent os, a qual car act er iza a indust r ialização dest as últ im as. A um out ro nív el ( i.e. segundo um a abor dagem fazendo r efer ência a Hennion) , os disposit ivos ser ão apr eendidos com o " m ediações disposit ivas" ( Duvernay, 2002) . De not ar que exist e um a im por t ant e lit er at ur a sobr e a dim ensão pr opr iam ent e educat iva da m ediação pedagógica em ciências da educação, que não foi aqui consider ada.
7 Encont r am os, na r ealidade, nest a aut or a as duas acepções: À l’appr oche du
m usée, la m édiat ion cult ur elle [ Na abor dagem do m useu, a m ediação cult ural]
( Caillet , 1995a) acent ua a dim ensão pr át ica e o m ediador, em que a m ediação é o que realiza o m ediador ( ela é assim concebida com o um a " passagem " ent re dois univer sos, um " acom panham ent o" do visit ant e, afim de o fazer aceder às obr as ou ao saber apr esent ados no m useu, cent r o de ar t e ou sít io pat r im onial) . No ar t igo ( 1995b) , não se t r at a de pôr em r elação um visit ant e e a obr a, de fazer de int erm ediár io ent re dois pólos, m as da passagem de um nív el a um nív el superior, que supõe ao m esm o t em po um a deslocalização e um a criação de qualquer coisa de novo, im plicando a pr odução de um a sit uação nova ( posições dos act or es, obj ect os, discur sos, et c.) .
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