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SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Nº SP (2021/ )

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SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Nº 3355 - SP (2021/0378357-2) RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DO STJ

REQUERENTE : MUNICÍPIO DE GUARUJÁ

PROCURADOR : LUCAS BARBOSA RICETTI - SP313445

REQUERIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

DECISÃO

Cuida-se de suspensão de segurança proposta pelo MUNICÍPIO DE GUARUJÁ (SP) contra decisão proferida no Mandado de Segurança n. 2019330- 17.2021.8.26.0000, em trâmite no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou a ordem pela ausência de direito líquido e certo do referido município ao adiamento/parcelamento dos depósitos insuficientes verificados no ano de 2020.

Aduz que ingressou com mandado de segurança com pedido liminar contra ato administrativo praticado pelo desembargador Coordenador da Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos – DEPRE, nos autos do Processo Geral de Gestão n. 9000438- 03.2015.8.26.0500/03, que determinou instauração de procedimento de sequestro de rendas públicas do Município de Guarujá, no montante de R$ 41.391.300,53, referente à insuficiência de depósitos correspondentes ao exercício de 2020.

Pontua que também foram determinadas outras medidas lesivas, tais como expedição de ofício à Secretaria do Tesouro Nacional – STN para obstar a concessão de empréstimos e efetivação de transferências voluntárias; bloqueio de verbas do Fundo de Participação dos Municípios – FPM; inserção da municipalidade no cadastro de inadimplentes do Conselho Nacional de Justiça – CNJ; e expedição de ofício ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e ao Ministério Público para as providências cabíveis.

Sustenta que a insuficiência de valores para pagamento de precatórios no ano de 2020 decorreu de suspensão, pelo prazo de 180 dias, dos depósitos realizados pelo município, que foi autorizada por decisão da DEPRE, em razão da superveniência da pandemia causada pela covid-19.

Entende que possui direito líquido e certo de se valer do prazo de vigência do regime especial para pagamento de sua dívida, notadamente em razão da necessidade de cuidado com as finanças municipais e de continuidade dos serviços públicos já afetados pela pandemia.

A liminar pleiteada foi deferida parcialmente para determinar o recálculo da

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insuficiência de depósitos, com exclusão dos valores recebidos da União e do Estado para combate à covid-19. Explica que renovou o pedido de concessão da medida liminar para suspender o sequestro de rendas e das demais medidas constritivas em razão da promulgação da Emenda Constitucional n. 109/2021, que alterou o art. 101 do ADCT, para ampliar, em 5 anos, o prazo de vigência do regime especial de pagamentos, passando a vigorar até o dia 31/12/2029, tendo sido prolatada decisão determinando a suspensão dos efeitos do ato impetrado, em razão da superveniência da Emenda Constitucional n.

109/2021.

Relata que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo denegou a segurança, com revogação da medida liminar, com entendimento no sentido de efeito ex nunc da Emenda Constitucional n. 109/2021, que não alcançaria insuficiência de depósitos de anos anteriores à sua promulgação.

Assevera que há presença de manifesto interesse público e de risco grave de lesão à ordem administrativa e à economia pública, notadamente pelos efeitos ocasionados pelo sequestro de rendas e pelas medidas que impedem a obtenção de empréstimos pelo município, o recebimento de transferências voluntárias, o bloqueio do FPM e a inscrição no cadastro de inadimplentes do CNJ.

Sustenta que estão inviabilizadas medidas em prol da celebração de convênios decorrentes de repasse voluntário de verbas, impedindo o prosseguimento de iniciativas indispensáveis ao atendimento dos interesses da comunidade.

Argumenta que o sequestro de rendas priva o município de mais de 40 milhões de reais em um cenário de dificuldade financeira e orçamentária, podendo ser acentuado o risco de paralisação de serviços públicos.

Defende a plausibilidade jurídica da pretensão defendida pelo município no sentido de que a Emenda Constitucional n. 109/2021 não possui efeito ex nunc, aplicando-se, na verdade, aos débitos anteriores, incluindo eventual insuficiência de depósitos referentes ao exercício de 2020, que decorreram de consequências financeiras negativas da pandemia.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, às fls. 20-37, assim se pronunciou sobre a questão controvertida:

Trata-se de mandado de segurança manejado pelo Município de Guarujá contra suposto ato coator do Desembargador Coordenador da Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos DEPRE, consubstanciado na determinação de procedimento de sequestro de rendas públicas no montante de R$ 41.391.300,53, em função da insuficiência de depósitos no exercício de 2020, conforme apuração nos autos de processo geral nº 9000438-03.2015.8.26.0500/3.

Diz o impetrante que está submetido ao Regime Especial de Pagamentos regulamentado pelo artigo 101, e seguintes, do ADCT, com vigência até 31/12/2024, mas, em função do superendividamento em

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precatórios que comprometem quase 10% da receita corrente líquida, não conseguiu evoluir na redução do estoque, razão pela qual houve aprovação de um plano de pagamento para 2020 com o depósito de 5%

daquela receita.

No entanto, em função dos efeitos deletérios da pandemia do COVID- 19, recrudescida por tragédia causada por deslizamento de terra em decorrência de fortes chuvas (com dezenas de mortos e centenas de desabrigados), houve abalo sensível nas contas públicas, o qual levou o impetrante a requerer, em caráter de excepcionalidade, a suspensão do pagamento de precatórios pelo prazo de 180 dias, que restou deferido pelo impetrado em 16/04/2020.

Porém, diz o impetrante, o Conselho Nacional de Justiça, no pedido de providências nº 0003505-25.2020.2.00.0000, manteve a suspensão dos 180 dias, mas determinou a complementação do pagamento dentro do exercício de 2020, o que não pode ser cumprido diante do agravamento da pandemia, conforme fato notório e público. Houve tentativa de revisão de cálculo do maior requisitório, em andamento, mas o impetrado decidiu por aguardar a conclusão do procedimento. Recorreu ao STF contra a decisão do CNJ, sem sucesso. Tenta, agora, impelir o Presidente da República, em outro procedimento, a fornecer linha de crédito nos termos do artigo 101, § 4º, do ADCT (MS 37.608).

Apesar de todos esses esforços, o impetrado não deferiu nenhum dos pedidos para evitar a determinação de sequestro de renda, conforme valor apurado entre março e agosto de 2020.

Após a distribuição do feito, este Relator requereu informações prévias do impetrado, antes de deliberar sobre o pedido de concessão da tutela (fls. 609/611), sobrevindo a manifestação de fls. 620, pela qual o DEPRE aponta, como causa para o indeferimento dos pedidos de parcelamento feito pelo município impetrante, o decidido pelo CNJ no citado Pedido de Providências nº 0003505-28.2020.2.00.0000.

Considerando esse informe e a notícia do premente sequestro de quantia vultosa, bem como outras medidas de restrição encaminhadas no DEPRE (fls. 624/637), que poderiam inviabilizar a administração do Município, inclusive do combate à pandemia, em 01/03/2021 foi deferida parcial antecipação de tutela suspendendo o sequestro, bem como determinando o recálculo da receita corrente líquida, base da incidência do comprometimento de 5% para quitação de precatórios, de eventuais repasses externos com o propósito específico de medidas de enfrentamento à COVID-19 (fls. 638/645). Houve oposição de embargos declaratórios contra essa decisão (fls. 740/744), os quais foram rejeitados monocraticamente (fls. 746/748).

Posteriormente, com a notícia da promulgação da PEC nº 109/2021, em 15/03/21, que alterou a redação do artigo 101 do ADCT à CF/88, prorrogando até 31/12/2029 o regime especial de pagamento de precatórios que estavam em mora até 25/05/2015 (fls. 669/676), além da informação de decisão exarada na ação de desapropriação nº 0000018- 93.1987.8.26.0093, que poderia reduzir sensivelmente a insuficiência dos depósitos do ano de 2020, foi determinada nova manifestação do impetrado (fls. 683/684). Sobreveio a manifestação de fls. 697/698, pela qual apontou-se que a eficácia da sobredita PEC seria a partir de 16/03/2021, não atingindo, portanto, a decisão exarada pelo CNJ, bem como que a decisão que determinou o recálculo do precatório nº

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7005926-47.1999.8.26.0500 não havia transitado em julgado.

Em função desses informes adicionais, foi ampliada a antecipação de tutela para suspender qualquer penalidade ao impetrante em relação à insuficiência de depósitos do ano de 2020 até o julgamento da ação por este Colendo Órgão Especial (fls. 726/728).

[...]

Diante da situação crônica de inadimplemento, pelos mais variados motivos, do pagamento de precatórios desde a promulgação da Constituição de 1988, foi votada e promulgada no Congresso Nacional a EC nº 62/2009, que criou o chamado 'regime especial de pagamento de precatórios' pelo prazo de até 15 anos mediante parcelas anuais ou comprometimento da receita corrente líquida da entidade devedora em percentual entre 1% e 2%, segundo a redação do artigo 97 que foi acrescentado ao ADCT à CF/88. Desta forma, a intenção do constituinte derivado era o de adequar o pagamento dessas dívidas com o orçamento corrente dos entes devedores, a fim de evitar déficit orçamentário ou inadimplemento absoluto.

[...]

Com o julgamento de parcial procedência da declaração de inconstitucionalidade, inclusive em relação à moratória de 15 anos para a quitação do precatórios em atraso, exsurgiu questão de ordem como incidente na referida ação para a modulação temporal dos seus efeitos, julgada em 25/03/2015 e com relatoria do Ministro Luiz Fux, sobrevindo a seguinte decisão:

[...]

A partir dessa modulação, dois pontos ficaram destacados: a-) o regime especial perduraria até o exercício orçamentário de 2020 (5 anos); b-) o CNJ passou a ter competência extraordinária para monitoramento e supervisionamento da execução desse regime, com competência normativa restrita à proposta de utilização de 50% dos depósitos judiciais tributários para quitação dos precatórios anteriores a 25/03/2015 ou sua compensação com crédito inscrito na dívida ativa até aquela data.

No entanto, o Congresso Nacional, dentro das suas prerrogativas, resolveu positivar a decisão do S.T.F. com algumas modificações por meio das Emendas Constitucionais 94/2016 e 99/2017, as quais, respectivamente, deram a seguinte redação ao artigo 101 do ADCT:]

[...]

Portanto, o Congresso Nacional na EC 94 havia acolhido o prazo de 5 anos de modulação dado pelo S.T.F na ADi 4425/DF, mas na EC 99 o ampliou para 2024, sem que houvesse qualquer manifestação judicial, que se tenha notícia, que tornasse essa última sem eficácia.

No entanto, em 2020 sobreveio fato de força maior que resultou na promulgação de uma nova Emenda Constitucional (109, de 15/03/2021), ou seja, a pandemia do COVID-19 que abalou seriamente a economia brasileira, e, por conseguinte, a capacidade de arrecadação dos entes federados, com influência direta na previsão de quitação anual dos precatórios entre 2020 e 2024, justamente para fazer frente aos

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gastos extraordinários do seu enfrentamento, tanto que tal pec tramitou sob a alcunha de 'emergencial'. Dentre outras medidas de cunho de responsabilidade fiscal, eis como ficou a nova redação do artigo 101 do ADCT à CF/88:

[...]

Nesse escopo, para este subscritor não caberia, em princípio, em dotar as disposições transitórias de eficácia 'ex nunc', mas na sua eficácia imediata sobre as situações jurídicas que perfazem seu objeto, ponderando sobre a distinção entre o conceito de 'vigência' (qualidade da norma que a faz existir juridicamente) do de 'eficácia' (possibilidade de gerar efeitos jurídicos', segundo lição clássica do constitucionalista José Afonso da Silva (in Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 60). Vale dizer: no caso específico do regime especial de pagamento de precatórios, tal como ocorrido na dilação feita pela EC99/2017, o Congresso Nacional concedeu nova moratória a todos os precatórios não quitados até sua promulgação.

No entanto, essa posição foi vencida no julgamento do MS nº 2116245- 31.2021.8.26.0000, ocorrido em 29/09/2021, no qual prevaleceu o voto condutor do Des. Xavier de Aquino para estabelecer que a citada EC- 109/2021 contém eficácia 'ex nunc', ou seja, suas disposições não se aplicam aos depósitos insuficientes no ano orçamentário de 2020, conforme apurado para vários municípios no âmbito do Processo Geral nº 9000438-03.2015.8.26.0500/3 pelo DEPRE.

[...]

E, não obstante esse fato jurídico, o exame do demonstrativo de despesas orçamentárias do ano de 2020, de fls. 36/38, permite aferir o recrudescimento dos gastos com infraestrutura, insumo e pessoal para fazer o enfrentamento da pandemia do COVID-19, da ordem de grandeza de R$ 34.000.000,00, o que merece ser levado em consideração considerando o porte do Município em questão.

2.2 Em suma, o Conselho Nacional de Justiça, que não detém poder regulamentar sobre a matéria em discussão, mas a supervisão da quitação dos precatórios em regime especial, conforme delegação dada pelo S.T.F., determinou a: a-) a operacionalização de Aditivo ao Plano Anual de Pagamento daqueles entes devedores que tiveram a suspensão dos pagamentos entre 1º de março e 31 de agosto de 2020, em razão da pandemia; b-) readequação do Plano Anual de Pagamentos, também por aditivo, para o recálculo das últimas quatro parcelas mensais (setembro a dezembro/2020) para incluir nas mesmas os valores não pagos durante a suspensão, segundo o comprometimento anual da Receita Corrente Líquida.

Com a superveniência da EC-109/2021 o município impetrante peticionou ao impetrado buscando o rearranjo das parcelas vencidas para quitação até 2029, sobrevindo a seguinte decisão (fls. 697/698):

[...]

Considerando o posicionamento adotado pelo impetrado no sentido da eficácia 'ex nunc' da EC 109/21 em relação aos precatórios não quitados antes de 16/03/2021, o que foi referendado pela maioria deste colegiado em decisões recentes (a última no MS 2116245-31.2021.8.26.0000, impetrado pelo Município de Osasco), em respeito ao princípio da colegialidade para estabilização da jurisprudência nos Tribunais, segundo artigos 926 e 927, inciso IV, do NCPC, bem como para não haver decisão conflitante com processos anteriores, é o caso de denegação da ordem pela ausência de demonstração do 'direito líquido e

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certo' para o adiamento do pagamento dos depósitos insuficientes do ano de 2020.

Em outro ponto, segundo consulta feita no extrato do processo nº 0000018-93.1987.8.26.0093, de onde foi extraído o segundo maior precatório em valor (cerca de R$ 110.416.475,20 em cálculo de 2017), de número 7005925-47.1999.8.26.0500, com depósito pleno feito nos idos de 2019 (sem levantamento ainda autorizado), contra a decisão que determinou devolução de significativo valor aos cofres do Município impetrante (cerca de R$ 31.000.000,00), prolatada na 2ª Vara Cível daquela Comarca, disponibilizada no DJe em 05/03/2021, houve oposição de recurso de Agravo de Instrumento sob número 2086484- 52.2021.8.26.0000 feito por aquele Município para discussão da incidência dos juros compensatórios até a expedição do sobredito precatório, pendente de julgamento pela Colenda 11ª Câmara de Direito Público, com relatoria do Des. Aroldo Viotti.

[...]

Estabelecida a fundamentação analítica determinada pelo artigo 489, § 1º, do Novo C.P.C., pelo meu voto, e ressalvada minha posição pessoal em relação aos efeitos retroativos da EC-109/2021 aos precatórios não quitados até sua promulgação: a-) denego a ordem pela ausência de direito líquido e certo do Município do Guarujá ao adiamento/parcelamento dos depósitos insuficientes verificados no ano de 2020; b-) revogo, nesses termos, a antecipação de tutela concedida as fls. 638/645 e 726/728.

É, no essencial, o relatório. Decido.

Sabe-se que o deferimento da suspensão de segurança é condicionado à demonstração da ocorrência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública. Seu requerimento é prerrogativa de pessoa jurídica que exerce múnus público, decorrente da supremacia do interesse estatal sobre o particular.

Ademais, esse instituto processual é providência extraordinária, sendo ônus do requerente indicar na inicial, de forma patente, que a manutenção dos efeitos da medida judicial que busca suspender viola severamente um dos bens jurídicos tutelados, pois a ofensa a tais valores não se presume.

A suspensão de segurança é medida excepcional que não tem natureza jurídica de recurso, razão pela qual não propicia a devolução do conhecimento da matéria para eventual reforma. Sua análise deve restringir-se à verificação de possível lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas, nos termos da legislação de regência, sem adentrar o mérito da causa principal, de competência das instâncias ordinárias. Não basta a mera e unilateral declaração de que a decisão liminar recorrida levará à infringência dos valores sociais protegidos pela medida de contracautela.

Repise-se que a mens legis do instituto da suspensão de segurança é o

estabelecimento de uma prerrogativa justificada pelo exercício da função pública na

defesa do interesse do Estado. Sendo assim, busca evitar que decisões contrárias aos

interesses primários ou secundários, ou ainda mutáveis em razão da interposição de

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recursos, tenham efeitos imediatos e lesivos para o Estado e, em última instância, para a própria coletividade.

No presente caso, não se verifica a ocorrência de grave lesão a nenhum dos bens tutelados pela lei de regência, porquanto não se comprovou, de forma inequívoca, em que sentido a ordem, a saúde, a segurança e a economia públicas estão sendo afetadas em razão da decisão que denegou a ordem para, com supedâneo na decisão proferida pelo Conselho Nacional de Justiça no Pedido de Providências n. 0003505-25.2020.2.00.0000 e considerando a eficácia ex nunc da Emenda Constitucional n. 109/2021, afirmar a não caracterização de direito líquido e certo do município impetrante na reprogramação do pagamento dos depósitos insuficientes de 2020 até o ano de 2029.

Não foram desenhadas hipóteses de configuração de lesão aos bens jurídicos tutelados pela legislação referente à suspensão de segurança; ficou caracterizado, na verdade, mero inconformismo da parte requerente no que diz respeito às conclusões do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

A parte requerente modifica a natureza jurídica da suspensão de segurança ao pretender utilizá-la como recurso, porquanto impugna as conclusões jurídicas do Tribunal a quo, não apontando, de forma irrefutável, em que sentido houve infringências aos bens que são tutelados pelo regime legal da suspensão.

Destaque-se que as questões eminentemente jurídicas debatidas na instância originária são insuscetíveis de exame na via suspensiva. Portanto, meras conjecturas de supostas lesões à ordem e à economia públicas não podem servir de justificativa para a concessão da liminar requerida, uma vez que há questões jurídicas a serem solucionadas, cujo debate tem de ser profundamente realizado no ambiente processual adequado.

De toda sorte, conforme jurisprudência desta Corte, a suspensão de segurança não pode ser utilizada como sucedâneo recursal e haverá a oportunidade de continuidade do debate jurídico que está sendo travado na instância originária sobre o mérito do mandado de segurança.

No sentido de que o art. 4º da Lei n. 8.437/1992 não contempla como um dos fundamentos para o conhecimento da suspensão a grave lesão à ordem jurídica, não havendo aqui espaço para a análise de eventuais error in procedendo e error in judicando , restrita às vias ordinárias, colaciono os seguintes precedentes desta Corte:

AGRAVO INTERNO. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE

NÃO CONFIGURADA. SUSPENSÃO DE JULGADO DO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO. DECISÃO DE QUE SE BUSCA SUSPENDER OS EFEITOS, QUE APENAS DETERMINA A OBEDIÊNCIA AOS EXATOS TERMOS DA LIMINAR DEFERIDA EM PRIMEIRO GRAU. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE GRAVE LESÃO À ORDEM E À ECONOMIA PÚBLICAS.

ARGUMENTAÇÃO DO AGRAVANTE VINCULADA

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EXCLUSIVAMENTE AO MÉRITO DA DECISÃO IMPUGNADA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

1. Preliminarmente, afasta-se a alegação de intempestividade do recurso, tendo em vista que a questão do prazo em dobro para recorrer, inclusive no âmbito da suspensão de liminar e sentença ou segurança, encontra respaldo na jurisprudência da própria Corte Especial, bem como nos demais órgãos julgadores do Superior Tribunal de Justiça.

Ademais, a controvérsia foi dirimida com a redação do novo Código de Processo Civil, em seu art. 183, quando diz que "A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal ". A exceção à regra do caput também foi prevista no

§ 2.º do referido artigo, que exige para a não aplicação do benefício de contagem em dobro a menção expressa feita pela lei de regência, o que não se verifica no caso da suspensão de segurança.

2. A execução de medida liminar deferida em desfavor do Poder Público pode ser suspensa pelo Presidente do Superior Tribunal de Justiça, quando a ordem tiver o potencial de causar grave lesão aos bens tutelados pelo art. 4.º da Lei n.º 8.437/1992 e art. 15 da Lei n.º 12.016/2009, a saber, à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

3. O Agravante apresentou argumentação de natureza estritamente jurídica - incidência ou não do ICMS nas operações interestaduais e seu recolhimento quando gerado por operação anterior, isto é, atribuição do imposto de forma diferida. Tal discussão, que visa infirmar os fundamentos da decisão impugnada, é inviável de ser analisada na via do pedido suspensivo, sob pena de transmudá-lo em sucedâneo recursal, já que diz respeito exclusivamente ao mérito da causa que tramita em primeiro grau de jurisdição.

4. O deferimento do pedido suspensivo exige a demonstração da existência da potencialidade danosa da decisão, cujos efeitos se busca suspender, sendo imprescindível que haja a comprovação inequívoca da sua ocorrência. No caso, a alegação de que a confirmação em segundo grau de jurisdição no tocante ao afastamento da aplicação das novas cláusulas do TDA (termo de acordo de arroz) causaria grave lesão aos bens tutelados pela lei de regência não é suficiente, porque lastreada em mera suposição, dando ensejo ao entendimento de que, na verdade, a parte manifesta seu inconformismo com a decisão impugnada.

5. Agravo interno desprovido. (AgInt na SS n. 2.902/RS, relatora Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, DJe de 20/2/2018, grifo meu.)

AGRAVO INTERNO NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA.

AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE OFENSA À ORDEM E À SAÚDE PÚBLICAS, BEM COMO À ORDEM JURÍDICA; ESTA ÚLTIMA NÃO CONSTA DO ROL DOS BENS TUTELADOS PELA LEI DE REGÊNCIA. AGRAVADA VENCEU EM CINCO LOTES DE PREGÃO ELETRÔNICO, POSTERIORES AO PEDIDO SUSPENSIVO INDEFERIDO. FALTA DE PLAUSIBILIDADE DAS

ALEGAÇÕES DE GRAVE LESÃO. AGRAVO INTERNO

DESPROVIDO.

1. O pedido de suspensão visa à preservação do interesse público e supõe a existência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas, sendo, em princípio, seu respectivo cabimento, alheio ao mérito da causa. É uma prerrogativa da pessoa jurídica

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de direito público ou do Ministério Público decorrente da supremacia do interesse público sobre o particular, cujo titular é a coletividade, cabendo ao postulante a efetiva demonstração da alegada ofensa grave a um daqueles valores.

2. Tal pedido, por sua estreiteza, é vocacionado a tutelar tão somente os citados bens tutelados pela lei de regência (Leis n.ºs 8.437/92 e 12.016/2009), não podendo ser manejado como se fosse sucedâneo recursal, para que se examine o acerto ou desacerto da decisão cujos efeitos pretende-se sobrestar. Sustentada alegação de lesão à "ordem jurídica" não existe no rol dos bens tutelados pela lei de regência.

3. A ora Agravada ainda presta serviço ao Agravante, com participação em certames licitatórios no âmbito do fornecimento de refeições hospitalares, tendo vencido em cinco lotes de pregão eletrônico, posteriores ao pedido de suspensão indeferido. Ausência da plausibilidade sustentada pelo Agravante, no tocante às graves lesões à ordem e à saúde públicas.

4. Agravo interno desprovido. (AgInt na SS n. 2.887/BA, relatora Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, DJe de 27/9/2017, grifo meu.)

Importante destacar, portanto, que um juízo mínimo de delibação sobre a questão de fundo mostra-se consequencial no contexto da realização do juízo eminentemente político, que é realizado no âmbito da suspensão de liminar. Nesse sentido, destaque-se que o entendimento adotado pelo acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo está em harmonia com o posicionamento do Conselho Nacional de Justiça adotado quando do julgamento do Pedido de Providências n. 0003505- 25.2020.2.00.000, que permitiu a suspensão dos pagamentos do repasse mensal de recursos previstos no plano anual de pagamentos dos entes devedores, mas condicionado à complementação dos valores ainda no exercício de 2020.

Importa ressaltar que a promulgação da Emenda Constitucional n. 109/2021 não retroage para manter suspensa a exigibilidade dos valores devidos nos exercícios anteriores que não foram tempestivamente quitados. Além de inexistir norma constitucional prevendo tal retroatividade, verifica-se que o regime especial é caracterizado por repasse de valores em montante definidos anualmente e que devem ser quitados dentro do exercício financeiro a que se refere. No caso de inadimplemento, a solução é o sequestro de valores e a adoção das medidas coercitivas previstas nos arts.

101 e seguintes do ADCT. Dessa forma, enfatize-se que sempre houve previsibilidade legal, constitucional e orçamentária para o repasse pelo município dos valores exigidos pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a título de cumprimento do plano anual de pagamentos no exercício de 2020, não configurando a exigência de tais valores causa de risco à ordem pública administrativa ou às finanças públicas.

Ante o exposto, indefiro o pedido de suspensão.

Publique-se. Intimem-se

Brasília, 29 de novembro de 2021.

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MINISTRO HUMBERTO MARTINS

Presidente

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