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MÁRIO ZAN: UM ARAUTO DA MÚSICA DE FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

JOSÉ FRANCISCO FERRARI

MÁRIO ZAN: UM ARAUTO DA MÚSICA DE FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL

SÃO PAULO

2014

(2)

JOSÉ FRANCISCO FERRARI

MÁRIO ZAN: UM ARAUTO DA MÚSICA DE FRONTEIRA DE MATO GROSSO DO SUL

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Edu- cação, Arte e História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientadora: Prof.ª Dra. Ingrid Hotte Ambrogi.

SÃO PAULO

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Coordenadoria de Biblioteca Central – UFMS, Campo Grande, MS, Brasil)

Ferrari, José Francisco

F375m Mário Zan : um arauto da música de fronteira de Mato Grosso do Sul / José Francisco Ferrari. – São Paulo, 2014.

205 f. : il. (algumas color.).

Orientador: Dra. Ingrid Hotte Ambrogi

Tese (Doutorado) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, São Paulo, 2014.

1. Música sertaneja – Mato Grosso do Sul - História. 2. Zan, Mário (Mário Giovanni Zandomeneghi), 1920-2006 – História. I. Ambrogi, Ingrid Hotte. II. Título.

CDD (22) 782.42164098171

JVD

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Mário Zan, nos primeiros anos de sua carreira (início da década de 1940)

FOTO: Arquivo pessoal de Mariângela Zan

(6)

Dedico este trabalho a duas pessoas que já se foram, mas deixaram a paixão pela música incrustada em mim: meu pai Adelino e minha sempre amada mãe Anna.

E, por extensão, a todos os músicos, instrumentistas, cantores, cantadores e poetas que de alguma forma mostraram as belezas desta terra que aprendi a amar:

Mato Grosso do Sul.

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AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Profª Drª Ingrid Hotte Ambrogi, que com paciência soube me acolher e com sabedoria trilhou-me no caminho do conhecimento para poder chegar ao término desta tese.

À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos que me possibilitou a realização do curso de doutorado no Mackenzie.

Aos professores (as) doutores (as) José Geraldo, Lincoln Etechebere, Silvana Hoopper e Daniela Ota, que participaram da composição desta banca.

A todos os professores e funcionários que me acompanharam no Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e aos meus colegas de turma, em especial a minha amiga Sílvia Bianchi, por sua atenção, presteza e solidariedade durante essa jornada.

Às amigas, professora doutora Célia Maria, a mestranda Jaque e a mestra Carmem, que sempre acreditaram na minha capacidade acadêmica, como também a mestra Marina Arakaki da CCS/RTR, sempre pronta para auxiliar os amigos.

Ao amigo professor doutor Gilberto Luiz Alves, pela feliz reaproximação de uma antiga amizade, como também à amiga professora doutoranda Marta Beck, que nos últimos meses esteve presente, dividindo comigo proveitosas conversas.

Mesmo não citando nomes, obrigado a todos os amigos da PREAE, da CCS, da Editora e da Reitoria da UFMS que, com muita paciência, acompanharam minha história e torceram por mim.

Às queridas amigas Mariângela Zan e sua mãe Aglaiz, pelo apoio incondicional a este trabalho, disponibilizando fotos, documentos, CDs, arquivos e histórias vividas e vivenciadas com Mário Zan.

Aos meus filhos, José Francisco, Giovana, Gabriel, Gilliano e Guilherme, meu genro Bruno, minhas noras Rafaela, Karen e Aline. As minhas irmãs e irmãos, Maria José, Carmem, Adelina, Adelino, Jacira, Suleni, Osmair e Maria do Carmo e a todos os meus cunhados (as) e sobrinhos (as), à Vó Emília, e a minha querida e amada netinha Maria Luíza (Malu), por compreenderem minhas ausências.

Por fim, um agradecimento especial a minha querida companheira e esposa

Giselda Tedesco, que ficou ao meu lado em todos os momentos difíceis e

angustiantes, me ajudando a levantar a cabeça e continuar acreditando no meu

potencial e na existência de um ser maior que nos abençoa nos protege e nos

orienta para o caminho do bem.

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Cidades de Mato Grosso (Rasqueado Apaixonado)

Chego até ficar maluco com o rasqueado apaixonado Essa música penetra no meu peito amargurado.

Faz lembrar o Paraguai, essa boa terra irmã

Faz lembrar Porto Esperança, faz lembrar Ponta Porã.

Faz lembrar Porto Esperança, faz lembrar Ponta Porã.

Meu prazer seria ouvir, rasqueado a vida inteira.

Prá lembrar as noites lindas que passei lá na fronteira.

Lembro então Porto Murtinho, Bela vista e Corumbá Três Lagoas, Campo Grande, Aquidauana e Cuiabá.

Três Lagoas, Campo Grande, Aquidauana e Cuiabá .

(Mário Zan e Arlindo Pinto)

(9)

RESUMO

Esta tese tem como objeto de pesquisa reconhecer o músico/sanfoneiro Mário Zan, como um dos primeiros compositores a divulgar os ritmos e a música da fronteira sul-mato-grossense, aos outros estados da nação e também fora dela, o que contribuiu para torná-lo conhecido e respeitado no Brasil, concluindo ser o mesmo, um arauto da música de fronteira de Mato Grosso do Sul. Com isso objetivamos verificar a influência da música de fronteira nas composições de Mário Zan, bem como a relevância de sua passagem pelo Estado na década de 1940, para a música da cultura local sul-mato-grossense. A pesquisa foi realizada a partir de consultas ao jornal da época, que circulava em Campo Grande, conversas informais com amigos, músicos e conhecidos de Mário Zan, além de declarações feitas a mim, depoimentos de familiares do artista e, também, a partir de memórias e relatos que obtive por meio de conversas com o próprio Mário Zan em novembro de 1996. Utilizei a pesquisa bibliográfica sobre o artista para verificar o objetivo proposto, que resultou em uma narrativa biográfica do compositor. A pesquisa bibliográfica mostrou-se fundamental para este estudo e, dessa forma, os livros de José Hamilton Ribeiro, Maria da Glória Sá Rosa, Rosa Nepomuceno, José Octávio Guizzo, Álvaro Neder, Evandro Higa, Rodrigo Teixeira, dentre outros, foram de grande importância para a compreensão da música local. Somam-se a esses os estudos de teóricos culturalistas tais como: Antônio Cândido, Eneida Maria de Souza, Hugo Achugar, Nestor Garcia Canclini, Homi Bhabha, Angel Rama, entre outros, que deram suporte às minhas reflexões teóricas sobre o assunto. Por fim, concluo que o estado de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, começou a ser conhecido musicalmente por meio das composições de Mário Zan. O artista ao apropriar-se dos ritmos fronteiriços e mostrá-los para outras regiões do país fez o papel de porta-voz, ou seja, tornou-se um arauto da música de fronteira de Mato Grosso do Sul.

Palavras-chave: Música de fronteira. Mário Zan. Arauto. Mato Grosso do Sul.

(10)

ABSTRACT

This thesis has as its research subject to recognize the musician/accordionist Mario Zan as one of the first composers to disclose the rhythms and boundary music of Mato Grosso do Sul to other states in the nation and also outside of the country, which contributed to make him known and respected in Brazil, concluding that he is a herald of boundary music of Mato Grosso do Sul. Thus, we aim to investigate the influence of the boundary music in Mário Zan´s compositions, and the relevance of his passage in the state at 1940s for Mato Grosso do Sul´s local music and culture.

The research was realized by querying Campo Grande´s newspaper of the age, informal conversations with friends, musicians, acquaintances, besides statements made to myself, speeches from family members of the artist and also from memories and reports obtained through casual conversations with Mario Zan in november 1996. I used researches about the artist to increase the subject, that resulted in a biographical narrative about the musician. The literature research was essential for this study and thus the books of José Hamilton Ribeiro, Maria da Glória Sá Rosa, Rose Nepomuceno, Jose Octavio Guizzo, Alvaro Neder, Evandro Higa, Rodrigo Teixeira, among others were of great importance to understand the local music.

Added to these, the researches of the culturalist theorists such as Antônio Cândido, Eneida Maria de Souza, Hugo Achugar, Nestor Garcia Canclini, Homi Bhabha, Angel Rama, among others, supported my theoretical reflections on the subject. Finally I conclude that the state of Mato Grosso, actually Mato Grosso do Sul, started to be musically known through Mário Zan´s compositions. The artist, while appropriating the boundary rhythms and show them to other regions of the country, played the role of spokesperson, in other words, became a herald of the boundary music of Mato Grosso do Sul.

Keywords: Boundary music. Mario Zan. Herald. Mato Grosso do Sul.

(11)

RESUMEN

Esta tesis tiene como objeto de investigación, reconocer el músico/acordeonista, Mario Zan, como uno de los primeros compositores que divulgó los ritmos y la música de la frontera de Mato Grosso do Sul a los otros Estados y también fuera del país, lo que contribuyó para ser conocido y respetado en Brasil, como mensajero de la música de la frontera de Mato Grosso do Sul. Por esto tenemos el objetivo de verificar la influencia de la música de la frontera en las composiciones de Mário Zan, así como la relevancia de su paso por el Estado en la década de 1940, para la música de la cultura local de Mato Grosso do Sul. La investigación fue realizada a partir de informaciones recogidas en el periódico que circulaba en Campo Grande, conversaciones informales con amigos, músicos y conocidos de Mário Zan, además de las declaraciones obtenidas de los familiares del artista y también de recuerdos e relatos obtenidos por medio de conversaciones con el propio Mario en noviembre de 1996. Fue utilizada la búsqueda en libros acerca del músico para verificar el objetivo de la tesis, que resultó en una narrativa de la biografía del compositor. La investigación bibliográfica fue fundamental para este estudio, los libros de José Hamilton Ribeiro, Maria da Glória Sá Rosa, Rosa Nepomuceno, José Octávio Guizzo, Alvaro Neder, Evandro Higa, Rodrigo Teixeira, entre otros, fueron de gran importancia para la comprensión de la música local. Además se utilizaron estudios de los teóricos culturalistas tales como: Antônio Cândido, Eneida Maria de Souza, Hugo Achugar, Néstor García Canclini, Homi Bhabha, Angel Rama, entre otros, que le dieron base a mis reflexiones teóricas sobre el tema. Finalmente concluimos que el estado de Mato Grosso, actual Mato Grosso do Sul, empezó a ser conocido musicalmente por medio de las composiciones de Mário Zan. El artista, apropiándose de los ritmos de la frontera y llevándolos a otras regiones del país, desempeñó el papel de portavoz, o sea, se tornó un mensajero de la frontera de Mato Grosso do Sul.

Palabras-clave: Música de la frontera. Mário Zan. Mensajero. Mato Grosso do Sul.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ̶ Mapa do estado de Mato Grosso do Sul... 22

FIGURA 2 ̶ Túmulo de Mário Zan, no Cemitério da Consolação, em frente ao túmulo da Marquesa de Santos... 25

FIGURA 3 ̶ Túmulo da Marquesa de Santos, no Cemitério da Consolação, em frente ao túmulo de Mário Zan... 25

FIGURA 4 – Detalhe do frontal do túmulo da Marquesa de Santos.. ... 26

FIGURA 5 – Minha mãe Anna, meu pai Adelino, meus irmãos Adelino e Toninho e funcionários da fábrica de frios em 1970... 35

FIGURA 6 – LP lançado em 1968, pertencia ao acervo de Adelino Ferrari (meu Pai)... 37

FIGURA 7 – Lado B, faixa 3, a música Elétrico ... 37

FIGURA 8 – Cornélio Pires... 41

FIGURA 9 – Giuseppe e Emma (Pais de Mário Zan)... 45

FIGURA 10 – Livro de registro da chegada de imigrantes (Familia Zandomeneghi) – Museu do Imigrante/SP... 45

FIGURA 11 – Detalhe do Livro de registro da chegada de imigrantes (Familia Zandomeneghi)... 46

FIGURA 12 – Certidão de Nascimento de Mário Zan... 47

FIGURA 13 – Mário Zan, aos quatro anos de idade... 48

FIGURA 14 – Mário Zan, aos quatorze anos... 49

FIGURA 15 – Documento enviado ao patronato agrícola que comprova a chegada da família Zandomeneghi ao Brasil... 50

FIGURA 16 – Mário Zan e Luiz Gonzaga... 51

FIGURA 17 – Mapa da fronteira Brasil com Paraguai... 57

FIGURA 18 – Mário Zan, Nhô Pai, Capitão Furtado e toda equipe no navio rumo a Corumbá. No detalhe a moça a quem Mário se referiu, e cita na música, indo embora... 76

FIGURA 19 – Mário Zan apontando o local da janela por onde compôs a música Chalana, para José Hamilton Ribeiro... 76

FIGURA 20 – Detalhe da fachada do Hotel e Mário Zan, na janela do Hotel, mostrando a posição que estava quando compôs a música Chalana, olhando para o Rio Paraguai... 77

FIGURA 21 – Foto de uma chalana, embarcação utilizada nos rios de Mato Grosso do Sul... 77 FIGURA 22 – Mário Zan, recebendo o troféu em Maracaju, cidade do

interior de Mato Grosso do Sul, que tembém ficou conhecida

(13)

por meio da música Seriema e ao lado detalhe dos dizeres do troféu...

79

FIGURA 23 – Mário Zan, ainda jovem, já tocava em bandas musicais... 80

FIGURA 24 – Bolacha do disco com a gravação da música de Mário Zan Nova Flor, gravado em inglês e comercializado em boa parte da Europa... 80

FIGURA 25 – Agachados: Mário Zan, Blota Jr, Randal, Juliano, Santiago e o Adoniran Barbosa... 81

FIGURA 26 – Mário Zan, na fazenda de Almir Sater, aqui com a esposa Paula, no pantanal sul-mato-grossense... 82

FIGURA 27 – Mário Zan e Almir Sater finalizam o vídeo tocando e cantando a música Chalana... 84

FIGURA 28 – Capa de partitura da música Chalana... 85

FIGURA 29 – Partitura da música Chalana – Transcrição: Wellington P. A... 86

FIGURA 30 – Partitura da música Chalana – Transcrição: Willian C. Domingues – 2009... 87

FIGURA 31 – O italiano Mário Zan, em foto de 1959, esquentou a música caipira com seu acordeon e compôs com Arlindo Pinto a obra-prima Chalana. As lindas Irmãs Celeste, no canto à esquerda, gravaram guarânias... 89

FIGURA 32 – Banner do filme Tristeza do Jeca... 90

FIGURA 33 – Recorte de jornal... 91

FIGURA 34 – Primeira página do Jornal do Comércio, do dia 23 de setembro de 1943... 92

FIGURA 35 – Mário Zan com 19 anos... 93

FIGURA 36 – Mário Zan, início de carreira – década de 1940... 94

FIGURA 37 – Mário Zan se apresentando em Cinemas na década de 1940. 94 FIGURA 38 – Mário Zan, a cantora Mariazinha e a direita, Zé do Rancho, no auditório da Rádio Clube de Tanabi-SP, no ano de 1950. Mariazinha e Zé do Rancho são avós de Sandy e Junior... 95

FIGURA 39 – Mário Zan, Geysa Celeste e sua irmã e Piraci... 95

FIGURA 40 – Mário Zan no Programa Almoço com as Estrelas na extinta TV Tupi... 95

FIGURA 41 – Raridade: O primeiro disco de Mário Zan... 96

FIGURA 42 – Mário zan, no final da década de 1950... 97

FIGURA 43 – Mário zan, no final da década de 1950... 97

FIGURA 44 – Partitura em Inglês... 98

FIGURA 45 – Capa de disco O Balão vai subindo... 99

FIGURA 46 – Capa de disco O Balão vai subindo... 99

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FIGURA 47 – Capa de disco “Sucessos de Mário Zan”... 99

FIGURA 48 – A cantora Mariangela Zan, filha de Mário Zan... 101

FIGURA 49 – Bilhete scaneado de Mariangela Zan, comprovando o envio de materiais recebidos... 102

FIGURA 50 – Recorte do jornal O INFORMATIVO de Votuporanga-SP... 102

FIGURA 51 – Folheto de divulgação de Festa Junina do SESC Campinas... 103

FIGURA 52 – Foder de divulgação dos homenageados do Festival América do Sul Corumbá-MS, 2006... 103

FIGURA 53 – Página da Folha de São Paulo, de Domingo, 4/jan/2004... 104

FIGURA 54 – Mário Zan e o pai Sr. Giusepe, o irmão Italo e o amigo Messias Garcia... 105

FIGURA 55 – Mário Zan e o pai Sr. Giusepe, o irmão Italo e o amigo Messias Garcia... 105

FIGURA 56 – Mário Zan e os filhos Osmar e Vanderlei... 106

FIGURA 57 – Mário Zan e sua primeira esposa dona Mimi e filhos... 106

FIGURA 58 – Mário Zan, a esposa dona Mimi e seus filhos Osmar, Vanderlei, Mario Nelson... 107

FIGURA 59 – Mário Zan, recebendo a medalha Anchieta, com os filhos Osmar, Vanderlei Zan... 107

FIGURA 60 – Mário Zan e sua filha Mariângela Zan... 108

FIGURA 61 – Pérola Zan, filha de Mário Zan... 108

FIGURA 62 – Aglaiz, Mariãngela, Mário Zan e Lara Hassum, na churrascaria Tertúlia em Santos... 109

FIGURA 63 – Mário Zan e sua neta Célica Zan ... 109

FIGURA 64 – Mário Zan e os netos Sandra, Simone e Marcelo... 110

FIGURA 65 – Mário Zan e Inezita Barroso, na noite que recebeu o maior prêmio da música brasileira: Troféu Roquete Pinto, em 1954.. 110

FIGURA 66 – Mário Zan e Chacrinha, o “Velho Guerreiro”... 111

FIGURA 67 – Tinoco, Sílvio Santos e Mário Zan... 111

FIGURA 68 – Mário Zan e músicos que trabalhavam nas gravadoras, final da década de 1940, em São Paulo... 112

FIGURA 69 – Mário Zan e Odair José... 112

FIGURA 70 – Mário Zan e Cláudio Fontana... 113

FIGURA 71 – Mário Zan eOsmar Zan e o palhaço Bozo... 113

FIGURA 72 – Mário Zan e Sérgio Reis e Amigos... 114

FIGURA 73 – Mário Zan e Luiz Ayrão e Amigos... 114

FIGURA 74 – Mário Zan eo apresentador Barros de Alencar... 115

FIGURA 75 – Mário Zan e José Fortuna, Lourival dos Santos e Amigos... 115

(15)

FIGURA 76 – Mário Zan e a atriz e cantora argentina Libertad Lamarque... 116

FIGURA 77 – Mario Zan, Renato Gasparini (produtor de TV), Oswaldinho do Acordeon e Dominguinhos, nos bastidores da gravação do programa da TV Cultura, O Milagre de Santa Luzia – 2005... 116

FIGURA 78 – Mario Zan, Mariângela Zan, Ratinho e Lara Hassum... 117

FIGURA 79 – Mário Zan, Nhô Pai, Capitão Furtado e equipe, na travessia do Rio Paraguai, na ida para Corumbá-MS, em 1944... 117

FIGURA 80 – Capa de partitura da música Sapecando... 119

FIGURA 81 – Capa de partitura da música Sai Dessa... 119

FIGURA 82 – Capa de partitura da música Língua de Sogra... 120

FIGURA 83 – Capa de partitura da música Samba da Saudade... 120

FIGURA 84 – Capa de partitura da música Dansando no Fogo... 121

FIGURA 85 – Capa de partitura da música Quarto Centenário... 121

FIGURA 86 – Capa de partitura da música A Polquinha do Caetano... 122

FIGURA 87 – Capa de partitura da música Capricho Cigano... 122

FIGURA 88 – Mário Zan e sua Bandinha–RCA VÍCTOR–LC6749... 140

FIGURA 89 – Mário Zan em Compacto - RGE - CD=80077... 140

FIGURA 90 – Rio 4º Centenário – Musidisc – LPM – 12.044... 141

FIGURA 91 – Mário Zan – Som Maior – SMCS -124... 141

FIGURA 92 – Mário Zan – Som Maior – SMCD-503... 142

FIGURA 93 – Carnaval 67 - 1967 - Cantagalo - CD-529... 142

FIGURA 94 – Mário Zan – RCA Victor - Nº 583.0011... 143

FIGURA 95 – Mário Zan – Philips... 143

FIGURA 96 – Mário Zan e seu Acordeon - 1956 - RCA Victor - BPL-3017.... 143

FIGURA 97 – Zanzando - 1957 - RCA Victor - BPL-3043... 144

FIGURA 98 – Sapecando - 1958 - RCA Victor - BBL-1003... 144

FIGURA 99 – Sanfonando com Mário Zan - 1958 - Continental - LPP-3024.. 145

FIGURA 100 ̶ Brincando de Escola com Mário Zan – Mário Zan e seu Acordeon com Solistas Coro Infantil - 1959 – RCA Victor – BBL 1052... 145

FIGURA 101 ̶ Mário Zan e seu Acordeon – 1959 – RCA Victor – BBL 1014.. 146

FIGURA 102 ̶ Festa de Ritmos – 1960 – RCA Victor – BBL 1077... 146

FIGURA 103 ̶ Alma de Boêmio – 1960 – Chantecler – CMG-2081... 147

FIGURA 104 ̶ O Balão vai subindo/1961/Chantecler – CMG-2109... 147

FIGURA 105 ̶ Festival de Valsas/1961-Chantecler – CMG-2125... 148

FIGURA 106 ̶ Brincando com o Teclado/1962-Chantecler – CMG-2159... 148

(16)

FIGURA 107 ̶ Brincando com o Teclado/1962-Chantecler – CMG-2159 (2ª

edição)... 149

FIGURA 108 ̶ Tangos Inesquecíveis/1962-RGE-XRLP-5146... 149

FIGURA 109 ̶ Só para você - 1963-Continental-PPL-12048... 150

FIGURA 110 ̶ Os maiores sucessos de Mário Zan – Volume 1 – 1963 – RCA Camden - CALB-5068... 150

FIGURA 111 ̶ Mário zan sempre Mário Zan – 1965 – Mocambo – LP 40274. 151 FIGURA 112 ̶ Limpa Banco/1966 – RCA Camden – CALB 5102... 152

FIGURA 113 ̶ Doce é Recordar/1967– RCA Camden/CALB 5126... 152

FIGURA 114 ̶ Tangos Inesquecíveis/1967– RCE-PRLP-1002... 153

FIGURA 115 ̶ Tangos Inesquecíveis/1967–RCE-XRLP-5146... 153

FIGURA 116 ̶ Os Grandes sucessos de Mário Zan - 1968 – Continental – LPK 20079... 154

FIGURA 117 ̶ Tempo Quente - 1968 – RCA Camden – CALB-5179... 154

FIGURA 118 ̶ Amor e Ciúmes - 1969 – RCA Camden – CALB-5240... 155

FIGURA 119 ̶ De Norte a Sul - 1969 – Beverly – AMCLP-5040... 155

FIGURA 120 – Mário Zan – RCA... 156

FIGURA 121 – Sanfoneiro Folgado – 1971 - RCA Camden – CALB 5348... 156

FIGURA 122 – Vai que é mole – 1971... 157

FIGURA 123 – Revivendo os sucessos de Mário Zan – 1972... 157

FIGURA 124 – Pula a Fogueira – 1973 – RCA Camden – LP 1070150... 158

FIGURA 125 – Rumo ao Sul com Mário Zan – 1974 – RCA Camden – LP 1060061... 158

FIGURA 126 – Choros e Chorinhos - 1977 - RCA CAMDEN - LP=107.0274... 159

FIGURA 127 – Mandando Brasa - 1978 - Beverly – AMCLP-5488... 159

FIGURA 128 – Somente Xote - 1981 - Chantecler - LP=2.11.405.426... 160

FIGURA 129 – As Preferidas - 1983 - Chantecler - LP=2.04.405.109... 160

FIGURA 130 – 40 anos de sucessos - 1985 - Chantecler - LP=2.04.405.179.. 161

FIGURA 131 – O Balão vai subindo - 1985 - Chantecler - LP=2.04.405.269.... 161

FIGURA 132 – Os grandes sucessos sertanejos em ritmos dançantes com Mário Zan - 1987 Chantecler - LP=2.04.405.252... 162

FIGURA 133 – Mário Zan, Bandinha e Coro – Festas Juninas – 1988... 162

FIGURA 134 – Quarto Centenário – Disco de Ouro – 1989 - LASER - LP=841.708-1... 163

FIGURA 135 – Os Grandes Sucessos Juninos – 1989 - Chantecler - LP=2.04.405.287... 163

FIGURA 136 – Os Grandes Sucessos – Volume 02... 164

(17)

FIGURA 137 – Homenagem à Mato Grosso – Brasidisco ZAN – BRCD 129... 164

FIGURA 138 – Mário Zan - Festa na Roça - Grandes Sucessos... 165

FIGURA 139 – Mário Zan, Bandinha e Coro Dançando a Quadrilha – Som Livre... 165

FIGURA 140 – Raizes Sertanejas – 1998... 166

FIGURA 141 – Mário Zan e seus Convidados – 1999... 166

FIGURA 142 – Mário Zan, 25 Sucessos – 1999... 167

FIGURA 143 – Mário Zan, 25 Sucessos – 2000... 167

FIGURA 144 – Luar do Sertão – 2000... 168

FIGURA 145 – Tradição Brasileira – O Melhor de Mário Zan – 2000 – Paulinas Comep... 168

FIGURA 146 – Bis Sertanejo – 2000... 169

FIGURA 147 – Dose Dupla – 2001 – Warner... 169

FIGURA 148 – Mário Zan e Alberto Calçada – Dose Dupla – 2001 – Warner Music-CD – 063014264... 170

FIGURA 149 – Mário Zan – As mais Lindas Valsas – 2001 – Warner Music - CD - 063014264 ... 170

FIGURA 150 – Alma Sertaneja – 2001... 171

FIGURA 151 – São Paulo 450 Anos – 2003 – Unimar... 171

FIGURA 152 – 25 Sucessos – Arrasta-Pé na Sanfona – 2003 Brasidisc Zan.. 172

FIGURA 153 – Mário Zan e seus Amigos – Sanfonas e Sanfoneiros - 25 Sucessos - Brasidisc Zan... 172

FIGURA 154 – Classe A – Quarto Centenário – 2004 – Unimar... 173

FIGURA 155 – Festa na Roça – 2004... 174

FIGURA 156 – O Sanfoneiro do Brasil... 174

FIGURA 157 – Sucessos de Mário Zan – Festas Juninas – Brasidisc Zan ... 175

FIGURA 158 – Mário Zan Apresenta Grandes Nomes... 175

FIGURA 159 – Mário Zan Seleção de Ouro – 20 Sucessos... 176

FIGURA 160 – Festas Juninas – 2005... 176

FIGURA 161 – Mário Zan 30 Anos – 2006 – Warner... 177

FIGURA 162 – Mário Zan - Nova Série – 2007 – Warner... 177

FIGURA 163 – Mário Zan – Super Sucessos - 2008 – VZ Multimídia... 178

FIGURA 164 – Mário Zan – 60 Anos de Gravação... 178

FIGURA 165 – 18 Super Sucessos Nacionais - Mário Zan... 179

FIGURA 166 – As Melhores de Mário Zan... 179

FIGURA 167 – Ensaio 2005... 180

(18)

FIGURA 168 – Festa Junina 2007... 180

FIGURA 169 – Só Sucessos... 180

FIGURA 170 – Encarte do CD autografado... 185

FIGURA 171 – Capa e contracapa do texto autoral... 185

(19)

SUMÁRIO

1 UM SANFONEIRO NO SUL DE MATO GROSSO...19

2 EU, MÁRIO ZAN E O MATO GROSSO DO SUL: UMA RELAÇÃO MARCADA POR CINCO DÉCADAS ...31

2.1 PARA ENTENDER O PROPÓSITO DO ‘EU’...32

2.2 MINHA HISTÓRIA...34

2.3 OS PRIMÓRDIOS DA MÚSICA SERTANEJA/CAIPIRA ...40

2.4 MÁRIO ZAN, UM POUCO DE SUA HISTÓRIA...44

2.5 MEANDROS DA HISTÓRIA...53

2.6 A OCUPAÇÃO (CONQUISTANDO O OESTE)...54

2.7 MÁRIO ZAN E A FRONTEIRA DO SUL DE MATO GROSSO...58

3 CONCEITUANDO A MÚSICA DA CULTURA LOCAL SUL-MATO- GROSSENSE...60

3.1 A MÚSICA DA CULTURA LOCAL: O QUE É?...61

3.2 SANFONAS, HARPAS, VIOLAS E VIOLÕES...70

3.3 UMA SANFONA QUE FEZ HISTÓRIA...88

4 MÁRIO ZAN: UM SANFONEIRO BRASILEIRO...100

4.1 MÁRIO ZAN: RECORTES DE UMA VIDA...100

4.1.1 A família...105

4.1.2 Os amigos...110

4.2 MÁRIO ZAN, UMA VIDA PRODUZINDO MÚSICA...118

4.2.1 Algumas capas de partituras...119

4.2.2 Músicas de autoria de Mário Zan...123

4.2.3 Discos de 78 rotações (RPM)...132

4.2.4 Discos Compactos Duplos de 45 rotações (RPM)...140

4.2.5 Long Plays (LPs)...144

4.2.6 Compact Discs (CDs)...164

4.2.7 Digital vídeo Discs (DVDs)...179

CONSIDERAÇÕES FINAIS...181

REFERÊNCIAS...186

ANEXOS...191

(20)

INTRODUÇÃO

UM SANFONEIRO NO SUL DE MATO GROSSO

O passado lembrado no presente se reveste de novos significados pelo acréscimo de reflexões e associações a fatos ocorridos posteriormente a ele e que, à época, não podiam se vislumbrados.

Evandro Higa

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1 UM SANFONEIRO NO SUL DE MATO GROSSO

Inicio estas linhas, nesta primeira seção, com a seguinte pergunta: Mário Zan e o sul do então Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, o que tem a ver um com o outro? É isso que pretendo descobrir no decorrer desta tese. De um lado, um exímio compositor e instrumentista e, de outro, uma faixa fronteiriça de terra, a oeste do Brasil, que pertenceu ao Paraguai, depois ao Mato Grosso e, hoje, a um estado da nação brasileira que, a partir de 11 de outubro de 1977, passou a ser denominado Mato Grosso do Sul.

Talvez o único pecado, aqui, seja o de ocupar um lugar de enunciação comum a muitos outros indivíduos ou grupos; ou pior, ocupá-lo, ou apropriar-me dele, ainda que seja de modo involuntário e inconsciente. Um lugar onde fui colocado, mas que também escolhi (ACHUGAR, 2005, p. 14).

Partindo da citação acima, quero esclarecer que falo e penso a partir de um local que já considero meu, por me sentir inserido, podendo até dizer, fazendo parte deste locus, hoje denominado Mato Grosso do Sul, o qual já pertenceu ao país vizinho, Paraguai. Um espaço geográfico e cultural que ‘carrega consigo’ guerras e desavenças; que recebeu e acolheu sujeitos, povos, relatos e histórias; gentes de todas as espécies: coronéis, bandidos, paraguaios, bolivianos, brasiguaios, jagunços, contrabandistas, andarilhos, artistas, políticos, estrangeiros, forasteiros, negros e índios. Uma porção de terra situada no oeste brasileiro e que recebeu de herança uma história vivida e vivenciada por esses inúmeros personagens que, na maioria das vezes, permaneceram no anonimato. Uma fronteira tênue, onde quase não se vê ou se percebe se estamos do lado de cá ou do lado de lá, e que prefiro chamar de espaço fronteiriço.

Na maioria dos dicionários de língua latina, fronteira é definida como a parte que separa um país do outro e, também, a parte limítrofe de um espaço em relação ao outro. Entendo, pois, a fronteira não como uma linha geográfica divisória e sim, como um espaço de união, de passagens, de trocas, de ir e vir, de intercomunicação, e também de interação. Estar de frente para novas terras, para outro terreno, outra área. Fronteira é toda região, ou melhor, todo entorno próximo, perto da divisa, do limite geográfico de algum estado ou país.

O Homem – com medo do outro, medo do desconhecido – cria obstáculos,

estabelece divisas, primeiramente utilizando-se das barreiras naturais, tais como os

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rios, morros e matas, para fixar os limites geográficos de uma determinada área.

Esses limites, quando barreiras naturais, dificultam o acesso, a comunicação, a livre passagem entre as pessoas que ali vivem, mas não as impedem.

Nas divisas sul-mato-grossenses – principalmente na fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia, cerca de 730 quilômetros (OTA, 2006, p. 10) – ocorre o surgimento de uma comunidade diferente, devido às trocas e infusões. Hábitos e costumes nesse lócus são reinventados, recriados, como é observado na citação a seguir:

No que respeita às comunidades coletivas e às identidades culturais, observamos que, com o passar do tempo, hábitos e costumes compartilhados pela população da fronteira sul-mato-grossense foram intensificados ou recriados. Isso se deu por meio de dinâmicas bastante singulares, estabelecidas de acordo com os interesses da comunidade local, e que nos possibilitaram retratar a fronteira como espaço de tensão, de negócios, de junção, de cisão (OTA, 2006, p. 12 e 13).

Nesse sentido, o espaço fronteiriço não obedece a perímetros, muito menos limites, principalmente em relação à cultura. Sua formação não é estática, ao contrário, é viva, dinâmica, transitória. A fronteira é, ao mesmo tempo, junção e choque de uma série de fatores que ocorrem no local e que o próprio espaço vai restabelecendo e moldando, por meio das relações humanas. Na maioria das vezes, se readaptando conforme as necessidades de cada um. O aparecimento de especificidades é visível, tornando o espaço fronteiriço fonte rica de estudos. Dessa forma, a música de fronteira capta a dinâmica e a ordem da própria fronteira, daí sua especificidade.

Pensando, então, nas várias fronteiras existentes em Mato Grosso do Sul,

prefiro chamá-lo de estado fronteiriço: São sete os seus vizinhos, sendo dois países,

Paraguai e a Bolívia, e outros cinco estados brasileiros, Paraná, São Paulo, Minas

Gerais, Goiás e Mato Grosso, conforme FIGURA 1, a seguir.

(23)

FIGURA 1 – Mapa geográfico de Mato Grosso do Sul.

Fonte:

Sítio eletrônico Só geografia

1

.

Dito isso, quero esclarecer que este texto será desenvolvido ora na primeira, ora na terceira pessoa, na tentativa de narrar histórias, como também acontecimentos vivenciados por mim, uma vez que, aos olhos da crítica biográfica, não parece possível desvencilhar o sujeito que sou do sujeito pesquisador.

Nesta pesquisa, alguns pontos serão relevantes para entendermos o lócus histórico, geográfico, político e cultural de Mato Grosso do Sul, desde sua ocupação, bem como o percurso musical do compositor e sanfoneiro Mário Zan, em sua passagem pelo Estado na década de 1940, na companhia de Nhô Pai

2

, Nhá Fia

3

e Capitão Furtado (Ariovaldo Pires)

4

. Em outras palavras, pretendo mostrar a música produzida após a passagem do artista, o resultado desse encontro e a influência que deixou para música local sul-mato-grossense, bem como a marca

1

Disponível em: <http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/Estados/MatoGrossoSul/>. Acesso em: 19/mar/

2014.

2

João Alves dos Santos, o Nhô Pai, nasceu em Paraguaçu Paulista - SP no dia 28 de março de 1912 e faleceu também na cidade na Paraguaçu Paulista, no dia 12 de março de 1988. O compositor de "Beijinho Doce" foi lançado por Ariovaldo Pires (o Capitão Furtado) e, como intérprete, formou duplas com seu compadre Nhô Fio, sua prima Nhá Fia e também com sua irmã Nhá Zefa. Também chegou a cantar juntamente com Tonico, da dupla Tonico e Tinoco. Disponível em:<http://www.boamusicaricardinho.com>. Acesso em: 05/mai/2014.

3

Cantora. Nascida em São Paulo, fez parte de um grupo de artistas da música caipira que incluía entre outros, Nhô Pai, Nhô Fio, Nhá Zefa, Raul Torres e Palmeira. Em 1947, gravou em dueto com Nhô Pai, pela Continental, a moda-de-viola "Burro satanás", de Nhô Pai e Sebastião Godoy, e a valsa "Choro sim", de Pedro Paraguaçu e Paulo Patrício. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br/nha-fia>. Acesso em:

05/mai/2014.

4

Cantor e Compositor era sobrinho de Cornélio Pires, o pioneiro nas gravações de discos caipiras. Seu pai possuía um sítio e uma olaria. Ainda criança mudou-se para Botucatu. Em 1926, resolveu mudar-se para São Paulo. Em 1927, conseguiu emprego como auxiliar de escritório na empresa Henrique Metzger. Em 1929, participou da inauguração da Rádio Cruzeiro do Sul encenando um quadro caipira, em substituição ao ator Sebastião Arruda, que não compareceu. Compôs com Marcelo Tupinambá a toada "Coração", que marcou sua estreia como letrista. Assumiu durante algum tempo o papel de caipira no programa "Cascatinha do Genaro", na Rádio Cruzeiro do Sul. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br/capitao-furtado>. Acesso em:

05/mai/2014.

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fronteiriça que o artista se apropriou e incorporou, tendo-a utilizado em inúmeras composições registradas por ele. Por meio de seus acordes, as belezas dessa terra foram cantadas e ouvidas em outros rincões. Um traçado imaginário do oeste brasileiro foi desenhado na cabeça de cada ouvinte das emissoras de rádios, na capital e no interior do estado de São Paulo. Eu, por ter sido um desses ouvintes, quero narrar a relação que tenho desde 1965, quando pela primeira vez ouvi falar de Mário Zan e de Mato Grosso.

Para tanto farei uso da cronologia histórica de Mário Zan, tendo como recorte a da década de 1940, quando o artista visita Mato Grosso e compõe as músicas Chalana e Seriema, que acabam se tornando referências na divulgação de Mato Grosso, para outros estados brasileiros, e também dos ritmos fronteiriços.

A tese teve início, com a pesquisa de campo, onde foram levantados dados históricos, documentação e material bibliográfico existente que fazia referência ao tema. Depoimentos e conversas informais de artistas e pessoas envolvidas com a cultura local foram bem vindos, uma vez que esse tipo de fonte é fundamental para detectar e entender toda a trama, ou seja, dados empíricos, restos de memórias, histórias arquivadas, esquecidas no tempo, que deram a sustentabilidade à pesquisa à qual me propus. Essas pessoas e artistas tiveram e ainda têm uma ligação afetiva com Mário Zan, algumas conheceram e conhecem o lugar em questão ou, ainda, são pessoas ligadas à música da cultura local de Mato Grosso do Sul.

Vários relatos e acontecimentos aqui registrados foram depoimentos do próprio Mário Zan. Nos conhecemos em novembro de 1996, em Campo Grande.

Ficamos dois dias juntos. Conversamos muito sobre sua vida, suas músicas, seus parceiros, sua carreira. Mário Zan tinha uma enorme gratidão por esse Estado. Dizia:

“as músicas que compus no Mato Grosso, foram abençoadas” – “foram músicas que deram certo, músicas bem aceitas pelo público, não só brasileiro como também fora do país.” E que “Chalana, por exemplo, foi gravada por mais de duzentos artistas diferentes, até no Japão”, dizia também, “esse estilo fronteiriço, meio rasqueado, eu gostei e fiz muita música, o Brasil inteiro ouviu”, (foi uma das marcas do Mário Zan).

Na verdade, falar sobre Mário Zan é mostrar um pouco da história da música

local sul-mato-grossense. Chego a afirmar que Mário Zan está “atravessado” pela

música da cultura local sul-mato-grossense e vice-versa. A produção de conheci-

mento sobre o compositor reforça a originalidade, mesmo porque se trata de um

personagem muito pouco falado, tampouco estudado, sequer visto na Academia, ou

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seja: inédito. A partir da originalidade e do ineditismo, que me motivaram a realizar esta pesquisa, junte-se a paixão nutrida, não só pelo artista Mário Zan e sua produ- ção musical, bem como pela música sertaneja, pela moda caipira, pela música feita e inspirada no povo mais simples das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Muito do que compõe este texto é parte de nossas conversas. É parte de mim. Entendo que ao falar de mim, em verdade, passo a falar e a narrar o outro. O outro que vivenciou e compartilha histórias e acontecimentos. Neste momento, tento puxar pela memória histórias arquivadas, esquecidas no tempo. Ao desarquivar minhas memórias, minhas histórias, busco reviver, recordar, trazer à tona fatos e acontecimentos que ajudam a tecer a trajetória que construiu o meu presente e que, neste momento, serve de reflexão para poder dialogar com parte de tudo o que pretendo expor nesta tese. Desarquivar essas memórias é estar preparado e pronto para não deixar a sociedade condenar o passado ao esquecimento.

Mariângela Zandomeneghi e sua mãe Aglaiz Lopes Moreira foram pessoas fundamentais nesta trajetória. Confiaram a mim, documentos, fotos, histórias e acontecimentos vivenciados por elas. Mariângela Zan, nome artístico da filha caçula do compositor, fez parte (como vocalista) por mais de dez anos do grupo musical do pai/artista. Atualmente, continua divulgando as músicas de Mário Zan, por meio de shows por todo o Brasil. Aglaiz – a amiga e companheira de estrada – muito conviveu com Mário Zan: foi sua esposa e produtora. Tanto Mariângela como Aglaiz demostraram um profundo respeito e uma enorme admiração pelo artista, pela pessoa “Mário Giovanni Zandomeneghi” (pai/esposo), um amor incondicional. Prova disso é a responsabilidade que Mariângela assumiu em zelar pelo túmulo não somente do pai, como também da Marquesa de Santos

5

, no Cemitério da Consolação em São Paulo. Mário Zan, quando vivo, ficou encantado ao conhecer a história da Marquesa, por meio de um livro que leu. Desde então passou a admirá-la pelos muitos préstimos que a mesma realizou às crianças desamparadas, pelos bens que deixou para seus escravos e a doação da terra para a construção do Cemitério da Consolação (FIG. 4), como também pela assistência que dava aos

5

Ela nasceu e morreu em São Paulo, apesar de ter protagonizado momentos no Rio, ao lado do imperador D.

Pedro I. Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867), a marquesa de Santos, amante do imperador, foi uma

personagem influente e polêmica, capaz de despertar admiração e ódio em doses intensas. Mais de 150 anos

após sua morte, sua presença ainda pode ser notada na capital paulista. Exemplos conhecidos são o Solar da

Marquesa – casarão perto do Pátio do Colégio, onde a marquesa viveu a partir de 1834 – e o Cemitério da

Consolação, onde está sepultada. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/edison-veiga/2013/06/06/livro-

revela-caminhos-da-marquesa-de-santos-em-sp>. Acesso em: 21/mai/2014

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pobres. Mário, após visitar o túmulo da Marquesa (FIG. 3), quando lá chegou, espantou-se com o estado da lápide, toda pichada e mal cuidada. Indignado, mandou limpar e reformou-a (preservando a estrutura original). Em seguida, comprou um túmulo (FIG. 2) em frente ao da Marquesa. Ambos são muito visitados, principalmente no período próximo ao dia de finados (dois de novembro).

FIGURA 2 - Túmulo de Mário Zan, no Cemitério da Consolação, em frente ao túmulo da Marquesa de Santos.

Fonte: Arquivo do autor

FIGURA 3 - Túmulo da Marquesa de Santos, no Cemitério da Consolação, em frente ao túmulo de Mário Zan.

Fonte: Sítio eletrônico Jornal O Estado de São Paulo

6

6

Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/Edison-veiga/2013/06/06livro-revela-caminhosda-marquesa-de-

santos-em-sp>. Acesso em: 21/mai/2014.

(27)

FIGURA 4 – Detalhe do frontal do túmulo da Marquesa de Santos Fonte: Sítio eletrônico Jornal o Estado de São Paulo

7

.

No inverno de 2006, Mário Zan fez vários shows em festas juninas e julinas na capital e interior paulista. Na ânsia de realizar seu sonho, de gravar um CD em homenagem a Mato Grosso, Mário Zan entra em estúdio para gravar. Durante as gravações, Mário passa mal e é internado no Hospital Central Sorocabana, na zona oeste de São Paulo, aos 86 anos, com insuficiência respiratória. Veio a falecer numa quarta-feira, na noite do dia 8 de novembro de 2006. Mário Zan foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo e no dia 9 de novembro, acompanhado por uma multidão de admiradores e fãs, foi sepultado no Cemitério da Consolação.

A relação entre Mário Zan e Mato Grosso me intriga e motiva a entendê-la, porque de um jeito ou de outro sempre estive envolvido nela. Há 35 anos, fui morar em Campo Grande, hoje capital de Mato Grosso do Sul. Talvez influenciado pelas músicas de Mário Zan, que ouvia quando criança e que falavam desse Estado. De certa forma, sempre estive envolvido com suas músicas e sua história. Hoje, escrevo parte de sua trajetória inserindo-o na Academia, como um porta-voz, ou melhor, Um Arauto da Música de Fronteira de Mato Grosso do Sul.

Para tanto, além de memórias e conversas informais, busquei apoio sobre o assunto em escassas bibliografias existentes sobre a música da cultura local sul- mato-grossense. De cunho acadêmico, muito pouco encontrei. Não sei se por desinteresse ou falta de oportunidade. Porém, talvez a Academia tenha aberto os olhos para assuntos como este, que pela singularidade especificam a cultura local.

7

Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/Edison-veiga/2013/06/06livro-revela-caminhosda-marquesa-de

santos-em-sp>. Acesso em: 21/mai/2014.

(28)

Acredito que a história, a cultura de um local são temas que devam ser pesquisados e estudados cada vez mais pela Academia. As relações existentes entre a arte e a cultura, mais especificamente a música, com o lócus em que elas se encontram são de fundamental importância para podermos entender a gênese das matrizes culturais desse lócus.

O livro POLCA PARAGUAIA, GUARÂNIA E CHAMAMÉ - Estudos sobre três gêneros musicais em Campo Grande-MS, do professor doutor Evandro Higa (2010), pesquisador e músico do curso de música da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, foi de grande valia para entender os processos culturais que, segundo o autor, vinculam a região de fronteira a uma identidade cultural associada à “alma guarani”, apoiando-se nos três ritmos que dão nome ao livro. Álvaro Neder, Professor e pesquisador na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UNIRIO) nas áreas de Etnomusicologia e Antropologia, escreveu o livro intitulado Enquanto este novo Trem atravessa o litoral Central – Música popular urbana, latino-americanismo e conflitos sobre a modernização em Mato Grosso do Sul, onde apresenta as relações entre música popular urbana e a sociedade de Mato Grosso do Sul, envolvendo uma série de discussões inerentes ao lócus em questão.

Além desses, outros autores que me proporcionaram conhecimentos e peculiaridades não só da música, como também dos músicos da cultura local sul- mato-grossense, foram os escritores José Octávio Guizzo (2012), com seu livro A moderna música popular urbana de Mato Grosso do Sul; a ativista cultural de Mato Grosso do Sul, professora Maria da Glória Sá Rosa (2009), juntamente com a professora Idara Negreiros Duncan Rodrigues, com o livro A Música de Mato Grosso do Sul – Histórias de Vidas. Finalmente, mas não menos importante, o jornalista, músico e escritor Rodrigo Teixeira (2012), com seu livro OS PIONEIROS – A Origem da Música Sertaneja de Mato Grosso do Sul. Os três últimos citados utilizaram-se de entrevistas com artistas para falar de suas vidas, suas histórias, suas influências e, principalmente, a trajetória e a diversidade musical de cada artista citado nos livros.

No entanto, o objetivo geral desta pesquisa é mostrar a importância da

passagem de Mário Zan pelo sul do então Mato Grosso, na década de 1940, tanto

para o Estado que o recebeu como para o artista que levou o Estado consigo

registrado em suas composições. Dessa forma, o material pesquisado e coletado foi

composto na forma de uma narrativa biográfica do (Ítalo-brasileiro Mário Giovanni

Zandomeneghi – 1920/2006) fazendo um recorte dessa trajetória artística,

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destacando algumas composições que fazem parte de sua produção musical, colocando-o como um emissário, um arauto da música de fronteira da cultura local, ou seja, aquele que teve a missão, o compromisso de levar a música do sul de Mato Grosso, para os grandes centros, por meio de gravações em discos e, também, para serem tocadas nas grandes emissoras de rádio da capital e interior de São Paulo e do Rio de Janeiro, e mostrando as influências que o artista incorporou desse local e imprimiu em suas composições, tornando-se um dos personagens principais da história da música sertaneja paulista e do sul-mato-grossense.

Este personagem, Mário Zan, no início da década de 1940, na rádio Bandeirantes em São Paulo, foi batizado por Walter Forster

8

que, apoiado na justificativa de que o sobrenome Zandomeneghi seria uma palavra de difícil entendimento e aceitação popular, convenceu o artista a adotar o nome artístico de Mário Zan. Desde então, foi assim que o compositor (e instrumentista) passou a ficar conhecido não só em todo o Brasil, como também em alguns outros países.

Busco, dessa forma, revelar a proximidade existente entre as composições de Mário Zan e a música de fronteira da cultura local, hoje sul-mato-grossense, porque a fronteira tão discutida por alguns estudiosos é marca visível na música local, encontrada também nas composições do artista. Entendo que dessa forma promovo a inserção não só da música de Mário Zan na Academia, mas de toda uma cultura fronteiriça, na maioria das vezes periférica, excluída e marginalizada pela própria cultura letrada e que agora passa a ser pensada e falada, a partir da Academia, na Academia.

Na segunda Seção, denominada Eu, Mário Zan, e o Mato Grosso do Sul:

uma relação marcada por cinco décadas, buscarei traçar um relato histórico- biográfico, a partir de minha trajetória de vida até chegar a Mário Zan. A partir de fatos e acontecimentos por mim vivenciados, busco desarquivar as memórias, que de algum modo me ligaram a Mário Zan. Para isso farei uso da critica biográfica, posta em prática por Eneida Maria de Souza (2007), no seu livro Tempo de pós- crítica. Espero, dessa forma, refazer e entender o meu próprio lugar. Lugar esse a partir do qual penso, falo e me inter-relaciono com a música de Mário Zan. Para isso, além do livro mencionado, sem o qual minha reflexão seria impossível, uma vez que

8 Wálter Gerhard Forster nasceu na cidade de Campinas, 23 de março de 1917 e faleceu na cidade de São

Paulo, 3 de setembro de 1996 - Foi ator de rádio, cinema, teatro e pioneiro da televisão brasileira. Disponível

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Forster>. Acesso em: 05/mai/2014,

(30)

tal crítica não vê problemas na relação sujeito (eu/analista) X objeto analisado.

Sendo assim, utilizar-me-ei como fonte primária de conversas informais que tive com Mário Zan em novembro de 1996, em Campo Grande; como também dos relatos e narrativas de Mariângela Zan e sua mãe Aglaiz, coletados no período de agosto de 2012 a setembro de 2013.

Ainda para falar de Mário Zan e sua trajetória artística estarei apoiado pela jornalista e escritora Rosa Nepomuceno (1999), no seu livro MÚSICA CAIPIRA: da roça ao rodeio, que muito bem desenha a trilha traçada pela maioria dos artistas sertanejos, desde o pioneiro Cornélio Pires aos ícones da feição pop adquirida pela música sertaneja, na era dos rodeios e dos picapes importadas, como cita o jornalista e crítico musical brasileiro Tárik de Souza, na orelha do livro de Rosa Nepomuceno. Outros autores como Cornélio Pires, Antônio Cândido, José Hamilton Ribeiro, Edvan Antunes me auxiliaram na composição histórica de minha narrativa.

Para finalizar a seção, me deterei um pouco na construção e na ocupação do lócus em questão, por meio de estudiosos como Nelson Werneck Sodré, Hildebrando Campestrini, Gilberto Luiz Alves, Valmir Batista Corrêa, entre outros.

Na terceira seção, intitulada Conceituando a música da cultura local sul-mato- grossense, poderei dialogar com os críticos, autores e estudiosos que deverão compor esta tese, ou seja, escritores que norteiam suas pesquisas vinculadas às noções de arte, cultura, na esteira teórica dos estudos culturais e da crítica biográfica, tais como: Eneida Maria de Souza, Edgar Cézar Nolasco, Cássio Eduardo Vianna Hissa, Nestor Garcia Canclini, Hugo Achugar, entre outros, que me deram suporte para melhor pensar o local fronteiriço sul-mato-grossense.

Ainda na terceira seção, mostrarei um vídeo documentário sobre Mário Zan e a música Chalana. Para finalizar a seção, darei destaque a alguns acontecimentos que compõem a trajetória do artista, como os quatrocentos anos da cidade de São Paulo, onde compôs o dobrado Quarto Centenário, em parceria com José Manoel Alves, vencendo o concurso municipal. Gravada em disco 78 rotações, em 1954, a música vendeu mais de um milhão de cópias, em apenas seis meses. O disco vendeu mais que o dobro de vitrolas que existiam no País. Diziam que as pessoas compravam de dois a três discos, porque o vinil era frágil e quebrava-se facilmente, e que também podiam ouvir horas e horas, pois quando furava, tinham outro.

Na quarta seção, intitulada Mário Zan: um sanfoneiro brasileiro, utilizarei

material fotográfico recebido de sua filha Mariângela Zan, com objetivo de ilustrar

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parte de sua trajetória artístico cultural, e também pesquisas na internet para reunir o máximo possível da sua produção artístico-cultural. Por fim, creio que Mário Zan deixou um legado merecedor de ser estudado na Academia.

Acredito que mostrar parte da produção artística de Mário Zan e a relação que existe entre essa produção e a construção identitária da música de Mato Grosso do Sul, por si só justifica seu estudo. Mário Zan não nasceu no Brasil e sim na Itália, conforme certidão de nascimento inédita que publico nesta tese, gentilmente cedida por Mariângela Zan. O fato de não ter nascido no Brasil torna-se relevante a partir do momento em que o artista/compositor consegue criar músicas, que retratam a variedade e a versatilidade dos ritmos nacionais e, ou, locais, explorando, descobrindo, criando e recriando matrizes rítmicas dos lugares por onde passou.

Uma sanfona que tem a marca do povo sertanejo, paulista, mineiro, sul-mato- grossense, fronteiriço, enfim, um sanfoneiro brasileiro.

Por fim, pretendo com esta pesquisa poder contribuir para o escasso acervo

bibliográfico sobre a música da cultura local de Mato Grosso do Sul. Espero que

num futuro bem próximo, mais pesquisadores e estudiosos, possam deixar

registrados seus estudos na Academia, ajudando a entender com maior clareza os

caminhos percorridos por essa arte tão singular e complexa e que gera tantas

discussões.

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EU, MÁRIO ZAN E O MATO GROSSO DO SUL:

UMA RELAÇÃO MARCADA POR CINCO DÉCADAS

Muitos dos lugares e das pessoas que aqui relembro

não existem mais, embora eu me espante

frequentemente com tanto que carrego deles dentro

de mim, muitas vezes em detalhes miúdos e

assombrosamente concretos. (Edward W. Said)

(33)

2 EU, MÁRIO ZAN E O MATO GROSSO DO SUL: UMA RELAÇÃO MARCADA POR CINCO DÉCADAS

Nas seções seguintes, apresentarei alguns tópicos que irão justificar tanto o uso da primeira pessoa do singular quanto minha história de vida em relação ao objeto ora apresentado.

2.1 PARA ENTENDER O PROPÓSITO DO ‘EU’

Diante da variedade de intérpretes da história do sujeito crítico, este texto da memória se constrói em cadeia, movimenta-se em espiral e se pluraliza em vozes e autorias diferentes. Funciona como peça no circuito intersubjetivo de transmissão de saberes; ao falar de si, é falado pelo outro, fazendo ressoar as vozes de uma geração que compartilhou das aventuras.

Cuidar de si, pelo exercício da escrita, processa o esvaziamento da interioridade, ao tornar público uma experiência socialmente legível. A escrita do eu refere-se ao nós do grupo, ao plural de uma época e a um determinado lugar histórico onde são produzidos os saberes e através do qual circulam as ideias. Jogos de linguagens que propiciam a troca de pronomes e de bens culturais entre os interlocutores, estabelecendo o vínculo social entre eles (SOUZA, 2006, p. 20).

Eneida Maria de Souza (2007), no seu livro Tempo de pós-crítica, nos mostra a importância e a necessidade da escrita do eu. Quero aqui, tomando por base o que discute Souza, descrever acontecimentos e passagens, que de algum modo ficaram guardadas, arquivadas em minha memória.

Visando somente mostrar, retratar fatos, lugares históricos, talvez um traço biocultural, para tentar entender a esteira a qual trilhei e que me trouxe de alguma forma até onde hoje estou. Refarei o trajeto textual do sujeito envolvido, a narrativa biográfica de um corpo disperso pelo tempo, como mostra a epígrafe abaixo.

Ao refazer o trajeto textual do sujeito-autor no discurso da crítica contemporânea, busca-se refletir igualmente sobre estatuto do discurso assinado por um determinado sujeito, que caminha ao lado das produções de seu tempo. Percebem-se, ao longo dos anos, as variações e derivas do olhar interpretativo, algumas vezes oblíquo e distante do objeto, outras próximo e entregue parcialmente à sedução do corpus escolhido.

Acompanha-se também o movimento de entrada e saída do gesto enunciativo – recuos, avanços e saltos (SOUZA, 2006, p. 20).

Silviano Santiago, na apresentação desse mesmo livro Tempo de pós-crítica,

de Eneida Maria Souza, escreve de uma forma que convoca o autor a falar de si,

sem grande cerimônia: “o relato da trajetória duma vida intelectual bem sucedida

sempre causa alvoroço no arraial dos sentimentos.” A leitura do relato desperta tanto

os sentimentos mais amorosos e sublimes, quanto os mais mesquinhos e vis, a que,

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por pudor, evito nomear. O registro dos sentimentos, mencionado por Santiago, alivia a relação e a condição na qual me encontro, uma vez que é preciso encarar a atmosfera sentimental que atravessa meu texto. Não quero ser piegas, nem exercer um sentimentalismo barato. Antes, procuro entender que os sentimentos, numa leitura pautada pela crítica biográfica, me servem como instrumentos para a reflexão crítica proposta.

Eneida Maria de Souza ainda diz: "este texto enlaça os fios de uma subjetividade em processo e em estilhaços, aos expor uma experiência pessoal e submetê-la a apreciação do outro" (SOUZA, 2007 p.18). Sem a pretensão do relato biográfico, entendo que o rigor da cientificidade promove um corte com a experiência do sujeito, o que proponho é a "constituição gradativa de um sujeito que se inscreve na escrita da memória" (SOUZA, 2007 p.18).

Para tanto, faz-se necessário trazer à tona histórias esquecidas e sujeitos anônimos, que jamais fizeram parte dos relatos oficiais e que, de forma específica, marcam aquilo que me propus a falar. Segundo Hugo Achugar, todo relato somente seria possível com base na seleção e no esquecimento, tendo a memória uma tarefa fixa que a vincula à tradição:

[...] No entanto, o acontecido nos últimos tempos não parece respaldar essa afirmação, essa distribuição de tarefas, segundo a qual a memória ficaria encarregada de preservar o relato oficial, ou hegemônico, baseando- se no “esquecimento” voluntário, ou involuntário, dos poderosos. Pelo contrário, a memória, para um amplo setor da sociedade contemporânea, teria a responsabilidade de resgatar os esquecimentos a que haviam sido submetidos indivíduos, obras e fatos históricos (ACHUGAR, 2006, 141).

Entendo que a memória ficou encarregada de preservar o relato oficial ou hegemônico, isto é, o que realmente interessava às classes dominantes, ao poder, esquecendo-se de narrar e registrar fatos, obras e sujeitos que poderiam tecer ou construir uma malha cultural da música local sul-mato-grossense, que mais pudesse retratar a realidade desse lócus. Pretendo, então, rebuscar a memória, revirar os arquivos, mobilizando os esquecimentos que, de alguma forma, reforçam uma visada eurocêntrica, pois evitam que histórias locais venham à tona.

Meu propósito, nessa seção, resume-se a, grosso modo, narrar a relação que

existe entre a minha pessoa (eu), Mário Zan e o Mato Grosso do Sul, com início nos

primeiros anos da década de 1960, portanto há cinquenta anos aproximadamente,

tendo por base a música, em especial as produções fonográficas do Sanfoneiro

Mario Zan, não somente no período em que esteve no então Mato Grosso, como

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também nos anos que se seguiram. Algumas músicas do compositor passaram a divulgar e, a partir de então, tornar conhecido esse estado fronteiriço e periférico.

Mario Zan não teve o reconhecimento merecido, mas é a partir desse esquecimento cultural especificamente, que pretendo levantar alguns pontos relevantes da história da música de fronteira do atual Mato Grosso do Sul.

2.2 MINHA HISTÓRIA

Acredito que nada acontece por acaso. Eu, com apenas cinco anos de idade, na cidade de Votuporanga, interior de São Paulo, ouvi falar pela primeira vez de Mato Grosso, escutando a música “Seriema de Mato Grosso”, que tocava nas emissoras de rádio: Oh! Seriema de Mato Grosso, seu canto triste me faz lembrar, daqueles tempos que eu viajava tenho saudade do seu cantar..., e perguntei para o meu pai o que era Seriema, o que era Mato Grosso? E ele, com toda simplicidade cabocla, me explicou: “Seriema, filho, é uma ave que vive na região do cerrado brasileiro e Mato Grosso viria ser o estado vizinho a oeste de São Paulo”.

Sou natural de Taquaritinga, cidade da mesorregião de Ribeirão Preto e da região central do estado de São Paulo. As primeiras ligações com Mário Zan aconteceram nesse período. Mário Zan chegou ao Brasil em 1924 (um ano depois que meu pai havia nascido), foi morar na Fazenda Santa Maria, de propriedade do Senhor Relíquias de Souza Guimarães, no município de Santa Adélia, que na época fazia parte da Comarca de Taquaritinga (essa região recebeu muitos imigrantes Italianos no período de 1885 a 1930. Meu avô veio de Malito, província de Cocenzo/Calábria-Itália, no ano de 1896). Dizia meu pai que quando moço (1940) já ouvia falar do sanfoneiro de Santa Adélia que estava em São Paulo, pois nessa época é que Mário Zan começou a tocar nas emissoras de rádio.

Venho de uma família de 12 irmãos. Sou o décimo filho do casal Anna e Adelino. Quando eu estava para completar três anos de idade meu pai mudou-se de Taquaritinga, com toda a família para outra cidade no noroeste paulista, Votuporanga. Isso aconteceu no ano de 1963, mais precisamente no dia 1 de abril.

Meu Pai, naquela época, estava para completar quarenta anos de idade. Era um

homem simples, forte, acostumado com a lida bruta do campo, criado na área rural

do município de Taquaritinga. Chegando a Votuporanga, ele juntamente com meus

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irmãos mais velhos, Toninho e Adelininho, ajudados pelas minhas irmãs Carmen e Adelina e também minha Mãe Anna, trabalhavam no cultivo de alho. Isso em dois terrenos na esquina da Rua Minas Gerais e Rua Pará.

Lembro muito bem, adorava ficar com eles o dia todo, pois brincava muito com a terra e também aprendia, no plantio e na colheita de alho. Ficava impressionado, observando a construção de enormes canteiros de terra. Não demorava muito para as primeiras plantinhas aparecerem, brotando da terra, aquelas pontinhas

‘verdinhas’ que tinham que receber água para se firmarem. Eram dois ou três meses, aguando e cuidando os canteiros, tirando os matinhos para não atrapalharem os chumaços ‘verdinhos’ de alho. Após a colheita, fazíamos as réstias e pendurávamos em varões.

Mais tarde é que fui entender que o produto daquele plantio de alho era para ser utilizado na fabricação de alimentos. Não demorou muito, meu pai montou um frigorífico de frios, trabalhávamos com matança de bovinos e suínos, utilizando o matadouro municipal de Votuporanga. Nos balcões dos açougues (eram três de nossa propriedade, um na matriz e outros dois na Rua Amazonas e Rua Ivaí), comercializávamos as carnes frescas com cortes especiais, como bifes, assados e carnes para churrascos. As carnes de cortes industriais eram utilizadas para a fabricação de embutidos: mortadela, salsicha, linguiças (suínos e bovinos, calabresa) e presuntos, como também a preparação e comercialização de charques e carnes soleadas, conforme FIGURA 5, a seguir.

FIGURA 5 - Minha mãe Anna, meu pai Adelino, meus irmãos Adelino e Toninho e funcionários da fábrica de frios em 1970.

Fonte: Arquivo do autor.

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Apesar da correria de trabalho, gostávamos de ouvir músicas. Isso acontecia geralmente à noite, depois do jantar e finais de semana, quando nos reuníamos com meu pai na varanda de nossa casa. Ali, passamos momentos inesquecíveis ouvindo músicas e mais músicas, que eram reproduzidas em uma vitrolinha vermelha da marca SEMP, que mecanicamente rodava os discos de vinil de vários artistas, incluindo o sanfoneiro Mário Zan, que era o ídolo do meu pai. Além de ouvirmos, minha mãe nos ensinava a cantar e dançar. A música Elétrico (FIG. 6 e 7), faixa 3, lado B, do disco OS GRANDES SUCESSOS DE MÁRIO ZAN, editado em 1968, pela MusiColor – alta fidelidade (LPK-20.079), foi a primeira música que dancei.

Essa música chama minha atenção até hoje, primeiramente pelo ritmo acelerado, frenético e alegre, que além de possibilitar ao sujeito, artista ou não, criações coreográficas diversas e até mesmo engraçadas, requer muita destreza e habilidade do acordeonista (sanfoneiro). A música torna impossível para o ouvinte ficar sentado na cadeira ou banco, daí o ritmo (marcha) ter sido apelido de “limpa-banco” e, também, de “feijão queimado”, pois segundo a tradição oral do interior paulista, quando começava a tocar a música no rádio, as mulheres (cozinheiras), saiam a dançar, esquecendo o feijão no fogo. Quando a música acabava era tarde demais...

O feijão já havia queimado. A agilidade e destreza que Mário Zan tinha nas mãos

(tanto na direita-teclado, como na esquerda-baixo) eram impressionantes. O

acordeonista conseguia produzir sons de notas musicais com extrema rapidez e

criatividade. Talvez seja essa uma das interpretações do artista que o consagrou

como “o maior sanfoneiro do Brasil”.

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FIGURA 6 – Frente do LP Os Grandes Sucessos de Mário Zan Fonte: Acervo de Adelino Ferrari

FIGURA 7 – Verso do LP, Lado B, faixa 3: a música Elétrico

Fonte: Acervo de Adelino Ferrari

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Um detalhe curioso que percebi nessa música (Elétrico) foi a sua gravação, interpretada e gravada por Luiz Gonzaga, com o título Mexe-mexe. Suponho que ela tenha sido composta pelos dois (Zan e Gonzaga), no período que se conheceram e juntos trabalharam no Rio de Janeiro. Cada qual batizou com um nome a música gravada. As interpretações são distintas, oportunidade para que cada um mostrasse e divulgasse seu estilo musical.

Retomando minhas origens e o elo que me aproxima de Mário Zan, surge a figura de meu pai, filho de imigrantes Italianos que chegaram ao Brasil no final do século XVIII, no ano de 1896. Foram morar em Taquaritinga, interior de São Paulo e próximo (trinta quilômetros) a Santa Adélia (local para onde a família de Mário Zan foi morar quando chegou da Itália). O gosto pela música de Mário Zan foi herança de meu pai, com toda a certeza. E isso justifica e esclarece muitas coisas. Quando eu tinha apenas cinco anos de idade, meu pai me presenteou com uma sanfona de oito baixos. Com dez anos ingressei no conservatório musical, para aprender a tocar sanfona. Aos vinte anos fui para Mato Grosso do Sul, isso no final dos anos setenta, e soube que Mário Zan também estivera no Estado (Mato Grosso), no início da década de 1940.

Em 1981, ingressei no curso de Educação Artística da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Dentre as várias atividades artísticas que o curso oferecia, comecei a me envolver com teatro e música. Participei da criação do Grupo de Teatro da UFMS, em seguida da criação de um grupo de resgate das músicas e danças da cultura local de Mato Grosso do Sul, o Projeto Sarandi Pantaneiro

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, no qual era responsável pelas adaptações e interpretações das músicas recolhidas.

Naquele momento, me reencontro com a música de Mário Zan, pois ela está presente nos ritmos e no imaginário coletivo do povo fronteiriço, do povo pantaneiro, do sul-mato-grossense enfim. Tal presença se mostra tão forte a ponto de poder balizar o traçado rítmico e melódico da música sul-mato-grossense. Nos mais de um mil e quinhentos shows que realizamos com o Grupo Sarandi Pantaneiro, as músicas de Mário Zan sempre eram tocadas e cantadas. Suas músicas, principalmente Chalana e Seriema, são canções obrigatórias no repertório de shows por todo o Brasil. Talvez influenciados por esse resgate das músicas e ritmos que

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Projeto que deu origem ao Grupo Sarandi Pantaneiro, no ano de 1991 como projeto de extensão da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que através de seus espetáculos representa a música e a dança

da cultura local de Mato Grosso do Sul.

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