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ATRIBUTOS AFETIVOS E COGNITIVOS, IDENTIFICADOS NOS MILITARES DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS DA MINUSTAH, CAPAZES DE FAVORECER AS FUTURAS OPERAÇÕES DE PAZ

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Rio de Janeiro 2018

Cel Inf FUÉDE FERES JUNIOR

ATRIBUTOS AFETIVOS E COGNITIVOS, IDENTIFICADOS NOS MILITARES DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS DA MINUSTAH, CAPAZES DE FAVORECER AS

FUTURAS OPERAÇÕES DE PAZ

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

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ATRIBUTOS AFETIVOS E COGNITIVOS, IDENTIFICADOS NOS MILITARES DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS DA MINUSTAH, CAPAZES DE FAVORECER AS

FUTURAS OPERAÇÕES DE PAZ

Orientador: Cel Eng José Ramalho Vaz de Britto Neto

RIO DE JANEIRO-RJ 2018

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado Maior do Exército como parte do Curso de Política Estratégia e Alta Administração do Exército.

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F349a

Féres Junior, Fuéde

Atributos afetivos e cognitivos, identificados nos militares da seção de assuntos civis da MINUSTAH, capazes de favorecer as futuras operações de paz / Fuéde Feres Junior . 一2018.

71f.: il;30 cm.

Orientação: Cel Eng José Ramalho Vaz de Britto Neto.

Trabalho de Conclusão de Curso ( Especialização em Política e Estratégia e Alta Administração do Exército) 一Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2018.

Bibliografia: f 68- 71

1.INTRODUÇÃO. 2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 3.A SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS.

4.PROJETOS DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS. 5.CONCLUSÃO. I. Título.

CDD 355.032

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ATRIBUTOS AFETIVOS E COGNITIVOS, IDENTIFICADOS NOS MILITARES DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS DA MINUSTAH, CAPAZES DE FAVORECER AS

FUTURAS OPERAÇÕES DE PAZ

Aprovado em 25 de outubro de 2018.

COMISSÃO AVALIADORA

___________________________________________________

JOSÉ RAMALHO VAZ BRITTO NETO – Cel Inf – Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________

JOSÉ FERNANDO CHAGAS MADEIRA – Cel Com – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________

MAXWELL NORBIM CALVI – TC QMB – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

RIO DE JANEIRO-RJ 2018

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado Maior do Exército como parte do Curso de Política Estratégia e Alta Administração do Exército.

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A todos que tiveram como lema: “Tudo pela paz”.

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Agradeço a Deus por me proporcionar saúde e força para me manter firme na busca de meus propósitos.

Ao meu orientador, Cel Eng Ramalho, pelas oportunas e constantes orientações que me possibilitaram melhor nortear esse trabalho, sobretudo, me espelhando no exemplo de sua dedicação e amor ao trabalho que realiza junto aos seus orientandos.

Ao Exército Brasileiro, a minha gratidão por ter completado a formação do meu caráter, fornecido constante Educação e ter me possibilitado adquirir significativa experiência de vida, ao exercer as mais diversas funções e freqüentar cursos, em diferentes partes do nosso país- continente e, até mesmo, além de suas fronteiras.

À Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME), o meu agradecimento pela oportunidade ímpar de frequentar o curso de mais alto nível do Exército dessa secular instituição de ensino militar.

A minha família, minha esposa Imaculada e minha filha Vitória, que sempre me possibilitaram tranquilidade nas minhas decisões, acompanhando-me em todas as circunstâncias com verdadeiramente espíritos abnegados e de sacrifício. Amo muito vocês.

Ao Cientro de Adestramiento e Entreinamiento Conjunto de Paz, Buenos Aires – Argentina, pelos ensinamentos que obtive por meio do Curso de Proteção de Civis (Protection of Civilian), ministrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Oficiais Superiores dos Exércitos Americanos que são especializados na área de Comunicação Social, no qual aprendi a importância da proteção as crianças, aos idosos e as mulheres em nações que estão em conflitos de toda e qualquer espécie, o que implementei durante a minha missão, sobretudo, na valorização do gênero feminino.

Aos meus companheiros da Seção de Assuntos Civis do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT 2), pela incansável vontade de fazer tudo da melhor maneira possível. Assim como os integrantes do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz, décimo sexto contingente a representar os irmãos brasileiros na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti, que tiveram o privilégio de serem escolhidos pela Instituição para cumprir tão nobre missão. Nesse mesmo teatro de operações que fomos vitoriosos, dezenove irmãos de farda, em 12 de janeiro

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Hoje o Haiti é um país melhor. Os dezenove militares do nosso Glorioso Exército Brasileiro colaboraram, substancialmente, para que esse nível fosse alcançado. Aqui registro as nossas sinceras e profundas homenagens.

Finalmente, o meu muito obrigado aos integrantes da 31ª Turma do Curso de Política e Estratégia e Alta Administração do Exército da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – Escola Marechal Castelo Branco pela amizade e companheirismo, compartilhados no período de um ano de profícuos trabalhos e intenso convívio na Escola do Método.

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Trata-se de uma pesquisa que traz a vivência deste autor experimentada enquanto ator que se encontrava em um recorte temporal no Haiti, numa missão real da Organização das Nações Unidas (ONU). Tem como objeto de estudo os trabalhos atinentes aos oficiais e Subtenentes/Sargentos do Exército Brasileiro designados para missões de paz e responsáveis por chefiar e coordenar as atividades da Seção de Assuntos Civis do Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti. Seus objetivos foram analisar os Atributos Afetivos e Cognitivos que os Oficiais e Subtenentes /Sargentos do Exército Brasileiros precisam deter para participarem das Missões de Paz da Organização das Nações Unidas; verificar as atribuições dos integrantes da Seção de Assuntos Civis na Missão das Nações Unidas no Haiti. Por meio das experiências e normas da Organização, buscou-se apresentar os principais conhecimentos e fontes de busca, das habilidades e das atitudes que podem determinar o sucesso desses militares quando designados para integrar as Forças de Paz da ONU. Para tanto, tomou-se como perspectiva os livros, relatórios, textos, a minha experiência, além de trabalhos que materializaram as experiências de profissionais militares e civis, nacionais e estrangeiros, que viveram, direta ou indiretamente, o dia-a-dia de uma Força de Paz. Como resultado desta pesquisa, procuramos agregar competências e conhecimentos aos recursos humanos, sobretudo aos Oficiais e Subtentes/Sargentos do Exército Brasileiro, para o desempenho de funções no contexto das Missões de Paz modernas.

Palavras-chave: Atributos Afetivos e Cognitivos; Seção de Assuntos Civis; Missões de Paz;

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Se trata de una investigación que trae la vivencia de este autor experimentada como actor que se encontraba en un recorte temporal en Haití, en una misión real de la Organización de las Naciones Unidas (ONU). Tiene como objeto de estudio los trabajos relativos a los oficiales y Subtenentes / Sargentos del Ejército Brasileño designados para misiones de paz y responsables por encabezar y coordinar las actividades de la Sección de Asuntos Civiles del Batallón de Infantería de Fuerza de Paz en Haití. Sus objetivos fueron analizar los Atributos Afectivos y Cognitivos que los Oficiales y Subtenientes / Sargentos del Ejército Brasileños necesitan detenerse para participar en las Misiones de Paz de las Naciones Unidas; verificar las atribuciones de los integrantes de la Sección de Asuntos Civiles en la Misión de las Naciones Unidas en Haití. Por medio de las experiencias y normas de la Organización, se buscó presentar los principales conocimientos y fuentes de búsqueda, de las habilidades y de las actitudes que pueden determinar el éxito de esos militares cuando designados para integrar las Fuerzas de Paz de la ONU. Para ello, se tomaron como perspectiva los libros, informes, textos, mi experiencia, además de trabajos que materializaron las experiencias de profesionales militares y civiles, nacionales y extranjeros, que vivieron, directa o indirectamente, el día a día de la vida una fuerza de paz. Como resultado de esta investigación, buscamos agregar competencias y conocimientos a los recursos humanos, sobre todo a los Oficiales y Subtenientes / Sargentos del Ejército Brasileño, para el desempeño de funciones en el contexto de las Misiones de Paz modernas.

Palabras clave: Atributos Afectivos y Cognitivos; Sección de Asuntos Civiles; Misiones de Paz;

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Figura 1. Algumas Missões em Execução e Encerradas... 25

Figura 2. Participação brasileira em Missões de Paz... 26

Figura 3. Participação do Exército Brasileiro na Ajuda Humanitária ao Haiti... 28

Figura 4. Exército Brasileiro atividade de Segurança no Palácio Nacional no Haiti...29

Figura 5. Página Inicial do Site do CCOPAB... 30

Figura 6. Página inicial do Peacekeeping ... 32

Figura 7. Comandante do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz no comando de sua tropa frente a uma Manifestação no Haiti... 33

Figura 8. Trabalho do CEP na preparação do BRABAT 2... 34

Figura 9. Reunião com ONGs coordenadas pelo Chefe da Seção de Assuntos Civis BRABAT 2 ...35

Figura 10. Distribuição de água ... 37

Figura 11. Curso no CAECOPAZ- Argentina e Seminário no Haiti ... 41

Figura 12. Página Inicial do Portal de Ensino EB... 42

Figura 13. Localização da Seção de Assuntos Civis... 44

Figura 14. Apresentação de projeto e reunião no escritório Civil Affairs... 48

Figura 15. Instalação do comando geral da MINUSTAH e o Force Comander... 51

Figura 16. Instrução aos professores e atendimento odontológico para as Crianças... 54

Figura 17. Feira da Paz e comitê de haitianos... 55

Figura 18. Frente de uma casa antes e depois do projeto... 57

Figura 19. Entrega de água potável em instituições de ensino no Haiti... 58

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Figura 21. Alunos da Escola de Futebol... 60 Figura 22. Atendimento odontológico... 62 Figura 23. Distribuição de filtros dágua... 63 Figura 24. Cozinheiras haitianas durante o curso e comercializando

os seus produtos... 64

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BI F Paz HAITI Batalhões de Infantaria de Força de Paz

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BRABATT Brazilian Battalion

BRAENGCOY Brazilian Engineering Company

CAECOPAZ Centro Argentino de Entrenamiento Conjunto para Operaciones de Paz CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CARICOM Comunidade do Caribe

CCOPAB Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil CEA Conferência dos Exércitos Americanos

Cia E F Paz HAITI

Companhia de Engenharia de Força de Paz

CICV Comitê Internacional da Cruz Vermelha CIFP Country Indicator for Foreign Policy CIOPaz Centro de Instrução de Operações de Paz CIVPOL Polícia Civil Internacional

COTer Comando de Operações Terrestres

CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas DPKO Department of Peace Keeping Operations

EB Exército Brasileiro

ECEME Escola de Estado-Maior do Exército

EME Estado-Maior do Exército

END Estratégia Nacional de Defesa

ESG Escola Superior de Guerra

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FAB Força Aérea Brasileira

FGV Fundação Getúlio Vargas

FMI Fundo Monetário Internacional

G1 Seção de Pessoal do BRABATT 2

G2 Seção de Inteligência do BRABATT 2

G3 Seção de Operações do BRABATT 2

G9 Seção de Assuntos Civis do BRABATT 2

MD

MARMINCA

Ministério da Defesa

Missão de Assistência para a Remoção de Minas na América Central MINUSTAH

MINUSCA

Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti

United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central Afri Republic

MRE Ministério de Relações Exteriores

MSC Mission Support Center

MSF Médicos Sem Fronteiras

OCHA Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

OEA Organização dos Estados Americanos

OMC Organização Mundial do Comércio

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização não-governamental

ONU Organização das Nações Unidas

ONUC Opération des Nations Unies au Congo

ONUMOZ Operação das Nações Unidas em Moçambique

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PDN Política de Defesa Nacional PEB Política Externa Brasileira

PKO Peace Keeping Operations

PNH Polícia Nacional do Haiti

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPAE Países Pobres Altamente Endividados

PR Presidência da República

QIP Quick Impact Project

RENAMO Resistência Nacional Moçambicana

RUF Revolutionary United Front of Sierra Leone SELA Sistema Econômico Latinoamericano y Del Caribe

SG Secretário Geral (da ONU)

SRSG UNSCOB

Special Representative of the Secretary General

Comissão Especial das Nações Unidas na Região dos Bálcãs

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1. INTRODUÇÃO...15

1.1 Tema...18

1.2 O Problema...18

1.3 Objetivos...19

1.4 Justificativas da Pesquisa...20

1.5 Metodologia...22

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...24

2.1 O Novo Contexto das Operações de Paz...24

2.2 O Que são Atributos ?...25

2.3 A Participação do Brasil em Missão de Paz...28

2.4 Os Parâmetros para os Conhecimentos e Atributos...30

2.5 Atributos Importantes nas Missões de Paz...32

2.6 O Centro de estudos de Pessoal nas Missões de Paz...33

2.7 A Proficiência no Idioma Estrangeiro , a Realização de Cursos/Seminários...40

2.8 Portal de Educação do Exército...42

3. A SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS...44

3.1 A Estrutura e Organização do Civil Military Coordenation(CIMIC)...45

3.2 O Comando do Componente Militar...51

4. PROJETOS DA SEÇÃO DE ASSUNTOS CIVIS...53

4.1 Projeto de Interação Escolar...53

4.2 Projeto Feira da Paz...54

4.3 Projeto Quarteirão Limpo...56

4.4 Projeto Água Potável...57

4.5 Projeto Postes de Luz de Energia Solar...58

4.6 Projeto Escola de Futebol...60

4.7 Projeto Waff Jeremi Sorridente...61

4.8 Projeto Wave for Waters...62

4.9 Projeto Valorização do Gênero Feminino...63

5. CONCLUSÃO...65

REFERÊNCIAS...68

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1. INTRODUÇÃO

O Conselho de Segurança das Nações Unidas e, ainda, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), de acordo com a Carta de sua criação, são os responsáveis por desencadear as Operações de Paz, bem como os procedimentos necessários para o alcance de seus objetivos.

A criação da Organização das Nações Unidas deu-se em 24 de outubro de 1945. Seu surgimento teve como principal objetivo, como entidade de direito público internacional, dentre outros: o da manutenção da paz e da segurança internacional. Em que pese não aparecer explicitamente na carta inaugural da Organização, as Operações de Paz figuram como o mecanismo mais importante na consecução desses propósitos (MELO NETO & COSTA, 2009, p.

33).

Desde os primórdios das Operações de Paz, as características dessas atividades vêm sofrendo contínuas modificações. No início, apresentavam-se como tarefas principais: a manutenção de cessar-fogo e a estabilização da situação no terreno.

Essas medidas, geralmente, dependiam prioritariamente de atuações de cunho político, as quais visavam diminuir os conflitos por meio de ações pacíficas. Essas missões, chamadas tradicionais, realizavam-se por meio de observadores civis, policiais e militares, além de tropas militares levemente armadas, que eram responsáveis por monitorar e gerar relatórios de atividades no terreno.

Entretanto, com o fim da Guerra-Fria, conflitos internos passaram a acontecer em várias partes do mundo, uma vez que as diferenças étnicas, religiosas e políticas, outrora secundadas pelo iminente conflito entre as superpotências nucleares, emergiram nos Bálcãs, na África, na Ásia e em territórios da ex-União Soviética, tendo como resultado a divisão e a unificação de regiões por parte das potências hegemônicas principais, que influenciavam e respaldavam logisticamente e ideologicamente os diferentes atores beligerantes.

Essa nova configuração exigiu uma mudança significativa na maneira de conduzir as Operações de Paz das Nações Unidas, que deixaram a perspectiva estritamente militar para adotar um caráter multidisciplinar, multidimensional e de interoperabilidade.

Isto posto, o auxílio à reconstrução das instituições locais, de estruturas colapsadas (terremoto no Haiti), o monitoramento dos direitos humanos, a reforma do sistema de persecução criminal, o desarmamento e a desmobilização de combatentes, o monitoramento e reestruturação das forças militares locais, a observação do

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cumprimento dos acordos de paz, dentre outras frentes, passaram a ocupar a ordem do dia.

Para enfrentar esse novo cenário de desafios, tornou-se imprescindível a atuação de efetivos altamente qualificados, passando a contar com especialistas em diversas áreas, além da militar, como economia, perícia criminal, desminagem, comunicação social e direito internacional. Isso acabou exigindo o desenvolvimento de atributos afetivos e cognitivos.

O mundo hoje, na avaliação de Dominique de Moisi (2009), especialista em pensamento geoestratégico, vive sob a égide da geopolítica das emoções.

O ano de 1948 marcou o início da participação do Brasil nas Operações de Paz dos organismos internacionais, ao enviar dois militares para a Comissão Especial das Nações Unidas na Região dos Bálcãs, que atuou na Grécia de 1947 a 1951. A partir de então, o País participou de vinte e seis missões de paz ou de natureza civil sob o comando da Organização das Nações Unidas (ONU) ou de missões sob a égide da Organização dos Estados Americanos (OEA). Nestas missões, o Brasil participou de contingentes integrados como: observadores militares, policiais, peritos eleitorais, especialistas em saúde ou com tropas armadas, como em Suez, na República Dominicana, Moçambique, Angola e Timor Leste (AGUILLAR, 2005).

Essas participações internacionais têm acontecido por mais de cinquenta anos e contribuíram para projetar o Brasil, no espaço destes organismos, como um País atuante em benefício da paz, de acordo com nossa política externa, da Estratégia Nacional de Defesa e dos preceitos da Constituição Federal.

A ONU possui em sua organização um Departamento de Operações de Manutenção da Paz (Department of Peacekeeping Operations – DPKO) que é o responsável pelo gerenciamento, orientação, formulação de políticas e procedimentos relativos às operações de paz. Além disso, é o responsável pelo provimento de pessoal e material, pelo desenvolvimento de metodologias e planos operacionais, planejamentos emergenciais, controle dos fundos orçamentários, apoio administrativo e logístico, ligação com os Estados membros e as demais agências da ONU, manutenção do contato com as partes envolvidas no conflito e a preparação dos relatórios do Secretário Geral relativos às operações (MELO NETO & COSTA, 2009, p. 12).

O DPKO é constituído pelo Escritório do Subsecretário Geral para as Operações de Paz, por um Conselheiro Militar, uma Unidade de Política e Análise, um Centro de Situação, um Escritório Executivo, um Escritório de Operações (composto por três

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divisões: África/Ásia, Oriente Médio/Europa e América Latina) e por um Escritório de Planejamento e Apoio. Este último engloba: Divisão de Planejamento, Serviço de Planejamento de Missão, Unidade de Polícia Civil, Unidade de Desminagem, Unidade de Apoio Médico, Unidade de Adestramento, Divisão de Logística e Administração de Campanha, Serviço de Apoio ao Gerenciamento Financeiro e Serviço de Gerenciamento de Pessoal de Apoio (MELO NETO & COSTA, 2009).

Na tentativa do estabelecimento e da manutenção da Paz no mundo, a ONU faz uso de vários instrumentos de acordo com o tipo de conflito que se apresenta.

A Manutenção da Paz consiste no emprego de militares, policiais e civis para auxiliar na implementação de acordos de cessação das hostilidades. É realizado com o consentimento das partes envolvidas no conflito e pauta pela imparcialidade de suas ações. As Forças Internacionais utilizam-se da força apenas para sua autodefesa (MELO NETO & COSTA, 2009).

Neste contexto, o Brasil, por intermédio do Exército Brasileiro, tem participado ativamente nos empreendimentos pela manutenção da paz dos organismos internacionais. Das 55 ( cinquenta e cinco) missões desenvolvidas pela ONU, o Brasil esteve presente em 26 delas.

O País teve papel fundamental no processo de paz do Equador-Peru e praticamente arcou com os maiores custos da missão de paz estabelecida naquela região.

Nesses 61anos de presença nas forças internacionais de paz o País enviou para o exterior mais de 12 mil homens, com apenas 17 acidentes fatais, o que atesta o grau de adestramento dos militares envolvidos (AGUILLAR, 2005).

A participação efetiva das empreitadas pela paz traz ensinamentos nas mais diversas áreas e competências que vão desde a criação de uma doutrina militar genuinamente brasileira de emprego em Força Internacional de Paz (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil – CCOPAB - www.ciopaz.ensino.eb.br), passando pelo adestramento nas áreas de pessoal, de operações e de logística, pela maior integração entre as Forças Armadas e pelo contato com pessoal e com os materiais de outros exércitos. A participação em operações de manutenção da paz de organismos internacionais colaborou e colabora para a projeção do poder nacional no cenário

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internacional; permite o reconhecimento internacional quanto ao nível profissional dos militares brasileiros, reforçando o fator dissuasório e atua como apoio da política externa quanto à solução pacífica de conflitos e ao desarmamento, além de fortalecer os laços de confiança com os países aliados.

A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) foi criada, em 30 de abril de 2004, pela Resolução de 1.542 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, substituindo a Força Multinacional Interina, criada pela Resolução 1.529. A quarta Operação de Paz da ONU para o Haiti, no entanto, contou com um elemento inédito: O Brasil, que nunca havia participado de uma operação de paz no Haiti. (VALLER FILHO, 2007, pp. 16, 17). A missão foi encerrada em 2017, deixando uma imagem extremamente positiva seja perante aquele país caribenho, seja perante a própria organização internacional.

A ajuda humanitária prestada por nossas tropas, como em Angola, Moçambique e, sobretudo ante a catástrofe no Haiti, contribuiu para manter duradouros laços de amizade e de fraternidade que gerarão frutos no futuro.

1.1 Tema

O presente trabalho teve como tema inicial: “O trabalho desenvolvido no Haiti pela Seção de Assuntos Civis que favorecerão futuras Missões de Paz”. De acordo com as necessidades de ajustes levantados durante a pesquisa, modificou-se o tema para:

“Atributos Afetivos e Cognitivos, identificados nos militares da Seção de Assuntos Civis da MINUSTAH, capazes de favorecer as futuras operações de paz”.

1.2 O Problema

Problema, segundo Oliveira (2000, p. 106), é:

um fato ou fenômeno que ainda não possui resposta ou explicações. Trata-se de uma questão ainda sem solução e que é objeto de discussão, em qualquer área de domínio do conhecimento. A sua solução, resposta ou explicação só será possível por meio da pesquisa ou da comprovação dos fatos, que, no caso da ciência, antecede a hipótese. O problema delimita a pesquisa e facilita a investigação.

A imagem de um país no cenário internacional é muito importante. Ela pode auxiliar ou dificultar sua economia, atraindo ou afastando investidores, evitando

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bloqueios e sanções comerciais, permitindo a tomada de empréstimos e favorecendo as negociações na Organização Mundial de Comércio (OMC). Além disso, dá credibilidade nas negociações políticas, ao se resolver questões diplomáticas, problemas de fronteiras e outros.

Parte da percepção de que a qualidade do nosso contingente, sobretudo os Oficiais que participam das tomadas de decisões e assessoramento de alto-nível nos Estados-Maiores de Forças Internacionais, está inserida na qualidade dos atributos afetivos e cognitivos que, aliada aos treinamentos e conhecimentos adquiridos em nível nacional e internacional, podem auxiliar na manutenção do sucesso brasileiro nesse tipo de atividade.

Em face disso, a formulação do problema, objeto sobre o qual gravita este trabalho, é a atuação dos membros da Seção de Assuntos Civis na Missão das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

A participação do Brasil na Missão das Nações Unidas no Haiti, por intermédio do Exército Brasileiro, em especial pela equipe da Seção de Assuntos Civis, favoreceu positivamente a imagem do Brasil para o cumprimento de vindouras missões? Ao responder essa pergunta, este trabalho encontra o seguinte objetivo geral conforme a seguir descrito:

Analisar se os atributos afetivos e cognitivos, identificados nos militares da Seção de Assuntos Civis da MINUSTAH, são capazes de favorecer a consecução de futuras Operações de Paz.

1.3.2 Objetivos Específicos

Com o propósito de favorecer a consecução do objetivo geral deste trabalho foram formulados alguns objetivos específicos a serem atingidos, que permitirão o encadeamento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo, os quais são os seguintes:

a. Apresentar os documentos e instituições que favorecem o desempenho das respectivas ações;

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b. Analisar a participação da Seção de Assuntos Civis na consecução de sua atividade fim, entendendo as especificidades de cada ação;

c. Identificar os projetos desenvolvidos pela Seção de Assuntos Civis que deram oportunidades de desenvolver os atributos afetivos e cognitivos, servindo de base, modus operandi, para possíveis ações nesse viés em missões vindouras.

1.4 Justificativas da Pesquisa

A importância da abordagem do assunto é justificada, cada vez mais, pelo elevado universo de profissionais militares, que recebem a missão de participarem como observadores ou como membros de staff da ONU em Missões de Paz e, em face de alguns meses de preparação intensiva, são transladados para outro país com cultura diversificada, outra língua e com a tarefa de levar a paz e o equilíbrio a uma nação diversa da sua de origem. Sobretudo, pela dinâmica da mutação e da adaptação das competências (qualidades, atributos e comportamentos) dessas atividades, que mexem com as emoções de povos.

Como foco deste tema está o estudo da nobre e árdua tarefa da Seção de Assuntos Civis do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti. A sua missão foi a de planejar, executar, controlar e coordenar todas as fases de diversos projetos que foram realizados nesse país caribenho em prol da sua população. Seus propósitos estão focados na educação, na saúde, na segurança e acima de tudo no bem- estar social dos haitianos.

Assim, elegeu-se como objeto de estudo os trabalhos atinentes aos Oficiais do Exército Brasileiro designados para missões de paz e responsáveis por chefiar e coordenar as atividades da Seção de Assuntos Civis do Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti.

Emergem como questões norteadoras desta pesquisa os seguintes questionamentos:

1) Quais são os conhecimentos específicos que os Oficiais e Graduados brasileiros precisam deter para participarem das Missões de Paz da Organização das Nações Unidas?

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2) Quais são os atributos afetivos e cognitivos adicionais úteis, que podem ser somados ao cabedal de conhecimentos desses profissionais militares que partem com a missão de chefiar a Seção de Assuntos Civis na MINUSTAH?

Frente ao exposto, a justificativa desse trabalho é a de identificar os atributos cognitivos e afetivos específicos que os Oficiais brasileiros precisam deter para participarem nas Missões de Paz da Organização das Nações Unidas.

No decorrer do trabalho, serão desenvolvidos os seguintes assuntos: uma breve análise acerca da experiência vivida de alguns profissionais militares, transcritas em livros de suas autorias. Além disso, serão analisados, também, alguns dos trabalhos executados no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil – CCOPAB e trabalhos e livros de alguns Oficiais estrangeiros que, conjuntamente, atuaram e atuam em Forças de Paz junto à Oficiais brasileiros. Ademais, serão pesquisadas publicações nas quais ficaram evidenciadas, face à dinâmica da evolução das atividades executadas, a importância de conhecimentos e de competências adicionais ligadas, por exemplo, à adaptabilidade, à persistência, à decisão, ao equilíbrio emocional, ao domínio do idioma estrangeiro, à comunicação, ao trabalho em equipe, dentre outras.

Somado a todo esse levantamento teórico de competências necessárias, apresentar-se-á a experiência deste autor na condução de uma Seção de Assuntos Civis incluída dentro do contexto da MINUSTAH. Essa participação justifica o interesse em abordar e explanar os acontecimentos vividos em solo haitiano, onde se encontrava este pesquisador na confecção do trabalho em tela. Dessa forma, a pesquisa é relevante e espera-se que seja de grande valia, tendo em vista a modernidade da tarefa que é realizada por essa célula de ligação entre o componente militar da ONU e o componente civil. A importância do assunto está diretamente relacionada com o que há de mais atual na concepção da Guerra Moderna. Nesse viés, há a nova visão, defendida pelos mais renomados centros e escolas de formação militar do mundo, de que os combates de hoje devem estar calcados em três pilares: comunicação social, operações psicológicas e inteligência (informações).

Evidentemente, neste estudo, não se pretende esgotar o tema escolhido. A expectativa é a de que o presente trabalho se preste a incentivar a importância de se estar, sempre, evoluindo nos atributos afetivos e cognitivos, em particular, no tema em

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tela. O mundo dinâmico atual exige resiliência e rapidez, e, sobretudo, um eficaz planejamento estratégico para enfrentar cenários cada vez mais inconstantes.

Por fim, a participação do Brasil nas Missões Internacionais de Paz é um eficiente instrumento da política externa brasileira para a maior inserção do País no centro do poder decisório do sistema internacional. A eficiência desse princípio das Relações Internacionais consubstanciado no Art. 4º da Constituição Federal reside na qualidade e na eficiência dos atributos de cada um dos talentos humanos envolvidos.

1.5 Metodologia

A fim de coletar conhecimentos e contribuições científicas sobre o assunto, foi realizado um estudo bibliográfico de natureza qualitativa pelo método exploratório a respeito dos seguintes assuntos: Competências exigidas pela Organização das Nações Unidas no atual cenário do século XXI; lições aprendidas por profissionais militares e civis, nacionais e estrangeiros, em Missões de Paz sob a égide da ONU e quais as fontes de conhecimentos adicionais, para a preparação dos nossos militares designados para missões no exterior.

1.5.1 Delimitação da Pesquisa

Com o propósito de melhor compreender o tema, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e em sítios da Rede Mundial de computadores (Internet), que teve como alvo as Missões de Paz, as competências e os conhecimentos necessários aos militares brasileiros para, cada vez melhor, cumprirem as suas missões, bem como as conversas com companheiros de farda nacionais e de nações amigas (norte-americana e paraguaia) os quais, de forma específica, relataram as suas experiências.

Além de todo o arcabouço teórico, fruto de pesquisas mencionadas no parágrafo anterior, foi também colocado nesse trabalho a experiência do autor, o qual vivenciou a frente da Chefia da Seção de Assuntos Civis do Batalhão de Infantaria Brasileiro de Força de Paz no Haiti, propósito primordial desse trabalho. Essa atividade possibilitou ao autor desenvolver ações específicas de Ajuda Humanitária e de Reconstrução, dois escopos da Organização das Nações Unidas para missões de Manutenção da Paz.

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Macedo (1996) afirma que a pesquisa bibliográfica é aquela que busca e seleciona documentos que se relacionam com objeto da pesquisa (livros, artigos de revistas, trabalhos de congressos, dissertações, teses etc) além de fazer um fichamento das referências para utilizá-las posteriormente no relatório final da pesquisa monográfica.

A pesquisa de caráter exploratório, na avaliação de Gil (1996) vai objetivar a aproximação com o problema ou objeto de estudo, procurando torná-lo mais explícito.

Ou seja, as pesquisas exploratórias farão o aprimoramento de ideias.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de motivos, significados, crenças, aspirações, valores e atitudes, correspondendo, assim a um espaço mais profundo das relações dos processos que não podem ser restringidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1995).

O estudo qualitativo tem seu desenvolvimento realizado numa situação natural, sendo rico em dados descritivos, tendo um plano aberto flexível e focalizando a realidade de forma complexa e contextualizada (LUDKE e ANDRÉ, 1998).

Os pesquisadores, ao trabalharem com pesquisas qualitativas, têm ampla liberdade teórico-metodológica para realizar seu estudo, devendo, todavia, respeitar a coerência da estrutura, sua consistência, originalidade e as condições de objetivação, elementos

“capazes de merecer a aprovação dos cientistas” (TRIVINOS, 1987, p.133).

1.5.2 Limitações do Método

Na elaboração deste trabalho foi empregado o caminho metodológico sugerido por Leopardi (2002), seguindo as seguintes fases: escolha do assunto e sua delimitação, formulação do problema, planejamento do estudo, levantamento bibliográfico, execução da pesquisa bibliográfica (leitura), análise dos dados e redação final. Corroborando ainda mais com todo esse processo sistêmico, a experiência vivenciada por este autor, muito favoreceu o resultado textual desse trabalho, por meio da riquezas de detalhes e da meticulosa transmissão de dados, as quais foram parte integrante das ações executadas.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O Novo Contexto das Operações de Paz

Antes do atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América (EUA), a ONU já expressava sua preocupação com o fracasso de suas missões de paz e nomeou uma comissão chefiada por Lakhdar Brahimi, ex-embaixador da Argélia, para que fizesse um relatório sobre as causas da ineficácia de tais missões e com propostas para a sua solução. Como produto desse trabalho, surgiu o “relatório Brahimi”, no qual uma nova concepção das operações de paz foi estabelecida (UNITED NATIONS COMPETENCIES FOR THE FUTURE, 1999).

Além disso, os atentados do 11 de setembro de 2001 mostraram ao mundo a existência de um novo “ator” no cenário mundial: o terrorismo, em que as vítimas, na maioria dos atentados, eram inocentes. Não se configura, atualmente, a ação criminosa somente a um líder (Rei ou Presidente), pois os “alvos” são as pessoas, as quais desconhecem o porquê das agressões que sofrem.

Assim sendo, cabem os seguintes questionamentos: quais são os motivos das agressões e dos atentados terroristas? São desencadeados por motivos étnicos?

(Tutsis e Hutus – genocídio em Ruanda, 1995); por questões religiosas? pelo narcotráfico? por diferenças culturais? pela assimetria econômica?

Com todas essas mudanças acontecidas no cenário mundial, no qual, o Brasil encontra-se inserido, a ONU promoveu mudanças na sua forma de agir e elencar novas competências para seus integrantes com a finalidade de enfrentar os desafios do futuro, a fim de convertê-la em uma organização mais confiável e eficaz, com maior capacidade de assegurar e consolidar a paz onde for necessário (UNITED NATIONS COMPETENCIES FOR THE FUTURE, 1999).

“Minha expectativa é de que os atributos nos propiciarão uma linguagem comum para falar, em termos concretos, acerca de alta performance e excelência gerencial. Acredito que esta visão compartilhada desses padrões que estamos buscando alcançar apoiará nossos contínuos esforços, de modo a preparar a organização (ONU), para enfrentar os desafios do século XXI”

(KOFFI ANNAN – Ex- Secretário-Geral da ONU, 1997-2007.)

As bem-sucedidas experiências, a participação do Brasil em Missões de Paz e o futuro dessas participações direcionam para um processo participativo, envolvendo o capital humano (militar e civil), para definir e desenvolver atributos e conhecimentos.

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Ou seja, trata-se de um processo dinâmico adequado ao cenário atual de mudanças constantes.

Figura 1 – Algumas Missões em Execução e Encerradas

Fonte: Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), 2010.

2.2 O Que são atributos?

O termo atributo refere-se a uma combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes, diretamente relacionados ao desempenho bem-sucedido no trabalho ou na tarefa a realizar.

A Organização das Nações Unidas desenvolveu tais atributos, por meio de um processo participativo e de lições aprendidas, levando-se em conta a diversidade de níveis, funções, culturas e posições geográficas das Missões de Paz (UNITED NATIONS COMPETENCIES FOR THE FUTURE, 1999).

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Figura 2 - Participação brasileira em Missões de Paz

Fonte: Palestra na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), 2010.

São competências primordiais da ONU, segundo o Cientro Argentino de Entreinamiento Conjunto de Operaciones de Paz (CAECOPAZ), localizado em Buenos Aires:

1) Atributos Cognitivos

Os atributos cognitivos são os conhecimentos necessários à vida, uma gama de habilidades e competências. Eles são o conjunto dos processos mentais usados com o pensamento na classificação, no reconhecimento e na compreensão para o julgamento por meio do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e para as soluções de problemas.

Os atributos cognitivos são assim discriminados:

a) Planejamento: capacidade que permite determinar uma sequência de atividades, de modo coerente e integrado, para alcançar determinados objetivos;

b) Resolução de Problemas: capacidade que permite realizar tarefas cuja execução não dispõe de um caminho rápido e direto, exigindo que o discente utilize procedimentos do ensaio e erro, com o intuito de responder a uma pergunta, remover um obstáculo ou elaborar um produto, para alcançar um determinado objetivo;

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c) Criatividade: consiste num conjunto de capacidades cognitivas, morais e de atitudes, que servem para gerar ideias e práticas novas em um contexto determinado;

d) Expressão Verbal: consiste em exprimir significados por meio da fala ou da escrita, em conformidade com as regras do sistema linguístico;

e) Raciocínio: capacidade que permite elaborar conclusões a partir de princípios e dados da realidade.

2) Atributos Afetivos

Os atributos afetivos exploram o lado afetivo do militar e tem por finalidade a valorização das qualidades morais do homem (militar) e o estímulo ao autoconhecimento. Eles estão ligados às Relações Humanas e constituem um campo vastíssimo, talvez até ilimitado, pela grandiosidade a que se propõe.

Os atributos afetivos são assim discriminados:

a) Espírito de Corpo: sentimento de identificação com os valores e tradições da organização e/ou do grupo, gerando interações positivas de apoio mútuo, que se prolongam no tempo;

b) Adaptabilidade: capacidade de se ajustar apropriadamente às mudanças de situações;

c) Cooperação: capacidade de contribuir espontaneamente para o trabalho de alguém e/ou equipe;

d) Decisão: capacidade de optar pela alternativa mais adequada, em tempo útil e com convicção;

e) Equilíbrio Emocional: capacidade de controlar as próprias reações para continuar a agir, apropriadamente, nas diferentes situações;

f) Iniciativa: capacidade para agir, de forma adequada e oportuna, sem depender de ordem ou de decisão superior;

g) Organização: capacidade de desenvolver atividades de forma sistemática e eficiente;

h) Responsabilidade: capacidade de cumprir suas atribuições, assumindo e enfrentando as consequências de suas atitudes e decisões;

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i) Tolerância: capacidade de respeitar e conviver com ideias, atitudes e comportamentos diferentes dos seus;

j) Camaradagem: capacidade de estabelecer relações amistosas com superiores, pares e subordinados;

Figura 3 – Participação do Exército Brasileiro na Ajuda Humanitária ao HAITI Fonte: Seção de Assuntos Civis BRABAT 2 - 2012

2.3 A Participação do Brasil em Missões de Paz

É fundamental salientar que o Brasil é um dos mais tradicionais contribuintes de efetivos militares para missões de manutenção da paz das Nações Unidas, o que decorre de sua condição de Estado-membro fundador da Organização e de sua vocação de defesa da paz e da solução pacífica dos conflitos, princípios importantíssimos para o País (Art. 4º da Constituição Federal, 1988) (BRASIL, 1988).

Além disso, o Brasil também cedeu centenas de observadores militares, policiais e pessoal de Estado-Maior para diferentes missões, bem como observadores eleitorais que supervisionaram eleições em cinco missões da ONU, de 1992 a 1994. Soma-se a isso, o fato do governo brasileiro ceder, sem custos para as Nações Unidas, oito

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oficiais das diferentes forças singulares para atuarem no Department of Peacekeeping Operations (DPKO), em Nova York-Estados Unidos da América.

Isto posto, verifica-se que o Brasil participa e tem poder decisório no staff dos altos escalões da ONU. Além disso, registra-se também o excelente relacionamento entre a área diplomática e as Forças Armadas. Esse relacionamento contribuiu de modo significativo para o gerenciamento de alto nível das atividades do pessoal militar empregado nas missões de paz.

Figura 4 – Exército Brasileiro em Atividade de Segurança do Palácio Nacional Fonte: Seção de Assuntos Civis BRABAT 2 – 2012

Ressalta-se que, em todas as oportunidades que se apresentaram, os nossos efetivos militares, em particular, do Exército Brasileiro (EB), demonstraram o seu excelente grau de capacitação técnico-profissional com desempenho destacado em nível internacional. Isto fez com que fosse incorporada uma rica experiência militar, que tem se constituído num fator de fundamental importância para o incremento dos seus índices de motivação e de profissionalismo. Tudo inserido num contexto que ratifica a efetividade do emprego da expressão militar como um instrumento da política externa brasileira. Daí a responsabilidade da preparação individual dos quadros militares.

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2.4. Os Parâmetros para os Conhecimentos e Atributos

A aquisição de atributos não acontece rapidamente. Somente o treinamento, a experiência, as lições aprendidas e o estudo individual podem preparar adequadamente o capital humano, no caso dos Oficiais brasileiros que compõem os Estados-Maiores como assessores de alto-nível nas Missões de Paz. A par disso, existem “caminhos” e “fontes” que podem ser utilizadas e que podem fornecer um aporte de expertises que, a par dos treinamentos militares adquiridos, seja nas Escolas Militares e Unidades Operacionais, seja nos Centros de Treinamento, vão agregar valor e dar maior segurança aos militares brasileiros que integrarem Missões de Paz. A seguir, estão expostos os “caminhos” e as “fontes” a que este tópico se refere:

2.4.1. Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB)

Figura 5 – Página inicial do Site do CCOPAB

Fonte: Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), 2011.

Inicialmente, quando os primeiros contingentes de tropa brasileira foram desdobrados para o emprego em missões fora do País, coube aos próprios militares a sua preparação. Posteriormente, a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército ficou encarregada de planejar esses treinamentos e adestramentos. Em 2001, foi criado, na Divisão de Missão de Paz do Comando de Operações Terrestre (COTER), o Centro de

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Preparação e Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (CEPAEB), com a missão de orientar o preparo de todos os militares brasileiros designados para integrarem Missões de Paz (BRASIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, 2001).

Mais tarde, em 4 de outubro de 2005, ocasião na qual discursou o Conselheiro Militar da Missão Permanente do Brasil junto à ONU, em Nova Iorque, aprofundou-se a questão da necessidade de cada Estado-membro possuir um Centro de Treinamento de Missões de Paz e, fruto disso, foi criado pelo Comandante do Exército, em 23 de fevereiro de 2005, o Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOpPaz), localizado na Vila Militar do Rio de Janeiro –RJ (BRASIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, 2001).

Em 15 de junho de 2010, o CIOpPaz passou a denominar-se Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), o qual tem a missão de preparar militares e civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em missões de paz (BRASIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, 2001).

Esse sítio possui informações, instruções, lições aprendidas, manuais, fotografias, cursos à distância e endereços eletrônicos de sítios internacionais, além de informações adicionais, que contribuem para um excelente preparo individual para Missões de Paz.

2.4.1.1 Department of Peacekeeping Operations (DPKO)

O sítio a seguir, que pode ser acessado do endereço eletrônico do CCOPAB, contém informações nacionais e internacionais sobre todas as missões externas que aconteceram e estão acontecendo no mundo. Além disso, fornece importantes conhecimentos e cursos gratuitos à distância, que vão contribuir, também, para uma preparação de excelência dos militares brasileiros que integram o staff (assessores de alto-nível) ou dos contingentes de tropa em Missões de Paz.

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Figura 6 – Página Inicial do PEACEKEEPING

Fonte: Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), 2011.

2.4.1.2 Safa-onça, manual prático e dicionário

O Safa-Onça era o nome dado ao manual de bolso distribuído aos soldados brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma valiosa ferramenta que encontra-se disponível em “pdf”, no sítio eletrônico do CCOPAB: www.ccopab.eb.mil.br (BRASIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, 2002).

2.5 Atributos Importantes nas Missões de Paz

O medo é comum nesse tipo de operação. É normal que o subordinado espere que seu comandante direto seja capaz de controlar esse sentimento e que continue desempenhando com eficiência sua missão (BRASIL, EXÉRCITO BRASILEIRO, 1991).

A coragem é, dentre os valores centrais, o menos fomentado e, todavia, é o mais crítico (COUTINHO, 1997).

Em contrapartida, o comandante que, diante de situações de grande perigo ou de desconforto, perder o equilíbrio emocional, não saberá controlar as próprias reações e acabará por tomar atitudes inadequadas. Lorenz (2005), corrobora isso quando interroga: “se os líderes não puderem controlar-se, como poderão controlar os outros?

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Eles precisam ter autodisciplina. Jamais, jamais mesmo, devem perder a calma”(LORENZ, 2006).

A camaradagem, além de estabelecer uma relação amistosa dentro do grupo, inclui a compreensão e o diálogo, procedimentos que ajudam os militares a encontrarem soluções para certos problemas (BRASIL, 1991).

A indecisão e a falta de confiança, no comandante, em um confronto com rebeldes armados, por exemplo, poderá provocar a perda de vidas.

Figura 7 – Comandante do 2º Batalhão de Força de Paz no comando de sua tropa frente a uma manifestação no Haiti

Fonte: Seção de Assuntos Civis do BRABAT 2 – 2012

2.6 O Centro de Estudos de Pessoal – CEP - nas Missões de Paz – Uma Abordagem Psicossocial por Silva (2007).

O Teatro de Operações (TO) de paz da ONU difere em muitos aspectos da frente militar clássica. As tarefas dos militares em missão de paz são frequentemente diferentes daquelas que eles aprenderam durante o seu treinamento militar básico.

Essas atividades ou tarefas guardam semelhança com as dos policiais e têm colocado o militar em missão de paz nos papéis de negociador, mediador de conflito, observador, ouvinte, coletor de informações e de trabalhador humanitário e social (JESULIC, 2004). O militar em missão de paz precisa ser capaz de negociar em condições inesperadas e intrincadas, algumas vezes com pouca experiência, sendo

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que os resultados deste processo podem trazer consequências negativas para a vida das pessoas envolvidas, para a missão, para a ONU e para o país de origem. Fazem- se, então, necessárias as habilidades de comunicação e de negociação.

Figura 8 – Trabalho do CEP na preparação do 2º Batalhão de Força de Paz antes de embarcar para o Haiti

Fonte: Seção de Assuntos Civis do BRABAT 2 – 2012

O militar em missão de paz individual, como observador militar, deve estar preparado para aceitar numerosas tarefas representativas e organizacionais e mostrar- se responsável no desempenho de seus deveres. Suas tarefas incluem: aquelas de natureza puramente militar; e as que exigem habilidades de negociação e mediação de conflito, apoiando a ONU e as Organizações Humanitárias Internacionais Não- Governamentais (por exemplo, Médicos Sem Fronteiras).

As tarefas geralmente são executadas sob condições de vida difíceis, em níveis elevados de estresse e, frequentemente, num idioma que não é a sua língua materna.

O observador deve ser cuidadosamente selecionado e preparado para que seja capaz de executar as tarefas requeridas e para que suas ações se reflitam favoravelmente sobre a população local, sobre a ONU e sobre o seu país de origem. Tão importante quanto a resistência física é a resiliência psicológica. O observador deve apresentar um caráter sólido, uma personalidade equilibrada e boa saúde mental. Ele deve estar livre

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de neuroses e de outros problemas psicológicos e é imperativo que saiba operar em condições extremas de estresse e de perigo físico (UNITED NATIONS, 2001). Em diversas circunstâncias suas ações e palavras farão a diferença entre o sucesso e o fracasso da missão de paz. Portanto, ele deve ser escrupulosamente honesto, leal e profissional. Assim, o treinamento ou preparação psicossocial precisa envolver a aprendizagem de estratégias e habilidades.

Figura 9 – Reunião com ONGs coordenada pelo Chefe da Seção de Assuntos Civis do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz

Fonte: Seção de Assuntos Civis do BRABAT 2 – 2012

Recentemente, os observadores brasileiros começaram a receber instruções para praticar a técnica de respiração profunda e o relaxamento muscular a fim de reduzir sensações ou emoções desagradáveis ligadas ao estresse, favorecendo um estado de humor sereno (importante para a busca de soluções e tomadas de decisão), melhor qualidade de vida (menos desgaste de energia, melhor sono, por exemplo). A avaliação dos efeitos dessas técnicas durante a missão, o desenvolvimento e a avaliação de um programa de manejo de estresse específico para o observador fazem-se necessários.

Foi realizado um estudo piloto com 14 observadores militares que foram designados para missões da ONU e da Organização dos Tratados da América do Norte, na fase pré-missão, durante o seu estágio preparatório no COTER. Com relação aos maiores desafios da missão, o mais citado (por 50% da amostra) foi o choque

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cultural, fenômeno que ocorre com as pessoas retiradas de seu ambiente nacional e étnico e inseridas em outro ambiente nacional e culturalmente diverso, no qual reagem com desorientação e desconforto (por exemplo, isolamento social e ansiedade). A expressão descreve o estresse experimentado ao tomar-se contato com uma cultura diferente, ou ao reencontrar-se com a própria cultura, após uma prolongada ausência (DICIONÁRIO DE NEUROCIÊNCIAS, CCOPAB,BRASIL, 2007).

Em seguida, foram mencionados como desafios: a negociação/mediação de conflito (42,86%); o domínio eficiente do idioma estrangeiro (28,57%); o enfrentamento do risco de ferimento/morte (18,29%). Os menos citados (7,14%) foram: lidar com a carência afetiva, realizar patrulhas de longo alcance e superar as dificuldades de acomodação e alimentação (CCOPAB, BRASIL, 2007).

Quando se perguntou aos participantes quais eram suas preocupações em relação à missão, a mais frequentemente manifestada (50% dos participantes) envolveu a distância da família; seguida, em ordem decrescente, pela preocupação com a saúde (42,86%: risco de doenças e transtornos físicos e psicológicos, manutenção da saúde e bem-estar); a comunicação no idioma estrangeiro da missão (35,71%), a preparação para a missão (21,43%: estar bem preparado); o risco de morte (14,29%); instalações e condições de trabalho no país da missão (14,29%) (CCOPAB, BRASIL, 2007).

O exposto acima confirma as recomendações da ONU (baseadas em mais de 50 anos de experiência e estudo) acerca da necessidade de um programa de manejo de estresse para os observadores e da importância de oferecer condições para a aprendizagem individual e grupal na área de negociação e manejo de conflito (UNITED NATIONS, 2001 & 2002).

A ONU também prescreve que a tropa de paz e os militares em missão individual apresentem-se física e psicologicamente resistentes. Os militares componentes da tropa de paz, de acordo com os atributos afetivos do EB, devem apresentar: equilíbrio emocional, autoconfiança, flexibilidade, objetividade, camaradagem, cooperação, comunicabilidade e liderança, entre outros.

Em várias missões de paz a população local vive sob condições miseráveis e violentas, o que pode despertar sentimentos negativos e desagradáveis no militar,

Referências

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