Prof.: José Rubens de Andrade
2º Semestre/2012
Termo icterícia provem do grego ikteros
Utilizado desde a época de Hipócrates para designar a coloração amarelada da pele e das mucosas, causada pela deposição do
pigmento biliar
Aparência amarelada da esclerótica, da pele e
das mucosas devido ao aumento da
concentração sérica de
bilirrubina nos tecidos
Esclerótica e mucosa jugal são os locais onde a icterícia é detectada mais facilmente
Deve ser distinguida de outras causas de pigmentação amarela como:
◦ Carotenemia
◦ Uso de quinacrina
◦ Exposição excessiva a fenóis
Se muito pronunciada ou de longa duração, a pele toma uma
coloração esverdeada pela oxidação
da bilirrubina em biliverdina
1- Formação
2- Transporte plasmático 3- Captação hepática e
transporte intracelular 4- Conjugação
5- Excreção
Hemoglobina
Heme
Ferro livre
Transferrina
Núcleos pirrólicos
Biliverdina
Bilirrubina livre
Bilirrubina conjugada Globina
Glicuroniltransferase
Produto de degradação do heme (protoporfirina IX e ferro)
Produção de bilirrubina 250-300 mg/dia
•80% destruição de eritrócitos senis
•15% destruição de células eritroides imaturas
•1-5% turnover das hemoproteinas
(mioglobina, citocromos)
A bilirrubina deriva 80% do metabolismo da porção heme da
hemoglobina, sendo os demais 20% derivados de degradação de hemácias imaturas e do metabolismo de outras hemoproteínas, como a mioglobina, citocromos, catalase, etc.
A hemoglobina de eritrócitos senescentes destruídos no S.R.E, principalmente no baço, decompõe-se em globina e heme
(complexo protoporfirina IX e ferro)
O ferro é reaproveitado e a protoporfirina IX é transformada em biliverdina e posteriormente em bilirrubina não-conjugada
Para ser transportada no plasma, sendo insolúvel em água, a bilirrubina não-conjugada ou indireta liga-se à albumina
Por este motivo, em situações normais, a bilirrubina não-conjugada
não é excretada pelos rins
No fígado, a bilirrubina é conjugada, tornando-se molécula solúvel em água
Excretada na bile, parte da bilirrubina é
metabolizada no intestino e eliminada nas fezes na forma de estercobilinogênio, que dá cor às fezes e parte é reabsorvida na circulação êntero-hepática sendo excretada pelos rins na forma de
urobilinogênio
Nas colestases, quando há interrupção do fluxo de bile para o intestino e acúmulo de bilirrubina
conjugada no sangue, as fezes tornam-se claras
(hipo ou acolia fecal) e a urina fica pigmentada
(colúria)
A bile é um líquido que tem em dissolução três elementos diferentes:
◦ Pigmentos biliares: bilirrubina e seus derivados (bilirrubina, biliprazina, bilifulvina e urobilina)
◦ Sais biliares: glicocolato e taurocolato de sódio
(A presença deles no intestino processa a emulsão e a absorção de gorduras)
◦ Colesterina: substâncias lipoides
Hiperbilirrubinemia: concentração sérica da bilirrubina superior a 1,11 mg/dl
A icterícia, porém, é clinicamente detectável apenas quando a concentração sérica de
bilirrubina ultrapassa 2,34 mg/dl
Normal
Hiperbilirrubinemia
0,3 mg/dl
1,0 mg/dl
2,25 mg/dl
Icterícia
Valor variável
1- Hiperbilirrubinemia não conjugada
Hemólise
Eritropoese ineficaz
Captação hepática diminuída
Conjugação diminuída
2- Hiperbilirrubinemia conjugada
Doença hepática
Obstrução dos ductos biliares
1- Hemólise
a) Anemia hemolítica autoimune b) Transfusões maciças de sangue c) Defeitos na membrana
eritrocitária (esferocitose)
d) Defeitos enzimáticos (deficiência de G6PD)
e) Hemoglobinopatias 2- Eritropoese ineficaz a) Anemia ferropriva b) Anemia perniciosa
c) Envenenamento por chumbo d) Talassemia
e) Porfiria eritropoética
3- Captação hepática diminuída a) Síndrome de Gilbert
b) Agentes iodados de contraste
4- Conjugação diminuída a) Hepatite crônica
b) Síndrome de Gilbert c) Doença de Wilson
d) Crigler-Najjar tipos 1 e 2
Lucey-
Driscol Crigler-Najar I Crigler-Najar
II Gilbert
Herança - Autos.
recessiva Autos.
Dominante Autos.
Dominante Defeito
genético Atividade ↓
da UDP-GTF Ausência atividade da UDP-GTF
Atividade ↓↓↓
da UDP-GTF Atividade ↓ da UDP-GTF Quadro
clínico Icterícia por mais de 1 semana no neonato a termo
Icterícia acentuada Kernicterus (impregnação dos núcleos da base)
Icterícia moderada Kernicterus é raro
Assintomát.
Icterícia discreta
Diagn. Suspensão do aleitamento materno
Ausência de resposta ao fenobarbital
Resposta ao
fenobarbital Através do teste da restrição calórica
Trat° - Transplante
hepático Fenobarbital
Fototerapia Não é
necessário
Dubbin-Johnson Rotor Herança Autos. recessiva
(consanguinidade) Autos. recessiva Defeito
genético Reduzida excreção de
bilirrubina Reduzida excreção biliar Quadro
clínico Assintomático ou icterícia
sem prurido Icterícia sem prurido Diagn. Colecistograma oral e
colangiografia venosa negativos. Fígado de cor escura. Biópsia hepática mostra pigmento típico
Colecistograma oral positivo. Fígado de cor normal. Biópsia hepática sem pigmento.
Trat° Evitar estrógenos Não é necessário
1- Doença hepática
a) Disfunção hepatocelular aguda ou crônica
◦
Hepatite viral, autoimune, por drogas (álcool, acetaminofen, alfametildopa)
◦
Isquemia, distúrbios metabólicos (doença de Wilson, Síndrome de Reye, hemocromatose, deficiência de alfa-1-antitripsina)
b) Doença hepática com componente colestático predominante
◦
Doença infiltrativa difusa: doenças granulomatosas, amiloidose e neoplasias
◦
Cirrose biliar primária, doença do enxerto versus hospedeiro
◦
Colestase intra-hepática recorrente benigna, nutrição parenteral total, estrógenos, esteróides anabolizantes, infecções bacterianas
2- Obstrução dos ductos biliares a) Coledocolitíase
b) Doença dos ductos biliares
◦
Inflamação/infecção- colangite esclerosante, colangiopatia da AIDS, quimioterapia hepática arterial, estenose pós-operatória
◦
Neoplasias
◦
Compressão da via biliar- carcinoma de pâncreas, linfadenopatia metastática
no hilo hepático, hepatoma, pancreatite aguda e crônica
Quanto à localização da etiologia:
Pré-hepática
Hepática
Pós-hepática
Quanto à presença de colestase:
Não colestática
Colestática
• Redução do fluxo de excreção biliar responsável pela chegada de pouca ou nenhuma bile no duodeno.
•Pode ser devida a causas intra-hepáticas ou obstrutivas extra-hepáticas (pós-hepáticas)
Obs.: A colestase acompanha-se de elevações
variáveis de enzimas colestáticas (fosfatase alcalina e
gamaglutamil transferase), e de ácidos biliares
A bilirrubina
conjugada sai pela membrana
sinusoidal do
hepatócito para o sangue
COLESTASE Diminuição da libertação de bilirrubina no intestino
Gera-se um gradiente de pressão por deposição de bilirrubina conjugada nos hepatócitos e ductos
associada à dificuldade de
fluxo
Icterícia não colestática
Icterícia colestática
1.
Hemólise
2.
Redução do transporte de bilirrubina
1. Insuficiência cardíaca congestiva2. Choque 3. Hipóxia
4. Desidratação 5. Hipoalbuminemia
6. Nutrição parenteral prolongada
Congênita Adquirida
Anormalidades da membrana eritrocitária
* Microesferocitose hereditária * Eliptocitose hereditária
* Estomatocitose hereditária
Autoimunes * Primária * Secundária * Drogas
* Hepatopatia crônica * Infecções
* Doença do colágeno * Idiopática
Hemoglobinopatias * Anemia falciforme * Talassemias
Fragmentação eritrocitária * Válvulas
* Malária
Alterações enzimáticas Outras
* Hematomas
Colestase :
◦ Intra-hepática
◦ Extra-hepática
1. Metabólicas
2. Mecânicas
1. Tumores primários e metastáticos
Com lesão hepatocelular Hepatite por vírus
Hepatite autoimune Álcool
Drogas
Doenças colestáticas crônicas, ductopênicas
•Cirrose biliar primária (CBP)
•Colangite esclerosante primária (CEP) Após Transplante ortotópico de fígado
Sem lesão hepatocelular Gravidez
Transinfeccioso
Prurido pós-operatório
Recorrente benigna
1- Congênitas
◦ Atresia das vias biliares
◦ Dilatação cística das vias biliares (cistos de colédoco)
◦ Colangite esclerosante primária (CEP)
2 – Adquiridas
◦ Coledocolitíase
Primária
Secundária
Residual
Recidivante
• Inflamatória
• Colangite esclerosante secundária
• Esclerose cicatricial iatrogênica
• Pancreatite crônica
• Neoplásica
• Primária (pâncreas, vesícula biliar, papila duodenal, ductos biliares
• Metastática
Interferência com o transporte pela membrana
Ex.: Rifampicina, probenecide, contrastes radiológicos
Síndrome de Gilbert
• 7 % população
• AD
• Sexo masculino
• Aparecimento na 2ª decada de vida
• Déficit parcial da UDP-glicuroniltransferase e/ou uptake
hepático
Deficiência nos transportadores da membrana canalicular
S. de Dubbin-Johnson
S. de Rotor
AR
Defeito no transportador da membrana canalicular ATP- dependente
Fígado pigmentado de preto
AR
Fígado normal
Disfunção da membrana canalicular induzida por drogas
Ex.: Ciclosporina
Hepatite viral (A, B, C, D e E; EBV; CMV; HSV)
Cirrose alcoólica crônica
Toxicidade medicamentosa
Doença de Wilson
Hepatite autoimune
Deficiência de α-1-antitripsina
Colestase medicamentosa
Cirrose biliar primária
Colangite esclerosante
Colestase da gravidez
(esteróides anabolizantes, CO)
(destruição progressiva dos ductos biliares)
(estreitamente inflamatório não infeccioso dos ductos biliares, 60 % dos casos em doentes com C. U.)
(2º e 3º trimestres, resolução pós-parto,
etiologia desconhecida)
Lítiase biliar
95 % das patologias do trato biliar
15 % destes doentes têm coledocolitíase
20-50 anos
Cólica biliar ( QSD, epigástrio,
regiões subcostal e subesternal)
Estenoses das vias biliares
Traumatismos cirúrgicos
Trombose de artéria hepática
Úlcera duodenal perfurada
Pancreatite
Colangite bacteriana
Tríade de Charcot: cólica biliar, icterícia, febre e calafrios
Pressupõe-se obstrução biliar
Organismos predominantes na bile:
E. coli, Klebsiella, Pseudomonas Enterococus e Proteus
Complicações:
Sepsis
Divertículos duodenais
Ascaridíase
Cistos do colédoco (icterícia, colangite, massa no QSD)
Doença de Caroli (congênita ,dilatação intra-hepática sacular dos ductos)
Hemobilia (cólica biliar, icterícia, hemorragia intestinal)
Colangiocarcinoma
Papilomas do ducto biliar Carcinomas
periampulares
cabeça do pâncreas ampola de Vater duodeno
distal da via biliar principal
icterícia (¾ dos doentes, sinal físico mais frequente)
perda de peso e dor abdominal
Adenocarcinoma da vesícula biliar
Compressão das vias biliares
por adenopatias metastáticas
ou linfomas
Analgésicos
◦ Paracetamol
◦ AAS
◦ AINEs
Psicotrópicos
◦ Inibidores da MAO
◦ Fenotiazinas
Drogas utilizadas em cardiologia
◦ Metildopa
◦ Amiodarona
Outros
◦ Valproato sódico
◦ Estrógenos
(contraceptivos orais e
reposição hormonal)
Álcool
Vírus hepatotrópicos
Doença autoimune
Doença biliar
Gravidez
História da moléstia atual
•
Coloração da pele, escleróticas e membranas mucosas
(início, evolução da intensidade da cor)•
Dor abdominal, cólica biliar
•
Artralgias, mialgias
•
Colúria
•
Acolia
•
Prurido
•
Esteatorreia
•
Anemia
•
Perda de peso e anorexia
•
Febre
Antecedentes pessoais
•
Idade
•
Sexo
•
Medicação (ACO, antibióticos)
•
Episódios prévios de icterícia
•
Viagens recentes
•
Doenças infecciosas
•
Consumo de álcool
•
Exposição a drogas endovenosas
•
História de hemotransfusões
•
Exposição a substâncias tóxicas (aflatoxinas, anabolizantes, arsênico, clorofórmio, DDT)
•
História prévia de cirurgia biliar
Antecedentes familiares
• História familiar de doença genética
(S. Gilbert, Doença de Wilson, def. α1-antitripsina, ...)
• Hepatite crônica ativa
• Cirrose biliar primária (anticorpos antimitocondriais)
• Hemoglobinopatias (talassemia, anemia falciforme)
Inspeção
Estado nutricional do doente
Coloração da pele (palma das mãos e planta dos pés), escleróticas e
membranas mucosas
Sinais sugestivos de hepatopatia crônica:
◦ Distensão abdominal (confirmar ascite na palpação/percussão)
◦ Aranhas vasculares
◦ Circulação colateral, cabeça de medusa
◦ Eritema palmar
◦ Ginecomastia
◦ Atrofia testicular
◦ Hipocratismo digital
◦ Contractura de Dupuytren
Percussão
Avaliação do tamanho do fígado e do baço
Pesquisa de massas
Dor à percussão
Sinais de irritação peritoneal
Presença de ascite
Ausculta
Sem relavância clínica
Palpação
Fígado
Vesícula Biliar
Baço
Massas abdominais
Adenomegalias na axila, pescoço e região inguinal
Sinais de irritação peritonea
Dimensões Consistência
Identificação do bordo inferior Dor
Sinal de Murphy Sinal de Curvoisier Dimensões
Pesquisa de dor
Exames laboratoriais
Ultrassonografia abdominal
Radiografia abdominal simples
TC abdominal
RMN abdominal
CPRE
CTPH
Colangiorressonância
Ecoendoscopia
Bilirrubina sérica total
Bilirrubina direta (sangue e urina) e indireta
Aminotransferases (ALT e AST)
Fosfatase alcalina
Gamaglutamil transferase
Albumina
Tempo de protrombina
Característica Hemolítica Hepatocelular Obstrutiva
Colúria Ausente Presente Presente
Estercobilinogênio Aumentado Normal Diminuído/ausente Hiperbilirrubinemia Não-conjugada Conjugada Conjugada
ALT sérica Normal Elevada Elevada
FA sérica Normal Elevada Elevada
ALT/FA* 1 > 5 < 2
Exemplo Anemia
hemolítica Hepatite viral Cálculo biliar
Dilatação da árvore biliar intra e extra-hepática, cálculos e distensão vesicular
Informação sobre natureza das lesões
Falsos negativos: cirrose ou colangite esclerosante
Raramente identifica causa da obstrução
Na suspeita de icterícia obstrutiva, por
coledocolitíase, colangiocarcinoma, tumores pancreáticos
Método diagnóstico e terapêutico (biópsia direta, remoção dos cálculos, dilatação de estenose,
colocação de stent)
Aplicável a doentes com coagulopatias
Risco de pancreatite, colangite e hemorragia
Suspeita de obstrução neoplásica
Definição de massas
Eventual invasão, metástases
Estadiamento
Na fase inicial da obstrução pós-hepática, quando a ultrassonografia ainda é negativa (ductos ainda não dilatados)
Exame mais sensível e específico para diagnóstico de colecistite aguda (detecta obstrução do cístico)
Não é exame de 1ª escolha
Icterícia Avaliação clínica
Doença hepatocelular ou infiltrativa
Provavelmente benigna
Observar Biópsia US
Possivelmente maligna
US ou TC
Possível obstrução extra-hepática
US ou TC
Resultado duvidoso
CPER ou CTPH
Muito provável obstrução extra-hepática
CPER ou CTPH