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Disponibilização: EVA Tradução: ANELIZE, THAY, MARIA AUGUSTA, REBECA REVISÃO: ANE Leitura Final e Formatação: EVA

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Academic year: 2022

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Disponibilização: EVA

Tradução: ANELIZE, THAY, MARIA AUGUSTA, REBECA

REVISÃO: ANE

Leitura Final e Formatação: EVA

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O jogo terminou e eles roubaram a vitória de MIM . Traição. Mentiras. Corrupção. Morte.

Este peão nunca teve chance.

Mas então ele veio para MIM .

Ele ME arrancou do meu pesadelo e me manteve segura.

Meu coração estava ferido e minha alma estava perdida.

Até que a besta em MIM acordou.

Ela estava com fome e furiosa e não seguia as regras do jogo.

Nós éramos uma equipe perversa.

E mudamos o jogo completamente.

Eu peguei o que era deles porque eles levaram o que era meu.

EU contra eles.

Foi assim ... até ter outra pessoa COMIGO . Alguém que prometeu lutar ao MEU lado até o final.

Eu não quero o amor que ele tem para MIM .

Mas a besta em MIM ainda deseja aproveitar tudo o que ela merece.

Ele deveria correr para longe de MIM .

Em vez disso, ele corre direto para MIM .

Este sou EU , baby e vou arruinar todos eles.

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Para a outra metade do meu coração, Esta sou eu, baby... e você me ama

de qualquer maneira.

Obrigada por isso.

SUA

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This is Me, Baby, é um romance dark, com fortes temas sexuais

e violência, que podem desencadear os problemas emocionais que são

encontrados nessa história. Se você é sensível a temas obscuros, este

livro não é para VOCÊ. This is Me, Baby, é o quinto livro da série. Por

favor, leia os primeiros quatro livros antes de ler este para entender a

história.

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PRÓLOGO

O dia anterior…

“Pela primeira vez, sinto que tenho um futuro. Algo que posso realmente aguardar com grande expectativa,” murmuro, enquanto distraidamente acaricio minha barriga ainda plana. Um dia crescerá com nosso bebê. A ideia tanto me anima quanto me apavora.

Duvan ri e levanta se apoiando no cotovelo ao meu lado na cama.

Na luz da manhã, seus olhos são um violeta brilhante, nenhum vestígio de preto neles. Eu poderia olhar para eles por horas. “Quero que você acorde todos os dias ansiando pelo próximo. Você já teve sofrimento demais em sua vida, meu amor. É hora de viver. É tempo de amar. É hora de ser feliz. Você merece isso."

A ponta dos seus dedos acaricia meu lábio inferior antes de arrastá- lo pela garganta até a minha clavícula. Quando ele alcança meu mamilo, deixo escapar um suspiro.

“Definitivamente estou feliz agora,” digo com um sorriso. Meu mamilo permanece rijo para reforçar minha declaração.

“Bom,” ele rosna enquanto sobe pelo meu corpo nu. “Não vou te pedir muito, mas sua felicidade é algo que necessito, tigresa. Eu quero.

Desejo. Porra, eu imploro por isso. Ver o seu sorriso verdadeiro ou ouvir sua risada doce é melhor que qualquer tipo de droga que já

experimentei. Você é incomparável.” Seus lábios pairam sobre os meus. "Você é minha."

Enrolo as pernas em torno de seus quadris e

ligeiramente levanto na cama de maneira

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necessitada. Quando ele está dentro de mim, me possuindo e me amando, eu me sinto completa. Perfeita. Uma parte de algo muito maior do que jamais sonhei.

"Preciso de você," digo com uma voz que é quase um gemido.

Ele encosta seu nariz contra o meu, antes de se afastar um pouco para me olhar. Uma mecha de cabelo preto cai sobre o seu olho direito, e ele me recompensa com um sorriso torto. Minha pele queima com a necessidade de tê-lo antes que enlouqueça. "Você não precisa de mim,"

ele murmura. Mas quando passa seu grosso pau contra o meu clitóris, eu sei que é uma mentira. Preciso dele com todo o meu ser.

“Não consigo funcionar sem você,” admito. Em cada atrito contra mim, ele me deixa cada vez mais excitada. Um simples movimento errado acabará com sua provocação, e ele estará dentro de mim onde é o seu lugar.

Seu polegar acaricia meu rosto. “Você é autossuficiente, Brie. Você pode precisar do meu pau dentro de você agora, mas você não precisa de mim para existir. Você é como um belo planeta que ainda não foi descoberto, por ninguém além de mim. Venho visitar porque amo estar aqui com você. Mas você não precisa da minha presença para prosperar. Você existe nessa imensa escuridão vazia porque estava destinada. Você sempre foi o plano... todos ao seu redor, incluído eu, são simplesmente parte do plano.”

Lágrimas enchem meus olhos e culpo meus estúpidos hormônios.

Ele quase nunca me chama pelo meu nome. Isso me assusta a ponto de começar a examinar suas vagas palavras. Não gosto da natureza ameaçadora delas. Como se inconscientemente ele me alertasse da possibilidade de sua ausência em minha vida.

Não posso existir em uma vida sem ele.

“Tigresa...” Seu rosnado me faz encontrar seu

olhar. “Não estou tentando te deixar triste. Na

verdade, em cerca de trinta segundos, vou fazer

você realmente muito feliz.” Ele fecha os olhos por

um breve momento antes de voltar a abrir. “Só

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quero que saiba que você é mais forte que imagina. Aprendi isso sobre você desde a primeira vez que te vi. Mesmo com uma tempestade se formando em seus olhos, seu rosto permaneceu impassível. Eu senti o calor de sua fúria por ser um peão entre meu pai e Heath. E que, eventualmente, se cansaria dessa intimidação. Que um dia você iria incinerar os dois com sua fúria ardente. Eu vi sua força muitas vezes.

Ela não foi completamente desencadeada, mas baby, ela está aí.”

Ele limpa uma lágrima na minha bochecha e beija meu nariz. Meu peito aperta com uma dor desagradável que começa a se formar. Odeio o tom com o qual ele diz suas palavras. Como se ele e o resto do universo soubessem algo que eu não sei. Algo que vai me surpreender um dia. Algo que me forçará a invocar as alegadas forças que ele tem tanta confiança que possuo.

“Nunca me deixe,” sufoco. Não tenho certeza de onde a insegurança vem, mas não posso suportar a ideia dele em algum momento se sentir saturado de mim.

Sua boca esmaga a minha em um beijo profundo. Um beijo que faz promessas que ele ainda não expressou. Que ficará comigo para sempre. Dou um gemido em sua boca enquanto ele lentamente empurra seu pau em mim. Com Duvan, quero que ele me separe em duas. Para que assim consiga se enterrar tão profundamente em minha alma, que nunca o deixarei sair.

“Eu sempre estarei com você, mi amor,” ele promete entre nossos beijos molhados e ofegantes. Seus quadris se movem tortuosamente lentos contra mim.

“Aqui.” Ele toca em minha têmpora.

"Aqui". Ele corre os dedos entre os meus seios, demorando tempo suficiente para sentir o meu coração disparar.

“E aqui.” Sua mão se estende sobre a minha barriga.

Concordo com um aceno de cabeça e cravo

meus calcanhares em sua bunda para estimulá-lo.

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Preciso do meu tigre para me destroçar. Para destruir meu ser e me marcar como sua. “Sempre comigo,” repito, minha voz tremendo com a antecipação de um orgasmo muito próximo.

Seu beijo se aprofunda enquanto ele empurra mais forte dentro de mim. Duvan me toca em todos os lugares certos. Diz as coisas certas.

Cheira exatamente da maneira certa.

"Oh, Deus," grito um segundo antes do meu corpo convulsionar com um orgasmo.

Ele geme contra a minha boca, seu hálito ardente me fazendo cócegas, enquanto libera o seu gozo. Seu sêmen quente me enche, mas na realidade é somente ele que enche meu coração.

“Tigresa,” diz com um tom presunçoso em sua voz. Ele se afasta e levanta uma sobrancelha para mim. O indicio de uma barba crescendo o deixa ainda mais sexy. Minha buceta pulsa apenas em olhar para o meu bonito marido. “Vou fazer você me amar um dia.”

Tudo que consigo fazer é sorrir para ele.

Ele não terá que me obrigar.

Porque eu já fiz isso.

Eu te amo, Duvan Rojas.

(12)

I

O dia de…

AMOR É ESTRANHO. Pelo menos foi o que sempre disse à minha filhinha. Que é bagunçado e confuso. Que metade do tempo não faz sentido. Que, às vezes, se transforma e muda em algo novo.

O que eu não disse a ela é que o amor também é feio.

Como um pai, queria protegê-la de sofrimento e angústia. Não havia nenhuma maneira em que eu pudesse lhe causar alguma aflição ao dizer, que às vezes, a porra do amor realmente dói.

E ainda…

Eu deveria tê-la avisado. Deveria ter explicado que às vezes o amor é como uma faca que se orgulha em arrancar pequenos pedaços do seu coração, uma escavação dolorosa e ao mesmo tempo precisa.

O amor destruiu a minha filha.

Olhando para o lado do passageiro do carro alugado, solto um suspiro de frustração. Ela parece tão pequena encolhida em seu assento. Seu cabelo está bagunçado e coberto de sangue. As maçãs altas do seu rosto, que são exatamente como as da sua mãe, estão manchadas com lágrimas e quase tão vermelhas

quanto o sangue que a cobre.

Afasto meu olhar do seu sono tranquilo e me

concentro na estrada escura à frente. A chuva cai

em baldes devido à tempestade tropical, o que torna

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a tentativa de dirigir uma cadela. Estou morrendo de vontade de pegar meu telefone, ligar e mandar War se foder, por não ter me avisado antes o que estava acontecendo.

“Não tínhamos como ter certeza”, ele diz. “Tudo parecia bem, de longe.”

Mas não estava bem. Um filho da puta causou problemas para minha filha. O idiota deveria cuidar para que ela estivesse segura e amada. Um pai substituto, se você quiser. Esta vida deveria ser preferível ao que eu poderia ter dado a ela com Hannah. Ela deveria crescer e viver sua vida ao máximo.

Não isso.

Ela não deveria ser obrigada a casar com um imbecil aos dezoito anos, levada à América do Sul e então testemunhar o assassinato brutal do seu marido.

Só de pensar na maldita palavra já me leva ao limite. Meus dedos ficam brancos no volante enquanto o aperto em fúria.

Se não estivesse tão envolvido com Hannah, teria percebido os sinais mais cedo. Deveria ter pensado melhor antes de deixar Ren e War encarregados de cuidar da minha filha. Diferente de mim, esses dois idiotas não conseguem sequer identificar o mal a alguns metros de distância. Inferno, estou casado com ele. Eu reconheço as partes ruins das pessoas. Perscrutando em volta delas como uma mosca na merda. Se tivesse tirado um minuto da minha maldita vida com minha esposa e Toto para olhar além da superfície da nova vida de Brie, teria visto os sinais. Algo teria me alertado.

Eu poderia tê-la salvado de tudo isto.

Aperto meu fodido queixo, tentando me acalmar. Minha filha precisa que eu seja sua força. Eu preciso me desculpar por muitas coisas. Preciso arrumar minha garota

quebrada.

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Meu telefone toca no bolso, me afastando do meu ódio interior.

Retiro do meu bolso e rosno um severo, “Alô?”

“Como ela está?” Pergunta War. “Ren me contou o que viu durante a sessão no Skype—”

“Eu poderia ter salvado ela antes,” respondo, interrompendo-o.

“Você e seu filho deveriam estar observando ela. Como não viu nada disso antes? As pistas estavam lá, certo?”

A linha fica silenciosa por um momento. "Gabe, Brie está bem?"

"Sim. Agora, responda a porra da pergunta.”

Ele bufa na linha. “Talvez se não tivesse ido todo Bonnie e Clyde

1

com minha filha, você teria notado os sinais por conta própria.” Embora suas palavras sejam destinadas a provocar, isso não acontece.

“Sua filha precisava de mim,” assobio de volta.

“Sua filha precisava de você." Sua resposta não é irritada... é a verdade.

“"Jesus," reclamo. "Tudo é minha culpa."

Um barulho ao fundo da ligação silencia “Sua outra filha também precisa de você.”

Esfrego meu rosto em frustração. Estou fodidamente cansado, por estar em uma viagem ininterrupta por todo o maldito planeta, desde que fiquei ciente sobre o filho da puta doente do Heath Berkley. Tive para mim a missão de sacrificar sua bunda, quando Ren me contou tudo sobre as coisas depravadas que ele havia feito com ela. Coisas que ele testemunhou, mas também as histórias que sua irmã adotiva lhe contou. Liguei com a intenção de verificar Toto e acabei desligando meu telefone após uma longa e detalhada conversa sobre exatamente o que minha filha estava lidando.

1

Bonnie e Clyde é um filme norte-americano de 1967. O filme conta de

maneira romanceada a história real de Bonnie Parker e Clyde Barrow,

um jovem casal de assaltantes de banco e assassinos que aterrorizaram

os estados centrais dos Estados Unidos durante a Grande Depressão no

país.

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“Como está a Hannah? Ela está sendo...”

War suspira e aumenta a minha ansiedade. “Na maior parte do tempo, ela está sendo legal. Nem foi preciso contê-la ou qualquer coisa.

Toto parece feliz em vê-la.”

Deixo escapar um suspiro de alívio. “Ela ainda não tem permissão para ficar sozinha com ela,” lembro.

“Não se preocupe”, ele me assegura. “Bay não deixou Toto fora de sua vista desde que Han apareceu.”

Porra, Graças a Deus.

“Está trazendo ela de volta para San Diego?” ele questiona.

“Gabriella sempre pode ficar com a gente no caso..." ele se cala.

“Hannah perdeu o controle?”

Ele bufa. “Bay pesquisou alguns medicamentos que a Han pode tomar durante a gravidez. Vou fazer a encomenda e enviá-los para cá o mais rápido possível. Então talvez—"

War.

Confiei sempre na possibilidade de Hannah melhorar.

Hannah nunca vai melhorar.

Isso, eu tenho certeza.

“Mantenha essa merda sob controle,” resmungo.

“Você quer falar com ela?”

Movo meu pescoço de um lado para outro em uma tentativa de relaxar meus músculos tensos. "Não."

Silêncio.

“Ela tem perguntado por você,” ele murmura.

"Falar comigo só iria irritá-la e agora

precisamos mantê-la calma. Diga que você não

conseguiu entrar em contato comigo," instruo.

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Estou dirigindo por horas na escuridão. Muito tempo após a viagem de balsa que foi agitada pra caralho devido à tempestade. Não sei para onde vou, mas estou mantendo ela longe desse banho de sangue.

Minha pobre Brie, viu muito sangue em sua vida. Sua mãe e agora seu marido. Se pudesse reescrever sua história, eu faria.

“Quando vai retornar para o resto da sua família?” Ele questiona.

Olho para minha filha quebrada e suspiro. "Eu não sei. Preciso primeiro avaliar o seu estado. Assim que parar em algum lugar, atualizo você.”

Antes que ele consiga dizer mais palavras, desligo.

Brie se mexe ao meu lado. Seus olhos cansados se abrem, e então ela me diz exatamente para onde quer ir.

E é claro que a levarei lá.

Trinta e uma horas é uma longa e dura viagem. Paramos em um albergue infestado de baratas antes de entrar na Colômbia. Pego Brie para tomar um banho, mas ela está em estado de choque. Felizmente, dormiu a maior parte do tempo.

O GPS sinaliza nossa localização. Porra, finalmente. Não me sinto confortável aqui, mas não temos outra escolha. Precisamos descansar alguns dias antes de continuar a viagem. Sinto que é tudo que faço desde a semana passada, enquanto caçava o filho da puta do Heath.

Agora que ele não é mais uma ameaça, posso me concentrar em minha filha.

Ela senta em seu assento e espreita a

escuridão. A casa é uma das mais extravagantes

que já vi. Eu gosto do fato de estar nos subúrbios

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da cidade, longe de qualquer arruaceiro. Posso mantê-la segura aqui, por enquanto.

Assim que estacionamos, ela sai do veículo e corre para a casa. Mas antes de chegar muito longe, ela se inclina e vomita em um arbusto.

Agarro a bolsa que coloquei a minha roupa, assim como outra que arrumei com algumas coisas dela que tinha na casa na ilha. Não tenho certeza se peguei tudo o que precisa, mas não queria qualquer evidência de sua presença na cena do crime. Espero que tenha tirado tudo e que ela não fique ligada ao que aconteceu lá.

“Brie baby,” eu digo suavemente. “Não entre sozinha. Deixe-me ter certeza de que está seguro."

Ela faz uma pausa quando começa a subir os degraus da varanda.

Seus olhos marejados encontram os meus e ela assente. “Ele poderia estar aqui.”

A maneira fria como ela diz essas palavras, provoca um desconforto rastejando por minha coluna. Eu matei o monstro em seu mundo.

Esfaqueei a porra de todos os órgãos vitais em que podia enfiar a faca.

Heath Berkley não pode mais machucar minha filha. Ela ainda deve estar em choque se não consegue lembrar isso.

Seguro seu ombro antes que ela chegue à varanda. O trovão ressoa nas proximidades e eu sei que só nos deu uma breve pausa dos ventos e da chuva. Desembainho minha faca. Coloco silenciosamente nossas bolsas no chão ao lado da porta e giro a maçaneta. Move sem resistência, o que dispara sinos de alarme em minha cabeça. A porta faz um ruído em protesto enquanto empurro para abrir.

Escuridão.

Eu posso ouvir o zumbido da geladeira, nada mais.

“Fique aí,” digo num sussurro.

De forma silenciosa, atravesso a sala escura.

Em intervalos de minutos, o relâmpago ilumina o

espaço, mostrando-me o caminho. Verifico

primeira a sala e cozinha. Estou andando pelo longo

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corredor escuro, quase na escuridão total, quando escuto o clique familiar de uma arma sendo engatilhada.

Porra.

Aponto minha faca na direção do som—pelo menos onde acho que escutei—estou errado. No instante seguinte, sou abordado. Ele me pega de surpresa e bato em uma parede, derrubando um quadro no chão, fazendo com que se quebre. Meu invasor tenta me sufocar por trás.

Mas eu sou maior.

Com um rugido, arranco o desgraçado das minhas costas. Ele bate no chão de madeira com um baque alto. No escuro, agito minha faca em minha frente em uma tentativa de atingi-lo. Quando ouço a respiração irregular perto, dou uma estocada para frente. Mas ele é muito rápido e tira a faca da minha mão. Consigo encontrar a garganta do idiota, agarrando-a em um aperto punitivo.

Metal frio encontra a minha têmpora e congelo.

E depois a luz.

Fodida luz ofuscante.

“Papai!” Brie grita atrás de mim. “Não a machuque!”

Ela?

Olho para uma garota não muito mais velha que Brie. Seus olhos estão selvagens e seu cabelo preto está bagunçado. Sua mão — com qual está segurando uma arma pressionando contra mim — treme severamente.

“Luciana,” Brie diz com um soluço.

A menina se afasta soltando um grito de alívio ao ver a minha filha. Elas devem ser amigas. Empurro a arma em

sua mão e me levanto. Ela rapidamente pula

fazendo o mesmo. Seus olhos castanhos se

estreitam enquanto me examina.

(19)

“Este é o meu pai.” Brie corre para a menina e elas se abraçam.

Quando se separam, Luciana franze a testa para ela.

“Desculpa?” Ela parece dizer em dúvida e, em seguida, bate em seu coração.

Brie deixa escapar um soluço áspero e balança a cabeça. “E-Ele se f-f-foi.”

Luciana também começa a chorar e as duas se juntam em um abraço. Enquanto isso, eu fico parado parecendo estúpido. Não sei o que está acontecendo ou como consertar essa merda.

“Você está sozinha?” Exijo com um rosnado.

A menina olha para mim e balança a cabeça.

“Esteban...” murmura Brie. “Ele não está por perto?”

Terror cintila nos olhos de Luciana. Ela balança a cabeça. Por que diabos ela não fala?

“Papai,” diz a minha filha. “Estamos seguros. Ele não está aqui."

Raiva aquece meu íntimo. O fato de que minha filha tem outro homem a quem temer, faz meus dentes cerrar tão forte que chego ao ponto de me perguntar se vou conseguir quebrá-los. Quero pegar Brie pelos ombros e sacudir até obter respostas. O problema é que ela é tão frágil, que temo que isso a esmague.

Precisamos dormir um pouco e nos revigorar.

Então, ela pode explicar todo esse mundo fodido em que está vivendo

“Vou pegar nossas malas e trancar tudo,” eu digo com um resmungo. “Luciana, você pode ter certeza de que ela coma alguma coisa?”

Luciana balança a cabeça e sai do seu abraço.

Quando ela começa a passar, seguro seu pulso.

"Qual é o problema? O gato comeu sua língua? Por

que você não fala?"

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Ela levanta o queixo bravamente e olha para mim. Então, abre a boca. Eu fico boquiaberto com o pequeno pedaço mutilado em sua boca. Que porra é essa?

“Esteban.” O nome é sussurrado por Brie atrás de mim.

Esse filho da puta está bem no topo da minha lista de merda.

Sacudindo a cabeça para Brie, eu levanto uma sobrancelha em questão. "Quem é esse Esteban?"

Seus olhos se enchem de lágrimas — estou surpreso que ainda lhe reste alguma —e ela olha para o chão. “Ele não é ninguém.” Ela me empurra e escuto seus passos enquanto sobe as escadas.

Luciana faz um som de desacordo. Eu viro para olhar para ela. Seus lábios estão pressionados em uma linha firme.

“Esteban te machucou?” Exijo.

Ela estreita os olhos e acena concordando.

Cerro os dentes e olho para o teto por um momento antes de encontrar seu olhar novamente. "E ele machucou minha menina?”

As lágrimas se acumulam em seus olhos castanhos, fazendo com que pareça chocolate derretido. Seu lábio inferior treme quando ela faz um movimento como se injetasse no antebraço.

“ELE A DROGOU, PORRA?" Grito com meu peito arfando em fúria.

A menina estremece ao meu tom e acena descontroladamente.

“Isso é tudo?" Estou furioso.

Ela engole e sacode a cabeça. Os meus medos ganham vida quando seus lábios se movem com a palavra: Estupro.

A parede ao meu lado não esperava o que vem a seguir.

Esmurro através dela. Uma. Duas. Três vezes até que a jovem agarra meu cotovelo. Quando finalmente viro para encará-la, ela está desfocada.

Tão desfocada. Endureço quando ela me abraça.

(21)

Um som sufocado me escapa.

Luciana se afasta e estende uma pequena mão em meu rosto. Ela limpa a umidade do meu rosto antes de fazer um movimento de segurar um telefone ao seu ouvido. Retiro o meu do bolso e entrego para ela.

Seu cabelo escuro cobre a lateral de seu rosto enquanto ele gira em velocidade relâmpago. Lágrimas continuam escorrendo pelo meu rosto.

Sinto-as pingando do meu queixo.

Minha Brie.

Minha pobre menina.

Ela me devolve o telefone, e vejo que escreveu uma mensagem no meu aplicativo de notas.

Esteban é um homem mau. Ele cortou a minha língua quando ainda era uma garotinha. Ele fez coisas terríveis com Brie. Ele a drogou com heroína e a estuprou. Muitas vezes. Duvan está realmente morto? Oscar me mandou uma mensagem sobre o que viram.

Levanto meu úmido olhar para encontrá-la me encarando com tanta esperança em seus olhos. Espero que tenha sido tudo um pesadelo.

Espero que de alguma forma eu também consiga salva-la desse filho da puta.

Cerrando meu maxilar, dou-lhe um leve aceno de cabeça antes de subir para confortar minha filha. Seus gemidos quebrados atrás de mim penetram na minha alma, criando uma rachadura.

Esteban vai morrer, caralho.

O imbecil não morrerá facilmente.

Vou arrancar a pele do seu corpo miserável e alimentá-lo até que morra engasgado.

E vou garantir que ele sinta uma dor excruciante a cada segundo.

Ninguém toca a minha filha.

(22)

Nenhum fodido.

(23)

II

Vários dias depois...

“SEU MOVIMENTO, PAPAI.”

Os olhos azuis de Hannah cintilam com clareza. Os medicamentos parecem estar funcionando. Não percebo que a escuridão a ultrapassa quando olha para a mãe ou quando Toto chama a sua atenção. Ela parece... normal.

Claro que, com Hannah, nada é normal.

Ela nunca pode ser normal.

A minha filha vai sempre oscilar numa linha delicada entre aqui e...

lá.

Não podemos deixá-la ir para lá novamente.

De todos os meus filhos, Hannah sempre foi o meu adversário mais digno no tabuleiro de xadrez. Ela é calculista e inteligente como um chicote. É isso que a torna tão perigosa. A menina não é apenas imprudente e impetuosa. A maior parte do tempo, ela planeja seus movimentos. Sempre pensando sobre o jogo final. Ela contempla os outros movimentos. Os resultados. As consequências.

“Você está preso,” ela me diz presunçosamente, enquanto senta em sua cadeira, esfregando a barriga estendida. Em

alguns meses, vou ter um neto.

Levanto uma sobrancelha e encontro um

sorriso satisfeito. Ela me deu esse sorriso noventa

e sete vezes desde que chegou aqui. Eu conto-os

(24)

porque preciso entendê-la. Isso beneficia minha família, se eu puder pensar vários movimentos à frente do nosso membro mais imprevisível.

Para sua segurança... e nossa.

“Não estou preso," digo com um grunhido. Eu tenho três opções para eliminar sua rainha em apenas alguns movimentos. Mas algo me diz que ela sabe disso e está apenas me preparando para que possa me derrotar assim que eu executar meus movimentos mais óbvios.

Ela começa a cantarolar algo doce, mas vindo da minha filha, soa intimidante e assustador na porra do limite. Seus olhos azuis escurecem vários tons enquanto ela observa a praia através da janela, o luar lançando um brilho estranho em seu rosto. Baylee costumava ter o mesmo olhar em seus olhos quando pensava em Gabe. Não há dúvida em minha mente, Hannah também está pensando nele. E seja o que for, eu certamente não quero pensar sobre isso.

“Quando você soube que era diferente, pai? Quando você percebeu que estava doente?” Ela pergunta e pega sua caneca de chá na mesa lateral. Ela sorve e me olha através do vapor.

Esfrego meu rosto e encolho os ombros. "Não sei."

Mas isso é uma mentira. Lembro-me do exato momento em que percebi que algo estava completamente errado comigo. Não demorou depois da minha namorada do ensino médio se mudar porque eu estava enlouquecendo. Papai estava no limite da sua paciência comigo. Eu me tornei antissocial e me recusei a sair do meu quarto. Mas não foi esse o momento que tive a conscientização do problema.

Aconteceu quase como uma rachadura em uma geleira.

Pequeno no início.

Então, parecia fugir ao meu controle. Ziguezagueando de um lado para o outro longe de mim à velocidade da luz.

Tentei desesperadamente segurar a fissura.

Cravei minhas unhas no gelo negro da minha

mente. Vi-os arrancarem-se dos meus dedos

(25)

enquanto a divisão se espalhava. A fissura se tornou um vale, e eu caí.

Até agora, ainda caio no vazio. Sozinho.

Naquele dia, tentei calcular quantos segundos escutei minha mãe antes dela morrer. Estava obcecado com os últimos momentos de sua vida. Fiquei confuso com os cálculos porque não tinha certeza do momento exato em que ela deixou este mundo. Repassei inúmeras vezes aquela cena horrível do seu sangue e massa encefálica por todo banheiro dos meus pais. Às vezes, o cálculo variaria em algumas centenas de segundos. Outras vezes apenas alguns segundos.

Isso me enlouqueceu.

Eu precisava saber.

Eu tinha um ardente desejo de abrir minha cabeça e exigir que as memórias se tornassem mais claras para mim. Para retirar essa parte de mim que realmente prestou atenção nesse momento exato. Foi então que entrei no banheiro e raspei todo o meu cabelo. Cada fio flutuava na pia do banheiro até que meu crânio coberto de carne estava em exposição. As respostas estavam todas dentro. Eu só precisava extraí- las.

Segurei uma faca de cozinha na minha frente e olhei para ela por horas. Na verdade, foram mil e quatorze segundos para ser exato. Mas quem está contando?

Imaginei o sangue correndo por minha testa. Para vê-lo escorrendo sobre as minhas pálpebras, cegando-me com vermelho. O simples pensamento da repetição do show de horror foi o suficiente para me fazer deixar a faca cair no chão com um pequeno estrondo. Senti agonia, tontura, nojo e muita náusea até que expulsei meu almoço no vaso sanitário. Em seguida, fiquei obcecado com o cabelo descartado na pia.

Quantos eram?

Centenas?

Milhares?

(26)

Encontrei uma pinça e um saco Ziplock. Naquela tarde, fiquei na frente da pia contando meus cabelos. Todos e cada um deles. Meu pai trabalhou até tarde naquela noite. Quando retornou para casa, eu ainda estava contando. Ele deu uma olhada em mim e se desfez.

Soluçou e chorou na porta enquanto observava meu instante enlouquecido.

E eu estava louco.

Foi o começo da minha confusão. Meu furacão mental. O ódio por mim mesmo.

Eu tinha enlouquecido. Naquela tarde, rachei e só após conhecer Baylee fui capaz preencher a lacuna. Ela me curou. Não só colocou bandagens nas fendas em minha mente, mas também me mostrou como juntar as duas partes rasgadas do meu corpo. Com as mãos firmes, com certeza, ela me costurou até que eu não estava mais rasgado em dois. Um dia de cada vez, ela me curou.

"Seu movimento," digo a Hannah enquanto deslizo minha torre no lugar.

Ela geme. “Ugh! Papai! Como você sempre sabe o que eu vou fazer?”

Ainda estou sorrindo para ela quando a porta da frente se abre e Ren entra. Ele bate a porta, e eu estremeço esperando que ele não acorde os bebês ou Bay. Calder saiu com os amigos. Não que o garoto durma, de qualquer maneira.

Hannah franze o cenho para mim. “Ele ainda está com raiva de mim?” Sua expressão está abatida.

Fecho os olhos e respiro fundo. Estar irritado é o maior eufemismo do ano. Ren odeia Hannah pelo rastro de destruição que ela deixou em seu encalço. Eu sei disso porque ele gritou para mim em mais de uma ocasião, desde que Gabe a deixou na nossa porta para ir encontrar Heath.

"Ele não está com raiva," eu minto.

(27)

Ela faz um som de rangido, mas depois se inclina para se concentrar em seu movimento.

“Eu já volto, Han. Vou falar com o seu irmão.” Levanto e pressiono um beijo no topo de sua cabeça antes de caminhar pelo corredor atrás do meu filho.

Eu odeio que eles tiveram uma relação tão próxima, mas que agora ele nem consiga falar com ela Não que eu posso culpá-lo. Hannah arruinou muitas vidas com suas escolhas. Mas o que Ren e Bay não conseguem entender é que Hannah não pode evitar. Ela não funciona como eles. Sua mente não percebe as linhas do certo e errado. Inferno, até mesmo Gabe tem certa percepção do certo e errado; caso contrário, não seria tão protetor com Toto.

Mas Hannah?

Ela é como eu.

Mais escura, no entanto. Imprevisível. Certamente não acessível.

Sua mente não é uma fenda que pode se unir novamente.

Não…

Sua mente é um buraco negro.

Vazia. Devastada. Loucura infinita.

Tudo o que for sugado por sua torcida vórtice fica dizimado. Ela estraga as pessoas. Vidas. Corações.

É por isso que vigio todos os seus movimentos. Assim como em nossos jogos de xadrez. É absolutamente imperativo que eu possa aprender tudo o que for possível sobre sua escuridão. Porque se entender, então posso mantê-la longe disso. Sustentando minha querida doce menina na luz. Gabe, surpreendentemente,

consegue a manter bastante equilibrada. Mas ele não a entende. Ele alimenta o seu monstro interior quando ele está voraz. Ele a protege de si mesma.

E protege aqueles que ele ama dela. Mas ele

simplesmente não a compreende. Não como eu.

(28)

Um dia, vou aprender tudo sobre o seu buraco negro.

Vou descobrir seus algoritmos internos. Quebrar o código de sua cabeça. Cruzar todos os Ts e pontilhar todos os Is. Vou virar o buraco negro do avesso. Estou tão certo disso.

Quando entro no quarto de Ren, ele está de pé, de costas para mim, seus ombros tensos. Quando estendo a mão e acaricio suas costas, ele recua. É quando vejo as ataduras saindo pela gola de sua camisa.

“Você adicionou mais?" Pergunto.

Ele se vira para me encarar. Meu doce filho— o garoto que sempre fez o que pôde para agradar tanto a mim quanto a Bay—desapareceu.

Depois de recentemente presenciar online um banho de sangue, ele ficou um pouco fodido. Seus olhos azuis estão endurecidos. Toda a suavidade do meu filho está escondida de mim. Ele cerra o maxilar e olha. “Estou no processo para preencher.”

Não estou cem por cento de acordo com meu filho mais velho fazer uma tatuagem total nas costas, mas parece ser terapêutico para ele.

Começou pouco tempo depois que Brie se afastou oficialmente dele. A cada duas semanas, algo era adicionado. Mas depois do massacre, ele parece quase obcecado em finalizar.

“Posso ver?” Pergunto.

Ele balança a cabeça. "Mais tarde. Por que ela ainda está aqui?”

Ren. Direto ao ponto. Assim como sua mãe.

Solto um suspiro de frustração. “Somos os únicos que podem cuidar adequadamente dela até Gabe voltar. Não é seguro para ela ficar sozinha...” Interrompo. Nós dois sabemos a razão.

Seus olhos se estreitam e suas narinas se dilatam. “Quero acesso ao meu fundo fiduciário.”

Fico estupefato com a súbita mudança da

discussão. "Por quê?"

(29)

“Vou dar o fora daqui. Os dormitórios são apenas temporários, e quando não estou lá, tenho que voltar aqui. E eu não posso ficar aqui por mais tempo. Esta não é minha casa,” ele diz com raiva. “Não, quando esse monstro andar por aqui como se nada tivesse acontecido.”

Ele puxa seu cabelo e solta um grunhido gutural. “Tudo aconteceu.”

Meu coração dispara no peito. Tum. Tum. Tum. Eu tento me concentrar mais no meu filho que na necessidade de contar as fortes batidas. Ele precisa de mim. Ele precisa do meu foco.

“Eu posso lhe dar seu dinheiro,” digo com uma voz áspera. “Mas, Ren, eu realmente gostaria que você reconsider—”

“NÃO HÁ NADA A RECONSIDERAR!”

Seu corpo inteiro estremece de raiva. Suas mãos em punhos. Meu filho já não é mais um menino. Ele está mais alto que eu. Dezenove caiu muito bem nele. Nos últimos dois meses, ele passou mais tempo na academia de casa que em qualquer outro lugar, e seus músculos realmente saltaram. Ele evita Hannah a todo custo. Vive eternamente com seus fones de ouvido escutando música alta para bloquear sua família.

Está cortando meu peito.

Quero consertar meu filho.

Mas agora, preciso consertar minha filha.

Ren é inteligente. Ele vai resolver isso. O garoto só precisa de espaço.

“Vou lhe passar um cheque de manhã. O que você precisar,” eu lhe asseguro. Meu tom soa resignado com o fato de que Ren só vai curar se ele ficar longe de sua irmã, que desempenhou um papel decisivo em sua vida sendo dilacerada.

“Obrigado,” pronuncia ligeiramente. Ele se vira e começa a arrancar as roupas do armário,

empurrando-as em uma mochila. Estou

encostado na parede olhando para ele quando a

(30)

porta abre. No momento que a cabeça loira de Hannah aparece, abro minha boca para pedir que ela vá embora.

Mas Ren a vê antes que eu tenha a oportunidade de fazer.

"Fora," ele rosna e seu braço musculoso treme de raiva enquanto aponta para a porta atrás dela. "Saia da porra do meu quarto e saia da minha maldita vida!"

Ela fica tensa com as suas palavras e me lança um olhar triste.

“Ren—”

Ele se aproxima dela em uma velocidade relâmpago. Estou tenso, preparando-me para afastá-lo se o seu ataque de raiva sair do controle.

Seu dedo aponta para seu peito enquanto a encara. Seus corpos estão quase se tocando. “Eu te odeio, Han. Você entende isso em sua cabecinha fodida? Odeio."

Lágrimas inundam seus olhos. “Você não quer dizer isso.”

Ele zomba, estreitando seu olhar. "Cada palavra. Você arruinou a minha vida. Você arruinou a vida de Brie.”

Ela contrai com a menção de Brie. Conheço muito bem essa expressão. O olhar que ocasionalmente ela usa para observar Bay.

Aquele que ela mostra para Toto, às vezes. Não estou nada confortável com este olhar. É aquele que grita: eu poderia fazer você desaparecer com um estalar de dedos.

Odeio esse olhar.

“Ok, vocês dois,” resmungo e agarro o braço de Ren. Arrasto-o para longe dela e fico entre eles. “Han, vá para a cama. Ren, arrume suas coisas. Falaremos sobre isso mais tarde, quando os ânimos não estiveram tão exaltados.”

Lágrimas rolam pelo rosto da minha filha e ela se joga em meus braços para um abraço. Embora, eu

conheça essas lágrimas. Elas não são reais. Elas

não são verdadeiras. Elas são as únicas que ela

(31)

usa para conseguir o que quer. Neste momento, ela quer que Ren a perdoe.

Infelizmente, acredito que ele nunca irá perdoá-la.

“Falaremos em breve, filho,” eu digo a ele, dando-lhe um aceno de cabeça.

“Sim,” ele rosna antes de voltar a fazer as malas.

Conduzo Hannah para fora e a levo ao seu quarto. Não falamos enquanto lhe dou os comprimidos que parecem estar ajudando. Uma vez que está acomodada na cama, dou-lhe um beijo de boa noite e fecho a porta. Agora que ela não está tão agitada, não tem sido preciso trancá-la no quarto à noite.

Mas Baylee e eu nos trancamos em nosso quarto.

Com Mason e Toto.

Nunca se pode ter muita certeza com a Hannah.

Quando volto ao meu quarto, Ren já se foi. Ouço o baque de seus passos enquanto ele se afasta.

Pobre garoto.

Meu quarto está escuro, exceto pela luz do armário. Toto, por vezes, fica com medo, por isso deixamos sempre acesa por ela. Ela desmaiou em seu berço portátil. Seus cachos loucos brilham com a luz do armário. Deus, eu amo essa garotinha. Em seguida, olho para Mason.

Ele está em um berço de vime do lado de Baylee. Ela o enrolou, e ele parece sereno sugando sua chupeta. O menino parece Ren naquela idade. Meu coração incha em como lindo são nossos filhos.

“Venha para a cama," murmura Bay com sua voz rouca e entorpecida.

Retiro minha camiseta e empurro minha calça

de pijama. Quando rastejo em nossa cama, sou

assaltado com seu cheiro. É um lugar

(32)

permanentemente feliz em minha mente. Simplesmente Baylee, tão feminina e limpa.

"O que foi toda essa gritaria?" Ela pergunta em um sussurro.

Arrasto-a para mim e a beijo na testa. “Hannah e Ren.” Nossos olhos se encontram, os dois com sobrancelhas franzidas. "Ele quer ter acesso ao seu fundo fiduciário. Ele vai sair de casa, baby.”

Uma tempestade se forma em seus olhos, e ela morde o lábio inferior por um momento, enquanto contempla minhas palavras. Depois de um momento, ela fixa seu olhar no meu. “Eu não quero que ele vá, mas talvez ele possa ser mais feliz.”

Aceno e deslizo minha mão por seu quadril antes de escorregar debaixo de sua camisa para acariciar a pele delicada de suas costas.

“Ele precisa de espaço. É melhor deixá-lo ter o seu dinheiro, que correr o risco dele desistir da faculdade ou algo assim.”

Seus dedos acariciam meu peito e ela resmunga. “Neste momento, tudo é uma bagunça, War.”

Eu me inclino e pego seus lábios. Tão macio. Tão fodidamente dócil.

“Esta bagunça é nossa. Somos os únicos que podem limpá-la. Esta bagunça é nossa responsabilidade.” Beijo-a o suficiente para extrair um gemido necessitado dela. “Mas, vamos conseguir limpar. Então, seremos felizes novamente.”

Deitando ela de costas, vou limpando suas lágrimas, enquanto tiro a sua roupa. Só conseguimos voltar a ter relações sexuais nas últimas semanas. Felizmente, no entanto, não precisamos mais nos preocupar com o controle de natalidade, porque ela teve suas trompas laqueadas após o nascimento de Mason.

“War...” meu nome em seus lábios é uma oração. Ela precisa que eu conserte tudo para ela. Claro que vou. Eu sempre devo a ela por me consertar.

“Shhh,” murmuro contra sua boca enquanto

separo suas pernas e me instalo entre elas. Puxo

meu pau endurecido de dentro da boxer e provoco

(33)

sua abertura molhada. Então, com um rosnado baixo, penetro em minha esposa perfeita.

Uma vez que estou profundamente dentro, elevo meu olhar para ela.

“Eu te amo, Bay.”

Suas unhas cavam e os calcanhares pressionam minha bunda enquanto me incita a fodê-la. Sugo sua doce língua à medida que entrego os impulsos que ela tanto deseja. Exatamente do jeito que ela gosta. Exatamente no ritmo certo.

Com cada grama do seu corpo perfeito, sinto o meu próprio clímax me provocando. Está muito próximo, mas não quero perder o controle, a menos que ela goze comigo. Agora que temos dois filhos pequenos para cuidar, nossos momentos de sexo têm sido limitados. Eu quero que ela tenha um orgasmo e se entregue por completo, mesmo que apenas brevemente.

“Goze no meu pau, baby,” estimulo. Meus dedos escorregam entre nós e massageio seu clitóris inchado. Casado por quase duas décadas, sei exatamente onde tocar. Eu sei quantos segundos levará para ela explodir de prazer, assim que encontrar o ponto certo.

“Oh,” ela geme no mais suave dos sussurros.

Seu corpo se agarra ao meu. Isso me deixa louco de necessidade.

Meus testículos apertam por um breve momento antes de drenar todo o meu desejo nela.

“Deus,” eu digo com um grunhido e mordo o lábio inferior. “Você faz os sons mais quentes quando faço você gozar.”

Ela solta uma risada tranquila e sorri para mim. Seus olhos azuis brilham. "War?"

“Sim, Bay?”

"Estou feliz." Ela toca minha bochecha. "Tudo é

uma bagunça, não há dúvida sobre isso. Mas

estou feliz enquanto você está aqui cuidando de

(34)

mim e das crianças, minha vida está completa. Você é um bom homem."

Eu lanço um sorriso torto. Meu pau, que havia amolecido, endurece rapidamente. “Estou prestes a te fazer feliz novamente. Então, vamos tomar um banho.” Penetro com força suficiente para fazê-la gritar. O tempo para a doçura acabou. Agora é hora de trazer suas garras para fora. Porra, eu adoro quando ela crava suas garras em mim. “E depois que tomar banho, você também vai me fazer feliz quando me deixar chupar seu clitóris sensível. Já faz muito tempo, baby.”

Meus quadris colidem poderosamente contra ela. A dor dos arranhões de suas unhas me faz gemer de prazer.

“Não pare,” ela implora contra minha orelha.

Eu nunca vou parar.

(35)

III

ESTOU QUEBRADA.

Usada.

Vazia.

Fodidamente perdida.

Meu travesseiro está encharcado de lágrimas. Dias e dias. Todos sangrando juntos. Estou perdida dentro deste turbilhão de dor. Incerta de onde tudo começa e onde termina. Porém, uma coisa é certa.

Duvan não está aqui comigo.

Heath o arrancou de mim. Ele entrou na minha vida, uma última vez, e levou o que não lhe pertencia. A dor em meu peito se intensifica.

Uma dor diferente daquela já colocou suas garras em mim. É como um animal enjaulado, desesperado para escapar. Mas, Deus me puniu — novamente — por algum motivo. Porque, desta vez, vou controlar esta besta sozinha. Esse animal atormentado devorou meu antigo eu. Antes disso, já achava ruim o suficiente terem tirado minha mãe de mim.

Agora, percebo que não era uma besta. Apenas um pequeno animal triste.

Mas o animal feroz em mim agora não é nada pequeno. Está devastando, esmagando e crescendo a cada segundo. O animal

também está muito irritado. Ela tem uma sede de sangue. O que ela queria devorar já se foi. Isso só deixa com sede de um homem.

Esteban.

(36)

O desejo costumava se apoderar de mim devido ao que ele podia me ofertar. A heroína. Felicidade aquecida que rouba toda a dor. Dessa vez, sei que se quiser usar isso novamente, posso resolver por conta própria. Sou capaz de me deslocar até a cidade, comprar o produto, e ficar chapada.

Se eu quisesse

Se eu não tivesse o bebê de Duvan crescendo dentro de mim.

Mas eu não quero.

O desejo que agora sinto quando penso em Esteban não é sobre drogas. É sobre fazê-lo sangrar. É sobre castigá-lo porque ele merece depois de tudo que fez. É sobre vingança. Eu quero que ele receba a dor que eu não posso dar a Heath porque ele já está morto.

Esteban será o único a pagar pelos pecados de Heath.

Eu quero que seu sangue cubra meus dedos quando arrancar seu coração do peito.

Afasto uma lágrima da minha bochecha, me sento e olho para o lugar vazio de Duvan. Na primeira noite, que chegamos a essa casa, papai tentou me consolar. Assim que a cama afundou com o seu peso, gritei para sair. Tive tanto medo que ele roubasse o aroma persistente que Duvan deixou para trás. Que ele tirasse as memórias do meu marido.

Além disso, não queria o conforto do meu pai.

Meu coração ainda sangra desde que ele me deixou. Quando fugiu com a assassina da minha mãe. Mesmo grata por ele ter me salvado de Heath, ainda não consigo deixar de sentir raiva dele.

As lágrimas rolam constantemente por minhas bochechas. Mas não é tristeza que está ameaçando me comer viva. É fúria,

ódio e raiva. Eu as recebi com entusiasmo. Essas

emoções ardentes não machucam. Elas anseiam

causar sofrimento.

(37)

Eu quero fazer alguém pagar por todos os erros que me fizeram.

Meus olhos descansam sobre uma foto na mesa de cabeceira de Duvan. É um selfie de nós dois. Um daqueles momentos em que ficamos enrolados assistindo filmes juntos. Quando estávamos felizes—exatamente como ele sempre desejou que eu fosse.

Nunca mais serei feliz.

Nunca.

Bile sobe em minha garganta e, mais uma vez, me faz lembrar que serei obrigada a ser feliz em algum momento. Saio da cama e chego ao banheiro a tempo de vomitar. Este pequeno presente de Duvan me deixou tão enjoada.

Fecho os olhos e chafurdo na miséria de perdê-lo. Se o meu pai tivesse chegado dez minutos antes, ele poderia ter salvado Duvan também. A vida é uma merda.

Minhas mãos tremem quando aperto o assento do vaso sanitário.

Eu olho para minha aliança. Ontem, encontrei força para verificar a mala que meu pai tinha arrumado para mim. No interior, encontrei meu laptop, algumas fotos minhas e de Duvan, minhas roupas, uma camisa de Duvan, e a sua aliança.

Agora, preciso agradecer.

Meu pai pode ter me abandonado, mas ele sempre compreendeu o amor e num momento tenso e apressado, ele teve a sensibilidade para pegar algo que era importante para mim. Agora, essa aliança gigante de Duvan pende da corrente em volta do meu pescoço, a mesma corrente que Ren me deu. Seguro, logo acima do meu coração, onde ele sempre estará.

Só o pensamento do corpo de Duvan se decompondo no mesmo espaço que o cadáver de Heath me faz vomitar

novamente. Lágrimas escorrem e minha garganta

coça. Se eu fosse chamar alguém, Luciana ou

papai estaria aqui em um instante para cuidar de

mim.

(38)

Mas eu não os quero.

Quero lidar com isso sozinha.

Isso é meu.

A mágoa. A dor. A perda. É tudo que me resta dele.

Finalmente, me sinto melhor e fico parada em pernas trêmulas. O chuveiro está quente e faz algo para acalmar minha alma em um estado dormente. Se pensar muito sobre tudo isso, começo a me sentir oprimida. O peso esmagador da realidade é demais. Anseio cortar meus pulsos e encontrar meu marido lá fora, na vida após a morte.

Mas cada vez que esses pensamentos obscuros vêm à minha mente, penso em nosso bebê. É o suficiente para extinguir essas ideias escuras.

Amarro uma toalha ao redor do meu corpo ainda molhado e caminho tremendo para o meu quarto. Eu andei por todos os cantos da casa para encontrar elementos que me lembram de Duvan.

Classificando seus documentos. Olhando fotos antigas. Qualquer coisa para me sentir mais próxima a ele.

Eu queria ter alguém com quem conversar. Claro, Luciana tem tentado através de mensagens de texto. Papai me segurou durante algumas esmagadoras crises de choro. Mas não é o suficiente. Subo na cama, pego o meu laptop e abro. O aplicativo Skype me diz que um dos meus amigos está online. Quando acesso, estou estranhamente satisfeita em notar que é Ren quem está conectado.

Ele estava me esperando fazer o login?

Será que ele quer falar comigo?

Eu soube, ao ouvir meu pai, que sua família sabe o que aconteceu. Ren testemunhou o horror. Isso me faz pensar

se ele está secretamente feliz em ter assistido meu

marido morrer. O pensamento me dá enjoo e raiva

me faz discar para ele.

(39)

O programa faz um sinal sonoro enquanto toca e depois o rosto de Ren aparece na minha tela. Não pensei em minhas ações. Agora estou sentada aqui, olhando seu rosto desfigurado, como se fosse um veado apanhado em um par de faróis. Seus olhos uma vez azuis estão endurecidos em uma cor mais escura. Quase preto. Seu rosto agora ostenta uma barba. Olheiras chamam a atenção ao que parece ser estresse ou falta de sono. Se achei que ele ficaria feliz por minha perda, estava enganada.

Ren é meu amigo.

Ao mesmo tempo, ele foi meu amante.

Ele não quer a minha dor.

“Brie”, ele murmura. "Jesus Cristo."

A emoção sufoca minha garganta, mas engulo e pisco as lágrimas que se formam em meus olhos. Ele não pergunta como estou. Ele não deixa escapar como horrível foi assistir dois homens morrerem poucos dias atrás. Ele não faz nada além de me encarar com o maxilar cerrado.

Não respondo. Meu coração dói demais para encontrar palavras. Em vez disso, solto uma respiração irregular e olho em volta. Finalmente, pego a aliança de Duvan que fica no meu colar e a fecho em minha mão em punho. Lágrimas quentes escorrem em meu rosto, mas, novamente, as palavras não saem.

Permanecemos em silêncio por algum tempo. Eu fico chorando silenciosamente e ele me envia mil palavras com apenas uma expressão simples.

Nós dois somos diferentes.

Duas novas pessoas.

Duas pessoas marcadas e arruinadas pelo nosso passado.

Eu nem sei mais quem ele é.

E eu certamente não me conheço.

(40)

Depois do que parecem horas, mas com base no relógio em minha tela, foram só um ou dois minutos, solto um suspiro áspero.

“Você tem notícias de Ozzy?” A minha pergunta é um sussurro pequeno—que quase não deixa minha garganta.

Seus olhos se fecham e ele acena concordando. Quando reabrem, seu olhar me prende. “Ele saiu naquele dia e disse que tinha que encontrar o pai.” Seu olhar cai até que não está mais trancado com o meu. “Ele disse que precisavam se livrar dos corpos.”

A culpa me consome. Deixei o corpo do meu marido morto em uma casa de praia alugada e saltei em um carro com o meu pai. Dirigimos trinta e uma horas para minha casa na Colômbia sem olhar para trás.

Se eu tivesse sido uma esposa melhor e não tão profundamente transtornada, teria implorado ao meu pai para chamar a polícia. Então, poderíamos dar a Duvan um enterro apropriado. Mas não fiz. Eu mergulhei no meu desespero. Até que saí disso hoje. Até a raiva tomar conta. Até que a clareza começou a se estabelecer.

Infelizmente, é tarde demais.

“Se você falar com ele, vai dizer para me ligar?” Pergunto. Apenas o pensamento de ver Oscar quebrado pela perda de seu irmão me deixa quase em lágrimas novamente.

“Eu vou,” ele promete com sua voz áspera. “Prometa que vai me ligar se as coisas ficarem muito difíceis. Eu estarei aí em um segundo.

Apenas diga as palavras, Brie.”

Eu forço um sorriso, mas acho que nem chega aos meus lábios.

Parece que meus lábios simplesmente se contorcem em vez disso.

"Estou bem."

“Brie...” suas sobrancelhas se juntam. "Seja cuidadosa."

O tom da sua advertência me causa calafrios.

“Cuide-se, Ren.”

Assim que termina nossa ligação, o desespero

colapsa ao meu redor. Levo a camisa de Duvan ao

(41)

meu coração e me encolho na cama. Meu estômago ronca depois de ter sido esvaziado, mas não faço nenhum esforço para levantar.

Nunca mais quero levantar.

Uma semana foi o suficiente para atenuar. Fui de chorar a cada passo dado até me arrastar como um zumbi. Luciana mal consegue me fazer comer quando tenta. Muitas vezes, meu pai tenta me fazer conversar. Mas não tenho nada a dizer. Eu sou uma concha.

Simplesmente empurrando com a barriga.

Isso é…

Até o Ren me ligar.

Nossas conversas no Skype não são realmente conversas.

Elas são mais como concursos de olhares. Eu o ouço jogar uma bola de tênis na parede enquanto Nine Inch Nails toca ao fundo. Ele me olha enquanto folheio álbuns de fotos da infância de Duvan. Ren ocasionalmente grita com Calder. Eu, às vezes, grito com meu pai para me deixar em paz. Nós dois estamos no mesmo plano, mas nunca cruzamos.

Não entendo o que está acontecendo dentro da sua cabeça. Mas eu sinto a fúria logo abaixo da superfície. Eu gosto que esteja com raiva de mim. O calor de sua ira me aquece como raios de sol em um caloroso dia de verão na Califórnia. Estou curiosa sobre a raiva que está fluindo dele. Ren sempre foi tão gentil e meigo. Nunca o vi ficar bravo com nada.

Anseio por arranhar minhas unhas ao longo da

sua pele até a irritação vir à tona. Para ver

exatamente por que existe. Para estimular até se

infectar e se espalhar. Quero ver mais

(42)

Sua raiva alimenta a minha.

Meu animal interior implora por devorá-lo.

“Onde quer que coloquem os sofás?” Escuto Calder interrogá-lo.

Minhas sobrancelhas franzem e me sento para ouvir melhor.

“Não sei. Não importa. Você é um menino grande,” rosna Ren.

"Resolva."

Quando Calder sai, Ren volta a jogar a bola contra a parede.

“Sofás?”

Sua cabeça inclina para a tela e franze a testa. "Mudando."

“Dos dormitórios?”

“E de casa,” ele resmunga.

Ele está zangado e desta vez não parece ser comigo. Estou morrendo de vontade de saber o que o incomoda. Sinto que ele está escondendo algo de mim

“Por quê?” Murmuro.

Ele arranca o boné de beisebol e joga longe. Seu cabelo castanho escuro está bagunçado. Mais do que eu lembro. Uma mecha cai sobre seu olho por um breve momento, antes dele passar os dedos pelo cabelo a afastando. Suas sobrancelhas escuras se juntam e seus olhos azuis escurecem. “Hannah. Não posso ficar lá enquanto...” ele para. Seus olhos cintilam com raiva e inflamam algo dentro de mim.

Ele não pode ficar lá por causa do que ela fez para a minha família.

Não sei por que isso me deixa feliz, mas acontece.

Sinto que ganhei uma batalha que não sabia que estava lutando.

“Como você pode pagar?”

Ele dá de ombros. “Papai liberou meu fundo

fiduciário. O Calder está comigo, porque ele também

(43)

não gosta da nossa fodida irmã. Além disso, acho que ele não está interessado em ser a babá reserva o tempo todo.”

Luto com um sorriso imaginando o grande Calder com um bebê no colo assistindo O Exterminador do Futuro e comendo pizza gordurosa.

Ele seria um terrível babá. Calder provavelmente daria ao bebê Mountain Dew

2

direto da garrafa ou algo assim.

Minha mão se estende automaticamente sobre minha barriga. Será que Duvan seria assim? Seria um pai relaxado ou ele seria superprotetor?

Acho que nunca vou saber.

“Você vai ficar aí para sempre?” Ele pergunta. “Quero dizer, é a sua casa agora, certo?”

Engulo antes de arrastar meu olhar para uma pilha na cama.

Revisei todos os seus documentos. Quando estive aqui antes, Duvan me trouxe coisas para assinar. Não prestei muita atenção porque não me importava. Só gostava de estar com ele—não com seus bens. Mas agora…

Eu sei que tenho muito com que lidar.

Primeiro, eu preciso descobrir o que fazer com esta casa. Não sei se vou ficar aqui, mas se não for, terei que vendê-la. E também, preciso decidir o que fazer com o prédio onde ele fabrica sua coca. Se eu pudesse encontrar Ozzy, ele poderia me ajudar. Mas de acordo com Ren, ele DESERTOU.

Então tem Vee.

Eu não tentei ligar para ela, mas Ren falou que ligou e foi ao seu apartamento diversas vezes. Ela simplesmente desapareceu. Conheço muito bem minha melhor amiga. Apesar de Heath ser um

lunático, ela amava seu pai. Vê-lo morrer deve ter

2 Refrigerante à base de lima-limão com um sabor cítrico marcante e cor verde neon inconfundível.

(44)

sido difícil. Ela provavelmente está em luto escondida na casa de seus pais.

Sinto falta dela.

“Brie...”

Afasto meus pensamentos e olho para Ren. Seu rosto está descuidado por não se barbear por vários dias. Isso, juntamente com o brilho feroz em seus olhos, o faz parecer mais áspero. Tão diferente do menino que lembro.

“Acho que um dia vou voltar. Primeiro, há tanta coisa para tratar aqui. Você conseguiu falar com Oscar?”

Ele balança a cabeça. "Não."

Estou prestes a dizer outra coisa quando a minha porta abre. O olhar atento do meu pai me encontra. Será que ele se arrepende de ter me abandonado. Não falamos sobre isso. Simplesmente empurrando com a barriga.

“Eu preciso ir,” digo a Ren.

“Acho que também preciso. Calder não é o lápis mais brilhante da caixa. Esses sofás provavelmente acabarão em seu quarto,” ele diz e estica o braço à frente encerrando a chamada. Sua camisa desliza por cima do braço e revela um pouco do preto de uma nova tatuagem escondida abaixo.

“Nova tatoo?”

"Sim. Ainda está em andamento.”

"Posso ver?"

Ele dá um meio sorriso que me aquece e acena com a cabeça.

Em seguida, agarra a parte inferior de sua camisa preta, deslizando por seu corpo e sobre sua cabeça.

A primeira coisa que noto pela imagem do Skype

é o quanto ele está musculoso. Quando fomos

amantes durante um breve período, ele já possuía

(45)

uma boa forma, mas magro. Agora, está enorme. Cada superfície do seu peito está firme e definido. Sua tatuagem tribal foi aumentada e agora cobre toda a metade superior do peito. Considerando que antes era pequena e só cobria uma pequena parte.

Mas o que me intriga é que parece ser tentáculos pretos ou algo rastejando em torno da sua costela e clavícula. Como se a criatura estivesse por trás dele e prestes a arrastá-lo para longe. É assustador, mas parece bem nele.

“É uma tatuagem nas costas. Ainda estou trabalhando nela,” ele me diz enquanto se vira.

Quando está de costas, eu me inclino para ver melhor. Mesmo com a baixa qualidade da nossa conexão, posso dizer que está realmente bem feita. Da base do crânio para quase sua bunda, está uma árvore gigante. Sem folhas. Apenas ramos torcidos e raízes que parecem alcançar os lados do seu corpo em direção à frente.

"Uau…"

Ele me permite olhar por alguns minutos. Por trás, ele quase não se parece mais com Ren. Seus ombros estão mais largos, seu pescoço um pouco mais grosso, e suas costas estão onduladas com músculos recém-definidos.

“Você apenas trabalha o tempo todo nisso? Para o inferno com a escola,” brinco. Ou, pelo menos, espero que tenha soado de uma forma provocadora. Mas ultimamente, não tenho conseguido e, assim que as palavras saem da minha boca, percebo que elas ecoam mais como algo desdenhoso e no limite do grosseiro.

Ele se vira e me encara. Eu não estou acostumada a seus olhares endurecidos. Um tremor se espalha em mim.

“Só estou fazendo duas disciplinas este semestre. Precisava de uma pausa. As duas são cursos online. Então,

sim,” ele grunhe. “Eu tenho usado o meu tempo

extra para finalizar isso.”

(46)

Mordo meu lábio inferior enquanto olho para ele. “Você vai estar aqui mais tarde?”

Ele pega sua camisa e começa a colocá-la novamente. “Eu vou te encontrar, Brie.” Sua cabeça aparece de volta através da camisa e seus olhos azuis estão nos meus, fazendo promessas que não entendo.

Promessas que não quero entender. Suas palavras, embora simples, são carregadas com duplo sentido.

“Certo,” digo com um leve aceno de cabeça. “Falamos mais tarde.”

Rapidamente, pressiono o botão para encerrar a nossa chamada.

Quando olho para trás, papai ainda está parado na porta.

“Entre,” eu gemo. Não estou no clima para conversa. Não estou com vontade de comer. Não estou com disposição para qualquer coisa.

Meu pai empurra a porta e entra como se esta fosse a sua casa.

Passando pela cama, ele caminha até a janela. De costas para mim, fala em um tom brusco. “Vamos falar sobre o que aconteceu?”

Estremeço. “Você viu o que aconteceu. Você estava lá,” respondo ríspida.

Ele olha para mim por cima do ombro, com os olhos castanhos semicerrados. “Não é sobre isso, baby Brie. É sobre nós. É sobre como eu abandonei você.”

A dor me apunhala de dentro para fora e preciso quebrar nosso olhar. Olho para as mãos para não chorar. "Eu não consegui entender por que você me abandonou. Ainda não entendo. Doeu tanto, papai."

Escuto seus passos se aproximando, mas ainda não olho. Ele afasta o laptop e senta ao meu lado. Eu não coloco resistência quando ele pega a minha mão. Verdade seja dita, sinto falta do conforto do meu pai. Eu sinto falta de como éramos próximos. Mãe estava sempre

trabalhando, por isso era somente eu e ele. Sempre.

“Eu pensei que estava fazendo a coisa certa.

Quando te deixei, nunca quis que nada

(47)

acontecesse com sua mãe. E então...” ele interrompe, com a voz rouca.

“Hannah cortou a garganta da mamãe,” eu o lembro em um tom amargo.

Ele aperta minha mão. “Não sabia que ela tinha feito isso. Eu juro que nunca teria deixado você encontrar uma cena tão terrível. Mas então, não era seguro voltar para casa. Eu era um homem procurado.

Quer dizer, eu sempre fui um homem procurado, mas os holofotes estavam voltados para mim. Eles teriam me levado para a prisão no momento que me aproximasse de você.”

O pensamento do meu pai na prisão me angustia. Eu me lembro de ser uma garotinha e ele advertindo, que caso fosse levado embora, ele sempre me amaria. Que nunca foi uma mentira. Nosso amor era real.

Eu não consegui entender na época. Mas depois que mamãe morreu, sua verdadeira história estava em todos os noticiários. As coisas terríveis que tinha feito no passado. As pessoas que ele matou.

Isso deveria ter me deixado com medo dele, mas nunca, ele não permitiu. O pai que eu conhecia não era assim. Pelo menos não comigo.

E quando ele eliminou o Heath, tudo o que desejei foi que o tivesse feito mais cedo.

“Heath Berkley me aprisionou. Eu era seu pequeno peão.” Engasgo.

Posso sentir sua raiva do meu lado. É como uma onda de ódio nublando o ar à nossa volta. Não me sufoca e nem destrói. Em vez disso, isso me aquece. Respiro e aguento.

“War deveria garantir que você estivesse segura. Eu juro, baby, eu fiquei de olho em você. Algumas vezes, até entrei nas festas daquele filho da puta, só para ter um vislumbre seu. Cada vez, você parecia tão...”

Ele deve ter me visto saindo com Oscar e Vee. Quando estava com eles, sempre estava feliz.

“Ren cuidou de mim,” digo a ele e, finalmente,

encontro o seu olhar.

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