Universidade Federal do Rio de Janeiro
Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto, uma perspectiva sociolingüística e discursiva:
amostras de Madri, Cidade do México e Buenos Aires
Cíntia Ferreira dos Santos
VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,
UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES
Por
Cíntia Ferreira dos Santos
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Orientadora: Profa. Doutora Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Prof. Doutor Uli Reich
VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,
UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES
Cíntia Ferreira dos Santos
Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
Examinada por:
_____________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Leticia Rebollo Couto
_____________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold – UFRJ
_____________________________________________________________ Prof. Doutor Xoán Carlos Lagares Diez – UFF
_____________________________________________________________ Prof. Doutor Afranio Gonçalves Barbosa – UFRJ, Suplente
_____________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio – UFRJ, Suplente
Santos, Cíntia Ferreira dos.
Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto, uma perspectiva sociolingüística e discursiva: amostras de Madri, Cidade do México e Buenos Aires/ Cíntia Ferreira dos Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2009.
xviii, 259f.:il.; 31cm.
Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich.
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Língua Espanhola), 2009.
Referências Bibliográficas: f. 194-198.
AGRADECIMENTOS A Deus!
Aos meus pais, Ivane e Antonio, a quem eu agradeço pela vida, pelo incentivo, por sempre terem acreditado em mim e por terem participado na conquista de mais uma vitória.
À minha irmã Patrícia, quem sempre me apoiou e me ajudou nos momentos em que eu precisei.
Ao Ton, quem esteve comigo ao longo dessa caminhada e de tantas outras. Agradeço a cumplicidade, a presença e o companheirismo. Sem ele não teria percorrido esse caminho.
À Alaine Lazaroni, minha amiga-irmã, pela verdadeira amizade ao longo da minha vida acadêmica, pelo apoio incondicional, por me ouvir e por estar presente em tantos momentos.
À Aline Donato, grande amiga e companheira de profissão. Agradeço a amizade, as horas no telefone e as maravilhosas conversas sobre o espanhol.
À grande amiga Astrid Garcia. Pelas palavras de incentivo, de fé e pelo carinho.
À Cristina Blasco, com quem dividi as alegrias e ansiedades da Iniciação Científica e do Mestrado.
A Elias Ferreira, quem me proporcionou os momentos mais divertidos no decorrer dessa trajetória, além da parceria nas tardes de sábado.
À mais nova amiga, Giselle Esteves, a quem eu agradeço imensamente pela ajuda com o Goldvarb e principalmente, pelas palavras de fé, de amizade e de conforto.
A Jorge Luís Rocha, pela parceria na Capacitação Didática, por ter me ajudado inúmeras vezes com o pc e, principalmente, por me transmitir tranqüilidade nos momentos difíceis.
Às amigas Renata Romanel e Simone Simões que desde o começo do Ensino Médio sempre estiveram presentes e acreditaram em mim.
À Sabrina Lima, quem me ajudou em todos os momentos, tirando as minhas dúvidas e tentando me tranqüilizar.
Ao trio Samara Santana, Bruno Alberto e Priscila Santos pelo apoio, pelos momentos de descontração e como não poderia esquecer, aos dois últimos, pela ajuda técnica.
Aos amigos claquianos de espanhol: Aiga Coutinho, Alessandro Barges, Aline Almeida, Aline Donato, Ana Luisa Reyero, Carolina Parrini, Cristina Blasco, Daniele Magalhães, Diego Vargas, Diogo Moreno, Eduardo Alves, Fátima Oliveira, Fátima Vieira, Gláucia Felismino, Jack Mattos, Jorge Macario, Josiane Evangelista, Juan Antonio, Magda Batista, Monique Oliveira, Natalia Figueiredo, Raquel Lemos, Renato Vazquez, Rosângela Lannes, Sílvia, Thais Marçal e Zulmira Basílio, pelo carinho, pelo companheirismo e pelas trocas maravilhosas de experiência.
Aos amigos da graduação, sobretudo: Alaine Lazaroni, Alessandro Barges, Andréa Targino, Camila Lemos, Clarice Pinheiro, Elias Ferreira, Fabíola Hernandez, Juliana Novo, Leonardo Lennertz, Luana Guimarães, Marcos Coimbra, Rachel Cardoso, Renata Paz, Sabrina Lima, Thiago Giammattey e Waniston Celeri, pela amizade, pela confiança depositada em mim e pelo apoio.
Aos amigos e companheiros de mestrado: Dorcas Vieira, Leila Paz, Marianna Vasconcellos, Renato Vazquez, Rosilene Januário, Thiago Simões e Waniston Celeri. Obrigada pelo incentivo, pelas ajudas e pela amizade.
Aos meus queridos alunos, que sempre me apoiaram e acreditaram em mim.
À professora Myriam Brito, pelas excepcionais aulas de Inglês Instrumental, que permitiram também a minha entrada no Mestrado.
À querida Tia Beth, a quem eu devo muito do que eu sou hoje e por ter despertado ainda mais em mim o amor pelo Magistério.
Aos professores que fizeram parte da minha história: Afonso, Antonio Sérgio, Célia Regina, Denise, Eline Resende, Greice, Leticia Rebollo, Luciano, Márcia Machado, Mauricio, Mauro, Mercedes Sebold, Mizael Silva, Miriam Brito, Tia Beth Bicchieri e Tia Clarisse, seja pelo carinho, pela admiração, pelo exemplo ou simplesmente por terem marcado a minha vida escolar / acadêmica.
Ao Prof. Doutor Xoán Lagares e à Profa Doutora Mercedes Sebold, por terem aceitado fazer parte da minha banca.
Às professoras Consuelo Alfaro e Mercedes Sebold, que acompanharam a minha pesquisa bem de perto e sempre me ajudaram, com material emprestado, com discussões nas salas, nos corredores.
Ao meu co-orientador Uli Reich pelas poucas, mas valiosas orientações durante o Mestrado.
A Capes, pelo apoio financeiro.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Leticia Rebollo,
pelas singulares aulas de Língua Espanhola na graduação, por ter me convidado para a pesquisa,
assim como pelas oportunidades e portas que me abriu.
SINOPSE
RESUMO
VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,
UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES
Cíntia Ferreira dos Santos
Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
O presente trabalho consiste na distribuição dos pretéritos simples e composto em três diferentes centros urbanos contemporâneos: Madri, Cidade do México e Buenos Aires, a partir de uma perspectiva sociolingüística e discursiva. Além das diferenças dialetais e das respectivas tendências de mudança em cada uma das três variantes consideradas, são analisados como fatores de variação: (a) fatores discursivos (como tipos de texto, tipos de seqüências textuais, tradições discursivas), (b) fatores semântico-pragmáticos (como tempo, aspecto, intencionalidade, tipos de verbo e de circunstância temporal) e (c) fatores sintáticos (como subordinação, polaridade, pessoas do discurso). Controlam-se esses fatores em amostras de corpus escrito (notícias internacionais online) e em amostras de corpus de fala espontânea (entrevistas sociolingüísticas transcritas).
Palavras-chave: pretéritos simples e composto, variação e mudança lingüística, tradições discursivas
RESUMEN
VARIACIÓN Y CAMBIO LINGÜÍSTICO DE LOS PRETÉRITOS SIMPLE Y COMPUESTO,
UNA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA Y DISCURSIVA: MUESTRAS DE MADRID, CIUDAD DE MÉXICO Y BUENOS AIRES
Cíntia Ferreira dos Santos
Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich
Resumen: Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
El presente trabajo consiste en la distribución de los pretéritos simple y compuesto en tres diferentes centros urbanos contemporáneos: Madrid, Ciudad de México y Buenos Aires, a partir de una perspectiva sociolingüística y discursiva. Además de las diferencias dialectales y de las respectivas tendencias de cambio en cada una de las tres variantes consideradas, se analizan como factores de variación: (a) factores discursivos (como tipos de texto, tipos de secuencias textuales, tradiciones discursivas), (b) factores semántico pragmáticos (como tiempo, aspecto, intencionalidad, tipos de verbo y de circunstancia temporal) y (c) factores sintácticos (como subordinación, polaridad, personas del discurso). Se controlan estos factores en muestras de corpus escrito (noticias internacionales online) y en muestras de corpus de habla espontánea (entrevistas sociolingüísticas transcriptas).
Palabras clave: pretéritos simple y compuesto, variación y cambio lingüístico, tradiciones discursivas
SUMÁRIO
ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS...15
ABREVIATURAS E CONVENÇÕES...18
1. INTRODUÇÃO...19
1.1 Tema...19
1.2 Objetivos...20
1.3 Hipóteses...21
1.4 Estrutura da dissertação...23
2. REFERENCIAL TEÓRICO...25
2.1 Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto no espanhol...25
2.1.1 A variação e a mudança lingüística...25
2.1.2 Evolução histórica dos pretéritos...27
2.1.3 A oposição entre os pretéritos simples e composto...31
2.1.4 A distribuição dos pretéritos nas variantes selecionadas...34
2.1.4.1 O uso dos pretéritos no espanhol castelhano...35
2.1.4.2 O uso dos pretéritos no espanhol mexicano...36
2.1.4.3 O uso dos pretéritos no espanhol argentino...38
2.1.5 Pretéritos simples e composto: questões terminológicas...39
2.2 Estudo dos pretéritos simples e composto no espanhol através dos gêneros e das tradições discursivas...41
2.2.1 Conceito de gêneros e tipos textuais...41
2.2.2 Tipos de texto: as seqüências textuais...42
2.2.3 Modos de organização do discurso...44
2.2.4 Gêneros textuais em análise...46
2.2.4.1 Entrevistas sociolingüísticas...46
2.2.4.2 Notícias internacionais...47
2.2.5 O papel das tradições discursivas (TDs)...49
2.2.5.1 Origem das TDs...49
2.2.5.2 Conceito e importância das TDs...51
2.3 Semântica e Pragmática dos pretéritos...53
2.3.1 O valor temporal (definindo conceitos)...53
2.3.2 O valor aspectual (definindo conceitos)...54
2.3.3 Os tipos de verbo (o valor semântico)...56
2.3.4 As circunstâncias temporais...58
2.3.5 O valor pragmático dos pretéritos (a intencionalidade)...60
2.3.6 A hot news perfect...62
3. ENFOQUE METODOLÓGICO...65
3.1 Corpus...65
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS NOS TRÊS CENTROS URBANOS
(MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES)...75
4.1 Tempo verbal (variável dependente)...75
4.2 Gênero textual...78
4.2.1 Notícias...78
4.2.2 Entrevistas...80
4.3 Organização discursiva...82
4.3.1 Notícias...83
4.3.2 Entrevistas...89
4.4 Seqüência discursiva...100
4.4.1 Notícias...101
4.4.2 Entrevistas...105
4.5 Circunstância temporal...109
4.5.1 Notícias...111
4.5.2 Entrevistas...120
4.6 Polaridade...129
4.6.1 Notícias...129
4.6.2 Entrevistas...133
4.7 Posição da circunstância temporal...137
4.7.1 Notícias...137
4.7.2 Entrevistas...139
4.8 Subordinação...141
4.8.1 Notícias...142
4.8.2 Entrevistas...144
4.9 Temporalidade...146
4.9.1 Notícias...147
4.9.2 Entrevistas...151
4.10 Aspecto...157
4.10.1 Notícias...158
4.10.2 Entrevistas...160
4.11 Tipos de verbo...163
4.11.1 Notícias...164
4.11.2 Entrevistas...166
4.12 Sujeito...170
4.12.1 Notícias...170
4.12.2 Entrevistas...172
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...174
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...194
7. ANEXO...199
7.1 Notícias...199
7.1.1 Notícia 1 (Madri) ...200
7.1.2 Notícia 1 (Cidade do México) ...203
7.1.3 Notícia 1 (Buenos Aires) ...204
7.1.4 Notícia 2 (Madri) ...206
7.1.5 Notícia 2 (Cidade do México) ...207
7.1.7 Notícia 3 (Madri) ...209
7.1.8 Notícia 3 (Cidade do México) ...211
7.1.9 Notícia 3 (Buenos Aires) ...213
7.1.10 Notícia 4 (Madri) ...216
7.1.11 Notícia 4 (Cidade do México) ...219
7.1.12 Notícia 4 (Buenos Aires) ...221
7.1.13 Notícia 5 (Madri) ...223
7.1.14 Notícia 5 (Cidade do México) ...226
7.1.15 Notícia 5 (Buenos Aires) ...227
7.2 Entrevistas...230
7.2.1 Entrevista 1 (Madri) ...231
7.2.2 Entrevista 1 (Cidade do México) ...243
ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS
QUADROS
Quadro 1: Diferentes nomenclaturas atribuídas aos pretéritos simples e composto...40
Quadro 2: Os níveis da língua, segundo Koch (1997) ...49
Quadro 3: Processos e seus significados, segundo Halliday (1997)...58
Quadro 4: Notícias internacionais online...66
Quadro 5: Entrevistas sociolingüísticas transcritas (Informantes)...67
Quadro 6: Total de ocorrências de pretéritos no corpus...69
Quadro 7: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias de Madri...114
Quadro 8: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias da Cidade do México...115
Quadro 9: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias de Buenos Aires...117
Quadro 10: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas notícias...118
Quadro 11: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista de Madri...122
Quadro 12: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista da Cidade do México...124
Quadro 13: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista de Buenos Aires...125
Quadro 14: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas entrevistas...127
Quadro 15: Repertório de marcas de negação encontradas nas notícias...130
Quadro 16: Circunstância temporal nunca em roteiros espanhóis e hispano-americanos...132
Quadro 17: Repertório de marcas de negação encontradas nas entrevistas...134
FIGURAS Figura 1: Evolução histórica do perfeito em romance (HABEŌ FACTUM), segundo Martin Harris (1982)...29
Figura 3: Representação da evocação e da repetição: TDs (Kabatek, 2006)...51
Figura 4: Questão DELE (Nível Intermediário, Maio de 2006)...192
TABELAS Tabela 1: Total de ocorrências de pretéritos por gênero textual...76
Tabela 2: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas notícias...78
Tabela 3: Total de ocorrências de pretéritos por verbos dicendi...79
Tabela 4: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas entrevistas...80
Tabela 5: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva (notícias)...83
Tabela 6: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva (entrevistas)...89
Tabela 7: Detalhamento das ocorrências de pretéritos no encadeamento de turnos de fala (entrevistas)...95
Tabela 8: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva (notícias)...101
Tabela 9: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva (entrevistas)...105
Tabela 10: Total das ocorrências de pretéritos com/sem circunstância temporal (notícias)...111
Tabela 11: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal (notícias)...112
Tabela 12: Total das ocorrências de pretéritos com/sem circunstância temporal (entrevistas)...120
Tabela 13: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal (entrevistas)...121
Tabela 14: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade (notícias)...129
Tabela 15: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade (entrevistas)...133
Tabela 17: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por posição da circunstância temporal (entrevistas)...139
Tabela 18: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas (notícias)...142
Tabela 19: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação (notícias)...143
Tabela 20: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas (entrevistas)...144
Tabela 21: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação (entrevistas)...144
Tabela 22: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade (notícias)...147
Tabela 23: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade (entrevistas)...151
Tabela 24: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto (notícias)...158
Tabela 25: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto (entrevistas)...160
Tabela 26: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo (notícias)...164
Tabela 27: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo (entrevistas)...166
Tabela 28: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por sujeito (notícias)...170
ABREVIATURAS E CONVENÇÕES
E/LE → Espanhol como Língua Estrangeira
Entr. → Entrevistador
Inf. → Informante
Oco → Ocorrência
PC → Pretérito Composto
PS → Pretérito Simples
P1 →yo
P2 →tú
P3 →él/ella/usted
P4 →nosotros/as
P5 →vosotros/as
P6 →ellos/ellas/ustedes
1. INTRODUÇÃO
1.1 Tema
Neste trabalho propomos um estudo da distribuição dos pretéritos simples e
composto em diferentes centros urbanos contemporâneos: Madri, Cidade do México e
Buenos Aires1, pertencentes a três diferentes áreas geoletais do espanhol2, a partir de
uma perspectiva sociolingüística e discursiva.
Além de considerarmos as diferenças dialetais na evolução histórica dos
pretéritos e as respectivas tendências de mudança em cada uma das três variantes
consideradas, analisamos como fatores de variação: (a) fatores discursivos (como tipos
de texto, tipos de seqüências textuais, tradições discursivas), (b) fatores
semântico-pragmáticos (como tempo, aspecto, intencionalidade, tipos de verbo e de circunstância
temporal) e (c) fatores sintáticos (como subordinação, polaridade, pessoas do discurso).
Controlamos esses fatores em amostras de corpus escrito (notícias internacionais online) e em amostras de corpus de fala espontânea (entrevistas sociolingüísticas transcritas). Partimos de um estudo quantitativo e qualitativo para analisar as
ocorrências.
De acordo com Eberenz (2004), a variante castelhana estaria em uma etapa mais
avançada de mudança com relação aos usos latinos do pretérito composto, em outras
palavras, estaria avançando sobre os contextos de uso do simples, o que também pode
ser verificado em outras línguas românicas. Acreditamos que este processo de variação
e mudança também está condicionado nas diferentes variantes dialetais por
procedimentos textuais e pragmáticos, e que as tradições discursivas explicam ou
consolidam a variação e a mudança do uso, como veremos ao longo do presente
trabalho.
1
A escolha dos centros urbanos Madri, Cidade do México e Buenos Aires se deve ao fato de que são os centros urbanos mais estudados e que apresentam grande bibliografia com relação à distribuição dos pretéritos. No entanto, na nossa pesquisa, trazemos uma análise diferenciada e controlamos fatores que ainda não foram analisados no estudo dos pretéritos.
2
1.2 Objetivos
Os objetivos dessa dissertação são:
1) levantar informações histórica e descritiva sobre a variação dos pretéritos simples e
composto no espanhol;
2) investigar a distribuição das formas verbais de passado em amostras escritas e orais
de Madri, Cidade do México e Buenos Aires;
3) depreender os condicionamentos que levam à oposição dos pretéritos nos três centros
urbanos selecionados;
4) verificar as funções discursivas, semântico-pragmáticas e sintáticas que favorecem ou
inibem a alternância no uso das formas simples e composta;
5) investigar se fatores como a temporalidade, as circunstâncias temporais e as tradições
discursivas são determinantes para a escolha de um tempo verbal ou outro;
6) verificar os diferentes valores de uso do pretérito composto, enquanto forma mais ou
menos freqüente e, conseqüentemente, como forma mais ou menos marcada, nas
amostras dos 3 centros urbanos;
7) descrever os usos dos pretéritos em amostras do espanhol contemporâneo com a
intenção de contribuir para estudos de variação lingüística da língua espanhola;
8) promover uma reflexão sobre a diferença no uso desses tempos verbais e a sua
distribuição no âmbito do ensino de E/LE no Brasil, contribuindo, assim, para a
1.3 Hipóteses
Embora Madri, Cidade do México e Buenos Aires, e as suas respectivas
variantes dialetais, tenham sido já bastante descritas com relação aos processos de
variação e mudança no uso dos pretéritos simples e composto, acreditamos que esse
fenômeno lingüístico não é tão esquemático quanto parece, nem a sua distribuição tão
uniforme, tanto do ponto de vista geoletal quanto discursivo. Sendo assim, propomos
um estudo dos pretéritos a partir de uma perspectiva sociolingüística e discursiva com
base em fatores discursivos, semântico-pragmáticos e sintáticos.
A seleção do grupo de fatores para a análise dos pretéritos encontrados nas
amostras escritas e orais está totalmente relacionada com as nossas hipóteses, que são:
1) acreditamos que nos dados de Madri, haja predominância do pretérito composto, que
estaria avançando sobre contextos de uso do simples, enquanto que nos dados da Cidade
do México e de Buenos Aires haja uma maior freqüência de uso do pretérito simples, o
que refletiria um caráter mais conservador com relação à evolução latina;
2) supomos que a seleção dos pretéritos seja variável nos textos dos três centros urbanos
analisados em função dos diferentes gêneros textuais, em parte pela influência ou
condicionamento das tradições discursivas, que exercem pressão sobre os gêneros;
3) cogitamos que a seleção das formas de passado seja variável nos textos dos três
centros urbanos analisados em função das diferentes organizações discursivas: as partes
da notícia e os encadeamentos de turnos de fala;
4) é possível que a seleção seja variável nas seqüências narrativas, enunciativas,
descritivas e argumentativas e que haja diferenças significativas entre as mesmas
seqüências no gênero oral e escrito, considerando a mesma variante dialetal;
5) não negamos que a circunstância temporal carregue valores semânticos e atribua
valores à forma verbal ou à frase em que está inserida, no entanto, acreditamos que
talvez não seja um fator tão determinante na seleção dos pretéritos como se costuma
6) é possível que a polaridade negativa seja um fator que condicione o emprego da
forma composta, sobretudo nas amostras de Buenos Aires;
7) acreditamos que a ordem de palavras não esteja necessariamente relacionada à
seleção dos pretéritos, mas sim a outros condicionamentos sintáticos, tais como
subordinação ou coordenação;
8) supomos que na subordinação, o pretérito composto seja mais comum nas orações
subordinadas do que nas principais, o que nos leva a acreditar que a ocorrência da forma
composta nas principais seria um avanço da variação no emprego dos pretéritos;
9) acreditamos, no que diz respeito à temporalidade, que a variante de Madri seja a mais
inovadora - os usos do composto estariam bem mais estendidos que nas variantes da
Cidade do México e de Buenos Aires, estando entre a etapa 3 → 4. Em segundo lugar,
viria a Cidade do México, que estaria entre a etapa 2 → 3 e a variante mais
conservadora seria a de Buenos Aires, na etapa 2;
10) supomos que o aspecto seja pertinente, sobretudo, nos casos da Cidade do México e
Buenos Aires, que estariam na etapa 2 de variação e mudança, frente aos resultados de
Madri, que assinalariam uma tendência mais avançada de inovação;
11) cogitamos que, do ponto de vista semântico-funcional, os tipos de verbos possam
ser um fator relevante na seleção dos pretéritos;
12) não acreditamos que a afetividade ou a subjetividade sejam fatores condicionadores
do uso do simples ou do composto, mas sim que a distribuição dos sujeitos esteja mais
1.4 Estrutura da dissertação
Após este capítulo introdutório, há cinco capítulos que compõem a dissertação.
O capítulo 2, o nosso referencial teórico, está dividido em três partes. Na primeira
parte, queremos demonstrar que a língua é variável e que se manifesta de modo
variável. Fazemos uma breve explanação sobre a evolução histórica dos pretéritos
simples e composto no espanhol com o objetivo de entender a sua variação e mudança
atual. Em seguida, apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o que se tem dito
acerca do nosso objeto de estudo, assim como o que apontam estudos focados nos
centros urbanos que selecionamos (a saber, Madri, Cidade do México e Buenos Aires).
Objetivamos comparar tais estudos com os resultados encontrados no presente trabalho.
Uma questão que também nos parece importante abordar neste capítulo diz respeito à
nomenclatura que decidimos adotar para as formas verbais de passado. Em meio a
tantos termos propostos pela tradição gramatical, a denominação de pretérito simples e pretérito composto, nos pareceu a mais pertinente porque está baseada numa definição morfológica.
Na segunda parte, desenvolvemos um estudo dos gêneros textuais e das
tradições discursivas, fatores que consideramos também de grande importância para
compreender a oposição dos passados. Não é nosso interesse fazer uma análise teórica
profunda nem uma revisão minuciosa dos tipos e dos gêneros textuais, o que nos parece
relevante é, a partir de alguns postulados, verificar, na análise dos dados, que seqüência
discursiva condiciona ou inibe a oposição dos passados e / ou em que seqüência
discursiva é mais freqüente o uso de um e de outro tempo verbal, além de assinalar
como as tradições discursivas explicam ou consolidam a mudança e a variação do uso.
Na terceira e última parte do nosso referencial teórico, centramo-nos em um dos
pontos mais discutidos acerca da oposição das formas verbais de passado em análise.
Trata-se das noções temporal e aspectual atribuída à categoria verbal. Primeiramente
apresentamos uma breve síntese sobre as definições de tempo e aspecto. Como o valor
temporal e o aspectual não se restringem apenas à categoria verbal, apresentamos
também um breve estudo das circunstâncias temporais, assim como uma classificação
dos tipos de verbo, uma vez que acreditamos que o valor semântico intrínseco à
morfologia verbal também possa ser um fator que condicione a escolha de uma ou outra
forma de passado. Em seguida, discutimos o valor pragmático que o falante atribui à
Estratégia essa que no meio jornalístico é conhecida por hot news perfect e que é bastante produtiva por atribuir relevância atual a uma informação.
O capítulo 3 é dedicado ao enfoque metodológico da pesquisa e contém
informações acerca das amostras do corpus (escrito e oral) e dos procedimentos para a análise dos dados, ou seja, das 12 variáveis independentes selecionadas para a análise da
nossa variável dependente (os pretéritos simples e composto).
No capítulo 4 estão concentradas a descrição e a análise dos dados a partir das
variáveis selecionadas (1 variável dependente e 12 variáveis independentes).
Apresentamos uma análise inovadora dos pretéritos no espanhol para um possível
mapeamento dos contextos relevantes para uma descrição do uso e valores dessas
formas verbais de passado em cada centro urbano estudado.
No capítulo 5 apresentamos as considerações finais relativas ao estudo
desenvolvido, bem como uma reflexão sobre as contribuições da pesquisa para o ensino
de Espanhol como Língua Estrangeira no Brasil.
Finalmente, no capítulo 6, temos as referências bibliográficas fundamentais para
o desenvolvimento da pesquisa, seguidas dos anexos (notícias internacionais online como amostra de língua escrita e entrevistas sociolingüísticas transcritas como amostra
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto no espanhol 2.1.1 A variação e a mudança lingüística
De acordo com Brandão (1991), é por meio da língua que o homem expressa as
suas idéias, as idéias de sua geração, as idéias da comunidade a que se pertence, as
idéias do seu tempo. A todo instante a utiliza de acordo com uma tradição que lhe foi
transmitida, e contribui para sua renovação e constante transformação. Cada falante é, a um tempo, usuário e agente modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas
pelas novas situações com que se depara.
Segundo Penny (2000), todos os aspectos da língua estão sujeitos à variação,
sejam eles referentes aos sons, fonemas, morfemas, estruturas sintáticas, lexemas ou
significados, e acrescenta que as línguas variam de duas maneiras idênticas, geográfica
e socialmente. Para o autor, esses dois parâmetros, através dos quais se dá a variação,
estão inter-relacionados, a pesar de que, em princípio, podem ser estudados
independentes um do outro.
Assim como Penny (2000), Moreno Fernández (1999), afirma que a variação,
definida como o uso alterno de formas diferentes de dizer a mesma coisa, pode ser
encontrada praticamente em todos os níveis da língua, desde o mais concreto
(fonético-fonológico) ao mais amplo (o discurso, por exemplo), passando pela gramática e o
léxico. Acrescenta que, para explicar o funcionamento desses usos, pode-se prestar
atenção, separada ou conjuntamente, a fatores extralingüísticos como históricos,
geográficos, contextuais e sociais.
Sabemos que falantes de uma mesma língua que vivem em diferentes partes de
um território contínuo não falam da mesma maneira. A variação se dá geralmente de
forma suave e gradual. A fala de cada localidade difere em algum ou em vários de seus
traços de outra localidade, mas sem prejudicar a compreensão mútua. É evidente que em
nenhum lugar as pessoas falam da mesma forma, ainda que tenham nascido no mesmo
lugar. As diferenças de fala se correlacionam com um ou mais fatores sociais, como por
exemplo, idade, sexo, raça, classe social, instrução e outros. Um mesmo falante não se
limita a usar apenas uma variante a partir do total de modalidades das que dispõe a
comunidade. Cada indivíduo domina, ao menos, parte desse total e seleciona uma
informais, íntimas...), inclusive, no mesmo entorno de fala, o indivíduo pode alternar
entre duas ou mais variantes.
Halliday (apud: Penny, 2000), distingue três parâmetros de variação de registro: a) campo – dentro do qual a variação está determinada pelo propósito e o tema da comunicação, b) modo – que controla as variações causadas pelo canal oral ou escrito da comunicação e c) tom – segundo o qual, a variação vem condicionada pela pessoa a quem se dirige a comunicação. Sendo assim, ao selecionar entre os determinados traços
da língua, o falante se coloca em uma posição particular dentro de uma matriz social
complexa.
É importante ressaltar que a variação não é um fenômeno livre, aleatório. De
acordo com Labov (1994), essa heterogeneidade é ordenada. Há fatores, sejam sociais,
lingüísticos ou geográficos, que a condicionam. A variabilidade faz parte da essência da
língua e pode ser encontrada, como dito anteriormente, em praticamente todos os níveis
lingüísticos (fonético-fonológico, lexical, gramatical, discursivo). Durante o período de
variação, uma forma nova e outra conservadora coexistem no falante, uma vez que esse
fenômeno de variação é um processo contínuo.
Apesar de que a variação assinale instabilidade do sistema, nem toda variação
indica necessariamente uma mudança. Citando o postulado de Weinreinch, Labov e
Herzog, nem toda variabilidade e heterogeneidade na estrutura lingüística envolve
mudança, mas todas as mudanças implicam variabilidade e heterogeneidade (Labov,
1994).
Há, pelo menos, duas hipóteses para a implantação estrutural da mudança, por
um lado, pressupõe-se que a variante inovadora se instala imediatamente em todos os
seus possíveis contextos e progride a uma taxa constante, por outro lado, pressupõe-se
que a forma inovadora vai gradativamente ampliando seus contextos até a sua
consecução. É importante ressaltar que essas hipóteses podem não ser excludentes.
Embora estejamos distantes de entender todos os fatores que aceleram ou freiam
a mudança lingüística, parece bastante certo que, em alguns lugares e momentos, a
mudança é mais rápida que em outros, ou seja, que na história de uma variedade em
particular há diferentes velocidades de inovação (Penny, 2000).
Retomando o postulado de Labov (1999) de que a variação não é aleatória, mas
sim o reflexo de uma heterogeneidade ordenada, procuramos, nesse trabalho, entender a
e / ou a certa regularidade na alternância dos passados nas variantes selecionadas, um
tema tão tratado e que, no entanto, ainda apresenta muitas interrogações e inquietações.
2.1.2 Evolução histórica dos pretéritos
A progressiva difusão dos tempos compostos com haver ou ser e o particípio passado levou a reajustes em vários setores do sistema verbal. O castelhano medieval
empregava, como outras línguas românicas, o verbo ser com uma série de verbos intransitivos. No entanto, o verbo haver também era empregado com tais verbos. Durante o século XV, o uso de haver começa a se estender a partir de certas variedades e acaba por triunfar no período clássico. Por volta do século XVII, termina a completa
gramaticalização dos tempos compostos, com a especialização de haver como único auxiliar de pretérito e de ser como auxiliar da voz passiva. O caso mais notável de reestruturação do latim falado é a substituição de CANTĀVĪ por HABEŌ
CANTĀTUM:
Latim clássico Latim falado Espanhol medieval
CANTĀVĪ HABEŌ CANTĀTUM HE CANTADO
A substituição da forma simples pela composta afetou a todas as formas verbais
perfectivas. Tudo indica que a construção HABERE o ESSE + particípio foi sendo
aplicada gradualmente aos diferentes tempos e modos3. No entanto, é importante
ressaltar que nem todas as formas latinas de pretérito caíram em desuso. Embora a
forma CANTĀVĪ, no âmbito do presente perfectivo, tenha sido substituída por HABEŌ
CANTĀTUM, continuou sendo usada com valor de pretérito perfectivo (Penny, 2001):
3
Entrada dos verbos HABERE e ESSE no sistema verbal, em Penny (2001):
Latim clássico Latim falado Espanhol medieval
CANTĀVERAM HABUĪ / HABEBAM CANTĀTUM ove / avía cantado
CANTĀVĪ HABEŌ CANTĀTUM he cantado CANTĀVERO HABERE HABEŌ CANTĀTUM avré cantado CANTĀVISSEM HABUISSEM CANTĀTUM oviesse cantado CANTĀVERIM HABEAM CANTĀTUM aya cantado
ĪVERAM ERAM ĪTUM era ido
ĪVĪ SUM ĪTUM so ido
ĪVERO ESSERE HABEŌĪTUM seré ido
ĪVISSEM FUISSEM ĪTUM fuesse ido
Latim clássico Latim falado Espanhol medieval
CANTĀVĪ CANTĀVĪ CANTÉ
Segundo Cartagena (1999), a forma de pretérito simples, herdada diretamente do
perfeito latino (CANTĀVĪ > CANTÉ), reunia em si o valor moderno dos pretéritos
simples e composto, ou seja, em latim se tratava de um tempo que indicava ações
perfeitas, pontuais simplesmente anteriores ao momento da fala. Por isso, no espanhol
pré-clássico eram possíveis construções que agora não seriam usuais no espanhol
peninsular uma vez que passaram a ser domínio da forma composta4.
A construção com haver é, por outro lado, uma criação romance sobre a base do latim vulgar habeo factum, cujo significado básico no espanhol pré-clássico era o caráter resultativo. Citando Lenz (apud: Cartagena, 1999), o autor afirma que a forma composta expressava historicamente o resultado da ação passada e terminada que
permanece como estado presente, isto é, tinha o mesmo valor que possuem atualmente
as perífrases resultativas tener, traer, llevar + particípio congruente em gênero e número com o complemento direto5.
É somente a partir da época clássica que a construção com haver começa a expressar uma ação concluída imediatamente anterior ao presente gramatical ou de
maior distância temporal, mas cujo resultado guarda certa importância para o sujeito até
o momento da enunciação.
Segundo Criado de Val (apud: Cisneros, 1959), o fato de a forma composta ser uma criação romance indica claramente a existência de uma necessidade na língua, o
que resultou na busca de uma forma nova. Pode-se pensar na hipótese de que esse novo
tempo veio substituir a forma simples, porém, o pretérito simples persistiu e seria
contrária a todas as leis da língua a existência de dois tempos sinônimos.
Também é importante ressaltar que a entrada do pretérito composto em
contextos do pretérito simples não tem os mesmos valores semânticos nem as mesmas
pressões discursivas nas diferentes variedades de línguas românicas, ou inclusive dentro
de uma mesma língua se são consideradas as suas variedades geoletais.
4
Exemplos como En especie de heregía lo que agora dixieste. No entanto, é importante ressaltar que esse uso é bastante freqüente, diríamos, quase predominante, em muitas variantes do espanhol contemporâneo. E como veremos na análise do nosso corpus, inclusive nas amostras de Madri também foram encontradas ocorrências desse tipo.
5
Para a compreensão da evolução diacrônica da construção perifrástica de
HABER + particípio de passado, comum a muitas línguas, partimos do esquema
proposto por Harris (1982), que expressa sucessiva e acumulativamente quatro
conjuntos de valores semânticos, conforme figura 1:
HABEŌ CANTĀTUM > CANTĀVĪ
VARIAÇÃO E MUDANÇA - DIACRONIA NAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Figura 1: Evolução histórica do perfeito em romance (HABEŌ FACTUM), segundo Martin Harris (1982)
Sobre esse esquema, Detges (2001) afirma que, na etapa inicial (etapa 1) do seu
desenvolvimento, as construções perifrásticas do tipo HABER + particípio de passado
são utilizadas para marcar estados resultantes de ações acabadas. Construções como lo tengo hecho, não apresentam valor temporal de passado, desempenham, na verdade, funções aspectuais. Na seguinte etapa (etapa 2), tais construções designam ações
continuadas ou repetidas que chegam até o momento presente, tais como temos no
espanhol americano, toda la vida he vivido aquí. Na próxima etapa (etapa 3), as construções se referem a ações passadas com aproximação temporal ao momento da fala
ou com um interesse atual abstrato, sem que indique necessariamente duração ou
repetição, em outras palavras, o que importa é a relevância atual, como temos no
espanhol peninsular, he estado a la muerte estos días. Na etapa mais avançada da sua evolução funcional (etapa 4), as perífrases denotam ações pontuais ocorridas no passado
e sem relação especial com o momento da fala, he comprado un coche. 1. Estado
presente resultante de
uma ação passada
2. Importância atual da situação passada indicada pelo particípio (que
também indicava duração, repetição)
4. Ação passada sem importância
presente 3. Ação
passada com importância presente (mas
De acordo com Harris (1982), as etapas (1) a (4) não apenas correspondem a
diferentes fases do desenvolvimento diacrônico, mas também representam situações
sincrônicas estáveis.
A partir da análise diacrônica do pretérito perfeito do espanhol, Detges (2001),
acredita que essa mudança no sistema verbal não se deve nem às exigências abstratas do
sistema lingüístico respectivo, nem a uma necessidade de novas medidas de referência
temporal, mas que deve ser considerada com um resultado involuntário de certas
técnicas retóricas correntes por parte dos falantes. Dito de outra maneira, segundo
Detges (2001), os falantes não aspiram a criar novas estruturas gramaticais, seu único
interesse consiste em se expressar de maneira eficaz.
Ainda de acordo com o autor, o espanhol peninsular, assim como o inglês,
possui perífrases cuja função principal consiste em designar ações ocorridas no presente
ampliado do falante, ou seja, em expressar eventos passados ou acabados que têm
relação com o momento da fala. Essa relação pode ser real ou simplesmente percebida
pelo falante. Geralmente enunciados sobre eventos passados dotados de um alto grau de
relevância atual são considerados sumamente informativos o que faz com que o falante,
ao enunciá-los, valorize sua própria posição de locutor frente a seus interlocutores.
Existe uma estratégia discursiva própria da linguagem jornalística, conhecida
como hot news perfect, cuja função consiste em apresentar os fatos passados como surpreendentes, destacando dentro da mensagem, a informação mais relevante,
despertando, assim, a atenção do leitor. Essa situação propicia a utilização da
construção perifrástica, ou seja, do pretérito composto. O funcionamento dessa
estratégia discursiva será tratado mais adiante e na análise do corpus, em que terá lugar uma abordagem sobre os tipos de texto e seqüências discursivas, bem como o papel das
tradições discursivas na seleção de uma forma ou outra de passado.
O que nos interessa aqui é o fato dessa técnica retórica implicar em uma
mudança funcional da forma gramatical utilizada, ou seja, a forma gramatical que
expressa fatos passados com relevância atual irá perdendo esse traço à medida que se
utilize de maneira habitual para fazer referência a fatos carentes de toda relevância
particular. Quanto mais os falantes utilizam a técnica retórica em questão para tirar
proveito do seu efeito, mais contribuem para a perda desse mesmo efeito e,
Voltando ao esquema de evolução, esse seria o uso avançado da construção
perifrástica. Na etapa 4, o composto já teria assumido plenamente os contextos que
seriam “próprios” do simples, estaria, assim, perdendo o seu traço de relevância atual.
Para Penny (2000), embora algumas línguas (como o francês e o italiano)
tenham evoluído até o estádio 4, o espanhol estándar peninsular6 teria chegado apenas
ao estádio 3, ou seja, a forma verbal que indica a situação passada a que se refere
pertence a um período de tempo que, no momento da fala, é ainda atual, sem que
indique necessariamente que a situação seja ainda vigente nem que possa se repetir7.
No entanto, como veremos na parte de análise do corpus, há dados que parecem mostrar que Madri antecipa as últimas etapas da mudança e, em algumas realizações, já
se encontra entre as etapas 3 e 4.
Com relação ao espanhol americano, Penny (2000) afirma que este evoluiu
somente até a etapa 2 do esquema de Harris (1982), isto é, que o composto implica
obrigatoriamente que a situação passada continua ou se repete no futuro. Na análise que
se fará mais adiante do corpus, porém, serão apresentados dados que evidenciam usos mais avançados do composto. Pode-se dizer, então, que esses dados corroboram o que
diz Detges (2001) sobre o uso do composto como estratégia discursiva.
2.1.3A oposição entre os pretéritos simples e composto
Esta parte se dedica a reunir algumas idéias e questões relacionadas ao emprego
dos pretéritos simples e composto, com base em alguns estudos teóricos. De maneira
breve, fazemos uma exposição sobre o que se diz a respeito do nosso objeto de estudo.
Segundo Gutiérrez Araus (1997), embora haja outros usos, os principais traços
que definem o pretérito composto no subsistema verbal das formas de passado são os
de: (a) passado continuativo resultativo no presente, (b) ante-presente e (c) passado
enfatizador de uma forma narrativa de passado. Acrescenta, ainda, a ausência dessas
marcas no pretérito simples.
Sobre o valor de passado continuativo resultativo no presente, afirma que
funciona de forma homogênea em todo o mundo hispânico. O pretérito composto
6
Entende-se por espanhol estándar peninsular o espanhol pertencente à norma castelhana, sendo representado, no nosso trabalho, por Madri.
7
assume os valores de passado cuja ação, embora ainda pertencendo ao passado, continua
no presente e se apresenta como não terminada, ou seja, como uma ação ou estado que
cujos resultados perduram no momento da enunciação, frente ao pretérito indefinido que
não guarda relação com o presente.
Com relação ao valor de ante-presente, diz que é um uso comum no espanhol
peninsular. O pretérito composto é empregado para se referir a um tempo passado,
anterior ao momento atual, assim como o pretérito simples. A maior ou menor distância
cronológica entre a ação passada e o momento da enunciação não é decisiva na oposição
dos pretéritos, mas o fato de que esta ação ou estado estejam ou não centrados pelo
falante em um momento concreto pertencente a uma perspectiva temporal ou plano
atual.
Sobre o valor de passado enfatizador, a autora diz que é um traço característico
do pretérito composto no espanhol da América e que não se dá na variedade
castelhano-nortenha peninsular8. O composto é empregado quando o falante quer dar maior ênfase,
maior força emotiva a uma ação que concluiu no passado e que constitui o ponto
culminante de uma série de acontecimentos apresentados no pretérito simples.
Assim, o pretérito composto pertence ao plano atual. Com relação à
temporalidade, é uma ação ou estado anterior ao presente, no entanto, por apresentar
uma perspectiva de presente, tem uma função, no sistema, de relevância no presente, de
conexão com o agora.
Por outro lado, o pretérito simples é considerado a forma absoluta de passado.
A sua perspectiva temporal não é atual e assinala que um fato se produziu em um tempo
anterior ao momento da enunciação. O seu traço principal é apresentar as ações como
inseridas, ocorridas no passado, ou seja, relatar fatos que aconteceram no passado.
Resumidamente, segundo Gutiérrez Araus (1997), no espanhol peninsular, o
pretérito composto é empregado quando se faz referência a uma ação ou estado
produzidos no presente ampliado, ou seja, em um período de tempo que o falante
considera plano atual, perspectiva de presente. Já o pretérito simples, para referir-se a
uma ação ou estado produzidos em um período de tempo que o falante considera
não-atual, perspectiva de passado.
Com relação à oposição no espanhol da América, diz que não se dá a
diferenciação entre os passados e que o composto não se emprega com valor de
8
presente, pois a oposição perspectiva temporal atual / não-atual não é importante na
maior parte dessa variedade do espanhol. É empregado para marcar o valor continuativo
resultativo do passado no presente e para enfatizar uma ação produzida no passado, por
ser importante na narração ou por marcar o interesse da mesma.
De acordo com Rojo & Veiga (1999), as significações básicas expressadas
pelos pretéritos simples e composto coincidem em enfocar o processo como anterior a
um ponto de referência. No caso do simples, a referência é o centro dêitico do sistema
temporal, enquanto que o composto introduz a precisão de uma relação de
simultaneidade entre a referência e o momento da enunciação. No entanto, destacam
que nada impede que o pretérito composto seja usado para referir-se a um processo
situado em um período apresentado como já concluído. Afirmam ainda, que a distinção
sistemática entre os conteúdos temporais dos pretéritos não funciona atualmente em
todos os dialetos do espanhol.
Segundo Piñero Piñero (1998), são três os critérios, com maior ou menor
unanimidade, que costumam diferenciar os pretéritos. O primeiro diz respeito à
oposição ação única x ação repetida, de tal maneira que o composto seria empregado para a expressão de ações reiterativas e o simples para ações que teriam lugar uma só
vez. O segundo critério destaca a preferência do composto para ações durativas, e do simples para ações de caráter pontual ou momentâneo. Finalmente o terceiro critério, que é considerado, tanto pela tradição gramatical espanhola quanto pelos estudos
contemporâneos, como o determinante da oposição dos passados. Trata-se da relação
com o momento presente: o pretérito composto, como indicador de um passado relacionado com o presente e o pretérito simples, indicador de um passado que não
guarda relação com o presente. Ambos podendo aparecer com unidades de tempo que
incluem ou excluem o agora da enunciação, respectivamente. Tais unidades, aqui denominadas circunstâncias temporais, serão tratadas mais adiante.
Já afirmava Alarcos (apud: Moreno de Alba, 1998) que a maior ou menor distância cronológica entre a ação expressada e o momento da enunciação não é
relevante para o uso de canté e he cantado, mas sim que essa ação tenha ou não relação com o presente. Para Alarcos (1947), se o pretérito não tem modificadores verbais
designa um fato sucedido no passado e que teve um limite nesse mesmo passado. Se os
advérbios ou modificadores verbais são considerados, então se emprega o pretérito
simples com os advérbios que indicam que a ação se produz em um período de tempo
anoche, el mes pasado...). Por outro lado, se não há modificadores verbais pode designar também uma ação que se aproxima ao presente gramatical, isto é, que se
produz no presente ampliado em um período desde um ponto do passado até o agora em que se fala ou escreve. Se o ante-presente (ou composto) é acompanhado por
modificadores temporais, estes indicam que a ação se efetuou em um período de tempo
em que se encontra compreendido o momento presente de quem fala ou escreve
(advérbios tais como hoy, ahora, estos días...).
Hurtado González (1998), afirma no seu artigo9 que alguns investigadores
estrangeiros, tais como Hanssen (1945) e Meyer-Lübke (1974), acreditam que tal
distinção é uma invenção das gramáticas e que o espanhol usa uma ou outra forma
indistintamente ou dependendo de preferências pessoais. No entanto, assume-se nesse
trabalho, assim como o faz Hurtado (1998) e a maioria dos investigadores, que existe
uma diferenciação aceitada e mantida pelos falantes tanto na língua oral como na
escrita, embora não seja fácil precisar os motivos de tal distinção.
Na maioria das teorias, a ênfase sobre a oposição dos pretéritos é nas noções
temporais e aspectuais e na presença de circunstâncias temporais. No entanto, como
estamos sustentando no nosso trabalho, acreditamos que tais noções não dão conta de
explicar a distribuição dos passados e que fatores discursivos, semântico-pragmáticos e
sintáticos são mais relevantes e nos dão resultados mais pertinentes para um
mapeamento dos contextos de uso e valores dessas formas verbais de passado em cada
centro urbano estudado.
2.1.4 A distribuição dos pretéritos nas variantes selecionadas
Dentre as diferentes variantes do espanhol, selecionamos três para o estudo da
oposição dos pretéritos. Centramos nossa investigação em três centros urbanos,
pertencentes a três diferentes variantes, a saber: Madri, Cidade do México e Buenos
Aires, que fazem parte, respectivamente, das seguintes áreas geoletais: área castelhana,
área mexicana/centro-americana e área rioplatense/do Chaco (Moreno Fernández,
2000).
9
Acreditamos que seja importante fazer uma síntese não apenas de algumas idéias
e questões relacionadas ao emprego e à diferença entre os pretéritos simples e
composto, mas também revisar as explicações que se tem dado a respeito da oposição
dessas formas verbais de passado em cada um dos centros urbanos em estudo.
2.1.4.1 O uso dos pretéritos no espanhol castelhano
Sobre o uso dos pretéritos no espanhol peninsular, Cartagena (1999), diz que
tanto o simples como o composto têm em comum o fato de que indicam uma relação de
anterioridade com respeito ao momento da fala, ambos indicam ações perfeitas,
terminadas antes do momento da fala. A diferença está no fato de que a forma simples
indica a mera anterioridade com relação ao momento da fala, do qual se separa
constituindo um âmbito próprio no passado, diferente da atualidade do falante, enquanto
que a forma composta, indica a anterioridade dentro do âmbito do presente,
pertencendo, portanto, à atualidade do falante.
De acordo com Penny (2000), no espanhol estándar peninsular, e na fala
espontânea do nordeste, do centro e do sul da península, a principal oposição aspectual
entre os pretéritos está na percepção do falante da conexão entre a situação passada
descrita e o momento da fala. Se o falante deseja expressar que a situação passada que
menciona pertence a um período de tempo diferente do momento em que está falando,
então emprega o pretérito simples. No entanto, se deseja expressar que a situação de
passado pertence ao período de tempo que, no momento da comunicação, é ainda atual,
então recorre ao pretérito composto.
Acrescenta ainda que, a questão da atualidade ou não-atualidade do período de
tempo pode explicitar-se mediante circunstâncias temporais que aparecem na oração,
porém, a presença destas não é obrigatória e as formas verbais podem expressar por si
só as duas maneiras em que o falante escolhe dividir mentalmente o tempo passado.
Também se deve levar em conta que a aproximação da situação de passado com o
momento da fala não é o critério que determina a escolha entre o simples e o composto,
uma vez que, por um lado, uma situação passada muito recente pode ser considerada
que ocorreu em um período de tempo separado do momento da fala, e por outro lado, o
falante pode julgar que o período de tempo em que tem lugar o ato de fala se estende
indefinidamente em direção ao passado e incluir situações que começaram há muito
Hurtado (1998), afirma que os pretéritos simples e composto coincidem em
significar acontecimentos anteriores ao momento do falante, somente que as respectivas
ações passadas que significam, além de que se podem situar em pontos diferentes do
eixo temporal, não guardam a mesma relação com o presente.
É importante ressaltar que, embora a maioria dos autores, implícita ou
explicitamente, reconheça para a oposição dos pretéritos, na norma castelhana, a relação
da ação passada com o momento presente, com o agora enunciativo, a relação que um passado guarda com o presente não necessariamente é proporcional à distância
cronológica que o separa do momento da enunciação, em outras palavras, uma ação
passada pode ter relação com o presente ainda que, cronologicamente, esteja distante.
2.1.4.2 O uso dos pretéritos no espanhol mexicano
Assim como Alarcos, Moreno de Alba (1998) afirma que os pretéritos
mexicanos se diferenciam do uso peninsular também quanto à sua relação com o
momento presente, ou seja, podem ter circunstâncias temporais que incluam o momento
presente sem que isso signifique que percam o seu caráter perfectivo. Afirma ainda que
as circunstâncias temporais que mais freqüentemente acompanham o pretérito simples
na variante mexicana são aquelas que situam a ação em um momento determinado.
O autor propõe uma subdivisão dos pretéritos, que excluem o agora do falante, em: (a) pretéritos semelfactivos, que se subclassificam em (a1) momentâneos ou de
breve duração, (a2) incoativos, (a3) terminativos e (a4) durativos e (b) pretéritos
iterativos.
Com relação ao pretérito composto, o autor afirma que, no espanhol mexicano,
tem um uso determinado e próprio, diferente do pretérito simples. Citando Lope Blanch
(1972), sustenta que a forma composta expressa ações durativas e imperfectivas,
fenômenos que, embora iniciados no passado, se constituem no momento presente e
ainda podem se projetar para o futuro. Para Lope Blanch (apud: Moreno de Alba, 1998), o aspecto do composto no espanhol mexicano é definitivamente imperfectivo. Além
desse caráter imperfectivo, também se caracteriza aspectualmente por ser reiterativo, em
oposição ao pretérito que é pontual e perfectivo. Temporalmente é ainda presente.
Segundo Moreno de Alba (1998), a característica principal do pretérito
composto no uso peninsular é o seu valor temporal, a sua aproximação ao presente
são perfectivas, a diferença é temporal. Se a ação teve o seu limite, a sua conclusão no
passado - remoto ou próximo - se usa o pretérito simples, se teve a sua perfeição no
presente ampliado aparece o pretérito composto. Em ambos os casos há o valor
perfectivo.
Por outro lado, no espanhol mexicano, a diferença é essencialmente aspectual.
Se a ação é considera perfectiva se usa o pretérito simples, independentemente de que o
limite da ação esteja situado no passado ou no presente ampliado. Se a significação
verbal não é considerada como concluída, mas em processo, ou seja, se a ação ou série
de ações, iniciada no passado, continua ou pode continuar no agora ou no futuro, usa-se o composto.
Como conseqüência da particular concepção do falante sobre perfeição e
imperfeição, pode-se interpretar o pretérito composto mexicano não apenas
aspectualmente imperfectivo, mas também temporalmente ‘não-pretérito’ (ainda
presente).
No entanto, faz-se necessário precisar o caráter imperfectivo do composto no
espanhol mexicano. De acordo com o autor, nem todos os compostos podem ser
interpretados como imperfectivos da mesma natureza: alguns apresentam caráter
plenamente imperfectivos, podendo ser chamados de imperfectivos atuais, outros,
apresentam uma ação concluída, mas que pode ser repetida, podendo ser chamados,
então, de imperfectivos habituais ou imperfectivos no sentido lato.
Uma consideração importante é o fato de que, assim como há casos do pretérito
simples que também podem ser analisados como reiterativos, da mesma maneira há
casos de composto que podem ser analisados como semelfactivos (terminados).
Para concluir, o autor diz que, devido ao uso peculiar dos pretéritos no México,
e em geral na América, é natural que o pretérito composto tenha menor freqüência de
uso que o simples. Em outras palavras, muitas das expressões que no espanhol
peninsular aparecem no composto, manifestam-se no espanhol mexicano no simples,
limitando assim o uso do primeiro. No entanto, isso não quer dizer que o composto seja
uma forma em desuso, mas simplesmente que a sua função denotativa é diferente e o
seu campo de atuação mais reduzido. Citando Lope Blanch (1972), isso não deve ser
interpretado como uma confusão do uso “correto” do espanhol, mas como um resultado
2.1.4.3 O uso dos pretéritos no espanhol argentino
O diassistema verbal do espanhol dispõe de várias flexões que cobrem a
seqüência do passado de diferente maneira e embora cada uma comporte valores
inerentes que a diferenciam das demais, ao ser medida a temporalidade, são produzidas
algumas alternâncias que, em razão de invadir áreas alheias, terminam por neutralizar
seus traços temporais distintivos. Assim ocorre com o pretérito simples, que vai
ganhando terreno sobre o pretérito composto e cujo avanço resulta verdadeiramente
notável no espanhol argentino (Ferrer & Sánchez Lanza, 2000).
Segundo as autoras, embora a inclusão ou exclusão do agora do falante seja uma pauta determinante para a escolha de uma ou outra forma de passado, não é respeitada
no uso, o que dá lugar a uma neutralização.
Em um trabalho que realizaram sobre a distribuição dos pretéritos no espanhol
argentino, nos três níveis socioculturais analisados (alto, médio e baixo), foi registrado
um número equivalente de pretérito composto que, em geral, excluíam o agora. O
falante alude à época atual e, por isso, escolhe o composto que abarca seu momento de
fala, talvez também selecione o composto por se sentir ainda afetado por algum
acontecimento. No entanto, de acordo com Ferrer & Sánchez Lanza (2000), o mesmo
falante, nas mesmas circunstâncias poderia ter usado o pretérito simples, estendendo a
sua temporalidade até o agora, sem que mudasse o significado da mensagem.
O pretérito simples, por outro lado, sobressai pelo aspecto perfectivo e contrasta
com o composto pela sua objetividade, que provém da sua localização no passado sem
chegar ao momento da fala e o relaciona com outros acontecimentos passados. Nos três
níveis socioculturais analisados (alto, médio e baixo), prevaleceu o pretérito simples de
ação perfectiva com exclusão do agora. No entanto, também foram registrados outros valores, casos em que a dimensão do pretérito simples foi ampliada, o que levou à
inclusão da enunciação. Essa extensão se produziu ou por um modo de ação
imperfectivo, por circunstâncias temporais, por estar o pretérito simples ligado, no
discurso, a um tempo presente ou por contextos de situação.
Confrontando o discurso peninsular com o argentino, as autoras afirmam que,
enquanto que no primeiro existe a diferença temporal entre os passados, no último não
se produzem diferenciações nem no plano temporal, nem no aspectual. Fica
comprovado, assim, que a forma simples alterna com a composta em qualquer situação
Vale ressaltar que a forma simples, sem deixar de ser passado, pode cobrir
também espaços do presente ampliado que abarca o agora do falante, de modo que talvez os valores temporais de ambas as formas resultem coincidentes. Este uso do
simples é comum a toda a zona do litoral e assim, em Buenos Aires, por exemplo,
observa-se um uso quase absoluto da forma simples, com neutralização do significado
temporal. Embora o composto não se use com muita freqüência, isso não quer dizer que
esteja desaparecendo, uma vez que ambas as formas gozam de vitalidade em diferentes
situações.
Recorrer à história da língua, como vimos no tópico 2.1.2, pode ajudar a
entender um pouco as diferenças anotadas no uso do pretérito composto. A forma
composta foi invadindo paulatinamente o domínio do pretérito simples na norma
peninsular. Do seu emprego meramente resultativo no âmbito do presente passa a
designar ações concluídas no passado que recobrem certa importância para a atualidade
do falante e ações concluídas imediatamente anteriores ao momento da fala. O que
acontece na América é que a referida invasão de funções foi muito mais lenta,
conservou-se o uso pré-clássico do pretérito para a expressão de ações concluídas
imediatamente anteriores ao momento da fala, certamente com diversa intensidade
regional (Cartagena, 1999).
2.1.5 Pretéritos simples e composto: questões terminológicas
Os tempos verbais aqui estudados já receberam muitas terminologias. Algumas
ainda permanecem devido à tradição gramatical espanhola. Seguindo e aumentando o
quadro formulado por Rojo & Veiga (1999) com algumas terminologias para os tempos
verbais, selecionamos e apresentamos algumas das diversas nomenclaturas dadas às
FORMA
AUTORES CANTÉ HE CANTADO
BELLO (1847) pretérito ante-presente GRAE (1931) pretérito indefinido pretérito perfecto
GILI GAYA (1943) pretérito perfecto absoluto pretérito perfecto actual
CISNEROS (1959) pretérito perfecto
ESBOZO (1973) pretérito perfecto simple pretérito perfecto compuesto GUTIÉRREZ ARAUS
(1997)
pretérito simple pretérito perfecto
DRAE (1999) pretérito perfecto simple pretérito perfecto compuesto
Quadro 1: Diferentes nomenclaturas atribuídas aos pretéritos simples e composto
Dentre essas nomenclaturas, no nosso trabalho, optamos pelas denominações