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O PAPEL SOCIAL DE PADRINHOS E MADRINHAS NA PARAHYBA OITOCENTISTA ( )

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O PAPEL SOCIAL DE PADRINHOS E MADRINHAS NA PARAHYBA OITOCENTISTA (1846-1860)

Matheus Silveira Guimarães PIBIC/UFPB guimaraesmatheuss@gmail.com

Solange P. Rocha (Orientadora) DH/UFPB – banto20@gmail.com

Introdução

Aos 12 de janeiro de 1856 era batizado na cidade da Parahyba do Norte, freguesia de Nossa Senhora das Neves, Manoel, um menino com um ano de idade, que era “pardo” e filho legítimo de Manoel Ignacio da Cunha e Maria José do Nascimento. O párvulo Manoel teve como padrinho o Doutor Padre Lindolfo José Correia das Neves1, figura muito importante na Parahyba do século XIX. Todavia, como madrinha nenhuma pessoa foi citada, dando abertura à interpretação de que nenhuma mulher foi escolhida para ocupar esse papel social.

Assim como no caso de Manoel, em centenas de assentos de batismo de crianças observamos uma lacuna quando se tratava de indicar a madrinha na cerimônia do batismo. A figura do padrinho, contudo, é muito mais freqüente na documentação. As questões que surgem são: por que as madrinhas estavam menos presentes em tais cerimônias do que os padrinhos? Tendo em vista a importância social assumida pelo compadrio na sociedade brasileira oitocentista, quais as diferenças entre os papéis do padrinho e da madrinha?

Para responder a tais questões iremos discutir a importância social do compadrio na sociedade brasileira do século XIX e como esse vínculo era utilizado como mecanismo para formação de redes de sociabilidade, focando nossa discussão também nas relações de gênero estabelecidas no Brasil deste período. Utilizaremos, por fim, os

1

Padre Lindolfo José Correia das Neves (1819-1884) atuou ativamente na província da Paraíba, como

política (membro do Partido Liberal), como professor (Liceu Paraíba, colégio secundário na capital), jornalista (trabalho nos jornais O Publicador, O Polimático e o O Liberal) e se notabilizou por ser um “orador Sacro”. Atuou como jornalista e advogado na capital da província. Formou-se na Faculdade de Direito de Olinda, onde integrou a turma que se formou em 1847 (LEITÃO, 1989, p.60-65).

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dados pesquisados na cidade da Parahyba, capital da província da Paraíba e também Freguesia de Nossa Senhora das Neves, entre os anos de 1846 e 1860, com o intuito de elucidar melhor as questões levantadas no debate historiográfico. Dessa forma, tentaremos compreender melhor como se davam as escolhas para essa função social e os papéis sociais do homem e da mulher na sociedade escravista do século XIX e, mais especificamente, na realidade da cidade da Parahyba do Norte.

Papel social do compadrio

Até 1889, com a proclamação da República, todos os registros de batismo, casamento e óbito no Brasil eram feitos pela Igreja Católica, que era a instituição religiosa oficial do Estado. A partir desta data, tais registros ficaram por conta do poder público do Estado, tornando-os civis e não mais religiosos. Exatamente por isso, muitos documentos paroquiais são de profunda importância para compreendermos as nossas sociedades passadas. Por meio deles, podemos perceber como se davam as relações sociais do Brasil, sendo isso possível também graças às novas preocupações e abordagens dadas por novas gerações de pesquisadores/as.

Nas últimas décadas, a historiografia brasileira tem apresentado um grande interesse nos estudos acerca da família. Tentando quebrar uma análise “tradicional” desta instituição, essas novas gerações de historiadores/as consideram a família indo muito mais além da lógica nuclear do pai-mãe-filho/a.

Nesse sentido, outras formas de parentesco assumem um importante papel na compreensão da família como unidade social. Para Ana Lugão Rios, por exemplo, podemos pensar em

família ampliada, [sic] que incorpora os filhos com famílias próprias e outros parentes consangüíneos – avós, tios, etc... – e família estendida [sic], que inclui, no grupo familiar considerado, pessoa sem vínculo de sangue (RIOS, 1990, p. 7-8).

A idéia de “família estendida” apresentada por Ana Lugão Rios é interpretada por Isabel Reis como “família extensa” e nela caberiam as “relações de compadrio, das ‘famílias de santo’, das irmandades religiosas, dos grupos étnicos (nações), dos ‘parentescos’ forjados na trilha do tráfico, a exemplo do malungo [no caso das populações escravizadas]” (REIS, 2001, p.31-32).

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Os registros paroquiais de batismo, dessa forma, assumem uma relevância muito grande para o estudo da sociedade brasileira do século XIX. Além de serem riquíssimas fontes demográficas – pois os nascimentos eram registrados pelo batismo –, eles apresentam as redes sociais que eram formadas, pois

Tais laços [de compadrio] também tinham uma dimensão social fora da estrutura da igreja. Podiam ser usados para reforçar laços de parentescos já existentes, ou solidificar relações com pessoas de classe social semelhante, ou estabelecer laços verticais com indivíduos socialmente desiguais. Podiam-se estabelecer relações de compadrio de diversas maneiras: por intermédio de casamentos, crismas, ou mesmo em certas festividades [...] (SCHWARTZ, 2001, p. 266).

Com efeito, os registros de batismo “não são documentos apenas religiosos, mas sociais; a informação registrada fala da persona [sic] social total do indivíduo” (GUDEMAN; SCHWARTZ, 1988, p. 39) e por meio deles podemos mapear um série de redes sociais estabelecidas por pessoas do período que estudamos.

Todas essas questões permitem-nos perceber que o padrinho, assim como a madrinha, assume um papel social de profunda importância. Caberia ao padrinho “[...] cumprir seu papel com responsabilidade. Esperava-se que ele sempre ouvisse, aconselhasse e consolasse o afilhado ou a afilhada” (ROCHA, 2007, p.240). Tais relações tinham os seguintes objetivos: “criação de alianças entre duas ou três famílias, com o compromisso de proteção e respeito entre pessoas do mesmo status ou de diferentes condições econômicas” (ROCHA, 2007, p.242). O que para Kátia Mattoso (1990) se apresenta como relações de solidariedades ou como Gudeman e Schwartz afirmam

O batismo cria, acima de tudo, uma relação espiritual; esta é o vínculo “pensado” que une batizando e padrinhos. O laço expresso significa ou indica esta dimensão invisível. O compadrio é um vínculo não do corpo, ou da carne, ou da vontade humana enquanto expressa na lei civil; ela representa, ao contrário, associação ou solidariedade, através da comunhão de “substância espiritual” (GUDEMAN; SCHWARTZ, 1988, p.41). Grifos nossos.

Os papéis sociais de padrinho e madrinha seriam de auxiliares diretos do pai e da mãe. Chegariam a ser seus substitutos. Na verdade, “O padrinho, segundo a doutrina

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católica, constituía-se em um segundo pai, em um com-padre: ou seja, alguém com quem, de algum modo, se dividia a paternidade” (BRÜGGER, 2007, p.318).

Diante disso, podemos perceber o compadrio como estratégia de sociabilidade para uma melhor inserção social. A escolha dos padrinhos e das madrinhas passava, além de aspecto afetivo, também por tentativas de criar laços fortes de dependência social e uma ligação simbólica. No momento de escolha dos padrinhos e das madrinhas, os pais e as mães das crianças buscavam as melhores pessoas possíveis. Tanto no sentido de serem mais próximas, do mesmo grupo – fortalecendo, assim, os laços horizontais –, como pessoas de condição social superior – buscando as melhores condições, até mesmo material, para seus filhos/as. Logo, há um reforço da “idéia de que o compadrio tendia a ligar a família do batizando a pessoas situadas num patamar equivalente ou superior da hierarquia social” (BRÜGGER, 2007, p. 321).

Padrinhos e madrinhas: escolhas distintas

Tendo em vista que a escolha para um padrinho e uma madrinha passava também por questões sociais, havia uma influência do gênero nesta escolha. Isso porque, como admitem Gudeman e Schwartz ao tratarem do final do século XVIII, “a sociedade como um todo se baseava na desigualdade entre os sexos” (GUDEMAN; SCHWARTZ, 1988, p. 52). Essa condição se perpetuou durante o século XIX e possui ainda traços em nossa sociedade.

O Brasil escravista era marcado por fortes hierarquias que se manifestavam de várias maneiras: cor, condição econômica, jurídica, sexo etc. Nesse sentido, numa relação direta entre homem e mulher, esta seria colocada em uma posição inferior àquele. Esse fator é interessante para compreender uma característica bastante intrigante que ocorria em vários lugares do país: a freqüente ausência de madrinhas, principalmente, em relação aos padrinhos.2

Brügger levanta a hipótese de essas ausências serem explicadas (quando ocorridas simultaneamente) graças ao fato de, em muito desses casos, a cerimônia do batismo ter ocorrido de maneira emergencial, quando as crianças estavam em perigo de morte, não dando tempo de ser escolhida uma madrinha ou um padrinho (BRÜGGER, 2007, p.321). Entretanto, quando havia apenas a presença do padrinho em detrimento da

2

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madrinha, a autora acredita que isso pode indicar que “o papel desempenhado pelo padrinho seria mais importante que o exercido pelas madrinhas” (BRÜGGER, 2007, p. 324). As mulheres estariam mais propícias a auxiliarem apenas na criação. Os homens poderiam acrescentar mais, podendo significar, inclusive, melhores condições materiais para a criança.

Para Gudeman e Schwartz, por sua vez, essa diferença na escolha do padrinho e da madrinha estava relacionada à condição jurídica e à legitimidade da criança. Para eles, crianças escravas, legítimas ou não, não é perceptível nenhuma diferença na presença ou ausência de madrinhas. Porém, com as crianças livres, há uma distinção, “a legitimidade tinha um efeito definido, e as crianças ilegítimas tinham duas vezes mais probabilidades de não terem uma madrinha do que as crianças legítimas” (GUDEMAN; SCHWARTZ, 1988, p.56).

População da Parahyba oitocentista e o papel social dos padrinhos e das madrinhas

Entre os anos de 1851 e 1860, foram registrados no ato do batismo 3.930 pessoas na freguesia de Nossa Senhora das Neves. Dentre as quais 1.977 eram mulheres e 1.950 eram homens e três registros foram danificados, não podendo ser identificado o sexo do/a batizando/a. É importante traçar o perfil dessa população, em um primeiro momento, pois para podermos lançar luz sobre como se dava o processo de escolha de padrinhos e madrinhas e o papel exercido por tais, precisamos compreender como eram essas pessoas.

A configuração de acordo com a cor/origem étnica da população da freguesia de Nossa Senhora das Neves apresenta uma característica bastante interessante:

Gráfico 1 – Cor/origem étnica dos/as batizados/as na freguesia de Nossa Senhora das Neves

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1.189 1 11 322 3 24 1 137 2.102 64 76 Branca Cabocla Cabra Crioula Danificada/ilegível Índia Mameluca Não consta Parda Preta Semibranca

Fonte: Arquivo Eclesiástico da Paraíba (AEPB) – Livro de Batismo 1851 a 1860.

A população parda apresenta um percentual de 53,48 % do total pesquisado, um número bastante significativo. Se somarmos à população parda, os/as cabras (0,27%), os/as crioulos/as (8,19%) e os/as pretos/as (1,62%),3 teremos um total de 63,58% de negros/as na freguesia de Nossa Senhora das Neves.

No que tange à condição jurídica, a população da supracitada freguesia divida-se da seguinte maneira: • Danificado/ilegível: 2 pessoas • Escrava: 441 pessoas (11,22%) • Expostas: 57 pessoas (1,45%) • Libertas: 67 pessoas (1,70%) • Livre: 67 pessoas (1,70%)

• Não consta: 3.296 pessoas (83,86%)

Essa esmagadora maioria de pessoas que não possuem sua condição jurídica especificada deixa-nos concluir que eram livres. Pois, quase toda a população branca, ou seja, livre (1.172 pessoas, 98,5% do total da população branca) está inclusa nesse grupo dos que não possuem nada sobre a condição jurídica. Além do mais, em uma sociedade extremamente estratificada, como dissemos anteriormente, uma pessoa escravizada ou liberta seria facilmente identificada e demarcada socialmente.

3 Consideraremos aqui pardos/as, cabras, pretos/as e crioulos/as como negros/as, pois a essas pessoas –

por viverem em uma sociedade escravista, baseada na origem étnica e na cor – poderiam ser submetidas ao cativeiro ou então eram sempre consideradas suspeitas.

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Essa distribuição da população pela cor/origem, aliada ao quadro de sua condição jurídica nos permite perceber que na freguesia de Nossa Senhora das Neves tínhamos uma população majoritariamente negra e livre, que buscava sua inserção social, numa sociedade escravista e hierarquizada.

Após termos traçado brevemente o perfil da população da freguesia de Nossa Senhora das Neves, partiremos para análise dos perfis dos padrinhos e das madrinhas escolhidas nessa região. Infelizmente, as informações contidas nos registros de batismo sobre os padrinhos e as madrinhas são muito poucas. Todavia, conseguimos identificar em alguns não a cor nem a condição jurídica, mas algum elemento definidor de prestígio social como, por exemplo, títulos de “doutor” e militares, além de padres e políticos.

Identificamos 603 (15, 34%) assentos de batismo na qual é apresentado algum distintivo social do padrinho, ou seja, assumiam um status social superior. Destes 603, 208 (34,49%) apadrinharam crianças brancas. O que aponta para a idéia de laços horizontais estabelecidos por meio do compadrio. Pouquíssimas vezes, essas pessoas que tiveram seu prestígio social destacado no assento de batismo, apadrinharam crianças escravizadas.

No que tange ao papel do padrinho e da madrinha, do total de registros, apenas em 40 ocasiões (1,01%) a figura do padrinho não esteve presente. Dessas 40 situações, 12 madrinhas estiveram sozinhas na cerimônia do batismo, ou seja, dos 3.930 assentos pesquisados, 12 (0,3%) deles continham apenas a presença da madrinha.

Contudo, temos um quadro diverso, quando se contabilizar a quantidade de vezes em que não houve a presença da figura da madrinha na cerimônia, pois nesses 3.930 registros, a não participação da mulher foi mais acentuada, foram 706 (17,96%) casos.

Sendo a ausência das madrinhas um número sempre alto em relação aos padrinhos, quando separamos esses números de acordo com a cor/origem étnica e a condição jurídica, temos valores um pouco diferentes para cada grupo.

Tabela 1 – Ausência de padrinhos e madrinhas entre brancos/as e negros/as batizados/as4

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Brancos/as Negros/as

Padrinhos ausentes 11 (0,92%) 27 (1,08%)

Madrinhas ausentes 141 (11,85%) 533 (21,32%) 5

Fonte: Arquivo Eclesiástico da Paraíba (AEPB) – Livro de Batismo 1851 a 1860.

De acordo com a tabela 1, a população negra apresenta uma maior quantidade de crianças que, no ato do batismo, não possuíam suas respectivas madrinhas. Se comparada à população branca, há uma diferença muito grande nesse aspecto.

Como a população negra pode ter sua condição jurídica variada entre livres, libertos e escravizados, ao estabelecermos a condição jurídica dos indivíduos, a quantidade de madrinhas ausentes na cerimônia do batismo é superior entre as pessoas livres e libertas.

Tabela 2 – Ausência de padrinhos e madrinhas de acordo com a condição jurídica da população negra

Libertos/livres Escravizados

Padrinhos ausentes 17 6

Madrinhas ausentes 365 160

Fonte: Arquivo Eclesiástico da Paraíba (AEPB) – Livro de Batismo 1851 a 1860.

O que podemos observar diante dessas tabelas, no período analisado, era uma tendência da população negra escravizada em escolher as madrinhas mais do que a população livre. Talvez a sua condição jurídica levasse essas pessoas a buscarem estabelecer redes sociais cada vez mais amplas, incluindo a figura da madrinha mais comumente do que os livres e libertos.

Diferentemente de Gudeman e Schwartz que, ao estudarem o recôncavo baiano do final do século XVIII, detectaram uma maior possibilidade de crianças livres naturais (indicação apenas da mãe) não terem madrinhas, quando relacionamos condição jurídica e tipo de filiação, constatamos o seguinte resultado:

Tabela 3 – Ausência de padrinhos e madrinhas entre as crianças livres de acordo com o tipo de filiação

Crianças livres ou libertas Legítimas Naturais

5 O número percentual apresentado na tabela é relativo à quantidade total dessas populações: Branca (total

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Padrinhos ausentes 19 07

Madrinhas ausentes 378 208

Fonte: Arquivo Eclesiástico da Paraíba (AEPB) – Livro de Batismo 1851 a 1860.

Com isso, percebemos que as crianças livres ou libertas que são filhas legítimas foram as que mais apresentaram o lugar da madrinha como vago. Talvez pelo fato de formar uma família monoparental, as mães das crianças naturais buscassem ampliar seus vínculos sociais com outras mulheres, auxiliando na criação de seus/suas filhos/as.

Tabela 4 – Ausência de padrinhos e madrinhas entre as crianças escravizadas de acordo com o tipo de filiação

Crianças escravizadas Legítimas Naturais

Padrinhos ausentes -- 05

Madrinhas ausentes 01 47 Fonte: Arquivo Eclesiástico da Paraíba (AEPB) – Livro de Batismo 1851 a 1860.

No caso das crianças escravizadas, essa situação se inverte, apresentam mais crianças naturais com ausência de suas madrinhas. Nessa situação, a condição jurídica poderia interferir na possibilidade de conseguir madrinhas para o batismo. Para mães escravizadas que tinham seus/suas filhos/as naturais, encontrar uma madrinha para auxiliá-la fosse algo difícil.

Não podemos ao certo determinar o que os pais e as mães da cidade da Parahyba do século XIX pensavam para escolher os padrinhos e madrinhas de seus/suas filhos/as. Todavia, podemos constatar que a presença maciça de homens em relação às mulheres na cerimônia do batismo condiz com a sociedade em que aquelas pessoas viviam, onde os homens assumiam uma importância maior, atuando no espaço público e exercendo diversificadas atividades econômicas.

Considerações finais

No decorrer do texto, podemos identificar algumas características importantes para que possamos compreender melhor a sociedade da Parahyba oitocentista por meio das redes sociais estabelecidas. Os estudos sobre família abriu um leque de opções para estudarmos as várias possibilidades de arranjos de parentesco, dentre eles, o espiritual, de compadrio.

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Por meio do compadrio, muitas pessoas criavam vínculos sociais e estabeleciam redes de solidariedade. Dessa maneira, os papéis sociais exercido pelo padrinho e pela madrinha tornam-se cruciais para compreender a sociedade brasileira do século XIX. Todavia, apesar da importância desse papel exercido, muitas vezes, a madrinha não estava presente nos registros de batismo. Isso leva-nos a considerar que havia uma distinção no papel do padrinho e da madrinha.

Segundo aponta a historiografia, as mulheres realmente estavam mais ausentes do que os homens nas relações de compadrio. Essa situação talvez seja explicada porque a mulher assumia um papel inferior ao homem na sociedade oitocentista. Dessa maneira, ser padrinho implicava determinadas obrigações distintas da madrinha. Por ser um vínculo importantíssimo, o compadrio era bem escolhido pelos pais e pelas mães das crianças. Assim, era mais interessante para tais escolher um padrinho apenas do que uma madrinha. Não podemos dizer ao certo o motivo pelo qual as madrinhas eram tão ausentes, todavia, a maior presença dos padrinhos significa maior importância da figura masculina naquela sociedade.

No caso da cidade da Parahyba, a quantidade de madrinhas que estavam ausentes nos registros de batismo também é muito alta. Contudo, quando percebemos os dados mais detalhadamente com relação à condição jurídica, cor/origem étnica e tipo de filiação há algumas diferenciações. Na realidade da população negra, por exemplo, a quantidade de madrinhas ausentes é bastante superior quando comparada à população branca. Essa população negra, quando pensada de acordo com suas condições jurídicas apresentam uma quantidade de crianças livres ou libertas que não possuem madrinhas superior aos escravizados.

Referências

BRÜGGER, Sílvia M. Jardim. Escolha de padrinhos e relações de poder: uma análise do compadrinho em São João Del rei (1736-1850). In: CARVALHO, José Murilo de (Org.). Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 313-347.

GUDEMAN, Stephen; SCHWARTZ, Stuart. Purgando o pecado original: compadrio e batismo de escravos na Bahia no século XVIII. In: REIS, João José. (Org.). Escravidão & Invenção da liberdade. Estudos sobre o negro no Brasil. SP: Brasiliense, p. 33-59, 1988.

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LEITÃO, Deusdedit. Bacharéis paraibanos pela Faculdade de Olinda, 1832-1853. 2. ed. João Pessoa: A União, 1989

MATTOSO, Kátia. Ser escravo no Brasil. Tradução James Amado. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

REIS, Isabel Cristina Ferreira dos. Histórias de vida familiar e afetiva de escravos na Bahia

do século XIX. Salvador: Centro de estudos baianos, 2001.

RIOS, Ana Lugão. Família e transição: Famílias negras em Paraíba do Sul, 1872– 1920.(dissertação de mestrado) Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 1990. ROCHA, Solange P. da. Gente Negra na Paraíba oitocentista: população, família e parentesco espiritual. Recife (Tese de Doutorado), PPGH/UFPE, 2007.

SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. Tradução Jussara Simões. Bauru – SP: EDUSC, 2001.

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