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Ao vencedor as batatas... mas que batatas?

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Academic year: 2021

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Ao

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mas que

batatas?

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ocê já deve ter reparado que você é diferente das outras pessoas: ninguém te confunde com a Marilyn Monroe, com o Pelé, nem mesmo com seu vizinho. É a variabili-dade genética que existe em cada espécie que permite essa diversidade de indivíduos.

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Bom, isso impede que você seja confundido com algum senador, ou com alguma modelo famosa, o que, dependen-do da situação, pode ser um grande azar ou uma baita sorte.

A variabilidade genética, porém, serve para outras coisas como, por exemplo, conferir a alguns indivíduos de uma dada espécie maior resistência a determinadas doenças. Uma boa ilustração dessa função da variabilidade gené-tica é a história da “grande fome das batatas”. Depois de resistirem muito à introdução da batata, proveniente dos Andes, no seu conti-nente, os europeus aderiram ao seu consumo em grande estilo e, nos primórdios do século XIX, a batata era um dos produtos mais cultiva-dos na Europa. Na Irlanda, a batata se conver-teu na base da economia e da dieta alimentar, principalmente para os camponeses, que não comiam nada além delas durante os longos e rigorosos invernos. Em 1845, entretanto, uma doença atacou os plantios de batatas,

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destruin-148 149 do-os completamente e causando uma fome

sem precedentes. Nos dois anos subsequentes, cerca de um milhão e 200 mil pessoas abando-naram a Irlanda, e um milhão morreu de fome, na chamada grande fome das batatas. Depois, entre 1853 e 1900, mais três milhões de pesso-as deixaram o país.

Isso tudo aconteceu porque os irlandeses cultivaram suas batatas a partir de uma única planta, e ela não era resistente ao fungo que atacou seus cultivos. Nos ambientes naturais, as batatas – e outras espécies também –, apre-sentam uma diversidade genética que permite que, quando uma espécie é acometida por al-guma doença, alguns indivíduos sobrevivam, garantindo a permanência daquela espécie na-quele ambiente. No caso dos irlandeses, eles perderam toda sua colheita de batatas e per-deram, também, ao cultivá-las a partir de uma única planta, a possibilidade de recuperar seus cultivos e resolver a questão rapidamente. Per-deram, ainda, com a emigração dos antepassa-dos de Walt Disney, John Lennon, Bing Crosby, Judy Garland e Scott Fitzgerald, mas, talvez, te-nham ganhado alguma coisa com a emigração dos antepassados de Richard Nixon e de Ronald Reagan...

Esse é o grande dilema da agricultura em lar-ga escala; muitas vezes a busca por uma planta “melhor” – com maior produtividade, melhor

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148 149 sabor e/ou maior teor de nutrientes – acaba por diminuir a variabilidade genética das plantas cultivadas, transformando-as, consequente-mente, em alvos mais fáceis para pragas e do-enças. Outro bom exemplo foi o acometimento do arroz híbrido asiático, usado na agricultura mundial, por uma doença causada por um vírus que ameaçou toda a produção mundial de arroz. A salvação veio de algumas plantas de arroz selvagem oriundas das Filipinas que apresenta-vam resistência ao vírus e, consequentemente, à doença. Há casos semelhantes envolvendo a maioria dos cultivos agrícolas: doenças devas-tadoras e a salvação vindo de plantas selvagens, ainda preservadas na natureza.

Os ambientes naturais possuem uma vasta diversidade de indivíduos e de espécies, sobre os quais erigimos as bases de nossa civilização e que continuam a gerar incontáveis benefícios. Diante do ritmo e do risco da devastação desses ambientes, já existem reações como o “Cofre do fim do dias”, também conhecido como “Arca de Noé em Svalbard”. Trata-se de um projeto norueguês, construído em 2008, nas monta-nhas das Ilhas de Svalbard, no Polo Norte, que pretende armazenar uma amostra congelada de sementes de todas as variedades de plan-tas cultivadas no planeta, como garantia para o caso de doenças devastadoras, drásticas mu-danças climáticas e outros eventuais desastres. Após 10 anos, há quase um milhão de amostras

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150 151 mantidas no cofre.

Essa moderna Arca de Noé é uma iniciati-va reveladora, que mostra nossa incapacidade de conservar em seus ambientes naturais até mesmo os recursos que garantem nossa sobre-vivência. Então, esperamos o próximo dilúvio e botamos todas as nossas fichas no raminho de oliveira? Ou melhor, na semente congelada da oliveira? Ou assumimos que uma Arca de Noé já é suficiente na nossa história e botamos nossas fichas – já poucas – na conservação da natureza na própria natureza?

Se o McDonald’s quisesse produzir uma torta de maçã com cada uma das variedades dessa fruta existentes hoje nos Estados Unidos, teria que fazer 1.050 diferentes tortas de maçã. Daria um imenso trabalho, mas esse trabalho diminuiria a cada dia. Por quê? Será que a linha de produção do McDonald’s é tão eficiente?

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150 151 Pode ser que o McDonald’s tenha uma linha de produção eficiente, mas a maior razão para o traba-lho diminuir a cada dia é o desaparecimento das va-riedades de maçã. Desde o começo do século, 85% das 7 mil variedades de maçã norte-americana desa-pareceram. A diversidade de muitas outras espécies usadas na alimentação humana tem diminuído acen-tuadamente, o que certamente trará problemas para a alimentação no futuro, pois é nessa diversidade que reside a possibilidade de resistir a doenças e pragas.

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Meio ambiente

E eu com isso

?

nurit bensusan

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