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A SEGURANÇA INTERNACIONAL E O TERRORISMO: REFLEXOS PARA O BRASIL.

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Academic year: 2021

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EDUARDO NETTO DOS REIS

A SEGURANÇA INTERNACIONAL E O TERRORISMO:

REFLEXOS PARA O BRASIL.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Cel EB (R/1) Mauro Barbosa Ferreira Esteves.

Rio de Janeiro 2017

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C2017 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_________________________________ Eduardo Netto dos Reis

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Reis, Eduardo Netto dos.

A Segurança Internacional e o terrorismo: reflexos para o Brasil. / Cel Art EB Eduardo Netto dos Reis - Rio de Janeiro: ESG, 2017.

64 f.: il.

Orientador: Cel EB R/1 Mauro Barbosa Ferreira Esteves.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2017.

1. Terrorismo. 2. Segurança Internacional. 3. Marco legal brasileiro. 4. Segurança e Defesa. 5. Política Nacional de Defesa. 4. Estratégia Nacional de Defesa. Título.

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A todos da família que durante o meu período de formação contribuíram com ensinamentos e incentivos.

A minha gratidão, em especial aos meus filhos Pérola, Helena e Gabriel e minha querida esposa Adriana, pela compreensão, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, em dedicação às atividades da ESG.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por parte considerável da minha formação e do meu aprendizado.

Aos estagiários da Turma Ordem e Progresso do CAEPE pelo convívio harmonioso de todas as horas.

Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade implícita de ter que melhorar.

Ao meu orientador, Cel Esteves, pela ajuda em todas as fases de execução desse trabalho.

Aos meus pais queridos, Antônio e Izabel, pelo exemplo de caráter e pela educação que moldaram minha personalidade.

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“Terroristas não saqueiam para possuir, nem matam para saquear. Matam para punir e purificar através do sangue. ”

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RESUMO

Esta monografia aborda o Terrorismo como um dos fenômenos mais preocupantes para a Segurança Internacional. O objetivo deste estudo é analisar os conceitos de terrorismo por atores e organismos internacionais comparando-os com a percepção e a legislação brasileira para concluir sobre reflexos para a Segurança e Defesa. A metodologia empregada comportou uma pesquisa bibliográfica e explicativa, valendo-se de obras de autores consagrados, monografias da Escola Superior de Guerra (ESG) e de consulta a artigos científicos ostensivos sobre terrorismo e segurança internacional em sites especializados na internet. Também focalizou o trato do assunto previsto nas normas legais brasileiras, em especial a Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 (Lei Antiterrorismo), a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa. O trabalho limitou-se à análise dos conceitos, políticas e estratégias antiterrorismo preconizados pela Segurança Internacional e pelo Brasil e ficou restrito à percepção pelo Sistema Internacional do chamado “Novo terrorismo”, cujo marco representativo foi o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. A conclusão apresenta reflexos para a Segurança e Defesa do País a partir da comparação da percepção e legislação brasileira com a do Sistema Internacional.

Palavras chave: Terrorismo. Segurança Internacional. Marco legal brasileiro.

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ABSTRACT

This monograph approaches Terrorism as one of the most worrisome phenomena for International Security. The objective of this study is to analyze the concepts of terrorism by actors and international organizations comparing them with the perception and the Brazilian legislation to conclude on reflexes for Security and Defense. The methodology used included a bibliographical and explanatory research, using works by consecrated authors, monographs of the Higher School of War (ESG) and consultation of ostensible scientific articles on terrorism and international security on specialized websites. It also focused on the treatment of the subject set forth in Brazilian legal norms, especially Law 13,260 of March 16, 2016 (Antiterrorism Law), the National Defense Policy, the National Defense Strategy and the White Defense Paper. The work was limited to the analysis of antiterrorism concepts, policies and strategies advocated by International Security and Brazil and was restricted to the perception by the International System of the so-called "New Terrorism", whose representative mark was the terrorist attack of September 11, 2001. The conclusion presents reflexes for the Security and Defense of the country from the comparison of perception and Brazilian legislation with that of the International System.

Keywords: Terrorism. International Security. Brazilian legal framework. Security and Defense. National Defense Policy. National Defense Strategy.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Atentados terroristas da 1ª onda………... 17

QUADRO 2 Principais grupos terroristas da 1ª onda... 17

QUADRO 3 Principais grupos terroristas da 2ª onda... 19

QUADRO 4 Principais grupos terroristas da 3ª onda... 20

QUADRO 5 Principais grupos terroristas da 4ª onda... 25

QUADRO 6 Modelos de respostas aos atentados... 27

QUADRO 7 Visão geral de ataques falhos, frustrados e completados em 2016, por país e motivação... 36

QUADRO 8 Prisões por países e motivações... 37

QUADRO 9 Vulnerabilidades... 49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência ADM Arma de destruição em massa

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CS/ONU Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas EAE Estratégia Antiterrorista Europeia

EES Estratégia Europeia de Segurança END Estratégia Nacional de Defesa ESG Escola Superior de Guerra

ESI Estudos de Segurança Internacional EUA Estados Unidos da América

FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia FBI Federal Bureau of Investigation

GLO Garantia da Lei e da Ordem

GSIPR Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República ISIS Estado Islâmico da Síria e do Iraque

MD Ministério da Defesa

MST Movimento dos trabalhadores sem terra MTST Movimento dos trabalhadores sem teto OLP Organização para Libertação da Palestina ONU Organização das Nações Unidas

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PESC Política Externa e de Segurança Comum PF Polícia Federal

PND Política Nacional de Defesa PNI Política Nacional de Inteligência SI Sistema Internacional

SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência UE União Europeia

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 1ª GM Primeira Guerra Mundial

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 2 O TERRORISMO ... 12 2.1 CONCEITOS... 12 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA... 14 2.2.1 A primeira onda... 16 2.2.2 A segunda onda... 18 2.2.3 A terceira onda... 19 2.2.4 A quarta onda... 22

2.3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO TERRORISMO... 25

2.4 PREVENÇÃO E RESPOSTA AO TERRORISMO... 26

3 A SEGURANÇA INTERNACIONAL ... 28

3.1 TEORIAS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL... 29

3.2 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS... 32

3.3 A UNIÃO EUROPÉIA... 34

3.4 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA... 40

3.5 ASPECTOS COMUNS DAS ESTRATÉGIAS ANTITERROR... 45

4 O BRASIL E O TERRORISMO... 46

4.1 A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTA-MENTO AO TERROR... 46

4.2 O MARCO LEGAL VIGENTE... 47

4.3 LACUNA DA LEGISLAÇÃO... 48

4.4 VULNERABILIDADES DO BRASIL ... 49

4.5 A PERCEPÇÃO BRASILEIRA... 51

4.6 A POLÍTICA E A ESTRATÉGIA NACIONAIS DE DEFESA... 54

4.7 REFLEXOS POSSÍVEIS PARA AS EXPRESSÕES DO PODER NACIONAL... 57

5 CONCLUSÃO... 58

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1 INTRODUÇÃO

O terrorismo fundamentalista islâmico tem causado muita apreensão na Segurança Internacional em virtude de seus atos violentos e do pânico disseminado nas últimas décadas.

A ocorrência de atentados terroristas dessa natureza tem a clara intenção de desafiar países opositores e de difundir a ideologia do fundamentalismo islâmico baseada no desprezo e na destruição da sociedade ocidental.

Esse tipo de terrorismo encontra-se muito longe de destruir um Estado, mas tem a capacidade de abalar as suas expressões do poder.

Muito embora o terrorismo não seja a maior causa de mortes pelo mundo, cada ataque terrorista promove o medo e a instabilidade nos locais de ataque, além de efeitos devastadores como vidas perdidas, como a revolta que toma conta dos cidadãos e, até mesmo, reflexos na economia do país.

O atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América (EUA), executado pela Al-Qaeda (A Base) de Osama Bin Laden, foi um marco desse fenômeno e, desde então, outras ações terroristas de cunho fundamentalista islâmico, como as patrocinadas pelo Daesh1, surgiram nos países europeus. Os reflexos desses

atentados repercutem pelo mundo e nos alerta para a importância da prevenção dessa ameaça pela Segurança Internacional.

A busca do Brasil pelo desenvolvimento e pela maior inserção no cenário mundial é um processo que modificaria nosso status quo nas Relações Internacionais podendo atrair o ressentimento ou ódio de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos contrários aos nossos interesses.

É factível, portanto, que essa ameaça tenda a aumentar na medida em que se incremente a participação do nosso país no concerto das nações, tornando sua prevenção e combate um tema cada vez mais relevante na nossa estratégia de Segurança e Defesa.

A questão que se espera responder ao final deste trabalho é: em que medida a estratégia de enfrentamento ao terrorismo pelo Estado brasileiro se encontra adequadamente preparada?

Dessa forma, a abordagem do tema terá como objetivo analisar as

1 Daesh (Estado Islâmico), de origem sunita, surgiu por volta do ano de 1993 e ganhou notoriedade

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percepções e estratégias de enfrentamento ao terrorismo por atores e organismos significativos da Segurança Internacional comparando-os com a percepção e as ações antiterrorismo do Estado brasileiro e identificar possíveis reflexos para o País.

Nessa perspectiva, em um primeiro momento será conceituada a Segurança Internacional segundo a Escola de Copenhague, a evolução do terrorismo até o modelo fundamentalista islâmico, e as estratégias antiterroristas da Organização das Nações Unidas (ONU), da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América (EUA). Ao longo do trabalho, buscar-se-á descrever a evolução da nossa legislação e da nossa estrutura de enfrentamento ao terror; comparar aquelas estratégias com a postura brasileira; e destacar possíveis reflexos para as expressões do poder nacional.

A metodologia empregada baseou-se em uma pesquisa bibliográfica e explicativa, valendo-se de obras de autores consagrados, monografias da Escola Superior de Guerra (ESG) e de consulta a artigos científicos sobre terrorismo e segurança internacional em sites especializados na rede mundial de computadores. Os dados disponíveis nessas fontes são acessíveis, ostensivos e passíveis de tratamento e interpretação para a solução da questão deste trabalho.

O estudo ficará restrito à percepção pela Segurança Internacional do chamado “Novo terrorismo”, de natureza fundamentalista islâmico, cujo marco representativo foi o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América.

Por se tratar de um assunto de amplo espectro, este trabalho limitar-se-á à análise dos conceitos, políticas e estratégias antiterrorismo preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela União Europeia (UE), pelos Estados Unidos da América (EUA) e pelo Brasil.

Destarte, a apresentação do tema será abordada em cinco capítulos, sendo iniciado por esta breve introdução. No capitulo dois serão apresentados os conceitos e a evolução histórica do terrorismo. No capítulo três, serão descritas as definições, as percepções e as estratégias de alguns atores da Segurança Internacional acerca do fenômeno. A seguir será apresentado um diagnóstico atual da estrutura brasileira de enfrentamento ao terror e, por fim, será encerrada com uma conclusão do estudo.

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2 TERRORISMO

O terrorismo é um evento frequente nos noticiários internacionais, porém, conceituá-lo é muito difícil pois não há um consenso universal entre os 193 países da Organização das Nações Unidas (ONU).

Woloszyn (2009, p. 67) afirma que há mais de 160 definições para o terrorismo por conta de sua constante evolução e diversidade de consequências.

Vejamos, a seguir, alguns conceitos elaborados acerca desse fenômeno.

2.1 CONCEITOS

Segundo o historiador Walter Laqueur (1977, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 6), define-se terrorismo como a contribuição para o uso ilegítimo da força de modo a alcançar um objetivo político, quando pessoas inocentes são os alvos.

Entretanto, percepções diferentes, influenciadas por ideologias, religiões, questões culturais e econômicas, podem tornar o terrorismo uma forma legítima e justa de luta para um certo estado ao passo que para outro não passa de uma forma violenta e covarde de se atingir um fim político.

De acordo com Woloszyn (2009, p. 23), o terrorismo é:

...um fenômeno histórico que sempre existiu e provavelmente sempre vai existir. Empregado como a última esperança do mais fraco, o recurso que pode impedir o mais débil a ganhar o combate contra o forte, mas também como instrumento de poder de governos e organizações, tem-se manifestado sob diferentes formas ao longo dos séculos, e junto a distintos povos e regiões.

Whittaker (2005, apud MESQUITA 2012, p. 17, grifo nosso), cita o discurso de Yasser Arafat, então líder da Organização para Libertação da Palestina (OLP), na Assembléia Geral da ONU, em novembro de 1974, que dá o tom da complexidade da percepção do terrorismo pelas pessoas:

[...] a diferença entre revolucionário e terrorista está no motivo pelo qual cada um deles luta. Isso porque quem quer que assuma posição por uma causa justa e batalhe pela liberdade e pela libertação de sua terra do jugo

de invasores, assentadores e colonizadores não pode de modo algum ser chamado de terrorista.

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[...] a definição de terrorismo é um dos aspectos mais ambíguos dos estudos de terrorismo, uma vez que “ não há uma definição universalmente aceita que possa diferenciar ataques contra civis não combatentes ou alvos militares, tampouco que leve em conta as últimas tendências nas práticas terroristas ou em seus objetivos”

O Glossário das Forças Armadas do Brasil (BRASIL, 2015, p. 267) define o terrorismo como:

Forma de ação que consiste no emprego da violência física ou psicológica, de forma premeditada, por indivíduos ou grupos adversos, apoiados ou não por Estados, com o intuito de coagir um governo, uma autoridade, um indivíduo, um grupo ou mesmo toda a população a adotar determinado comportamento, e pode ser motivado por razões políticas, ideológicas, econômicas, ambientais, religiosas ou psicossociais.

A ONU, por meio da Resolução nº 49/60 de sua Assembléia Geral - Medidas para eliminar o terrorismo internacional - de 9 de dezembro de 1994, apresentou a seguinte aproximação para o conceito de terrorismo (p. 4, tradução nossa):

Os atos criminosos destinados a provocar um estado de terror no grande público, num grupo de pessoas ou determinadas pessoas para fins políticos são, em qualquer circunstância, injustificáveis, quaisquer que sejam as considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou qualquer outra natureza que possa ser invocada para justificá-los;

Segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 8 e 9) a ideia de ações violentas contra alvos de qualquer natureza para intimidar populações ou forçar autoridades a agir ou deixar de agir, presente na resolução anterior, caracteriza o terrorismo do século XXI. A UE define terrorismo através da Decisão-Quadro do Conselho Europeu, de 13 de junho de 2002, como apresentado por Noivo e Seabra (2010, p. 38):

[...] o Conselho Europeu conseguiu alcançar um feito significativo, ao chegar a acordo quanto a uma definição unânime de terrorismo, que passava assim a englobar todas as infracções “susceptíveis de afetar gravemente um país ou uma organização internacional” com o propósito de “intimidar gravemente uma população”, “constranger indevidamente os poderes públicos ou uma organização internacional a praticar ou a abster-se de praticar qualquer ato” ou “desestabilizar gravemente ou destruir as estruturas fundamentais políticas, constitucionais, económicas ou sociais de um país ou de uma organização internacional”.

Os EUA possuem definições variadas, conforme a percepção de alguns órgãos de segurança. Conforme Woloszyn (2009, p. 70) as definições segundo o Código de Leis Criminais e o FBI são as seguintes:

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No Código de Leis Criminais, é definido como sendo uma violência criminosa com o propósito de intimidar e coagir a população civil, influir em políticas do governo por intimidações e coerções e, afetar a conduta do governo por meio de assassinatos e sequestros. Engloba a utilização de armas de destruição em massa que atinjam norte-americanos ou bens dos EUA em seu próprio território ou no estrangeiro.

Para Holmes e Burke (1994), membros do Federal Bureau of Investigation (FBI), terrorismo é o uso ilegal da força ou violência, física e psicológica, contra pessoas e propriedades, com o propósito de intimidar ou coagir um governo, a população civil ou segmento da sociedade, a fim de alcançar objetivos políticos ou sociais.

Em que pese a falta de consenso acerca da definição do fenômeno terrorismo no sistema internacional de nações, a sua recorrência vem sendo constantemente condenada no âmbito da ONU e em outros fóruns multilaterais de segurança regional e global, dos quais o Brasil tem efetiva participação.

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O terrorismo é um fenômeno muito antigo da sociedade e conhecido desde o século I, quando um grupo de zelotas judeus, combatentes da ocupação romana da Judeia, denominados sicários2 executaram muitos soldados, causando forte represália de Roma, como a destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C., e a expulsão dos judeus da Palestina.

No século XI, no Oriente Médio, os Ismailis-Nizari3, muçulmanos xiitas,

praticavam atentados contra líderes militares e políticos, preferencialmente cristãos e muçulmanos contrários a sua fé, e empregavam, quando necessárias, técnicas de vigilância e disfarce para matá-los.

Na época das Cruzadas do século XII, táticas de terror foram praticadas pelos cavaleiros na queima e destruição das cidades muçulmanas, bem como nos estupros e nas execuções sumárias, como no cerco de Ma'arrat al-Numan4.

A Revolução Francesa, em 1789, foi um marco para o terrorismo. A ruptura radical do modelo monárquico absolutista pelo democrático utilizou o terror como instrumento de consolidação. Robespierre, a mando do estado francês, estabeleceu o régime de la terreur 5 e executou cerca de 12 mil opositores na guilhotina.

Diferentemente dos eventos históricos anteriores, nos quais o terrorismo era

2 Sicários: nome originado da adaga “sicae” por eles utilizada 3 Ismailis-Nizari ou Ordem dos Assassinos, do árabe Hashashin.

4 Localizada na Síria e foi palco do massacre de 20 mil habitantes em 12 de dezembro de 1098. 5 Reinado do terror, de setembro de 1792 a julho de 1794.

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executado por pequenos grupos organizados em torno de uma causa, a Revolução Francesa foi o primórdio do chamado “terrorismo de estado”.

O século XIX marcou o surgimento de grupos anarquistas, contrários ao desemprego e à exclusão social promovidos pela recente Revolução Industrial e a favor de uma insurreição internacional.

Com base na obra “Das Mord” do alemão Karl Heizen (1809-1880), os anarquistas realizaram atos de terror como sequestros, assassinatos e atentados à bomba. Os russos Mikhail Bakunin (1814-1876), Piotr Kropotkin (1842-1921) e Sergey Nechayev (1847-1882) foram os maiores expoentes dessas práticas.

O Movimento Comunista, inspirado na obra de Karl Marx (1818-1883), por sua vez, se apropriou da violência como instrumento legítimo na luta de classes para a instauração da ditadura do proletariado.

No alvorecer do século XX, assistiu-se a um recrudescimento de atentados terroristas de cunho anarquista e nacionalista, como o ocorrido contra o herdeiro do Império Austro-húngaro, Arquiduque Francisco Ferdinando, em 28 de junho de 1914, pela organização Mão Negra (nacionalista), que deu origem à Primeira Guerra Mundial (1ª GM).

A Revolução Russa de 1917 implantou o primeiro estado comunista que passou a inspirar, apoiar e financiar grupos terroristas alinhados ideologicamente.

Após a 2ª GM, as potências europeias, enfraquecidas pelos anos de guerra, passaram a sofrer atentados de grupos nacionalistas nas colônias da África e Ásia.

Os anos de 1970 foram palco de ações terroristas promovidas por árabes da OLP contra Israel, em defesa dos palestinos, em países europeus. Um marco dessa época foi o atentado das Olimpíadas de Munique6, em 1972, cometido pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro.

Na década seguinte, inspirados pela Revolução Islâmica do Irã, surgiram grupos terroristas de cunho religioso como o Hezbollah (Partido de Deus), do Líbano, e o Hamas (Entusiasmo), da Palestina, que promoveram ataques contra os israelenses, militares e civis, e popularizaram os chamados “atentados suicidas”.

O fim do século XX assistiu a fragmentação da URSS, o consequente término da bipolarização com os EUA, a queda do muro de Berlim, a ascensão do neo-liberalismo, a globalização e a criação da rede mundial de computadores (internet).

6 Atentado no qual onze integrantes da seleção olímpica de Israel foram sequestrados e mortos em

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A chamada Primavera Árabe foi outro marco transformador recente na sociedade. Ela teve início no final do ano de 2010, em países do norte da África e do Oriente Médio, entre os quais a Tunísia, a Líbia, o Egito, a Argélia, a Síria, o Bahrein, o Marrocos, o Iêmen, a Jordânia e o Omã, surgindo como uma onda de protestos e revoluções em que a população foi às ruas para derrubar ditadores ou reivindicar melhores condições sociais de vida. Na Síria, em especial, evoluiu para uma Guerra Civil que se estende até hoje.

Nesse ambiente de mudanças complexas, em tão curto período de tempo, floresceu o terrorismo fundamentalista islâmico. Grupos como a Al-Qaeda e o Daesh, repudiando toda forma de expressão da sociedade ocidental em detrimento de uma nova sociedade inspirada no Corão7, promoveram, desde então, atos terroristas significativos.

Segundo David Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 25) há quatro ondas de terrorismo internacional, ou sejam, ciclos caracterizados por fases de expansão e de contração. Cada onda teve características próprias, estratégias e táticas distintas, simpatizantes e apoiadores, grupos mais proeminentes do que outros e com duração média de trinta ou quarenta anos. Vejamos cada uma delas a seguir.

2.2.1 A primeira onda

A primeira onda, segundo Rapoport foi a “Anarquista”, do final do século XIX, na Rússia, com doutrina e estratégia propostas pelos escritores russos Mikhail Bakunin, Piotr Kropotkin e Sergey Nechayev, presente até os anos de 1920. Tal onda englobou a violência praticada por anarquistas, revolucionários russos e nacionalistas. Sua origem está ligada aos movimentos de resistência às transformações econômicas, sociais e políticas da Rússia czarista após as guerras napoleônicas, um regime alvo de reações populares e de grupos recém-formados na era pós-servidão.

Em 1881, a organização revolucionária Narodnaya Volya (Liberdade do povo) matou o czar Alexandre II (1818-1881) como forma de acelerar a queda da monarquia e foi perseguida pelo Estado e muitos de seus seguidores acabaram presos e executados.

No início de 1900, outra organização, o Partido Socialista Revolucionário,

7Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal

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mais violento do que a Narodnaya, promoveu o terror na Rússia para estimular o início de uma revolta popular socialista que derrubasse o Czar Nicolau II (1868-1918).

O Partido Operário Social - Democrata de Lenin, em que pese discordar dos assassinatos individuais dos socialistas, fez uso do terror por meio de expropriações proletárias e outras ações que angariassem fundos para a revolução comunista.

Segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 30), essas práticas acabariam constituindo doutrina a ser empregada por organizações revolucionárias em todo o mundo, como os movimentos de luta armada no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970.

Os anarquistas usavam o terror para a destruição rápida e brusca do Estado e, assim, implantar o comunismo. Para obter seu fim, eles elegiam líderes de governo e seus representantes de vários países como alvos, utilizando-se de assassinatos individuais e explosão de bombas em evento público, como se vê no Quadro nº 1:

Quadro 1 – Atentados terroristas da 1ª onda

Autoridade / Instituição / Evento País Ação Ano

Câmara dos Deputados de Paris

França Explosão de Bomba 1893 Presidente Sadi Carnot

Assassinato

1894

Imperatriz Elizabeth Áustria 1898

1º Ministro Antonio Cánovas del Castillo Espanha 1897

Rei Umberto I Itália 1900

Presidente William McKinley Estados Unidos 1901 Rei Carlos I e seu herdeiro Luís Felipe Portugal 1908 Jornal Los Angeles Times Estados Unidos Explosão de Bomba 1910

Fonte: o autor (2017)

Os grupos nacionalistas, por sua vez, defendiam a independência e a autodeterminação dos povos na Europa permeada por grandes impérios multiétnicos, como o Austro-húngaro, o Turco-otomano e o Reino Unido. Faziam uso de atentados, de sequestros e de outras ações violentas pela causa como se observa a seguir:

Quadro 2 – Principais grupos terroristas da 1ª onda

Grupos nacionalistas País de origem Causa da Independência da Império

Fenianos Estados Unidos - 1831 Irlanda Reino Unido Federação

Revolucionária Armena Armênia - 1890 Armênia

Turco-otomano Mão Negra Sérvia - 1910 Bósnia-Herzegovina e criação

do reino eslavo

Austro-húngaro

Fonte: o autor (2017)

Segundo Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p.32 e 33), as características dessa onda podem ser assim enunciadas: forte influência revolucionária; uso dos meios de comunicação e de propaganda para promover a

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causa revolucionária; e o terrorismo como meio mais rápido e efetivo para destruir a ordem convencional.

2.2.2 A segunda onda

Esta fase, com início após a 1ª GM e estendendo-se até os anos de 1960, teve como motivação as lutas de independência colonial contra as metrópoles europeias, nos chamados movimentos de libertação nacional.

As técnicas de guerrilha foram amplamente empregadas pelas organizações terroristas para se opor às forças de repressão (exércitos imperialistas).

Os atentados podiam ocorrer tanto em solo colonial ou nas capitais europeias, como forma de disseminar sua causa para todos os segmentos sociais envolvidos. Segundo Rapoport (2006, apud GONÇALVES e REIS, 2017, p. 34), a percepção dos grupos revoltosos como “terroristas” mudou para “combatentes da liberdade”, ao passo que os representantes governamentais eram considerados os verdadeiros “opressores terroristas” das populações nativas.

Conforme Gonçalves e Reis (2017, p.34) o termo “terrorista” denotava um sentimento tão negativo que os “combatentes da liberdade” buscavam se afastar desse rótulo até mesmo para conferir aos seus atos uma causa justa, sendo tal técnica, também usada na terceira onda por algumas organizações.

Muitos países no Oriente Médio, na África e na Ásia conseguiram sua independência por meio do terrorismo da segunda onda.

As organizações terroristas da 2ª onda, segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 42) possuíam características distintas da daquelas da primeira onda, tais como:

- A substituição do termo “terrorista” pela expressão “combatentes da liberdade” para angariar a simpatia das populações nativas e justificar os atos de terror em nome da nobre causa da independência e autodeterminação;

- Financiamento externo de colonos ou de Estados solidários à causa;

- Assassinatos sistemáticos de policiais, considerados representantes do estado opressor; e

- Ingerência das superpotências da Guerra Fria, URSS e EUA, em alguns conflitos de independência.

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Quadro 3 - Principais grupos terroristas da 2ª onda

Grupo/ País/ Ano Causa Técnicas

Irish Republican Army (IRA) Irlanda - 1921

Libertação da Irlanda e Irlanda do Norte do Reino Unido

Atentados a bomba contra população protestante, civis e militares

Irmandade Muçulmana Egito - 1928

Libertação do Egito do Reino Unido

Atos de terror contra os britânicos no Egito Viet Mihn China - 1941 Independência da Indochina da França Assassinatos de lideranças e de agentes públicos; e guerrilha rural

Mau Mau

Quênia - 1952

Independência do Quênia do Reino Unido

Ataques contra colonos ingleses e outras etnias colaboradoras

Irgun

Palestina - 1931

Criação de Israel na Palestina, sob domínio do Reino Unido

Ações de represália e atentados contra militares britânicos e civis

OLP - Palestina - 1964 Libertação da Palestina e contenção do sionismo

Guerrilha para ataques a cidadãos israelenses

Fonte: o autor (2017)

2.2.3 A terceira onda

A terceira onda do terrorismo surgiu nos anos 1960, conforme Rapoport. A disputa ideológica entre comunismo e capitalismo acirrou as manifestações sociais, especialmente no seio dos operários e estudantes, levando-os para a luta armada, sob o manto de novos grupos terroristas de esquerda nessa década.

O exemplo vitorioso da guerrilha comunista na Guerra do Vietnã8 contra os EUA inspirou a proliferação de muitos grupos terroristas na Europa e na América Latina, lutando contra o modelo capitalista, movimento que ficou conhecido como a “nova onda de esquerda”.

As principais características dos grupos terroristas desse período foram: - Predominância da luta pela implantação da ideologia de esquerda, acrescida, eventualmente de discursos nacionalistas e separatistas;

- Patrocínio da URSS aos grupos terroristas de viés esquerdista;

- Incremento da participação e da liderança feminina de grupos terroristas, como por exemplo, a da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, integrante dos grupos terroristas Comando de Libertação Nacional (COLINA) e Vanguarda Revolucionária Palmares (VAR – Palmares), ambos de esquerda;

- Realização de ações de caráter midiático para propagar seus ideais e suas respectivas organizações;

- Intensa execução de sequestros de autoridades e de aviões; e - Emprego de técnicas de guerrilha urbana e rural.

8 A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. As

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Os grupos terroristas mais relevantes dessa época estão apresentados abaixo com seus respectivos países de origem:

Quadro 4 - Principais grupos terroristas da 3ª onda

Exemplos de Grupos terroristas País Causa

Baader- Meinhof Alemanha

Ocidental

Comunista

Exército Vermelho Japonês Japão

Brigadas Vermelhas Itália

Frente Sandinista de Libertação Nacional Nicarágua 1. Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

(FARC);

2. Movimento 19 de abril (M-19); e 3. Exército de Libertação Nacional (ELN).

Colômbia

1. Sendero Luminoso; e

2. Tupac Amaru. Peru

Montoneros. Argentina

Tupamaros. Uruguai

1. ALN - Ação Libertadora Nacional;

2. MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro; 3. VPR -Vanguarda Popular Revolucionária; 4. AP - Ação Popular;

5. POLOP - Política Operária; 6. VAR - Palmares;

7. COLINA - Comando de Libertação Nacional; e 8. PC do B - Partido Comunista do Brasil.

Brasil

Euskadi Ta Askatasuna (ETA) Espanha e França Comunista Separatista

Fonte: o autor (2017)

Conforme Gonçalves e Reis (2017, p. 47), as ações terroristas no Brasil, no período se comportaram da seguinte forma:

No Brasil, sobretudo durante o período militar (1964-1985), proliferaram grupos de esquerda que recorreram a atos de terror em sua luta contra o regime. Esses grupos desencadearam ações como assaltos, roubos a banco (desenvolvendo inclusive toda uma técnica para ataques a instituições bancárias), sequestros, explosões de carros-bombas e assassinatos, geralmente com treinamento e orientação de agentes estrangeiros, e sob a justificativa de que estavam a lutar contra o regime militar e com o objetivo de promover a revolução e estabelecer no Brasil um Estado comunista (nos moldes das ditaduras cubana, chinesa, albanesa e soviética).

Com o enfraquecimento do fervor ideológico de esquerda e o fim do financiamento soviético muitas dessas organizações foram extintas. Outras, em especial na América do Sul, como as FARC, em processo de pacificação desde 2012, e o Sendero Luminoso associaram-se aos cartéis de produção de cocaína como forma de se manterem ativas.

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organizado brasileiro, marcado nos últimos anos por uma disputa de espaço9 no mercado distribuidor de drogas entre facções criminosas da Família do Norte10 (FDN), Primeiro Comando da Capital11 (PCC) e Comando Vermelho12 (CV).

Segundo o Ministério da Defesa, o agravamento da Segurança Pública no Brasil, desde 2010, ocasionou 29 operações de Garantia da Lei e da Ordem13 (GLO), sendo que 10 delas foram no Estado do Rio de Janeiro, berço do Comando Vermelho. Alguns episódios recentes, ligados ao crime organizado, desencadearam operações de GLO, tais como:

- A Operação Varredura, iniciada em janeiro de 2017, tendo como objetivo a busca de armas, celulares e drogas nos presídios estaduais do Amazonas (AM), de Rondônia, (RO), de Roraima (RR), do Rio Grande do Norte (RN) e do Mato Grosso do Sul (MS). Pelo menos três dos presídios vistoriados foram palco de barbáries neste início de ano, decorrentes da disputa pelo controle do tráfico de drogas na Região Norte, entre o PCC e a FDN, como a penitenciária de Alcaçuz, em Natal, a de Monte Cristo, em Roraima, e o complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) de Manaus; e - A Operação Segurança e Paz, no Estado do Rio de Janeiro, deflagrada em 28 de julho de 2017, com o emprego de 8.500 militares das Forças Armadas em ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que atuarão em conjunto com outros agentes de segurança pública federal, estadual e municipal para conter a criminalidade.

Como se denota, o reflexo da conexão FARC e Sendero Luminoso com as organizações criminosas brasileiras suscitaram o emprego frequente e vulgarizado das Forças Armadas, notadamente vocacionadas para a Defesa, em operações voltadas para incrementar a Segurança Pública.

9 As facções Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital, aliadas há quase duas décadas,

romperam sua união em 2016, por disputa de território nas fronteiras do Brasil com Paraguai, Bolívia e Colômbia, que ocasionou numa rebelião nos presídios em Rondônia e Roraima.

10 A FDN é uma organização criminosa criada no Estado do Amazonas como reação ao controle

exercido pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nas atividades do tráfico de drogas.

11 O PCC é uma organização criminosa criada no Estado de São Paulo que

coman-da rebeliões, assaltos, sequestros, assassinatos e narcotráfico. Atua principalmente em São Paulo, mas também está presente em 22 dos 27 estados brasileiros, além de países como Bolívia e Paraguai.

12 O CV é uma das maiores organizações criminosas do Brasil. Foi criada em 1979, na prisão Cândido

Mendes, na Ilha Grande/RJ, a partir da união de presos comuns, de presos políticos e de militantes de grupos armados.

13 O emprego das Forças Armadas em operações de GLO tem por objetivo a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, em situações de esgotamento dos instrumentos a isso previstos no artigo 144 da Constituição ou em outras em que se presuma ser possível a perturbação da ordem.

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2.2.4 A quarta onda

O ano de 1979 é considerado o marco histórico para o início da 4ª onda do terrorismo em virtude de três grandes eventos de repercussão no mundo muçulmano:

- A Revolução Islâmica no Irã, na qual a ascensão do aiatolá Khomeini viabilizou a transformação do País em um estado islâmico radical xiita para patrocinar a expansão mundial do fundamentalismo muçulmano. Para tanto, definiram os EUA e Israel como suas maiores ameaças e apoiavam atos terroristas em países inimigos;

- O ataque à Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita que foi realizado por muçulmanos radicais que buscavam a deposição da família Saud do poder e o estabelecimento de um regime mais rigoroso na Arábia. O trágico desfecho da crise ocasionou a morte dos terroristas e de centenas de peregrinos, forçando o governo a adotar normas religiosas mais severas para conter a fúria desses muçulmanos. Tal solução estimulou, também, outros grupos fundamentalistas a praticarem atos terroristas para impor suas exigências; e

- A invasão do Afeganistão pela URSS que fortaleceu o papel dos mujahedins (guerreiros santos), do ramo sunita, apoiados pelos EUA e combatentes insurgentes contra o invasor soviético, que dava suporte ao Governo da República Democrática do Afeganistão (socialista). Vencida a guerra, em 1989, muitos combatentes afegãos se tornaram jihadistas (lutadores) e empreenderam a Jihad (Guerra Santa) para combater a cultura ocidental e implantar uma sociedade baseada na Sharia14.

O fundamentalismo islâmico, sistema de governo que prevê a coordenação de todos os aspectos sociais através da Sharia, ganhou forte impulso com esses eventos, tornando-se uma causa legítima para muitos grupos terroristas.

A Irmandade Muçulmana é o principal movimento religioso islâmico com origem no ano de 1928, no Egito. Difunde a mensagem do estabelecimento de um estado islâmico unificado que abrigaria toda a nação muçulmana e estimula o emprego da força para destruir qualquer sociedade não-islâmica.

O Hamas ou Movimento de Resistência Islâmico, fundado em 1987, por integrantes da Irmandade Muçulmana Palestina, surgiu como movimento armado contra a ocupação israelense e foi o pioneiro do ataque terrorista com homem-bomba. O Hezbollah ou Partido de Deus surgiu em 1982 por clérigos xiitas para

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expulsar o exército israelense do sul do Líbano e criar um estado islâmico no local. A Al Qaeda foi o grupo mais significativo dessa onda em virtude do ataque de 11 de setembro de 2001 aos EUA. O seu modelo de sucesso passou a inspirar grupos como o Daesh e o Boko Haram, que têm como objetivos a expulsão dos EUA e seus aliados do Oriente Médio; a criação de um califado pan-islâmico; e a adoção do fundamentalismo islâmico por todas as sociedades muçulmanas.

Para Gonçalves e Reis (2017, p. 52), a inovação da Al Qaeda está em: - Ser uma organização sem uma hierarquia vertical;

- Contar com uma rede mundial de colaboradores; - Atuar em pequenas células;

- Pregar uma Jihad contra os EUA e seus aliados de forma global; e

- Não ter um sistema de controle, desejando inclusive fazer uso de armas de destruição em massa (ADM) de forma indiscriminada.

O Daesh (Estado Islâmico), de origem sunita, surgiu por volta do ano de 1993 e ganhou notoriedade como grupo insurgente contra os EUA e seus aliados na invasão do Iraque em 2003. Inspirado na Al Qaeda, rompeu sua ligação com Osama Bin Laden e mudou seu nome para Al Qaeda do Iraque (AQI). Em 2006, juntou-se a outros grupos sunitas passando a adotar os sucessivos nomes de “Conselho Shura

Mujahideen” (CSM em janeiro de 2006), de “Coalizão Mutayibeen” e de “Estado

Islâmico do Iraque” (ambos em outubro de 2006).

Em 2013, em pleno conflito sírio15, o grupo alterou sua denominação para “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”, fruto da sua intenção em expandir seu território para as regiões do Levante (áreas nos territórios da Síria, Israel, Jordânia, Palestina e Líbano).

A partir da consolidação de um califado islâmico em áreas do interior da Síria e do Iraque, em junho de 2014, assumiu a denominação de Estado Islâmico da Síria e do Iraque (ISIS) ou simplesmente Estado Islâmico.

O Daesh destaca-se pelas seguintes características:

- Planejamento estratégico: aproveita-se da fraqueza da Síria e do Iraque, bem como da inércia inicial das grandes potências mundiais na crise síria para

15A Guerra Civil Síria é um conflito interno em andamento na Síria, que começou como uma série de

grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma violenta revolta armada em 15 de março de 2011, influenciados por outros protestos simultâneos no mundo árabe que busca derrubar o presidente Bashar al-Assad e implantar uma democracia.

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conquistar territórios fronteiriços entre esses dois países.

- Inovação: estabeleceu um “novo estado”, constituído pela população e territórios conquistados, fato inédito para um grupo terrorista.

- Flexibilidade de ações: executa combates de guerrilha e convencional, contando para este último, com efetivo significativo de combatentes e armamentos pesados como carros de combate e artilharia.

- Modernidade: emprega as mídias sociais como youtube e facebook como instrumento de disseminação da causa, de recrutamento e de propaganda do próprio grupo em escala mundial direcionando suas campanhas para o público jovem.

- Financiamento eficiente: obtém recursos de simpatizantes e estados estrangeiros, bem como da venda de petróleo no mercado negro.

- Maximização da violência: faz uso de extrema crueldade para intimidar seus inimigos, desencorajando-os a continuar lutando. Expõe, frequentemente, a execução dos combatentes capturados em vídeos na rede mundial de computadores.

- Recrutamento global: acolhe simpatizantes oriundos de várias partes do mundo para combater pela causa.

- Ações descentralizadas: incentiva a realização de atentados terroristas por lobos solitários16 em seus países de origem.

- Doutrinação ideológica intensa: promove a doutrinação de simpatizantes pela rede mundial de computadores e por escolas para crianças nos países invadidos.

O Boko Haram, cuja tradução é “a educação não-islâmica é um pecado”, é um grupo terrorista fundamentalista islâmico do interior da África que recebeu treinamento da Al-Qaeda do Magreb e atua no norte da Nigéria e seus países vizinhos, desde 2002, com o objetivo transformá-la em um pais regido pela Sharia.

A população cristã do pais é vítima da extrema violência do grupo, caracterizada por assassinatos em massa, sequestro e estupro de mulheres e atentados na porção sul do pais (maioria cristã).

O grupo tornou-se mundialmente famoso em 2014, quando sequestrou cerca de 276 meninas estudantes, utilizou-as como escravas sexuais e se declarou leal ao Estado Islâmico em uma demonstração de aceitação do know-how operacional desse grupo terrorista. No momento, suas ações permanecem restritas ao território nigeriano e vizinhos.

16O termo "lobo solitário" é usado pelas agências americanas de aplicação da lei e a mídia para se

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Os principais grupos terroristas dessa onda estão caracterizados a seguir:

Quadro 5 - Principais grupos terroristas da 4ª onda Organização/ pais de origem/ ano de criação Causa Hezbollah - Líbano - 1982

Fundamentalismo islâmico e pan-islamismo.

Hamas - Faixa de Gaza – 1987

Al-qaeda (A base) - Afeganistão – 1988 Daesh (Estado Islâmico) - Iraque – 2006 Boko Haram - Nigéria – 2002

Fonte: o autor (2017)

2.3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO TERRORISMO

O “novo terrorismo”, assim considerado a partir do atentado do 11 de setembro de 2001, tem aspectos muito distintos das três primeiras ondas de Rapoport.

Além de características já enunciadas para o grupo terrorista Daesh, segundo Aguilar (2016), pode-se destacar a liberdade que os grupos têm para realizar atentados e a participação de autores sem nenhum histórico de violência:

Com o Estado Islâmico (EI), surgiram duas novas e perigosas características. A primeira, a liberdade que os membros do grupo têm de realizar atentados, individualmente ou em pequenos grupos, contra alvos em qualquer lugar do mundo considerados ‘inimigos’ do mundo islâmico. Os atentados de Paris no ano passado e de Bruxelas neste ano foram praticados por indivíduos que estiveram combatendo como membros do Estado Islâmico. Com as ações militares na Síria e no Iraque, o enfraquecimento e a possível derrota do EI provavelmente resultará na ‘migração’ ou retorno de membros do grupo – popularmente chamados de ‘jihadistas’ – a diversos países do Ocidente, parte deles propensos a realizarem ataques. Em consequência, a incidência desse tipo de ato terrorista deve aumentar. A segunda, ainda mais difícil de ser prevenida e combatida, diz respeito a pessoas que nunca fizeram parte das organizações terroristas, mas que nutrem por elas uma simpatia tão forte que, quando conjugada com outros motivos, tornam esses indivíduos propensos a realizar atentados.

Gonçalves e Reis (2017, p.60 e 61) destacam as seguintes características: - Surgimento de novos grupos terroristas e cópia do modus operandi da Al

Qaeda como se fosse um sistema de franquias;

- Organização de estados embrionários nos territórios conquistados como na

Síria e Iraque pelo Daesh e no norte da Nigéria pelo Boko Haram;

- A ação dos lobos solitários em atentados na Europa e nos EUA;

- O uso de meios criativos nas ações terroristas como caminhões e aviões; - Uso das mídias sociais para propaganda do grupo; e

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de know how de técnicas terroristas por financiamento de ações.

Uma dificuldade a mais para os Estados consiste na desradicalização de terroristas fundamentalistas islâmicos, uma tarefa árdua, pois o terrorista de base religiosa é muito engajado.

Cabe salientar que as ações terroristas afetam, por vezes, mais de uma expressão do poder nacional de um pais, como se viu, por exemplo, com a Guerra ao Terror dos EUA no Iraque e no Afeganistão (expressão militar e econômica); a redução do turismo em países europeus palcos de atentados (econômico), no controle dos campos de petróleo do Iraque e da Síria pelo Daesh (econômico), da fuga de sírios desse mesmo grupo (psicossocial) e na entrada de massas de refugiados sírios na Europa (psicossocial e político).

O “novo terrorismo” apresenta um grande desafio para a Segurança Internacional uma vez que sua nova “face” é de difícil prevenção e repressão.

Os estados e organismos internacionais devem estar atentos à dinâmica desse fenômeno para se reinventarem no combate ao mesmo.

2.4 PREVENÇÃO E RESPOSTA AO TERRORISMO

O atentado terrorista pode ser analisado temporalmente em três fases: a anterior ao atentado; o atentado propriamente dito; e a posterior ao ato ocorrido.

As ações de enfrentamento ao terror se concentram na primeira e na última etapas, com ações antiterroristas e ações contraterroristas, respectivamente.

Segundo o Glossário das Forças Armadas (2015, p. 74), enquanto o antiterrorismo se fundamenta na ação de proteção caracterizada pela presença ostensiva, de caráter eminentemente preventivo, o contraterrorismo demanda a execução de ações diretas de contato, eminentemente repressivas/retaliatórias, com as organizações terroristas em presença.

Segundo Gonçalves e Reis (2017, p.144 e 145), em uma escala de violência na qual o crime comum seja uma manifestação de grau normal e a guerra seja uma manifestação extrema de violência, o atentado terrorista seria uma manifestação intermediária.

Com base nessa escala, os autores apresentam três modelos de respostas aos atentados, a partir da relação entre o grau de violência do incidente com o emprego de forças de segurança e/ou forças armadas:

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Quadro 6 – Modelos de resposta aos atentados

Incidente Mecanismo de resposta Modelo

Crime Emprego das forças de segurança Da justiça criminal Atentado Emprego das forças armadas ou forças de segurança ou ambas Misto

Guerra Emprego das forças armadas Da guerra

Fonte: adaptado de Gonçalves e Reis (2017, p.145)

Conforme esses autores os modelos foram criados conforme a percepção da ameaça por cada Estado e podem ser entendidos assim:

- Modelo da justiça criminal: é mais comumente utilizado por países com problemas domésticos, sem consequências que extravasem as suas fronteiras, nem ameacem a segurança nacional de forma desmedida, como adotado no Brasil, com a Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, e inaugurada com a Operação Hashtag17 da

Polícia Federal em 2016.

- Modelo da guerra: é mais usual por nações de grande projeção, vítimas do terrorismo internacional, ou onde haja violação severa à segurança nacional, como as ações dos EUA no Afeganistão e no Iraque após o atentado de 11/09/01.

- Modelo misto: seu emprego varia tanto no tempo quanto em razão da intensidade da ameaça terrorista e, ainda, conforme a orientação política do governo, como na França, após os atentados de 2015 (Charlie Hebdo, Bataclan, etc.) e de 2016 (Nice), onde as forças armadas e de segurança atuaram lado a lado, amparadas pelo dispositivo do estado de emergência ou de exceção. Segundo Ferret (2017), administrador civil do Ministério das Forças Armadas da França, o terrorismo continua sendo uma ameaça importante e continuada para o País, especialmente a Al Qaeda e o Daesh, provocando, como consequência, a alocação de 10.000 militares das Forças Armadas para reforçar a segurança do território francês por prazo indeterminado. Afirmou, também, que a Alemanha, outro importante membro da União Europeia, tem a mesma prioridade de Segurança e Defesa da França.

17 Foi uma investigação da Polícia Federal do Brasil, deflagrada às vésperas da Rio 2016 contra uma

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3. A SEGURANÇA INTERNACIONAL

A Segurança Internacional é um campo de estudo das Relações Internacionais. Segundo Rudzit (2005, p. 304), pode ser conceituada como a proteção contra ameaças externas aos interesses vitais e aos valores básicos de um Estado.

O assunto ganhou maior interesse após o atentado de 11 de setembro de 2001, conforme Rudzit (2005, p. 297):

O tema de segurança internacional voltou a ser destaque tanto na mídia, quanto nos trabalhos acadêmicos. É senso comum que durante os anos da Guerra Fria esse enfoque foi central para as Relações Internacionais (RI), mas, com o desaparecimento desse conflito no final da década de 1980 e início da década de 1990, o enfoque desse campo de pesquisa mudou para a economia. Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 mudaram novamente as percepções, e não se pode restringir essa nova realidade somente aos Estados Unidos.

Segundo Rudzit (2005, p. 298), com esse atentado, o uso da força nas relações internacionais tornou-se imperiosa e citou os exemplos do ataque ao Afeganistão em 2002 e, principalmente, no Iraque em 2003.

A expressão militar (força) do poder nacional, sob a forma de Segurança e Defesa, passou a ter a seguinte relevância, segundo Rudzit (2005, p. 298, grifo nosso):

A importância da compreensão sobre o uso da força em relações interna-cionais voltou a ter papel central. Essa aplicação do instrumento militar não está dissociada de outras políticas, tendo em vista que uma política de defesa de um Estado, em qualquer país do globo, pode ser explicada como decidida e executada dentro de uma estrutura composta por dois processos políticos, um externo e outro interno. O primeiro processo tem uma característica

interestatal, e abarca a barganha e a negociação entre as nações por vantagens, nas quais a força ou a ameaça do seu uso é a medida básica de troca. O segundo processo é intra-estatal, o que significa o envolvimento

das instituições que têm papel na definição das políticas de segurança

nacional e de defesa e todos os aspectos da política interna de um Estado

(Kolodziej e Harhavy, 1982, p. 15). Mas o que vem a ser segurança?

Os Estudos sobre Segurança Internacional (ESI) surgiram no século XX com os seguintes objetivos, conforme Buzan e Hansen (2012, p. 87, grifo nosso):

Os estudos de Segurança Internacional surgiram após a segunda Guerra Mundial como uma forma de debate sobre as ameaças contra os Estados, buscando uma forma de como se dá a proteção destes. Os estudos de

Segurança Internacional podem variar em relação ao tempo e o lugar.

Não há uma composição objetiva do que realmente seja os ESI, o que leva consequentemente a diferentes perspectivas do que são estes estudos.

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Em 1985, foi criado o Copenhagen Peace Research Institute (COPRI) – Instituto de Pesquisa da Paz de Copenhague, também conhecido como Escola de Copenhague, que se especializou nos estudos da paz e se tornou referência no tema de Segurança Internacional.

Segundo Tanno (2002, p. 50), a perspectiva teórica dessa Escola pode ser caracterizada como abrangente, por sustentar que as ameaças à segurança se originam não apenas da esfera militar, mas também das esferas política, econômica, ambiental e societal. Partindo-se dessa ampla interpretação, destaca-se o terrorismo como uma ameaça atual e preocupante à Segurança Internacional.

Conforme Rudzit e Nogami (2009, p. 6), na esfera nacional, a Segurança somente pode ser entendida como um problema político quando se tem uma ideia razoavelmente clara sobre a natureza de uma ameaça e as vulnerabilidades do objeto ao qual as ameaças são dirigidas.

É papel político de todo Estado identificar as ameaças internas e externas aos seus interesses, bem como minimizar as suas vulnerabilidades para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de seu país.

Executa tais ações por intermédio de uma Inteligência Estratégica capacitada e atuante, assim definida pelo Manual Básico da Escola Superior de Guerra (2013):

A Atividade de Inteligência Estratégica é o exercício permanente de ações direcionadas à obtenção de dados e à avaliação de situações relativas a óbices que venham impedir ou dificultar a conquista ou a manutenção dos Objetivos Nacionais.

3.1 TEORIAS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL

A Segurança Internacional pode ser explicada por duas teorias principais: - A Idealista, segundo a qual, ao se diminuírem as ameaças externas de cada Estado (fase da segurança nacional), reduzem-se, por conseguinte, as ameaças ao Sistema Internacional como um todo. Dessa forma, a Segurança Internacional derivaria de um “equilíbrio de paz” entre todos; e

- A Realista, segundo a qual, a Segurança está vinculada ao “poder”, ou seja, o Estado mais poderoso do Sistema Internacional garantiria a sua própria segurança. Essa última, baseia-se na capacidade de poder de cada Estado e ganhou impulso na Segurança Internacional após a 2ª GM, notadamente no período da Guerra

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Fria. Poderia ser caracterizada pela proeminência dos vetores militar, estratégico e nacionalista dos Estados, conforme o pensamento de Tanno (2003, p. 50, grifo nosso):

Iniciaram-se, então, discussões visando a redefinir os limites teóricos da área de segurança. O movimento de renovação teórica surgiu por meio do debate sobre a redefinição do conceito de segurança utilizado em relações internacionais. A análise aprofundada sobre o conceito de segurança demonstrava que sua utilização e significado encontravam-se imbuídos pelas

premissas realistas, que associavam segurança exclusivamente ao Estado e aos aspectos militares e estratégicos.

Segundo Booth (1995, apud TANNO, 2003, p. 50, grifo nosso), com o fim da Guerra Fria, a comunidade internacional questionou a fragilidade da teoria realista ao não prever a queda soviética e envidou esforços na elaboração de três novas vertentes teóricas que pudessem retratar a Segurança Internacional, surgindo, a partir de então, as vertentes tradicionalista, abrangente e crítica.

Segundo Walt (1991, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente tradicionalista, consonante com as premissas teóricas realistas, defende que os estudos da área se restrinjam às questões militares e que resguarde o Estado como base de análise.

Conforme Buzan (1991, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente abrangente sustenta que os estudos de segurança devem incorporar tanto as ameaças militares quanto aquelas advindas das áreas política, econômica, ambiental e societal.

E por fim, para Booth ((1995, apud TANNO, 2003, p. 50), a vertente crítica, associada aos trabalhos da Escola de Frankfurt18, propõe que as pesquisas de segurança devam colaborar para a emancipação humana, salientando outros valores como a igualdade e a liberdade, além da segurança.

As vertentes tradicionalista e abrangente são mais comumente aceitas e, segundo Rudzit e Nogami (2009, p. 6), em que pesem interpretações distintas, ambas definem o conceito de ameaça em termos de ser externo ou vindo de fora, isto é, de fora da unidade de análise mais aceita em Relações Internacionais, ou seja, o Estado. A Escola de Copenhague, berço da vertente abrangente, impregnada pelo pensamento eminentemente europeu, até mesmo por ter sido palco de grandes tensões da Guerra Fria, estava mais focada na obtenção da paz do que suas congêneres escolas americanas, voltadas para o poder. Ela possibilitou que seus

18 Escola fundada em 1923 e composta por marxistas dissidentes e agregados do Instituto para

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insights, originalmente suscitados pelo contexto da segurança continental, pudessem

ser aplicados na análise de dinâmicas de segurança em outras realidades.

A teoria abrangente da Escola de Copenhague erigiu uma percepção de que agendas e questões de segurança são construídas após a análise detalhada das ameaças aos setores político, econômico, societal, ambiental e militar.

Os adeptos da Escola de Copenhague, como Buzan, foram críticos à Teoria do Equilíbrio do Poder da Escola Realista, baseada predominantemente na vertente do poder militar.

Especificamente, no caso da ameaça terrorista, esta não poderia ser analisada sob a ótica do desequilíbrio do poder bélico do Estado contra a organização terrorista simplesmente porque são atores muito distintos funcionalmente.

Conforme Suarez (2012, p. 377, grifo nosso) temos que:

A condição que resulta da aplicação da teoria de equilíbrio de poder, tendo o terrorismo como contraponto, é que ela é inoperante, posto que um ator estatal, ao ampliar suas capacidades bélicas, não introduz um desequilíbrio em relação ao grupo terrorista. Logo, o investimento em armamentos ou

mesmo a declaração de guerra feita pelos Estados Unidos da América (guerra global contra o terrorismo), se pensados sob a luz dos limites teóricos do neorrealismo, mostram todo o anacronismo e ineficiência dessa corrente para o estudo de um fenômeno como o terrorismo.

Conforme Rudzit e Nogami (2009, p. 9, grifo nosso), a ampliação do conceito de Segurança foi defendida por outros autores:

Autores como Caroline Thomas e Jessica Mathews propuseram a ampliação desse conceito para passar a integrar a nova realidade do mundo. Thomas

afirma que a segurança não se referia somente à dimensão militar, mas a uma maior, que englobasse toda a existência do Estado, como a

procura por segurança interna através da construção do Estado

(nation-building), por sistemas seguros de alimentação, saúde, comércio e moeda

uma visão diferente de formação do Estado, já que nesta percepção, são os governos que moldam a realidade por meio de suas políticas setoriais.

Uma das principais contribuições da Escola de Copenhague foi a introdução do conceito de “Securitização”, qual seja o processo político de enquadramento e de redefinição das ameças vistas sob o enfoque dos setores político, econômico, societal, ambiental e militar, conforme Buzan (2006, p. 1.102, apud SUAREZ, 2012, p. 382):

Nesse sentido, adotamos a definição mais precisa de como a questão do terrorismo contemporâneo é abordada, isto é, a partir da ideia de securitização. Analisando a questão, estabeleço uma diferenciação entre uma análise em segurança de cunho materialista sobre uma ameaça (quando

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algo ameaça ou não e em qual nível essa se dá) e a denomi-nada securitização (a qual permite que algo seja construído com o significado de uma ameaça, a partir do momento em que esse sentido é aceito por uma ampla ou uma qualificada audiência.

A noção de setores é fundamental para o estudo, pois o processo de securitização do terrorismo implica na sua análise por diversas áreas.

Portanto, grupos terroristas devem ser analisados pelos Estados e organismos internacionais sob o viés abrangente da Segurança Internacional por afetarem os setores militar, político, societal, econômico e ambiental.

A seguir, serão discorridas as percepções e os mecanismos de importantes atores do Sistema Internacional, como a ONU, a UE e os EUA no enfrentamento ao terrorismo.

3.2 A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

A Organização das Nações Unidas utiliza-se da Assembléia Geral e do Conselho de Segurança para orientar os esforços contra o terrorismo pelos seus estados membros.

A Assembléia Geral elaborou dezoito instrumentos jurídicos, desde os anos de 1960, sendo doze convenções e seis protocolos complementares. Por meio desses dispositivos legais, os países participantes comprometem-se a coordenar de forma efetiva as ações de contraterrorismo e a elaborar normas jurídicas específicas.

Muitas convenções surgiram como contraponto a atentados terroristas que impactaram a Segurança Internacional, como por exemplo a Convenção sobre a marcação de explosivos plásticos para efeitos de detecção (1991) motivada pela queda do Boeing 747 da empresa aérea Pan Am em Lockerbie, Escócia, em 1998.

Por sua vez, o Conselho de Segurança da ONU (CS/ONU) aprovou resoluções indutoras de ações mais práticas pelos Estados-Membros, como a Resolução nº 1.566, de 8 de outubro de 2004, sobre ameaças à paz e à segurança internacionais causadas por atos terroristas, apresentando a seguinte percepção do terrorismo:

...atos criminosos, inclusive contra civis, cometidos com a intenção de causar morte ou lesões corporais graves, ou tomar reféns, com a finalidade de provocar um estado de terror no público em geral ou em um grupo de pessoas ou pessoas particulares, intimidar uma população ou obrigar um governo ou uma organização internacional para fazer ou abster-se de fazer qualquer ato,

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o que constitui ofensas abrangidas pelo âmbito e conforme definido nas convenções internacionais e protocolos relacionados ao terrorismo, não são, em nenhuma circunstância, justificáveis por considerações políticas, filosóficas, ideológicas, raciais, étnicas, religiosas ou outra natureza semelhante, e exorta todos os Estados a evitar tais atos e, se não impedido de garantir que tais atos sejam punidos com penalidades consistentes com sua natureza grave;

Nessa resolução, a ONU delineia os elementos gerais do terrorismo sem firmar uma definição universal para seus estados-membros. Essa falha é um enorme empecilho para o avanço das Nações Unidas no combate ao terror em virtude da falta de entendimento acerca do tema pela comunidade internacional. Segundo Gonçalves e Reis (2017, p. 91), a ONU não possui uma Convenção Internacional sobre terrorismo, e uma das dificuldades está justamente em encontrar consenso sobre uma definição do fenômeno.

Em 2005, a Assembleia Geral da ONU apresentou o “Relatório do Grupo de

Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudança”, com identificação de ameaças e

propostas para transformar o pensamento e as ações das Nações Unidas e suas instituições diante dos desafios que se vislumbravam no início do século XXI.

O Relatório identificou seis ameças: a guerra entre Estados; a violência no interior dos Estados (guerras civis, violações maciças dos direitos humanos, etc.); a pobreza, as doenças infecciosas e a degradação do ambiente; as armas nucleares, radiológicas, químicas e biológicas; o terrorismo; e o crime transnacional organizado. Como resultado prático desse Relatório, a Assembléia Geral por consenso, em setembro de 2006, lançou a “Estratégia Global da ONU contra o terrorismo”, primeira abordagem estratégica e operacional comum ao conjunto dos 193 Estados-membros da ONU, com a determinação de ocorrer revisões periódicas bienais.

Essa Estratégia indicou quatro passos chaves para enfraquecer o terrorismo: a. Abordar as condições que ajudam a propagar o terrorismo;

b. Prevenir e combater o terrorismo;

c. Reforçar a capacidade dos estados e fortalecer o papel da ONU; e d. Garantir os direitos humanos e o estado de direito.

A aprovação da Estratégia pelo consenso da Assembléia Geral foi considerada uma vitória pois deslocou os debates sobre o terrorismo do Conselho de Segurança (eminentemente militar e de baixa representatividade, pois emana decisão de seus 15 membros apenas), para um ambiente mais abrangente e permeado por outras agências da ONU focadas nas demais expressões do poder nacional (político,

Referências

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