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4 O BRASIL E O TERRORISMO

4.5 A PERCEPÇÃO BRASILEIRA

As ocorrências frequentes de atentados terroristas pelo mundo afora parecem uma realidade improvável para a rotina dos brasileiros, propiciando uma baixa percepção dessa ameaça pela nossa sociedade, entretanto, mesmo distante dos

principais palcos e alvos terroristas, nada impede que atores hostis desencadeiem ações contra nossos ativos.

Segundo o Índice Global de Terrorismo, o Brasil ocupa a 80ª/163 posição mundial, com um grau de possibilidade de 1,74, considerado “muito baixo”.

De acordo com Smith (2000, apud WOLOSZYN, 2009, p. 83), as fases dos atentados são a:

1. Preparatória: caracterizada pelo recrutamento, treinamento, arrecadação de fundos, e aquisição de equipamentos;

2. De crise: execução do ataque; e

3. De consequências: após o ataque e serve para avaliação da ação e retirada do grupo do local.

Portanto, ao se constatar que o Terrorismo preexiste muito antes do atentado propriamente dito, ele pode estar mais perto da realidade brasileira do que se pensa. A existência de uma grande comunidade de muçulmanos na Tríplice Fronteira do Brasil, Argentina e Paraguai e a possibilidade desse público dar suporte financeiro e homizio a indivíduos ligados ao terrorismo é uma preocupação real para nosso país. Além dessa região, podemos encontrar pessoas ligadas ao terrorismo em outras regiões, devido à existência de várias comunidades árabes e ao crescimento do número de nativos convertidos ao Islamismo.

Nesse sentido, Lasmar (2015, p. 51) cita o resultado da Operação Panorama, de 2005, da Polícia Federal (PF), para ilustrar a presença desses indivíduos e o grau de dispersão dos mesmos pelo território nacional:

Embora a Tríplice Fronteira seja a região alvo da maioria das pesquisas acadêmicas sobre o assunto, a evidência empírica aponta para um problema que vai muito além da região. Entre exemplos de ações da Polícia Federal ligadas à questão do terrorismo internacional no Brasil, fora da Tríplice Fronteira, podemos citar a Operação Panorama que teve lugar no Paraná e Mato Grosso em 2005. Na ocasião, foram emitidos 28 mandatos de prisão e 19 extremistas liderados pelo libanês Jihad Chaim Baalbaki e pelo jordaniano Sael Basheer Yhaya Najib Atari foram presos: nove em Foz do Iguaçu, quatro em Curitiba, quatro em Paranaguá, um em Matinhos e um em Cuiabá. Além disso, há outros fatores, dos mais diferentes vieses, favoráveis à propagação de concepções terroristas no Brasil tais como as disparidades sociais (educação deficiente e pobreza extrema) que facilitam o recrutamento pelos ideais de igualdade social e salvação divina preconizados pelo Islã; a existência de organizações criminosas de âmbito regional que possam buscar know how com

terroristas para seus delitos; a proximidade dos grupos terroristas das FARC na Colômbia e do Sendero Luminoso no Peru, com perspectivas de associação ao crime organizado como forma de sobrevivência; a atuação de movimentos sociais e partidos radicais de esquerda; e a existência de políticos com renomado histórico terrorista.

E a pergunta que se faz é por que o terrorismo tem uma baixa percepção pela sociedade brasileira?

Uma resposta plausível é a que o governo brasileiro baseia sua percepção no fato de que não ocorreram atos terroristas no território nacional nos últimos 30 anos, desde as tentativas de tomada do poder por grupos terroristas de esquerda. Esquece- se, entretanto, de que qualquer ato preparatório consumado já é terrorismo.

Ademais, outra explicação se refere a uma clara postura de “negacionismo” do governo, ou seja, negar veementemente a ocorrência do terrorismo no Brasil, muito embora os eventos supracitados evidenciem o contrário.

O discurso negativo da existência de atividades ligadas ao terrorismo pode ser explicado por vários argumentos segundo Lasmar (2015, p. 55, grifo nosso):

Outro argumento constantemente aventado alega que o reconhecimento da existência de atividades terroristas em território brasileiro pode vir a afetar o

turismo internacional no Brasil. Outras autoridades chegam mesmo a

alegar que a existência de um corpo normativo de combate ao terrorismo ou o reconhecimento de sua existência levariam a uma construção de uma

imagem de alinhamento brasileiro com a política externa estadunidense da Guerra Global Contra o Terror (American Embassy in Brasilia 2008, p.

2). Esse alinhamento, por sua vez, poderia ser visto como uma política externa e interna provocativa que poderia atrair problemas políticos e de segurança para o Brasil (American Embassy in Brasilia 2009b).

... um outro importante argumento aventa o medo de que a criação de um

corpo normativo sobre o assunto venha a atrair o terrorismo para o Brasil.

...por fim, não podemos deixar de mencionar que vários políticos da alta cúpula governamental estiveram envolvidos em atividades ou grupos que

se utilizaram da violência política durante a ditadura militar brasileira a

fim de combatê-la.

A baixa pontuação brasileira no Índice Global de Terrorismo, a percepção equivocada da sociedade e o negacionismo estatal justificam, de certa forma, a não priorização do tema na pauta de debate nacional, a lentidão na aprovação de marcos legais e o desinteresse na criação de uma estrutura permanente de prevenção.

A política externa brasileira, de viés ideológico de esquerda até 2016, apresentou contradições ao não reconhecer as FARC, o Hamas e o Hezbollah como grupos terroristas e recebeu críticas da comunidade internacional e da ONU por essa postura. Além disso, estreitou relações institucionais com o Irã, pais integrante do Eixo

do Mal22 e patrocinador do terrorismo mundial conforme o Country Reports on

Terrorism 2016 (Relatórios dos países sobre terrorismo).

Outra situação polêmica foi a negativa do governo em extraditar o Sr Cesare

Batistti, terrorista de esquerda italiano dos anos 1970. Em uma decisão de natureza

ideológica, o então Presidente Luís Inácio Lula da Silva não concedeu a sua extradição para Itália, previamente autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.

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