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Identidade e fronteiras nacionais em atletas esportivos: dos Jogos Olímpicos à Copa do Mundo de Futebol

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Academic year: 2021

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0 | Abstract

The theme of national borders lacks strength as it faces international sports interests which started with Pierre de Coubertin’s doctrine of “all sports, all nations” in the early 20th century. This review aims to observe this trend following

historical records of the Football World Cup since the 1930s. The starting point of this study was Germany’s Football World Cup 2006, when the media brought up several debates leading to some analysis of nationalism and local vs. global belonging as well. The central focus in this case was naturalization and the amount of athletes who played for foreign clubs. From this perspective, this contribution discusses on how post-modernity effects, as for globalization in the soccer world, break the frontiers of the nation-state

Identidade e fronteiras nacionais

em atletas esportivos:

dos Jogos Olímpicos à Copa do

Mundo de Futebol - 2006

Ailton Fernando Santana de Oliveira Paulo Cezar Teixeira Bach

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interfering in the construction and reconstruction of a national identity. This study chose as methodology to update the history of rules for naturalization and for double-nationality of the soccer players in the World Cup organized by FIFA. Moreover, records are presented as referred to clubs in which a number of soccer players worked by the time they were summoned to Germany World Cup. The study is followed by a comparative analysis of the social and political situation of each period. The results show an increasing flow of immigrant players and the broadening of frontiers.

1 | Introdução: identidade nacional e o fortalecimento do estado-nação

Este texto tem como objetivo levantar dados sobre a Copa do Mundo e em especial, aquela realizada na Alemanha-2006, e analisar, a partir deles, como os efeitos da pós-modernidade com o advento da globalização no esporte e em especial no futebol rompem as fronteiras dos estados-nações interferindo na construção e reconstrução da identidade nacional. Este tema ganhou importância no âmbito dos Jogos Olímpicos desde que Pierre de Coubertin relativizou as fronteiras nacionais em favor da doutrina “all sports, all nations” (DaCosta, 2002) e atualmente gera impactos em vários esportes, sobretudo no futebol e nos eventos de influência em escala mundial.

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em 1930, no Uruguai até a Copa do Chile, em 1962, já que neste período não existia proibição sobre participação de jogadores nascidos em um país e que participassem de outras seleções de futebol. Após a copa do Chile em 1962 é que a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) debateu e estabeleceu normas de naturalização de atletas para participar em seleções nacionais.

Em termos de objetivos, realizamos um levantamento historiográfico sobre as Copas do Mundo de 1930 a 1962 e monitoramos estudos sobre a formação do estado-nação em busca de pontos que ajudassem a entender melhor esse período.

Em 1930, quando a Copa do Mundo teve sua primeira edição, em nível político, as nações passavam pela busca de uma identidade nacional que ajudasse na coesão e no nacionalismo.

Encontramos em Soares e Lovisolo (2003), quando citam DaMatta (1989) no seu artigo ‘Futebol: A construção histórica do estilo nacional’, que nações como o Brasil, Argentina, França entre outras, buscavam construir sua identidade nacional com símbolos que fortalecessem os laços nacionalistas e patrióticos, enquanto que Estados Unidos e países europeus apoiavam-se em instituições importantes como o congresso nacional, a ordem financeira, o sistema universitário e outras.

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como definida em Cuche (2002 - p.176), em que ele remete a uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em posições simbólicas. A construção se faz no interior de contextos sociais que determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e escolhas. Para Barth (1969) apud Cuche (2002 - p.182), tal construção é um modo de categorização, sendo utilizado para afirmar e manter uma distinção cultural.

Nesse período do surgimento da Copa (1930), os países procuravam consolidar-se enquanto estados–nação através da construção identitária, e o futebol passa a ser um elemento simbólico que possibilita a construção da unidade e coesão nacional. Como exemplo, encontramos na Copa de 1934, realizada na Itália de Mussolini com a finalidade de divulgar o fascismo, o fato de vários jogadores de outras nacionalidades que já tinham disputado outras Copas pelos seus países de origem terem sido contratados para reforçar o time italiano. Nessa copa a Itália conquistou seu primeiro título mundial.

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estabelecida na Copa de 1962, entrou em vigor a partir da copa de 1966 na Inglaterra. Essa regra definia que o atleta só poderia jogar em uma seleção de um país no qual ele não tinha nascido se: a) tivesse um dos seus genitores nascido no país da seleção que ele pretendia jogar; b) jogadores que nunca tivessem participado de jogos oficiais pela seleção do país de nascimento.

Tornou-se então evidente a utilização do futebol como elemento simbólico para a construção da identidade nacional. O ato normativo da FIFA, após a Copa do Chile, em 1962, procura delimitar a influência dos contextos sociais e dos atores no futebol.

2 | A pós-modernidade e a espetacularização do futebol O segundo período de nossa classificação vai da Copa do Chile em 1962 até a Copa da Alemanha em 2006, no qual encontramos razões diferentes das citadas no período anterior para o alargamento das fronteiras na construção da identidade nacional.

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copas. Na Coréia e Japão, em 2002, foram 34 jogadores que defenderam um país diferente ao do seu nascimento. Já em 2006 na Copa do Mundo da Alemanha, foram 67, um aumento de quase 100%.

Outro dado importante é que mais da metade dos jogadores inscritos na Copa (56%) atuam em clubes fora do seu país de origem e um número significativo de jogadores com dupla nacio-nalidade ou naturalizados (9%) compõe as seleções. Anali-sando esses dados podemos entender como este processo ganha corpo e questionar o atual formato da competição.

A Costa do Marfim tem seus 23 jogadores jogando fora de suas fronteiras. A Itália é justamente o contrário, todos os selecionados jogam no país, o que sugere a questão: será que há alguma relação com o título conquistado na Alemanha?

O Brasil exportou seis jogadores para outras seleções: Deco (Portugal), Francileudo (Tunísia), Alex (Japão), Marcos Senna (Espanha), Cid Gray (Trinidad e Tobago) e Zinha (México). A Tunísia importou 6 jogadores de seu ex-colonizador, a França. O aproveitamento de jogadores de ex-colônias e vice-versa (França e Tunísia), bem como a filiação (parentesco) facilita a dupla nacionalidade e a participação em clubes e seleções diferentes do país de origem.

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(20), República Tcheca (20), Croácia (20) e Brasil (20) como os principais exportadores de atletas entre os selecionados. Por outro lado, ele cita Inglaterra (88), Alemanha (51), Itália (43), França (42) e Espanha (37), como principais mercados futebolísticos mundiais que absorvem estes jogadores. Estes dados mostram que o futebol virou um grande mercado.

De acordo com a revista Placar de maio de 2006, o número de treinadores estrangeiros comandando seleções na Copa foi de 16, isto é, metade das equipes tem profissionais de outros países as dirigindo. A necessidade de comissões técnicas experientes de países com tradição no futebol ou a competência agregada no mercado internacional, talvez explique o fluxo de profissionais para outras seleções.

A organização atual do mercado está relacionada com o futebol-espetáculo como bem simbólico de valor midiático e econômico sob a ética capitalista, onde torcedores são consumidores e o espetáculo transforma-se em espaço publicitário. Esta situação mercadológica faz com que, principalmente países do terceiro mundo tenham seus melhores jogadores vendidos através de agentes legalizados pela FIFA ou pelos próprios clubes formadores e criando verdadeiras seleções estrangeiras dentro das nacionais (vide Costa do Marfim).

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de identidade, sugerindo diferenças e essencializando características de forte apelo emocional e comercial.

Proni (1998) postula que a espetacularização trouxe relações mercantis ao esporte, seja pela remuneração de jogadores ou pelo financiamento do evento esportivo através da comercialização do espetáculo. Afirma que o aumento do potencial mercantil do esporte aconteceu pelo desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e a multiplicação do mercado consumidor, destacando o papel central da televisão nesta relação.

Com a pós-modernidade aprofunda-se a onda da globalização que somada ao desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e transporte possibilitaram o encolhimento do local em relação ao global e assim ligando todos os pontos do mundo. Esse processo de globalização para Hall (2003), teve como conseqüência a desintegração da identidade nacional como resultado do crescimento da hegemonização cultural dando lugar a novas identidades híbridas.

Para Cuche (2002, p.194), a globalização facilitou os encontros dos povos e as migrações internacionais multiplicaram estes fenômenos de identidade sincrética (duplas) ou híbrida, cujo resultado desafia as expectativas, sobretudo quando elas são baseadas em uma concepção exclusiva da identidade.

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atual estágio da globalização há um enfraquecimento da autonomia dos estados-nações, em função de uma cultura transnacional.

Em função do futebol ser um dos esportes mais praticados, possuir um grande número de espectadores no mundo, gerir um torneio de reconhecimento global e possuir uma federação internacional (FIFA) que agrega mais nações associadas do que a ONU, ele sofre esse impacto da globalização no seu interior mais que outros esportes.

Diante desse quadro, podemos verificar que as mudanças no contexto social foram determinantes para o surgimento de um novo cenário esportivo nessas últimas décadas, que propiciou o aumento do número de transnacionais e o rompimento dos limites fronteiriços.

3 | O esporte espetacularizado no mundo globalizado Eventos esportivos como a Copa do Mundo tornaram-se locais de negócios e de movimentações econômicas antes inima-gináveis: aliam-se produtos e marcas a atletas e seleções. Nesse sentido o futebol passa a ser um local de afirmação de identida-des de negócios, onde os interesses individuais, institucionais e empresariais estariam acima do pertencimento identitário e tendo como conseqüências à perda de sentido para competições entre estados-nações neste mundo globalizado.

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selecionados para a Copa do Mundo, e que as naturalizações ou dupla nacionalidade tendam a aumentar se os contextos sociais continuarem no rumo que se encontram. Podemos assistir ao nível de Copa do Mundo a um processo parecido com o ocorrido nos clubes no âmbito mundial, principalmente na Europa, em especial nos campeonatos da Itália e Espanha, em relação ao fluxo de jogadores.

Dessa forma não podemos descartar a possibilidade de empresas associarem-se a um país e contratar jogadores e naturalizá-los com finalidades comerciais para disputar uma Copa. Verificamos um pouco esse quadro nas eliminatórias dessa Copa na Alemanha, quando o Qatar com os seus petro-dólares ofereceu uma proposta milionária a três jogadores brasileiros (os desconhecidos Ailton, Dedé e Leandro) para disputar as eliminatórias. Nesse caso a FIFA conseguiu vetar a transação, mas perguntamos até quando será possível evitá-los?

4 | Futebol globalizado e o nacionalismo

Se a questão da globalização vem transformando de forma avassaladora a organização do futebol e extrapolando as fronteiras, como justificar a fórmula de disputa da Copa do Mundo entre nações?

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Encontramos assim um paradoxo, se por um lado a globalização possibilitou com seus meios tecnológicos e de comunicação a hiper-mercantilização e espetacularização do futebol, alargando fluxos fronteiriços e construindo culturas transnacionais, por outro lado, essa relação esporte/mercado utiliza os elementos simbólicos nacionais e do pertencimento (local) para vender seus produtos e fortalecer suas marcas.

Segundo Mascarenhas (2006), o futebol tem a capacidade de criar vínculos emocionais. Uma das formas é a associação dos onze jogadores a um exército que vai defender a nação na Copa do Mundo, parafraseando Nélson Rodrigues: a pátria de chuteiras. No imaginário coletivo, a vitória significa superioridade sobre outra nação.

A reportagem do jornal O Globo de 27 de junho de 2006, destaca as vitórias de Gana sobre os EUA e República Tcheca na Copa da Alemanha, que garantiram a classificação para as oitavas de final contra o Brasil. Coloca também que num continente com problemas de guerras, epidemias, pobreza e fome, Gana é exemplo de que a África pode vencer.

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consciência da alegria. Sloterdijk classifica a participação do povo alemão na Copa como patriotismo de lazer e não como nacionalismo, contrariando o esforço do técnico Klinsmann em motivar seus jogadores e o povo em uma Alemanha unida após a reunificação e aberta para todo o mundo.

Segundo Souto (2004), as tentativas de hegemonia e monopo-lização do mercado não dão conta das identidades próprias de cada país e região. A redução deste universo de peculia-ridades próprias pode deixar de agregar o sagrado e a tradição.

Talvez estejamos próximos de uma nova mudança de normas sobre a participação de selecionáveis em Copas do Mundo ou aceitação de uma nova cultura sobre a Copa, como se verificou nesse artigo: o conceito sobre fronteiras nacionais tem sido rompido com a globalização e a desterritorização dos jogadores. Nesse sentido, pressupomos que será na luta travada pelos atores no contexto social que se determinarão as relações, as construções das identidades e as delimitações fronteiriças, bem como os critérios estabelecidos para disputa das futuras Copas do mundo.

5 | Referências

BARTHOLO, T. L; SOARES, A. J. Identidade, Negócio e Esporte no Mundo Globalizado: o Conflito entre Guga e os Patrocinadores na Olimpíada de Sydney. [S.l.: s.n., 19— ?].

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CUCHE, D. A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: Edusc, 2002.

DACOSTA, L. Olympic Studies. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2002.

DAMO, A. A Produção de Pés-de-Obra no Brasil e na França. [S.l]. [s.n]. 2005.

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