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UFAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA EDUCAÇÃO FÍSICA LICENCIATURA MAIHAMI SOARES DE ARAUJO

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UFAL – UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA

EDUCAÇÃO FÍSICA LICENCIATURA

MAIHAMI SOARES DE ARAUJO

A CAPOEIRA ENQUANTO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS DE ARAPIRACA.

ARAPIRACA 2018

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MAIHAMI SOARES DE ARAUJO

A CAPOEIRA ENQUANTO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM ESCOLAS DE ARAPIRACA.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Educação Física Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, como Requisito Parcial para obtenção do grau de Licenciada em Educação Física.

Orientadora: Prof.ª Ma. Tatiane Trindade Machado.

ARAPIRACA 2018

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeço à Deus, sem suas ações em minha vida, não teria vivenciado a universidade e não teria tido forças para continuar esta pesquisa em meio a tantas adversidades.

À minha família, especialmente minha mãe Josefa Ventura de Araujo Soares. Meu pai, José Soares de Cruz; e minha irmã, Elk soares de Araujo, que mudaram suas vidas para que eu pudesse concretizar esse sonho, obrigada por todo apoio, conselhos e amparo nas horas desespero, essa vitória é nossa e nada terá sido em vão. Agradeço também aos meus tios, tias, primos, primas, e avós, em especial a minha madrinha Terezinha, pelas contribuições para que eu chegasse até este momento.

Aos meus amigos, de escola, da igreja, e da vida, dentre eles Amyllys, Pedro, Huguinho, Clécia, Hugo, e alguns não citados, pela força, colaboração, por escutar em momentos de tensão ou de felicidade, por me apoiar quando decidi pela docência, por tudo. Aqui faço um agradecimento especial a Marta, que me ajudou a optar pela Educação Física no processo de seleção do SISU, que me deu suporte durante toda a minha formação e esteve comigo em todos os momentos, desde as alegrias até o descontrole emocional por não achar que iria conseguir chegar até aqui.

Posso me orgulhar de que realmente vivi a universidade, e em consequência disso conquistei amizades que possuo profunda gratidão. À minha turma, segundo sol e em especial a Vitória Régia Marques da Silva, Anne Carolyne Lúcio de Oliveira, Dacyrlane Carla Cavalcante de Oliveira, Ana Cledja Targino da Silva, Yara Monique, Cássia Paloma Porto Silva, Antonio Guilherme da Costa Santos e Karla Tavares, pelas vivências, risadas, choros e toda convivência durante o curso, se consegui conclui-lo, foi em parte, graças a vocês. Adjinan Mayara, você merece um agradecimento especial, pois dividiu comigo momentos únicos na construção dessa pesquisa, e antes dela, por ter se mostrado uma verdadeira amiga, mesmo com sua brutalidade que esconde uma menina doce, e que agradeço a Deus por ter caminhado ao meu lado durante esse processo.

Ainda dentre os amigos que conheci na UFAL, agradeço a Erlânia, Bibianny, Lucas, Rafael, Paulinha, Ingred, Mariana, Erika, Jakswell e alguns não citados. Seja

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nos projetos de Capoeira, Ginástica ou monitorias, vivi momentos extraordinários com vocês, obrigada por cada palavra, ombro amigo e ensinamento. Também agradeço a Dafne e Rafaela que para além destas contribuições, me proporcionaram vivencias com a dança significativas para minha formação profissional e pessoal. Jefté, para além desses momentos você me socorreu quando meu notebook me tirava do sério durante a construção desta pesquisa, obrigada por isso e por sua amizade.

Agradeço a Ma. Vannina de Oliveira Assis e ao Dr. Henrique Gerson Kohl pelas contribuições para esta pesquisa, bem como pela disponibilidade em se dispor a avalia-la. Cada observação e questionamento realizados na qualificação deste trabalho foi essencial para que pudéssemos chegar até este momento e fico feliz de ter contado com pessoas como vocês em minha formação. A professora Vannina por toda a trajetória acadêmica e ao Henrique que a cada texto que leio, fico mais honrada de tê-lo como meu avaliador nesta pesquisa.

E por fim, agradeço a Tatiane (Instrutora Odalisca), que me apresentou a capoeira. Você foi crucial na minha formação, tanto que a escolhi para ser minha orientadora, e você teve a coragem de aceitar, obrigada pelos ensinamentos em diversos aspectos e as contribuições para a minha vida. E ao Contramestre Vocabulário (Josivan), pelos seus ensinamentos no universo da capoeira, tenho uma consideração especial por vocês.

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RESUMO

Esta pesquisa objetivou analisar a capoeira enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental na zona urbana das escolas municipais de Arapiraca-AL. Realizamos 9 entrevistas com professores(as) de Educação Física e 2 com a direção de escolas os quais responderam um roteiro de entrevista semiestruturada com base nos objetivos específicos que foram: Identificar quais temas dentro da capoeira são abordados durante as aulas de Educação Física; compreender as metodologias utilizadas ao se trabalhar com a capoeira nas aulas; analisar com quais objetivos os(as) professores(as) pretendem utilizar a capoeira em suas aulas. A técnica utilizada para a interpretação dos dados da pesquisa foi a de análise de conteúdo. Com base nos dados coletados, percebeu-se que os(as) professores(as) abordam a capoeira em sua maioria apenas de maneira teórica, vinculada a fatos históricos, e não se consideram aptos para trabalhar com aulas práticas em sua disciplina. Alguns professores vivenciam corporalmente a capoeira em suas aulas levando elementos básicos da mesma. E a capoeira está sendo trabalhada na Educação Física com diferentes concepções e finalidades. Também foi constatado possuir escolas que não trabalham com a capoeira e professores(as) que não trabalham com tal conteúdo em suas aulas. Consideramos um grande avanço que a capoeira esteja sendo trabalhada na escola de maneira sistematizada, e que o estigma de prática marginalizada que a capoeira possuía está sendo superado, e que estamos a caminho de uma identificação como prática social, também em âmbito escolar, e que a partir deste trabalho que já é feito, mostras novas perspectivas para que os alunos vivenciem a capoeira da forma mais rica possível.

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ABSTRACT

This research aimed at to analyze the capoeira while content in the physical education classes in the fundamental teaching in the urban area of Arapiraca-Al's municipal schools. we Accomplished 9 interviews with physical education teachers and 2 with the direction of schools which answered an itinerary of interview semiestruturada with base in the specific objectives that were: to Identify which themes inside of the capoeira they are approached during the classes of Physical education; to understand the methodologies used to the if he/she works with the capoeira in the classes; to analyze with which objectives the teachers intend to use the capoeira in their classes. The technique used for the interpretation of the data of the research was the one of content analysis. With base in the collected data, it was noticed that the teachers just approach the capoeira in his/her majority in a theoretical way, linked to historical facts, and they are not considered capable to work with practical classes in his/her discipline. Some teachers live corporalmente the capoeira in their classes taking basic elements of the same. And capoeira is being worked on in Physical Education with different conceptions and purposes. It has also been found to have schools that do not work with capoeira and teachers who do not work with such content in their classes. We considered a great progress to be being worked at the school in a systematized way, and that the practice stigma marginalized that the capoeira possessed is being overcome, and that are on the way to an identification as social practice, also in school extent, and that starting from this work that is done already, displays new perspectives for the students to live the capoeira in the possible richest way.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 REFERENCIAL TEORICO ... 13

2.1 Sobre a capoeira ... 15

2.2 Capoeira e Educação Física... 17

3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 21

4 RESULTADOS ... 24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 55

REFERENCIAS ... 57

ANEXO A - Levantamento realizado por Paula Cristina Silva em sua tese “O ensino-aprendizado da Capoeira nas aulas de Educação Física escolar”, acerca das obras que tratam sobre Educação Física escolar e capoeira. ... 62

ANEXO B – Termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE ... 63

ANEXO C – Termo de consentimento ... 65

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista ... 66

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1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho teve como campo de estudo a Educação Física Escolar (EFE) e a Capoeira, esta enquanto conhecimento culturalmente produzido e enquanto conteúdo a ser trabalhado nas aulas de Educação Física. A partir desse entendimento pretende-se analisar a capoeira enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental na zona urbana das escolas municipais de Arapiraca-AL.

Na temática da pesquisa, entende – se a que a Educação Física, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 “integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental” (Artigo 26, §3º, p. 20). E no ensino médio, com proposta em processo de aprovação: “A Base Nacional Comum Curricular1 (BNCC)

referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de Educação Física, arte, sociologia e filosofia.” (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº 9.394/96, Artigo 35-A, § 2º, p. 25).

Enquanto componente curricular a Educação Física vem sendo entendida por diferentes vertentes teóricas2, a denominada critico-superadora define que seu

objeto de estudo seja a cultura corporal. E esta abordagem, de acordo com Soares et al. (1992, p. 43) possui alguns conteúdos possíveis de serem sistematizados em nível escolar

São eles, numa ordem arbitrária: Jogo; Esporte; Capoeira: Ginástica e Dança. Cada um deles deve ser estudado profundamente pelo (s)

1 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)2. (BRASIL, 2017, p. 7).

2Atualmente, coexistem na área da Educação Física várias concepções, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, esportivista e tradicional. São elas, Humanista, Fenomenológica, Psicomotricidade, baseada em Jogos Cooperativos, Cultural, Desenvolvimentista, Interacionista-construtivista, Crítico-superadora, Sistêmica, Crítico-emancipatória, Saúde Renovada, baseada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs/Brasil 1998) além de outras. (DARIDO; RANGEL, 2005, p. 5-6)

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professores), desde a sua origem histórica ao seu valor educativo para os propósitos e fins do currículo.

Dentre esses conteúdos a capoeira merece destaque pois, a Educação Física precisa, com base na mesma obra: “resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou” (SOARES et al., 1992, p. 53)

A capoeira, quando relacionada com a Educação Física pode ser vista de diferentes perspectivas. Seja pertencendo a algum elemento da cultura corporal, como vemos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no qual os conteúdos da Educação Física estão divididos em seis unidades temáticas, são elas: jogos e brincadeiras; esportes; ginásticas; danças; lutas e práticas corporais de aventura. (BRASIL, 2017.) E no tema lutas, a capoeira é vista como uma das lutas brasileiras a serem trabalhadas na Educação Física.

Seja de maneira desvinculada a esses elementos, como podemos ver na citação acima de Soares (1992) que apresenta a capoeira como um dos grandes elementos da cultura corporal. Ou permeando entre diferentes elementos, nesta perspectiva, a capoeira perpassa entre os diversos elementos da cultura corporal, sendo vista como uma prática hibrida, com diversas possibilidades, na Educação Física e para além dela. O que percebemos é que a capoeira sempre se apresenta como um conteúdo tratável na Educação Física, mesmo com suas diferentes interpretações.

Por tais características abrangentes, ultimamente tem sido interpretada como uma prática social, e sendo a roda de capoeira, reconhecida pela a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Imaterial Cultural da Humanidade em 20143.

Diante desta base teórica entende-se que a problemática desta pesquisa busca investigar como a capoeira é tratada enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental na zona urbana das escolas municipais de Arapiraca – AL. A partir desta problemática, surgem alguns objetivos específicos a serem trabalhados no decorrer da mesma, são eles:

3BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Roda de Capoeira. Disponível em:

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• Identificar quais temas dentro da capoeira são abordados durante as aulas de Educação Física.

• Compreender as metodologias utilizadas ao se trabalhar com a capoeira nas aulas.

• Analisar com quais objetivos os(as) professor(as) pretendem utilizar a capoeira nas aulas de Educação Física.

O interesse em estudar esta temática, e tais objetivos, surgiu a partir do contato com a capoeira em um projeto de extensão intitulado "Arte da capoeiragem4"

que tratou sobre a capoeira e outras manifestações, como o Maculêlê. Atualmente o projeto é ofertado com outro título "Vamos Vadiar: Capoeira no campus," mas com o mesmo intuito. E outro contato que influenciou a construção desta pesquisa foi durante a vivencia na disciplina eletiva intitulada "Metodologia do Ensino da Capoeira" que tratava de uma adaptação pedagógica para o ensino da capoeira.

A partir dessas experiências pode-se aprofundar o entendimento da capoeira enquanto uma prática social que está inserida no âmbito escolar, seja nas aulas de Educação Física, por se tratar de um dos seus conteúdos ou relacionada com outras disciplinas, como a história, sentiu-se a necessidade de identificar como a capoeira é tratada nas escolas, enquanto um conteúdo em tais aulas, ou até mesmo fora das aulas de Educação Física, visto que esta prática social pode ser trabalhada em outras vertentes fora das disciplinas obrigatórias.

Em contato com o meio acadêmico, percebeu-se que discussões são realizadas sobre do tema, como por exemplo a tese intitulada “O ensino-aprendizado da Capoeira nas aulas de educação física escolar” de Silva, P., (2009) no qual faz um levantamento bibliográfico e reúne cerca de quinze obras que tratam do ensino-aprendizado da capoeira, listadas em anexo nesta pesquisa. (Anexo I). Além deste levantamento, a autora se propôs a acompanhar as aulas de duas professoras de Educação Física que ministravam aulas em turmas da 1ª a 4ª série do ensino fundamental.

O estudo de Silva, intitulado “O trato da capoeira na educação formal a partir de análise dos anais do congresso brasileiro de ciências do esporte (2005-2013)”.

4Projeto ofertado pela Orientadora do trabalho Tatiane Trindade Machado nos anos de 2011 a 2014 no campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas. Consistia em dois encontros por semana no qual eram ministradas aulas práticas de capoeira ou maculêlê e rodas de leitura acerca do tema.

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traz dados sobre textos apresentados no referido congresso e concluiu que a capoeira ganhou espaço e se legitimou enquanto conteúdo educacional, mas ainda há pontos que minimizam a seu desenvolvimento nas escolas.

A capoeira por se tratar de uma prática social complexa, possui diferentes elementos da cultura corporal em uma só prática social, como dança (ginga, floreios) e luta (movimentos de ataque e defesa) por exemplo, por isso, tem-se uma dificuldade em entender a capoeira pertencente a um único conteúdo da Educação Física, e nesse sentido, alguns autores como Darido e Rangel (2005, p. 271) entendem:

Que a capoeira tenha características que se aproximam um pouco de cada manifestação (dança, luta, esporte, jogo, ritual...) e depende muito do que se faz dela. Na verdade, acreditamos que essa prática corporal deve, também, estar na escola de acordo com os pressupostos educacionais, transformada conforme as necessidades do contexto escolar.

Apesar das diferentes formas de entender a capoeira na Educação Física, ela está definida como um de seus conteúdos, como pode ser visto, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), no qual, durante todo o documento entende que a capoeira pode ser abordada tanto como uma luta, ou como atividade rítmica expressiva, e que:

Num país em que pulsam a capoeira, o samba, o bumba-meu-boi, o maracatu, o frevo, o afoxé, a catira, o baião, o xote, o xaxado, entre muitas outras manifestações, é surpreendente o fato de a Educação Física, durante muito tempo, ter desconsiderado essas produções da cultura popular como objeto de ensino e aprendizagem. (Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasil, 1998, p. 71-72)

Podemos encontrar estudos que mostram a utilização da capoeira em diferentes fases da educação básica, como por exemplo na educação infantil, no estudo de Gonçalves et al. (2010), os autores mostram uma das diversas maneiras de se tratar com a capoeira no espaço escolar, partindo de elementos como suas músicas e seus instrumentos, para proporcionar uma experiência mais completa com a capoeira, e adaptados pedagogicamente para os alunos da educação infantil. Partindo dos textos apresentados, e com relação aos objetivos supracitados para a realização desta pesquisa, foram formuladas duas hipóteses para o decorrer da pesquisa: a primeira entende-se que os professores trabalhem com a capoeira como um de seus conteúdos nas aulas, abordando diferentes temáticas que a

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pertencem. A segunda compreende que os professores não abordem a capoeira como um dos conteúdos da Educação Física em suas aulas.

No que se refere as bases teóricas, abordamos inicialmente concepções de cultura, escola e conteúdo, a partir das ideias de Tylor (apud LARAIA, 2006); Resende e Soares (2009); e Darido (2001). A capoeira, dialogando com as ideias de Machado (2014/2017); Bruhns (2000); e Capoeira (2006). E a capoeira e sua relação com a Educação Física a partir das obras de Costa Silva (2009) e Iório e Darido (2005).

Com um referencial teórico já construído, foi realizado inicialmente um estudo piloto com três escolas, a fim de validar a pesquisa e os métodos utilizados na mesma. Posteriormente foi realizada a coleta de dados em 11 escolas de Arapiraca, no qual os(as) professores(as) a responderem um roteiro de entrevista semiestruturada que nos forneceu as informações necessárias para analisar como a capoeira é tratada nas aulas de Educação Física, em escolas de Arapiraca.

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2 REFERENCIAL TEORICO

Dado o desenvolvimento da pesquisa, se faz necessário apresentar alguns conceitos, com o intuito de propiciar uma melhor percepção da mesma, assim iniciamos com o a definição de cultura. Entendemos cultura, a partir da concepção sintetizada por Edward Burnett Tylor (1832-1917). Segundo Laraia (2006, p.25) Tylor entendia que:

Tomando em seu amplo sentido etnográfico [cultura] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. 5

Pode-se perceber então que tudo que a sociedade produz é cultura, desde hábitos de diferentes povos, costumes de acordo com o lugar em que se vive, até o simples fato de sorrir é uma forma de cultura. E com o passar dos anos, é compreensível que a cultura não seja perdida, e sim transmitida para gerações futuras, surgindo a ideia de uma instituição capaz de transmitir tais conhecimentos, nesta concepção, nasce as escolas.

Resende et al. (1997, p. 2)concebeque:

A função da instituição escolar é garantir o processo de transmissão, sistematização e assimilação de conhecimentos/habilidades produzidos historicamente pela humanidade, de modo a permitir que as novas gerações venham a interagir e intervir na sociedade.

Assim, a escola tem, segundo os autores supracitados, uma função especifica: "a conservação do patrimônio cientifico e cultural construído pela atividade humana pública e comum, bem como a sua preparação para melhor interagir no mundo social do trabalho". (1997, p.2)

Dentro do cenário escolar, cabe aos(as) diretores(as), coordenadores(as) e aos(as) professores(as), que assumem a função de transmitir tais conhecimentos, a seleção de conteúdos pertinentes a formação daqueles que ingressem no meio escolar, isso se dá pois, há uma construção cultural vasta e com relação ao tempo escolar, não seria possível, vivenciar todos estes conteúdos.

Com esta base, entendemos de acordo com Coll et al. (2000) (apud DARIDO, 2001, p. 5) o conteúdo:

5Utilizou-se esses autores para se ter um entendimento de cultura, mas não possui a pretensão de aprofundar tal conceito.

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Como uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses modelos de conduta, etc, cuja assimilação é considerada essencial para que se produza um desenvolvimento e uma socialização adequada ao aluno.

Ao selecionar tais saberes para a realidade escolar, criam-se áreas para que sejam trabalhados os diferentes conhecimentos produzidos, para trabalhar de acordo com suas especificidades e tais áreas irão compor o currículo da escola, assim, de acordo com Souza Junior (2001, p. 83):

Um componente curricular é, no sentido de matérias de ensino, não apenas um constituinte do rol de disciplinas escolares, mas um elemento da organização curricular da escola que, em sua especificidade de conteúdos, traz uma seleção de conhecimentos que, organizados e sistematizados, devem proporcionar ao aluno uma reflexão acerca de uma dimensão da cultura e que, aliado a outros elementos dessa organização curricular, visa a contribuir com a formação cultural do aluno.

Nesta contribuição na formação do aluno, a Educação Física enquanto componente curricular, deve através da sistematização de seus conteúdos, proporcionar aos alunos, além da função básica de um componente curricular “o saber advindo de uma cultura corporal, estabelecendo coerência com a função escola" (SOUZA JUNIOR, 2001, p. 90)

Assim, a partir das ideias de Resende et al. (p.3, 1997) “A educação física enquanto disciplina curricular, reúne um rico patrimônio cultural tanto de dimensão universal (esportes e ginásticas institucionalizadas, etc.) quanto particulares (jogos, e brincadeiras populares, esportes locais, etc.).” Quando esse patrimônio é sistematizado na Educação Física, pode-se proporcionar ao aluno um aumento de seus conhecimentos e habilidades, como também uma maior compreensão sobre a cultural corporal. Esta, de acordo com os referidos autores:

É entendida como uma das formas de linguagem e expressão comunicativa que, como qualquer prática social, é eivada de significados, sentidos códigos e valores, que influenciam a formação do ser humano. (RESENDE et al., p.3, 1997).

E dentro desta ideia, a Educação Física pode ser legitimada no currículo escolar da educação básica por possuir a partir dessas formas de linguagem e desse rico patrimônio cultural, uma autonomia pedagógica. Podemos perceber tal ideia, com base em Soares et al. (1992, p. 41) que nos mostra como a Educação Física é vista como uma disciplina, e que de uma maneira geral:

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[...] trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal. Ela será configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais, como as nomeadas anteriormente: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem.

Nessas atividades particularmente corporais da Educação Física, a capoeira está incluída, e compreendemos que “ao participar do contexto escolar, vinculada prioritariamente à Educação Física, a capoeira pode estar passando por diversas configurações e incorporando os códigos e valores dominantes dessa área” (FALCÃO 1996, p. 14). Resgatando-a enquanto prática social que faz parte desta dimensão particular de conteúdos, por ser algo local do brasileiro, e percebendo que a capoeira contribui para a legitimação da Educação Física, com a vivencia de seus conteúdos.

2.1 Sobre a capoeira

Ao tratar com a capoeira se faz necessário um aporte sobre sua história, e uma das primeiras discussões é sobre sua origem. Segundo Machado (2014, p.19):

Durante muito tempo não houve consenso, uns diziam ser brasileira, outros, africana, e há os que afirmavam que seria afro-brasileira. Atualmente, poucos duvidam da origem brasileira da capoeira. Uma das evidências é que estudos foram realizados na África e em outros países onde houve a escravidão negra e nada igual foi encontrado, a não ser levada por algum brasileiro.

Tendo sua origem como um elemento de defesa e resistência as atrocidades cometidas nessa organização social, um dos reflexos partindo da classe dominante foi o de tornar a capoeira contravenção penal, e posteriormente crime, previsto pelo código penal no ano de 1890 no capitulo XIII, intitulado dos Vadios e Capoeiras, Artigos de 402 a 4046.

Reis apud Bruhns (2000, p.24) nos traz três momentos históricos da capoeira: 1-Sua criminalização: final do século XIX, que denominamos ‘perseguição’ e subdividimos em período de contravenção penal (do começo do século XIX até 1890) e período de criminalização oficial

6BRASIL. Decreto 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html Acesso em: 28/01/2018.

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(até a década de 1930); 2- Sua legalização década de 1930; 3- Sua institucionalização como esporte oficial:(década de 1970)

A retirada da capoeira do código penal se deu durante o governo de Getúlio Vargas “quando o então presidente do Brasil, com seu discurso populista, decidiu aproximar-se das manifestações populares. Ao perceber que a capoeira era uma das mais fortes manifestações advindas do povo, ele a retirou do código penal.” (MACHADO, 2014, p. 20). Nessa realidade, a capoeira começou a transpassar de prática marginalizada para uma prática cultural ou um esporte, perante a sociedade. Nesta época a capoeira começou a ser sistematizada em duas vertentes: A Capoeira Regional7 e a Capoeira Angola8. A primeira, tendo como seu criador

Mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado), ao abrir uma academia de capoeira, e propôs um método de ensino para a mesma. Na mesma época, Mestre Pastinha (Vicente Joaquim Ferreira Pastinha) “abriu sua academia alguns anos depois da de Bimba, e lá praticava o estilo tradicional que, para diferenciar da regional, ele passou a chamar de capoeira angola. ” (CAPOEIRA, 2006, p. 55)

Pires (2010, p. 137) nos mostra que “dentro da própria repressão a capoeira já aparecia os vestígios da invenção de uma nova tradição. Essa tradição a estabelece enquanto esporte, logo classificada fora do campo da cultura marginalizada”. E na década de 70 a capoeira é reconhecida como esporte pelo Ministério da Educação – MEC.

Outros momentos que merecem destaque na história da capoeira foram em 2008, em que a capoeira foi reconhecida pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio Cultural Imaterial do Povo Brasileiro, e em 2014 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu a roda de capoeira como patrimônio Cultural e Imaterial da humanidade. E atualmente mesmo ainda sofrendo resistência por parte da sociedade, dado um preconceito enraizado em sua formação, a capoeira é vista

7Estilo criado por Mestre Bimba que possui um método de ensino, chamado de “sequência de Mestre Bimba” além de definições de golpes traumatizantes e desequilibrantes, se caracteriza pela sua estruturação que permite um melhor desenvolvimento técnico, a partir da capacidade do aluno de improvisar, da espontaneidade, e desenvolvimento da sua singularidade enquanto jogador. (CAPOEIRA, 2006)

8Estilo sistematizado por Mestre Pastinha, denominado com estilo tradicional, originalmente seu estilo era muito menos estruturado e mecânico, tendo base na criatividade, improvisação, mandinga e na malicia. (CAPOEIRA, 2006)

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com olhares mais receptivos, e vem crescendo não só no Brasil, como em vários países pelo mundo. (MACHADO, 2014.)

Esses dados refletem uma prática social que lutou contra a repressão para sobreviver em uma sociedade que não valorizava o negro e sua cultura, que por mais que tenha sido negada, é brasileira, e que foi sobrevivendo com o passar dos anos, a partir de uma reestruturação com base na cultura e sociedade inserida. Afinal, a capoeira praticada por Mestre Bimba ou Mestre Pastinha, por mais que sejam fiéis a seus ensinamentos, não é a mesma praticada atualmente.

Nesta prática social um de seus elementos se manifesta de forma crucial para contribuir com relatos sobre a história da capoeira, a música. Esta é inerente ao jogo de capoeira, foi incorporada em seus primórdios, como uma forma de embalar o jogo, e se tornando um dos elementos mais importantes do jogo da capoeira. (MACHADO, 2017)

Silva J., (2003, p.106) nos traz que “a capoeira possui a música como um componente importante de coesão entre capoeiristas e observadores, não só pela música em si, mas porque suas letras são repletas de conteúdo histórico. ”

O conteúdo histórico trazido pelo autor, nos expõe que grande parte da história da capoeira é contada a partir de suas músicas, se tornando um grande elemento para estudos ou para se apropriar desta prática social. Não sendo o único, pois por conta de sua complexidade a capoeira pode ser estudava em diversas perspectivas, seja através da música ou de seus fatos históricos, como arte, em como ela é trabalhada atualmente, ou em todas suas perspectivas enquanto prática social brasileira.

2.2 Capoeira e Educação Física

Ao pensar a capoeira na Educação Física, se faz necessário primeiramente entender quando a Educação Física se debruçou a este conteúdo, e de uma forma sistematizada os estudos começaram no início do século XX e os autores destes estudos, de acordo com Silva, P. (2009), estavam ligados às Forças Armadas e a sociedade civil. Segundo a autora:

A Educação Física, por sua vez, só se propôs a pensar em pedagogizar a Capoeira, em 1945, com a obra de Inezil Penna Marinho, intitulada Subsídios para o estudo da metodologia do

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Este trabalho, segundo a autora, traz a sistematização de um treinamento de capoeira, que visa melhorar seus golpes e contragolpes, sem a intenção de desenvolver um método de ensino-aprendizado para a capoeira, mas sim de treinamento, e dava o conceito de que a mesma era uma luta, um meio de defesa pessoal criado no Brasil, que poderia ser entendido como um esporte originalmente brasileiro. (SILVA, P., 2009)

Vale ressaltar que neste contexto a Educação Física vinha de um momento ginástico/eugenista, e no século XX chegavam com força no Brasil, e com base em Iório e Darido (2005, p. 138, grifo do autor) “com as mesmas finalidades de seus países de origem qual seja: disciplinar corpos para o trabalho em fabricas, melhoria da saúde (higienização) e melhoramento da raça (eugenização). ”

Entrando em um movimento técnico/esportivo após o golpe militar de 1964, no qual a Educação Física sofreu mudanças na sociedade, a partir das lideranças militares

Se antes, cabia à ela a formação da tropa, a manutenção de corpos saudáveis, a regeneração da raça brasileira, com o regime militar somou-se a tudo isso a responsabilidade de formar atletas para engrandecer a nação. (SILVA, P., 2009, p.37)

Neste cenário a prática da Capoeira Angola e da Capoeira Regional, foi,com base em Silva, (2001) apud Iório e Darido (2005, p. 139): “[...] realizada predominantemente nas academias, perdendo sua característica de manifestação de rua [...]” (p. 138). Esta mudança sofrida na prática de capoeira “não influencia a sua prática nas aulas de Educação Física escolar, permanecendo distantes (desvinculadas)” (IÓRIO; DARIDO, 2005, p. 139).

No final do século XX, precisamente na década de 80, surge novas perspectivas de pensar a relação da Capoeira com a Educação Física, surgindo críticas ao modelo técnico/esportivo:

Surgem novos ideais em relação à Educação Física com perspectivas de mudanças sociais, através de uma formação crítica dos alunos. Neste caso, há um avanço no sentido da formação integral do aluno, considerando questões políticas, históricas, culturais e outras que compõem o universo escolar. Estes pesquisadores entendem a Educação Física na escola com a intenção de formar cidadãos críticos e criativos. (IÓRIO; DARIDO, 2005, p. 139)

A relação entre capoeira e Educação Física escolar começa a parecer mais próxima, ao menos com base nestas informações e a partir delas, optou-se em

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apresentar um quadro de Iório e Darido (2005), que expõe melhor essa relação entre a capoeira e Educação Física construída na sociedade no século XX, a fim de compreender suas diferentes relações nestes períodos históricos distintos.

Quadro 1- Interfaces da Educação Física, Capoeira e Educação Física Escolar Período Educação Física Capoeira Educação Física Escolar

Higienista/ginástico - Início do séc. XX; - Década de 30 - início de 40. - Métodos ginásticos europeus; - Melhoria da saúde; - Relação com o exército; - Exercícios físicos. -Ginastica Nacional; -Relação Com os militares; - Liberação da prática da Capoeira (Getúlio Vargas); - Criação da Capoeira Regional; - Melhoria da saúde; - Aparecimento das primeiras academias de Capoeira Angola e Regional. - Métodos ginásticos europeus; - Pensamento higienista/eugenista; - Corpos saudáveis; - Exercícios físicos. Técnico/esportivo - Década de 60 e 70. -Melhora Fisiológica psíquica, social e moral (BETTI, 1991); - Método Desportivo Generalizado; - Relação com o esporte; - Preocupação com as competições esportivas. - Mudança de espaço: das ruas para as academias; - Ênfase nos conhecimentos dos Mestres; - Esporte nacional (Capoeira Regional); - Competições, regras, performance...; - Vincula-se à Confederação Brasileira de Pugilismo. - Valorização dos aspectos psicossociais; - Valorização do Jogo; - Pensamento Esportivista; - Seleção dos mais aptos (excludente); - Função de descobrir atletas; - Treinamento desportivo, competições, regras...; - Gesto técnico; - Esporte-educação- saúde. Novas perspectivas/Cultura Corporal - Década de 80 e 90. - Valorização das práticas corporais; - Objetivos relacionados à saúde, à estética e ao esporte de rendimento; - Diversificação e valorização das pesquisas na área. - Valorização dos mestres da antiga (Angola); - Vínculo com as academias de ginástica e com as competições esportivas (Regional); - Criação da Confederação Brasileira de Capoeira (Capoeira/esporte). - Críticas ao modelo biológico/esportivo; - Valorização da cultura corporal (jogos, danças, lutas, esportes,

ginásticas e capoeira); - Aparecimento de propostas (concepções de Educação Física escolar) para o ensino da Capoeira na escola. Fonte: Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 4, número 4, 2005 Educação Física, capoeira e Educação Física Escolar: possíveis relações

Na década de 90, podemos perceber esta mudança de relação entre a capoeira e a Educação Física Escolar em algumas obras como o “Coletivo de autores” (SOARES et al. 1992) que já é considerado um clássico das obras da

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Educação Física, e possui a capoeira presente em suas discussões, relacionando-a aos conteúdos da cultura corporal, pertinentes a prática pedagógica da Educação Física. E no século XXI, com alguns estudos já citados nesta pesquisa, a exemplo temos Darido e Rangel (2005) que apontam suas concepções do papel da Educação Física para a formação do cidadão, e trazem a capoeira como um conteúdo pertinente a ser trabalhado na Educação Física escolar.

Contudo, as informações citadas acima nos servem como uma base para entender em que contexto a Educação Física e a capoeira começaram a se relacionar, e perpassaram durante a história, para com essa base, e com as contribuições desta pesquisa, entender de alguma maneira, sua atual relação em um novo cenário, no qual a Educação Física já é vista a partir de diferentes pensamentos, não voltados somente a saúde ou a uma ideia higienista, e a capoeira, começa a ser percebida como uma prática social brasileira, com os estigmas pejorativos de outrora, menos recorrente.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Com base em Deslandes, Minayo e Gomes (2009, p. 21), essa pesquisa é definida como qualitativa, pois:

[...] responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes.

Como o objetivo desta pesquisa tem um enfoque em opiniões e relatos, optou-se pelo trabalho de campo, por conta de sua capacidade de aproximar o pesquisador da realidade a qual ele faz suas indagações, além de “estabelecer uma interação com os ‘atores’ que conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social”. (DESLANDES, MINAYO, GOMES, 2009, p. 61, grifo dos autores)

Para que essa pesquisa fosse desenvolvida foi fundamental a consulta de diversas fontes bibliográficas, que tratem sobre a capoeira e a Educação Física e outras questões que se mostrem durante este processo, sejam estas: monografias, teses, revistas, livros, artigos, etc.

A população deste estudo é constituída por professores(as) de Educação Física da rede pública e municipal de ensino, na zona urbana da cidade de Arapiraca –AL, dentre eles os (as) professores(as) que ministrem suas aulas no ensino fundamental.

A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas que de acordo com Minayo (2011, p. 64) “combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada. ”

Para a realização da mesma foi necessário a realização de um estudo piloto, este é um teste em pequena escala que com base em Lakatos (2003, p.165, grifo do autor):

Consiste em testar os instrumentos da pesquisa sobre uma pequena parte da população do ‘universo’ ou da amostra, antes de ser aplicado definitivamente, a fim de evitar que a pesquisa chegue a um resultado falso. Seu objetivo, portanto, é verificar até que ponto esses instrumentos tem, realmente condições de garantir resultados isentos de erro.

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Para a coleta de dados na pesquisa de campo, tivemos três situações prováveis, e que foram encontradas no campo de pesquisa:

Situação 1 - Ao entrar em contato com a escola, a mesma não oferte aulas de Educação Física e nem a capoeira é ofertada por outro profissional;

Situação 2 – A escola possua aulas de Educação Física, mas o(a) professor(a) não aborde a capoeira como um de seus conteúdos;

Situação 3 – A escola possua aulas de Educação Física e o(a) professor(a) aborde a capoeira em suas aulas;

Assim a entrevista semiestruturada compõe-se de três roteiros, um para cada situação, os quais constam em anexo. (Anexo II)

Para a coleta dos dados da pesquisa, foram visitadas onze escolas, e aos(as) professores(as) de Educação Física e a direção da escola, foi feita uma explanação da pesquisa e seus procedimentos. Com a disponibilidade dos profissionais em participar da pesquisa, lhes foi apresentado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (Anexo III), como forma de comprometimento com a pesquisa realizada. Além de um termo de consentimento (Anexo IV) autorizando gravações de voz, vídeos e fotos.

A fim de coletar dos dados, foram utilizados, além do roteiro impresso, gravador de voz via aplicativo de celular, e caderno de campo para anotações.

Para a análise e interpretação dos dados utilizamos o método de análise de conteúdo (BARDIN apud TRIVIÑOS, 1987, p. 160):

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.

O método de análise de conteúdo é composto por pré-análise, descrição analítica e interpretação referencial: “A pré-análise é simplesmente, a organização do material.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 161-162) a descrição analítica começa já na pré-analise e “o material de documentos que constitui o corpus é submetido a um estudo aprofundado, orientado este, em princípio, pelas hipóteses e referenciais teóricos.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 161-162, grifo do autor).

A fase de interpretação referencial, apoiado nos materiais de informação, que se iniciou já na etapa da pré-análise, alcança agora sua maior intensidade. A reflexão, a intuição, com embasamento nos materiais empíricos, estabelecem relações [...]. (TRIVIÑOS, 1987, p. 161-162, grifo do autor).

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Com o material organizado e começando a ser descrito, os dados que os professores de Educação Física disponibilizaram para a pesquisa começam a ganhar um olhar analítico, refletindo tais informações com base no referencial desta pesquisa, e em como a capoeira se deu em diferentes momentos históricos e

Os procedimentos como a codificação, a classificação e a categorização são básicos nesta instância do estudo. [...] a análise descritiva não ficou nesse plano geral e paralelo de opiniões. Com efeito, ela avançou na busca de sínteses coincidentes e divergentes de ideias, ou na expressão de concepções ‘neutras’, isto é, que não estejam especificamente unidas a alguma teoria. (TRIVIÑOS, 1987, p. 161-162, grifo do autor).

Já com os dados organizados, nesta fase compete fazer relações entre as concepções embasadas durante a pesquisa, e autores que contraponham ou concordem os as informações apresentadas pelos professores, a fim de que a pesquisa obtenha uma visão o mais próximo do real de como a capoeira está sendo abordada nas escolas, buscando neutralidade em suas análises.

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4 RESULTADOS

A partir das respostas obtidas com o questionário, e com base nas três situações previstas, pudemos identificar o seguinte cenário: Das onze escolas pesquisadas, duas não possuem professores(as) de Educação Física ou trabalham com a capoeira; das escolas pesquisadas, foram entrevistados nove professores(as), um(a) professor(a) de Educação Física não aborda a capoeira em suas aulas, e oito professores(as) de Educação Física abordam a capoeira em suas aulas.

Situação 1:

Quadro 2 - dados de identificação das escolas que não possuem aulas de capoeira. Dados de identificação

Escola 1 Não possui professor de Educação Física e nem aulas de capoeira.

Escola 2 Não possui professor de Educação Física e nem aulas de capoeira.

Fonte: elaborado pela autora, 2018. Situação 2 e 3:

Quadro 3 - dados de identificação dos professores entrevistados que trabalham em escolas municipais de Arapiraca.

Dados e Identificação Entrevista

dos

Idade/Sexo Formação Especializa ção Tempo que Leciona Tempo que Leciona na Escola Aborda a capoeira Em que ano Professor( a) 1 31/Masc. Licenciado em Educação Física/UFA L Maceió Em Educação Física voltada pra escola – FITS 12 a 13 anos

6 anos Não Não aborda capoeira. Professor( a) 2 37/Masc. Licenciado/ Bacharelad o em Educação Física Em Educação Física – IBESA

11 anos 8 anos Sim 7º

Professor( a) 3

28/Masc. Licenciado em Educação

Não 10 anos 8 anos Sim Todos o

fundamenta l 2.

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25 Física/UFA L – Arapiraca Professor( a) 4 37/Masc. Licenciado em Educação Física/UFA L – Maceió/201 0 Em Futebol, 2010/ treinamento esportivo, 2011 – UFV Mais de 10 anos 8 anos Sim 7º e 9º Professor( a) 5 31/Fem. Licenciada em Educação Física/UFA L- Arapiraca/2 014 Em Psicomotrici dade e educação especial, 2016 – Faculdade de educação São Luiz

5 anos 1 ano Sim 8º

Professor( a) 6 34/Fem. Licenciada em Educação Física/ UFAL/ 2011 Em Metodologi a do Ensino da Educação Física/UNIN TER

6 anos 6 anos Sim 7º e 8º

Professor( a) 7 36/ Masc. Licenciado em Educação Física/ UFAL-Maceió/201 0 Em Metodologi a do Ensino da Educação Física/UNIN TER/2014

9 anos 6 anos Sim 7º e 8º

Professor( a) 8 28/Masc. Licenciado em Educação Física/ UFAL-Arapiraca/2 Mestrado em Educação/ UFS/ 2015 3 anos e seis meses 2 meses Sim 9º

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26 013 Professor( a) 9 30/Masc. Licenciado e Bacharelad o em Educação Física/IBES A/2008 Em Educação Física na educação Básica/FIT S/2010

10 anos 8 anos Sim 6º e 7º

Fonte: elaborado pela autora, 2018.

Na situação 2, a qual o(a) professor(a) de Educação Física não aborda a capoeira optamos por não analisar este dado na pesquisa, visto não sendo este o objetivo da mesma, mas consideramos crucial este dado, para nos mostrar um panorama da situação do ensino da capoeira nas escolas, bem como para validar a alternativa de na metodologia partir de três possibilidades distintas, considerando-as reais na educação básica.

Na situação 3, a qual os(as) professores(as) entrevistados abordam a capoeira em suas aulas de Educação Física, contabilizamos oito professores(as), e foram analisadas seis categorias: temas da capoeira abordados, métodos para a organização do conteúdo, avaliação com os alunos, dificuldades em trabalhar com a capoeira, pontos positivos em trabalhar com a capoeira e objetivos em trabalhar com a capoeira.

No que concerne aos temas da capoeira abordados foram identificadas nove subcategorias: História da capoeira e influencias culturais; Angola e Regional; Fundamentos básicos; Musicalidade; Mercadorização da capoeira; Esportivização da capoeira; Dança ou luta; Dança na capoeira e Ritmo da capoeira.

Acerca da subcategoria História da capoeira e influências culturais, todos(as) os(as) oito professores(as) trazem questões históricas em suas aulas com capoeira, vinculadas a história do Brasil, ou de forma mais específicas da capoeira, como o seu surgimento, suas características e seus estilos.

Professor 2 “parte histórica da capoeira, questão de onde surgiu, não é, a suas influências culturais”

Professor 3 “a gente fala um pouquinho sobre a história do Brasil, da disseminação da capoeira ao longo dos anos, como ela se tornou pilar cultural aqui no nosso país”

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histórico, falando um pouco sobre quem criou e os tipos de capoeira”

Professor 5 “em relação ao histórico da capoeira em relação com essa relação com a nossa história”

Professor 6 “relacionado a história, mais precisamente a história da capoeira, como foi que surgiu.”

Professor 7 “uma abordagem histórica falando da questão da contribuição da da África, contribuição do Brasil, faz uma abordagem referente ao contexto histórico do da nossa formação, do nosso povo que a capoeira ela a história dela de fato é a história, a própria história do Brasil desde o descobrimento [...] se você quer conhecer um pouco da própria história do Brasil você estuda um pouco a capoeira em si”

Professor 8 “eu início o histórico da capoeira no nono ano[...]o contexto histórico né, contexto histórico social e cultural”

Professor 9 “é históricos da capoeira que tratam a capoeira como um patrimônio de certa forma da cultura brasileira da cultura”

Isso nos reflete à um entendimento prévio sobre pontos históricos da capoeira por parte dos professores entrevistados, muitos tradados anteriormente nesta pesquisa. Podemos interpretar essa abordagem como algo relevante, devido não só a valorização da história do Brasil na escola, como levar aos alunos o conhecimento de uma prática social nossa, rica de elementos diversos como a capoeira.

A partir dessa perspectiva, e com base em Kohl (2007, p. 56) compreendemos que

Pesquisar a prática pedagógica com a capoeira nas aulas de Educação Física do ensino fundamental significa mergulhar em lembranças de toda uma história de vida permeada por contínuas aprendizagens de um conhecimento inacabado, que alimenta uma paixão igualmente inacabada, a qual, em cada entrada na roda, surge à possibilidade de um quefazer diferente.

Com esse “quefazer”, abordando a capoeira de diferentes formas a partir de sua história, os professores contribuem para uma formação com elementos culturais diversificados, além de propiciar aos alunos uma interação e intervenção na sociedade.

Referente a subcategoria da pesquisa, aqui denominada de Angola e Regional, quatro dos(as) nove professores(as) entrevistados(as), os entendem como estilos de capoeira, e repassam este conhecimento, um deles traz durante as aulas algumas informações sobre os mestres que difundiram tais estilos, Mestre Pastinha

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e Mestra Bimba, o que nos reflete um conhecimento mais aprofundado acerca de pontos específicos da capoeira, visto que esse tema é abordado durante as aulas.

Professor 4 “quais os tipos de capoeira [...] Eu só trabalho dois estilos a regional e a de angola.”

Professor 7 “eu trabalho os estilos geralmente os dois estilos hoje já se tem um terceiro que é a mistura dos dois o estilo angola e regional, pra enfatizar esses estilos geralmente eu abordo com um documentário histórico falando daqueles dos tanto do Pastinha como do Mestre Bimba”

Professor 8 “Bem eu abordo a capoeira Regional e a capoeira angola” Professor 9 “Geralmente eu falo sobre os dois estilos, capoeira regional e

de angola se eu não me engano.”

Alguns(mas) professores(as), entretanto, não abordam tais estilos durante suas aulas, abordando a capoeira de forma geral, o que nos pode sugerir algumas possibilidades com o trato da capoeira. Nestes casos, podem estar refletidos uma falta de contato com o conteúdo, a ponto de não conhecer as sistematizações apresentadas, ou uma maneira de tratar pedagogicamente com a capoeira, preferindo não se ater a estilos específicos.

Reconhecemos as duas possibilidades, mas cabe observamos que ao abordar a capoeira de maneira mais ampla sem ao menos citar seus estilos e seus precursores, que tiveram papéis significativos na difusão da capoeira, perde-se uma parte relevante do contexto histórico da mesma, seja em suas bases, nas sistematizações dos estilos Angola e Regional, seja nas organizações sociais atuais, nas quais dificilmente se pratica a capoeira sem estar vinculada a um deste dois estilos.

Na subcategoria Fundamentos Básicos, três dos(as) entrevistados(as) que trabalham com a capoeira, abordam esse tema, entendido também como movimentos básicos e principais golpes, o que nos reflete a um entendimento na capoeira capaz de identificar tal tema como uma base para o ensino da capoeira.

Professor 4 “pra que eles vejam os fundamentos básicos da capoeira.” Professor 7 “eu trabalho os movimentos básicos quando é necessário

trabalhar”

Professor 8 “eu passo as características da capoeira e depois exposição sobre os principais golpes”

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Como dito anteriormente ambos os(as) professores(as) não especificam se abordam estes movimentos voltados para algum estilo de capoeira (Angola ou Regional). Na capoeira Regional, há uma diferença entre movimento fundamental e movimentos básicos. A ginga é considerada um movimento fundamental “porque representa a identidade da Capoeira. A ginga é o que diferencia a capoeira das outras lutas, ela é uma marca pessoal que denota o estilo do capoeirista.” (CAMPOS. 2009. p.68) já os movimentos básicos “constituem-se nos elementos de defesa: ‘aú, cocorinha, negativa e rolê’. Esses movimentos exigem do praticante o domínio das qualidades físicas de base: agilidade, equilíbrio, destreza, resistência e coordenação, além de um apurado reflexo.” (CAMPOS. 2009. p. 69, grifo do autor)

Na capoeira Angola, segundo Gallep (2009, p.16) “São poucos os movimentos fundamentais que geram, por infinitas variações de combinação a partir da ginga, o diálogo corporal na roda com a formação de múltiplas curvas e lemniscatas.” E a partir da ginga, o autor mostra alguns principais movimentos, de forma simplificada:

- de defesa / deslocamento: negativa, bananeira, rolê; - de ataque: meia-lua-de-frente, meia-lua-de-costas, chapa-de-frente, chapa-de-costas, rabo-de-arraia, rasteira, tesoura, cabeçada; - ambivalente: au.

Temos ainda as variantes destes, geradas com a radicalização do uso dos apoios, tal como a queda-de-rim, o au-de-cabeça, a bananeira-com-a-cabeça, etc. (GALLEP, 2009, p.16)

Ambas especificações nos traz a funcionalidade e relevância de abordar esses movimentos, a partir de uma diferente organização de conteúdo que mantem uma sequência, partindo da base, a ginga, para os movimentos mais básicos que surgem da mesma.

A Musicalidade foi uma das subcategorias encontradas nas entrevistas e um(a), dos(as) nove professores(as), entende que a ela é um tema relevante pertencente a capoeira, para se tratar durante as aulas.

Professor 7 “em um terceiro momento dentro das oficinas é a musicalidade como é eu não tenho habilidade com o, e nem tenho, o berimbau mas ai eu trago, a gente trabalha com o som [...] ai voltando pra falar da das oficinas é eu faço questão que eles vivencie a musicalidade”

Cabe ressaltar que a musicalidade é inerente a capoeira, e “que grande parte da história da capoeira é contada a partir de suas músicas, se tornando um grande elemento para estudos ou para se apropriar desta manifestação cultural. ” (ARAUJO,

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2017. p. 2652). Não só por sua história, mas a musicalidade vai além quando relacionada com a capoeira, e de acordo com a mesma autora

[...] a capoeira e todo seu fazer musical se apresenta como um importante elemento que une práticas conceituais que envolve os ritos e as histórias de capoeira, ou práticas físicas que desenvolve conceitos de intensidade, noção de espaço e tempo, o que nos faz perceber inicialmente alguns ganhos positivos, atuando como um conteúdo completo que relaciona esses dois pontos para levar o conhecimento a criança de educação infantil. (ARAUJO, 2017. p. 2656)

Mesmo abordando este tema em uma faixa etária diferente da abordada nesta pesquisa, entende-se a capoeira e sua relação com a música como algo que independe de uma idade especifica, tornando-se crucial levar este elemento da capoeira para a sala de aula.

Na subcategoria Mercadorização da capoeira um(a) dos(as) professores(as) nos trouxe durante a entrevista, que aborda este tema com seus alunos, fato interessante, visto que aborda-lo pode levar os alunos à vários questionamentos.

Professor 8 “refletir sobre a mercadorização da capoeira também né que hoje em dia ela passa por esse processo”

Infelizmente não podemos comprovar essa reflexão ao processo de mercadorização da capoeira, visto que o professor apenas o citou durante a entrevista. Mas entendemos que este é um processo que quando relacionado com a capoeira, nos mostra como uma necessidade de adaptação as mudanças da sociedade “muitas dessas mudanças acontecem para atender as exigências do mercado de consumo cada vez mais voltado às satisfações não só dos praticantes, mas também de seus espectadores.” (MARTINS; SILVEIRA. 2015. p. 265) e que vários questionamentos são levantados acerca de como acontece a mercadorização na capoeira e suas implicações positivas ou negativas para esta prática social. Entretanto o professor entrevistado não levantou tais questionamentos, ou especificou como este tema é abordado em sala.

Acerca da subcategoria Esportivização da capoeira, um do(a)s nove professores(as) entrevistados(as) alegam abordar esse tema durante suas aulas.

Professor 7 “a capoeira teve uma, como se diz, teve um avanço bem significativo nesse período do estado novo na era Vargas que nesse período começou a ser começou a ganhar uma identificação como esporte, a esportivização da capoeira”

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O processo de esportivização não só da capoeira, mas de outras práticas, como as lutas, reflete uma adaptação da sociedade aos meios de urbanização e de industrialização, adequando tais atividades para um espetáculo, ou para se obter lucros. Na época que o(a) professor(a) abordou em sua fala, a capoeira passava de uma visão de ginástica nacional para uma visão esportivizada da capoeira, entre os anos de 1930 a 1970. A capoeira aparece neste momento histórico, como uma prática liberada no governo Vagas, as academias de capoeira Regional e Angola criadas, e no golpe militar de 1964, a capoeira se aproxima da esportivização:

Com a valorização do esporte como válvula de escape da repressão política, temos o enquadramento desta prática como um esporte de luta genuinamente brasileiro, passando a fazer parte da Confederação Brasileira de Pugilismo, ganhando, enfim... o status de esporte de competição. (SILVA, 2001, p. 9 apud MACHADO, 2018, p.07).

E se adaptando a situação social vigente, a capoeira começa a ser vista como prática esportivizada. Nessa ideia, entendemos que a capoeira vai além de sua esportivização, mas esse processo é relevante em todo seu contexto,

Suas formas de expressão (gestos, ritos e outras) denotam subjetividades materializadas na arte, no jogo, na malícia, em visões de mundo, dentre outros aspectos que evidenciam alguns descompassos com a padronização preconizada pelo modelo esportivo. (KOHL, 2013, p. 73)

Esta relação entre capoeira e esporte que vem se firmando nos últimos tempos podem levantar diversos questionamentos, não só entre pesquisadores, mas também em âmbito escolar, o que se mostra proveitoso para ser abordado quando se tratar de capoeira nas escolas. Pois este processo de esportivização pode ter influencias na visão que o aluno tem acerca da capoeira, e discutir essas questões se torna valido para uma compreensão mais ampla deste contexto.

Na subcategoria Dança na capoeira, um(a) dos(as) professores(as) aborda esse tema durante as aulas, apenas citando-a como uma de suas temáticas.

Professor 2 “a questão da dança né, então, ou seja, resumindo, a cultura da capoeira é muito rica”

A capoeira possui uma relação muito próxima com a dança, por conta de seus movimentos ritmados ao som das músicas de capoeira. Ela é interpretada como uma dança por alguns autores, como por exemplo, Rybeirolles, um viajante que observou e descreveu jogos e danças dos negros no século XIX:

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Aqui é a capoeira, espécie de dança Pyrrica, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas que os sons da viola Urucungo accelerão ou demorão: mais além tripodia-se dança louca, na qual olhos, seios, quadril, tudo, uma fala, tudo provoca, _ especie de frenesi convulsivo inebriante a que chamão lundú. (RYBEIROLLES,1859, p. 47).

Este relato nos mostra uma visão da capoeira como uma dança, mas esta relação também tem outros vieses, como uma das teorias para o surgimento da capoeira, que teria sido a partir de uma dança, o N’ golo. Segundo Mestre Cobra Mansa, em uma matéria publicada no Portal Capoeira “O objetivo do n’golo é vencer o adversário atingindo seu rosto com o pé. A dança é marcada pelas palmas, e, como na roda de capoeira, não se pode pisar fora de uma área demarcada”. (PORTAL CAPOEIRA, on-line). A partir dessas semelhanças podemos compreender a origem desta teoria, e da aproximação da dança com a capoeira.

Esta aproximação e as relações vistas entre capoeira e dança podem mostrar enriquecimento da capoeira enquanto cultura. A dança pode ser vista como um elemento que defina a capoeira, mas já compreendemos que a mesma vai além da dança, e enquanto prática social abarca vários elementos da cultura corporal consideramos crucial esta relação entre dança e capoeira, e que a mesma esteja presente ao se abordar a capoeira com os alunos.

Na subcategoria Dança ou luta um(a) dos(as) professores(as) entrevistados afirma levar para suas aulas a discussão se capoeira é uma dança ou uma luta, como um de seus temas.

Professor 4 “coloco em discussão a questão se ela é dança ou luta, e quais são os motivos pra isso acontecer”

Outro ponto que percebemos a complexidade da capoeira, pois questionamentos levantados sobre ela ser dança ou luta são feitos por diversos meios, seja no cientifico ou entre os professores nos diferentes campos de atuação. Como dança, vemos na subcategoria acima as relações possíveis, e que a capoeira pode ser interpretada como uma dança. Como luta, partimos da concepção de Santos e Palhares (2010, p. 07) no qual:

A capoeira pode ser considerada uma prática corporal integrante ao contexto das lutas, entretanto, não é consensual que a capoeira deva ser abordada unicamente como luta, pois ela também possui características para além do caráter combativo. Tal raciocínio entende a capoeira como uma prática que se metamorfoseia em outras. Logo, qualquer tentativa de definição da capoeira exige a

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compreensão de seu caráter híbrido, pois a capoeira também pode ser dança, jogo, teatro, dentre outros.

Como o professor não abordou sua interpretação sobre esse questionamento, consideramos pertinente que o mesmo leve essa questão para a escola, mas consideramos que como a capoeira possui aspectos dos dois elementos, pode ser trabalhada nos dois vieses, dialogando com a ideia de Darido (2005) de que a capoeira é o que se faz dela, mas entendendo-a para além de um único elemento da cultura corporal.

Acerca da sub categoria Ritmo da capoeira, um(a) dos(as) entrevistados(as), ao abordar a capoeira de forma prática com seus alunos, nos mostra que este é um dos primeiros temas trabalhados no decorrer da aula.

Professor 4 “Olha primeiro o ritmo da capoeira né a questão desse ritmo ai, de como trabalhar, de como entender”

Ao se falar de ritmo, compreendemos que o(a) entrevistado(a) possui uma ideia de um ritmo próprio da capoeira, para que ele seja trabalhado e entendido pelos alunos. Relacionamos essa ideia com a de Hélio Campos (2009) que ao falar sobre ritmo, em diferentes situações da capoeira, como nas rodas, no qual seu movimento é “constituído pelos toques, cânticos e ritmos comandados pelo berimbau, que parece atrair forças da natureza cósmica[...]” (CAMPOS. 2009. p.43/44) ou em sua visão de capoeira como

A arte se faz presente através das manifestações da música, ritmo, canto, instrumentos, dança, expressão corporal, criatividade de movimentos, assim como por representar um riquíssimo tema para as artes plásticas, literárias e cênicas. As aulas poderão interagir com outras disciplinas escolares, criando assim um vínculo de interdisciplinaridade, aproximando sobremaneira a atividade de jogar capoeira da cultura” (CAMPOS. 2009. P. 91).

Percebe-se que abordar os ritmos da capoeira se faz necessário para além das relações interdisciplinares, mostrar as relações do jogar capoeira com base em um ritmo, assim percebendo suas finalidades nesta prática social.

A respeito dos métodos para a organização do conteúdo pode-se identificar sete subcategorias: aulas teórico/expositivas; por etapas/blocos; textos/vídeos/documentários/pesquisas; oficinas/apresentações; discussões e debates; não faz aulas práticas; vinculada as lutas.

No que tange a subcategoria Aulas teórico/expositivas, pode-se observar que seis dos(as) nove professores(as) entrevistados(as) abordam a capoeira de maneira

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