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8 C H -P E R IO O /C O S

PSICOPEDAGOGIA: A INTERDISCIPLlNARIDADE

POSSfVEL E NECESSÁRIA •

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Sandra Francesca Conte de Almeida

* *

RESUMO

o

texto aborda algumas questões relativas às diferentes concepções que se tem da Psicopedagogia e coloca a interdisciplinaridade como elemento constituinte da mesma, tanto na sua dimensão conceitual quanto nas suas abordagens te6rico-práticas.

·ABSTRACT

T h e te x t d e a ls w ith s o m e q u e s tio n s re la te d to lh e d iffe re n t c o n c e p tio n s o f p s y -c h o p e d a g o g i-c s , a n d p la c e s lh e in te rd is c ip fin a ry a p p ro c h asa n e s s e n tia l e le m e n t o f lh e fie ld , b o lh a tac o n c e p tu a l asw e ffasth e Ih e o re tic a l - p ra c tic a l le v e i •

• "Wor1<paper" apresentado no GT Pesquisa Interdisciplinar, no IV Simp6sio da ANPEPP. Brasí-lia, 07 a 09 de maio de 1992.

•• Professora Adjunto do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasnla.

Revista de Psicologia, Fortaleza, V. 9 (1/2), V. 10 (1/2); p.23 - p.27, Jan./Dez. 1991/92

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A

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Psicopedagogia, como O próprio termo indica, coloca em evidência, na sua dimensão conceitual, a articulação entre a Psicologia e a Educação. No entanto, apesar de manter uma relação privilegiada com a Psicologia, a Psicopedagogia, em diferentes nrveis, tem recorrido, com freqüência, a outros ramos do conheci-mento.

Sua relação com diversas ciências tem suscitado inúmeras questões e apre-sentado alguns desafios a profissionais e pesquisadores de diferentes áreas. Questões de ordem epistemológica, teórica e prática, que dizem respeito ao esta-tuto da Psicopedagogia enquanto disciplina científica, que relacionam-se às dife-rentes abordagens teóricas que sustentam a prática psicopedagógica e, ainda, questões relativas à natureza e ao caráter dessas práticas, na escola e/ou fora dela.

O desafio maior e mais instigante que nos apresenta a Psicopedagogia, parece ser, entretanto, a questão da interdisciplinaridade.

Tendo como objeto de estudo a aprendizagem humana, nos seus aspectos evolutivos normais e patológicos, e situando seu campo de atuação no universo das relações humanas e dos processos cognitivos, efetivos e sociais presentes na construção do conhecimento e do saber, a psicopedagogia endossa a interdis-ciplinaridade como opção possfvel e necessária para a compreensão dos fenôme-nos que estão na interface da Psicologia e da Educação, sobretudo aqueles rela-cionados ao ato de ensinar-aprender e os problemas dele decorrentes.

Mas a que a interdisciplinaridade referimo-nos? Onde situá-Ia? Nas diferentes abordagens teóricas utilizadas pela Psicopedagogia? Na prática psicopedagógica? Na própria dimensão conceitual de Psicopedagogia?

Sabemos que o termo interdisciplinar diz respeito a "vários ramos da ciência agindo em comum" (Robert, 1983, p. 1020), ou o que é "comum a duas ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento" (Ferreira, 1975, p. 775). Contrariamente à multidisciplinaridade que, conceitualmente, refere-se apenas a várias ou muitas disciplinas ou especialidades (por força do prefixo "multi", do latim "multus"

=

muito, numeroso), a interdisciplinaridade é, do ponto de vista conceitual e

epís-temológico, muito mais complexa.

Em primeiro lugar porque não se trata de tentativas de aproximação da realida-de que se realida-deixam reduzir ao somatório realida-de partes constitutivas de duas ou mais ciências e, em segundo lugar, porque permite, do ponto de vista epistemológico, o surgimento de novas concepções teóricas e, portanto, a construção de novos sa-beres cientfficos, estruturados a partir do que há de comum a dois ou mais ramos do conhecimento.

Situar o caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, procurando contemplar as questões acima mencionadas, supõe, necessariamente, a discussão de sua di-mensão conceitual, isto é, tentar responder à interrogação: o que é a Psicopeda-gogia? Um corpo de conhecimentos estruturados a partir das contribuições

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m todológicas de diversas ciências? Uma atividade prá~ca, ora ma~s v?lt~da r s intervenções de natureza psicológica, ora pedagógica? Uma Ciência

hr-Irkl

"em fase de constituição? .

1\1

uel (1987, p. 25) define a

Psícopedaqoqia

como um "ca~po do

~onhe?l-11111110 relativamente novo que surgiu na fronteira entre a Pedagogia ~ a P~lcologla. I 111 ntra-se em fase de organização de um corpo teórico especlfico, Visando a

tlll qração das ciências pedagógica, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológi-psicolingürstica, para uma compreensão mais integradora do fenômeno da

pr

ndizagem humana". .' .

Para a autora, a Psicopedagogia está, pois, constituindo-se como um novo sa-I r clentrtico dirramos hrbrido, resultante da integração de várias ciências. O

ca-II r de inte;disciplinaridade, nessa concepção, é inerente à Psicopedagogia, ou

I

,intrinsecamente incorporado ao seu esquema teórico-conceitual.

Analisando as muitas significações da Psicopedagogia, Neves (1991, pp.1G-14)

ntrapõe-se

a essa visão afirmando que, apesar dos bons resultados obtidos na pr tica

cííníca,

a Psicopedagogia teria ainda um longo caminho a

percorrer

até

al-nçar

o estatuto de saber cientrtico. Segundo a autora, para que ISSOse torne possívet

ta

Psicopedagogia precisa ir além da mera constatação de fatos .que se rupam-sem grandes critérios crrticos e abandon~r o

nfvel

de repr~sentaçoes

es-quemáticas e sumárias formadas apenas pela prática e para a prática.

É

necessá-rio e imprescindrvel que os dados coletados sejam efetivamente referendado~ a um

ontexto teórico tal, que permita a interpretação desses dados brutos e onente a

Investigação" (Neves, 1991, p.13). . Se nos reportarmos

à

noção de corte epistemológico (Bachelard~ 1967;

Japías-u, 1983L que tem se

constituído

num dos critéri?s .d~ fundame~tal ímportância na determinação do estatuto de "ciência" de uma disciplina, concluiremos, como Ne-ves (1991), que a Psicopedagogia encontra-se ainda, ~m fas~ d~ um "saber

pré-clentrtico", visto que "uma teoria puramente

emplrica

nao é ciência, é apenas

ob-ervação fenomênica". (Barros, 1969, citado em ~eves, 1?91, p. 13)., . . A concepção mais difundida da Psicopedagogla tem sido, sem dúvida, sua ati-vidade prática, principalmente aquela de caráter clrnico-ter~~êutico, que refere-~e a técnicas de intervenção voltadas para os problemas ou dificuldades de aprendiza-gem. "Como um psicólogo poderia entender a psicope.dagogia? ( ••• ) A me~ ver se-ria uma prática. Uma prática que resulta da aphcaçao de

vários

conhecimentos, idéias ou noções. Não se constituiria em uma disciplina, mas seria uma resultante de várias disciplinas. (••• )

É

na ação, na atividade que ela acontece.

É

na prática

que ela existe" (Yazigi, 1986, p. 12). .' . A interdisciplinaridade, nessa acepção, aparece, portanto, hgada

à

prática PSI-copedagógica. Para que o psicopedagogo possa melhor aprender o processo de aprendizagem, a singularidade das relações interpessoais qu.e nele s.e estabel,:-cem, suas possibilidades e vicissitudes, e desenvolver técnicas de Intervença? que resgatem os aspectos essenciais, propulsores e mantenedores, do aprendi-zado humano, é fundamental que ele recorra ao arcabouço teórico de várias áreas do conhecimento cientftico (psicologia, psicolingürstica, neurologia, etc.) .

No sentido estrito dessa concepção, a Psicopedagogia, identificada

à

prática,

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não pos.sui corpo t~órico ~róp.rio•. Suas diferentes modalidades de intervenção (preventiva, terapêutica ou lnstlíucíonal) espelham inspirações teóricas diversas ~endo ?a~ mais difundidas, no Brasil, as cognitivistas, sobretudo o construtivism~ interacionista de Jean Piaget.

É

preciso ressaltar, ainda, e atribuir a devida importância ao desenvolvimento de estud~s ~ investigações que vêm se realizando no interior da Psicopedagogia, com o obietivo de se elaborar modelos teóricos que considerem a realidade interna e externa do sujeito em aprendizagem, a partir de uma visão integradora e dinâmi-ca da constr:ução do co~hecimento e de suas dificuldades. Neste sentido, pode-se pensar a Psicopedaqoqla enquanto um campo relativamente novo de investigação d? qual pode resultar construções teóricas interessantes, tais como a EPistemol; gla C~nver~ente de Jorge Visca (1987,1991), cujos fundamentos teóricos advêm da PSicanálise. e da Epistemologia Genética, e que é bastante conhecida no Brasil. Lembramos, ainda, as abordagens teóríco-cfnlcas de Sara Paín (1985 1991 a 1991 b) e d~ Alícla Fernandez (1991), que começam a se difundir ampla~ente en~ tre os estudiosos e profissionais da área.

E~bora não seja possfvel afirmar que os modelos teóricos acima mencionados constituam ~m corpo de conhecimentos especfficos da Psicopedagogia, acredita-mo~ que ~U1tO_têm colabor~do ~a supe.ração da empiria dominante. A teorização e a slstem~tlzaçao das

experiências

práticas é um dos desafios com o qual a Psico-pedagogia se confronta. Recorrer

à

interdisciplinaridade parece ser uma estratégia adequ~da de resposta, pois através dela pode-se chegar, futuramente, ao que po-derá VIr a ser uma nova ciência.

Vimos, .as~~m, ~ue a interdisciplinaridade permeia a Psicopedagogia em todas a~ suas slgnJflcaçoe~. Tendo se originado das práticas de profissionais das mais diversas ár~as, a. Psicopedaqoçla vem evoluindo, de forma bastante promissora, procurando Investigar ~s fenômenos ligados

à

aprendizagem humana e, para tanto, v~m te~tando ~onstrUJr modelos t~óricos que buscam superar as interpretações dlcotô~lcas eXlst~n.tes entre

coqnição

e afetividade, intelecto e corpo, ensino e aprendizagem, . sujeito e sociedade, para citar apenas alguns dos "pares" comu-mente reterencíados na problemática da aprendizagem.

Analisando os discursos da Psicologia, da Psicanálise e da Educação, Almeida

(no prelo) reconhece os diferentes construtos teórico-metodológicos que dão su-

LKJIHGFEDCBA

p ? rte

à

Psicoloçia e a Psicanál.ise, mas aponta para a possibilidade de convergên-cia dos conhe~lmento~ produzidos por essas disciplinas na educação,

concebida

enquanto práxis, A Psícopedaqoqia pode ser citada como um dos exemplos que tem assegurado, pelo menos ao nível da prática educativa, que a interdisciplinari-d~de se ~oloque como uma das formas possíveis e necessárias de confluência e

ínteqração

dos saberes produzidos por ciências diversas, na Pedagogia.

Dada a complexidade da aprendizagem humana, estamos convencidos de que um saber especffico, por si só, não é capaz de apreendê-Ia na sua totalidade Em-bora ~ão se. tenha. ainda muita clareza sobre algumas das questões que dizem resp~lto

à

dl~en~ao con~ei!ual de Psicopedagogia, acreditamos que a mesma ca~ln~a .na ~Ireçao de ?ellml.tar cada vez mais seu objeto de trabalho e que a in-teroisciplinaridade tem Sido o Instrumento privilegiado na elaboração de hipóteses e

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111 trutos teóricos que visam explicar os fenômenos e fatos observados nas

ex-II nelas do cotidiano.

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Referências

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