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Os conflitos da urbanização e a sustentabilidade da Bacia do Paranoá

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMADE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

OS CONFLITOS DA URBANIZAÇÃO E A

SUSTENTABILIDADE DA BACIA DO PARANOÁ

Luciana Gleyb Cardoso Menon

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LUCIANA GLEYB CARDOSO MENON

OS CONFLITOS DA URBANIZAÇÃO E A

SUSTENTABILIDADE DA BACIA DO PARANOÁ

Orientador: Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro

Brasília

2006

Dissertação submetida ao Programa de Pós

- Graduação Stricto Sensu em

Planejamento e

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7,5cm

Ficha elaborada pela Divisão de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. M547c Menon, Luciana Gleyb Cardoso.

Os conflitos da urbanização e a sustentabilidade da Bacia do Paranoá / Luciana Gleyb Cardoso Menon ; orientador Paulo Jorge Rosa Carneiro – 2006.

142 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2006.

1.Desenvolvimento sustentável. 2. Urbanização – conflitos. I. Carneiro, Paulo Jorge Rosa, orient. II. Título.

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“ O País que planejou e financiou a insustentabilidade vai aprender agora a financiar a sustentabilidade. Somos aprendizes do planejamento em ambiente democrático.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, pela paciência e dedicação na realização deste trabalho, ao Profº Paulo Carneiro, que com: atenção, empenho, estímulo, discernimento e respeito às reflexões e opiniões me auxiliou. Ele foi um guia, um amigo, um incentivador e um mestre que sempre atento e sincero me apoiou em todos os momentos.

Ao prof. Rômulo do Laboratório de Caracterização de Solo me auxiliou na organização das cartas geográficas e imagens meu sinceros agradecimentos.

Ao prof. Luiz Fernando Bessa os meus sinceros agradecimentos pela sua colaboração na análise da dissertação e pelos comentários enriquecedores o meu muito obrigado.

Aos amigos e colegas de curso, pelas dicas e sugestões, que serviram de alicerce para concluir este trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo reconhecer e caracterizar os conflitos urbanos existentes na Bacia do Paranoá e correlacioná-los aos vetores de crescimento demográfico, avaliando as conseqüências da ocupação desordenada do solo em áreas sensíveis como as que ocorrem neste cenário. Nesse sentido, fez-se uma apresentação histórica, econômica e geográfica da área de estudo e conceitua-se o que vem a ser configurado como “conflitos urbanos”. Realizou-se também um estudo sobre a sustentabilidade urbana da Capital Federal, tendo-se no horizonte os conceitos internacionalmente reconhecidos e as especificidades locais. Buscou-se realizar uma espacialização das áreas em conflito, aqui também referidas como “áreas emblemáticas”, cuja ocorrência se estabelece em três setores: O setor da Vila Planalto; o setor do Varjão (englobando os Núcleos Rurais Remanescentes do Jerivá, do Urubu e do Taquari e mais o QPILS, chamada de “Quadra de Parcelamentos Individuais no Lago Sul” – área não prevista no planejamento original e situada próximo à Ermida Dom Bosco; e por fim a Vila da Estrutural e toda a bacia do Vicente Pires, que engloba as chácaras e condomínios do Areal, da Arniqueira e Riacho Fundo I e II. Foram analisados e discutidos os processos de ocupação no solo do Distrito Federal, mudanças de destinação destas áreas, os loteamentos irregulares e a formação de “condomínios” e a participação do poder público; descreveu-se e comparou-se os dados dessa ocupação desordenada e concluiu-se sobre a urgência e a necessidade de adoção de políticas públicas que implementem e regulamentem os serviços básicos a fim de garantir a sustentabilidade dos serviços ambientais ameaçados de desaparecer.

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ABSTRACT

The present work had the aim to detect the urban conflicts in the Basin of Paranoá and the vectors of demographic growth by the evaluation of anthropic actions provoked by the disordered occupation of the ground in sensible areas. In this way, there had been done a historical, economic and geographic presentation of the area in study and “urban conflicts” have been appraised. There have been also realized a study about urban sustainability, concepts and specific peculiarities. There had been searched to make a localization of the areas in conflict known as “emblematic areas” which are divided in three: 1st Planalto Village, 2nd Varjão (including Agricultural Nucleus of Gerivá, Agricultural Nucleus of Urubu, the Taquari and SQIL (Squares of Individual Parceling in Lago Sul – area not foreseen in the original planning and situated close to the edge of Paranoá Lake); 3rd Estrutural – incorporating Vicente Pires, Areal, Arniqueira and Riacho Fundo I and II. The processes of occupation in the ground of the Federal District had been boarded, changes of destination of these areas, the irregular land divisions and the formation of the known "condominiums" without the action of the local government; there have been described and compared the data of this disordered occupation and concluded about the urgency and the necessity of public politics that implement and regulate the basic services in order to guarantee the sustainability of the environmental services threatened in threatening ways.

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SUMÁRIO

RESUMO...x

ABSTRACT ...xi

LISTA DE FIGURAS...xii

LISTA DE QUADROS ...xiv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...xv

1.INTRODUÇÃO ... 16

1.1.Objetivo Geral ... 18

1.2.Objetivos Específicos...19

1.3.Organização do trabalho...19

2.CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES...21

2.1. A dinâmica da Ocupação dos Ambientes ...21

2.2. O Crescimento Desordenado dos Núcleos Urbanos no DF ...26

2.3. A Transfiguração na Paisagem do Cerrado ... 28

3.JUSTIFICATIVA ... 30

3.1. Diante do Desenvolvimento Sustentável e da Sustentabilidade ... 35

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...40

4.1. O Planejamento da Nova Capital e sua Sustentabilidade... 40

4.2. A determinação do Local para a construção da Nova Capital...49

4.3.Documentos de Referência do Planejamento do Uso do Solo no Distrito Federal ...51

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5. DESENVOLVIMENTO E PROCEDIMENTOS ...64

5.1.Metodologia e Procedimentos ...64

5.2. Caracterização da Área de Estudo...65

5.3. Os conflitos Urbanos da Bacia do Paranoá ... 72

6. DISCUSSÕES FINAIS ...90

7. Conclusões e Recomendações ...96

8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...102

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LISTA DE FIGURAS

Figura1- Imagem de Satélite da Bacia do Paranoá ...pg.68

Figura 2 – Imagem das Áreas Emblemáticas da bacia...pg.69

Figura 3 – Imagem das Áreas Rurais Remanescentes na Bacia ...pg.71

Figura 4 -Vista do Aterro Sanitário – Lixão da Estrutural...pg.73

Figura 5 – Lagoa de chorrume na divisa das Chácaras do Córrego Vicente Pires...pg.75

Figura 6 – Imagem da área urbana da Invasão da Estrutural ...pg.75

Figura 7 – Imagem da área ocupada pela Colônia Agrícola Vicente Pires ...pg.77

Figura 8 – Imagem da área ocupada pelo Varjão ...pg.78 Figura 9 –Vista Panorâmica do Varjão na região da bacia do Paranoá ...pg.80

Figura 10- Vista próximo ao Lago Oeste com placas indicativa de novas ruas irregulares...pg.80

Figura 11–Imagem da área urbana do Núcleo Rural do Gerivá e Urubu ...pg.81

Figura 12 Retirada da mata ciliar próximo ao córrego Gerivá ... ...pg.82

Figura 13 – Desvio do córrego Gerivá para ampliação da Rodovia 001 ...pg.82

Figura 14 – Imagem da área ocupada pela QPILS ...pg.83

Figura 15 – Vista da QPILS e o início de novos parcelamentos ...pg.84

Figura 16 - Imagem da área ocupada pelo Riacho Fundo I e II, Areal e Arniqueira...pg. 85

Figura 17 – Imagem da área ocupada pela Vila Planalto...pg. 86

Figura 18– Trecho urbano próximo ao Núcleo Rural do Urubu ...pg.132 Figura 19 –Degradação do córrego Urubu ...pg.132

Figura 20-Vista das construções irregulares em áreas sensíveis próximo ao Lago Oeste ...pg.133

Figura 21 Ampliação da Rodovia 001 na região do Núcleo Rural do Gerivá ...pg.133

Figura 22–Trecho em duplicação da Rodovia 001 ...pg.134

Figura 23–Desvio do córrego Gerivá para duplicação da Rodovia 001 ...pg.115

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Figura 25 -Famílias residem próximo ao córrego do Bananal ...pg.135 Figura 26–QPILS – Quadra de Parcelamentos Individuais no Lago Sul ...pg.136

Figura 27–Área de Remanescente de Cerrado (rebrota) na região do Gerivá ...pg.137

Figura 28 Vista panorâmica da área do Varjão ...pg.137

Figura 29- Invasões irregulares na orla do lago Paranoá ...pg138

Figura 30–Vereda próxima ao córrego Bananal ...pg.138

Figura 31 –Vista das construções de andar no Lago Norte ...pg.139

Figura 32 – Vista panorâmica de condomínios irregulares ...pg.140

Figura 33 –Faixas indicativas de parcelamentos próximo ao Lago Oeste ...pg.140

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1.1 – Áreas Protegidas da bacia do Paranoá ...pg.33

Quadro 1.2 – Comparativo do crescimento populacional no Distrito Federal ...pg.34

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS:

DEMA: Delegacia do Meio Ambiente no Distrito Federal PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

FAU: Federação Ambientalista da Área Rural Remanescente do Córrego Urubu PNB: Parque Nacional de Brasília

GDF: Governo do Distrito Federal

PEOT: Plano Estrutural de Organização Territorial do Distrito Federal PDOT: Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal POUSO: Plano de Ocupação e Uso do Solo do Distrito Federal CEI: Centro de Erradicação de Invasões

PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente SHIS: Sociedade de Habitação e Interesse Social

GEPAFI: Grupo Executivo de Favelas e Invasões PDL: Plano Diretor Local do Distrito Federal NEUR: Núcleo de Estudos Urbanos

IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis DF – Distrito Federal

APA: Área de Preservação Ambiental

CODEPLAN: Companhia de Desenvolvimento e Planejamento TERRACAP: Companhia Imobiliária da Nova Capital

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GEAP: Grupo Executivo para Assentamento na Vila Planalto ONU: Organização das Nações Unidas

EPCT: Estrada Parque e Contorno de Taguatinga

ZEE/DF: Zoneamento Econômico Ecológico do Distrito Federal

SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos do Distrito Federal KM – Quilômetro

UCPI – Unidades de Conservação de Proteção Integral

CAUMA – Conselho de Arquitetura, Urbanismo e Meio Ambiente BID - Banco Internacional de Desenvolvimento

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1. INTRODUÇÃO

Dentro da visão integrada do Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental, tem-se como eixo norteador as peculiaridades relativas ao solo, a flora, a fauna, aos recursos hídricos e às interfaces com o contexto urbano, tendo em conta o rápido adensamento populacional que a região do Distrito Federal apresenta.

O presente estudo destaca uma questão peculiar da cidade de Brasília: a premissa de ser uma capital planejada e conter em suas bases a redemocratização (objeto político) dos espaços urbanos que de certa forma são muito segregados e acabam por provocar o processo de exclusão. Porém, dentro de um cenário planejado e preservado permanecem os bolsões de pobreza e um elevado índice de desigualdades sociais, que refletem as carências e o abandono das áreas circunvizinhas ao Plano Piloto, numa escala local. Em escala regional, tem-se os problemas do entorno do DF, onde o espaço metropolitano interage dentro de sucessivas fases de urbanização regidas por políticas urbanas desconectadas.

Observam-se as tendências da expansão e do crescimento urbano de Brasília sobre as áreas de interesse ambiental, promovendo conflitos e contradições com a legislação ambiental pertinente. Questiona-se a função do Estado empreendedor que deve procurar gerenciar e administrar a expansão populacional de forma a se antecipar, organizar e fiscalizar ativamente os conflitos sociais, ambientais, culturais e econômicos já existentes e evitando o estabelecimento de novos conflitos.

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latim, conflictus, oposição de interesses, idéias; Conceitua-se também o termo sustentabilidade, a partir do que também referencia o Dicionário Aurélio (HOLANDA, 1975), que é a qualidade do que é sustentável, serve de escora, impede que caia, suporta; apoiar.

No sentido mais amplo, enfocado no presente estudo o termo conflito se aplica a situação do ambiente que vive uma desarmonia entre o que preconiza a aplicação da lei e o processo de ocupação sem controle que se dá a partir da proliferação das invasões e dos sub-parcelamentos do solo, em áreas de extrema sensibilidade, por conseqüência do jogo de interesses econômicos de grupos fortemente articulados que ali atuam. Dentro do que vale ser destacado neste assunto, tem-se também, segundo FRANCO (2001), que a sustentabilidade está associada ao conceito de qualidade de vida, que se define pelo grau de prazer, satisfação e realizações alcançadas por um indivíduo ou uma sociedade, durante o seu processo de existência na terra. Porém, cabe ressaltar que para isso ocorrer existe uma hierarquia de necessidades que precisa ser respeitada.

O crescimento populacional acelerado amplia as pressões sobre os recursos ambientais, levando o homem a rever sua forma de interação com o meio em que vive, tendo em conta que o comportamento meramente exploratório está em choque com a disponibilidade dos recursos do planeta. No entanto, se propõe como hipótese investigativa se é possível ainda traçar planos estratégicos que possam abrigar a ocupação urbana dentro das áreas protegidas, “sensíveis”, como no caso em questão dando solução aos conflitos resultantes do crescimento desordenado, mesmo nas áreas que já comprometem a sustentabilidade dos seus serviços ambientais.

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longo prazo, com políticas racionais, que harmonizem o crescimento com custos aceitos e devidamente compartilhados pela sociedade.

O futuro da nossa sociedade, logicamente dependerá da forma como os planejadores, gestores e governos irão tratar os problemas urbanos e de que forma serão tratados os impactos provocados pelo crescimento populacional. Segundo estudos da ONU (1996), é previsto um aumento da concentração humana em cidades de cerca de 55% em 1994, para 61% em 2025, desafio que aquece os debates sobre a questão da sustentabilidade urbana.

1.2. Objetivo Geral:

O objetivo geral do presente trabalho é o de caracterizar os principais conflitos urbanos decorrentes do crescimento desordenado que se estabelece na bacia do Paranoá a partir das crescentes invasões de terras públicas e sub-parcelamentos, ‘vis a vis’ as políticas públicas de planejamento e ordenamento territorial, avaliando a importância dada aos serviços ambientais existentes na bacia.

1.1Objetivos Específicos:

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• Analisar as crises e as contradições na ocupação da bacia do Paranoá, relacionando as tendências de expansão populacional, questionando a atuação do Estado, como agente fiscalizador e gestor de conflitos sociais, políticos, ambientais e econômicos, levando em conta os principais elementos que compõe a paisagem do cenário natural e estabelecendo um paralelo entre essas áreas e a degradação do meio, em função da fixação dos condomínios irregulares;

• Coletar dados sobre a questão fundiária na bacia do Paranoá especificando o uso do solo, confrontando com a destinação legal e a tipificação das construções próximas às áreas de Preservação Permanente – APP, mapeando as situações conflitantes e o os impactos decorrentes.

1.3.Organização do Trabalho

A presente Dissertação está organizada em sete capítulos: O Capítulo 1 contém a Introdução, e trata dos objetivos e da organização do trabalho, fazendo uma abordagem inicial do objeto da pesquisa: os conflitos urbanos e a sustentabilidade dos serviços ambientais na bacia do Paranoá.

O Capítulo 2 contém as Considerações Preliminares do trabalho onde se tem a descrição detalhada dos ambientes urbanos em discussão considerando a ocupação dos espaços naturais, fazendo referências aos cenários local, regional e nacional.

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implicações das constantes invasões e parcelamentos irregulares no ambiente e na sociedade do Distrito Federal.

No Capítulo 4 se tem a revisão bibliográfica, feita com foco no planejamento da Nova Capital, na escolha do local para sua construção, no processo de urbanização de Brasília e seu entorno, dentro de uma perspectiva histórica, contemplando visões atuais e futuras e a transfiguração do Cerrado com o processo de conurbação em curso.

O Capítulo 5 contém os Procedimentos Metodológicos e o Desenvolvimento do trabalho, referenciando geograficamente a área de estudo e os métodos utilizados para alcançar os objetivos propostos no trabalho.

No Capítulo 6 se tem as Discussões Finais e no Capítulo 7 as Conclusões e Recomendações que se fazem para estudos futuros, dando-se ênfase aos conflitos representados pelas áreas emblemáticas da bacia.

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2. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

2.1. A dinâmica da Ocupação dos Ambientes

O ambiente construído e natural das cidades, para Penna (2003), constitui um espaço que possui uma ocupação política intencional, conduzida tanto pelo Estado como pela própria sociedade. Conforme o mesmo autor, o que faz com que o espaço seja produtivo, valorizado, é o seu uso, sendo que os espaços ditos “vazios” possuem intencionalidade de uso subordinado aos interesses de valor. Dentro deste cenário se tem o Plano Piloto de Brasília como um ambiente destacado pela sua arquitetura, pela qualidade de vida diferenciada, que proporciona aos seus habitantes o uso de tecnologias inovadoras na sua constituição e pelos desenhos urbanos distintos, onde o cerrado e a paisagem urbana ainda convivem.

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estabelecer um plano de recuperação das áreas degradadas pela ocupação desordenadas nas áreas sensíveis.

No contexto da organização do uso do solo no território do DF, as APAs e as zonas rurais constituem uma forma de cinturão verde, reconhecido por Penna (2002) como “anel sanitário”,1 circundando toda a região onde se estabelece o Plano Piloto, tendo parte de suas terras desapropriadas em favor do Estado. Este fato impediria a expansão horizontal contínua da cidade ao mesmo tempo em que, proporcionaria o processo de polinucleamento urbano e adensamento populacional nas cidades-satélites e suas respectivas regiões periféricas.

Desta forma, os “vazios urbanos”, constituiriam uma grande extensão de terras sem desapropriação, pertencendo a particulares e ao Estado, sobre as quais não se admitiria o seu parcelamento.

A Lei Federal nº 2.874, de 19/9/1956 proíbe o loteamento em terras particulares no Distrito Federal. Assim os espaços vazios de baixa densidade demográfica estariam destinados ao uso rural e à proteção ambiental, numa proporção de cerca de 50% do território do DF. No entanto, estas se configuram como áreas vulneráveis, suscetíveis aos processos não controlados de ocupação e de fragmentação pelo mercado imobiliário.

O poder Público ignora as constantes ocupações irregulares na bacia justificando que esses “vazios urbanos” fazem parte do contexto de crescimento populacional concorrendo com isso para a expansão dos loteamentos irregulares.

1 Refere-se à área que circunda o Plano Piloto, instituída por dois instrumentos complementares de

planejamento do território: Código Sanitário do DF (Lei nº5.027, de 14/6/1966), que restringe a instalação de núcleos habitacionais de qualquer espécie em zonas a montante do Lago; Plano Diretor de Água, Esgoto e Controle da Poluição, que define a capacidade de abastecimento e esgotamento sanitário para o

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O processo duplo de fragmentação do espaço – público e privado – representa assim um conflito dos interesses econômicos e ambientais, pois o objetivo visa manter o projeto original do Plano Piloto, que incorpora a idéia de uma cidade sem periferia e de controle do território. Sendo este, porém, um processo meramente burocrático de planejamento.

Desta forma, percebe-se que as rupturas do espaço homogêneo foram surgindo nos locais onde se instalaram as condições para a fragmentação privada do espaço urbano, dando lugar ao surgimento e ao desenvolvimento do mercado de terras mediante grilagem, ocupação e parcelamento ilegais, seja em terra pública, seja em terra particular, de forma descontrolada.

Desvincula-se assim o eixo de crescimento proposto em 1977 no PEOT (Plano Estrutural de Organização Territorial), legitimado em 1997 pelo PDOT (Plano Diretor de Ordenamento Territorial), reconhecendo-se a conurbação2 entre núcleos periféricos, no eixo sudoeste, que passa a ser definido como zona de dinamização. O PDOT reconhece a ineficiência do PEOT ao legitimar outros eventos não planejados de adensamento do tecido urbano, como o eixo nordeste, por conta dos loteamentos irregulares implementados nas áreas urbanas de Sobradinho e Planaltina. O mesmo se estabelece nas regiões definidas como zona urbana de uso controlado, que envolvem o Plano Piloto, na direção nordeste-sudeste que se caracteriza pelo surgimento de loteamentos irregulares de classe média.

As tendências do crescimento e adensamento populacional para Cidade (1999), apontam para um ambiente que se expande de forma cada vez mais desigual, caótico e depredador, desafiando tentativas de se estabelecer uma ordem planejada, numa perspectiva

2 Ela está acompanhada de um processo de periferização não-homogêneo e que, de acordo com a distância em

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preocupante. Peluso (2002) afirma que a territorialidade latente e a formação cultural brasileira são fatores que se antagonizam com as iniciativas que restringem a ocupação dos espaços, fator evidenciado no planejamento de Brasília, que se deve à idéia de uma cidade planejada, e que vai aos poucos se unindo ao universo da tecnosfera e da psicosfera para promover o caos. Neste contexto a terra deixa de constituir bem comum a par do bem privado, e toda a terra passa a ser um bem cuja apropriação constitui a diferença social.

A problemática do uso do ambiente urbano deveria ser pensada de maneira ampla e global, onde o objetivo da materialidade do território e o subjetivo das relações sociais constituíssem uma totalidade, que protagonizasse um intercâmbio entre as questões técnicas, econômicas e jurídicas para as práticas de gestão integrada. No Distrito Federal, o arcabouço de proteção ao meio ambiente, tem se mostrado ineficiente e insuficiente devido à intervenção predatória dos mais diferentes atores sociais (ONGs, Empreiteiras, Associação de Catadores de lixo, movimento ambientalista, movimento pró-moradia – invasões populares e os condomínios de classe média) que usam estratégias de fundo meramente lucrativo.

Dentro desta perspectiva cita-se Santilli (2005) o conceito de desenvolvimento sustentável é: ‘um novo paradigma utilizado para propostas que visam ao uso racional dos recursos naturais sem comprometer a capacidade das gerações futuras, porém atendem às suas necessidades

sendo que este ainda se encontra em construção’.

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carga dos ecossistemas sustentadores. Sendo estes essenciais e indispensáveis dentro do cenário da bacia.

A definição do cinturão de proteção da bacia do lago Paranoá, por exemplo, está configurada pela DF – 001, ou Estrada Parque Contorno (EPCT) que Fonseca (2002), aponta como uma muralha invisível de separação da “cidadela” do Plano Piloto, a cidade capital, das demais cidades do seu entorno. Entretanto, esta não foi respeitada em nenhum momento da história da construção e consolidação da Nova Capital.

Cabe de antemão reconhecer, que no momento atual e nos próximos períodos, a bacia do Paranoá, área do presente estudo, oferece todas as condições para o agravamento da ocupação pela via do agente privado. Os parcelamentos tendem a se consolidar, previsão que reforça a necessidade do monitoramento e da implantação de uma política de fiscalização emergencial e permanente, ao lado da intensificação do processo de regularização.

Entretanto o simples reconhecimento da irreversibilidade das ocupações ilegais pode promover a continuidade do processo de parcelamento irregular e ainda servir de pretexto para consolidar aquilo que não é “politicamente conveniente” remanejar ou descontinuar.

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No conjunto, estas questões acabam por estimular o crescimento das cidades que por sua vez refletem o processo de formação da estrutura social urbana, onde os espaços vão sendo construídos de forma desordenada e sem planejamento.

O Governo local se confunde nos papéis de coordenador, controlador e também de promotor fundiário. A gestão sobre áreas urbanas se estende para as áreas rurais com a oferta de lotes por concessão e estímulos velados às invasões, alterando as proposições oficiais de uso do solo. Assim mudanças profundas ocorrem na paisagem do Distrito Federal que propicia o estabelecimento de novos aglomerados urbanos e a revitalização de núcleos antigos.

De certa forma o planejamento utópico de Brasília ofuscou a necessidade de um plano alternativo de acomodação das famílias atraídas pelas perspectivas de desenvolvimento e de melhor qualidade de vida. Como conseqüência a gestão do território perde seu poder de antecipação e passa a atuar na adaptação dos espaços e dos processos espontâneos da especulação política ou imobiliária.

2.2. O Crescimento Desordenado dos Núcleos Urbanos no DF

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Segundo dados do IPEA o aglomerado urbano de Brasília possui uma certa peculiaridade que o distingue dos demais, por ter sido constituído, na sua origem num espaço praticamente virgem, onde o Estado tinha nas mãos grande parte da propriedade da terra, o que, em tese, permitiria construir um território ordenado. Porém o que se observa é que deveriam elaborar estratégias que viessem corrigir problemas já detectados em vários aglomerados urbanos, onde o peso da história e a quase ausência de planejamento foram uma constante.

A questão das reivindicações por moradia, em Brasília, ocorre desde sua inauguração e o governo, cada vez mais, vai retardando a sua resolução deixando ocorrer com isso às ações dos grileiros e a especulação imobiliária ocupar um espaço que por o Governo local tem a obrigação de zelar e administrar dentro da legislação. Este ponto corrobora o fato de que a cidade teve um planejamento, até certo ponto utópico, pois atraiu um grande número de pessoas das mais variadas classes, oriundas dos diversos pontos do País e depois não teve um planejamento alternativo para aproveitá-las. Estas saíram de seus estados com grandes sonhos e a busca pela melhor qualidade de vida e a intenção era de se fixar na Nova Capital e posteriormente trazer suas famílias.

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2.3. A Transfiguração da Paisagem do Cerrado

Este bioma vem sofrendo intensas modificações em seu cenário natural. Isso data principalmente da segunda metade do século XX, que são oriundas das novas técnicas para aumentar a produção de grãos e também pela expansão das cidades brasileiras. Até o início do século XX, ainda não se percebe os grandes efeitos da mecanização e da adição de corretivos e adubos para a melhoria da produção agrícola, no cerrado que era então relegado a um plano secundário pelos grandes produtores.

A paisagem percebida não é considerada a mais bela por apresentar troncos tortos e sinuosos, folhas ásperas e quase seca, no período da estação de estiagem. Todos estes aspectos da vegetação atrasaram até certo ponto a sua destruição. Porém, este fator foi aos poucos desaparecendo e o que se tem detecta hoje é um grande interesse pelas áreas onde há a existência do cerrado.

A diversidade encontrada neste bioma está associada à declividade do relevo, à profundidade e à permeabilidade do solo e ainda à presença ou não da água. A manutenção da paisagem natural é um fator que contribui muito para a infiltração da água no solo.

Desde o Relatório Belcher (Codeplan, 1995), já havia uma preocupação com os recursos hídricos da futura Capital Federal, pois este comparava a região a uma esponja que “absorvendo a água da chuva quase em sua totalidade iria armazená-la no subsolo e posteriormente descarregá-las em forma de corpos d’ água”. Sendo assim, recomendava uma atenção especial e o controle da erosão, caso ocorresse o crescimento elevado da malha urbana.

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3.JUSTIFICATIVA

O crescimento constante e muitas vezes desordenado das populações, impulsionadas pelo desenvolvimento econômico acelerado, constitui fator de desequilíbrio para o meio ambiente e exige adoção de políticas eficazes de planejamento físico e de ordenamento do território. As conseqüências e os custos que esta questão envolve são cada vez mais evidentes, assim como as dificuldades para recuperação dos ambientes urbanos degradados. Acrescenta-se a estes aspectos uma maior preocupação de ordem atual, mesmo que por certo modismo (discussão de uma maioria social), com a qualidade de vida do meio em que vivemos, o que vem a fortalecer o papel do planejador sobre o ordenamento territorial e a gestão dos investimentos em infra-estruturas.

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Vicente Pires, que engloba as chácaras e condomínios do Areal, da Arniqueira e Riacho Fundo I e II. Sabe-se também, que além da questão da moradia existe uma demanda social bastante relevante no âmbito do controle dos recursos naturais, com ênfase para a preservação dos solos e das áreas de recarga de aqüíferos, que hoje se encontram ameaçadas e sob condição de conflito tendo como atores sociais: as Empreiteiras/Construtores, as ONGs, Associações de Catadores de Lixo, os movimentos ambientalistas, os defensores da manutenção da ‘cidade planejada’ e o movimento pró-moradia que se subdivide em: invasões populares e os ditos ‘condomínios’ da classe média segundo relatório do Projeto Marca d’água (Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas – Universidade de Brasília).

Paviani (1993), cita que a territorialidade do Distrito Federal é construída a partir de uma associação entre as características intrínsecas ao seu espaço fisiográfico e aquelas outras características adquiridas depois, por conta de abrigar Brasília, a Capital Federal.

As características intrínsecas, relativas ao meio, se sobressaem em decorrência da localização de Brasília na região “cuore” do Planalto Central, que por seu turno dispõe de situações típicas e únicas do ecossistema Cerrado, como por exemplo, as Chapadas ou a região das Águas Emendadas que, em geral, sofrem intensas alterações por conseqüência direta do desenvolvimento urbano.

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E nesta ótica o Relatório Belcher (Codeplan,1995) ainda comenta o fato da Capital estar num “sítio convexo (sítio Castanho), aberto às influências dos ventos predominantes, numa forma topográfica ideal para promover a drenagem do ar e da água que percolaria a cidade: o ar se movimenta do Planalto, alto e seco e drena para dentro do vale florestado do rio São Bartolomeu. Este vale possui tamanho suficiente e está a uma distância suficiente para não constituir uma desvantagem. A área é bem drenada, condição esta que reduzirá a umidade a um mínimo”.

Lucio Costa (1974) tira partido desta informação ao fazer uma leitura para acomodar seu projeto e diz que a escolha sobre o “Sítio Castanho” foi acertada, pois se estabeleceu um vínculo entre o espaço contido entre os braços formadores da bacia do Paranoá e a localização da Capital.

Lucio Costa (1974) ainda discorre sobre a questão da preservação das condições do “Sítio da Capital” fazendo um alerta para o eventual desastre que a expansão urbana ao longo das vias de conexão com as cidades-satélites traria, para o ambiente como um todo, propondo a criação dos anéis rodoviários ao redor do núcleo piloto, para impedir a expansão da urbanização sobre Brasília. Estes anéis encerram a bacia do Paranoá.

A Bacia do Paranoá, por sua vez é a única bacia hidrográfica integralmente localizada em território do Distrito Federal. Com cerca de 103.407,00 ha tem todas as suas nascentes situadas no Quadrilátero, o que possibilitaria um total controle sobre as condições dos mananciais que abastecem o Sistema Torto/Santa Maria e o próprio Lago Paranoá. Entretanto o poder público vem, sistematicamente, negligenciando este fato.

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conjunto de unidades de conservação e de proteção integral, onde só é permitido o uso indireto (Quadro 1.1).

Quadro 1.1: As áreas protegidas da bacia do Paranoá

Áreas Protegidas na Bacia do Lago Paranoá: Área (há): %

UC de Proteção Integral 28.669,49 27,72

UC de Uso Sustentável 37.169,04 35,94

Parques 1.778,05 1,72

Áreas de Proteção de Mananciais 2.131,44 2,06

Demais áreas 33.658,98 32,56

Total: 103.407,00 100,00

Fonte: Fonseca - org., 2001.

Entretanto, estas áreas encontram-se ameaçadas pela proximidade com os núcleos urbanos ao redor e pelo rompimento de parte dos antigos corredores ecológicos. Na realidade tornaram-se “ilhas” cercadas por áreas de intensa urbanização, em constante conflito.

O cenário que a bacia do Paranoá representa hoje, quando comparado ao que representava há 30 anos se percebe uma forma difusa e desconexa entre a influência exercida sobre os diversos atores sociais já citados anteriormente, que de certa forma defendem interesses que não se conjugam e que confundem com a atuação do poder público, no que diz respeito a integrar e coordenar o processo de urbanização.

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impactos sobre a cidade levando em conta o contexto geográfico e as formas que ela própria assume

diante da produção e do consumo’. Diante disso o Quadro 2 mostra as densidades populacionais do Distrito Federal em: 1960, 1970, 1990, 2000 e nos dias atuais:

Quadro 1.2 –Densidade Populacional/ Crescimento no Distrito Federal

Ano: População:

1960 141,762 mil hab.

1970 537,5 mil hab.

1990 1.821,946 milhões hab.

2000 2.051,146 milhões hab.

2004 2.350,680 milhões hab.

Adaptado do Modelo de Gestão Estrutural do Território do DF, 2004. SEDUH.

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Ao se analisar o que representam as áreas “emblemáticas”, neste contexto, fica óbvio a conclusão de que neste processo foi adotada uma concepção de crescimento alicerçada na prioridade aos interesses particulares, que por sua vez se aproveita da inabilidade do poder público.

3.1.Diante do Desenvolvimento Sustentável e da Sustentabilidade

Para ressaltar os conflitos existentes na área de estudo cabe neste contexto fazer uma retrospectiva histórica do termo desenvolvimento sustentável. Este merece destaque no âmbito da pesquisa, pois está associado a sustentabilidade da bacia. Sendo que aparece pela primeira vez no documento “A estratégia mundial para a conservação” (PNUMA, Nova York, 1980), patrocinado e elaborado sob a supervisão Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Na Conferência de Estocolmo este termo foi amplamente difundido, onde a delegação estadunidense considerava o conceito de ecodesenvolvimento extremamente radical. Entretanto, os termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ganharam força a partir de 1982, com o “Relatório Brundtland”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, criada pela ONU no ano de 1987.

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social. Todos estes contextos se consolidam de forma mais eficaz quando há uma interdependência e uma gestão integrada dos interesses em foco.

O elo entre desenvolvimento e meio ambiente veio por meio do Relatório Brundtland, onde as Nações Unidas estabeleceram este viés; as questões ambientais, as perspectivas que se tinham sobre e para o planeta e os desafios que deveriam enfrentar também ganhou reflexão e destaque. Neste tempo também surge à construção do conceito de desenvolvimento sustentável que tinha sido divulgado de forma bastante ampla e ainda constitui objeto de constante discussão e reflexão, que o conceitua da seguinte forma:

‘é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem também às suas próprias

necessidades’.

Neste contexto surge a discussão dentro de várias dimensões que analisando o contexto de desenvolvimento sustentável, cita-se o “Relatório Brundland” :

• Sustentabilidade econômica que enfoca a gestão eficaz dos recursos em geral e tem como característica a regularidade do fluxo dos investimentos públicos e privados. Está implícita a eficiência dos processos macrossociais;

• Sustentabilidade ecológica que se refere ao processo físico do crescimento tendo como objetivo maior manter os estoques de capital natural que se encontram incorporados à atividade produtiva;

• Sustentabilidade ambiental que busca a manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas, implicando a capacidade de absorção e de recomposição dos mesmos diante da ação antrópica;

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• Sustentabilidade social, que prioriza a melhoria da qualidade de vida da sociedade e abrange também os problemas da exclusão e da desigualdade social; a base deste princípio está ligada a uma política de universalização dos serviços de saneamento básico além de uma melhor distribuição de renda;

• Sustentabilidade espacial, que é adquirida a partir da equidade distributiva territorial dos aglomerados humanos, objetivando minimizar o impacto nas regiões metropolitanas, protegerem os ecossistemas frágeis e instituir unidades de reservas naturais a fim de proteger a biodiversidade;

• Sustentabilidade cultural, que inclui a procura de raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, processos que busquem mudanças dentro da comunidade cultural, e que traduzam o conceito de desenvolvimento sustentável em um conjunto de soluções específicas para cada local;

• Sustentabilidade de política nacional, baseada na democracia e no respeito aos direitos humanos, de modo que o Estado programe um projeto nacional em parceria com todos os atores desse processo.

• Sustentabilidade de política internacional, que consiste na aplicação do princípio da precaução na gestão dos ativos ambientais, assim como em garantir a paz entre as nações e promover a cooperação internacional nas áreas financeira e de ciência e tecnologia.

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Desta forma, discute-se o processo de sustentabilidade como sendo uma construção social complexa, pois envolve um grande número de atores: as organizações da sociedade, os empresários, o governo federal, os governadores estaduais, os prefeitos, os interesses pessoais e coletivos, as escolas e universidades e a própria sociedade objeto desta discussão. Ela se torna cada vez mais complexa a partir do momento que abrange situações distintas e cenários os mais diversos, pois, o nosso País é um território amplo e, que exige uma melhoria no seu planejamento afim de se garantir a manutenção e o equilíbrio dos ecossistemas de forma sustentável.

Seguindo este pensamento verifica-se que o uso exagerado dos recursos naturais implica em: desequilíbrio, empobrecimento (perda do poder aquisitivo de grande parte da população) que não tem como acompanhar o crescimento acelerado. Ressultante do capitalismo que fortalece aqueles que já possuem bens em detrimento dos demais e a sobrexploração, fazendo com que as espécies e os serviços ambientais vitais possam entrar em colapso e até mesmo, desaparecerem.

Para tanto faz-se necessário que a população possa cada vez mais ser informada ecologicamente da importância e vitalidade dos recursos naturais. Isso é importante, pois: em primeiro lugar com ela é possível organizar uma prática de manejo sustentável dos recursos naturais e posteriormente, adequar as políticas a fim de assegurar a manutenção dos mesmos; segundo, porque a maioria dos danos causados ao ambiente é resultante do desconhecimento sobre a importância, equilíbrio e funcionamentos dos ecossistemas de maneira geral.

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‘.... consiste basicamente em estabelecer as condições necessárias para que a população da espécie humana possa permanecer viva na biosfera do

planeta Terra através das futuras gerações sendo elas: vem alimentada,

saudável, realizada, progredindo científica e tecnologicamente melhorando

de forma constante sua qualidade de vida de maneira eqüitativa e sem

conflitos sociais importantes’.

Sendo assim, o processo de expansão urbana das cidades brasileiras se deve ao intenso êxodo rural e as disparidades sociais da renda da população. Fator este que se intensificou com a ocupação desordenada do solo, principalmente pelas correntes migratórias oriundas de várias partes do Brasil.

Com o aumento da população o consumo dos recursos hídricos também aumentou consideravelmente, no DF em especial, este índice cresceu de forma assustadora. Um dos motivos se deve ao surgimento cada vez mais freqüente de condomínios irregulares que invadem, se instalam, constroem mansões, muram e começam a furar os poços artesianos a fim de usar as águas superficiais de forma desestruturada e sem um estudo prévio do assunto.

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4.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. O Planejamento da Nova Capital e sua Sustentabilidade

A revisão bibliográfica da presente dissertação buscou enfocar dois eixos temáticos complementares, conforme sintetizado e abordados neste capítulo. O primeiro eixo segue na linha da conceituação do que vem sendo considerado como conflito, e que se debruça especificamente sobre as áreas emblemáticas, existentes e mapeadas na bacia. O segundo trata da questão da sustentabilidade ambiental vis-à-vis aos processos de ocupação desordenada nas áreas sensíveis da bacia do Paranoá, o que remete também a uma discussão conceitual sobre o que seja desenvolvimento sustentável e as práticas desenvolvidas na área de estudo.

Dentro do cenário da sustentabilidade ambiental se conceitua o termo serviços ambientais, que na sua especificidade, segundo o Dicionário Meio Ambiente (1992), ‘são os serviços oriundos do funcionamento saudável dos ecossistemas naturais ou modificados pelos

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ecossistemas de manter as condições ambientais apropriadas, depende da implementação de práticas humanas que minimizem nosso impacto negativo nesses ecossistemas.

Para garantir condições de sustentabilidade dentro da bacia se conceitua alguns termos, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa A. Buarque (Holanda Ferreira, 1975): Harmonia: ‘disposição bem ordenada entre as partes de um todo. Proporção, ordem, simetria, suavidade e sonoridade do estilo’. Estética: ‘estudo das condições e dos efeitos da criação artística. Estudo nacional do belo, que quanto à possibilidade da sua conceituação, quer quanto à

diversidade de emoções e sentimento que ele suscita no homem. Caráter estético, beleza’. Estabilidade: ‘qualidade de estável, firmeza, solidez, segurança’.

Ampliando um pouco mais a discussão do termo Estética segundo o Dicionário La Philosophie de A à Z (2000) a palavra vem do grego (asthatkes) significa ‘aquilo que os sentidos podem perceber’ (subst.) 1. Estado da sensação, do sentimento; 2.Teoria da arte e das condições do belo. 3. Teoria que trata dos sentidos do belo e do julgamento do gosto.4. Estudo das diferentes formas de arte. (adj.) 4. que concerne o belo. Nesta visão sobre o horizonte da bacia do Paranoá se aplica a concepção de que o gosto é tributário de uma visão cultural e universal. Ao se pensar no ambiente urbano deve-se levar em conta o local que por sua vez está inserido numa escala universal.

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Com os fatores acima definidos evidencia-se que a manutenção dos serviços ambientais requisita diferentes atores sociais que irão auxiliar no processo coletivo de discussão e definição dos aspectos para apoiar a eficácia de todos os sistemas que compõe a paisagem3. Segundo a Lei nº 11/87 sobre as bases do ambiente Art. 18 no que se refere a defesa da paisagem como unidade estética e visual, serão garantidos a implantação de novos aglomerados urbanos desde que se determine critérios específicos na escala regional e local.

Como já é de amplo conhecimento, Brasília é uma cidade que já nasceu histórica, paradoxalmente, por ser futurista e ainda permanecer moderna, instigante, original, inovadora preservando seu espírito empreendedor e pioneiro. Cabe ressaltar que Brasília se tornou referência mundial do planejamento urbano, além de ser também o fator principal do desenvolvimento social e econômico vivenciado nesta região central do País.

Lucio Costa4, explica que a sua concepção do modelo urbano de Brasília se deu sustentada por quatro escalas, que seriam:

• A Escala Monumental – que marca a Capital como o centro político-administrativo, o símbolo do patriotismo brasileiro;

• A Escala Residencial – com base na tranqüilidade, no remanso, no refúgio das unidades de vizinhança; nas super-quadras, inseridas em amplas áreas verdes, munindo os prédios de apartamentos de quintais;

3 Paisagem é unidade geográfica, ecológica e estética resultante da ação do homem e da reação da Natureza,

sendo primitiva quando a ação daquele é mínima e natural quando a ação humana é determinante, sem deixar de se verificar o equilíbrio biológico, a estabilidade física e a dinâmica ecológica.

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• A Escala Gregária – em que o encontro e o reencontro promovem o movimento, o cotidiano; e

• A Escala Bucólica – que no lugar de muralhas se tem os espaços abertos e verdes; a onipresença do céu azul, do ar puro, do cerrado virgem; os mananciais de água, que dão vida ao planalto.

A conexão entre estas escalas seria proporcionada por eixos de circulação rápida, aplicando-se os “princípios da técnica rodoviária à técnica urbanística”. Uma proposta inusitada e inovadora que culminou com o reconhecimento máximo da UNESCO, em 7 de dezembro de 1987, com apenas 27 anos de existência, com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Ressalta-se também que este título implica o tombamento de todo o conjunto urbano que Brasília representa, não se resumindo apenas ao desenho do Plano Piloto ou aos elementos físicos de arquitetura ou urbanismo. Todas as características, presentes nas quatro escalas de Lucio Costa e no fincar das raízes de um povo que tornou a realidade “maior que o sonho”, contribuíram para a concretização deste marco na história, que deve se perpetuar.

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A mudança da capital para um novo sítio especialmente escolhido e planejado em detalhes constitui uma obra de considerável alcance idealizada por pessoas que pensavam para além de suas próprias vidas.

O cenário da iniciativa de organização do solo no Distrito Federal tem origem em vários projetos e decisões, destacando-se o Relatório Cruls – de 1892, coordenado pelo Geógrafo Luiz Cruls. Este estudo, de fato foi desenvolvido com o intuito de marcar a presença do Estado na definição do melhor local para a implantação da futura Capital Federal. Mas o verdadeiro diferencial vem pouco mais de sessenta anos depois, com o Relatório Belcher, decorrente dos estudos realizados em 1954, pela Donald Belcher and Associates onde, dentro do quadrilátero definido por Luiz Cruls se tem a escolha definitiva do local da futura Capital. Certamente que na seqüência destes dois estudos, já na realidade de Brasília, outros estudos são desenvolvidos, antevendo os problemas habitacionais futuros, que complementariam a malha urbana do Distrito Federal e com a preocupação de orientar o surgimento de cidades-satélites para além do cinturão determinado para proteger a Bacia do Paranoá (CODEPLAN, 1995).

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apresentava em processo de desorganização. Este último foi sancionado pelo Decreto nº12.898. Citam-se também os documentos elaborados na década de 80: como o Brasília 57-85 e Brasília Revisitada 85- 87.

A questão da sustentabilidade, entretanto, começa a ser inserida a partir do Plano Diretor de Ordenamento Territorial - PDOT (1992 e 1997) que, com a revisão dada pela Lei Complementar n.º 17 de 28/01/97, se preocupa com a ocupação intensificada da Bacia do Paranoá, estabelecendo que a urbanização só pudesse ocorrer a partir de um planejamento global e detalhado sobre a população, com ampliação dos benefícios, tendo-se em conta uma capacidade de suporte e de auto-sustentação dos recursos, ainda por ser dimensionada.

A Lei Orgânica do Distrito Federal, que dispõe, sobre a regulação e restrição de uso do solo, faz referência, no seu Art. 165, parágrafo 2º, ao plano de desenvolvimento econômico-social destacando as ações de “compatibilizar o ordenamento da ocupação e uso do solo, de acordo com a concepção urbanística do Plano Piloto e Cidades-Satélites e conter a especulação imobiliária, bem como controlar e fiscalizar a expansão desordenada da área urbana”.

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Não é difícil perceber a facilidade com que as ações de grileiros, já naquela época, criavam empecilhos para a desapropriação. A ausência de planejamento não permitiu se perceber a crescente demanda da população que, excluída do Plano Piloto, em fase de construção, ocupava o seu entorno, dando origem aos conflitos (parcelamentos e invasões irregulares), que se perpetuam até a atualidade.

O fato de a Nova Capital ter nascido de um projeto e não de um processo de ocupação territorial, ressalta pontos interessantes e significativos na sua áurea de cidade moderna. Dentre eles o aspecto do uso planejado dos seus espaços, que acaba por proporcionar um padrão diferenciado de qualidade de vida.

Na concepção do seu projeto o urbanista Lucio Costa (1957) faz menção ao caráter geral da

‘cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação

intelectual, capaz de tornar-se com o tempo, além de centro de governo e administração, um foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país’.

Porém Brasília acabou por ser construída no período marcado por intenso processo migratório, com a transferência das pessoas do campo para as cidades e, muito embora tenha sido estudada com certa antecedência e cuidado, de certa forma a precariedade das moradias que se estabeleceram ao seu redor acaba por evidenciar o caráter elitista que conduziu seu planejamento, e fez com que logo cedo à Nova Capital Federal enfrentasse graves problemas no campo habitacional, agravada com a vinda de grandes contingentes de nordestinos, no ano 1958, que se instalaram nas proximidades da Cidade Livre.

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conflituosa que afeta as decisões e diretrizes de muitos planos de ordenamento. Em 1971, no distrito Federal, cerca de oitenta mil pessoas residiam de forma precária em favelas situadas nas proximidades do Núcleo Bandeirante e em outras localidades do Plano Piloto. Para dar solução ao problema o Governo criou o Centro de Erradicação de Invasões – CEI que, pela distância da região Central passou a ser conhecido como Ceilândia. A criação da Ceilândia possibilitou a remoção de diversas habitações provisórias destes locais, mas também desencadeou um processo de atração de novos fluxos migratórios que culminaram com a criação ou a expansão de Cidades Satélites, nas décadas de 1980 e 1990, e na ocupação desordenada de outras regiões do entorno próximo do Distrito Federal como Valparaíso, Gama II, Pedregal, Céu Azul, Cidade Osfaya, Águas Lindas, etc.

Não é possível olhar para Brasília sem perceber que dentro da sua escala monumental também se inserem os registros dos movimentos migratórios mal resolvidos, da perenização de acampamentos provisórios e dos movimentos espontâneos de urbanização que revelam, no fundo, a negligência do estado com os fatos concretos do desenvolvimento da cidade em si e do Distrito Federal.

Da urbanização de Brasília surge uma realidade bastante contraditória na ocupação do espaço, observada por Paviani (1996), como sendo injusto, podendo se acrescentar ainda, conturbado e predatório.

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que ocupa, divide e comercializa tanto as terras públicas como as privadas de forma ilegal ou irregular.

O mercado imobiliário se estabelece por meio de um discurso que proporciona a “exaltação e o desejo de se morar em áreas privilegiadas”, estimulando, de certa forma o interesse da sociedade em ocupar áreas que deveriam estar sendo preservadas. A qualidade de vida passa a ser argumento de um discurso que desperta o interesse da classe média, que associa seus interesses aos do especulador. Dessa forma, os entornos começam a ser ocupados, exigindo a permanente reformulação dos instrumentos oficiais de planejamento.

Em suma esses seriam os elementos de alteração e transformação do ambiente natural onde o Poder Público atua sempre a reboque das ações; os grileiros e proprietários possuem a organização estratégica do mercado e a sociedade se estabelece nos espaços, construindo suas moradias, cercando seus lotes, muitas vezes comprados de forma irregular. ALVES & SANTOS (in Fonseca - org, 2001), observa que :

soluções propostas para os problemas sócio-ambientais são insuficientes,

seja pelo fato de órgãos públicos e a sociedade buscarem combater apenas

os efeitos, fugindo do enfrentamento das questões em suas origens, seja

pelos limitados recursos financeiros disponibilizados para a implantação de ações adequadas’.

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4.2. A Determinação do Local para a Construção da Nova Capital

A escolha do local apropriado para a construção de Brasília foi um marco cultural com grande diferencial. A localização do DF, dentro da bacia estabelece a idéia de uma unidade hidrográfica, no caso, a bacia do Paranoá, como unidade territorial de planejamento.

Como se sabe hoje este sítio ocupa espaço no Planalto Central, elevado à categoria de “Reserva da Biosfera do Cerrado” 5, fator que pesa na questão da sustentabilidade dos serviços ambientais ali existentes.

Ressalta-se que havia dois sítios importantes no cenário em questão: o sítio Castanho, que abrange a Bacia do Paranoá; e o sítio Verde, onde se situa o fenômeno

5A Reserva da Biosfera é constituída por uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral

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geográfico das Águas Emendadas; ponto observado pelo Relatório Cruls, em expedição pela região no final do século XIX.

Queiroz (2003) faz referência, em sua Tese de Doutoramento, à “Modernidade Brasileira e a Civilização Intercultural”, quando comenta sobre as Águas Emendadas, como sendo aquele acidente geográfico o referencial da construção da identidade brasileira (para o mundo) demonstrando assim a importância da escolha do lugar da Capital.

Em todo o caso o aspecto “água” aparece como preponderante na decisão, porque implica em possibilidade de abastecimento e perenidade da vida. A água é elemento essencial para o estabelecimento e desenvolvimento das relações urbanas. Na bacia do Paranoá se dispõem dos mananciais localizados a montante da área que constitui o tecido urbano de Brasília e seus arredores, tendo-se o Lago do Paranoá a jusante, como depositário dos fluidos decorrentes de suas atividades, em processo natural de escoamento, que dependeria, em tese, somente dos efeitos da lei da gravidade.

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4.3. Os Documentos de Referência do Planejamento do Uso do Solo no Distrito Federal

A transferência da Nova Capital do Rio de Janeiro o Planalto Central exigiu um longo processo de pesquisa e de planejamento da área a ser escolhida. Para tanto cita-se a seguir um breve histórico dos documentos oriundos desta trajetória.

Em 1972 foi publicado pela CODEPLAN o documento dos Núcleos Habitacionais Futuros onde o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal apontava propostas relacionadas ao zoneamento industrial e residencial. Todas as discussões refletiam a preocupação de se criar novas cidades satélites e a importância de um cinturão de proteção para toda a Bacia do Paranoá.

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Já em 1977, surge o estudo que se denomina Plano Estrutural de Organização Territorial do Distrito Federal – PEOT – tendo este a preocupação de verificar quais seriam as áreas mais adequadas para a intensificação da malha urbana, vislumbrando também: as vias de transporte, as estações de esgoto e abastecimento de água para a população do local. Foi através deste plano que surgiu o eixo de crescimento denominado: Taguatinga – Ceilândia – Gama, sendo considerados os mais aptos para a expansão e concentração populacional.

Conforme foi proposto no plano o PEOT conseguiu implantar o eixo de expansão urbana, porém os movimentos migratórios não cessaram e surgiram novos focos de invasões dando origem a novos núcleos urbanos e conseqüentemente iniciando um conflito social e ambiental pelos atores ali envolvidos ( movimentos ambientais, movimentos de invasores populares, e grileiros dos condomínios da classe média).

Como o crescimento da cidade estava acelerado, a Terracap e a Secretaria de Viação e Obras iniciou um estudo que ficou conhecido como Documento Brasília 57 – 85 ( do plano piloto ao Plano Piloto) que buscou resgatar a idéia inicial de Lucio Costa e fazer uma avaliação do projeto. Neste documento foi sugerido a fixação da Vila Planalto. No entanto deveriam ser respeitados determinados critérios urbanísticos e arquitetônicos estipulados por Lucio Costa, tais como: a futura implantação residencial multifamiliar, na forma de super-quadras com gabarito de quatro andares e blocos dispostos octogonalmente e que fosse reservada uma faixa de terreno com cerca de 250 m de largura e 2 km de extensão ao longo da estrada dos hotéis de turismo.

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Governo local fecha os olhos quanto à descaracterização do ambiente e os especuladores imobiliários fazem deste cenário palco de completa degradação do patrimônio tombado.

Para garantir as características do Plano Piloto, Lucio Costa elabora um documento que recebeu o nome de Brasília Revisitada 85 – 87 onde busca complementar e preservar as características do Plano Piloto e promover, de maneira ordenada, a expansão urbana da cidade. O documento apresenta argumentos que garantem a manutenção das áreas livres não edificáveis e a preservação quanto à densidade populacional entre a cidade e a orla do lago. Lucio Costa aponta neste documento a importância de se valorizar a escala bucólica a fim de se garantir a interação entre as demais escalas – a gregária, a residencial e a monumental.

Nesse documento, Lucio Costa aponta a orla como um dos elementos primordiais para a preservação das características fundamentais do plano: o plano piloto refuga a imagem tradicional no Brasil da barreira edificada ao longo da água; a orla do lago se pretendeu de livre acesso a todos, apenas privatizada no caso de clubes.

O estudo Brasília Revisitada se estabelece com o objetivo de promover o adensamento e a expansão do Plano Piloto, ratificando a caracterização de cidade parque – “derramada e concisa” sugerida como traço urbano diferenciador da capital.

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Paviani (1989) critica a proposta de expansão urbana de Brasília e faz as seguintes considerações:

‘ Sua formulação e processo decisório estão marcados por indisfarçáveis

contornos autoritários, dado que em nenhum momento a proposta foi levada

ao debate público, envolvendo os habitantes da Capital... Não se trata de um

plano, mas de um conjunto de intenções apresentadas de forma

pontualizada e fragmentada, de desenho urbano para assentamentos

residenciais, desligado dos demais aspectos que constituem, atualmente, a realidade do Distrito Federal’.

Na visão do autor o referido plano, abandona abertamente a premissa de preservação da bacia do Paranoá e mostra incoerência em relação ao plano urbano de Brasília e visa sobretudo ao interesse de terceiros em detrimento da coletividade.

A urbanização se intensifica quando em 1986 é estabelecido o Plano de Ocupação e Usos do Solo no Distrito Federal – POUSO, que foi concluído em 1990.Após estudos e discussões o POUSO propõe o macrozoneamento de controle e uso do solo, introduzindo as diretrizes relacionadas à preservação ambiental. O POUSO veio a ser sancionado pelo Decreto n° 12.898, de 13/12/1990.

Por fim, para se dar solução aos intermináveis problemas de expansão urbana foi desenvolvido, já em 1992, um estudo que foi denominado Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT, que em sua primeira versão, previu a ocupação na Bacia do Paranoá até o ano de 2030, com um total de 1.223.045 habitantes, distribuídos em áreas de diferentes densidades.

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dando margem, por exemplo, à expansão vertiginosa dos condomínios horizontais tanto em áreas públicas como em áreas cuja propriedade é objeto de demanda judicial.

Com a malha urbana se intensificando e já fora de controle das autoridades tem-se, em 1997, a promulgação da Lei Complementar nº 017/97, que formaliza o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT reforçando o condicionamento da ocupação das zonas urbanas próximas à bacia do Lago Paranoá a um Zoneamento Ecológico-econômico que venha a especificar a população máxima desejável para cada setor, definindo a localização de empreendimentos urbanísticos em função da capacidade de suporte estabelecida.

Desta forma se percebe que o processo de urbanização no Distrito Federal acontece de maneira desordenada, submetida à especulação e à negligência do poder público, que não deu forma final aos Planos elaborados e por diversas vezes se ausentou do processo que acabou por transcorrer de forma espontânea. Em sua maioria os Planos, quando foram realizados já não atendiam mais à demanda da expansão da cidade, e tornaram-se ineficazes, ou incapazes de resolver, ou coordenar os movimentos de expansão (invasões e a fixação) responsáveis pelo desenvolvimento dos condomínios residenciais nos entornos e fora da bacia (Tabela 1).

Como conseqüência se tem uma sobrecarrega do sistema viário e uma drástica redução das áreas verdes adjacentes e interurbanas, promovendo uma rápida redução da escala bucólica do Distrito Federal. Os conflitos se agravam com a sistemática privatização da orla do lago Paranoá e a perda crescente dos serviços ambientais existentes na sua área, conforme mostra a tabela abaixo que aponta os parcelamentos/condomínios/assentamentos. Sempre surgem de maneira sutil e aos poucos ganha adeptos.

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Nome do Parcelamento RA Número Lotes Ocup. Total lotes Pop. Total

Cond. Mini Granjas do Torto Brasília 01 30 155 581

Chác. Da EPIA- DF 003Km 24 Candangolândia 02 18 19 80

Setor de Chác.da Candangolândia Candangolândia 03 59 61 258

Ch. Parq. Ecol. Guará Guará 04 86 86 860

Colônia Agr.Águas Claras Guará 05 59 59 354

Colônia Agr. Cabec. Do Valo Guará 06 14 14 183

Col. Agr. Bernardo Sayão Guará 07 34 34 168

Colônia Agrícola IAPI Guará 08 120 120 489

Com.de Mor. atrás St. Infl Guará 09 49 49 200

Com. De Mor. atrás St.Pst.Mot. Guará 10 11 11 45

Com.de Mor. atrás P. Shoop. Guará 11 75 75 306

Ocup. Histórica Vila Feliz Guará 12 25 25 102

Cond. Hollywood Lago Norte 13 100 900 3.753

Cond. Porto Seguro Lago Norte 14 50 60 250

Cond. Prive I e II Lago Norte 15 600 1.300 5.421

Núcleo Rur. Capoeira do Balsa. Lago Norte 16 87 90 375

Núcleo Rur. Jerivá ( A e B) Lago Norte 17 100 100 417

Núcleo Rural Palhas Lago Norte 18 135 135 810

Núcleo Rural Tamanduá Lago Norte 19 17 17 71

Núcleo Rural Torto Lago Norte 20 92 92 384

Núcleo Rural Urubu Lago Norte 21 100 100 417

Residencial Phoenix Lago Norte 22 - 600 2.502

Cond. Lago Sul Lago Sul 23 85 116 449

Cond. Villages Alvorada Lago Sul 24 231 413 1.598

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Agrovila Granja Mod. III- Vila I Riacho Fundo 26 85 85 374

Agrovila Granja Mod. III- Vila II Riacho Fundo 27 22 22 97

CAUB I Riacho Fundo 28 100 100 440

CAUB II Riacho Fundo 29 105 105 462

Col. Agr. RiaFundoKanegae e Mat. Riacho Fundo 30 37 37 759

Col. Agrícola Sucupira Riacho Fundo 31 34 42 202

Granja do Ipê/Fund. Cid. da Paz Riacho Fundo 32 9 9 80

Col. Agr. Arniqueira/Vereda Grande

e Veredão

Taguatinga 33 800 1.200 6.00

Colônia Agr. Cana do Reino Taguatinga 34 41 41 398

Colônia Agrícola Governador Taguatinga 35 9 9 57

Colônia Agr. Vereda da Cruz Taguatinga 36 126 126 529

Colônia Agrícola Samambaia Taguatinga 37 3.000 5.000 21.000

Colônia Agrícola Vicente Pires Taguatinga 38 3.271 12.030 50.526

Vila São José Taguatinga 39 2.300 9.660 9.660

Invasão da Estrutural Guará 40 - - 12.720

Acampamento da Telebrasília Brasília 41 - - 1.523

Núcleo Rural Lago Oeste Sobradinho 42 1.000 1.200 5.160

Total: Bacia do Paranoá - 13.171 27.016 130.380

Adaptado de: Fonseca 2002.Fonte: CAESB – Programa Sanear.

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forma verifica-se que eles não resolveram os movimentos de invasões e a fixação por morar em “condomínios” continua a perpetuar.

Além disso, os empreendimentos imobiliários e as invasões têm sobrecarregado o sistema viário existente e as áreas verdes adjacentes. Tal fato passa a exigir do poder público a definição de procedimentos que garantam a preservação da escala bucólica da orla, com a aprovação de edificações, usos e planos de ocupação dos lotes que embelezem a cidade, evitando a adoção de soluções inadequadas para um setor tão especial.

Desta forma, ressalta-se que os PDOTs (Plano Diretor de Ordenamento Territorial) no Distrito Federal não resolveram os problemas já mencionados visto que, não foram implementados como preconizavam os estudos se tornando um fracasso pois não conseguiram mudar o “cenário” instalado e já estavam atrasados.

4.4 Perspectivas do Desenvolvimento Urbano da Bacia do Paranoá

Desde a sua inauguração, em 1960, Brasília já era considerada uma cidade expressiva, pois, passou a atrair um intenso fluxo de migrantes, que inicialmente vinham para trabalhar nos canteiros de obra e posteriormente se fixavam nos seus arredores. Porém, foi entre os anos 70 e 80 que Brasília se consolida e recebe as representações de empresas privadas, passando a atrair novos mercados de trabalho e geração de renda, principalmente no setor público. Com o crescimento da cidade os serviços de mão-de-obra também foram aumentando. No ano de 1973, expressivas áreas irregularmente ocupadas são erradicadas com a transferência de populações para as cidades satélites.

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movimentos dos racionalistas europeus e americanos, que tiveram como base o texto que recebeu o nome de “Carta de Atenas6”, os padrões urbanísticos adotados para Brasília acabam por serem elevados em relação à cultura geral do povo Brasileiro e mantê-los exige pesados investimentos nas diversas áreas do sistema social e urbano, cujos recursos deveriam ser gerados aqui mesmo (Menon e Carneiro, 2004).

A Capital Federal guarda ainda uma estrutura econômica baseada no setor administrativo do Governo Federal, nos serviços públicos do DF e em setores de prestação de serviços como empreiteiras e o comércio em geral, tendo em vista que, em princípio a Capital Federal deveria funcionar como função terciária7 e quaternária. Porém a polarização periférica acabou por conduzir à inevitável atração de indústrias para a capital, para ocupar a imensa oferta de mão-de-obra que se encontra fora destes setores nela abrigados.

Na sua concepção original a Capital Federal teria de ser uma cidade que se movimentasse por meio da função dos poderes e da estrutura política na qual está inserido, fato que não parece estar no foco principal da administração pública local. A realidade do momento é a da fragmentação funcional8 do ambiente que se caracteriza pelo inchaço das áreas urbanas que aos poucos vão se tornando inadequadas e conflituosas (Franco, 1997). No Distrito Federal, por exemplo, a expansão se superpõe às áreas de relevante interesse para a sustentabilidade urbana, como as chapadas que servem de áreas de recarga dos aqüíferos que abastecem os mananciais que atendem à população.

6 Documento síntese do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, ocorrido em 1933.

7 Segundo Ferreira ( in. Paviani, 1999) ela receberia a sede do Poder Público que pressupunha a instalação de

funções altamente polarizadoras, ligadas à sede do poder, ao centro de decisões e de gestão e ao quaternário superior. São atividades altamente centralizadas que não se dispersam territorialmente. Localizam-se seletivamente, formando o core do pólo: o núcleo central e suas áreas residenciais próximas elitizadas, abrigando a população ligada àquelas atividades.

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Imagem

Tabela 3 – População do Distrito Federal por Região Administrativa:
Figura nº 1 – Imagem de Satélite da Bacia do Lago Paranoá – Fonte: SICAG.
Figura nº 2 – Imagem de Satélite das Áreas Emblemáticas da bacia
Figura nº 3 – Imagem de Satélite das Áreas Rurais Remanescentes na bacia.
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Referências

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