FACULDADE DE DIREITO CURSO DE DIREITO
COORDENAÇÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES
FILIPE BERNARDO DA SILVA
A PENHORA
ON-LINE
COMO INSTRUMENTO PARA UMA
EXECUÇÃO TRABALHISTA MAIS CÉLERE E EFETIVA
FILIPE BERNARDO DA SILVA
A PENHORA
ON-LINE
COMO INSTRUMENTO PARA UMA
EXECUÇÃO TRABALHISTA MAIS CÉLERE E EFETIVA
Monografia a ser apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará – UFC, sob a orientação do professor Jorge Aloísio Pires.
FILIPE BERNARDO DA SILVA
A PENHORA
ON-LINE
COMO INSTRUMENTO PARA UMA
EXECUÇÃO TRABALHISTA MAIS CÉLERE E EFETIVA
Monografia a ser apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará – UFC, sob a orientação do professor Jorge Aloísio Pires.
Aprovada em 17/01/2007.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Jorge Aloísio Pires
Orientador
UFC
Prof. William Paiva Marques Júnior UFC
Prof. Danilo Santos Ferraz UFC
Aos meus pais Marcelino e Elzinete
À minha noiva Aline
Ao meu irmão Rafael
À Sara
(in memoriam)
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo.
Aos meus pais, pela educação que me proporcionaram e pela expectativa
que neles vejo, a qual me impulsiona a cada dia.
À querida Aline, pelo amor que a mim devota e pelo apoio incondicional
às minhas escolhas, fazendo-me crer na minha capacidade de alcançar a realização
profissional.
Ao meu irmão, pela irreverência com que trata os problemas, fazendo-me
acreditar que as coisas não são tão difíceis quanto aparentam.
Aos amigos que, independente de onde estejam, torcem pela minha
felicidade.
Aos professores Danilo Santos Ferraz e William Paiva. M. Júnior, pelo
apoio dedicado ao presente estudo e pelo elogio à escolha do tema e ao professor
A execução da justiça é motivo de alegria
para o justo; mas é espanto para os que
praticam a iniqüidade.
RESUMO
A presente monografia analisa a possibilidade de uso da penhora on-line como
instrumento para uma execução trabalhista mais célere e efetiva. Parte do estudo de conceitos como execução trabalhista, penhora on-line, princípio da celeridade,
princípio do menor sacrifício possível do executado e princípio da efetividade. Após a conceituação de execução e uma breve retrospectiva histórica, trata da apresentação dos aspectos gerais da execução trabalhista. Em seguida, define penhora, abordando seus principais aspectos. Conceitua penhora on-line e analisa
as críticas mais relevantes, refutando-as fundamentadamente. Contrapõe o princípio do menor sacrifício possível do executado com o princípio da efetividade da execução, demonstrando sua compatibilidade e possibilidade de aplicação equilibrada, desde que observado o princípio da proporcionalidade. Procura demonstrar que a penhora on-line é instrumento hábil a possibilitar a conclusão
célere e efetiva de uma execução trabalhista.
RESUMEN
La actual monografía analiza la posibilidad de uso del la penhora on-line como
instrumento para una ejecución de trabajo más célere y efetiva. Parte del estudio de conceptos como ejecución del trabajo, penhora on-line, principio de la celeridad,
principio del menor sacrificio posible del ejecutado y del principio de la eficacia de la ejecución. Después de la conceptualización de la ejecución y de una retrospección histórica, se ocupa de la presentación de los aspectos generales de la ejecución del trabajo. Después de eso, define la penhora, acerca a sus aspectos principales.
Valora el penhora on-line y analiza los críticos, refutándolos fundamentadamente.
Opone el principio del menor sacrificio posible del ejecutado con el principio de la eficacia de la ejecución, demostrando a su compatibilidad y posibilidad de uso equilibrado, eso observó desde entonces el principio de la proporcionalidad. Procura demostrar que la penhora on-line es instrumento hábil para hacer posible la
conclusión célere y eficaz de una ejecución del trabajo.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...10
2 EXECUÇÃO...13
2.1Conceito...13
2.2 Evolução histórica...14
2.2.1 Direito Romano...14
2.2.2 Direito Medieval...16
2.2.3 Atualidade...17
3 EXECUÇÃO TRABALHISTA...18
3.1 Pressupostos...18
3.2 Competência...19
3.3 Legitimidade ativa e legitimidade passiva...19
3.4 Fontes legais da execução trabalhista...20
3.5 Princípios informativos do processo de execução...21
3.5.1 Princípio da natureza real da execução...22
3.5.2 Princípio da limitação expropriatória...22
3.5.3 Princípio da economia da execução...22
3.5.4 Princípio do ônus da execução...23
3.5.5 Princípio do respeito à dignidade humana...23
3.5.6 Princípio da disponibilidade da execução...23
3.5.7 Princípio da execução provisória...23
3.5.8 Princípio do impulso oficial...24
3.5.9 Princípio da preclusão...24
3.5.10 Princípio da lealdade...25
3.5.11 Princípio da celeridade...25
3.5.12 Princípio da publicidade...26
3.5.13 Princípio da impenhorabilidade...26
3.6 Responsabilidade patrimonial...27
3.7 Bens impenhoráveis...30
3.8 Execução por quantia certa contra devedor solvente...33
4 PENHORA...35
4.1 Definição...35
4.2 Efeitos...37
4.3 Princípios norteadores...39
4.3.1 Princípio da suficiência...39
4.3.2 Princípio da utilidade...40
4.3.3 Princípio da especificidade...41
4.3.4 Princípio da afetação...41
4.3.5 Princípio da humanização...42
5 PENHORA ON-LINE...…...……43
5.1 Noção geral...43
5.2 Origem...43
5.3 Funcionamento...45
5.4 Críticas...51
5.4.1 Supressão da fase procedimental executória...51
5.4.2 Valores impenhoráveis...52
5.4.2 Excesso de bloqueios...54
5.5 Princípio do menor sacrifício possível do executado, Princípio da efetividade da execução forçada e penhora on-line...56
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...…...63
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...65
1 INTRODUÇÃO
A penhora on-line, também conhecida como Sistema BACEN JUD, é
instrumento processual destinado a dar celeridade e efetividade à execução.
Apresenta-se como decorrência do progressivo uso da informática em favor do
processo judicial.
Referido sistema de penhora on-line já vem sendo utilizado no âmbito da
justiça comum, mas resolvemos restringir nosso estudo à execução trabalhista
porque este trabalho acadêmico deve delimitar o seu tema, a fim de tratá-lo de forma
exaustiva.
A penhora on-line é uma modalidade de constrição judicial, na qual são
colocados à disposição do juízo os ativos financeiros do executado, limitados ao
total do crédito exeqüendo, restringindo-se a disposição do sujeito passivo sobre o
seu capital.
Em um primeiro momento, há o simples bloqueio dos créditos do
executado nas instituições financeiras. Após a verificação de quais valores serão
necessários, procede-se à solicitação de transferência e desbloqueio das
importâncias excedentes.
Os valores são transferidos para uma conta judicial, na qual é garantida a
atualização monetária, estando vinculada ao processo que originou a solicitação ao
Banco Central.
A partir do momento em que os valores são colocados à disposição do
Juízo e é restringida a disposição do executado sobre seus créditos está configurada
Temos o objetivo de elaborar um estudo aprofundado acerca da penhora
on-line no âmbito do processo trabalhista, discorrendo sobre aspectos gerais da
penhora e, especificamente, da penhora on-line, seus aspectos teóricos e práticos,
descrevendo seu funcionamento e efetividade.
Ao longo do trabalho, surgirão questionamentos acerca da possibilidade de utilização da penhora on-line e sua justificativa.
Um questionamento relevante se fará em relação a quais ativos
financeiros poderão ser bloqueados pelo sistema BACEN JUD. Neste ponto,
faremos uma breve análise dos casos de impenhorabilidade, destacando que as
contas correntes criadas para o recebimento exclusivo de salários e benefícios
previdenciários são absolutamente impenhoráveis, sendo responsabilidade também
das instituições bancárias verificar essa ocorrência.
Discutiremos a possibilidade de utilização da penhora on-line em face do
princípio da menor onerosidade para o devedor. Este ponto é a maior crítica
doutrinária atribuída ao referido instrumento de execução. Chegaremos à conclusão
de que deve haver um sopesamento deste princípio, com o princípio da efetividade
da execução.
Inicialmente, abordaremos a execução de uma maneira geral,
apresentando seu conceito e seu desenvolvimento histórico. Em seguida,
passaremos a analisar a execução trabalhista, discorrendo sobre seus pressupostos,
a competência jurisdicional, a legitimidade ativa e a legitimidade passiva, as fontes
legais, os princípios informativos do processo de execução. Estudaremos, ainda, a
responsabilidade patrimonial, os bens impenhoráveis e a execução por quantia certa
No terceiro capítulo, examinaremos a penhora. Mostraremos sua
definição na visão de renomados doutrinadores, seus efeitos e seus princípios
norteadores, os quais complementam-se com os princípios informativos do processo
de execução.
O quarto capítulo será aquele destinado ao estudo da penhora on-line.
Apresentaremos, com precisão, sua origem e seu funcionamento. Explicaremos
como se dá o processamento da solicitação de bloqueio. Indicaremos os prazos para
resposta à solicitação e para a efetivação das determinações judiciais de
transferência e desbloqueio. Identificaremos os posicionamentos contrários ao uso
da penhora on-line com suas justificativas e, ao mesmo tempo, iremos refutá-los,
apresentando justificações. Por fim, analisaremos o conflito aparente existente entre
os princípios da celeridade, da efetividade e da utilidade em face do princípio da
menor onerosidade para o devedor, demonstrando sua solução por meio do
princípio da proporcionalidade.
Concluiremos que a penhora on-line é instrumento que proporciona uma
execução trabalhista mais célere e efetiva, sendo defendida tanto pelo Poder
2EXECUÇÃO
2.1 Conceito
Seguindo os ensinamentos de Dinamarco, temos que execução é “o
conjunto de medidas com as quais o juiz produz a satisfação do direito de uma
pessoa à custa do patrimônio de outra, quer com o concurso de vontade desta, quer
independentemente ou mesmo contra ela”. 1
Segundo Francisco Gérson Marques de Lima:
chama-se ação de execução a medida judicial disponibilizada ao vencedor da lide, ao credor e, excepcionalmente, ao devedor, para fazer valer o comando da sentença condenatória, quando não cumprido voluntariamente, ou cobrar ao devedor o pagamento da dívida esculpida no título executivo, seja este judicial ou extrajudicial.2
Manoel Antônio Teixeira Filho apresenta antigo conceito próprio, com
modificações literais, afirmando que:
[...] execução forçada é a atividade jurisdicional do Estado, de índole essencialmente coercitiva, desenvolvida por órgão competente, de ofício ou mediante iniciativa do interessado, com o objetivo de compelir o devedor ao cumprimento da obrigação contida em sentença condenatória transitada em julgado ou em acordo judicial inadimplido ou em título extrajudicial previsto em lei.3
Execução Trabalhista seria, portanto, a atividade jurisdicional
desenvolvida no âmbito da seara Processual Trabalhista, destinada a dar efetividade
ao cumprimento de obrigação constante de título executivo judicial ou extrajudicial,
em face do inadimplemento desta, podendo ser promovida a requerimento da parte
interessada ou de ofício pelo órgão judicial competente.
1 DINAMARCO, Cândido Rangel.
Instituições de direito processual civil. Vol. IV. São Paulo: Malheiros,
2004. p.34.
2 LIMA, Francisco Gérson Marques.
Direito processual do trabalho. 3ª edição, rev. atual. ampl. São
Paulo: Malheiros, 2001. p. 401.
3 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio.
Execução no processo do trabalho. 7ª edição rev. atual. São
2.2 Evolução histórica
2.2.1 Direito Romano
Inicialmente, no Direito Romano, o devedor ligava-se fisicamente ao
cumprimento de suas obrigações para com o credor. Este podia dispor do corpo
daquele, em caso de inadimplemento das obrigações.
No sistema da manus injectio, dispunha o credor da vida e/ou liberdade
do devedor.
Trinta dias após a prolação de sentença condenatória, o devedor deveria
cumprir com sua obrigação ou apresentar alguém que a pagasse. Caso contrário, o
credor/exeqüente poderia encarcerá-lo, dando a oportunidade a parentes do
devedor ou terceiros de pagarem a dívida. Não ocorrendo este evento, o devedor
poderia ser morto ou vendido como escravo fora dos limites de Roma. Sendo vários
os credores, poderia o corpo do devedor ser dividido entre eles por meio de
esquartejamento, porém, mostrava-se mais adequado ao interesse dos credores a
venda do devedor como escravo, com a conseqüente repartição do produto.
Com a Lex Poetelia, no século V, iniciou-se a humanização da execução
no Direito Romano, subtraindo ao credor a possibilidade de dispor da liberdade e/ou
vida do devedor.
O devedor deixou de responder com a própria vida e/ou liberdade,
passando a ser atingido o conjunto de seus bens avaliáveis economicamente.
Percebe-se aqui o início da responsabilidade patrimonial. Destaca-se a significativa
influência do cristianismo na humanização da execução, principalmente, por pregar a
Surge a pgnoris capio, uma espécie de constrição extrajudicial
concernente na apreensão de bens do devedor pelo credor, feita na presença de
três testemunhas, sem a necessidade da presença do devedor ou do magistrado. A
sua utilidade prática era diminuta, pois o credor não podia alienar os bens
apreendidos, mas intimidava o devedor com a possibilidade de destruição dos
referidos bens. E esta hipótese assemelha-se à vingança.
A execução patrimonial evoluiu, tomando o lugar da corpórea. Isso não
decorreu apenas da humanização da execução, mas também do fato de o
patrimônio do devedor satisfazer de maneira mais eficaz aos direitos dos credores.
A actio iudicati veio a estabelecer a necessidade de sentença
condenatória e de esta impor o pagamento de quantia certa para possibilitar a
execução. Apesar disso, a execução poderia atingir a integralidade dos bens do
devedor e não apenas a parte necessária para garantir o crédito exeqüendo,
ocorrendo, pois, excesso na execução. Mas a execução tinha lugar somente após
decorrido o prazo concedido ao devedor para a satisfação voluntária da obrigação, o
tempus iudicati.
Com a bonorum venditio, no século VII, percebem-se três momentos
semelhantes à atual execução: a constrição, o depósito e a expropriação, por meio
da alienação em hasta pública.
Procedia-se à arrecadação dos bens do devedor, que passavam à
administração do curator bonorum, sendo, posteriormente, alienados em hasta
pública pelo magister.
Como variação da bonorum venditio surgiu a distractio bonorum. Nesta, a
constrição restringia-se apenas aos bens necessários para satisfazer o valor da
Na bonorum cessio, ao invés da apreensão extrajudicial dos bens do
devedor, abria-se a possibilidade de o próprio devedor entregar seus bens aos
credores a fim de que estes, com a venda dos referidos bens, promovessem a
satisfação de seus créditos, subsistindo a obrigação em caso de haver
remanescente. Na vigência do Código Teodosiano, a bonorum cessio tornou-se
permitida apenas aos devedores que, sem culpa, caíssem em insolvência.
Segundo Manoel Antônio Teixeira Filho:
Essas execuções tinham caráter privado, pois os atos que as compunham eram, quase sempre, extrajudiciais. O processo extraordinário, contudo, assinala o fim do período clássico do direito romano, e com ele surge a execução com traços característicos do procedimento jurisdicional, pois ela se desenvolve sem a intervenção pessoal dos credores. O ato de apreensão dos bens não era realizado pelo credor e sim pelos apparitores,
espécie embrionária dos atuais oficiais de justiça. Além disso, a penhora não abarcava todo o patrimônio do devedor, e sim bens em número suficiente para satisfazer a obrigação. Com a penhora, o credor tinha preferência em relação aos demais; a estes caberia apenas o saldo do produto da venda dos bens, caso houvesse. Se, todavia, diversos credores efetuassem penhora do mesmo bem, constituía-se entre eles um concurso, atendendo-se, com isso, à regra da par conditio creditorum.4
2.2.2 Direito Medieval
Com a queda do Império Romano do Ocidente, a invasão bárbara fez
retroceder a execução aos tempos do primado do interesse individual. Em
conseqüência, surgiu e teve larga prática a penhora privada levada a efeito pelo
próprio credor, sem a intervenção do juiz.
A execução não era promovida após a cognição. Esta ocorria
posteriormente à execução, ou no curso desta, quando o devedor não reconhecia a
obrigação frente ao credor. Ocorria a apreensão de bens do devedor antes mesmo
de ter início a execução, sem exigência da prova do direito alegado.
No decorrer dos anos, contudo, tornou-se obrigatória a presença do juiz, a
quem competia autorizar a penhora de bens pelo credor. Logicamente, percebe-se
que o modo bárbaro de processar a execução era mais célere e efetivo, porém,
extremamente oneroso ao devedor e, por vezes, injusto.
Passou-se, então, a uma execução que mesclava elementos da execução
romana e da execução bárbara. Surgiu a possibilidade de a sentença ser posta em
execução por si mesma, sem qualquer outra formalidade. Instituiu-se, ainda, a
execução por officium iudicis, de procedimento mais célere.
Destacamos que, na Idade Média, durante o desenvolvimento do
comércio e das navegações, surgiram alguns títulos executivos extrajudiciais.
2.2.3 Atualidade
Hoje, a execução adota vários elementos decorrentes de sua evolução
histórica, principalmente do Direito Romano. Entre nós, vigora a responsabilidade
patrimonial, na qual o autor responde por suas dívidas apenas com seus bens,
guardando semelhança com o que ocorreu com a Lex Poetelia, não podendo a
3 EXECUÇÃO TRABALHISTA
3.1 Pressupostos
Pressupostos são os requisitos necessários ao deferimento da tutela
jurisdicional executiva.
Temos como pressupostos a existência de título executivo judicial ou
extrajudicial e o inadimplemento de obrigação por parte do devedor.
O inadimplemento seria o não atendimento à obrigação pactuada com o
credor, após a ocorrência do termo ou o implemento da condição, tornando-a
exigível. Essa seria a condição da ação relativa ao interesse-necessidade.
O título executivo irá corporificar o direito exigível e certo, que também
deverá ser líquido, a fim de propiciar o início da execução. Essa seria a condição da
ação referente ao interesse-adequação.
Francisco Meton Marques de Lima nos apresenta relação dos títulos
executivos judiciais e dos extrajudiciais:
São títulos executivos judiciais as sentenças condenatórias, o acordo
homologado em juízo, a sentença homologatória de laudo arbitral, a sentença
estrangeira trabalhista homologada pelo STF, o formal e a certidão de partilha,
quando a parte que coube ao beneficiário é crédito trabalhista, e as contribuições
previdenciárias decorrentes de sentença ou acordo trabalhista;
Os extrajudiciais são o termo de acordo trabalhista firmado perante as
Ministério Público do Trabalho e o laudo arbitral a que se refere o art.83, XI, da Lei
Complementar nº75.5
3.2 Competência
Conforme dispõe o art.877 da CLT, é competente para a execução das
decisões, melhor seria dizer do título executivo judicial, o juiz ou Presidente do
Tribunal que tiver conciliado ou julgado originariamente o dissídio.
E, de acordo com o art.877-A da CLT, é competente para a execução de
título executivo extrajudicial o juiz que teria competência para o processo de
conhecimento relativo à matéria.
3.3 Legitimidade ativa e legitimidade passiva
Na Justiça do Trabalho, a execução trabalhista poderá ser promovida
pelas partes e pelos sucessores. O INSS também será sujeito ativo, quando a
execução versar sobre contribuições previdenciárias. De acordo com o parágrafo
único do artigo 878 da CLT, o Ministério Público do Trabalho poderá promover a
execução quando se tratar de decisão dos Tribunais Regionais. Destacamos que a
execução trabalhista poderá ser iniciada, ex officio, pelo próprio juiz ou Presidente
do Tribunal competente.
São legitimados passivos o devedor originário, os solidários, os
sucessores, no caso de sucessão de empresas, e os responsáveis subsidiários.
5 LIMA, Francisco Meton Marques de.
Elementos de direito do trabalho e processo do trabalho. 11ª
São legitimadas passivas solidárias as empresas que compõem o mesmo
grupo econômico, em que uma controla ou dirige as outras, independentemente de
ter figurado no pólo passivo da reclamação que deu origem ao título executivo.
Devemos lembrar que em uma reclamação proposta contra mais de um
empregador, um poderá ser o principal executado e o outro o responsável
subsidiário, em face do inadimplemento do primeiro. E, no caso da desconsideração
da personalidade jurídica, os sócios administradores ocuparão o pólo passivo da
execução.
3.4 Fontes legais
A Consolidação das Leis do Trabalho apresenta capítulo específico sobre
a execução no Processo do Trabalho, que vai do art.876 ao art.892. Porém, não
devemos deixar de lembrar o que dispõe o art.769 da CLT, in verbis: “Nos casos
omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do
trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”.
Destarte, o Código de Processo Civil é fonte legal subsidiária da execução
trabalhista.
Citemos, também, o artigo 889 da CLT:
Art. 889 - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.
A execução fiscal é regida pela Lei nº6.830/80, a qual traz regramento
destinado a dar maior celeridade ao processo executivo, sendo, por isso, aplicada
Ressaltamos que existe uma ordem de prioridade entre as fontes legais.
Logicamente, aplicam-se, em primeiro lugar, as regras contidas na Consolidação das
Leis do Trabalho, seguindo-se a estas a Lei de Execução Fiscal e, por fim, o Código
de Processo Civil.
Todavia, a Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 882,
estabelece que a gradação legal a ser seguida na indicação e penhora de bens será
a prevista no artigo 655 do Código de Processo Civil, ao invés de se seguir a ordem
estabelecida no artigo 11 da Lei de Execução Fiscal.6
Não há entendimento uniforme com relação à aplicação das recentes
alterações do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, especialmente no
que concerne à execução trabalhista, pois, em relação a esta, existe procedimento
próprio previsto na CLT.
3.5 Princípios informativos do processo de execução
Antes de abordamos especificamente os princípios informativos do
processo de execução, deixemos claro que o princípio da efetividade da execução e
o princípio do menor sacrifício possível do executado serão abordados, com
precisão, no capítulo relativo à penhora on-line.
6
CPC - Art. 655. Incumbe ao devedor, ao fazer a nomeação de bens, observar a seguinte ordem: I -
dinheiro; II - pedras e metais preciosos; III - títulos da dívida pública da União ou dos Estados; IV - títulos de crédito, que tenham cotação em bolsa; V - móveis; Vl - veículos; Vll - semoventes; Vlll - imóveis; IX - navios e aeronaves; X - direitos e ações.
3.5.1 Princípio da natureza real da execução
A execução ou atividade processual executiva deve atingir
exclusivamente o patrimônio, e não a pessoa do devedor/executado.
Como visto anteriormente, nos primórdios, a execução era pessoal, ou
seja, o devedor não raro era submetido a sacrifícios que comprometiam a sua
integridade física ou a sua liberdade.
Devido a uma fase de humanização da execução, a mesma passou a ser
real e não pessoal, na medida em que é o patrimônio do devedor que passa a ficar
sujeito à constrição e à expropriação (arts.591 e 646, CPC).
3.5.2 Princípio da limitação expropriatória
A penhora deve limitar-se à quantidade de bens suficiente para garantia
da execução, bem como a arrematação cinge-se ao valor que for suficiente para o
pagamento do credor.
3.5.3 Princípio da economia da execução
Toda a atividade jurisdicional executiva deve realizar-se da maneira que,
satisfazendo o direito do credor, seja o menos prejudicial possível ao devedor
3.5.4 Princípio do ônus da execução
Todas as despesas decorrentes da execução forçada estão a cargo do
devedor. A execução corre às expensas (por conta) do devedor. É corolário do
princípio da responsabilidade pelas despesas processuais.
3.5.5 Princípio do respeito à dignidade humana
A execução não deve levar o executado a uma situação incompatível com
a dignidade da pessoa humana.
3.5.6 Princípio da disponibilidade da execução
Também chamado de princípio da livre disponibilidade do processo pelo
credor. O exeqüente tem a faculdade de desistir da execução ou de algumas
medidas executivas, independentemente do consentimento da parte contrária. A
desistência refere-se ao mérito da ação, extinguindo o direito sobre o qual se funda
a ação. A renúncia diz respeito ao processo e não obsta à renovação da execução.
3.5.7 Princípio da execução provisória
A execução provisória é possível na execução trabalhista, da mesma
forma em que é apresentada no Processo Civil, com a responsabilização do
exeqüente pela reparação de prejuízos, a previsão de cauções. Neste caso, tendo
de sessenta salários mínimos, estando o exeqüente em estado de necessidade,
pode-se dispensar a caução para levantamento de crédito, conforme art.588 do
CPC, de aplicação subsidiária ao Processo Laboral, nos termos do art.769 da CLT.
3.5.8 Princípio do impulso oficial
Em face do disposto no art.262 do CPC, conclui-se que o juiz, como regra
geral, não pode iniciar ex officio o processo executivo, mas deve promover o seu
desenvolvimento regular independentemente da atividade das partes.
A execução trabalhista, a despeito do exposto em tal princípio, poderá ser
promovida de ofício pelo juiz da causa, ressaltando-se a execução das contribuições
previdenciárias.
O direito à justa duração do processo, agora previsto na Carta Política de
1988, erigido ao patamar de direito fundamental pela Emenda Constitucional nº45 de
08/12/2005, constitui lastro e norte ao impulso oficial.
Logicamente, não deve o juiz substituir as partes, agindo com
parcialidade. Não é equívoco afirmar-se que alguns magistrados da Justiça do
Trabalho contribuíram para caracterizar este ramo do Poder Judiciário como
protecionista, ou mesmo paternalista, em relação ao trabalhador.
Isto é, o magistrado não deve substituir o exeqüente de maneira tal a
aparentar ser procurador deste, ou mesmo parecer estar defendendo direito próprio.
3.5.9 Princípio da preclusão
A preclusão é a perda da possibilidade do exercício de um direito, em face
Podendo se dar, ainda, quando o ato for praticado no prazo, mas de forma irregular
(preclusão temporal), ou no caso da preclusão consumativa, quando a parte já
exerceu o seu direito, não mais podendo faze-lo. E, por fim, no caso da preclusão
lógica, o exeqüente pratica ato em oposição ao que se tem direito de exercitar.
Um exemplo de prescrição na execução ocorre quando o devedor deixa
decorrer o prazo para a indicação de bens in albis, passando para o credor a
oportunidade de indicação de bens. Um outro exemplo seria o depósito pela
executada da quantia devida para pagamento da dívida e extinção da execução,
fazendo, em seguida, a interposição de embargos.
3.5.10 Princípio da lealdade
Este princípio deve nortear todo o processo.
Não deverá o executado se valer de artifícios para obstar o
desenvolvimento regular da execução, diminuindo-lhe injustificadamente a
efetividade.
Em contrapartida, atendendo-se também ao princípio da humanização,
não poderá valer-se o credor de meios que afetem a dignidade do executado com o
fim de dar efetividade à execução.
3.5.11 Princípio da celeridade
O princípio da celeridade, abalizado atualmente pelo princípio da razoável
duração do processo, este consagrado constitucionalmente, deve dirigir a prestação
respeitando a formalidade necessária à segurança das partes e ao desenvolvimento
regular do processo. Deve-se atentar para os princípios do contraditório, da ampla
defesa e do devido processo legal.
O princípio da celeridade ganha relevo na execução trabalhista, em razão
da natureza do crédito a que se visa adimplir.
Tratando-se de crédito de natureza alimentar, não deve a execução
trabalhista se prolongar a ponto de permitir que o exeqüente atinja o estado de
inanição, aguardando que a tutela jurisdicional se torne efetiva.
Não se trata de promover o desrespeito aos princípios do contraditório e
da ampla defesa, procedendo-se a uma verdadeira inquisição, e sim, alcançar os
objetivos colimados com a criação dessa justiça especializada, dentre os quais
destaca-se a promoção célere das ações frente a ela intentadas.
3.5.12 Princípio da publicidade
A publicidade faz-se necessária para possibilitar a fiscalização da
prestação jurisdicional, dando a esta maior legitimidade.
Como exemplo, podemos citar o artigo 888 da CLT:
Art. 888 - Concluída a avaliação, dentro de dez dias, contados da data da nomeação do avaliador, seguir-se-á a arrematação, que será anunciada por edital afixado na sede do juízo ou tribunal e publicado no jornal local, se houver, com a antecedência de vinte (20) dias.
3.5.13 Princípio da impenhorabilidade
A impenhorabilidade tem suporte no princípio da dignidade da pessoa
Aliado ao princípio da humanidade, garante a manutenção, o respeito, ao
princípio da dignidade da pessoa humana, não podendo haver o constrangimento do
devedor a ponto de reduzí-lo a uma condição que cause risco a sua sobrevivência.
Acrescente-se a isso o respeito a valores familiares e sentimentais.
Não podem, porém, tais impedimentos apresentarem-se só de maneira
absoluta, tendo em vista que deverá haver o sopesamento dos valores conflitantes,
de maneira a não se sacrificar demais um a fim de favorecer ao outro.
3.6 Responsabilidade patrimonial
CPC - Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas
obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições
estabelecidas em lei.
Como dito anteriormente, hoje, a execução tem como objeto não a
pessoa física do devedor, e sim o seu patrimônio. Isso é decorrência do princípio de
que toda execução é real.
Esse deslocamento do objeto da execução forçada do corpo do devedor
para o seu patrimônio econômico, denominado de humanização da execução, foi
produto da influência da ideologia cristã sobre o espírito dos legisladores e dos
governantes de outrora.
Conceitua-se responsabilidade patrimonial como a suscetibilidade de um
bem ou de todo um patrimônio a suportar os efeitos da sanção executiva.
Em regra, todo o patrimônio do devedor responde por suas obrigações.
Só em casos excepcionais um bem de propriedade do devedor se considera imune à
Só o patrimônio do devedor responde, não havendo que se valer de bens
de pessoa diversa da que se beneficiou de um crédito. Porém, devemos lembrar as
hipóteses excepcionais em que algum bem de terceiro responde, como no caso da
fraude contra credores ou da fraude à execução, em que o bem sai do patrimônio do
devedor-alienante, mas continua sob a responsabilidade patrimonial deste.7
Além disso, recordamos que a responsabilidade patrimonial tem um
sentido muito mais amplo, compreendendo todos os que se encontram situados no
pólo passivo da relação processual executiva, desde que para isso estejam
legalmente legitimados, como é o caso do espólio, dos herdeiros, dos sucessores do
novo devedor e do fiador (art.568, CPC).
Os bens presentes são aqueles que no momento da constituição da
obrigação já estavam no patrimônio do executado. Os bens futuros são os que
passam a integrar o acervo patrimonial do devedor após a constituição da obrigação,
mas em tempo hábil para serem colhidos pela execução.
Ressaltamos que os bens presentes ou futuros que respondem pelas
dívidas do executado são somente aqueles economicamente apreciáveis,
economicamente valorados, excluindo-se, assim, aqueles de valor meramente
afetivo ou sentimental, como o anel nupcial ou os retratos de família. Ou seja, só os
bens que podem converter-se em dinheiro mediante a execução é que podem
responder pelas obrigações do devedor.
Se, quando iniciada a execução por quantia certa, ficar demonstrado que
o devedor não possui bens com os quais possa responder a ela, a execução não
será extinta nem se poderá cogitar, mais tarde, de prescrição liberatória; verificada a
hipótese, incumbirá ao juiz suspender a execução pelo prazo de um ano, como
determina o art.40 da Lei nº6.830/80; decorrido esse prazo sem que sejam
encontrados bens penhoráveis, os autos serão arquivados em caráter provisório.
Mas, encontrados bens que possam ser submetidos à alienação em hasta pública,
os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução.8
Reza o art. 882 da CLT que:
o executado que não pagar a importância reclamada poderá garantir a execução mediante depósito da mesma, atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no art. 655 do Código Processual Civil.
O Código de Processo Civil, em seu artigo 655, apresenta um rol
meramente exemplificativo de bens que podem ser objeto de constrição judicial,
tendo em vista a responsabilidade patrimonial.
Devemos lembrar que, conforme art.769 da CLT, nos casos omissos, o
direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho,
exceto naquilo em que com este for incompatível.
Destarte, aplicam-se à execução trabalhista os artigos 649 e 650 do CPC.
Referidos artigos excluem da responsabilidade patrimonial, respectivamente, os
bens relativamente impenhoráveis e os absolutamente impenhoráveis.
Acrescentem-se a estes os bem que, embora pertençam ao obrigado, haja sido por ele oferecidos
regularmente em garantia real a outro credor, ou seja, os bens que hajam sido
oferecidos em garantia real antes da constituição de uma segunda obrigação.
Seguindo as lições de Dinamarco, afirmamos que o art.655 do CPC, em
seu inciso I, ao falar em dinheiro, deve ser interpretado de maneira a abranger os
depósitos bancários, aplicações em instituições financeiras ou ativos financeiros. O
dinheiro está nos bancos e o patrimônio pecuniário de uma pessoa não passa de
uma realidade contábil. Tecnicamente, o correntista ou aplicador é um credor da
instituição financeira por esses valores; ao fazer o depósito ou aplicação, ele
transfere o domínio da pecúnia depositada e, deixando de ser seu proprietário,
passa a ser titular de um crédito pelo que depositou ou aplicou, mais os acréscimos
legais e contratuais que se forem vencendo ao longo do tempo.9
3.7 Bens impenhoráveis
Bens impenhoráveis são aqueles previstos nos artigos 649 e 650 do
Código de Processo Civil, os quais são aplicados subsidiariamente ao Processo do
Trabalho, por força do artigo 769 da CLT.
O Código Adjetivo Civil prescreve nos incisos dos artigos 649 e 650 os
bens que são, respectivamente, absolutamente impenhoráveis e relativamente
penhoráveis. Ao lado dessas previsões, não podemos deixar de citar a
impenhorabilidade dos bens públicos. In verbis:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
II - as provisões de alimento e de combustível, necessárias à manutenção do devedor e de sua família durante 1 (um) mês;
III - o anel nupcial e os retratos de família;
IV - os vencimentos dos magistrados, dos professores e dos funcionários públicos, o soldo e os salários, salvo para pagamento de prestação alimentícia;
V - os equipamentos dos militares;
Vl - os livros, as máquinas, os utensílios e os instrumentos, necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;
Vll - as pensões, as tenças ou os montepios, percebidos dos cofres públicos, ou de institutos de previdência, bem como os provenientes de
liberalidade de terceiro, quando destinados ao sustento do devedor ou da sua família;
Vlll - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se estas forem penhoradas;
IX - o seguro de vida;
X - o imóvel rural, até um modulo, desde que este seja o único de que disponha o devedor, ressalvada a hipoteca para fins de financiamento agropecuário.
Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens:
I - os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados a alimentos de incapazes, bem como de mulher viúva, solteira, desquitada, ou de pessoas idosas;
II - as imagens e os objetos do culto religioso, sendo de grande valor.
Devemos mencionar, ainda, a impenhorabilidade dos bens de família (Lei
nº8.009/90). É impenhorável o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade
familiar, abrangendo o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as
plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive
os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. Não
estão incluídos os veículos, as obras de arte e os adornos suntuosos.
A previsão da impenhorabilidade de bens visa a resguardar a dignidade
da pessoa do executado e de sua família. É pautada, portanto, na humanização.
No âmbito da execução trabalhista, as regras concernentes à
impenhorabilidade de bens vêm sendo debatidas, tendo em vista a natureza do
crédito trabalhista, que é alimentar.
Há, na verdade, o conflito aparente entre o princípio da dignidade da
Mas, na prática, ao invés de resolver-se este pseudoconflito por meio do princípio da
proporcionalidade, os magistrados aplicam a lei.
Temos, no caso do bem de família, regra que excepciona a
impenhorabilidade em face dos créditos dos trabalhadores da própria residência e
das respectivas contribuições previdenciárias, dentre outras possibilidades.
A impenhorabilidade liga-se à impossibilidade de expropriação. Esta é
indispensável à execução por quantia certa, sendo o ato pelo qual se obtém do
adquirente em hasta pública o dinheiro necessário a satisfazer o crédito do
exeqüente.
O objetivo central que comanda todas as impenhorabilidades é o de
preservar o mínimo patrimonial indispensável à existência decente do obrigado, sem
privá-lo de bens sem os quais sua vida degradaria a níveis insuportáveis.
São declarados impenhoráveis certos bens sem os quais o obrigado não
teria como satisfazer as necessidades vitais básicas de habitação, alimentação,
saúde, educação, transporte e lazer, nos limites da razoabilidade.
A previsão da impenhorabilidade absoluta está no campo da ordem
pública, na qual vigoram normas destinadas a preservar valores situados acima da
vontade dos sujeitos e do jogo técnico de ônus processuais. Destarte, a penhora de
bem absolutamente impenhorável constitui nulidade que deve ser declarada de
ofício pelo juiz.
Dinamarco assevera que:
se o titular de um bem penhorável pode aliená-lo por venda ou mesmo por doação, não há porque não pudesse nomeá-lo eficazmente à penhora (art.655, CPC). Ao fazê-lo, ele estaria manifestando claramente a renúncia a se valer do benefício da impenhorabilidade e seria um exagero negar a eficácia a essa renúncia.10
A impenhorabilidade relativa consiste no condicionamento da
responsabilidade patrimonial de um bem à extrema necessidade decorrente da
inexistência de outros livremente penhoráveis.
Segundo lição de Teixeira Filho:
A impenhorabilidade de certos bens associa-se à regra da menor onerosidade possível (art.620, CPC), que repudia execuções portadoras de sacrifícios maiores que o necessário, mas, tanto quanto ela, não é suficiente para converter-se em irracional obstáculo à efetivação dos direitos.11
3.8 Execução por quantia certa contra devedor solvente
No Processo do Trabalho, a execução por quantia certa contra devedor
solvente é a mais comum.
O art.646 do Código Adjetivo Civil, de aplicação subsidiária ao processo
do trabalho por força do art.769 da CLT, reza que “a execução por quantia certa tem
por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor”.
A execução por quantia certa contra devedor solvente inicia-se a
requerimento da parte interessada ou de ofício pelo juiz, com a conseqüente
expedição de mandado de citação, logicamente, após a liquidação do julgado, em
face da exigência legal de título líquido, certo e exigível.
Art. 880. O juiz ou presidente do tribunal, requerida a execução, mandará expedir mandado de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.
Será o executado, nos termos do artigo supra, citado para que pague, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a quantia devida ou garanta a execução, sob
pena de penhora.
A garantia poderá efetivar-se através do depósito da importância
executada com a ressalva de que se faz com a intenção de interpor embargos, ou
por meio da indicação de bens à penhora. Observe-se o disposto no art.882 da CLT:
Art. 882 - O executado que não pagar a importância reclamada poderá garantir a execução mediante depósito da mesma, atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no art. 655 do Código Processual Civil.
Caso o executado não pague nem garanta a execução, efetuará o oficial
de justiça a penhora de tantos bens quantos bastem ao pagamento da importância
Art. 883 - Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.
Tanto na indicação de bens por parte do executado, como na penhora a
ser efetivada pelo oficial de justiça, deverá ser observada a gradação legal
estabelecida pelo artigo 655 do CPC. Prevê, ainda, o artigo 656 do CPC as
hipóteses em que a indicação de bens à penhora ter-se-á por ineficaz. Senão
vejamos:
Art. 656. Ter-se-á por ineficaz a nomeação, salvo convindo o credor: I - se não obedecer à ordem legal;
II - se não versar sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento;
III - se, havendo bens no foro da execução, outros hajam sido nomeados; IV - se o devedor, tendo bens livres e desembargados, nomear outros que o não sejam;
V - se os bens nomeados forem insuficientes para garantir a execução; Vl - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os ns. I a IV do § 1o do artigo anterior.
Após a indicação de bens à penhora, abre-se prazo para manifestação do
exeqüente, o qual, discordando da mesma, deverá indicar bens outros capazes de
garantir a execução.
Poderá, inclusive, rejeitar a indicação de bens por serem estes inservíveis
à execução (ou de difícil comercialização) e requerer o uso da penhora on-line,
tendo em vista o disposto no provimento 001/2003 da Corregedoria Geral da Justiça
4 PENHORA
4.1 Definição
Nos dizeres de Oliveira: “A penhora traduz-se em meio coercitivo pelo
qual se vale o exeqüente para vencer a resistência do devedor inadimplente e
renitente na implementação do comando jurisdicional”.12
Em verdade, não basta ao Estado dizer o direito de forma abstrata. É
mister, também, que, em sendo necessário, o Estado vença a resistência da parte
inadimplente e, por meio da execução aparelhada, torne a realidade o comando
abstrato expresso na condenação.
Amauri Mascaro Nascimento assevera :
A característica fundamental da penhora está na sua realização como fato do processo, mas que tem a sua plena configuração como resultado da exteriorização dos comandos contidos no processo e formalizados pela sentença, daí porque os seus efeitos não são produzidos unicamente na esfera da relação processual, mas no mundo físico das coisas concretas. Através da penhora, dá-se uma modificação nas coisas materiais, consistente na transferência de patrimônio ordenada pela sentença. É a penhora o momento culminante de máxima atuação do direito, exatamente a ocasião em mais incisiva se faz a intervenção do Estado na atuação das normas jurídicas positivas.13
A penhora é ato de constrição imposto ao devedor inadimplente, uma
espécie de violência legitimada eficaz a superar as resistências, por meio do qual o
Estado-juiz pressiona o devedor a cumprir com a obrigação contida no comando
abstrato da sentença. Seus reflexos atingem o patrimônio do devedor renitente. É o
momento mais importante que se segue à efetiva citação. Com a penhora, inicia-se
verdadeiramente a execução forçada.
12 OLIVEIRA, Francisco Antônio de.
Manual de penhora: enfoques trabalhistas e jurisprudência. 2ª
edição rev.atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.22.
13 NASCIMENTO, Amauri Mascaro.
Curso de direito processual do trabalho. 20ª edição. São Paulo:
Na visão de Francisco Gérson Marque de Lima:
[...]constitui-se a penhora num ato material que o Estado realiza (jus
imperii), no fito de ensejar a expropriação e a conseqüente satisfação do
direito do credor. Este constrangimento feito pelo Estado não retira a propriedade do devedor sobre o bem penhorado, simplesmente impõe limitações à sua disponibilidade e ao seu uso.14
Segundo lição de Wagner D. Giglio:
[...] penhora significa a apreensão judicial de determinados bens do executado, para que, transformados em dinheiro com a venda em praça ou leilão (salvo no caso da penhora já recair sobre dinheiro), ou adjudicados ao exeqüente ou a ele outorgados seus rendimentos, seja satisfeita a condenação.15
Conforme entendimento de Dinamarco:
Penhora é o ato pelo qual se especifica o bem que irá responder pela execução. De todos os bens que respondem pelas obrigações do executado, um é escolhido e separado dos demais, ficando a partir de então afetado à execução forçada, ou seja, comprometido com uma futura expropriação a ser feita com o objetivo de satisfazer o direito do exeqüente; penhorar é, portanto, predispor determinado bem à futura expropriação no processo executivo.16
Freitas Câmara, assim define: “A penhora é ato executivo, através do qual
se apreendem bens do executado, implementando-se, assim, a sujeição patrimonial
que se tornou possível em razão da responsabilidade patrimonial”.17
Concluindo, entendemos que penhora é ato praticado pelo Estado-juiz,
em tutela ao direito do exeqüente, este consubstanciado em título executivo judicial
ou extrajudicial, quando no curso da execução, impondo-se sobre o patrimônio do
executado de maneira a deste subtrair determinados bens de sua livre disposição,
com o fim de promover a entrega ao credor da importância que lhe é devida, fazendo
prevalecer a justiça.
14 LIMA, Francisco Gérson Marques. op. cit. p. 451. 15 GIGLIO, Wagner D.
Direito processual do trabalho. 14ª edição rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2005.
p.518.
16 DINAMARCO, Cândido Rangel. op. cit. p.520. 17 CÂMARA, Alexandre Freitas.
Lições de direito processual civil. Vol.II. 10ª edição rev. atual. Rio de
4.2 Efeitos
Seguindo os ensinamentos de Dinamarco, destacamos três efeitos da
penhora. O primeiro consiste em impedir que a alienação do bem pelo executado o
subtraia ao estado de sujeição em que se encontra; o segundo refere-se a retirá-lo
provisoriamente do conjunto dos bens que respondem pelas demais obrigações
daquele; e o terceiro consubstancia-se em privar o executado da detenção física do
bem18.
Esclarecendo, podemos afirmar que a alienação não produzirá efeitos em
relação à execução. O bem continua a garantí-la, apesar da mudança de
propriedade. É mais do que lógico que a conduta concernente na alienação de bem
penhorado não deve causar prejuízo ao exeqüente, bem como ao terceiro de boa-fé.
Acrescentamos que a penhora retira o bem constrito do conjunto dos
bens que respondem pelas demais obrigações, em virtude do disposto no art.612 do
CPC, pois a penhora estabelece uma preferência cronológica entre as constrições,
tendo em vista que primeiro deve-se atender à obrigação que fundamenta a
execução que gerou a primeira penhora.
Por fim, a privação do executado da detenção dos bens destina-se a
evitar a alienação dos bens penhorados e a facilitar a sua arrematação. A despeito
disso, é mais do que comum a nomeação do executado como depositário, mas,
neste caso, estará detendo o bem em nome do juízo.
Câmara apresenta lição no sentido de que existem duas ordens de efeitos
da penhora, os efeitos materiais e os efeitos processuais. Seriam efeitos
processuais: garantir o juízo; individualizar os bens que suportarão a atividade
executiva; e gerar para o exeqüente direito de preferência. Teríamos como efeitos
materiais: retirar do executado a posse direta do bem penhorado; e tornar ineficazes
os atos de alienação ou oneração do bem apreendido judicialmente.19
Devemos notar que os efeitos da penhora confundem-se, em verdade,
com as finalidades ou objetivos da mesma, como mais claramente se percebe no
caso de garantir o juízo.
Oliveira, ao citar o mestre Liebman, traz à baila lição no sentido de que há
dupla finalidade na penhora. Primeira, individuar e apreender efetivamente os bens
que se destinam aos fins da execução, preparando, assim, o ato futuro de
desapropriação; segunda, visa a conservar os bens individuados na situação em que
se encontram, evitando que sejam escondidos, deteriorados ou, ainda, alienados em
prejuízo da execução em curso. Acrescenta, outrossim, que “a penhora exerce uma
pressão psicológica sobre o devedor que está sendo executado, com a sensação de
perda do patrimônio”.20 Concordamos com tal afirmação e salientamos que, no caso
de penhora de contas bancárias ou ativos financeiros, aquela sensação de perda
patrimonial estimula a formulação de acordos entre as partes.
Como bem afirma DINAMARCO:
O bem penhorado sai da condição abstrata que é a responsabilidade patrimonial e passa à situação de bem constrito, ou seja, concretamente sujeito à autoridade do juiz em relação a determinado crédito. Bem constrito é bem sobre o qual se impõe uma sujeição, ficando o titular impedido de exercer sobre ele qualquer ato capaz de subtraí-lo à autoridade do juiz.21
Os efeitos da penhora foram apresentados da maneira, denominação e
classificação mais comumente apresentadas pela doutrina, não havendo grande
distinção entre as enfocadas. O mínimo que devemos ter em mente é que a penhora
acarreta uma diminuição na livre disponibilidade do executado sobre o bem afetado.
O que ocorre não é a perda da propriedade, mas a perda da posse direta. É prevista
em lei a nomeação do executado como fiel depositário, hipótese em que manterá o
contato com o bem, mas com o dever de conservá-lo, atribuído pelo Estado-juiz.
Lembremos que a penhora visa a garantir o juízo. Porém, nem sempre
isso será possível, seja em virtude da inexistência ou insuficiência de bens, seja pela
proteção legal de cunho social ou sentimental que legitima a existência de bens
impenhoráveis. Por isso, não nos conformamos com a inclusão da garantia do juízo
apenas como efeito da penhora, mas também como verdadeiro objetivo desta, o
qual poderá ser atingido ou não. Daí relembramos a não distinção doutrinária acerca
dos objetivos e dos efeitos da penhora.
A perda da propriedade do bem objeto de penhora só ocorrerá com a sua
expropriação, seja esta decorrente de arrematação, ou mesmo de adjudicação,
dando-se ao executado a opção de remí-la.
4.3 Princípios norteadores
4.3.1 Suficiência
É o que vem exteriorizado através do disposto no art.883 da CLT:
Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.
A penhora visa à constrição de bens que apenas bastem para garantir a
execução, e não que onerem excessivamente o devedor.
É cediço que, quando levados à hasta pública, os bens objeto de
solução do problema, ou penhoram-se bens de maneira suficiente a suprir tal lacuna,
ou prossegue-se com a penhora de outros bens, após o praceamento ou leilão dos
primeiros, a fim de garantir o cumprimento da obrigação em sua integralidade.
4.3.2 Utilidade
“Art.659... §2º Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o
produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo
pagamento das custas da execução”.
A execução deve mostrar-se frutífera, caso contrário, deverá ser
suspensa. A insuficiência de bens pode ser originária (desde o início da execução)
ou superveniente ( após a apreensão de bens), quando os bens constritos sofrem
desvalorização em virtude de fenômenos intrínsecos e extrínsecos, devendo nestes
casos, ser reforçada a penhora.
Assevera Francisco Antônio de Oliveira:
A regra civilista presidida pelo parágrafo 2º, do artigo 659, do Código de Processo Civil, não tem aplicação em sede trabalhista, cuja natureza alimentar tem preferência sobre a cobrança das custas. Disso resulta que os bens serão penhorados, desde que suficientes para pagar uma parte do crédito, prosseguindo-se na penhora de outros bens, quando isso for possível. As custas serão pagas a final. Isso se dá em virtude da preferência do crédito trabalhista (art.186 e art.187 do CTN e art.29 da Lei nº6.830/80).22
4.3.3 Especificidade
Através da penhora especificam-se os bens que se destinarão
exclusivamente à satisfação do crédito exeqüendo, vinculados que ficam, por
disposição processual, ao atendimento do direito do credor. Como corolário desse
princípio, temos o princípio do credor mais diligente, do qual decorre o fato de que o
credor em favor do qual for lavrada a 1ª penhora possui o direito de preferência
sobre o outro.
Quando se fala em credor mais diligente, fazemos referência ao fato do
exeqüente que primeiro levar o bem à hasta pública receber o seu crédito,
remetendo o que sobejar ao exeqüente que tiver primeiro lugar na ordem de
preferência entre as penhoras. Logicamente, podem coincidir a pessoa do
exeqüente que realizou a primeira penhora e a do credor mais diligente, e, assim,
espera-se.
É mais do que comum, na casuística da execução, que os bens
penhorados, quando em hasta pública, não alcancem o valor de mercado.
Tomando-se isso em conta, deve-Tomando-se priorizar a penhora sobre bens ainda não constritos
judicialmente, elegendo-se a penhora sobre bem já penhorado em caso excepcional.
4.3.4 Afetação
O princípio da afetação pode ser considerado como corolário do princípio
da especificidade. Por meio dele os bens penhorados são afetados à execução, ou
seja, da finalidade desta não podem ser desvencilhados, servindo à expropriação no
4.3.5 Humanização
Lastreado pelos valores inerentes à dignidade da pessoa humana,
referido princípio exclui da incidência da penhora os bens considerados mínimos
para garantir a dignidade do devedor (bens absolutamente impenhoráveis e bens
relativamente impenhoráveis). São bens que atendem desde a necessidade primária
até aqueles que se ligam a motivos sentimentais.
Da mesma forma, vale ressaltar que se deve almejar a preservação da
dignidade do credor, pois, considerando a natureza alimentar do crédito trabalhista,
devemos confrontar a necessidade premente do trabalhador de manter a
subsistência familiar e o bem-estar do devedor.
4.3.6 Princípio da simplicidade
Segundo Oliveira: “Sempre que o ato puder ser tido como válido, deve o
juiz referendá-lo, ainda que não formalmente perfeito, mesmo por que existirão
casos em que as partes estarão sós, sem a presença do advogado”.23
A ausência de formalismo faz-se necessária em juízo, principalmente
quando presente o jus postulandi. Deve-se ater mais ao substrato, à substância, ao
contido nos atos processuais, do que à forma como são praticados.
Diferente do juízo comum (estadual e federal), o juiz do trabalho há de ser
menos formalista e mais preocupado com a rápida prestação jurisdicional. Isto,
todavia, não significa que não venha a prestigiar aquela formalidade necessária à
segurança das partes e à saúde do processo que transcorrerá sem vícios.24
5 PENHORA ON-LINE
5.1 Noção Geral
A penhora on-line é resultado da modernização do aparelhamento
judiciário e da busca pelo processo virtual, do uso da internet e das operações em
tempo real.
Referida penhora tem sua origem na penhora de créditos do executado,
na penhora sobre a renda e na penhora na boca do caixa. O grande diferencial é o
abandono do excessivo número de ofícios e de mandados.
A penhora on-line dá-se através da internet, por meio de troca de
informações entre o Poder Judiciário, o Banco Central e as demais instituições
bancárias e financeiras do País. Tal compartilhamento de informações possibilita ao
juiz, através de comunicação em tempo real (on-line), localizar créditos do devedor,
por meio de informações obtidas pelo Banco Central Junto às demais instituições
bancárias, e solicitar o bloqueio apenas do numerário suficiente à satisfação do
crédito exeqüendo, determinando, em seguida, a transferência dos valores para uma
conta judicial remunerada à disposição do juízo, limitando a disponibilidade do
devedor sobre seu crédito.
5.2 Origem do Sistema BACEN JUD
O Provimento nº001/20003, da Corregedoria Geral da Justiça do
Trabalho, publicado no DJU 01.07.2003, estabelece instruções para a utilização do
penhora on-line deve ser utilizada com prioridade sobre outras modalidades de
constrição judicial.
O Direito não pode se abster de se adaptar às inovações tecnológicas. Na
verdade, deve tirar da modernidade os meios mais eficazes para a realização dos
atos processuais, mesmo que não haja mudança na legislação.
Como exemplo da evolução na prática processual, temos a possibilidade
de peticionamento por meio eletrônico, mediante “assinatura eletrônica” (senha
certificada), dispensada a remessa de cópia em papel, implantado na seara
trabalhista perante o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.
Diante desse avanço tecnológico, não poderá a penhora eximir-se de
mudanças destinadas a dar celeridade e efetividade à execução.
Em face dessa evolução, em maio de 2002, o Tribunal Superior do
Trabalho e o Banco Central do Brasil firmaram um convênio por meio do qual se
permite ao referido tribunal e aos Tribunais Regionais do Trabalho, mediante senha,
o acesso via internet ao Sistema de Solicitações do Poder Judiciário ao Banco
Central. Esse convênio deu origem ao chamado Sistema BACEN JUD.
O Sistema BACEN JUD, também chamado e mais conhecido por penhora
on-line, não é adotado exclusivamente pela Justiça do Trabalho. Desde maio de
2001, o Superior Tribunal de Justiça e o Banco Central do Brasil já haviam firmado
convênio que permitia o acesso dos Juízes Federais e Estaduais ao Sistema de
Solicitações do Poder Judiciário ao Banco Central. Ou seja, apenas depois de
decorrido um ano do convênio firmado pelo STJ, resolveu o TST também
promovê-lo. Apesar do atraso de um ano na adoção do sistema, é notória a larga utilização da
penhora on-line na Justiça do Trabalho, em contraponto à não adoção uniforme de