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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Quinta Câmara Cível ACÓRDÃO

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ACÓRDÃO

Classe : Embargos de Declaração nº 0020646-94.2015.8.05.0000/50001 Foro de Origem : Foro de comarca Paulo Afonso

Órgão : Quinta Câmara Cível Relatora Vencida: Desª Ilona Márcia Reis

Relator Designado: Des. Baltazar Miranda Saraiva Embargante : Banco do Nordeste do Brasil S/A

Advogado : Fernanda Novais Cruz Lima Costa (OAB: 18377/BA) Advogado : Rafael Orge Franco Lima Gomes (OAB: 23233/BA) Advogado : Valternan Pinheiro Prates (OAB: 14040/BA)

Embargado : Aat International Ltda

Advogado : Alexandre Moraes Meirelles de Souza (OAB: 21293/BA) Advogado : Terence Frick Aleluia da Costa (OAB: 16560/BA)

Assunto : Efeitos

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.

DECISÃO QUE EXTINGUIU A EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE APRESENTADA PELO DEVEDOR POR VÍCIO DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. ACÓRDÃO QUE INICIALMENTE DEU PROVIMENTO AO AGRAVO PARA DETERMINAR A INTIMAÇÃO DO EXCIPIENTE PARA REGULARIZAÇÃO DO POLO ATIVO. ACÓRDÃO POSTERIOR QUE ACOLHEU OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELO AGRAVANTE PARA APLICAR A TEORIA DA CAUSA MADURA À HIPÓTESE, EXTINGUINDO O PROCESSO DE EXECUÇÃO. EXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO V. ACÓRDÃO EMBARGADO.

FUNDAMENTAÇÃO DO DECISUM QUE SE BASEOU EM PREMISSA FÁTICA EQUIVOCADA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA ANUÊNCIA, PELO BANCO, DA ASSUNÇÃO PARCIAL DA DÍVIDA POR OUTRA EMPRESA.

NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO CREDOR. INTELIGÊNCIA DO ART. 299 DO CÓDIGO CIVIL.

ADEMAIS, NÃO É CABÍVEL EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE QUANDO NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.

NÃO RECONHECIMENTO DA ASSUNÇÃO DE DÍVIDA POR

TERCEIRO. EXTINÇÃO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO DE

TÍTULO EXTRAJUDICIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

FIXADOS EM 15% (QUINZE POR CENTO) SOBRE O VALOR

ATUALIZADO DA CAUSA. EMBARGOS CONHECIDOS E

ACOLHIDOS. ACÓRDÃO REFORMADO.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração nº 0020646-94.2015.8.05.0000/50001, em que figuram como Embargante, o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A, e, como Embargado, a AAT INTERNATIONAL LTDA,

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, por maioria de votos, em ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO propostos pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A para reformar o Acórdão de fls. 463/476, não reconhecendo a assunção da dívida da Embargada pela NETUNO ALIMENTOS S/A, por ausência de anuência do credor hipotecário, BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A, determinando o prosseguimento da execução corrente na 1ª Vara Cível Comercial, Relações de Consumo, Registros Públicos e Fazenda Pública da Comarca de Paulo Afonso, neste Estado, e, consequentemente, a extinção da exceção de pré-executividade apresentada pelo devedor, e assim o fazem pelos motivos expendidos no voto vencedor do eminente Desembargador Vistor.

Sala das Sessões da Quinta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, 18 de outubro de 2016.

PRESIDENTE

DESEMBARGADOR BALTAZAR MIRANDA SARAIVA RELATOR DESIGNADO

PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA

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RELATÓRIO

Classe : Embargos de Declaração nº 0020646-94.2015.8.05.0000/50001 Foro de Origem : Foro de comarca Paulo Afonso

Órgão : Quinta Câmara Cível Relatora Vencida: Desª Ilona Márcia Reis

Relator Designado: Des. Baltazar Miranda Saraiva Embargante : Banco do Nordeste do Brasil S/A

Advogado : Fernanda Novais Cruz Lima Costa (OAB: 18377/BA) Advogado : Rafael Orge Franco Lima Gomes (OAB: 23233/BA) Advogado : Valternan Pinheiro Prates (OAB: 14040/BA)

Embargado : Aat International Ltda

Advogado : Alexandre Moraes Meirelles de Souza (OAB: 21293/BA) Advogado : Terence Frick Aleluia da Costa (OAB: 16560/BA)

Assunto : Efeitos

Cuida-se de Embargos de Declaração opostos pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB contra o Acórdão de fls. 461/476, proferido nos Embargos de Declaração opostos por AAT INTERNATIONAL LTDA, identificando omissão e contradição no referido Acórdão, do julgamento do colegiado com base no voto da ilustre relatora que assim decidiu: "Por estas razões, dou provimento aos embargos de declaração, atribuindo-lhes efeito modificativo e, por via de consequência, acolho a exceção de pré-executividade, para extinguir o processo de execução de título extrajudicial sem resolução do mérito" (fl. 476).

E mais: "Por fim, condeno o embargado/excepto, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência que fixo em 10% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da causa, atenta às disposições contidas no § 2º do art. 85 do novo Código de Processo Civil" (fl. 476).

Em consequência da decisão constante do acórdão farpeado, foi acolhida a exceção de pré-executividade proposta pela ora Embargada e a aplicação da teoria da causa madura, extinguindo-se o processo de execução do título extrajudicial que tramita na 1ª Vara Cível, Comercial, Relações de Consumo, Registros Públicos e Fazenda Pública da Comarca de Paulo Afonso, sem resolução do mérito.

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A decisão foi proferida nos embargos propostos pela ora Embargada no Agravo de Instrumento, com pedido de liminar, interposto por AAT INTERNATIONAL LTDA contra decisão interlocutória proferida pelo MM Juízo da 1ª Vara Cível, Comercial, Relações de Consumo, Registros Públicos e Fazenda Pública da Comarca de Paulo Afonso, nos autos da execução de título extrajudicial tombada sob o nº 0001333-35.2010.8.05.0191, proposta contra a ora Embargada pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB, em razão da inadimplência da devedora quanto ao pagamento do título objeto da execução.

Por ocasião da arguição da exceção de pré-executividade que apresentou, declarou que informou ao BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB que estava em tratativa com a empresa NETUNO ALIMENTOS S/A acerca da obrigação materializada no título executivo que serve de suporte à execução, conforme instrumento de assunção de dívida que teria sido celebrado entre as partes.

A ora Embargada alegou que, no referido instrumento, a NETUNO ALIMENTOS S/A teria assumido 43,58% da dívida objeto da execução, o que, segundo o seu entendimento, tornou ilíquido o título que serviu de amparo à ação executiva proposta pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB.

Descreve sobre o incidente da falha de representação sanada posteriormente com a juntada da procuração. Após explicar a correção do incidente, solicitou a aplicação da teoria da causa madura no âmbito do recurso de Agravo de Instrumento, em que pese a restrição feita pelo caput do artigo 515 do CPC, que limita a aplicação da teoria levantada ao recurso de Apelação.

Alega que a exceção de pré-executividade que apresentou decorreu do fato de que, tendo alienado um bem imóvel de sua propriedade (sobre o qual recaia uma garantia hipotecária oriunda de uma Cédula de Crédito Industrial firmada com o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB), fez um acordo com a NETUNO ALIMENTOS S/A para que a mesma assumisse 43,58% do débito que a Agravante tem com o Banco, conforme tratativa entabuladas entre as partes.

Afirma que o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB anuiu à transferência de domínio do mencionado bem imóvel, anexando certidão de escritura de compra e

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venda lavrada no 23º Ofício de Notas na cidade do Rio de Janeiro e averbada na matrícula de inscrição do imóvel.

Pede a antecipação de tutela diante de risco de dano irreparável e a apreciação da exceção de pré-executividade manejada, declarando-se a nulidade da execução ou declaração da excessividade da execução, e que seja reconhecida a litigância de má-fé por parte do Banco, e que, no caso de não acatamento da exceção de pré-executividade ou afastamento da preliminar de defeito de representação, que seja determinado a baixa dos autos para que o douto juiz a quo aprecie o mérito da causa.

A ação original que motivou o presente recurso foi proposta pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB contra a AAT INTERNATIONAL LTDA e seus avalistas, aduzindo ser credor da Executada pela quantia líquida, certa e exigível de R$ 11.315.005,34 (onze milhões, trezentos e quinze mil, cinco reais e trinta e quatro centavos), representada por uma Cédula de Crédito Industrial garantida por Hipoteca de bem imóvel de propriedade da ora Embargada, alienação fiduciária e caução de títulos.

Há nos autos uma petição da embargada informando que o valor executado estaria sendo objeto de negociação entre as partes, e que, posteriormente, apresentaria as manifestações necessárias para a sua defesa dentro do prazo legal (fl. 195), fato que jamais aconteceu, ou seja, não apresentou os embargos à execução.

A respeito dessa negociação, o documento de fl. 214, demonstra que o Banco Agravado, em resposta à Proposta de Renegociação/Assunção parcial de dívida, afirma que a proposta foi deferida, dentro das condições que impôs, dando um prazo de 60 dias para a sua efetivação, de maneira que, caso não seja efetivada a negociação, torna-se sem efeito a decisão tomada pelo banco, voltando a dívida à situação anterior (fl. 215).

À fl. 218 dos autos, o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A informa ao Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Paulo Afonso, que "a tentativa de conciliação restou frustada, e o BNB não pôde reaver os seus créditos (públicos) por esta via", motivo pelo qual pede o prosseguimento da execução.

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A ora Embargada, através de petição de fls. 224/236, entrou com uma exceção de pré-executividade afirmando que a obrigação requerida estava sendo objeto de transação entre as partes, operando-se a sub-rogação de terceiro de parcela da obrigação devida pelo executado- excepiente em favor do exequente-excepto.

Na impugnação à exceção de pré-executividade, o BNB levanta várias preliminares, para, em seguida, afirmar que as tratativas de negociações pretendida pela Ré, ora Embargada, não chegaram a bom termo porque esta, mais uma vez, não cumpriu com o prometido.

Aduz que inexiste excesso de execução e que a exceção de pré-executividade foi proposta apenas para protelar o feito, já que não há embasamento legal para a sua pretensão. Pelo contrário, afirma que o ordenamento jurídico abomina o enriquecimento ilícito, principalmente quando se usa, para tanto, o Poder Judiciário.

Chama a atenção para o fato de que a ora Embargada deixou transcorrer in albis o prazo para oposição dos embargos à execução, bem como age como litigante de má-fé. Nesse passo, insiste pelo prosseguimento da execução, clamando pela condenação da Embargada, nos termos constantes da inicial.

Às fls. 323/339, consta uma petição da MPE S/A PARTICIPAÇÕES E ADMINISTRAÇÃO, opondo EMBARGOS À EXECUÇÃO contra o BANCO DO NORDESTE S/A alegando que os Executados Mário Aurélio da Cunha Pinto e Renato Ribeiro de Abreu, avalistas da AAT INTERNACIONAL LTDA, que ela denomina de Executada principal, são seus sócios e também avalistas.

Essa empresa adentrou com os embargos em nome dos seus sócios e avalistas da AAT INTERNATIONAL LTDA alegando as mesmas razões da devedora, aduzindo que a obrigação materializada no título oriundo da cédula de crédito industrial nº 002288814-A, fora objeto de transação entre a AAT INTERNATIONAL LTDA e o BNB, operando-se a sub-rogação de terceiro

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de parcela da obrigação devida pela referida empresa ao banco credor (fl.326).

Alega que a efetivação do negócio jurídico relativo à cessão de crédito aludida fora formalizada em momento anterior à formulação da proposta de negociação/assunção de dívida, sendo anterior, inclusive, à própria ação de execução ora objurgada.

Alega que a AAT INTERNATIONAL LTDA só deve 56,42% da dívida, pois o restante, ou seja, 43,58%, "seria" assumido pela NETUNO ALIMENTOS S/A, como uma das formas de pagamento do preço do imóvel identificado como "uma parte de terra desmembrada da UHE-PA IV localizada em Paulo Afonso-BA, adquirida pela NETUNO perante a AAT INTERNACIONAL LTDA" (fl. 327).

Aduz que, conforme consta na certidão juntada aos autos pela AAT INTERNACIONAL LTDA, fora averbado, em 27/06/2008, a aquisição, pela NETUNO, de uma parte de terra desmembrada da UHE-PA IV, localizada em Paulo Afonso-BA, utilizando-se, para tanto, da escritura de compra e venda lavrada perante 23ª Ofício de Notas do Estado do Rio de Janeiro (fl. 328).

Ao final, pede a atribuição de efeito suspensivo aos embargos propostos à execução, nulidade da execução ou o excesso de execução, além de litigância de má-fé, indenização de 20% sobre o valor executado, multa de 1% e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da causa. O advogado da MPE é o mesmo da AAT INTERNATIONAL LTDA.

O Juízo de primeira instância extinguiu o incidente processual de exceção de pré- executividade sem julgamento do mérito por vício de representação, mas a eminente Desembargadora Relatora, ILONA MÁRCIA REIS, atendendo ao Agravo de Instrumento de nº 00206-46- 94.2015.8.05.0000, impetrado pela AAT INTERNATIONAL LTDA, deferiu a tutela antecipada requerida sustando os efeitos da decisão agravada. (fl. 345).

O Banco, então Agravado, apresentou resposta ao Agravo chamando a atenção

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para a falta de representatividade da Agravante Executada nos autos, e aduzindo que o oficial de justiça certificou que deixou de efetuar a penhora em razão do acordo firmado entre as partes, conforme cópia em anexo.

Aduziu que a Agravante, em 04/07/2011, ingressou com uma petição informando que "o valor ora executado está sendo objeto de negociação entre as partes", tendo, na oportunidade, juntado cópia de correspondência que o BNB havia lhe enviado comunicando a aprovação pela diretoria do Banco à proposta de renegociação da dívida desde que fossem observadas as condições por ele impostas, nos seguintes termos: "informamos que referida decisão terá validade de 60 dias. Caso não seja efetivada a negociação, torna sem efeito a decisão tomada pelo Banco, voltando a dívida à situação anterior" (fl. 354).

O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB afirmou que a ora Embargada não apresentou embargos à execução, e que, decorridos mais de 03 (três) anos de preclusão do prazo para a oposição dos embargos do devedor, a AAT INTERNATIONAL LTDA ajuizou petição de exceção de pré-executividade mediante a qual anunciava a realização de renegociação da dívida, onde, supostamente, a NETUNO teria assumido parte da sua dívida perante o BNB e, alternativamente, arguindo a nulidade da execução (fl. 359).

Afirma que a declaração da Agravante de que não haveria necessidade de prova a ser formulada é falsa, pois ela própria precisa demonstrar que a inexistente assunção de dívida por parte da NETUNO foi, realmente, formalizada.

Aduziu, ainda, o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB, que a manutenção da decisão da douta Relatora significa a supressão de instância, citada, inclusive, pela ora Embargada quando solicitou – caso sua preliminares fossem rejeitadas –, o julgamento do mérito pelo Juiz a quo.

No dia 04/11/2011, a ora Embargada entrou com uma petição alegando que o valor

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da execução estava sendo objeto de execução entre as partes, anexando cópia de uma resposta do BNB à proposta que fizera para solucionar sua dívida, sem mencionar as condições impostas pelo banco credor.

O problema da Embargada é que o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB, nessa correspondência, especifica as condições para aceitar a proposta, inclusive dando um prazo para a sua efetivação e afirmando que, caso não seja efetivada a negociação, torna sem efeito a decisão tomada pelo Banco, voltando a divida à situação anterior.

Após deixar passar o prazo legal para a apresentação de seus embargos, a embargada apresentou uma Exceção de Pré-executividade fazendo uma referência ao suposto acordo onde a NETUNO teria assumido parte de sua dívida, arguindo a nulidade da execução, o que, como restou provado, era um mero expediente protelatório.

O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB discorreu sobre a existência de várias hipotecas sobre o mesmo imóvel transcrevendo dispositivos do Código Civil, autorizando essa duplicidade e permitindo ao proprietário, inclusive, alienar o bem hipotecado, de modo que a certidão, anexada aos autos, prova apenas que o imóvel foi alienado, permanecendo o ônus hipotecário em sua plenitude.

O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB aduziu que, para aceitar a proposta feita pela AAT INTERNATIONAL LTDA, impôs, entre outras exigências, as seguintes condições: a) pagamento imediato de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais); b) apresentação do Certificado de Regularidade do FGTS e várias certidões que jamais foram apresentadas pela Executada ou pela NETUNO.

Depois disso, várias reuniões foram feitas entre as partes sem que jamais as devedoras tenham formalizado ou apresentado qualquer dos documentos previamente exigidos.

Ademais, a AAT jamais trouxe aos autos qualquer prova da formalização do suposto acordo.

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O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB demonstrou que o título objeto da execução é líquido, certo e exigível, pois é oriundo de uma cédula de crédito industrial revestida de todos os requisitos legais que a distinguem como um título líquido, certo e exigível.

Aduziu, ainda, que não é litigante de má-fé, mas sim credor de um título absolutamente legal. Quem é litigante de má-fé é a Executada, ora embargada, que cria incidentes processuais para retardar o cumprimento de suas obrigações, distorcendo a verdade dos fatos e tentando se locupletar às custas de suas inverdades.

Por fim, pediu a imediata revogação do efeito suspensivo concedido pela douta relatora ou a não apreciação da Pré-executividade, pelos motivos acima alegados.

O Juiz a quo, em decisão monocrática, entendeu que a Executada não apresentara procuração quando ajuizou a exceção de pré-executividade, além de não ter pedido prazo para a regularização da representação. Em razão desse fato, declarou extinto o incidente processual de exceção de pré-executividade sem julgamento do mérito.

Dessa decisão a Executada, ora Embargada, interpôs recurso, cuja decisão do Colegiado foi no sentido de que ao juiz caberia suspender o processo, marcando prazo razoável para ser sanado o defeito, motivo pelo qual deu-se provimento ao recurso nos termos do voto da relatora.

Dessa decisão, a AAT INTERNATIONAL LTDA opôs Embargos de Declaração, alegando omissão em relação a não apreciação do pedido de aplicação da teoria da causa madura bem como de contradição no que toca a fundamentação apresentada e o dispositivo aplicado, assim como a respeito da fundamentação quanto à duração razoável do processo para a solução da lide.

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Diante desse fato, pediu que a omissão acima declinada fosse sanada, aplicando-se ao caso a teoria da causa madura, decidindo, de pleno, o mérito da causa, bem como que fosse sanada a contradição face não ter sido julgado o mérito da demanda, atribuindo aos embargos seus efeitos modificativos, conhecendo e aplicando ao processo a teoria da causa madura .

O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB apresentou suas contrarrazões aos embargos proposto pela executada alegando que não podia o colegiado se manifestar sobre a matéria não apreciada na origem, pois isso representaria afronta ao duplo grau de jurisdição, manifestando-se, também, que não caberia ao caso a aplicação da teoria da causa madura , pois não se trata de matéria unicamente de direito.

O BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB afirmou que, no caso presente, trata-se de incidente de exceção de pré-executividade, ajuizado com total desvirtuamento do instituto, pois esse instituto só é cabível a processo que não demande instrução probatória, o que não é o caso dos autos.

Aduziu que esse instituto passou a ser usado largamente pelos devedores com o fito de dilatar demasiadamente o cumprimento de suas obrigações, em vez de apresentar sua defesa utilizando dos meios declinados pela lei, que permite ao devedor opor embargos à execução sem a necessidade de garantir previamente o Juízo, conforme o disposto nos arts. 914 e 915 do novo CPC.

A Executada, ora Embargada, não se utilizou dos competentes Embargos à Execução, que era a medida adequada à sua defesa no momento oportuno, deixando transcorrer, in albis, o prazo legal para apresentar os citados embargos, substituindo-os pela exceção de pré- executividade, mesmo alegando fatos novos e requerendo a produção de todos os meios de provas em direito admitidos (fl. 236).

Diante disso, não tem cabimento a justificativa da causa madura, pois não se trata unicamente de matéria de direito. E tanto isso é verdade que o próprio Embargado requereu produção

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de provas, tentando rediscutir a matéria.

Encaminhados os autos para a douta relatora, esta, ao decidir sobre os aclaratórios propostos pela ora Embargada, determinou a inclusão em pauta do processo por achá-lo em condições de julgamento (fl. 459).

Os citados embargos, com pedido de efeitos modificativos, versavam sanar suposta omissão e contradição no acórdão que julgou procedente o Agravo de Instrumento nº 0020646- 94.2015.8.05.0000, cassando a decisão do Juízo da 1ª Vara dos Feitos das Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais da Comarca de Paulo Afonso, na qual se extinguiu o incidente de exceção de pré- executividade, sem resolução do mérito.

A ora Embargada alegou, na ocasião, omissão na apreciação da teoria da causa madura, que possibilitaria o julgamento imediato da exceção da pré-executividade nesta instância recursal sem apreciação do mérito, aduzindo que o pedido encontra respaldo no princípio da celeridade processual, além da questão versada ser exclusivamente de direito.

Os embargos ainda apontaram suposta contradição entre a fundamentação do acórdão guerreado, ao exaltar o direito à razoável duração do processo, e a parte dispositiva, por ter determinado a remessa dos autos ao juízo de primeira instância para apreciar o mérito da causa.

Entendeu a douta relatora que, no caso dos embargos, caberia a aplicação da teoria da causa madura, motivo pelo qual declarou a existência de condições para o julgamento da lide, pois a decisão agravada extinguiu a exceção de pré-executividade sem resolução do mérito, além de ser a causa exclusivamente de direito, dispensando dilação probatória (fl. 469).

Em seguida reconheceu omissão no acórdão do qual foi relatora quanto à apreciação da aplicação da teoria da causa madura e, atribuindo efeitos infringentes aos embargos,

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acolheu-os, passando a analisar o mérito da causa aduzindo que a AAT INTERNATIONAL LTDA manejou a exceção de pré-executividade para anular ação de execução de título judicial proposta pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A com base na cédula industrial de nº 002288814-A, emitida em 26/10/2000 com vencimento previsto para 15/11/2012, no valor de R$ 7.964.544,19 (sete milhões, novecentos e sessenta e quatro mil, quinhentos e quarenta e quatro reais e dezenove centavos).

Dentre os bens imóveis vinculados em garantia hipotecária de primeiro grau, oferecidos pela ora embargada como garantia real do empréstimo, estaria uma parte de terra desmembrada da UHE-PA, IV, localizada no Município de Paulo Afonso/BA, que ela havia vendido à empresa NETUNO ALIMENTOS S/A (fl. 470).

A título de comprovação deste negócio jurídico, a ora Embargada acostou aos autos certidão de escritura pública de compra e venda do imóvel lavrado em 29/05/2008 perante o 23º Ofício de Notas do Estado do Rio de Janeiro e averbada em 27/06/2008 no Cartório de Imóveis e Hipotecas, Títulos, Documento e Pessoas Jurídicas de Paulo Afonso (R8-10.821 - pág. 470).

Diz a douta relatora que da simples leitura da escritura pública averbada em cartório constata-se que, para pagamento parcial do preço negociado na compra e venda, as partes ajustaram a assunção, pela compradora, de parte da cédula industrial nº 002288814-A, no valor de R$

4.348.220,00 (quatro milhões, trezentos e quarenta e oito mil, duzentos e vinte reais), que seria paga ao BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB.

Logo em seguida, a douta relatora afirma ser imperioso ressaltar que a averbação AV/7-10.821 (fl. 244), deixa patente que houve expressa anuência do BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A quanto à transferência do imóvel à NETUNO ALIMENTOS S/A, o que permite concluir que o BANCO DO NORDESTE S/A concordou com os termos da alienação que previa a assunção parcial da dívida por terceiro (fl. 471), pois caso o BNB não tivesse concordado com a assunção da dívida por parte da NETUNO, não teria aceito o referido bem como garantia hipotecária de segundo grau, como ficou comprovado no registro (R8-10.821) constante da certidão de inteiro teor da matrícula do imóvel em questão (fl. 471).

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Como justificativa de suas alegações, a douta relatora cita o art. 303 do Código Civil, que estabelece que o adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido, se o credor, notificado, não impugnar, em trinta dias, a transferência do débito, o que será entendido como assentimento (fl. 471).

Em suporte de suas alegações, a ilustre relatora anexa jurisprudência da Quarta Câmara Cível deste Egrégio Tribunal onde, na decisão está escrito:

APELAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.

VALIDADE DA ASSUNÇÃO DE DIVÍDA. EXISTÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO

PRÉVIA E CONCORDÂNCIA DO APELADO LIBERANDO A

TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO EM R$

5.000,00 (CINCO MIL REAIS). RAZOABILIDADE NA FIXAÇÃO DO QUANTUM. RECURSO PROVIDO.

1. Como cediço, é requisito da assunção de dívida liberatória o consentimento do credor. (inteligência do art. 299 do CC).

2. No caso concreto, no entanto, o conjunto probatório anexado aos autos, em especial o Ofício de fls. 19 e a averbação realizada no Registro do Imóvel às fls. 20v, demonstram a anuência do apelado com a assunção da dívida por terceiro.

3. Noutro giro, a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em órgão de proteção ao crédito enseja a indenização por danos morais, exceto se preexistirem outras inscrições regularmente realizadas, consoante entendimento pacificado pela Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp Repetitivo n. 1.061.134/RS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI em 10/12/2008, DJe 1º/4/2009.

4. Apelo provido, reformando-se a sentença para fixar indenização por danos morais, por ser ilegítima a inscrição do nome das autoras nos órgãos restritivos de crédito (fls. ), no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), quantia que não destoa dos parâmetros adotados por esta Corte em casos análogos.

5. Recurso provido, sentença reformada. (TJBA, APL 0003092-24.2008.8.05.0120, relatora: Gardênia Pereira Duarte, data de julgamento:

08/01/2013, Quarta Câmara Cível, dada da publicação: 06/08/2013) (fl. 472).

Na jurisprudência acima anexada está escrito que é requisito da assunção de dívida liberatória o consentimento do credor, inteligência do art. 299 do CC. Logo em seguida, a douta relatora afirma que diante da prova pré-constituída houve expressa anuência do BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A com a assunção da dívida, encartada na cédula de crédito industrial nº 002288814-A.

Discorre, ainda, a ilustre relatora, sobre a nulidade do título aduzindo que não corresponde a uma obrigação certa, líquida e exigível, nos termos do art. 803 do CPC. Junta jurisprudência a respeito da nulidade do título que não tem liquidez e certeza para, ao final, dar

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provimento aos embargos, atribuindo-lhes efeito modificativo e, por via de consequência, acolher a exceção de pré-executividade para extinguir o processo de execução extrajudicial sem resolução do mérito.

No tocante à alegação da Embargante a respeito da litigância de má-fé do BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB, aduziu que não existiu dolo, embora o Banco já soubesse da assunção da dívida pactuada. Terminou por condenar o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência fixados em 10%

para, logo depois, colocar entre parêntesis que é vinte por cento sobre o valor atualizado da causa, atenta às disposições contidas no § 2º do art. 85 do CPC/2015 (fl. 476).

Dessa decisão, o BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A opôs Embargos de Declaração, alegando a inexistência de omissão no Acórdão farpeado, já que o banco jamais anuiu com a assunção da dívida da embargada por parte da NETUNO. Alega, também, que não há nenhuma prova capaz de se entender dessa maneira, pois não existe prova nos autos em relação a essa anuência.

Em resumo, o Embargante BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A demonstra a necessidade de se esclarecer e aclarar as omissões e contradições do Acórdão embargado e faz inúmeros questionamentos sobre a decisão que praticamente omitiu as provas constantes dos autos, já que o Acórdão deduziu, de forma equivocada e sem embasamento jurídico, por reconhecer a anuência à assunção da dívida da embargada por terceiro, fato que jamais existiu.

Pede outros esclarecimentos e, também, a não aplicação da teoria da causa madura, em razão da necessidade de fazer prova das alegações feitas pela embargada, já que nada consta nos autos nesse sentido.

Efetuada a distribuição, coube à eminente Desembargadora ILONA MÁRCIA REIS a relatoria do presente recurso, que foi levado a julgamento na sessão de 13 de setembro de 2016, ocasião em que solicitei, preliminarmente, a conversão do julgamento em diligência para que fosse oportunizada a manifestação do Embargado, para, logo em seguida, pedir vistas dos autos a fim de analisar o conjunto fático-probatório sub examine, sob o ângulo deste Desembargador Vistor.

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Posteriormente, em sessão de julgamento ocorrida em 18 de outubro de 2016, com a devida vênia ao entendimento da eminente Relatora, divergi do voto condutor no sentido de acolher os embargos declaratórios, tendo a maioria da Turma Julgadora aderido a este posicionamento, motivo pelo qual passo a emitir o voto vencedor.

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VOTO VENCEDOR

Classe : Embargos de Declaração nº 0020646-94.2015.8.05.0000/50001 Foro de Origem : Foro de comarca Paulo Afonso

Órgão : Quinta Câmara Cível Relatora Vencida: Desª Ilona Márcia Reis

Relator Designado: Des. Baltazar Miranda Saraiva Embargante : Banco do Nordeste do Brasil S/A

Advogado : Fernanda Novais Cruz Lima Costa (OAB: 18377/BA) Advogado : Rafael Orge Franco Lima Gomes (OAB: 23233/BA) Advogado : Valternan Pinheiro Prates (OAB: 14040/BA)

Embargado : Aat International Ltda

Advogado : Alexandre Moraes Meirelles de Souza (OAB: 21293/BA) Advogado : Terence Frick Aleluia da Costa (OAB: 16560/BA)

Assunto : Efeitos

Preliminarmente, faz-se necessário aduzir que não existe, nos autos, nenhuma prova concreta confirmando a anuência, por parte do BNB, ora Embargante, da assunção da dívida da Embargada AAT INTERNATIONAL LTDA pela NETUNO ALIMENTOS S/A.

A afirmação da douta relatora de que a Averbação AV/7-10.821 deixa patente a anuência do ora Embargante quanto à transferência do imóvel, permitindo concluir que o BNB anuiu com a assunção da dívida da AAT INTERNATIONAL LTDA pela NETUNO ALIMENTOS S/A, não pode prevalecer.

Com efeito, a averbação que serviu de suporte para que a douta relatora concluísse que o BNB anuiu com a assunção da dívida da Embargada por terceiro, não corresponde à realidade dos fatos, pois na proposta de Renegociação/Assunção parcial de dívida feita pela AAT INTERNATIONAL LTDA ao BNB, datada de 24/08/2010, pela qual a NETUNO ALIMENTOS S/A assumiria 43,58% da dívida, juntamente com a transferência do imóvel posteriormente hipotecado pela NETUNO ao BNB, está escrito:

INFORMAMOS QUE REFERIDA DECISÃO TERÁ VALIDADE DE 60 DIAS. CASO NÃO SEJA EFETIVADA A NEGOCIAÇÃO, TORNA SEM EFEITO A DECISÃO TOMADA PELO BANCO, VOLTANDO A DÍVIDA À SITUAÇÃO ANTERIOR. (fls. 214/215).

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Registre-se que essa formalização jamais aconteceu. Não há nenhuma prova nos autos que confirme a sua concretização.

Ao alegar, posteriormente, sem ter cumprido com a sua obrigação de formalizar o negócio jurídico que propôs, que houve anuência do BNB à assunção de sua dívida pela NETUNO, a ora Embargada feriu o princípio da boa-fé, que deve prevalecer em todos os negócios jurídicos propostos ou concretizados pelas partes, conforme dispõem os artigos 113 e 422 do nosso Código Civil.

Com efeito, a AAT INTERNATIONAL LTDA, antevendo a possibilidade de ganho econômico às custas de uma proposta jamais concretizada, atuou de forma incompatível com o princípio da boa-fé, procurando obter vantagem em razão de uma proposta que fez à ora Embargante sabendo que jamais cumpriria com as condições impostas pelo BNB para a sua aceitação.

Nossos doutrinadores têm ensinado que, nos termos do art. 114 do Código Civil,

"nos negócios jurídicos benéficos e na renúncia, a interpretação deve ser restritiva". Assim, não se pode interpretar a Averbação AV/7-10821 achando que a mesma permite concluir que o BNB

"concordou com os termos que previa a assunção parcial da dívida por terceiro", pois essa concordância não consta do registro nem jamais existiu, já que a proposta da ora Embargada nunca foi formalizada em instrumento, ou concretizada na prática.

A boa-fé nos negócios jurídicos é um princípio do qual não se pode prescindir.

Segundo NADER (2010, p. 30):

A boa fé nos contratos significa, portanto, a honestidade e justiça nas condições gerais estabelecidas. O artigo 422 do Código Civil exige que as partes contratantes observem os princípios da probidade e boa fé, tanto na celebração do ato até sua execução, quando determina: Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa fé. (NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: contratos, v. 3. Rio de Janeiro:

Forense, 2010).

O que se pode antever da averbação acima citada é que os termos nela inseridos não permitem afirmar que o BNB concordou com a assunção da dívida da vendedora pela compradora do imóvel, pois ali não se afirma nem se registra que a concordância da venda se estende à suposta assunção da dívida por parte da NETUNO, mantendo-se o gravame hipotecário.

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Vejamos os requisitos para a realização da assunção de dívida.

Para que a assunção de dívida seja realizada, é necessário o consentimento do credor, para que surta os desejados efeitos jurídicos. Esse é o primeiro requisito – senão o de maior relevância –, pois se faz necessário a autorização expressa e inequívoca para que o devedor daquela dívida – ou de qualquer outra obrigação – a transmita a um terceiro, chamado de assuntor. Como regra, não é possível transmitir a obrigação sem a anuência do credor.

A cessão de débito traduz um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, COM EXPRESSA AUTORIZAÇÃO DO CREDOR (CC, art. 299), transfere a um terceiro a sua obrigação. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava (art. 299 do CC).

Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. O devedor originário responde se o novo devedor for insolvente e esta insolvência não for de conhecimento do credor. O silêncio do credor é interpretado como recusa – CC, art. 299, parágrafo único.

Realmente, a anuência do credor na assunção de dívida por terceiro deve ser expressa. Vejamos:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS JULGADA IMPROCEDENTE - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA - NÃO PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL - REJEIÇÃO - PRINCÍPIO DO LIVRE

CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ - APLICAÇÃO

ANALÓGICA DA SÚMULA 044 DO TJPE - MÉRITO - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO - ASSUNÇÃO DE DÍVIDA - ART. 299 DO NOVEL CÓDIGO CIVIL - CONSENTIMENTO MERAMENTE VERBAL DO CREDOR - IMPOSSIBILIDADE - NECESSIDADE DE ANUÊNCIA EXPRESSA, INEQUÍVOCA, POR ESCRITO E FORMAL DO CREDOR FIDUCIANTE - SENTENÇA MANTIDA - NEGADO PROVIMENTO À APELAÇÃO - DECISÃO UNÂNIME. (TJPE, Apelação

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Cível nº 134516 PE 0500012049, 6ª Câmara Cível, Relator: JOSÉ CARLOS PATRIOTA MALTA, Data de Julgamento: 23/07/2009).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. NÃO CABIMENTO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. NECESSIDADE. SÚMULA 7/STJ. REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A exceção de pré-executividade restringe-se aos casos em que a nulidade do título extrajudicial pode ser reconhecida de plano, sem necessidade de contraditório e dilação probatória, evitando-se o prosseguimento de ação executiva inócua. 2. Na espécie, o Tribunal de origem consignou que a análise pretendida não era passível de apuração mediante simples e imediata análise dos documentos acostados ou do título, devendo ser averiguada, em sede de embargos. Incidência da Súmula 7/STJ.

3. Agravo regimental não provido.(STJ, AgRg no AREsp: 104467/SP, Quarta Turma, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento:

17/03/2015, Data de Publicação: DJe 17/04/2015).

Quanto à Averbação R8-10821, certifica apenas o conhecimento da transferência do imóvel para a NETUNO ALIMENTOS S/A, que o hipotecou, em segunda hipoteca, por dívida oriundo da Cédula de Crédito Industrial que menciona, e que não tem nenhuma correlação com a Cédula de Crédito Industrial objeto do processo de execução.

Quanto ao uso da exceção de pré-executividade, muitos autores entendem ser um instrumento utilizado pelo devedor para procrastinar o cumprimento de suas obrigações, mormente quando generaliza esse instrumento para todos os recursos, e não só em relação à apelação.

Com efeito, só é cabível a exceção de pré-executividade quando, pelo menos, um dos dois requisitos que a doutrina e a jurisprudência mencionam está presente, ou seja, o requisito de ordem material, e que a matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz, além da decisão tomada prescindir de dilação probatória.

Nossos tribunais têm decidido:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. No âmbito da exceção de pré-executividade, só é possível o exame de defeitos presentes no próprio título, aqueles que o juiz deve declarar de ofício. Saber se o depósito realizado pelo excipiente seria

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ou não suficiente para suspender a exigibilidade do crédito tributário constitui tema que só pode ser examinado no âmbito de embargos do devedor. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no AREsp: 105610/PR, Primeira Turma, Relator: Ministro ARI PARGENDLER, Data de Julgamento: 17/09/2013, Data de Publicação: DJe 24/09/2013).

PROCESSO CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. A anulação de sentença ou acórdão em razão da deficiente prestação jurisdicional supõe omissão acerca de questão que possa influenciar o julgamento da causa.

Espécie em que o tribunal a quo deixou de se pronunciar a respeito do redirecionamento da execução contra sócios-gerentes de sociedade por quotas responsabilidade limitada que alegam ter nela ingressado após a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. Questão que só pode ser dirimida no âmbito de embargos do devedor; no âmbito da exceção de pré- executividade, só é possível o exame de defeitos presentes no próprio título, aqueles que o juiz deve declarar de ofício. Recurso especial conhecido, mas desprovido. (STJ, REsp: 1395009/PE, Primeira Turma, Relator: Ministro ARI PARGENDLER, Data de Julgamento: 03/09/2013, Data de Publicação:

DJe 07/05/2014).

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – CHEQUE – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – REJEITADA – ALEGAÇÃO DE EXCEÇÕES FUNDADAS EM RELAÇÃO PESSOAL – IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO EM SEDE DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. A exceção de pré- executividade é meio processual a ser utilizado apenas quando há nulidade do título ou outra causa que implique na extinção imediata da execução.

Demais questões devem ser discutidas em embargos, em que pode ter lugar ampla dilação probatória. Como a própria excipiente reconhece, as exceções de natureza pessoal não podem ser opostas ao terceiro de boa-fé, ainda mais no âmbito estrito da exceção de pré-executividade. Assim, de rigor, a manutenção da decisão tal como lançada aos autos. – ART. 252, DO REGIMENTO INTERNO DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Em consonância com o princípio constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII, da Carta da Republica, de rigor a ratificação dos fundamentos da decisão recorrida.

Precedentes deste Tribunal de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça. – DECISÃO MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, AI 2194586-81.2015.8.26.0000, 38ª Câmara de Direito Privado, Relator:

EDUARDO SIQUEIRA, Data de Julgamento: 25/11/2015, Data de Publicação: 16/12/2015).

Em outras palavras, não cabe exceção de pré-executividade quando há necessidade de dilação probatória.

Além disso, observa-se que o acórdão embargado omitiu quanto à aplicação dos

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arts. 1.475, 1.476 e 1.479, todos do Código Civil, além de ter dado tratamento equivocado ao art. 303 do mesmo código, assinalados pelo Embargante e já prequestionados, aduzindo que o negócio jurídico entre a Embargada e a NETUNO não produziu, nem produz, qualquer efeito modificativo em relação à Embargada.

Ao sustar o prosseguimento da execução, estar-se-ia beneficiando o devedor inadimplente e causando um prejuízo de aproximadamente R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais) - sem a incidência da correção monetária - a um banco da nação (patrimônio do povo brasileiro), o que resultaria no locupletamento indevido do devedor às custas do dinheiro público.

Segundo o Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, diz-se do enriquecimento ilícito ser "o acréscimo de bens que, em detrimento de outrem, se verificou no patrimônio de alguém, sem que para isso tenha havido fundamento jurídico".

Segundo nossos tribunais, caso a decisão permitisse o devedor não pagar a dívida, haveria enriquecimento sem causa:

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL - FUNDAÇÃO HABITACIONAL DO EXÉRCITO - CONSIGNAÇÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que rejeitou os embargos opostos em face da execução extrajudicial iniciada pela FHE. 2. O não pagamento das parcelas decorreu de falha na efetivação do empréstimo firmado, sendo que, das 36 parcelas previstas para a quitação do crédito, apenas 06 foram descontadas na folha de pagamento do réu. 3. A cláusula 10ª do instrumento contratual é clara ao dispor sobre a responsabilidade do mutuário, em não se efetuando a cobrança de qualquer prestação, seja via consignação em folha de pagamento ou outra forma de cobrança, hipóteses nas quais o mutuário deverá procurar a FHE para a devida regularização, sob pena de tornar-se inadimplente. O réu/embargante não tomou qualquer providência ao receber seus contracheques sem os descontos relativos ao empréstimo contraído. Comunicado sobre a existência de prestações em aberto, manteve-se inerte. 4. Em havendo dívida contraída e não paga de qualquer modo, o devedor não pode se ver exonerado da responsabilidade decorrente da obrigação contraída, sendo que o modo de pagamento anteriormente pactuado não necessariamente foi empregado - como no caso concreto - para a solução da dívida. Caso o devedor não tivesse que pagar, haveria claro enriquecimento sem causa. 5. Apelação conhecida e improvida. (TRF-2, AC: 200951010000022/RJ, 6ª Turma Especializada, Relator: GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA,

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Data de Julgamento: 13/10/2010, Data de Publicação: 21/10/2010).

No caso dos autos, o atendimento dos embargos declaratórios opostos anteriormente pelo ora Embargado se deu sem que qualquer premissa fática equivocada fosse suscitada, mas tão somente pela apreciação de uma exceção de pré-executividade de caráter meramente protelatório, face à ausência de premissas que pudessem ser consideradas equivocadas.

Quanto à aceitação da tese da teoria da causa madura, não se pode obscurecer o fato de que, pelas próprias declarações da ora Embargada, necessário se faz reconhecer que suas alegações precisam de provas incontroversas, de matéria fática a ser discutida, o que, repita-se, não é o caso dos autos, pois as alegações suscitadas pela ora Embargada exigem provas que jamais foram apresentadas.

Realmente, a Embargada jamais conseguiu provar o consentimento expresso da Embargante à assunção de sua dívida pela NETUNO. Pelo contrário, tenta conseguir junto ao Judiciário a procedência de uma exceção de pré-executividade três anos depois de ser considerado devedor do BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A, bem como a aceitação da tese da teoria da causa madura, considerada por muitos doutrinadores como um meio procrastinatório muito utilizado por devedor inadimplente.

Tanto a Embargada como a NETUNO jamais cumpriram as condições impostas pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A para aceitar a proposta por elas feita (fl. 215).

Assiste, pois, razão ao banco embargante, já que o Acórdão embargado ficou silente quanto ao não cumprimento, por parte da Embargada, das condições impostas pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A para a aceitação de sua proposta de assunção de dívida por terceiro, jamais cumprida pela Embargada e pela NETUNO.

Ex positis, e reconhecendo a inadequação da exceção de pré-executividade oposta pela ora Embargada, bem como a impossibilidade da aplicação da teoria da causa madura ao presente feito, VOTO no sentido de ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO propostos pelo BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A-BNB para reformar o Acórdão de fls. 463/476, não

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reconhecendo a assunção da dívida da Embargada pela NETUNO ALIMENTOS S/A, por ausência de anuência do credor hipotecário, BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A-BNB, determinando o prosseguimento da execução corrente na 1ª Vara Cível Comercial, Relações de Consumo, Registros Públicos e Fazenda Pública da Comarca de Paulo Afonso, neste Estado, e, consequentemente, a extinção da exceção de pré-executividade apresentada pelo devedor.

Condeno, ainda, a Embargada ao pagamento das custas e honorários advocatícios na base de 15% (quinze por cento) sobre o valor atualizado da causa.

É como voto.

Sala das Sessões, 18 de outubro de 2016.

DESEMBARGADOR BALTAZAR MIRANDA SARAIVA

RELATOR DESIGNADO

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