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A r q u e o l o g i a p o r t u g u e s a e m s o lo africano durante o Estado Novo: ( a l g u n s ) a t o r e s , e s p a ç o s e p r o j e t o s - o c a s o d e M o ç a m b i q u e

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Academic year: 2019

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A r q u e o l o g i a p o r t u g u e s a e m s o lo

a f r i c a n o d u r a n t e o E s t a d o N o v o :

( a l g u n s ) a t o r e s , e s p a ç o s e p r o j e t o s

- o c a s o d e M o ç a m b i q u e

Ana C ristina Martins*

p. 129-143

Portugal não está a fazer nada de digno e de válido no campo da arqueologia africana. A

Arqueologia requer técnicas que são complexas e caras [...].

Nós não preparamos pessoal, não dispomos de dinheiro e persistimos num erro capital [...]

que é fazer arqueologia de África num prédio urbano em Lisboa com espécies que vêm encai­

xotadas no vapor de carreira (IICT/SSEA: 255 [António de Almeida], 2; 128, 25-04-60)

Palavras prévias

Afirmada há cerca de 30 anos nos estudos académicos internacionais, a história da

arqueologia tem aberto o seu leque de temas e assuntos, procurando, em simultâneo,

modelos interdisciplinares de abordagem. Disso tem beneficiado, por exemplo, a história

da arqueologia em antigas colónias, sobretudo europeias, como atestam títulos publica­

dos ultimamente (Cravioto, 2005 e 2007). Estudos que, de acordo com a análise integrada

exigida pela investigação histórica, mormente da ciência, têm trazido a lume, mais do

que nomes de quem, individualmente ou coletivamente, se embrenhou em longínquas

geografias em demanda do pretérito mais remoto da Humanidade, toda uma série de

redes locais de produção, transmissão e receção de conhecimento, nas quais se inscreviam

personalidades e instituições de referência nas metrópoles. Graças a estas análises, tem-se

desmistificado, gradativamente, a preconceção relativa a esses territórios como territórios

periféricos, incluindo no domínio científico. Mais do que isso, as investigações conduzidas

neste âmbito analisam, com profundidade e abrangência, a interacção existente entre

essas redes, os discursos arqueológicos (escritos e imagéticos) e a política colonial, assim

como as suas consequências, quantas vezes traduzidas em narrativas pós-coloniais.

Recente, ainda, na historiografia, quando comparada a exemplos coevos, a história da

arqueologia em Portugal começou, há escassos anos, a inserir o ternário colonial. Novi­

dade que tem possibilitado descerrar arquivos, identificar individualidades, instituições

e projetos, ao mesmo tempo que cruzar fontes, entender a diversidades de atuantes no

* B olseira de p ó s-d o u to ram en to FCT (SFRH/BPD/io5375/20i4), ten d o com o u n id a d e de aco lh im en to o In s titu to de H istó ria C o ntem porânea da U niversidade Nova e da Faculdade de C iências Sociais e H um anas de Lisboa, através do seu G rupo de Investigação C iência, E studos de H istória, Filosofia e C ultura C ientífica (CEFCHCi da U niversidade de Évora).

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terreno, apreender a interação entre dinâmicas locais, metropolitanas e regionais, avaliar

o papel destas forças na afirmação e desenvolvimento da arqueologia no antigo Ultramar,

assim como a receção desta junto da comunidade científica portuguesa, em particular, e

da população, em geral (Martins, 2010a). Um exercício que tem exigido múltiplos olhares

cruzados sobre diferentes contextos, nomeadamente acerca da prevalência, em momen­

tos e períodos concretos, de teorias e métodos na arqueologia subsaariana (Robertshaw:

2006: 5).

Antecedentes

Mesmo que residual e diluído por entre outras áreas do conhecimento, o passado mais

remoto dos territórios administrados por Portugal na África subsaariana suscitou sempre

algum interesse junto de quem acompanhava as principais tendências de investigação

europeias nesta matéria. Tal ocorria, pelo menos, desde finais de Oitocentos (Martins,

2012). A maior curiosidade era, no entanto, suscitada por registos etnográficos de dife­

rentes aspectos quotidianos plasmados, muitas vezes, em materialidades colecionadas e

musealizadas no mundo ocidental, enquanto inspiravam estetas, literatos e artistas visi­

tando certames internacionais.

Embora com menor intensidade e recorrência, Portugal não foi indiferente a este movi­

mento. Movimento científico e cultural, mas também político, económico e religioso, que

alteraria o modo de a Europa se olhar e de olhar o ‘Outro’, o ‘Outro’ transatlântico e, em

concreto, o subsaariano. Não teve, contudo, e por razões que não cabe aqui explanar, a

dimensão e o impacte verificáveis noutros países, designadamente em França e na Ingla­

terra, mergulhadas em pleno

Scramble for Africa

(1881-1914). Pelo menos, até à Conferência

de Berlim (1884-85), em cuja sequência Portugal gerou o Mapa Cor-de-Rosa.

Neste entretanto, a aparente inércia da política central portuguesa pela defesa dos interes­

ses nacionais nos territórios de além-mar motivou a criação da Sociedade de Geografia de

Lisboa (SGL) (1975), à qual se seguiu a Comissão Central Permanente de Geografia (1876)

reestruturada em 1883, já como Comissão de Cartografia1 * * *, poucos anos transcorridos sobre

o centenário camoniano, a receção triunfal de exploradores africanos, a delineação da

expedição científica à Serra da Estrela e a realização da 9.5 sessão do Congresso Inter­

nacional de Antropologia e Arqueologia Pré-histórica (Lisboa, 1880). Eventos que, junta­

mente ao posterior

Ultimatum

(1890), fortaleceram a exaltação nacionalista fundamental

à recuperação de diversas dimensões do país envolto, de há décadas a essa parte, em

inúmeros e gravosos problemas internos e externos, entre os quais sobressaía a política

colonial ou, antes, a quase ausência de política colonial. Situação tanto mais inquietante,

quando as ambições lançadas por outras capitais europeias sobre territórios portugueses

em África exigiam uma presença local mais efetiva e eficaz, explorando racionalmente as

suas múltiplas riquezas.

Mas, para tal, havia que conhecer, profundamente, as suas especificidades. Cumprir este

desiderato significava, porém, organizar missões científicas dotadas dos meios humanos e

materiais necessários à recolha sistemática de dados vertidos em relatórios detalhados, ao

mesmo tempo que se inscreviam numa crescente rede de produção, transmissão e receção

de conhecimento, e concorriam para uma administração colonial que se desejava

profi-1 «... foi criada, junto do Ministério da Marinha e Ultramar, uma comissão permanente para organizar explorações cientí­ ficas, coligir documentos e exemplares, promover trabalhos e publicações referentes à Antropologia, Geografia, Etnologia

e Arqueologia das nossas possessões de Além-Mar, a-fim-de estudar os mais importantes problemas antropológicos, climatológicos, etnológicos, aclimalógicos e demográficos dessas províncias ultramarinas, para assim cooperar no seu progressivo conhecimento e desenvolvimento» (Correia, 1934: 7. Nosso Negrito).

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ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

ciente (Martins, 2010b). Tarefa que, pela sua complexidade, devia competir ao governo

central do país, acompanhando, de perto, soluções encontradas por outras governações,

em colaboração estreita com 0 mundo industrial e comercial, e com suporte logístico

militar (Martins, 2012). Instava, sem dúvida, obter uma noção mais sólida e profunda des­

sas longínquas geografias e geologias, alargando a noção de geografia a todas as ciências

humanas e naturais (Lobato, 1983: 72), enquanto arqueólogos e antropólogos começavam a

olhar para a África subsaariana como se de um museu franqueado da pré-história humana

se tratasse.

Portugal, por seu turno, principiava campanhas militares em solo angolano, acompa­

nhando reconhecimentos políticos e expedições científicas. Não obstante, afirmar-se-ia,

ainda em finais dos anos 20, que

em Angola como nas outras colónias,

a investigação

scientifica portuguesa não se afirmou como devia

(Carrisso, 1928:19. Nosso negrito).

Embora a essencialidade, para o país, desta estratégia justificasse a sua incorporação na

agenda republicana, foi ao Estado Novo (1926/1933-1974) que coube institucionalizá-la na

figura da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais/do Ultramar (JMGIC/

JMGIU) (1936-1951/1952-1973), remodelada de acordo com premências contextuais, pres­

sões internacionais e o progresso científico-tecnológico, enquanto se acentuava o discurso

interno do portuguesismo, mesmo que nem sempre por todos consciencializado (Medina,

2006). Também por isso, os estudos etnográficos foram intensificados, a eles se juntando

os etnológicos, os antropológicos e os arqueológicos, numa procura incessante pela ori­

ginalidade nacional e resgate da materialidade de uma cultura pretendida comum ao

território administrativo. Materialidade nem sempre entendível na sua simbólica e funcio­

nalidade. Razão bastante para se recorrer a comparações etnográficas de usos e costumes

extra-europeus, entre os quais subsaarianos, por se presumir terem cristalizado ou pouco

evoluído e diferenciado: Os índios brasileiros encontravam-se, pois, como os Guanches e os

Hotentotes, num estado cultural correspondente à idade da pedra polida (Correia, 1943: 257).

O movimento conduzido neste sentido não se revestiu, porém, entre nós da dimensão

observada noutros recessos europeus, embora perdurasse anacronicamente, a julgar pelo

seguinte excerto dos anos 60, sobre o Museu Etnológico Português Dr. J. Leite de Vascon­

celos: estabelecer uma comparação das sociedades mortas (restos fósseis) com as sociedades

vivas (povos selvagens), poderá o visitante interessado, observando os objectos expostos

nos mostradores, fazer uma ideia do viver das populações mais antigas que habitaram o

território que hoje é Portugal ou que por aqui passaram. (Machado, 1965: 230). Aquela par­

ticularidade explicar-se-ia com 0 facto de o país não carecer desta área do conhecimento

para justificar a sua existência histórica e respetivas fronteiras políticas.

Havia, no entanto, que permanecer atento ao muito produzido também neste domínio

científico, de modo a contrariar, tanto quanto possível, a ideia de Portugal como perife­

ria académica, de igual modo nesta matéria. Por isso, os seus protagonistas internos se

esforçaram por presenciar eventos internacionais onde a ciência, a tecnologia, as artes e

as letras desvendassem temas e assuntos desta temática concreta que rompia, aos poucos,

compartimentações do saber e se revelava transversal a muitos deles. Melhor se entende

assim o empenho acrescido de alguns em ingressar nas principais redes de produção,

transmissão e receção de conhecimento finissecular, fendendo mutismos, solitudes e ano­

nimatos.

Neste entretanto, diferentes países europeus demonstravam as suas ambições e poderes

ultramarinos em exposições universais e coloniais, exibindo quadros vivos de represen­

tantes (naturvòlker) extra-europeus para reprodução de algumas das suas ações quotidia­

nas. Enquanto isso, determinados círculos académicos portugueses aderiam a tendências

científicas fortemente reprovadas

a posteriori, como se infere da criação da Sociedade

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P ortuguesa de E studos Eugénicos (1937) (Coimbra, 1937)2 (Torgal, 2009, 2: 356), conquanto despojadas das práticas suscitadoras de m aio r polém ica m oral (C astanheira, 2010).

Dinâmicas metropolitanas

Em 1934, o Porto acolhia a 1.- Exposição Colonial P o rtu g u esa (1.3 ECP). Nos qu atro anos precedentes, publicara-se 0 A cto Colonial (1930), a C arta O rgânica do Im pério Colonial Português e a Reforma A d m in istrativ a U ltram arin a, am bas em 1933. D ocum ento s que, em conjunto, consolidavam a ideia de um país indivisível abraçando o além -m ar na sua agenda nacionalista. N esta sequência, a exposição no Porto alicerçava a política colonial p o rtu g u esa, sob retu d o no seio de um a população ain d a pouco ciente da relevância das possessões ex tra-eu ro p eias p ara o devir do país, desig n ad am en te no xadrez político in ternacional. Não que as in iciativas n este sentido fossem in existentes ou om issas. Ao contrário , pois as vozes desdobravam -se nesse sentido, em bora de m odo ainda circu n s­ crito. D isto é exem plo a SGL, ao declarar im perativo realizar u m en co n tro nacio nal para discussão de assu n to s coloniais,

Considerando que a resolução do problema colonial, nos seus mais diversos aspectos, constitue, em grande parte, a garantia do nosso desenvolvimento económico e do nosso futuro político; // [...] / / Considerando quanto importa ao bom nome portuguez

e á elevação moral e política da pátria que não só acompanhemos as outras nações colonizadoras em tudo quanto n'ellas observarmos de progressivo, mas que tentemos ainda excedel-as, com 0 nosso espirito de larga e naturalmente aberto ás grandes cor­ rentes do pensamento (SGL, tgoo: 2)

Entre as in ú m eras ativid ades o rganizadas no âm bito d esta exposição, sobressaiu 0 1.- C ongresso N acional de A ntropolo gia Colonial. Da iniciativa da Sociedade P ortuguesa de A ntropolo gia e Etnologia (Porto, 1918), onde se acolh iam estudos votados à arqueolo gia e à p ré-h istó ria u ltram arin as, o encontro foi presidido por A ntónio A ugusto Esteves M endes Correia (1888-1960), com vista, so bretu do, a en fatizar as possibilidades aplicativas deste cam po de investigação à ad m in istração colonial p o rtu g u esa, contribuindo, tam b ém assim, p ara a

missão civilizadora

nacio nal das populações autó cto nes:

É, portanto, absolutamente necessário que procuremos - se não for antes de tudo, pelo menos ao mesmo tempo em que andarmos esquadrinhando filões de metais pre­ ciosos ou verrumando as camadas geológicas, à cata de poços ou minas petrolíferas,

- indagar a que raças pertencem os seres humanos que vivem nas nossas possessões ultramarinas, inquirindo sobre a sua capacidade para o trabalho e para a civili­ zação, e sobre a sua laboriosidade, tanto na sua modalidade geral, como no tocante às respetivas especializações profissionais. // [...] // Nada disto se acha feito em conjunto,

salvo raros estudos dispersos por iniciativa de um ou outro antropologista isolado, trabalhando de mo tu proprio e sem outro incentivo que não seja a satisfação dum dever cumprido em homenagem à Ciência (Correia, 1934:11. Nosso negrito).

Havia, contudo, m uito a cu m p rir n este capítulo. Na verdade, parecia en co n trar-se tu d o por fazer, com o enunciado pelo m édico e m ilitar Aires Kopke (1866-1947), D irecto r da Escola de M edicina Tropical (1902), no discurso in au g u ral da 1.- ECP,

em geral, falta mesmo à nossa investigação científica colonial 0 concurso valioso que

lhe poderia ser dado, como noutros países, p o r pessoas não especializadas no assunto,

funcionários, militares, professores, médicos, engenheiros, missionários, industriais,

2 P o rtaria 7 948, de 14 d e D ezem bro de 1934, publicada no Diário do Governo, I S, n.“ 293, pp. 2115-2117.

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ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

agricultores, comerciantes. Em regra, entre nós, essas pessoas ou não se interessam por nada fora da sua profissãoou não têm sequer a cultura geral necessária para compreen--derem o interesse científico de certos factos e os arquivarem devidamente, dentro das possibilidades que se lhes oferecem. [...] A culpa é do regime português do ensino.

/ / A s nossas Universidades e escolas vivem geralmente num mundo abstracto em que parecem ignoradas as colónias (i.s Exposição Nacional, 1934:25-26. Nosso negrito).

Comentário assaz esclarecedor do muito a cum prir entre nós neste capítulo. Por isso, sob o m anto da antropologia, a arqueologia assomou, conquanto subsidiariamente, alicer­ çando conclusões essencialistas e estaticistas sobre o passado, o presente e 0 futuro das gentes locais investigadas. Populações que acabaram por centralizar narrativas visuais da própria exposição, através da exibição pública de

negros

da Guiné, depois de, no âmbito das sessões portuenses do 15.2 Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-histórica (1930), Joaquim Alberto Pires de Lima (1877-1951), Constâncio Mascarenhas (1898-1978), Alfredo Ataíde (1890-1960) e Mendes Correia terem apresentando resultados do estudo craniológico de

indígenas

da Guiné enviados aos Institutos de Anatomia3 e de Antropologia da Universidade do Porto, por médicos ali residentes (Correia, 1943: 364). A relevância dos assuntos debatidos no i.fi CNAC justificou a impressão, neste mesmo ano de 1934, do livro de atas incluindo textos resultantes de comunicações apresentadas à 3.2 Secção, de estudos pré-históricos e arqueológicos, em reconhecimento do muito que esclareceriam em termos de observações antropológicas. Entre eles constava As

ruínas de

Zimbábuè e a arqueologia de Moçambique,

de Mendes Correia, e

Arqueologia de Angola,

de Rui de Serpa Pinto (1907-1933) e Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior (1901-1990), a par de outros assinados por arqueólogos sul-africanos. Presença estrangeira que, se por um lado, justificaria a agenda antropológica colonial de Mendes Correia, demonstrava, por outro, a comunhão de temas pré-históricos e arqueológicos subsaarianos, e sublinhava o atraso de Portugal neste contexto científico, quando confrontado ao registado na União Sul-Africana.

O impacte da 1.- ECP e do i.s CNAC (e, mais tarde, da Exposição do Mundo Português, em 1940) junto da comunidade científica e cultural do país foi suficiente para fundam en­ tar a realização, logo no ano seguinte, de uma exposição temática sobre etnologia sul- -africana, intitulada

Ruínas Pré-Portuguesas da África do Sul,

nas instalações do Instituto de Antropologia da Universidade do Porto (1923). Momento que terá sido decisivo para o agendamento da investigação antropológica e pré-histórica no quadro da política cientí­ fica nacional pensada para os territórios ultramarinos. Resolução tanto mais premente quando, cotejando com o muito realizado além-fronteiras, a África Oriental portuguesa continuava a ser desconhecida na quase totalidade das suas riquezas, inclusive históricas e patrimoniais. Situação que em nada abonava a favor da metrópole, particularm ente aos olhos da comunidade científica internacional, pois,

Além da conveniência que há em

apresentar normas de caráter progressivo, uma outra razão torna muito oportunas

quais--quer sugestões de caráter científico, que tendam a esclarecer e a auxiliar a política colonial.

(Correia, 1934: 4). Ademais, os tempos eram, então, exigentes,

Cabe[ndo], portanto, à Ciência, com as suas luzes, coadjuvar aqueles que no campo das realizações se esforçam em traduzir em factos de utilidade coletiva os ditames consagrados pela observação dos fenómenos da Natureza e pela experimentação laboratorial. / / Eis a missão dos antropologistas que se dedicam ao estudo das populações vivendo nas nossas colónias (Correia: 4-5. Nosso negrito)

3 Os estudos anatóm icos encontravam -se, à época, em franca expansão na m edicina portuguesa, fundando-se a Sociedade Anatómica Portuguesa (1932), precedida da Sociedade Anatómica Luso-Hispano-Americana (1930).

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À luz d a d o c u m e n ta ç ão c o m p u lsad a até ao m o m en to , te rá sido e sta a razão p ela q u al a investigação an tro p o ló g ica e, d e n tro d esta, a p ré -h istó ric a e a arq u eo ló g ica, p rin cip ia ram , n ão p o r A ngola, com o seria, talvez, ex pectável, m as p o r M o çam bique. A té p o rq u e, o ca­ sional e in te rm ite n te m e n te , aqu ele te rritó rio já m erecera ate n çõ es de q u em se dedicava a este s a ssu n to s, so m ad o s ao do exercício etn o g ráfic o e co lecio n ista. M as, m ais do q u e a p ro x im id ad e geográfica, a c o m u n h ão eco ssisté m ic a te rá m o tiv ad o o início d este s e stu d o s p re c isa m e n te p o r M o çam bique. D ecisão à q u al n ão te rá e stra n h a d o a im p o rtâ n c ia geo- p o lítica do te rritó rio e a e x istê n cia de alg u m a s e s tru tu ra s púb licas q u e au x ilia ria m n a co n d u ção de tra b a lh o s no te rre n o . A dem ais, p o u co ou n a d a se sabia d a p ré -h istó ria d esta - d esig n ad a à ép o ca -, P ro v ín cia u ltra m a rin a , n u m in có m o d o c o n tra ste com o co n h e c i­ m e n to já re u n id o p ara a v iz in h a U nião Sul-A fricana, m ercê de u m tra b a lh o siste m ático do q u al resu ltav a u m a série de ach ad o s p ale o an tro p o ló g ic o s e de a rte fa cto s líticos, a rela ­ cionar, tip o ló g ic a e cro n o lo g ic am en te, com ex em p lares reco lh id o s em regiões lim ítrofes, n o rte -a fric a n a s e até eu ro p eias (C orreia: 18-19). Não su rp re e n d e , p o r c o n seg u in te, que, em 1936, no 10.2 an o da ‘R evolução N a cio n al’ (França, 2010), o re c e n te m e n te rem o d ela d o M in isté rio das C olónias in stitu ísse a JMGIC/JMGIU, n u m a alian ça ineq u ív o ca (m as n em se m p re lin ear) e n tre p o lítica colonial e científica.

E ste novo e n q u a d ra m e n to p e rm itiu a form ação de u m a p rim e ira m issão an tro p o ló g ic a, d essa feita a M o çam bique (1936-1956), o rie n ta d a , p e ra n te a im p o ssib ilid ad e e m ercê da in d icação de M endes C orreia, p o r S an to s Jún ior, n o m eado , p a ra o efeito, pelo M in istro das C olónias, Francisco José V ieira M achad o (1898-1972), sob p a tro c ín io do In stitu to p a ra a A lta C u ltu ra (1936-1952), do M in isté rio d a E ducação N acional (1936-1974). N ada que e stra n h a sse no p a n o ra m a e u ro p e u coevo, a n te s re p ro d u z in d o e a d a p ta n d o p ro c e d im e n ­ to s tra n sfro n te iriç o s. T ratava-se, pois, de u m a in ic ia tiv a asso cia d a a ta n ta s o u tra s vozes n acio n ais qu e d iv isav am n o e stu d o a n tro p o ló g ic o d as co m u n id ad es a u tó c to n e s u m a p rio ­ rid ad e d a a d m in istra ç ã o colonial. Isto m esm o te ste m u n h o u M end es C orreia em m ú ltip la s in terv en çõ es p ú blicas, esp e c ia lm e n te em en c o n tro s in te rn a c io n a is de m ed icin a tro p ic al (C orreia, 1934: 9):

A própria organização do trabalho está já a formar-se, baseando-se nos

processos antropométricos para os fins do selecionamento das aptidões individuais, o que

contribuirá para a boa harmonia entre o capital e o trabalho

(Correia, 1934:13).

Foi, assim , q u e cou be a Santos Jú n io r a ta re fa de re a liz a r e stu d o s a n tro p o ló g ic o s e a rq u e o ­ lógicos no â m b ito da M issão G eográfica do m esm o te rritó rio (1932-1973) (P ortugal, 1936: 870). Santos Jú n io r q u e d e tin h a clara n oção do m u ito a fazer n e ste cap ítu lo , pelo m u ito p o u co q u e se fizera até então:

O estudo da arqueologia pré-historica das nossas colónias teve [...] algumas peque­ nas notas [...]. Se atentarmos na grande extensão das nossas colónias, pode dizer-se que isto é pouco, como bem pouco é aquilo que hoje vai sendo feito, que, sendo alguma coisa mais, é ainda muito pouco em relação àquilo que podia e devia ser feito (Santos Júnior, 1934:5. Nosso negrito)

E stavam , pois, criad as as co nd ições b asilares à au to n o m ização d esta áre a do co n h eci­ m en to , com o h á m u ito p re te n d ia M endes C orreia. M esm o que la te ra l ao p ro je to colonial p o rtu g u ê s, a an tro p o lo g ia cen tralizav a, de alg u m a m an eira, a atu a ç ã o d a JMGIC, se g u ra ­ m e n te pelo in te re sse de M endes C orreia n e sta m a té ria e pela in flu ên cia que d e tin h a nos círcu lo s co rresp o n d en tes. M o çam bique to rn av a-se, pois, o p rim e iro te rritó rio a m erecer u m a m issão d e sta n a tu re z a no q u ad ro da JMGIC, em co o rd en ação com d em ais lan çad as, en tã o , a e sta P ro v ín cia u ltra m a rin a .

Sa n to s Jú n io r teve, en tã o , o p o rtu n id a d e de, n o terren o , d eslo car-se à U nião S ul-A fricana e à R odésia do Sul, v isita n d o m u se u s, sítio s arq u eo ló g ic o s e pale to n to ló g ic o s, e in stitu to s de in v estig ação da esp ecia lid ad e, on de, a p a r d a a n álise de m ate ria is, trav o u c o n h ecim en to

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ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

com individualidades im portantes na sua inserção em redes regionais e transregionais de produção, transm issão e receção de conhecimento, influindo no prosseguim ento e visi­ bilidade dos seus trabalhos ulteriores, decorrentes, na maioria, dos m ilhares de objetos coletados e das dezenas de sítios identificados. Disso foi exemplo a proxim idade estabele­ cida com Clarence van Riet Lowe (1894-1956), Director do A rc h a e o lo g ic a l S u r v e y da União Sul-Africana, e Raymond Dart (1893-1988), anatom ista australiano e Director do Depar­ tam ento de Anatom ia da Universidade de W itw atersrand do mesmo pais, a quern Santos Júnior dedicou os seus textos publicados em M o ç a m b iq u e : D o c u m e n tá r io T r im e s tr a l (San­ tos Júnior, 1937 e 1938). Disso nos dá, de igual modo, conta a sua participação activa em múltiplos encontros científicos de impacte transfronteiriço. Foram os casos do XIII Con­ gresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências (Lisboa, 1950) (Santos Júnior, 1950) e do II Congresso Pan-Africano de Pré-História (CPAPH) (Argel, 1952) (Santos Júnior, 1955). Com efeito, procurava-se aproxim ar a investigação arqueológica portuguesa à produzida em territórios circunvizinhos, sobretudo quanto ao estudo da id a d e da p e d r a , um a vez que, À e x tr a o r d in á r ia r iq u e z a da U n iã o d a Á fr ic a d o S u l e d a R o d é sia e m d o c u m e n to s p a le o --a n tr o p o ló g ic o s e e m e s ta ç õ e s d a id a d e d a p e d ra , c o rr e s p o n d e a u m a s in g u la r p o b r e z a d o s m e s m o s d o c u m e n to s e e s ta ç õ e s n o q u e d iz r e s p e ito à n o s s a C o ló n ia d e M o ç a m b iq u e . (Santos Júnior, 1937: 95). Mais do que isso, havia que instigar a colaboração internacional cientí­ fica, tanto na metrópole, como no ultram ar. Até porque as diferentes sabedorias, aplicadas e utilitárias, n ’a r r e te n t p a s le u r s p r o b lè m e s d a n s les f r o n tiè r e s p o litiq u e s (Mendes Correia, 1950: XLIII), tornando a ciência, u n iv e r s e lle m e n t, la b a s e d u g o u v e r n e m e n t, d u d é ve lo p p e -m e n t e t d e V a ven ir d u -m o n d e e t, s p é c ia le -m e n t, d e s c o lo n ie s (Mendes Correia, 1950: XLIII). Entretanto, a experiência colhida em Moçambique instou a repensar a estratégia definida de início para as missões antropológicas. Principalmente, pela inexistência transdiscipli- nar, fundam ental ao conhecim ento mais próximo das realidades observadas, estreitando a colaboração entre arqueólogos e geólogos. Desde logo, para estudar a Pré-História m oçam ­ bicana (Santos Júnior, 1950: 651), conquanto essa aproximação devesse incluir outras especialidades. A começar pela filologia, de modo a diversificar os estudos reforçados com maiores recursos m ateriais e prazos de execução. Havia, no entanto, que dem onstrar aos poderes políticos que a rentabilização dos territórios ultram arinos seria mais enérgica, rápida e sólida, se existisse uma noção mais profunda e abrangente do m o d u s v iv e n d i e fa c ie n d i das populações autóctones. Em especial, no respeitante a o s v a lo r e s in d íg e n a s, d a s

s u a s a r te s p r im itiv a s , d a s s u a s lín g u a s, c o s tu m e s e tr a d iç õ e s, d e tu d o q u e p o s s a r e g istr a r u m a e x is tê n c ia , u m a p e r s o n a lid a d e q u e o te m p o fa ta l m e n t e d e s tr u ir á (B o le tim C u ltu r a l da G u in é P o r tu g u e s a , n.9 5,1946: 268). Com efeito,

A s c o ló n ia s n ã o s ã o d e p ó s ito s d e r iq u e z a , q u e lá s e vã o b u sc a r , o p r im in d o o s in d íg e ­ n a s, m a s e n tid a d e s n o v a s, c r ia ç õ e s da h u m a n id a d e , p a r t e s v á l i d a s d o E s ta d o , a q u e, p e lo p r o g r e s s o c ie n tífic o , m o r a l, e c o n ó m ic o e p o lític o , s e d e v e fa c ili ta r 0 a c e s s o a o s m a is a lt o s d e s tin o s c o m o s e f a z a q u a lq u e r o u tr a p a r t e d o te r r itó r i o n a c io n a l (SG L, 1946:21. N o s s o n e g rito )

Foi neste enquadram ento, consolidado na reestruturação recente da JMGIC, sob o signo do P la n o d e O c u p a ç ã o C ie n tífic a d o U ltr a m a r P o r tu g u ê s (1941), inscrito no quinquénio de 1942-1947, concebido quando a Europa mergulhava na sua segunda Grande Guerra, que Mendes Correia considerou relevante m ontar nova missão antropológica a outra Província ultram arina. Procurou, no entanto, conciliá-la à nova orientação atribuída à investiga­ ção científica na dim ensão espacial - considerada, à época -, portuguesa: a melhoria das condições de vida das comunidades locais. Assim surgiu U m a jo r n a d a c ie n tífic a n a G u in é p o r tu g u e s a (Correia, 1947).

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E nquanto isto, parecia que Angola desinteressava a Lisboa. Nada m ais ilusório, com o se verificaria em breve. Reconhecia-se, porém , existir u m a in stitu ição com m aior capacidade para apoiar estudos sim ilares no terren o , a D iam ang - C om panhia de D iam antes de Angola (1917), à qual se devia, e n tre outros aspetos, a criação do M useu do D undo (1936) - rede- n om inado Etnológico (1942) -, e a edição da coleção com o m esm o nom e (1946), com a qual colaboraram vários autores p o rtu g u eses e estrangeiros, m uitos dos quais de renom e internacional.

Mas, Lisboa não podia p erm an ecer indiferente ao m uito concretizado cientificam ente por o utras m etrópoles nas suas respetivas possessões u ltram arin as. Disso tam b ém dependia 0 lugar de P ortugal no xadrez político internacional, sobretudo face a crescentes pressões internacionais colocadas sobre o seu regim e governam ental e, acim a de tudo, política colo­ nial. Reconhecendo o im perativo de acelerar, apro fu n d ar e dilatar as pesquisas científicas nas colónias, os decisores políticos revigoravam a reorientação dos trab alh o s segundo bússolas u tilitárias, sem desm erecer o estudo puramente cu ltu ral (e especulativ[o]), p erm itin d o com ­ p reen d er m elhor 0 conteúdo parcelar de legislação publicada à época (Conde et alia, 2015):

Os estudos de antropologia física também têm 0 seu interesse, pois sobre eles se

procuram estabelecer as características somáticas e as possibilidades psico-físicas

os diferentes povos e tribos coloniais. A antropologia económica, social, legal, etc.,

poderá auxiliar grandemente a administração das populações indígenas. A etnografia

também surgirá como auxiliar útil destes estudos, como fonte preciosa de informa­

ções. H A arqueologia figuraria, assim, em posição secundária. Isto não quer dizer

que

0

seu interesse especulativo seja menor do que qualquer dos outros domínios de

estudo (Agência Geral das Colónias,

1945:25.

Nossos negritos).

Por isto, M endes C orreia evidenciava quão obsoleto se enco n trav a P ortugal n este âm bito, h ip erb o lizan d o u m a causa cen tral do ag en te científico p o rtu g u ê s n essas regiões: a sua prio rid ad e relativ am en te a o utros. Havia, pois, que a fas ta r libelos c o n tra o seu h ipotético d e s p ren d im en to e - 0 que era pior -, im proficiência. A lém disso, p e rm itia -lh e fortalecer a n u clearid ad e das ciências h u m a n a s e sociais neste processo, c o n tra ria m en te ao assu m id o por in stân c ias su p ern as. A specto ta n to m ais relevante, quando, nos p rim eiros anos da década de 30, an tropólogos da E uropa cen tral, com o Carl S chneider (1891-1946), Hugo A dolf B ernatzik (1897-1953) e B ern h ard S truck (1888-1971) tin h a m realizado estudos antropológicos e etnográficos na Guiné, p rin c ip a lm e n te ju n to dos Bijagós, publicando p arte significativa dos m esm os (Correia, 1943: 365).

R etom adas pela JMGIC ap en as em 1945, as m issões an tro p o ló g icas desvendavam a atenção lateral do governo pelo assunto, ao não lhes en trev er um reto rn o m ais im ediato. M or- m en te q u a n to à arqueologia, exercida d oravante por em p en h o individual de quem in te ­ grava as cam p an h as. A pesar da tónica prin cip al ser colocada no registo a n tro p o m é tric o das populações u ltra m a rin a s, as a uto rid ad es p erm itiam a realização de estu d o s a rq u eo ló ­ gicos. A isso instava a a u to rid ad e de M endes C orreia in teirad o da sua prem ência, p e ran te o im pulso que o b tin h a m n o u tro s ag en d am en to s coloniais - esp ecialm en te inglês e francês -, focados em co m p reen d er a origem e o p e rc u rso dos povos. D este m odo se afastavam d iatrib es lançadas co n tra a inação p o rtu g u e sa nesta esfera científica, ao m esm o tem p o que os nom es d ire c ta m e n te envolvidos nele alicerçavam alian ças científicas intern acio n ais.

Dinâmicas

lo

cais

e reg

ionais

Mas, e localm ente? Q ue ocorria neste âm b ito nas p róprias P rovíncias u ltram arin as? Con­ tra ria m e n te ao que se p o d eria p re su m ir em resu ltad o de u m a leitu ra m enos aten ta, m uito se pro d u zia localm ente. S obretudo por p a rte de quem acom panhava, por d iferen tes m eios,

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ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

tr a b a lh o s re a liz a d o s e m in s titu iç õ e s p e r te n c e n te s a te r r itó r io s lim ítro fe s e n o u tr a s s itu a ­ d a s n a o c id e n ta lid a d e e u r o p e ia e n o r te - a m e r ic a n a .

T o m a n d o c o m o e x e m p lo , v á ria s d e s ta s in ic ia tiv a s, c r ia r a m so c ie d a d e s d e e s tu d o , in c e n ti­ v a r a m a in v e stig a ç ã o , o r g a n iz a r a m v is ita s d e e s tu d o , p r o m o v e ra m c o n fe rê n c ia s, c o n v id a ­ ra m e s p e c ia lis ta s e s tr a n g e ir o s , la n ç a r a m p o n te s d e c o m u n ic a ç ã o c o m e n tid a d e s c ie n tíf ic a s t r a n s f r o n te ir iç a s e e d ita r a m p e rió d ic o s. U m a c o n v ic ç ã o le g itim a d a p e la p re s e n ç a a m iú d e d e in v e s tig a d o r e s p r e s tig ia d o s p r o v e n ie n te s d a U n iã o S u l-A fric a n a , a e x e m p lo d e C. v a n R iet Low e, e m e n tr e v is ta c o n c e d id a à re v is ta m e n s a l d e v u lg a r iz a ç ã o d e c o n h e c im e n to s

Rádio Moçambique,

n o se u n ú m e r o 74, d e 1941, a o s u b lin h a r q u e O s

contactos culturais

com outras partes de África

não atraem tanto as atenções como as relações políticas

mas são, sob certos aspectos, mais valiosos.

Aplanam o caminho para um entendimento

internacional,

pela simples razão de que não são maculados por interêsses egoístas

(N o s­ so s n e g rito s) . A s u a a u to r id a d e n e s ta m a té r ia ju stif ic o u , e n tr e ta n to , a tr a d u ç ã o , p a ra p o r tu g u ê s , d e a lg u n s d o s se u s e sc rito s, u m a v ez m a is p a ra v a lid a r u m a a g e n d a c ie n tíf ic o - - c u ltu r a l a c a le n ta d a p e la S o c ie d a d e d e E stu d o s d a C o ló n ia d e M o ç a m b iq u e (SECM ) (1930- 1975), o n d e se a fir m a v a e s ta r a c o ló n ia d e M o ç a m b iq u e ,

também destinada a desempenhar papel importante no esclarecimento do período proto-histórico da África Meridional. [...]. Esperemos, pois, que seja possível preencher a lacuna deixada pelo infeliz acidente que obrigou Santos Júnior a regressar à Metrópole, e que possa haver estímulo para aqueles que, à sua própria custa, e em horas roubadas ao descanso, se dedicam na Colónia a estas investigações [...]. // Olho confiante para um futuro em que êste ainda mal explorado território há-de surpreender o resto da África pela sua importância arqueológica (Barradas, 1943:5. Nossos negritos).

A os p o u c o s, o s m e m b ro s d a SECM c o n tr ib u ír a m , m e sm o q u e in c o n s c ie n te m e n te , p a r a a c o m p o siç ã o d e u m a r e d e lo c a l e re g io n a l d e p ro d u ç ã o , d iv u lg a ç ã o e a p r e e n s ã o d e c o n h e ­ c im e n to , a u tó n o m a d a in te r v e n ç ã o d e q u e m a p o r ta v a d e L isb o a , m e sm o q u e n o â m b ito d e m is s õ e s d a JM G IC e c o m o b e n e p lá c ito d e M e n d e s C o rre ia .

P a ra A n g o la , c r io u - s e a M issã o A n tr o p o b io ló g ic a (1950-1955), à q u a l se d e v e u a d e s c o b e r ta d e e s ta ç õ e s a rq u e o ló g ic a s, o e s tu d o d e p i n t u r a s r u p e s tr e s e d e r e c in to s a m u r a lh a d o s ( I n s ­ t i t u t o S u p e rio r d e E stu d o s U ltr a m a r in o s , 1956: 2) e tr a b a lh o s so b re os e n tã o d e n o m in a d o s b o s q u ím a n o s . E sta s in v e stig a ç õ e s p r o s s e g u ir a m n o C e n tr o d e E stu d o s d e E tn o lo g ia d o U ltr a m a r (1954), a n te c e s s o r d o C e n tr o d e E stu d o s d e A n tr o p o b io lo g ia (1962), a m b o s d ir ig i­ d o s p e lo a n tr o p ó lo g o e p ro fe ss o r u n iv e r s itá r io A n tó n io d e A lm e id a (1900-1984), c o n ta n d o c o m a c o la b o ra ç ã o , e n t r e o u tr o s , d o g e ó lo g o e p r é - h is to r ia d o r Jo sé C a m a r a te F ra n ç a (1923- 1963). M as, o s e s tu d o s m a is s is te m á tic o s e r a m c o n d u z id o s d e sd e o s a n o s 30 p o r c o la b o ra ­ d o re s d o M u se u d o D u n d o , c u ja se c ç ã o d e g e o lo g ia e p r é - h is tó r ia e ra s u p e r v is io n a d a p e lo g e ó lo g o b e lg a Je a n J a n m a r t (7-1955), d e v e n d o - s e - lh e a s p r im e ir a s in c u r s õ e s in te r n a c io n a is c o m o o b je c tiv o d e c r ia r u m a re d e d e d e b a te s u b o r d in a d a à s q u e s tõ e s d a a r q u e o lo g ia a f r i­ c a n a , tr a d u z id a e m im p o r ta n te s c o la b o ra ç õ e s d e L o u is L ea k ey (1903-1972) (L eakey, 1949), H e n ri B re úil (1877-1961) (B reu il, J a n m a r t, 1950) e Jo h n D e sm o n d C la rk (1916-2002) (C lark, 1 9 6 3 ,1 9 6 6 e 1968).

Q u a n d o à P ro v ín c ia d a G u in é , e la d e tin h a , já n o s a n o s 4 0, d e m e c a n is m o s o r g a n iz a d o s d e in v e stig a ç ã o e d iv u lg a ç ã o c ie n tífic a so b re o se u te r r itó r io e a s s u a s g e n te s, c o la b o ra n d o c o m e n tid a d e s in te r n a c io n a is d e m e n ç ã o n o s s a b e re s c o n te m p la d o s, c o m d e s ta q u e p a r a a c o s ta o c id e n ta l a f r ic a n a , a o m e sm o te m p o q u e p ro c u ra v a d a r c o rp o a o ‘M u s e u d a G u in é

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Portu g u esa’4. Sendo

tempo de a Guiné ser mais alguma coisa do que um campo fértil de

produtos materiais

(Boletim Cultural da Guiné Portuguesa,

n.e 1, 1946: 7), e urgindo pro­ mover a sua

elevação

cultural, a Guiné transm udou-se, de algum modo, em protótipo de program ação científica a reeditar noutros recantos colonizados, dobrando a insistência no estreitar de ligações com dem ais com unidades científicas. Enquanto isso, criticava-se, com algum a severidade, a

investigação científica ultramarina em Portugal,

m anifestada, sobretudo,

através de missões temporárias aos territórios

(

Boletim Cultural da Guiné Por­

tuguesa,

n.? 32,1953: 643-644). Era o que procurava fazer o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa (1945):

as nossas relações culturais têm-se intensificado sobretudo com os territórios vizi­ nhos, no meio dos quais já hoje não somos mancha escura como outrora... É claro que apesar de nunca

termos merecido a devida consideração dos organismos

metropolitanos encarregados deste domínio das ciências coloniais - pois até

hoje ainda não foi enviada nenhuma das colaborações prometidas

- nem por isso deixaremos de tentar estabelecer contactos como eles, sempre agradáveis e sem dúvida úteis em ensinamentos (Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. n.g 10, 1948:

526. Nosso negrito).

Sem negarem as vantagens oferecidas por algum as destas missões, sobretudo quando m ovim entavam recursos e meios científicos e técnicos de que as províncias ultram arinas não dispunham , apelaram sem pre para que, a par delas, se fom entasse o desenvolvim ento de instituições locais de investigação (

Boletim Cultural da Guiné Portuguesa,

n.? 10, 1948: 526).

Mas, antes de Angola e da Guiné, foi M oçambique a antecipar-se neste capítulo, consti­ tuindo a SECM com Boletim periódico (1931-1974) e destinada a contribuir para o desen­ volvim ento cultural e económ ico do território, promovendo, para tal, estudos cientificos e a colaboração com entidades neles interessadas. Pouco depois, a arqueologia principiava a ocupar espaço nas suas atividades, designadam ente por mão do engenheiro-agrónom o Lereno A ntunes Barradas (1890-1974), com a descoberta, em 1936, de um a estação paleolí­ tica na região de Magude, (Barradas: 1942).

Deu-se, então, início a um período de intensa actividade arqueológica no território, em especial a sul do Save e no - então -, distrito de Lourenço M arques (actual Maputo), com o apoio da Repartição Técnica de Indústria e Geologia, e em colaboração com o

Archaeo­

logical Survey

da União Sul-Africana. Actividade reforçada com a Comissão dos M onu­ m entos e Relíquias H istóricas de Moçambique (1943) - m im etizada de organism o análogo existente no território vizinho5 -, em cujo decreto de criação se afirmava que,

a par de se

investigar, classificar, restaurar e conservar os nossos monumentos e relíquias, se divulgue

o seu conhecimento arqueológico-histórico, e bem assim que se promova a sua propaganda

cultural e turística4 5 6 *.

Daqui resultaram diversas acções desenvolvidas tam bém em parceria com a SECM. Entre elas, conferências de especialistas procedentes da União Sul-Africana, como as proferidas por H. Breúil e Riet van Lowe, a convite daquela Comissão, em Agosto de 1944, nas quais se enfatizou a prem ência de intensificar a investigação pré e proto- -histórica nas colónias africanas de Portugal, e realizar congressos para reunir dados dissem inados sobre a arqueologia de Moçambique (Barradas, 1948).

4 Além dos exem plos coetâneos existentes noutras capitais de colónias europeias não portuguesas, o testem unho - ainda que privado do M useu do D undo (1936), em Angola, e a existência do M useu de Geologia ‘Freire de A ndrade’ (1940), em Lourenço M arques, M oçam bique, não terão sido estranhos ao im pulso conferido a este a ssunto localm ente.

5 Com issão de Conservação dos M onum entos Nacionais, Relíquias e A ntiguidades da União da África do Sul. 6 Diploma Legislativo n.9 825 de 20 de Fevereiro (Nosso itálico).

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ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

Sem dúvida, não se podia c o n tin u a r a ig n o rar a riq u eza científica do territó rio, sob p en a de a política científica colonial p o rtu g u e sa c o n tin u a r a ser criticad a n eg ativ am en te pela co m u n id ad e in tern acio n al.

E n q u an to isto, organizava-se, sob os auspícios do casal Louis e M ary Leakey (1913-1972), e a p residência de H. Breúil, o 1 CPAPH (N airobi, 1947), reu n in d o , pela p rim eira vez, pré- -h isto riad o res, paleontólogos e geólogos. A au sên cia da p articip ação m e tro p o litan a foi colm atad a com a p resen ça provincial u ltram a rin a . Foi assim que, e n trelaçan d o geologia, clim atologia e arqueologia, L. B arradas e M anuel B etten co u rt Dias c o n stitu íra m a d ele­ gação de M oçam bique, co m u n ican d o sobre o Q u a te rn á rio (Barradas, 1952a), 1952b). E o reco n h ecim en to do trab a lh o de L. B arradas valeu-lhe a recom endação de C. v an Riet Lowe p ara presidir, no an o seg uinte, à Secção de A rqueologia do C ongresso da A ssociação A fri­ can a p ara o Avanço das Ciências, realizado em L ourenço M arques.

Considerações finais

O s tra b a lh o s conduzidos pela m etrópole, circu n scrito s a cam p a n h a s episódicas e de c u rta duração, nas quais a arqueologia era trib u tá ria de estu d o s o rien tad o s p ara a im p lem en ta­

ção de u m a

p

o

lítica indígena,

revelaram -se insuficientes p ara conhecer e divulgar a riqueza

dos territó rio s ultra m a rin o s. N om eadam ente, no que respeitava à sua p ré-h istó ria, a exigir u m a p e rm a n ê n c ia e u m a sistem atização de investigação a a ssu m ir localm ente. Foi o que ocorreu, m ercê do in teresse, em p en h o e ten acid ad e de agentes provinciais que, em co n ­ ju n to , em m u ito c o n trib u íram p ara a produção, tran sm issão e receção de co n h ecim en to arqueológico. M orm ente, regional.

Não co n fig u ran d o um a prio rid ad e na agenda colonial p o rtu g u esa, ap esar dos esforços, por

vezes árduos, das m issões enviadas da m etrópole, cren tes nos seus objectivos

patrióticos,

a arqueologia foi sendo assu m id a ao sabor de ações individ u ais apoiadas por organism os públicos e privados, de âm b ito local e regional (M artins, 2010). Disso nos dá co n ta o exem ­ p lar m ovim ento associativo provincial, de ca rá c ter (m ais ou m enos) eru d ito , que soube in cen tiv ar a investigação em diversos d o m ínios e levar o nom e das resp ectiv as colónias a en co n tro s científicos da m aio r relevância para o conhecim ento, não ap en as regional, com o m undial.

E ntre o u tro s resu ltad o s d esta persistência, destaca-se a II C onferência In tern acio n al dos A frican istas O cid en tais, realizad a em Bissau, de 8 a 14 de Fevereiro de 1947, ou seja, e n tre c a m p an h as da M issão A ntropológica e E tnológica da G uiné (1946-1947) e - s in to m atica­ m en te -, no m ês seg u in te ao I CPAPH. C oincidência que podia res u lta r ap en as do sentido de o p o rtu n id a d e , apro v eitan d o a p erm an ên cia de investigadores de fora do c o n tin en te africano que assim p o d iam p a rtic ip ar ta m b é m neste encontro, c o n trib u in d o p ara d is ­ cussões com uns. Mas, esta coincidência p o d ia decorrer, de igual m odo (ou sobretudo) da necessidade de c on tra p o r u m a investigação conduzida, essencialm ente, pela escola anglo- -saxónica, a o u tra, de raiz francófona.

Em tod o o caso, não terá sido o único evento d este an o de 1947 a registar, co n q u an to in d ire tam e n te, o ascen d en te da reu n ião de N airobi. E ntre 8 e 13 de Setem bro, decorreu, em L ourenço M arques, o p rim eiro congresso da SECM. A ssim se expressava quão u rg en te se to rn a ra a tu aliz ar a investigação, ta m b é m no d o m ínio arqueológico, sobre o qual foram ap resen tad as com unicações na sessão co n ju n ta das seções de geologia e geografia, h istó ria e sociologia, econom ia e e s tatística, n u m a abordagem p reten d id a tran sv ersal. M ais do que isso, havia que re u n ir todos os dados ex isten tes sobre a arqueologia de M oçam bique, n u m a tarefa a cu m p rir por com issão criada esp ecialm en te p ara o efeito, em colaboração e s treita com a Secção Técnica de In d ú stria e Geologia, da colónia.

(12)

E

mergia, assim, e uma vez mais, a noção de que um trabalho desta natureza, envergadura

e responsabilidade devia ser, parcialmente que fosse, acometido à acção estatal, em razão

dos recursos exigidos pela sua execução. Realização que instava, mais do que nunca. Pelo

menos, a julgar pelo muito então produzido noutras colónias, nomeadamente inglesas e

francesas. Por isso, Mendes Correia, sempre atento à (quase inexistente) gestão da inves­

tigação arqueológica nas possessões ultramarinas portuguesas, entendia indigno para

o país que os dois encontros internacionais de 1947 avocassem a indispensabilidade de

enviar especialistas estrangeiros a Angola, a fim de recolherem elementos essenciais à

execução do grande atlas da pré-história de África, perdendo-se, assim, uma prioridade

que, no seu entender, devia caber a Portugal (Correia, 1948).

O interesse colhido por estrangeiros em visita a Moçambique e participantes em reuniões

científicas com intervenções desta Província ultramarina portuguesa, assim como as acti-

vidades conduzidas pelo CECP, fundamentaram o acolhimento, em Lourenço Marques,

do 4Ó.g Congresso da Associação Sul-Africana para o Progresso das Ciências (CASAPC)

(1948), um dos fóruns mais importantes de divulgação científica na região. Assim se pres­

tigiava a acção da SECM, os esforços colocados pela Colónia no desenvolvimento cientí­

fico, a relevância de estudos efectuados e a comunhão de temas, que não se compadeciam

com fronteiras políticas. Mas do que tudo, havia que expandir a proficiente cooperação

regional entre Moçambique e a União Sul-Africana, como relembrado na esteira da 50.*

sessão do CASAPC (Cidade do Cabo, 1952)

(Boletim da Sociedade de Estudos de

Moçambi--que,

1953: 47-50):

O estudo dos territórios portugueses em África tem sido feito sem nenhuma ou

fraca colaboração das actuais nações colonialistas. [...]./ / Há alguns anos que

mantemos intercâmbio com cientistas da União da África do Sul e temos veri­ ficado 0 entusiasmo, a simpatia e 0 interesse com que a nossa actividade é recebida. [...]. E, por isso, estamos convictos que não será difícil organizar-se um serviço que estreite as relações Científicas, não ficando estas limitadas únicamente a

alguns casos particulares, m a is ou menos esporádicos. / / Assim, seria excelente esta­

belecer na Sociedade de Estudos da Província de Moçambique, um gabinete de intercâmbio que teria por fim facilitar as relações profissionais entre cientistas portugueses e cientistas da União, pelo menos na fase inicial de intercâmbio (Ferreira e Ferreira, 1953:47-50. Nossos negritos).

Convicção mantida em 1958 e 1968, na 56 ®

e 66.s edições do CASAPC, de novo em Lou­

renço Marques. Sobretudo na primeira, com 0 discurso presidencial de Arthur Edward H.

Bleksley (1908-1984), intitulado A

ciência e a sociedade.

A afirmação e o desenvolvimento da arqueologia nestes longínquos, da metrópole, terri­

tórios, não se conformavam a missões episódicas nas quais era suplementar. Asseverar a

ciência arqueológica no terreno impunha a constituição de um organismo permanente

que lhe fosse devotado no terreno. Na sua ausência, e até à formação dos Institutos de

Investigação Científica de Angola e de Moçambique (1955), foram individualidades com

diferentes formações académicas, especialmente geológica, a calcorrear os territórios,

analisando estratigrafias rasgadas por grandes obras públicas e recolhendo artefactos des­

tinados a coleções privadas e a museus públicos concebidos especialmente para o efeito.

Havia, pois, um longo caminho a percorrer, sobretudo perante a indiferença da metrópole

por assuntos arqueológicos das suas distantes paragens subsaarianas, a julgar pelo débil

eco obtido com as comunicações deste ternário apresentadas ao

1

Congresso Nacional de

Arqueologia (Lisboa, 1958), e não obstante as inúmeras publicações resultantes de traba­

lhos realizados no âmbito de missões antropológicas e antropobiológicas e dos reiterados

clamores de Mendes Correia.

(13)

AR QU EO LO G IA PORTUGUESA EM SOLO AFRICANO DURANTE O ESTADO NOVO: (ALGUNS) ATORES, ESPAÇOS ...

M u ito h a v ia, se m d ú v id a , p o r c u m p rir . D esd e logo, o refo rço d e e s tu d o s n o te r r e n o e n o la b o ra tó rio , a s s im co m o a ex ec u ç ão d e c a r ta s a rq u e o ló g ic a s e d e in v e n tá rio s d e sítio s e d e m a te ria is e n c o n tr a d o s . D ep o is, a p u b lic a ç ã o d e m o n o g ra fia s. P or fim , m a s e m s im u ltâ ­ n eo , a p ro m o ç ã o d a s a lv a g u a rd a d o s sítio s e co leç õ e s a rq u e o ló g ic o s e re s p e tiv o in te re s s e tu rís tic o .

M as, a lh e ia se rev elav a ta m b é m L isbo a d a arq u e o lo g ia p ra tic a d a no seu te rritó rio e u r o ­ p e u . U m d e s in te re s s e (a p a re n te m e n te ) g e n e ra liz a d o d a p o lític a c ie n tífic a p o rtu g u e s a , q u e ta m b é m o foi p ró p ria c o m u n id a d e c ie n tífica p o rtu g u e s a , m esm o q u a n d o M ig uel R am o s (1932-1991) c o o rd e n o u a p rim e ir a m iss ão arq u e o ló g ic a d a JM GIU, ao S u d o este d e A ng ola (1966-1967), em c o lab o raç ão co m e n tid a d e s e o rg a n is m o s locais.

U ltra p a s s a r-s e -á , co n tu d o , e s ta in d ife re n ç a ao re c u p e ra r-s e d e p ro ta g o n is ta s , esp aço s, a g e n d a s e p ro je to s n a á re a , in s e rin d o -o s em d if e re n te s d in â m ic a s h is tó ric a s e cie n tífic a s d e fôlego re g io n a l, n a c io n a l e in te rn a c io n a l, e a v a lia n d o d e q u e m o d o 0 d éb il in v e s tim e n to n a a rq u e o lo g ia m e tro p o lita n a d e te rm in o u o d e s e n v o lv im e n to d e s ta ciên cia n o s seu s te r r i­ tó rio s u ltra m a rin o s , e a re acção s e q u e n te d a s so c ie d a d e s e ru d ita s locais face a e s ta s itu a ç ã o p e c u lia r d o p a n o ra m a c ie n tífico o c id e n ta l.

A

gradecimentos

P a tríc ia C o n de, p elo ap o io n a c o n s u lta d e m a te ria l d e arq u iv o . E ste te x to re s u lta d o p ro jeto d e P ó s -D o u to ra m e n to “A rq u eo lo g ia em tra n s iç ã o n u m P o rtu g a l em tra n s fo rm a ç ã o : ato re s, in s titu iç õ e s e p ro je to s (1958-1977)”, fin a n c ia d o p ela F u n d aç ão p a ra a C iên cia e a T e c n o ­ lo g ia (FCT) (SFR H /B D P/105375/2014), te n d o co m o u n id a d e d e a c o lh im e n to o IHC-NOVA- -C E H F C i-U .Évora. D eco rre, d e ig u al m od o , d o p ro je to FCT, PTD C /lV C -H FC /5017/2012, “PR O M E M IC I - P ro ta g o n is ts a n d m e m o irs o f th e ‘scien tific m is s io n s ’. A rc h a eo lo g y a n d P o rtu g u e s e co lo n ial a g e n d a ”, a co lh id o p elo e x tin to I n s titu to d e In v estig aç ão C ien tífica T ro pical.

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Referências

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