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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS

MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS

JULES VERNE E O ETHOS DISCURSIVO DO PERSONAGEM DE HERNÁN CORTÈS NA CONQUISTA DO MÉXICO

Vanessa de Oliveira Gomes Laga

(2)

JULES VERNE E O ETHOS DISCURSIVO DO PERSONAGEM DE HERNÁN CORTÈS NA CONQUISTA DO MÉXICO

Vanessa de Oliveira Gomes Laga

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção Língua Francesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas.

Orientadora: Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa

FACULDADE DE LETRAS–UFRJ

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

JULES VERNE E O ETHOS DISCURSIVO NO PERSONAGEM DE HERNÁN CORTÈS NA CONQUISTA DO MÉXICO

LAGA, Vanessa de Oliveira Gomes

Jules Verne e o ethos discursivo do personagem de Hernán Cortès na

conquista do México /Vanessa de Oliveira Gomes Laga. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ FL, 2015.

86 f : il., 30 cm.

Orientadora: Angela Maria da Silva Corrêa

Dissertação (mestrado) – UFRJ / FL/ Programa de Pós – Graduação em

Letras Neolatinas, 2015.

Referências Bibliográficas : f. 85,86.

(4)

Dedico este trabalho

A Deus que sempre está ao meu lado. À Paulo Roberto Rodrigues Gomes, meu amado

avô e um grande amigo, Sônia Maria Rodrigues Gomes, mãe e grande amiga e Rudy

(5)

AGRADECIMENTOS

À Angela Maria da Silva Corrêa, minha orientadora, pela dedicação a esse trabalho,

pela orientação valiosa e pelo incentive, pela grande contribuição neste projeto, pelo

exemplo, apoio e compreensão.

Ao professor Pierre François Georges Guisan, pelos ensinamentos que vem me

fornecendo desde a graduação, pela preocupação com minha vida acadêmica.

Aos professores de francês da UFRJ que me acolheram com muito carinho e respeito

nesta instituição.

Aos queridos amigos Michele Sodré, Milena Fonseca Santos, Rosimere Soares Correia

Marmain, Cristiane da Silva Machado, Juliana Rodrigues de Castro, Bianca Araújo,

Jupira Ribeiro e Camila Rebelo pelo interesse, participação na minha vida acadêmica e

amizade.

À amiga Elaine Vieira, por me escutar sempre. Às amigas Michele Tracerra, Amanda

Ramos, Luciana Roberta Silva, Renata Amaro, Cristiane de Souza e a prima querida

Jorgeane Pedro da Costa por fazerem parte da minha vida.

A todos os amigos e familiares, pelo carinho, apoio e incentivo. E enfim às amigas

Laure Kéravec, Samira Marques e Rosilene de Menezes Januário pela grande

participação na minha vida acadêmica.

Aos irmãos Paulo Márcio Vargas Rodrigues Gomes, Márcia de Paula Vargas Rodrigues

Gomes e Suelem dos Santos Silva pela grande amizade e companheirismo.

A Rudy Laga, meu marido, por estar comigo em cada momento dessa trajetória, por

(6)

Vanessa de Oliveira Gomes Laga

JULES VERNE E O ETHOS DISCURSIVO DO PERSONAGEM DE HERNÁN CORTÈS NA CONQUISTA DO MÉXICO

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção Língua Francesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas.

Aprovada em

__________________________________________________

Orientadora: Prof

a

. Dr

a

. Angela Maria da Silva Corrêa - LEN

Universidade Federal do Rio de Janeiro

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Carlos Balga Rodrigues - LEN

Universidade Federal do Rio de Janeiro

_________________________________________________________________

Prof

a

. Dr

a

. Maria Aparecida Lino Pauliukonis - LEV

Universidade Federal do Rio de Janeiro

_________________________________________________________________

Prof. Dr. Pierre François Georges Guisan - LEN - suplente

Universidade Federal do Rio de Janeiro

__________________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo de Souza Nogueira – LEC- suplente

(7)

RESUMO

LAGA, Vanessa de Oliveira Gomes. Jules Verne e o ethos discursivo do

personagem de Hernán Cortès na conquista do México. Rio de Janeiro, 2015.

Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

Esta pesquisa propõe-se a analisar o ethos discursivo na obra de Jules Verne Les

Conquistadors (1870) sobre o personagem de Hernán Cortès (1485-1529), assim como

a aceitação e conquista de Cortès através do discurso. Trata-se do processo de credibilidade e legitimidade como um ato comunicacional onde o conquistador Hernán Cortès utiliza estratégias para incitar e persuadir o outro.

Hernán Cortès é um dos maiores conquistadores do século XVI. Jules Verne, fascinado por um universo de conquistas das Américas, escreve sobre elas e escolhe Hernán Cortès como um de seus conquistadores favoritos. O trabalho que segue mostra a trajetória do conquistador até o momento de sua maior conquista, a conquista da cidade do México. Verne nos mostra os passos do conquistador com riqueza de detalhes, elencando seus maiores momentos na História. Assim, a análise que nos cabe será a busca de credibilidade e legitimidade diante do rei da Espanha, dos índios e de seus companheiros de viagem. Cortès torna-se assim, segundo historiadores, um dos mais temidos e odiados homens do século XVI, no entanto, como nos exibem Jules Verne e o Historiador Bartolhomé Benassar na obra Cortès le conquérant de l’impossible (2001),

ele é, antes de tudo um grande estrategista e homem politico de seu tempo.

Sendo assim, utilizaremos os autores supracitados, as cartas de Cortès enviadas ao rei da Espanha no século XVI e para a análise do discurso político Patrick Charaudeau

Discurso Político (2008).

(8)

RÉSUMÉ

LAGA, Vanessa de Oliveira Gomes. Jules Verne e o ethos discursivo do personagem de Hernán Cortès na conquista do México. [Jules Verne et l’éthos discursif chez le personnage d’Hernán Cortès dans la conquête du Mexique]. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) [Mémoire (Master en Lettres Néolatines)] – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015

Cette recherche se propose à analyser l’éthos discursif dans l’oeuvre de Jules Verne Les

conquistadors (1870) à propos du personnage d’Hernán Cortès (1485-1529), aussi bien

que son acceptation et conquête à travers le discours. Il s’agit du processus de crédibilité et de légitimité comme un acte communationnel où le conquérant utilise des stratégies pour inciter et persuader l’autre.

Cortès est un des plus grands conquérants du XVIe siècle. Jules Verne, fasciné par l’univers des conquêtes des Amériques, écrit à propos de ces conquêtes et choisi Hernán Cortès comme l’un de ses conquérants préférés. Le travail de mémoire, ici, montre la trajectoire du conquérant jusqu’au moment de sa plus grande conquête, celle de la ville du Mexique. Verne nous montre les chemins du conquérant de manière très détaillée, mettant en relief les plus grands moments de l’Histoire. Donc, l’analyse proposée sera celle de la recherche de crédibilité et légitimité devant le roi de l’Espagne, des indiens et de ses compagnons de voyage. Cortès devient ainsi, selon les historiens, l’un des plus effroyables et haïs du XVIe siècle. Pourtant, comme nous font remarquer Jules Verne et l’historien Bartolhomé Bennassar avec l’oeuvre Cortés le conquérant de l’impossible

(2001), il est avant tout un grand stratégiste et homme politique de son temps.

Nous utiliserons donc, dans notre analyse, les auteurs déjà mentionnés, également les lettres envoyées par Cortès au roi de l’Espagne au XVI siècle et pour une analyse du discours politique, Patrick Charaudeau (Discours Politique, 2008).

(9)

ABSTRACT

LAGA, Vanessa de Oliveira Gomes. Jules Verne e o ethos discursivo do

personagem de Hernán Cortès na conquista do México. [Jules Verne and the

discursive ethos in Hernán Cortès character in the conquest of Mexico]. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) [Dissertation (Master of Neo-Latin Letters)] – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015

This research proposes to analyze the discursive ethos Charaudeau (2008) about the

Hernán Cortès character (1485-1529), his acceptance process and achievement through discourse. It is the credibility and legitimacy process as a communicative act where the conqueror uses strategies to encourage and persuade the other.

Hernan Cortes is one of the greatest conquerors of the sixteenth century. Jules Verne, fascinated by the sequence of conquests in the Americas, writes about them and chooses Hernán Cortès as one of his favorite conquerors. The work that follows, shows his pursuit for the conqueror until the moment of his greatest achievement, the conquest of Mexico City. Verne shows the steps of the conqueror in great details, listing his greatest moments in history. Thus, the analysis that should be done is between the pursuit of credibility and legitimacy to the king of Spain, the Indians and their fellows.

(10)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...11

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS...16

2.1 O ethos e o discurso político...16

2.2 O herói da Conquista, por quê Cortès?...16

2.3 O que é política?...17

2.4 Discurso e poder?...21

3. ANÁLISE DO CORPUS

...35

3.1 Relação com índios, Coroa e Conquistadores: o ethos construído pelo conquistador...35

3.2 Como Hernán Cortès se legitima segundo Verne...42

3.3 A questão da fé...49

3.4 A imagem do sujeito político...57

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS...70

5- ANEXOS...73

(11)

1. INTRODUÇÃO

O recorte histórico da pesquisa compreende a conquista do México, que se deu no

século XVI, assim como o cenário de retomada de conquistas exposto pelos autores

franceses do século XIX. Nos séculos XVIII e XIX, a França é marcada por

transformações sociais, políticas e econômicas que influenciaram muito na literatura e

na arte. Personagens históricos e místicos, como Hernán Cortès, fazem parte de um

mundo de transformações e desenvolvimentos sociais assinalados pelas conquistas.

Explorar o desconhecido vem da vontade do homem de se afirmar diante do mundo.

Muitos conquistadores marcaram a História. Na França, o personagem que mais se

sobressai na literatura é Napoleão Bonaparte (1769-1821) que foi general, cônsul e

depois imperador. Este conquistou a Europa continental com genialidade militar e

política.

A temática de conquistas é bastante representada na literatura francesa do século

XIX. O autor Jules Verne (1828-1905), por exemplo, possui grande parte de sua obra

consagrada a romances de aventuras. Em sua obra Verne apresenta ensaios, obras

históricas, poemas, canções, obras teatrais, etc. Seu primeiro romance, Cinq semaines

en ballon (1863) conhece um grande sucesso dando início a sua trajetória. Sendo assim,

em 1870 e 1875 o autor escreve entre outros sobre as grandes conquistas do século XIV,

com as obras Les conquistadors e Cristophe Colomb respectivamente.

Em Les conquistadors (1870), Verne escreve entre outros sobre o conquistador

Hernán Cortès (1485-1547), mostra um grande interesse pelo personagem analisando

seus atos, suas paixões, seus objetivos, sua religião, sua vida e sua morte. Cortès

acompanha muito jovem outros conquistadores, partindo para as Índias em 1504 como

secretário. O futuro conquistador fica muito entusiasmado com as terras, ouro e pedras

(12)

Ele segue então à procura do Novo Mundo que sonhava conquistar. Cortès é um herói

épico; sua influência sobre suas tropas e sua habilidade eram extraordinárias, como nos

disse Verne. Apesar de todas as resistências encontradas, ele pôde conquistar o

continente graças a sua bravura e sua inteligência:

La passion pour le romanesque aurait pu réduire le conquérant du Mexique au rôle d’un vulgaire aventurier ; mais Cortès fut certainement un profond politique et grand capitaine, si l’on doit donner ce nom à l’homme qui accomplit des grandes actions par son seul génie1. (VERNE, 2005: 90).

Na construção do personagem, Verne nos mostra um herói que procurou colonizar

sem violência. Contudo nos perguntamos se é possível colonizar um povo, dar-lhe sua

religião, sua língua e seus princípios sem que este sofra violências? É neste quadro que

o herói tentará dominar uma população maior que a do seu país. Ele lhes dará sua

cultura devastando as origens destes habitantes. Observa-se um conquistador exaltante e

destruidor, fortemente engajado por uma grande vontade de conquista. Cortès é, aos

olhos de Verne, aquele que possui um enorme desejo da expansão de si mesmo. O

personagem toma, por assim dizer, uma dimensão mítica que reúne os sonhos e as

preocupações do Ocidente, mesmo possuindo uma realidade histórica menos

prestigiada. Cortès é, de fato, um conquistador de seu tempo, diferente dos outros. É um

personagem digno de uma visão mitológica, que se insere em um mundo fabuloso onde

somente heróis como Aquiles, o famoso personagem de Homero, podem se inserir.

Influenciar, persuadir, conseguir credibilidade e por fim legitimar-se vem do

desejo de convencer o outro a adotar um posicionamento e agir a seu favor. Por

intermédio da palavra, o enunciador coloca sua capacidade de levar o outro a incorporar

1

Tradução (esta e as demais traduções fornecidas em pé de página são de nossa autoria):

(13)

um conjunto de atitudes. Patrick Charaudeau, na obra Discurso Político (2008), analisa

criticamente os diversos tipos de discurso e os possíveis tipos de jogos que nele

encontramos. Neste trabalho estudaremos quais são os propósitos implícitos no discurso

de Hernán Cortès (1485-1529), tal como relatado pelo narrador Verne, e como foi o

processo de aceitação do mesmo, para que se faça a Conquista do México.

Na tentativa de conquistar o interlocutor, é preciso que haja sentido no que se diz

para que este o aceite como sujeito comunicante. Assim, dentro do enunciado, aquele

que o produz busca aceitação, credibilidade e em seguida legitimação. Segundo

Charaudeau, a legitimidade de maneira geral, designa o estado ou a qualidade daquele

cuja ação é bem fundamentada. O mecanismo pelo qual se é legitimado é o

reconhecimento de um sujeito por outros, é o que dá direito a exercer um poder

específico com a sanção ou gratificação que o acompanha (CHARAUDEAU, 2008: 65).

Neste trabalho faz-se uma análise do discurso de Jules Verne (1828-1905) sobre o

herói Hernán Cortès na obra Les conquistadors (1870). Utilizarei também a obra Cortès

le conquérant de l’impossíble, do historiador Bartolomé Bennassar, que descreve a

história do herói, mostrando como este consegue, apesar dos impedimentos, conquistar

uma nação maior que a sua.

Les Conquistadors é um dos poucos livros não-ficcionais de Jules Verne. Conta a

história dos conquistadores da América de um ponto de vista crítico. Homens

como Francisco Pizarro, Américo Vespúcio, Cristóvão Colombo e Hernán Cortès,

entre outros, têm suas histórias narradas de modo a exibir traços característicos de suas

personalidades. O presente trabalho objetiva analisar criticamente a narrativa de Verne

sobre Hernán Cortès no momento em que se fez a conquista do México. Objetiva-se

descobrir aqui como Verne constrói os fatos pelo discurso e analisar o ethos discursivo

no personagem.

(14)

odiados da Conquista das Américas. Em suas cartas enviadas ao imperador Carlos V, da

Alemanha e da Espanha, Cortès narrou em detalhes como foi a chegada e a conquista

destes povos. Segundo relatos históricos, Cortès partiu para Yucatán no dia 10 de

fevereiro de 1519. Em suas cartas ele expõe a exploração e a conquista que o elevou ao

cargo de Governador. Aqui analisaremos o que aconteceu para que este se legitimasse

desde a chegada ao Yucatán até a conquista e a queda de Tecochtitlán (1521), a capital

Asteca. Porém, deve-se ressaltar que, das Cartas contidas hoje em um códice da

Biblioteca Imperial de Viena, a primeira, escrita por Cortès em 1519, nunca foi

encontrada e foi substituída pelo relato que foi enviado ao imperador pela Justiça e

Regimento da Vila Rica de Vera Cruz de no dia 10 de julho de 1519.

Dessa maneira, para que se faça uma análise crítica destes documentos

adotaremos as propostas do linguista Patrick Charaudeau como fonte principal de

pesquisa em sua obra sobre o discurso político, para melhor entendermos o discurso

utilizado por Cortès para se legitimar enquanto Imperador do México. O trabalho será

feito com base no discurso de Jules Verne sobre Cortès e a conquista. Abordaremos três

tipos de discurso: Cortès e suas quatro cartas, Jules Verne narrando os passos do

conquistador, e o historiador Bartolhomé Bennassar. Ambos os discursos serão tratados

de forma a compreender os passos de Cortès para a conquista através de sua habilidade

corporal, sua inteligência e estratégia política e discursiva. Sendo assim,

compreendemos o conquistador da seguinte forma: Hernán Cortès passa a ser

apresentado com um grande conquistador, pois possuía muita habilidade com as armas;

Hernán Cortès um grande estrategista, ele é aquele que Segundo Verne e Bennassar

consegue colonizar toda uma população através da conquista de aliados, fazendo várias

alianças pelo país e Hernán Cortès um grande sujeito político, ele pode ser considerado

um sujeito político pela sua habilidade discursiva.

(15)

discurso, credibilidade e legitimação para conseguir a conquista. Provaremos que nas

obras examinadas Cortès é construído como sujeito político através de seus

interlocutores, pois consegue legitimação porque expõe para a coroa suas habilidades

para conseguir aliados para conquistar o país. Ele se legitima porque a coroa espanhola

é em primeiro lugar a beneficiária de suas ações e assim com suas atitudes e a sua

oratória transforma-se em um sujeito politico de seu tempo. Em resumo ele consegue

credibilidade e legitimidade pelos seguintes fatos:

Consegue homens e pedras preciosas

Envio de cartas e pedras preciosas para o rei

Conquista povos e novas terras para o rei – inclusive as terras de Montezuma

Credibilidade através de seus atos e suas estratégias - se legitima

Charaudeau (2010) diz que o ato de linguagem não se esgota em sua significação

explícita. O autor nos mostra que este explícito significa outra coisa além de seu próprio

significado, algo que é relativo ao contexto sócio-histórico. Um dado ato de linguagem

pressupõe que nos interroguemos a seu respeito sobre as diferentes leituras que ele é

suscetível de sugerir. Isso nos leva a considerá-lo como um objeto duplo, constituído de

um Explícito (que é manifestado) e de um Implícito (lugar de sentidos múltiplos que

dependem das circunstâncias de comunicação). Tudo isso nos leva à conclusão de que

o sujeito falante não se posiciona como autoridade, e sim tem que fazer o outro

acreditar, executando o papel daquele que faz acreditar. Parte-se da constatação de que,

como resultado destes processos de fazer acreditar, a linguagem é, por assim dizer, um

jogo de remissões constantes a alguma coisa além do enunciado explícito, que se

encontra antes e depois do ato de atualização da fala. O personagem de Hernán Cortès é

construído através do discurso do narrador – assim, temos acesso ao ethos discursivo, à

credibilidade e à legitimação do personagem através do olhar avaliador do narrador.

(16)

política assim como credibilidade e legitimidade; e uma abordagem da construção do

ethos discursivo.

2.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

2.1 O ethos e o discurso político

Segundo Charaudeau, dentro da ação política há a existência de um Decisor, ou

seja, de um agente que não apenas elaborou um projeto no qual está inscrito o fim a

atingir, mas que, além disso, tomou a decisão de engajar-se na concretização dessa ação

pela qual ele é, a partir desse momento, totalmente responsável. Os meios de obter um

resultado positivo significam que é esse mesmo agente que planifica da melhor forma

possível a sucessão de seus atos, preocupando-se unicamente com a eficácia (não se

planeja para fracassar), mas avaliando, ao mesmo tempo, as vantagens e desvantagens

da escolha desse ou daquele meio (fonte de uma possível reflexão ética). Sendo assim,

podemos concluir que ao analisar as expedições de Cortès, vemos que o Conquistador e

seu poder oratório é assunto de debate em vários autores. Verne, por exemplo, em Les

conquistadors, mostra as questões humanitárias, os sofrimentos desses batalhadores e as

facetas do conquistador.

A narrativa de Verne é composta de realidades que nos fazem compreender esta

época, o homem e a brutalidade da guerra. O autor deixa para seus leitores uma visão

ampla da tomada do país e considera os acontecimentos históricos presentes na

conquista, com a finalidade de dar aos leitores a possibilidade de entender as

circunstâncias sociais e políticas para a conquista do poder.

Charaudeau propõe, em seu livro, vários tipos de ethos. Neste trabalho

abordaremos principalmente a imagem do sujeito político: como este sujeito busca

(17)

utiliza para fazer sua conquista, segundo o relato de Verne. De acordo com Charaudeau

(2008), o ethos é voltado para o orador e através da tekhné este mesmo orador mostra-se

digno de fé. O ethos, enquanto imagem que se liga àquele que fala (o locutor)

“relaciona-se ao cruzamento de olhares: olhar do outro sobre aquele que fala e olhar

daquele que fala sobre a maneira como ele pensa que o outro o vê”. Para construir a

imagem do sujeito que fala, esse outro se apoia ao mesmo tempo nos dados

preexistentes ao discurso – o que ele sabe a priori do locutor – e nos dados trazidos pelo

próprio ato de linguagem. (CHARAUDEAU, 2008: 115).

Para proteger sua imagem, nos momentos da conquista Cortès utiliza várias

estratégias. Em suas cartas escritas ao Rei Carlos V, ele nos mostra como fez, por

exemplo, para invadir pequenas regiões:

Chegados aos presos, falei-lhes através dos intérpretes que tinha e me pareceu que o capitão não os havia entendido bem. Mandei soltá-los e os satisfiz dizendo-lhes acreditar que eram leais vassalos de vossa alteza e que eu queria ir em passos desbaratar aqueles de Culúa. E para demonstrar força, tanto aos meus inimigos como aos meus amigos, parti naquele momento e naquele mesmo dia cheguei à cidade de Churultecal, que está a oito léguas de distância... Como tal, me rogavam que, mesmo que o outro voltasse, não o aceitasse como senhor daquele povoado. Eu lhes disse que, como sempre estavam aliados aos de Culúa, eu pensava eliminar suas pessoas e fazendas, mas diante desta mudança, em nome de vossa majestade eu lhes perdoava o erro passado e os admitia ao real serviço do soberano da Espanha. (CORTEZ, 2007: 85 a 87).

Existe uma relação incontestável entre a política e o discurso. Os homens não

tinham acesso à realidade, mas temiam Cortès unicamente pelo fato de seus feitos terem

passado de povoado em povoado. Os povos temiam sua força, todo seu plano estava

diretamente ligado ao seu discurso. Muitos povos, nos diz Bernal Diaz, se entregaram

sem lutar. Somente com seu dom de palavra, Cortès fez muitos aliados. O discurso se

relaciona diretamente com suas atitudes e, no caso de Cortès, a influência sobre os

(18)

persuasão do conquistador foi fundamental para que ele construísse sua imagem. Na

questão da oratória o ethos não é somente uma postura que manifesta o pertencimento a

um grupo dominante, ele é uma imagem de si construída no discurso que influência

opiniões e atitudes. (AMOSSY, 2013: 142.) Trata-se aqui portanto, do conjunto de

atitudes mostradas ao longo de sua trajetória, seu posicionamento em relação a

conquista e sua bravura diante das dificuldades encontradas: “La situation était critique.

Après avoir mûrement réfléchi et pesé le pour et le contre du parti qu’il allait prendre,

Cortès se determina à combattre, malgré tout son désavantage, plutôt que de sacrifier

ses conquêtes et les intérêts de l’Espagne.” (VERNE, 2005: 65).

O ethos aparece como forma de melhor compreender o processo de enunciação do

locutor, a partir de um contexto sócio-histórico específico onde podemos fazer uma

releitura dos processos e etapas da conquista. Desta maneira, Cortès passa a usar a

persuasão como estratégia para defesa de seus argumentos: levando em consideração

sempre os interesses da Coroa, ele convence os outros que naquele momento o melhor a

fazer era lutar, mesmo com aquela grande desvantagem. Para a política ser exercida, a

legitimidade não é suficiente, já que o político precisa demonstrar credibilidade e

persuadir o maior número de pessoas com quem partilha determinados valores.

Charaudeau aponta que a credibilidade é o resultado da construção de uma identidade

discursiva pelo sujeito falante, realizada de tal modo que os outros sejam conduzidos a

julgá-lo digno de fé. (Charaudeau: 2008; p.119).

Na mesma ocasião podemos observar, como nos aponta Verne, que Cortès estava

sempre pronto a enfrentar quaisquer dificuldades e que o fazia de forma brilhante:

(19)

la terreur d’une ataque nocturne compensant l’inferiorité de ses forces, il fit prisonnier son adversaire et toutes ses troupes, et ne perdit lui-même que deux soldats. (VERNE, 2005: 65 e 66)2.

Charaudeau (2008) mostra que, de maneira geral, um individuo pode ser julgado

digno de crédito se houver condições de verificar que aquilo que ele diz corresponde

sempre ao que ele pensa. Ele deve convencer todos da pertinência de seu projeto

político e deve fazer o maior número de cidadãos aderirem a esses valores. Amossy

(2013) diz que o lugar que engendra o ethos é o discurso, o logos (significa em primeiro

lugar fala ou discurso e, em segundo razão ou exercício da razão) do orador e esse lugar

se mostra apenas mediante as escolhas feitas por ele (AMOSSY, 2013: 31). Segundo

Verne (2005), Cortès soube sempre fazer boas escolhas: “Le vainqueur traita bien les

vaincus, leur laissant le choix de se retirer à Cuba ou de partager sa fortune.” (VERNE:

2005: 66). Charaudeau (2008) aponta que o político deve utilizar todas as estratégias

disponíveis para fazer com que o maior número de pessoas se junte a suas ideias, a seu

programa, à sua política e à sua pessoa. Ainda em Verne, na mesma ocasião, com

Narvaez e seus soldados vejamos o exemplo apontado por Cortès, que nos evidencia a

proposta de Charaudeau. “Cette dernière perspective, appuyée de présents et de

promesses, parut tellement séduisante aux nouveaux débarqués, que Cortès se vit à la

tête de mille soldats, le lendemain du jour où il était sur le point de tomber entre les

mains de Narvaez”. (VERNE, 2005: 66). Assim, seu poder de persuasão possui um tom

que lhe dá autoridade e o remete a uma caracterização da conquista, podendo ser

interpretado como legítimo e digno de crédito. A imagem construída deste, que assume

a responsabilidade do que é dito e lhe é conferido um caráter, um ethos de seriedade

2 Tradução:

(20)

onde o sujeito mostra grande energia e capacidade de trabalho, onipresença em todas as

linhas de frente na vida política e social. (CHARAUDEAU, 2008: 120).

2.2O herói da Conquista, por que Cortès?

Le rôle du héros se situe dans l'aspiration métaphysique, presque religieuse, la volonté de dépasser la condition humaine. Cela signifie que le héros prend ses distancesavec l’homme ordinaire, il est un surhomme, celui qui cherche le bien de la communauté et qui travaille à la recherche de gloire et d’honneur (TESTAS, 1988: 18).3

Cortès se enquadra entre os heróis legendários. É um herói que não possui destino

pré-definido e para isso deve inventá-lo. Bennassar, em seu livro Cortés le conquérant

de l’impossible, nos deixa uma questão sobre o herói da conquista : seria ele um modelo

de Conquistador? A pergunta feita pelo historiador nos evidencia a grande influência

que Cortès exercia sobre os outros conquistadores. Os conquistadores que virão após o

herói tentarão descobrir novas terras. Como nos diz Verne , Cortès é um gênio político

que soube melhor explorar o Novo Mundo.

Jules Verne escolhe incluir Cortès em seu romance porque acredita que este é um

dos grandes conquistadores da História da Humanidade. Mais conhecido como escritor

futurista, Jules Verne nos leva a algumas viagens para o passado, onde nos mostra, por

exemplo, a época das expedições marítimas com relatos das descobertas em suas obras:

Les Conquistadors e Les découvreurs des Amériques. As ciências naturais e as viagens

são as paixões que marcam a vida do autor. As questões geográficas, sociais, políticas

são sempre tratadas por Verne no seu imaginário fazendo do leitor o seu companheiro

de viagem. As viagens e a procura por aventuras sempre estiveram no imaginário do

homem. Com Verne e sua ficção, o leitor prova todas as possibilidades do mundo

3 Tradução:

(21)

ficcional saindo de seu meio para além do real. Nas duas obras escritas sobre a

descoberta das Américas, o autor evoca Hernán Cortès, mas é em Les Conquistadors

que ele nos mostra as aventuras do herói na época das conquistas. Segundo o autor, o

conquistador é um grande herói de seu tempo que soube colocar em cena gloriosas

batalhas onde ele era sempre um gênio político.

2.3O que é política?

A palavra Política (do Grego: / politikos, significa "de, para, ou

relacionado a grupos que integram a Pólis") denomina a arte ou ciência da organização,

direção e administração de nações ou Estados. A palavra tem origem nos tempos em

que os gregos estavam organizados em cidades-estados chamadas "pólis", nome do qual

se derivaram palavras como "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos cidadãos,

pertencente aos cidadãos), que estenderam-se ao latim "politicus" e chegaram às línguas

europeias modernas através do francês "politique" que, em 1265 já era definida nesse

idioma como "ciência dos Estados".

Muitos autores tentaram definir a palavra política, porém, torna-se difícil

conseguir, uma definição que represente tudo que está por trás deste fenômeno que é a

política. Charaudeau (2008) diz que as respostas sobre o que é discurso político não são

evidentes e jamais podem emergir dissociadas de um ponto de vista particular. Segundo

Charaudeau, cada disciplina o constrói como um objeto de estudo que lhe é próprio.

(CHARAUDEAU, 2008: 15). E por isso torna-se complicada a definição sobre o

assunto. Aqui procuraremos definir o objeto do Discurso Político: no dizer de Verne,

Cortès torna-se o sujeito político que, através de sua oratória, consegue influenciar

povos e até seu próprio Rei em busca de seus objetivos. Apesar do fato de que naquela

época não existia o conceito de Política que surge na era moderna, Cortès pode ser

(22)

Segundo Fiorin (2009), a política diz respeito ao poder, ou melhor, aos poderes.

Isso permite incorporar à política não só o que está dentro do campo da aceitabilidade

tradicional desse termo, mas também todas as relações de poder que se exercem na vida

cotidiana. A arte de convencer o outro através da palavra é muito antiga. No caso dos

Conquistadores, vimos que alguns destacaram-se dos demais devido a seus poderes de

persuasão. No caso do sujeito político, ele tenta convencer, segundo Charaudeau, com

estratégias discursivas para atrair a simpatia do público (CHARAUDEAU, 2008: 82).

Cada sujeito político tem sua forma de persuadir. Amossy (2013) diz que todo ato

de tomar a palavra implica na construção de uma imagem de si. Deliberadamente ou

não, o locutor efetua em seu discurso uma representação de si. O orador influencia as

opiniões que, no momento oportuno, traduzir-se-ão em atos, e é por isso que ele deve

produzir em seu discurso uma imagem adequada de sua pessoa. A construção discursiva

de uma imagem de si é suscetível de conferir ao orador sua autoridade, isto é, o poder

de influir nas opiniões e de modelar atitudes.(AMOSSY, 2013: 142.)

A Análise do Discurso institui uma relação entre língua e história, onde se busca

explicar o funcionamento dos sentidos nela envolvidos. Muitos políticos têm como

finalidade principal persuadir o outro através de um discurso e argumentos bem

analisados e preparados. É dessa forma que ele mostra que seu ponto de vista está

coerente e que é o certo a se fazer. É o que podemos observar em Cortès. Ao tentar

convencer o rei da Espanha de que as cidades deveriam ser exploradas, Cortès envia

mais relatos sobre o povo, as batalhas, as cidades e sobre as riquezas:

(23)

algum erro cometer, será por exclusão e não por excesso. (Cortez4 2007; p.62).

Podemos averiguar que em Cortès existe um movimento estratégico de tom

apelativo que se torna forte e representativo quando ele mostra ao rei as riquezas, para

convencê-lo de que o melhor a fazer é explorar estas terras. Esta é uma prática política

descrita por Charaudeau, onde o discurso torna-se instrumento da prática política que

faz com que o receptor da mensagem seja coagido a aderir ao que o sujeito comunicante

produz. (CHARAUDEAU, 2008: 17). A carta enviada no dia 10 de julho de 1519 pela

justiça e regimento de Vila Rica e de Vera Cruz mostra essa relação, pois Cortès busca

coagir o rei Carlos V a continuar essas expedições, mostrando sempre vantagens para convencê-lo a investir no país recentemente descoberto.

Estes dados que estamos enviando a vossas majestades é que são corretos e tratamos aqui, desde o momento em que estas terras foram descobertas até o estado em que se encontram no presente, para que vossas majestades conheçam a terra como é, a gente que habita, sua maneira de viver, seus ritos e cerimônias, suas leis, e o fruto que dela vossas altezas reais poderão obter, e também para que vossas altezas reais saibam que nela têm sido servidos. (CORTEZ, 2007: 13).

O processo de elaboração da legitimação passa por um processo de encenação,

pois os indivíduos constroem valores através do que eles veem. Embora cada um de

nós seja um indivíduo dotado de uma história singular, forjamos essa individualidade e

essa singularidade mediante nossas relações com os outros, nas comunidades mais ou

menos constituídas, mais ou menos fechadas, e nas situações de troca que são

simultaneamente diversas e recorrentes (CHARAUDEAU, 2008: 51). Para o autor,

podemos representar a comunicação humana como um teatro. Segundo ele, estamos o

tempo todo representando, encenando nossas ações e falas. E é desta forma que age o

sujeito político, ele representa, ele encena suas ações e retira muitas vezes proveito do

(24)

seu saber discursivo. Verne, ao mostrar Cortès como herói principal da conquista do

México, nos expõe como este é hábil no momento de encontrar seus aliados e

principalmente em convencer os índios a se tornarem submissos a seu rei, o rei da

Espanha Carlos V.

Lorsqu’ils s’aperçurent que dans tous ces combats, qui avaient coûté la vie à un si grand nombre de leurs plus braves guerriers, pas un seul Espagnol n’avait été tué, ils prêtèrent à ces étrangers une nature supérieure, tout en ne sachant quelle opinion se faire d’hommes qui renvoyaient, les mains coupées, les espions surpris dans leur camp, et qui, après chaque victoire, non seulement ne dévoraient pas les prisionniers comme l’auraient fait les Aztèques, mais encore les relâchaient chargés de présents et demandaient la paix. Les Tlascalans se reconnurent donc vassaux de l’Espagne, et jurèrent de seconder Cortès dans toutes les expéditions. De son côté, celui-ci devait les protéger contre les ennemis.5 (VERNE, 2005: 56).

A Análise do Discurso Político considera, então, que a linguagem não é transparente

e que os sujeitos, ao produzirem seus discursos, tentam definir-se em relação ao outro.

Charaudeau (2008) diz que um sujeito pode definir-se em relação ao outro por um

princípio de alteridade, ou seja, sem a existência do outro, não há consciência de si.

Partimos, assim, do princípio que nessa relação, o sujeito não cessa de trazer o outro

para si, segundo um princípio de influência, para que esse outro pense, diga ou aja

segundo a intenção daquele. Por meio da linguagem, pode-se dizer que Cortès

transforma a realidade em que vive e a si mesmo. Ele constrói seu próprio destino. O

exemplo abaixo mostra como Verne observa essa genialidade política discursiva do

herói:

5 Tradução:

(25)

Le vainqueur traita bien les vaincus, leur laissant le choix ou de se retirer à Cuba ou partager sa fortune. Cette dernière perspective, appuyée de présents et de promesses, parut tellement séduisante aux nouveaux débarqués, que Cortès se vit à la tête de mille soldats, le lendemain du jour où il était sur le point de tomber sur les mains de Narvaez. Ce brusque revirement de fortune fut puissament secondé par l'habilité diplomatique de Cortès qui hâta de reprendre le chemin de Mexico6. (CORTEZ, 2007:66).

A citação acima mostra a genialidade descrita por Verne, temos assim elementos

importantes no processo formador dos seguidores do herói. Estes elementos

representam, a partir daí, a conquista de uma nova sociedade, de novos objetivos a

serem alcançados. Sua diplomacia e habilidade discursiva criam novas perspectivas para

os outros soldados que também sonhavam com o Novo Mundo.

2.4 Discurso e poder

Segundo Charaudeau (2008: 17) todo ato de tomar a palavra determina uma

imagem de si. O sujeito falante constrói sua imagem através do seu ato de fala. A

linguagem é uma atividade humana que se desdobra no teatro da vida social e cuja

encenação resulta de vários componentes, cada um exigindo um “savoir-faire”.

Charaudeau (2010: 7) diz que este “savoir-faire” implica o que chamamos de

competência do sujeito comunicante. No ato politico, o discurso torna-se eficaz a partir

do momento em que se consegue atingir o outro; é a ação política que, idealmente,

determina a vida social ao organizá-la tendo em vista um bem comum. Assim,

parece-nos que na busca pelo poder, o sujeito comunicante desempenha o papel de influenciar

um ou mais sujeitos com a finalidade de dominar o outro de maneira que este não

interfira nos seus propósitos.

6 Tradução:

(26)

Na conquista do México (Nova Espanha) Hernán Cortès constrói para si

primeiramente credibilidade, para atingir uma legitimação dada posteriormente tanto

pelo Rei Carlos V, quanto pelos povos indígenas. A realidade da época passa por um

histórico onde se observa que do ponto do vista do Conquistador, a linguagem passa a

ser um instrumento com o qual ele deve buscar sua autonomia. O itinerário vivido por

Cortès é compreendido a partir do momento em que, do ponto de vista discursivo, o

sujeito para o qual o discurso está direcionado coloca-se em situação de submissão em

relação ao sujeito comunicante. Hernán Cortès entende que para que a Conquista se

torne possível, ele deveria buscar estratégias de comunicação além da força de suas

armas. Em Les Conquistadors (1870), o autor apresenta um discurso sobre o

personagem e ao mesmo tempo engloba em seu discurso um possível olhar sobre a

forma de Cortès administrar seus soldados. Verne mostra como Cortès consegue fazer

de seus inimigos seus aliados. Ele mostra qual a relação entre esses fatos e como foi

possível que um só homem apresentasse tal poder político discursivo a ponto de fazer

de seus inimigos seus aliados para outras conquistas no país. De certa forma,

questiona-se de que maneira foi possível que Cortès conquistasquestiona-se uma população maior que a de

seu país, como nos diz Bennassar, somente com suas forças militares.

O que podemos observar em Verne, é que o Conquistador possui um grande poder

de orador, sendo assim, pode-se considerar a conquista destes vários aliados

conseguidos por Cortès, como resultado de seu poder de influência através do seu dizer.

Do ponto de vista do discurso político, Charaudeau (2008) diz que o ator político se

manifesta na cena do teatro social, com uma dupla identidade, que destina ao outro, seu

público, a feição ideal de um cidadão que seria seu duplo, cúmplice. Sendo assim, a

definição encontrada por Charaudeau nos sugere que Cortès fez de seus inimigos seus

cúmplices através dos atos de comunicação. A possível influência sobre estes sujeitos

(27)

conquista se Cortès não soubesse administrar seus subalternos e fazer de imperadores

como Montezuma seus cúmplices.

Verne, ao mostrar Cortès como herói principal da conquista do México, nos expõe

como este é hábil na hora de encontrar seus aliados e, principalmente, em convencer os

índios a se tornarem soberanos a seu rei, o rei da Espanha Carlos V. O sujeito político

busca legitimidade. Assim, podemos compreender que Cortès, ao tentar esta

legitimidade, se utiliza deste discurso para conseguir credibilidade e confiança de sua

alteza para que possa agir em seu nome. O conquistador não afirma de forma explícita

que quer ter este poder vindo das mãos de sua majestade, mas através do seu discurso

justifica-se de forma a convencer a corte de que o melhor a fazer é instruir estas pessoas

na Santa fé. Assim, ele pede para ser nomeado como governador e executor da justiça

nestas terras, até que as mesmas estejam conquistadas e pacificadas:

Todo sangue que corre oferecem àqueles ídolos, espalhando-o por todas as partes daqueles oratórios ou elevam-no para o céu. Todavia, praticam uma outra coisa horrível e abominável, digna de ser punida, jamais coisa vista em outra parte que é a seguinte: toda vez que pedem a seus ídolos alguma coisa que muito desejam, tomam meninos e meninas ou até mesmo adultos, colocam diante destes ídolos e abrem seus peitos, arrancando o coração e queimando-o em oferenda... Vejam vossas altezas reais que se deve evitar tão grande mal e que Deus Nosso Senhor será servido pela mão de vossas majestades se estas pessoas forem instruídas e introduzidas em nossa santa fé católica. (CORTEZ, 2007: 31)

Segundo Charaudeau (2008), a legitimidade, de maneira geral, designa o estado

ou a qualidade daquele cuja ação é bem fundamentada. Pois o mecanismo pelo qual se é

legitimado é o reconhecimento de um sujeito por outros, que dá direito a exercer um

poder específico com a sanção ou gratificação que o acompanha. A relação que o sujeito

estabelece é, por assim dizer, uma exposição de suas qualidades favoráveis que apontam

para o sujeito interpretante com o propósito linguageiro de convencê-lo a investir e

(28)

Cortès mostra o primitivismo vivido por aquele povo, com uma única finalidade:

legitimar-se. Como sabemos, o sujeito interpretante , o rei, cria hipóteses. Charaudeau

(2010) nos evidencia que este sujeito cria estas hipóteses expondo seus pontos de vista

em relação ao destinatário. Sendo assim, segundo ele, não há circunstâncias linguageiras

nas quais o sujeito interpretante possa deixar de criar hipóteses. Imagina-se então que

Cortès expõe suas intenções escrevendo cartas com o objetivo de motivar o rei a investir

no que ele acredita.

Para o cumprimento do presente projeto, partimos, primeiramente, da leitura e

seleção de um corpus inicial, que permitisse levantar as principais questões a serem

trabalhadas. Assim, chegamos a um corpus composto por uma produção histórica,

obtendo referências históricas, sobre a vida de Cortès, para construir uma base do

pensamento de Verne sobre o mesmo. O livro de Bartolomé Bennassar, Cortés le

conquérant de l’impossible (2002) constitui uma fonte importante para o seguimento

das análises sobre o personagem. Bennassar, em sua obra, reconstrói historicamente os

passos do conquistador. O autor mostra o retrato de um gênio político hábil que constrói

seu caminho através de estratégias e vontade de conquistas. Sua visão sobre o

conquistador complementa a de Jules Verne, que seria a de um conquistador que soube

trabalhar com sua genialidade.

« Car voici un homme qui n’avait rien, ou presque, et qui s’inventa un destin

prodigieux grâce à l’empire qu’il exerça sur les autres. » (BENNASSAR, 2002: 235).

Em seu livro, o historiador desfaz o retrato de um conquistador carrasco, ele analisa a

vida do herói até o fim de seus dias. Para ele, a personalidade deste homem é complexa,

um mundo se abre para Cortès, maravilhoso e mítico, e o gosto pela aventura é tão forte

quanto o resto. « Est-il un modèle de conquistador? » (BENNASSAR, 2002: 314) A

questão posta pelo autor coloca em evidência o valor do conquistador. Segundo ele, é

(29)

virão a descobrir, após Cortès, novas terras e riquezas:

A vrai dire, Cortés était inimitable car il fut le seul “conquistador”qui eût du génie. Aucun n’aima autant que lui le pays qu’il avait contemplé avec émerveillement lors du fabuleux été 1520, aucun ne chercha avec autant de persévérence à le transformer selon ses croyances et ses idéaux. (BENNASSAR, 2002: 316)7.

Faz-se necessário também a obra que Bernal Diaz de Castilho escreveu sobre seu

companheiro de viagem a partir de 1551, pois foi certamente a leitura da mesma que

influenciou Jules Verne para compor a trajetória do conquistador. Verne escreve sua

narrativa sobre Cortès a partir desta leitura. A escolha da obra justifica-se, portanto, pelo

fato de haver um interdiscurso entre ambos. O conquistador aparece em Verne como um

homem com uma grande vontade de vencer, vontade esta que o impulsionou em direção

ao desconhecido. O herói queria conquistar o país e conseguir a vitória sobre os índios

e, segundo Verne, ele certamente traçou todos os passos para conseguir seus objetivos.

Verne mostra, em um interdiscurso com Diaz de Castilho, o fato de o herói saber

realmente se utilizar de seu poder de fala, de sua oratória e faz alusão à fé do herói

citando Bernal Diaz: « peut-être, ne devrait-il recevoir sa récompense que dans un

meilleur monde, et je le crois pleinement; car c´était un honnête cavalier, très sincère

dans ses dévotions à la Vièrge, à l’apôtre saint Pierre et à tous les saints » (VERNE,

2005: 91)8

No discurso de Verne sobre Cortès, o que se encontra é um herói singular. Cortès é

visto como alguém que soube comandar muitas batalhas e sair vitorioso destas, até a

conquista. Verne cita suas várias facetas e como ele soube se legitimar através de sua

7 Tradução:

Para dizer a verdade, Cortés era inimitável, porque ele foi o único “conquistador” que teve genialidade. Nenhum amou tanto o país, que ele contemplou maravilhado após o fabuloso verão de 1520, ninguém procurou com tanta perseverança transformá-lo segundo suas crenças e seus ideais. (BENNASSAR, 2002: 316).

8 Tradução:

(30)

fala, sabendo trazer aliados para fazer parte de sua luta. Ele utiliza muitas vezes o nome

da coroa e de Deus para conseguir o que deseja, seu discurso está também ligado à

questão da fé, da Igreja Católica e à sua majestade. Neste exemplo, Cortès busca uma

justificativa para continuar explorando as terras encontradas. Ele menciona o que

acontecia para convencer o rei a deixá-lo continuar as explorações.

Ao falar dos sacrifícios, como vimos no exemplo acima, (CORTEZ, 2007: 31),

Cortès se introduz e está certo de que deve evitar tais fatos, pois estes fatos não estão de

acordo com os princípios da Santa Igreja Católica. E por isso, ele tenta se legitimar

através do seu discurso, mostrando para sua Majestade o que é tão abominável e deixa

subentendido que só ele pode evitar tais coisas dizendo que são coisas dignas de serem

punidas buscando assim sua legitimação como a pessoa que deve punir estes atos.

Charaudeau, ao falar de instâncias, ou seja da posição do sujeito político, diz que

o político encontra-se no lugar em que os atores têm um "poder fazer" – isto é, de

decisão e de ação – e um "poder de fazer pensar" – isto é de manipulação. É o lugar da

governança. Por conta disso, segundo o autor, - é onde o político busca legitimidade.

Assim, podemos compreender que Cortès, ao tentar esta legitimidade, se utiliza deste

discurso para conseguir credibilidade e confiança de sua alteza para que possa agir em

seu nome. O conquistador não afirma de forma explicita, que quer ter este poder vindo

das mãos de sua majestade, mas através do seu discurso justifica-se de forma a

convencer a corte de que o melhor a fazer é instruir estas pessoas na Santa fé. Assim, ele

pede para ser nomeado como governador e executor da justiça nestas terras, até que as

mesmas estejam conquistadas e pacificadas.

Patrick Charaudeau se faz necessário pelos pressupostos teóricos de sua obra e por

suas reflexões sobre o discurso político nas análises do pensamento de um político. E

também pelos capítulos sobre ethos, credibilidade e legitimidade, presentes na obra

(31)

histórico presente em Verne, que fez de Cortès um sinônimo de grande orador. Esta

escolha, juntamente com outras obras sobre Cortès, possibilita um rico material

referente à construção do ethos de Cortès em Verne. Somado às obras de cunho teórico,

esse recorte parece ser primordial para o entendimento deste personagem em Verne.

Charaudeau em seu texto Uma Teoria dos Sujeitos da Linguagem (2010 – originalmente

1984), apresenta princípios para a base da comunicação. Seguindo o principio de

pertinência, por exemplo, fez-se necessário que os índios aceitassem Cortès como

sujeito comunicante.

As quatro cartas de Cortès enviadas ao rei Carlos V também se fazem necessárias

para o cumprimento do trabalho. Cortès coloca-se como narrador, apresentando o

México de forma persuasiva e convincente com a finalidade de ocupar o lugar de

governador nas conquistas. Charaudeau (2010) acrescenta que nem sempre os fatos

narrados correspondem necessariamente ao que aconteceu, mas são apresentados “como

se”. Segundo Charaudeau um narrador pode desempenhar seu papel como historiador,

ele organiza a representação da história contada da maneira mais objetiva possível,

mais próxima dos fatos da realidade, utilizando arquivos, testemunhos e documentos.

Este narrador historiador implica o leitor destinatário de uma história contada que deve

ser recebida (e eventualmente verificada) como representação de uma história real.

Entende-se Cortès como historiador, pois ele narra investido de intencionalidade, isto é,

de querer transmitir alguma coisa (uma certa representação da experiência do mundo) a

um destinatário (espectador, leitor, ouvinte etc.). (CHARAUDEAU, 2010: 153-154).

Para convencer o Rei da Espanha Carlos V de que sua história era verdadeira,

Cortès, o narrador, constrói os ethé (Charaudeau; 2008) de credibilidade, digno de

crédito; de sério, mostra capacidade de autocontrole e calcula objetivos táticos; de

virtude, pois supõe–se que ele, como representante da coroa, dá o exemplo; de

(32)

dentro deste ethos, a malícia, definida por ele como um saber jogar com o ser ou

parecer: saber dissimular certas intenções, fazer crer que se tem certos objetivos para

melhor atingir seus fins. Segundo este, para realizar certos projetos, o político não pode

revelar todas as suas intenções. Algumas vezes o político chegará a fingir ir em uma

direção para depois tomar o caminho oposto. Para construir todos esses ethé, o

conquistador trabalha de várias formas diferentes: ao Rei, ele enviava uma porcentagem

do que conseguia e buscava, assim, persuadi-lo de que era confiável para este papel; aos

índios aliava-se com aqueles que estavam contra Montezuma oferecendo riquezas e a

salvação de suas almas, introduzindo-os mesmo contra suas vontades na santa fé

católica; e aos outros conquistadores ele oferecia glória e riquezas.

Na obra A conquista do México, apresentam-se quatro cartas escritas por Cortès

que foram entregues à coroa, onde ele propõe relatar os fatos de forma objetiva. Ele se

descreve inicialmente como súdito da coroa e pede a permissão do Rei para conquistar

esse vasto domínio. Cortès procura nessas cartas mostrar à coroa espanhola, de maneira

convincente, o quão interessante seria se eles pudessem conquistar o México. O

conquistador apresenta-se como herói, ou seja, busca a consolidação da conquista para a

coroa, age em prol da comunidade e por isso é considerado como herói também por

Verne.

Como pudemos observar Cortès se legitima através de vários pontos estratégicos:

religião, força, aliados e uma verdadeira demonstração de coragem e fé que levaram o

conquistador a uma legitimação sobre os outros povos.

O discurso de Verne sobre o herói nos anuncia que é principalmente através do

seu discurso religioso e de sua força que Cortès consegue se legitimar, pois ele

consegue evangelizar muitos indígenas. Verne diz que Cortès é um homem de muita fé,

mas ao mesmo tempo um grande guerreiro. Cortès busca sua legitimidade diante dos

(33)

podemos observar em suas cartas. "Os índios nossos amigos usavam para com os

adversários tanta crueldade, que não diminuía nem com nossas ameaças de

castigo"(Cortès: 2007; p.139). O discurso de legitimação do herói diante dos indígenas

é feito através de um discurso de fé e ao mesmo tempo um discurso de promessas em

que Cortès oferecia as vantagens de sua coroa. Dessa forma, ele conseguiu pacificar

muitos povos.

Em suas cartas, Cortès apresenta um "eu" discursivo se justificando o tempo todo

para a coroa, o discurso é construído em forma de justificativa para a conquista. Esta

exige que o autor disponha de certas representações das situações por ele vividas que

aparecem a partir de suas palavras postas do discurso:

Esforcei-me para dizer a vossa majestade toda verdade, o menos mal que possa. Todavia suplico a vossa alteza que mande me perdoar se não contei todo o necessário ou se não acertei alguns nomes de cidades, de vilas e de seus senhores, que ofereceram seus serviços a vossa majestade, dando-se por súditos e vassalos. (CORTEZ, 2007: 34).

Assim, o seu texto passa a ser o resultado material do ato de comunicação, ele

combina vários elementos do modo de organização (como: descritivo, narrativo e

argumentativo – Charaudeau: 2010) . Cortès narra os fatos descrevendo e argumentando

com a Coroa sua possível conquista. Os modos narrativo e argumentativo em um

mesmo texto, juntamente com o descritivo dão sentido ao seu texto. Ele busca

legitimidade pontuando fatos pertinentes ocorridos em suas batalhas, organiza a

sucessão de suas ações e dos eventos com a função de transmitir alguma coisa a alguém,

sendo este alguém seu destinatário, o rei. Cortès busca elaborar uma sequência de ações

que se encadeiam progressivamente dando sentido ao seu "poder fazer" de modo que a

partir daí haja um contexto para o desenvolvimento de sua conquista.

Em relação à narração, devemos ressaltar alguns pontos:

(34)

constroem e pelos papéis desempenhados pelo sujeito que descreve ou narra.

- o descritivo faz-nos descobrir um mundo que se presume existir como um

estar-aí que se apresenta como tal, de maneira imutável. Este mundo, que necessita apenas ser

reconhecido, basta ser mostrado.

- o narrativo, ao contrário, leva-nos a descobrir um mundo que é construído no

desenrolar de um sucessão de ações que se influenciam umas às outras e se transformam

num encadeamento progressivo.

Sendo assim, Charaudeau (2010) nos mostra dois tipos de papéis dos sujeitos:

1) o sujeito que descreve desempenha os papéis de observador (vê os detalhes)

de sábio (que sabe identificar, nomear e classificar os elementos e suas propriedades),

de alguém que descreve (que sabe mostrar e evocar);

2) o sujeito que narra desempenha essencialmente o papel de uma testemunha

que está em contato direto com o vivido (mesmo que seja de uma maneira fictícia), isto

é, com a experiência na qual se assiste a como os seres humanos se transformam sob o efeito de

seus atos.

Desse modo, vale a pena ressaltar que Cortès é um narrador investido de

intencionalidade. Segundo Charaudeau (2010), isto significa dizer que ele é aqueleque

quer transmitir alguma coisa. Neste caso, o narrador é um ser social e um ser

discursivo. Ou seja, narrador e autor se fundem e se confundem no discurso.

Enfim, concluídas as leituras e seleção do corpus, passamos para a análise. Com o

fluxo de leitura, verificamos os textos com a finalidade de organizar a estrutura do

trabalho a ser realizado. Selecionamos e analisamos os textos aqui elencados que

apresentam o narrativo e o descritivo. O argumentativo, apresentado nas cartas de

Cortès, acentua as relações existentes entre as ações apresentadas pelo modo narrativo,

com a função de persuadir e convencer o rei através da argumentação e posição dos

(35)

3.

ANÁLISE DO CORPUS

3.1 Relação com índios, Coroa e Conquistadores: o ethos construído pelo

conquistador

Cortès coloca-se como narrador em suas cartas, apresentando o México de

forma persuasiva e convincente com a finalidade de ocupar o lugar de governador nas

conquistas. Charaudeau (2010) diz que nem sempre os fatos narrados correspondem

necessariamente ao que aconteceu, mas são apresentados “como se”. Segundo

Charaudeau, um narrador pode desempenhar seu papel de dois modos distintos:

historiador ou contador. O primeiro organiza a representação da história contada da

maneira mais objetiva possível, mais próxima dos fatos da realidade, utilizando

arquivos, testemunhos e documentos. Este narrador historiador, implica o leitor

destinatário de uma história contada que deve ser recebida (e eventualmente

verificada) como representação de uma história real.

Com finalidade de dramatizar seu texto, Verne nos mostra em seu capítulo

sobre Cortès também os atos de sacrilégio de uma época corrompida por uma categoria

social que traça o destino de toda uma sociedade. Os índios fazem parte de um ciclo da

história que possuem um destino trágico e notável. Quando Verne nos expõe o

personagem de Cortès enquanto um grande gênio que cria seu próprio destino, ele nos

exibe igualmente quanto este mesmo destino foi cruel para os índios. O personagem se

caracteriza pela sua força e pela sua bravura, no entanto, segundo Verne, os mexicanos

também são um povo que possui estas mesmas características. Logo depois da morte de

Montezuma, Cortès teve que fazer mais uma vez prova de competência e habilidade,

pois os mexicanos lutaram bastante para resistir a sua saída da cidade: “Mais, grâce à sa

(36)

Mexicains périrent dans leur tentative généreuse et inutile pour le salut de leur pays”

(Verne, 2005: 69). Verne mostra claramente que seu herói é superior aos índios, que

apesar da bravura deles, sua força não seria nada diante de Cortès. É essa grande batalha

que dá inicio a famosa noite triste3. No decurso dos combates, Cortès perde metade dos

homens: tem de decidir pela evacuação de Tenochtitlán (cidade do México) em direção

a Tlascala e em seu discurso com seus soldados, mostra mais uma vez que é capaz de se

fortalecer e convence os espanhóis de não entrar em conflito com seus aliados :

En entrant sur le territoire de Tlascala, Cortès recommanda à ses hommes, et particulièrement à ceux de Narvaez, de ne commettre aucune vexation à l’égard des indigènes, car il allait du salut commun, et pas irriter les seuls alliés qui leur restassent. Par bonheur, les craintes qu’on avaient conçues sur la fidélité des Tlascalans furent vaines. L’accueil qu’ils firent aux Espagnols fut de plus en plus sympathique ; ils ne songeaient qu’à venger la mort de leurs frères massacrés par les Mexicains. (VERNE, 2005 : 75).9

9 Tradução:

Ao entrar no território de Tlascala, Cortés recomendou a seus homens, e particularmente aos de Narvaez, que não fizessem nada que causasse mal aos indígenas, pois isso traria consequências para a salvação comum, e que não irritassem os únicos aliados que lhes restavam. Por felicidade, os temores que mostraram sobre a fidelidade dos Tlascalenses foram vãos. A acolhida aos espanhóis foi cada vez mais simpática; eles só almejavam vingar a morte de seus irmãos massacrados pelos mexicanos.

(37)

A Noite Triste (em espanhol, La Noche Triste) foi uma batalha que ocorreu no dia 30 de junho de 1520 em Tenochtitlán, no México, entre forças astecas e espanholas.

A chamada noite triste representa para Cortès uma grande perda, a imagem

ilustrada acima acontece no Lago de Texcoco, no México, e tem como a vitoriosos os

astecas que conseguem eliminar muitos dos homens de Cortès. Esta é a batalha mais

dura que o conquistador teve que enfrentar, além disso, além da perda de seus homens,

ele sofre igualmente um pouco da perda de credibilidade, tendo que refazer suas

estratégias para continuar no país. A pintura mostra uma noite sombria, com muitos

homens jogados ao chão apontando como esta batalha foi difícil tanto para os

espanhóis, quanto para os índios. Nela podemos observar um jogo de luzes muito

intenso e sombras acentuadas com cores escuras predominantemente fortes, ressaltando

a tristeza desta noite.

A recomendação em nome da aliança feita entre Cortès e os indígenas, valendo-se

(38)

justifica sobre o que pode ser feito, de forma a persuadir os espanhóis a não abandonar

os projetos. Ele busca ao mesmo tempo convencê-los de que somente com a ajuda

daquele povo eles poderiam ter mais resultados.

Charaudeau (2008: 37) diz que o ethos político é o resultado de uma alquimia

complexa feita de traços pessoais de caráter, de corporeidade, de comportamentos, de

declarações verbais, tudo relacionado às expectativas vagas dos cidadãos, por meio de

imaginários que atribuem valores positivos e negativos a essas maneiras de ser.

Segundo o autor, toda construção do ethos se faz em uma relação triangular entre si, o

outro e um terceiro ausente portador de uma imagem ideal de referência: o si procura

endossar essa imagem ideal; o outro se deixa levar por um comportamento de adesão à

pessoa a que ele se dirige por intermédio dessa imagem ideal de referência. O ethos

construído por Cortès se liga completamente à sua imagem de homem excepcional, de

um herói acima de tudo.

O discurso político é uma ação e muitos políticos ou homens de determinadas

posições jogam com elementos contraditórios. Cortès, alguns anos depois de sua

chegada à cidade do México, ao saber da traição liderada pelo último imperador asteca,

faz de Guatimozin10 seu prisioneiro, e o elimina para agradar seus homens, visto que o

Imperador nada quis dizer com relação ao ouro que escondia:

A l’ivresse du succès succédèrent presque aussitôt chez les Espagnols le dépit et la rage. Les immenses richesses sur lesquelles ils avaient compté n’existaient pas ou avaient été jetées dans le lac. Cortès, dans l’impossibilité de calmer les mécontants, se vit contraint de laisser mettre à la torture l’empereur et son Premier ministre. (VERNE: 2005; p.81). 11

10 Guatimozin ou Cuauhtémoc foi o último Imperador asteca. Cortès ordenou a morte de Cuauhtémoc no dia 26 de fevereiro de 1525.

Referências

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