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Uma análise das manifestações dos movimentos de luta pela terra no Brasil a partir do Banco de Dados da Luta Pela Terra DATALUTA

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Uma análise das manifestações dos movimentos de luta pela terra no Brasil a partir do Banco de Dados da Luta Pela Terra –

DATALUTA

Lucas de Brito Wanderley

Hellen Carolina Gomes Mesquita da Silva

Introdução

O Banco de Dados da Luta Pela Terra – DATALUTA é um projeto de pesquisa e extensão iniciado em 1998 pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA1, do Departamento de Geografia da Unesp – Campus de Presidente Prudente. O objetivo do DATALUTA é coletar, sistematiza, divulgar e analisar dados da questão agrária brasileira, com a publicação anual do Relatório DATALUTA. Atualmente, o trabalho de sistematização e análise do DATALUTA é feito conjuntamente com um coletivo de grupos de pesquisa em questão agrária de diversas universidades brasileiras, que juntos formam a Rede DATALUTA.

O DATALUTA congrega as categorias ocupações de terra, assentamentos rurais, movimentos socioterritoriais, estrutura fundiária, estrangeirização da terra e manifestações do campo. Para essas categorias são coletados dados em escala municipal, sendo organizados em forma de tabelas, gráficos e mapas para publicação no Relatório DATALUTA.

1 Ver: www.fct.unesp.br/dataluta

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Neste artigo analisaremos a evolução e as modificações das manifestações que ocorrem no Brasil devido a sua conjuntura política atual, tendo como um marco para as mudanças das características das manifestações a partir do ano de 2015. Para ajudar nesta análise, utilizaremos a metodologia do Banco de Dados do DATALUTA para a categoria de Manifestações o qual utiliza tipologias para a sistematização dos dados coletados pela Comissão Pastoral da Terra e do DATALUTA.

A categoria Manifestações no Banco de Dados DATALUTA

A categoria de manifestações do campo do DATALUTA foi criada no ano de 2009. Juntou-se a outras categorias de pesquisa já existentes, como Ocupações de Terra, Assentamentos Rurais, Movimentos Socioterritoriais e Estrutura Fundiária. A demanda por um estudo das manifestações realizadas por movimentos socioterritoriais do campo na cidade, ou seja, as marchas, caminhadas, ocupações de prédios públicos, agências bancárias, por exemplo, foi ressaltada em anos anteriores a 2009 em reuniões realizadas pela Rede DATALUTA.

A expressividade dos números que as manifestações tinham na luta pela terra no Brasil, publicada anualmente nos Cadernos de Conflitos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde os anos 2000, mostrava a importância que as ações assumiam como um elemento relevante para compreendermos a atualidade da questão agrária e, sobretudo, da luta pela terra no Brasil.

Os procedimentos metodológicos do DATALUTA

Atualmente a formação da rede DATALUTA é composta por 12 grupos de pesquisas de diferentes estados, sendo eles São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Paraíba e Pará.

Os grupos de pesquisas são responsáveis por abastecer o banco de dados e também na aprimoração da coleta e das análises dos dados.

Feliciano e Pereira explicam como funciona o procedimento para a obtenção dos dados e sua organização.

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O DATALUTA Jornal é um acervo onde estão reunidos, organizados e sistematizados no NERA recortes de jornais impressos que trazem notícias relacionadas à questão agrária brasileira. É um banco de dados trabalhado diariamente. Para sua confecção são olhadas, recortadas, digitadas e armazenadas notícias dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Oeste Notícias, O Imparcial, Brasil de Fato e Jornal do Movimento Sem-Terra, notícias que estejam dentro dos temas pré-estabelecidos pela metodologia do Jornal, ou seja, temas sobre a questão agrária. Desta forma obtemos notícias que dizem respeito às manifestações (Figura 1). Selecionada a notícia pela leitura dos jornais, ela é digitalizada e digitada numa planilha do software Excell. A digitalização é uma forma de preservarmos a fonte de nosso banco de dados para uma leitura mais apurada, ou para a conferência. (FELICIANO; PEREIRA, 2014, p. 2)

Mas com o decorrer dos anos, as noticias de movimentos sociais de luta pela terra foram perdendo a visibilidade das mídias jornalísticas. Para suprir esse problema, recorremos a transição das noticias de jornais para as noticias on-line, que já era utilizada, mas com menor importância. E para essa obtenção dos dados na internet vamos utilizar o Alerta Google, que é uma ferramenta que te envia atualizações através de e-mails sobre assuntos do seu interesse (através de palavras chaves). As notícias da internet assim como eram as dos jornais também são salvas em portable document format (pdf). A Comissão Pastoral da Terra envia anualmente os seus dados coletados, assim realizamos uma confrontação dos dados, para otimizar nosso banco de dados.

No quadro a seguir temos os tipos recorrentes de manifestações de acordo com os dados da CPT e do DATALUTA organizado por Feliciano.

Quadro 01 – Tipologiasde manifestações do campo – 2000- 2011

Acampamentos Audiências Panfletagem

Ocupação de prédios públicos

Concentrações públicas Vigília

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Ocupação de prédios privados

Retenção de veículos Celebrações religiosas

Ocupação de agências bancárias

Interdições Greve de fome

Tentativa de ocupações Bloqueios Barqueatas

Tentativa de saques Cerco a Contruções Marchas/Caminhadas

Saques Queimas Temáticas

Fonte: CPT; DATALUTA, 2012. Org.: FELICIANO, 2013.

Manifestações de movimentos de luta pela terra no Brasil

Em 2016 foram anos de incertezas para o Brasil, com o processo de impeachment sendo realizado o povo viu sua democracia sendo rasgada e jogada fora, este duro golpe mudou a conjuntura do campo brasileiro pelas medidas adotadas pelo governo de Michel Temer. Ao realizarmos uma análise após esse evento, houveram diversos cortes em programas de assistência à agricultura familiar no Brasil.

Para fazer a analise da conjuntura do campo brasileiro, vamos utilizar os dados do DATALUTA 2015 e 2016 e também os da CPT em 2017. Segundo o DATALUTA 2015 foram registradas 858 manifestações envolvendo um total 479.646 pessoas, no ano de 2016 foram registradas 1012 envolvendo 324.520 pessoas.

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Em 2015, as unidades federativas com maior registro de manifestações foram: 1º DF (70); 2º MG (64); 3º PR e MT (62);

4º PA e MS (55); 5º SP e PB (54) e 6º BA (49). A maior parte dessas manifestações estava relacionada à reforma agrária. No Distrito Federal, das 70 manifestações, 26 referem-se à questão indígena que reivindicaram a demarcação de terras e 19 à reforma agrária. Em Minas Gerais, das 64 ações, 26 foram bloqueios de rodovias e estavam relacionadas à reforma agrária.

No Paraná, das 62 ações, 45 manifestações estavam ligadas à reforma agrária, predominando as ocupações de praças de pedágios, com 24 ações. No Mato Grosso, das 62 ações, 17 estavam relacionadas à reforma agrária e 15 procuravam cumprimento de acordos. Dentre as estratégias, destacam-se os tipos de bloqueio de rodovia (29) e concentração em espaço público (12). Em Mato Grosso do Sul, das 55 ações, 25 estavam foram pela reforma agrária e 10 pela demarcação e terras indígenas, predominando bloqueios de rodovia como forma de protesto. Em São Paulo, das 54 ações, 28 manifestações também foram relacionadas à reforma agrária, dos quais 17 eram ocupações de prédios públicos. Na Paraíba, das 54 ações, 36 foram pela reforma agrária, predominando como estratégia de luta os bloqueios de rodovias. Na Bahia, as ações são diversificadas em termos de reinvindicação, com relativo destaque para o problema das barragens por meio da atuação do Movimentos dos Atingidos por Barragem - MAB. As marchas

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e caminhadas também reivindicaram a reforma agrária. Em todo país, no ano de 2015, ocorreram 62 marchas ou caminhadas, sendo a metade ligadas principalmente, à reforma agrária.

(FERNANDES et al, 2017, p.10)

Em 2016, as unidades federativas com maior registra de manifestações foram: 1º Pará (109); 2º Bahia (102); 3º Alagoas (77); 4º Pernambuco (65) e 5º Minas Gerais (63). Como no ano anterior, a maioria dessas manifestações estava relacionadas a reforma agrária. Mas uma das coisas que vão chamar a atenção nas manifestações é o crescimento de manifestações por politicas públicas/incentivo à pequena produção, pois como dito anteriormente, muitos desses programas de políticas públicas foram cortados.

Nesses dois anos, os bloqueios de rodovias são uma das características utilizada pelos movimentos, seja no campo ou na cidade, também se utiliza os bloqueios de ferrovias e avenidas. Ocupações de prédios públicos também são outra das características dos movimentos de luta pela terra, somando 2015 e 2016 das aproximadamente 450 ocupações de prédios públicos.

Segundo Fernandes et al fazem uma previsão sobre o impeachment acometido contra Dilma e a presente conjuntura das manifestações, haverá um aumento da pressão popular dos movimentos socioterritoriais

É evidente que, apesar da legenda petista, o governo Dilma foi um dos piores em termos do estabelecimento de assentamentos desde a promulgação da Constituição de 1988, instrumento jurídico que imbuiu o governo federal como o responsável pelo avanço da política de reforma agrária. As manifestações chamaram a atenção do governo e do público em geral para as contradições do governo. Seus dois mandatos basearam-se em promessas e expectativas. O crescimento da pressão pela realização da reforma agrária, pela demarcação de terras indígenas e contra as barragens hidroelétricas, também aumentaram a pressão da oligarquia rural e dos seus aliados para minar o governo através de ações da bancada ruralista junto ao Congresso Nacional. (FERNANDO et al, 2017, p.11)

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Esta previsão estava correta, com todos os retrocessos sofridos após o impeachment, como a extinção do MDA, as suas propostas de reformas, as mudanças na aposentadoria rural, os cortes nas politicas públicas de desenvolvimento agrário, todos esses fatores que nos levam a pensar nas manifestações que ocorrem nos dias de hoje.

Considerações Finais

Temos visto muitas manifestações de cunho politico dos movimentos sociais, como as manifestações contra a prisão do ex-presidente Lula, manifestações de bloqueios de rodovias, de avenidas e ocupações de prédios.

E esse tipo de manifestações não eram colocas nos nossos bancos de dados, pois não se enquadrava com movimentos de luta pela terra, mas ao se analisar a situação que o Brasil se encontra, temos o agronegócio se fortalecendo como nunca no país.

Então respondendo a pergunta feita na introdução, a metodologia do DATALUTA precisa aderir este tipos de manifestações devem entrar em seu banco de dados, pois, essas manifestações de cunho políticos mesmo que não reivindiquem a reforma agraria de fato, estão defendendo seus direitos e os direitos de todos.

Referências Bibliográficas

FELICIANO, C. A; PEREIRA, D. V. Pelas ruas, campos, cidades e avenidas: ações e manifestações dos movimentos socioterritoriais do campo no Brasil (2000-2011). In.:

VINHA, Janaina Francisca de Souza Campos (et al.). DATALUTA: questão agrária e coletivo de pensamento. São Paulo: Outras Expressões, 2014.

FELICIANO, C. A. Território em disputa: terras (re)tomadas (Estado, propriedade da terra e luta de classes no Pontal do Paranapanema). Tese, FFLCH, USP, 2009.

FERNADES, Bernardo Mançano et al. A QUESTÃO AGRÁRIA NA SEGUNDA FASE NEOLIBERAL NO BRASIL. São Paulo: Boletim DATALUTA, 2017. 16 p. Disponível em:

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<http://www.cedem.unesp.br/Modulos/Noticias/188/boletim_dataluta_01_2017.pdf>.

Acesso em: 03 ago. 2018.

GIRARDI, E. P. et al. Relatório DATALUTA 2015. FCT/Unesp – NERA: Presidente Prudente, 2016. (participação na equipe). Disponível em www.fct.unesp.br/nera

GIRARDI, E. P. et al. Relatório DATALUTA 2016. FCT/Unesp – NERA: Presidente Prudente, 2016. (participação na equipe). Disponível em www.fct.unesp.br/nera

Referências

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