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YES, NÓS TEMOS WUNDT: RADECKI E A PSICOLOGIA NO BRASIL

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Academic year: 2021

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YES, NÓS TEMOS WUNDT: RADECKI E A PSICOLOGIA NO BRASIL

Hugo Rosa

Mestrando no Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica (PUC-Rio)

Luiz Fonseca

Mestrando HCTE/UFRJ

RESUMO: O presente trabalho visa construir uma análise crítica da história da psicologia brasileira. A retomada de Waclaw Radecki, psicólogo polonês que viveu no Brasil na década de 1930 e apresentou uma extensa, porém pouco explorada produção, parte de um problema referente à historiografia que o relegou a um lugar de importância para a psicologia experimental no Brasil. Sendo essa importância questionável devido aos pouquíssimos trabalhos sobre o tema, traçamos um paralelo entre sua figura e Wilhelm Wundt, tido como fundador da Psicologia e retomado recentemente como figura controversa. O trabalho propõe uma crítica à historiografia brasileira de grandes narrativas a partir deste estudo comparativo, destacando os pontos problemáticos para uma reflexão sobre a história da psicologia brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Waclaw Radecki, Wilhelm Wundt, História da Psicologia, História da Psicologia no Brasil, Historiografia

INTRODUÇÃO

A História da Psicologia brasileira conta com um curioso personagem, já trabalhado por alguns pesquisadores, mas ainda de certo modo misterioso apesar da importância atribuída a seu trabalho para a ciência psicológica no país (Centofanti, 1982; Massimi, 1990; Penna, 1992; Antunes, 2012;). Trata-se de Waclaw Radecki, psicólogo polonês que veio para o Brasil e coordenou, no Rio de Janeiro, um dos mais produtivos laboratórios de Psicologia Experimental e, posteriormente e derivado de tal laboratório, um dos primeiros institutos de Psicologia do país.

Até os ensaios em história de autoria de Pessotti (1975) e Netto (1981), a

contribuição de Radecki para a Psicologia no Brasil era, a bem dizer, reduzida, pouco

clara e, por vezes, pífia. Por exemplo, o primeiro autor reduz as contrbuições de

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Radecki à seleção de aviadores, enquanto o segundo qualifica Radecki como autor de uma psicologia “um tanto abstrusa” (p. 155), sendo um entre tantos outros estrangeiros que passaram pelo Brasil e contribuíram de alguma maneira para o desenvolvimento da ciência psicológica. Talvez a maior expressão sobre essa primeira versão de Radecki tenha partido de Lourenço Filho (1955), que não apenas reduziu a produção bibliográfica de Radecki ao seu “Tratado de Psicologia”, como também emite uma opinião crítica a respeito de uma possível “insistência com que repisava os princípios de seu sistema de discriminacionismo afetivo, mais cedo ou mais tarde abandonado por todos os seus discípulos” (p. 93). Ainda, logo após terminar sua análise sobre o polonês e iniciar suas considerações sobre Henri Piéron, afirma “Mais intensa e profunda influência deixou Henri Piéron...” (p. 94).

O trabalho de reconstituição do polonês, destacando positivamente sua atuação no Brasil, deve-se ao trabalho de Centofanti (1982). Aqui, tem-se um trabalho dedicado exclusivamente à investigação de Radecki, tanto em termos biográficos quanto a sua contribuição para a Psicologia em território nacional e estrangeiro. É possível observar que o autor ressaltou a magnitude da atuação e produção científica do estrangeiro, conferindo-lhe importância ímpar para a Psicologia no Brasil. Remetendo-se a Certeau (1982), conclui-se até aqui que duas versões históricas, ou melhor, duas fabricações de um mesmo personagem foram criadas, cada qual a partir uma manipulação própria dos materiais, segundo determinadas regras e condições.

Contudo, apesar de uma nova versão construída pelo trabalho de Centofanti, ainda pouco se sabe, por exemplo, acerca de seus trabalhos desenvolvidos no laboratório e no instituto. Esta investigação possibilitaria a abertura para uma discussão sobre o papel atribuído à Radecki no cenário da Psicologia brasileira dos anos de 1920 e 1930.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho consiste em realizar uma retomada histórica de

Radecki por meio de seus textos e obras relacionadas, propondo uma discussão acerca

da produção do papel deste personagem e no que incorre tomá-lo como um precursor

ou parte de um “mito” de pioneiro da psicologia experimental no Brasil. Para tanto,

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tomaremos o exemplo clássico de Wilhelm Wundt, tido como “pai” fundador da Psicologia Experimental, paternidade esta que persiste, de maneira geral, nos livros em História da Psicologia e manuais desta disciplina. Com isto, objetiva-se, em última instância, uma análise histórica e historiográfica por meio de um estudo comparativo entre os personagens em questão.

MÉTODO

Os documentos que serão estudados e examinados consistem nos textos originais de Radecki e artigos que possam contribuir para o estudo de sua biografia e produção científica. Além disso, inclui-se também nos materiais a serem investigados as produções de autores que resgatam os textos originais de Wundt. A bibliografia produzida por Radecki será levantada por meio de visitas às bibliotecas públicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, localizadas na Praia Vermelha, e também à Biblioteca Nacional, situada no Centro do Rio de Janeiro. Os artigos de periódicos serão buscados na Biblioteca Virtual em Saúde Psicologia (BVS-Psi), podendo ser acessada pelo endereço http://www.bvs-psi.org.br/.

Como procedimento para o levantamento dos livros nas bibliotecas, serão consideradas as obras de Radecki produzidas em sua autoria com ou sem colaboração de seus assistentes do laboratório. Para os artigos de periódicos acerca da biografia ou produção científica de Radecki, os seguintes descritores serão utilizados: Waclaw Radecki, Discriminacionismo Afetivo e Colonia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Já para a busca de artigos de periódicos sobre Wundt serão utilizados: Wilhelm Wundt e História da Psicologia. Não será utilizado o operador booleano para cruzamento dos resultados.

DISCUSSÃO

Por meio deste estudo comparativo, algumas análises poderiam ser extraídas.

Primeiramente, ambos foram tomados por historiadores da Psicologia como representantes de uma tradição experimental que ajudaram a introduzir e fundamentar.

No caso de Wundt, é possível citar Boring (1929), Marx e Hillix (1973) e Schultz e

Schultz (2014. Em relação à Radecki, Penna (1992) e Campos (1953). Além desta

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primeira análise comparativa, que consideramos a principal comparação, isto é, Wundt enquanto fundador da tradição de Psicologia Experimental e Radecki como “o mais promissor dos pioneiros na pesquisa pura em Psicologia no Brasil” (Centofanti, 1982, p.36), existem outras que reafirmam as comparações: ambos desempenharam esforços pessoais para divulgar sua obra; tinham intenções de cunho filosófico em seus programas de pesquisa; e lutaram para divulgação de seus estudos.

Porém, o que a comparação deles também nos aponta é o lugar da produção de mitos dentro da historiografia da psicologia. Ferreira (2010) já nos apontava que existia um movimento na história da psicologia no sentido de buscar grandes narrativas, e percebemos isto no caso de Radecki. Araújo (2010) já demonstrava que o lugar ocupado por Wundt era problemático devido ao desconhecimento de sua obra, ainda que fosse a ele creditado um lugar de importância. Centofanti (2003) também indica um sentido diferenciado à obra de Radecki, o qual passara despercebido em sua inserção numa tradição experimental, normalmente onde ele era inserido.

Deste modo, percebemos uma certa operação histórica, por parte dos historiadores, de inserir os nomes de Wundt e Radecki em tradições às quais eles não necessariamente podem ocupar com plenitude. Existe, de fato, nas obras dos dois autores, uma certa contribuição à psicologia experimental. Porém, há neles também uma obra que parte para outras reflexões que são deixadas de lado em prol de uma historiografia de grandes narrativas.

Isto nos remete ao trabalho de Cukierman (2003), que retoma a figura de Oswaldo Cruz a partir de sua mitificação enquanto paralelo brasileiro de Louis Pasteur.

Cukierman opera de forma interessante com esta mitificação, indicando-a mas ao mesmo tempo não se deixando levar por ela, de modo que remonta a história de Cruz a partir da mitificação “Yes, nós temos Pasteur!”, mas ao mesmo tempo trabalhando para além dela.

Desta forma, surgem os últimos resultados desta pesquisa. Notamos como os

primeiros resultados indicava um paralelo muito estável entre Wundt e Radecki, cada

qual em sua realidade: Wundt na história da psicologia geral e Radecki na história da

psicologia brasileira. No entanto, notamos como estes paralelos são problemáticos se,

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nos dois casos, atentarmos para os pormenores das obras dos dois, que, se deixadas de lado, representam um problema para sua compreensão.

Cukierman entra em nosso estudo como a principal via de análise aqui escolhida.

Para além da mitificação, um estudo histórico que considere as nuances e pormenores de Radecki, assim como em Cruz. Yes, nós temos Pasteur!, brada-se sobre Cruz. Yes, nós temos Wundt!, bradaremos sobre Radecki.

Porém, não sem antes atentar para o perigo da mitificação da figura de Radecki.

Este não será tomado como um mito, um fundador da psicologia experimental na América do Sul. Ao invés disto, utilizaremos o paralelo com Wundt para atentar a este erro: Yes, nós temos Wundt, um igualmente produzido, mitificado e inserido numa historiografia de grandes nomes e narrativas.

Terminamos nosso estudo concluindo a tese principal de que Radecki ocupou um lugar similar ao de Wundt no Brasil, mas também atentando para o fato de que, igualmente como Wundt, sofreu uma espécie de mitificação. Atentamos, portanto, para a mitificação, excluindo-a de nosso estudo e deixando o problema indicado para a historiografia da psicologia.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. 5. ed. São Paulo: EDUC, 2012.

ARAÚJO, Saulo de Freitas. O projeto de uma psicologia científica em Wilhelm Wundt: Uma nova interpretação. Juíz de Fora: Editora UFJF, 2007.

BORING, Edwin Garrigues. A history of experimental psychology. 2. ed. New York:

Appleton-Century-Crofts, 1950.

CAMPOS, Nilton. Necrológio WaclawRadecki (1887-1953). Boletim do Instituto de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p.1-3, abr. 1953.

CENTOFANTI, Rogério. Radecki e a Psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, a. 3, n.1, p. 2-50, 1982.

______. O discriminacionismo afetivo de Radecki. Memorandum, 5, p. 94-104, 2003.

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CUKIERMAN, Henrique. Yes, nós temos Pasteur: Manguinhos, Oswaldo Cruz e a História da Ciência no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2010.

FERREIRA, Arthur Arruda Leal. O múltiplo surgimento da Psicologia. In: FERREIRA, Arthur, JACÓ-VILELA, Ana Maria; FERREIRA, Arthur Arruda Leal; PORTUGAL, Francisco Teixeira. História da Psicologia: Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 13 – 46.

____. A psicologia no recurso aos vetos kantianos. In: In: JACÓ-VILELA, Ana Maria;

FERREIRA, Arthur; PORTUGAL, Francisco Teixeira (Orgs.), História da Psicologia:

Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2010. P. 85 – 91.

HILLIX, William, MARX, Melvin. Estruturalismo. In: ____. Sistemas e teorias em Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1973. p. 153 – 184.

MASSIMI, Marina. História da psicologia brasileira: da época colonial até 1934. São Paulo: EPU, 1990.

NETTO, Samuel Pfromm. A psicologia no Brasil (1981). In: ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino (Org.). História da Psicologia no Brasil: primeiros ensaios. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1982, p. 139-175.

PENNA, Antônio Gomes. Sobre a produção científica do Laboratório de Psicopatas da Colônia do Engenho de Dentro. In: ______.História da Psicologia no Rio de Janeiro.

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PESSOTTI, Isaías. Dados para uma história da psicologia no Brasil (1975). In:

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino (Org.). História da Psicologia no Brasil:

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SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. 10.

ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

RADECKI, Waclaw. Tratado de Psicologia (Resumido). Buenos Aires: Jacobo Peuser, 1933.

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